Revista de Portugal n.º 16

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About This Presentation

No capítulo da Confraria Queirosiana acima referido, apresentado pelo seu director, Luís Manuel de Araújo, foi lançado o n.º 16 da Revista de Portugal, nova série, tendo na capa uma pintura sobre tema queirosiano do pintor Adias Machado. No seu interior, o editorial do director adjunto J. A. ...


Slide Content

1

MAGALHÂES
IN MEMORIAM
PORTUCALE
SUEVOS
SORRISOS
ANTÓNIO SÉRGIO
SILÊNCIO DE EÇA
FRÉDÉRIC SPTIZER
TÚMULO DE NEFERTARI
VERDEMILHO
BIBLIOGRAFIA 2018
ATIVIDADES 2018
Anual, novembro de 2019
n.º 16. 2019

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Revista de Portugal
Anual, n.º 16, novembro de 2019
Registo ICS 124625
Propriedade/editor: Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana
Redação:
Solar Condes de Resende
Travessa Condes de Resende, 110
4410-264 CANELAS VNGaia
Portugal
NIPC: 506285685
Telefone – 227 531 385
Telemóvel – 968 193 238
E-mail – [email protected]
www.queirosiana.pt
academiaecadequeiros.blogspot.com
confrariaqueirosiana.blogspot.com
eca-e-outras.blogspot.com
vinhosdeeca.blogspot.com
Diretor: Luís Manuel de Araújo
Diretores adjuntos:
J. A. Gonçalves Guimarães
José Manuel Alves Tedim
Conselho de redação:
Amélia Maria Gomes Sousa Cabral; Carlos Alberto Dias de Sousa; César Fernando Couto Oliveira;
Henrique Manuel Moreira Guedes; Ilda Maria Oliveira Pereira de Castro; José António Martin Moreno Afonso;
José Manuel de Carvalho Ribeiro; Laura Cristina Peixoto de Sousa; Licínio Manuel Moreira Santos;
Manuel Filipe Tavares Dias de Sousa; Maria de Fátima Teixeira; Nuno Miguel de Resende Jorge e Mendes;
Pedro Almiro Neves; Susana Maria Simões Moncóvio.
Conselho consultivo:
Américo Guerreiro de Sousa; Carlos Reis; Dagoberto Carvalho Júnior (Brasil); Fernando Coimbra;
Fernando Manuel P. J. Silva; Francisco Ribeiro da Silva; João de Castro de Mendia (Conde de Resende);
José Rentes de Carvalho; Nassalete Miranda e Ricardo Charters d’Azevedo
Capa:
"A Arte é um Resumo da Natureza feita pela Imaginação. Eça de Queirós"; Quadro de Adias Machado, 2013; na lateral esquerda
tem a seguinte legenda. "Oferta da Confraria do Abade de Priscos à Confraria Queirosiana / Do Grão-mestre para o patrono"
Poveiros 23-11-2013; fotografia de Ana Isabel Ferreira
Impressão e acabamento:
URBIFACE – Meios Publicitários, Lda.
Edifício Intercontinental Trade Center
Avenida da Boavista, 1588 – 2.º – Sala 304 – 4100-115 Porto
Copyright: autores, salvo acordo em contrário de acordo com a lei.
Tiragem: 500 exemplares
ISSN: 1646-0952
Depósito legal: 218581/04

