Pragmática Rodrigo Seixas Origens e conceitos Aula 1
Capítulo 1 – O âmbito da pragmática LEVINSON, Stephen. Pragmática. 2ª ed. São Paulo: WMF, 2020.
Origens da pragmática e conceitos O uso moderno do termo “pragmática” tem origem em 1938, com o filósofo Charles Morris. Inicialmente, com o objetivo de pensar uma forma geral de uma ciência dos signos, aos moldes de Charles Peirce. Na semiótica, Morris identificou três ramos de investigação distintos: - A sintaxe - o estudo da “relação formal dos signos entre si” - A semântica - o estudo das “relações dos signos com os objetos aos quais os signos são aplicáveis”. - A pragmática - o estudo da “relação dos signos com os intérpretes”.
Origens da pragmática e conceitos Como exemplos de uso governado por regra pragmática, Morris observou que interjeições como “Oh!”, comandos como “Venha aqui!”, expressões como “Bom dia!” e vários recursos retóricos e poéticos só ocorrem sob certas condições definidas nos usuários da língua" (1938 (1971, 48)]. Tais questões, ainda hoje, seriam tratadas dentro da pragmática linguística . Mas Morris foi em frente e expandiu o âmbito da pragmática segundo sua teoria específica da semiótica, de caráter behaviourista (Black, 1947): "Para caracterizar a pragmática de modo suficientemente preciso, podemos dizer que ela lida com os aspectos bióticos da semiose, isto é, com todos os fenômenos psicológicos, biológicos e sociológicos que ocorrem no funcionamento dos signos" (1938, 108). Tal âmbito é muito mais amplo do que o trabalho que presentemente se faz sob o rótulo de pragmática linguística, pois incluiria o que agora se chama de psicolingüística , sociolingüística , neurolingüística e muito mais.
Origens da pragmática e conceitos Pragmática seguiu sendo compreendida de modo amplo (Morris) e restrito (filosofia analítica) Pragmática como parte da gramática que estuda os indícios referenciais, tais como os “dêiticos”. Tal uso tem pouco a oferecer aos lingüistas , j4 que todas as linguagens naturais tem termos dêiticos e seguir-se-ia, como assinala Gazdar (1979a, 2), que as línguas naturais não possuem nenhuma semântica, mas apenas uma sintaxe e uma pragmática. Para que a tricotomia tenha alguma função na lingüística , é preciso encontrar algum âmbito menos restrito para a pragmática. Semântica gerativa - Pragmática
Origens da pragmática e conceitos A definição de Carnap , “investigações que fazem referência aos usuários da linguagem”, é simultaneamente muito estreita e muito ampla para os interesses lingüísticos : É ampla demais porque admite estudos tão pouco linguísticos quanto as investigações de Freud sobre a “lapsus linguae” ou os estudos de Jung sobre as associações de palavras. Portanto, os estudos da pragmática lingüística precisam restringir-se a investigações que tenham, pelo menos, implicações lingüísticas potenciais. Por outro lado, a definição de Carnap é estreita demais no sentido de que, numa interpretação simples, ela exclui fenômenos paralelos? Por exemplo, assim como a interpretação das palavras eu e você se vale da identificação de participantes (ou “usuários” específicos e de seu papel no acontecimento discursivo, as palavras aqui e agora valem-se, para sua interpretação, do lugar e do tempo do acontecimento discursivo. Portanto, a definição de Carnap pode ser corrigida para algo como: “as investigações lingüísticas que tornam necessária a referência a aspectos do contexto”, onde o termo contexto é compreendido de modo que abranja as identidades dos participantes, os parâmetros temporais e espaciais do acontecimento discursivo e (como veremos) as crenças, o conhecimento e as intenções dos participantes do acontecimento discursivo e, sem dúvida, muito mais.
Origens da pragmática e conceitos Conceitos de pragmática se consolida nas publicações do Journal of Pragmática na Europa. São alguns possíveis, com suas limitações e abrangências . 1. a pragmática é o estudo dos princípios que explicarão por que certo conjunto de sentenças é anômalo ou não constitui enunciações possíveis. 2 . a pragmática é o estudo da linguagem a partir de uma perspectiva funcional , isto é que ela tenta explicar facetas da estrutura lingüística por referência a pressões e causas não lingüísticas . Contudo, tal definição ou âmbito para a pragmática deixaria de distinguir a pragmática lingüística de muitas outras disciplinas interessadas nas abordagens funcionais da linguagem, inclusive a psicolinguística e a sociolinguística. A pragmática entre a competência e o desempenho linguísticos. 3. A p ragmática como “teoria de seleção de contextos” (Katz e Fodor )
Origens da pragmática e conceitos A variedade de possibilidades de conceito nos levam, entretanto, a pontos comuns a todos: os pragmaticistas estão especificamente interessados na interrelação da estrutura lingüística e dos princípios do uso linguístico. A partir disso, conceitos possíveis e elencados por Levinson: 4 . Pragmática é estudo das relações entre língua e contexto que são gramaticalizadas ou codificadas na estrutura de uma l íngua 5. Pragmática é o estudo de todos os aspectos do significado não capturados em uma teoria semântica. 6 . Pragmática é o estudo das relações entre a língua e contexto que são básicas para uma descrição da compreensão da linguagem. 7. Pragmática é o estudo da capacidade dos usuários da língua de emparelhar sentenças com os contextos em que elas seriam adequadas condições de adequação. 8 . Pragmática é o estudo da dêixis (pelo menos em parte), da implicatura, da pressuposição, dos atos de fala e dos aspectos da estrutur a discursiva.
O Explícito como testemunha de uma atividade estrutural da linguagem : a Simbolização referencial O Implícito como testemunha de uma atividade serial da linguagem : a Significação (leia-se, o sentido ). A interação Explícito/ Implícito em uma relação conflitual. Feche a porta! 1 - Feche a porta! « está com frio » 2 - Feche a porta! « quer confiar-lhe um segredo » 3 - Feche a porta! « os barulhos do corredor estão incomodando » Apenas o ato de linguagem constitui o paradigma do signo a cada momento comunicativo