Por não saber a sua identidade , a sua própria vida é mais usada pelo mundo do que por si próprio . Entretanto , G.H. não desistiu e caiu na tentação de ver , saber e sentir a vida . E o sentido da vida tinha gosto de coisa alguma . Pois , ela degustou a vida , ou seja , comeu a barata . A barata é a metáfora da vida . E a vida tinha gosto de nada. Depois de provar a si mesma , ela vomita . Esse “ engolir ” é uma metáfora de um exame subjetivo da existência e depois dessa introspecção ela conclui que a “ condição humana é a Paixão de Cristo”. O Título da obra é nitidamente configurado sobre a conhecida expressão : “ Paixão de Jesus Cristo segundo Mateus ” ou “A paixão de Cristo segundo João ”. Isto é, o sofrimento de Cristo narrado por seus discípulos . No caso de G.H., a paixão é da protagonista , narrada por ela mesma . E para enfatizar a analogia da obra , além do título , com a metáfora bíblica , o texto é dividido em trinta e três partes , que , segundo afirmam , foi a idade com a qual Jesus Cristo morreu . Esse percurso doloroso, essa consciência da existência absurda , leva G.H. a entrar em estado de melancolia , por compreender que a construção da sua existência fora erguida sobre as aspas . Com isso , a personagem é tomada pela bile negra , por ter visto por meio das patas ; dos cílios e da pasta branca da barata a sua essência , a sua identidade aquilo que te faz ser. Todavia , a sua essência te angustia , ela sente nojo de si mesma . Assim , como sentimos nojo de um leproso ; de uma pessoa que tem uma doença terminal; da guerra ; da miséria , disso sentimos repulsão . Isto é, sentimos náusea de nós mesmos , entretanto , ter nojo da sua raiz contradizia a si mesma . Com essa constatação , G.H. - a mulher anônima - perde as esperanças e não concebe mais nada além da sua existência , para ela Deus já é. A miséria humana , a ignobilidade da existência é o reino dos céus , portanto o reino dos céus , o que tanto a pessoa humana deseja alcançar já é. A sua vida , sua condição humana , ou seja , a aprovação insensível do sofrimento físico ou moral, por amarmos mais ao sistema da vida do que a si próprio levamos a uma existência “ feliz ”, porém , quanto mais G.H. fazia uma introspecção da condição humana , mais ela se divorciava do mundo e enveredava -se nos contraditórios da existência .