3
EDITORIAL
Fernão de Magalhães e a busca da esfericidade da História
Desde o século XIX que Portugal entende comemorar algumas figuras e feitos importantes da sua His-
tória, nomeando comissões para o efeito que se obrigam à execução de programas com três valências: fes-
tividades populares; debates científicos; lições políticas. Pretende-se com estas comemorações avivar nos
Portugueses o conhecimento da sua identidade e mostrá-la à comunidade internacional, perpetuando-a
no tempo e, – talvez o mais importante em termos de futuro – incentivar uma revisitação profissional da
biografia das figuras marcantes e dos referidos feitos, não só para aumentar a sua credibilidade, expurgan-
do-os de adjacências espúrias, como procurando dar-lhes um outro brilho que o avanço das ciências per-
mite. Com algumas outras pelo meio, foi assim com as Comemorações Camonianas (1880), as do Caminho
Marítimo para a Índia (1889); o 5.º Centenário do Infante D. Henrique (1894); já no século XX, a Exposição
Colonial (no Porto em 1934), os Centenários de 1940, os Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renas-
cimento (1983), a Expo 98 e agora o 5.º Centenário da Viagem de Fernão de Magalhães.
Mas nem sempre os objetivos iniciais foram alcançados: em 1898 Eça de Queirós viu assim as Come-
morações realizadas em Lisboa: «Imensas multidões – dizem que vieram da província mais de cem mil pes-
soas. Ainda apanhei o cortejo cívico, que não tinha civismo nenhum, e onde apenas ofereciam interesse,
um bando de pretos de Moçambique, e, atrás do carro da Agricultura (perfeitamente ridículo), um grande
esquadrão de Campinos do Ribatejo de uma incomparável beleza. Entusiasmo nenhum – o povo ainda
não percebeu quem era este Vasco da Gama. Aqui no Rossio, o Cortejo passou num silêncio glacial, quase
sombrio, um silêncio de 30 mil pessoas.» (Eça de Queirós, Correspondência, 20-05-1898).
No que diz respeito às comemorações magalhânicas, o atual governo encarregou de tal uma comissão.
O mínimo que dela se espera é que faça com que os mais recentes estudos cheguem ao público ou que
este se importe com eles, contribuindo assim para que cesse a alusão a enganosos equívocos em volta do
navegador e que efetivamente se avance num maior conhecimento do feito, até porque, com comissão ou
sem ela, a comunidade científica irá certamente continuar a produzi-los. A atualização desse conhecimen-
to, mesmo em obras de divulgação, está em marcha: já na obra Le Voyage de Magellan 1519-1522. La relation
d’Antonio Pigafetta du premier voyage autour du monde. Paris: Chandeigne, 2017, Michel Chandeigne, um
divulgador da cultura portuguesa, tinha alertado para o que NÃO era lícito comemorar a propósito dos 500
anos desta viagem (tradução e adaptação nossa, pág.s 6-8): que antes dela «toda a gente» julgava que a
Terra era plana, ou seja, não redonda; que o navegador tinha proposto o seu projeto a D. Manuel antes de
o propor a Carlos V; que importa que o navegador não fez a circum-navegação completa, mas apenas até
ao arquipélago das (depois chamadas) Filipinas, onde foi morto (A restante parte da «volta ao mundo», ou
seja, entre as Filipinas e Lisboa, já a tinha feito no sentido inverso, de Ocidente para Oriente, anos antes);
que dos 237 homens que partiram, 91 sobreviveram e voltaram à Europa, e não quaisquer outros números
que por aí andam; que o navegador atravessou o Pacífico «às cegas», porque na realidade já conhecia a
sua dimensão pela cartografia portuguesa anterior à viagem; que esta travessia não foi uma «hecatombe»,
pelo contrário; que o móbil da viagem (chegar às Molucas por Ocidente e confirmar a sua localização no
hemisfério «espanhol»), não seria garantido pelo lucro das especiarias aí produzidas, pois o seu comércio,
no imediato, não cobriria o investimento feito.
Este autor refere estes e outros erros comuns em obras publicadas sobre o navegador e a viagem des-
de, pelo menos desde 1864 pelo chileno Barros Araña, passando por Alderley (1874), Zweig (1938), a que
poderíamos juntar Roditi (1989) e muitos outros autores não profissionais da História, mais antigos ou
mais recentes, muitos deles fazendo eco da fake new do seu pretenso nascimento em Sabrosa ou, mais
recentemente, de uma outra invenção que lhe quer dar o berço em Ponte da Barca. Nesta obra que vimos a

