Richard Kelly, era um total desconhecido até à estreia do filme, concebe e dirige um
filme sem artifícios ou redundâncias, com uma história recheada de pormenores e
elementos cuidadosamente encaixados. O filme consegue transcender barreiras de
género, apesar de ser rotulado comum filme de ficção científica, no fundo, Donnie
Darko é um “Mix” de muitos géneros, o que o torna único, e absolutamente
recomendado.
Um ou outro momento de humor é bem patente no filme (como a referência ao
Bonanza) e da professora de inglês interpretada por Drew Barrymore. A presença de
Barrymore como actriz, justifica-se, porque foi também produtora executiva, e aí se
constata a única razão para o filme ter obtido financiamento (talvez a sinopse de 25
linhas também estivesse muito bem redigida).
Referencias ao escritor Stephen king também patentes na pelicula.
Ao lado do conceito de destino, ou do caminho que cada um de nós é levado a trilhar,
comandado por uma entidade abstracta, contra a qual nos podemos eventualmente
revelar, existem parábolas religiosas, com falsos profetas e mártires (Donnie Darko),
que se sacrificam em prol dos outros, algo reforçado pela referência à “Última
Tentação de Cristo” (1988), de Scorsese, que numas das cenas foi exibido numa sala de
cinema numa improvável sessão dupla com “The Evil Dead” (1982), de Sam Raimi, um
filme onde o elemento das viagens no tempo também está presente, apesar de ser
secundário. Outra temática abordada no filme, é apelo à moral social muito popular
nos EUA, baseada nos conceitos muito bem delimitados de certo e errado, também
ilustrados pela dualidade “Medo”,“Amor , o que sustida em programas de TV , com
depoimentos “reais” de “pessoas normais” que viram a luz, que funcionam como
verdadeira “lavagem cerebral”, adequada para transformar cada cidadão num
“cordeiro” dócil . Esta moral é ilustrada pela ignorância das causas dos males da
sociedade, preferindo apontar o dedo a um filme ao um livro que os “inspirou” ou
“provocou”, numa lógica de desresponsabilização do indivíduo pelos seus próprios
actos ou da sua incapacidade para fazer juízos de moral num mundo onde não há só
preto ou branco, certo ou errado. Donnie, neste contexto, assume o papel de um
Messias, que se revolta contra estes falsos profetas e vê como único caminho a seguir
o sacrifício pessoal, para assim poder salvar o mundo.
Para quem ainda visualizou esta magnificência da 7º Arte, é uma boa altura para o
fazer!
Sem o querer prever, “Donnie Darko” transformou-se num filme de culto, e que a cada
nova visualização se torna ainda mais brilhante!
Tiago Basílio Nº54854