4
citar, procura-se expurgar o erro da menção de Sabrosa, «tirada de documentos falsificados aparecidos no
século XIX» (p. 10, trad.) mas, como foi escrita antes de 2017, não cita ainda os mais recentes textos dos his-
toriadores Amândio Barros («Vila Nova de Gaia. Os Forais, o Rio e o Mar», in O Foral Manuelino de Vila Nova
de Gaya 1518-2018. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal, 2018), onde na página 58 se lê «Magalhães… que,
de resto, teve fortíssimas ligações a Gaia e ao Porto, correndo teoria acerca do seu nascimento num destes
locais»; e de Rui Manuel Loureiro (Em demanda da Biblioteca de Fernão de Magalhães. Lisboa: Biblioteca
Nacional de Portugal, 2019), onde na página 17 escreveu: «Fernão de Magalhães terá nascido na região
do Porto, na margem sul do rio Douro, como sugerem alguns documentos de arquivo… Dois testemunhos
portugueses um pouco mais tardios confirmam esta hipótese». As hipóteses Porto (aliás já anteriormente
assimilada por muitos historiadores portugueses), e Vila Nova de Gaia, são assim reequacionadas com base
em documentos autógrafos do navegador, ganhando esta última uma cada vez maior consistência. Não é
esta uma questão menor nem a sua clarificação pode ser encarada como a afirmação de qualquer bairris-
mo bacoco, mas sim a procura da verdade histórica que proporcione uma mais correta interpretação da
sua vida e feitos, nomeadamente sobre o ambiente portuário em que foi criado, a formação intelectual que
teve, e quem o levou para a Corte e aí o protegeu na sua carreira de mareante.
São pois hoje completamente ridículas as fantasias artísticas (literárias e materializadas em escultura,
pintura ou desenho… ou em rótulos de garrafas de Vinho do Porto) de um menino a brincar com barquinhos
nas águas do Alto Douro e a sonhar com a travessia do Pacífico distante, ou outras que tais. Vamos vendo
em concursos escolares e recreações lúdicas, publicadas em jornais ou exibidas em exposições e vídeo-
-filmes, várias imagens antigas ou agora criadas, a quererem representar o navegador em atos ou ações
em que nunca esteve, a atribuir-lhe feitos que nunca fez, ou ideias que nunca teve, em total desacordo
com a História. Alguns artistas gráficos atuais mostram nos seus desenhos que sobre a sua vida só sabem
o que leram em textos que propagam as tais fake news, ou, no mínimo, interpretações erradas sobre a sua
missão, já desacreditadas pelos historiadores. Não me venham com o falacioso argumento da liberdade
de criação, pois a liberdade é irmã gémea da verdade, não da mentira. E os artistas, como quaisquer ou-
tros profissionais que se querem credíveis e úteis à sociedade que lhes paga o salário ou as encomendas,
devem informar-se e estudar as matérias sobre as quais querem exercer a sua arte, pois em arte não «vale
tudo» para gozo dos papalvos. Quanto às exposições bibliográficas e documentais sobre Fernão de Maga-
lhães elas poderão ser interessantes se forem acompanhadas de algum aparato cronológico e crítico, pois
não tem qualquer valor pedagógico meter na mesma vitrina obras sérias de historiadores profissionais ao
lado de desbragadas fantasias de literatos locais escritas para satisfazer clientelas paroquiais ou mesmo
nacionais cujos interesses não são consentâneos com a verdade histórica.
Por isso nos dias de hoje, para além das multidões, dos cortejos, dos carros alegóricos, da falta de en-
tusiasmo e dos silêncios glaciais e sombrios, estas comemorações dos 500 anos da viagem de Fernão de
Magalhães deverão servir para uma renovada abordagem histórica da figura e do feito, um efetivo salto
qualitativo na historiografia nacional e, já agora, também do incremento da fraternidade entre os povos
que, pelas mais diversas razões, se conheceram nesta aventura humana protagonizada por um português
nascido e crescido nas margens do Douro perto da sua entrada no Atlântico.
J. A. Gonçalves Guimarães
Diretor-adjunto

5
Revista de Portugal: Estatuto editorial
1. A Revista de Portugal é o boletim cultural dos Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria
Queirosiana e a sua publicação tem por objetivos os consignados nos Estatutos da associação nos arti-
gos 3.º e 4.º.
2. A Direção dos ASCR-CQ nomeia o diretor e o conselho editorial, bem assim como o conselho
consultivo, de entre os sócios da associação, com exclusão de quaisquer outros, os quais se constituem
em Comissão Especial prevista no Art.º 43 dos Estatutos, com o nome de Comissão da Revista, adiante
designada por CR.
3. A CR proporá à Direção as condições de edição de cada número, o seu conteúdo e as condições
de distribuição, bem assim como quaisquer protocolos a celebrar com terceiros, devendo todos os seus
atos serem sancionados por aquele órgão, sob risco de nulidade.
4. A CR deverá dar preferência à colaboração científica, literária e artística dos sócios, tendo em conta
os objetivos dos ASCR-CQ e um rigoroso critério de qualidade.
5. A colaboração não solicitada, desde que aceite, será gratuita; a colaboração encomendada será
remunerada, de acordo com as propostas da CR e das disponibilidades financeiras dos ASCR-CQ.
6. Os originais entregues (texto e imagens) para publicação deverão ser propriedade integral dos res-
petivos autores e obedecer aos princípios consignados na Lei dos Direitos de Autor e Direitos Conexos
e observar a Norma Bibliográfica Portuguesa, o Acordo Ortográfico, bem assim como a Lei da Imprensa.
7. Os originais devem ser dirigidos aos ASCR-CQ em nome de Revista de Portugal, ou ao seu diretor,
em CD e impressão em papel, acompanhados de autorização por escrito do autor, autores, ou seu repre-
sentante, conforme os casos e o contrato celebrado.
8. Todos os originais serão devolvidos aos respetivos autores.
9. A Revista de Portugal é gratuita para os sócios e confrades.
Sumário deste número
Editorial
Fernão de Magalhães e a busca da esfericidade da História
J. A. Gonçalves Guimarães
3
IN MEMORIAM 6
O nome e os lugares de Portucale
Jorge de Alarcão
8
O edifício de tradição romana sob a igreja do Bom Jesus de Gaia destruído
nos últimos dias do reino dos Suevos
J. A. Gonçalves Guimarães
16
Sorrisos Lágrimas Poemas
Jaime Milheiro
25
António Sérgio. Temas essenciais de vida e obra
A. Campos Matos
32
Um, para mim, estranho silêncio de Eça de Queirós
César Veloso
37
Eça de Queirós e a coleção de Frédéric Sptizer (1815-1890). Perspetivas críticas
Susana Moncóvio
40
Há 40 anos na Fundação Calouste Gulbenkian: Reconstituição do túmulo da rainha Nefertari
Luís Manuel de Araújo
48
Aveiro e a Fundação Eça de Queiroz
Jorge Campos Henriques
56
Bibliografia 2018 57
Relatório de atividades em 2018 da associação
Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana
68

6
Alexandre Franco Rufo nasceu em Santa Marta de Portuzelo, Viana
do Castelo, a 24 de julho de 1939. Ainda criança mudou-se para a cidade
do Porto, onde veio a desenvolver a sua atividade profissional como pin-
tor de construção civil na empresa Soares da Costa, tendo chegado a en-
carregado. Mais tarde trabalhou por conta própria dedicando-se à reabili-
tação de mobiliário antigo, lacagens, patines, dourados e outros.
Desde novo que cultivou o gosto pela arte, mas foi durante os anos em
que viveu na ilha da Madeira que se dedicou assiduamente à pintura em
acrílico e depois a óleo. Nunca frequentou aulas e por isso se considerava
um autodidata, tendo pintado numerosas obras. Participou vários anos no
Salon d’Automne queirosiano, exposição anual organizada pela Confraria
Queirosiana no Solar Condes de Resende.
Tendo falecido no dia 31 de dezembro de 2016, a sua memória aqui
permanecerá através de uma obra sua oferecida por sua viúva a esta as-
sociação.
IN MEMORIAN
António Gomes da Costa era natural da
Póvoa de Varzim, onde nasceu a 27 de janeiro de
1934. Foi uma das figuras mais emblemáticas da
comunidade portuguesa do Rio de Janeiro, tendo
falecido aos 83 anos. Era licenciado em Ciências
Económicas pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro e em Ciências Jurídicas pela Universi-
dade Cândido Mendes. Tinha dupla nacionalidade,
e nessa condição teve participação bastante ativa
em diversas associações luso-brasileiras. Ficou es-
pecialmente conhecido como presidente do Real
Gabinete Português de Leitura ao qual presidiu entre 1992 e 2016. Foi ainda presidente da Federação
das Associações Portuguesas e Luso-Brasileiras; da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa Caixa de
Socorros D. Pedro V; do Liceu Literário Português; da Real Sociedade Clube Ginástico Português, entre
outras instituições.
Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, foi condecorado com a Ordem do Rio Branco – grau
de Comendador, a que acrescentou a Ordem do Mérito Naval, a Ordem do Mérito Aeronáutico e a Ordem
do Mérito Militar. Era igualmente Grande Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique e também possuidor
da Grã-Cruz das Ordens do Mérito Agrícola e Industrial (Portugal), entre outras condecorações.
Foi convidado para estar presente no capítulo anual da Confraria Queirosiana a 24 de novembro de
2012, mas devido à sua avançada idade tal não chegou a acontecer, contudo foi proclamado confrade
honorário, grau mecenas, distinção que recebeu «com muita honra e alegria... [desejando] estreitar laços
de cooperação entre o Real Gabinete Português de Leitura e a Confraria Queirosiana», conforme então
escreveu. Faleceu a 9 de maio de 2017.

7
José Alberto Querido Loureiro nasceu na freguesia das Alhadas, con-
celho da Figueira da Foz, a 21 de março de 1940. Ainda a finalizar o curso
na Escola Industrial da Figueira da Foz, em 1956, respondeu a um anúncio
da Séculoheron Portuguesa, S. A. (actual Sepsa), iniciando assim aos 17
anos a sua vida profissional no Porto, como desenhador de ferramentas
especiais. Em 1960 colaborou no projecto de condutas forçadas e do cim-
bre metálico da ponte da Arrábida.
A 15 de Maio de 1961 casou-se, pelo registo civil, com Filomena Edite
Pinto Serra Loureiro, com a qual teve três filhos.
A sua atividade profissional sofreu um interregno entre 1961 e 1964
para cumprir o serviço militar obrigatório. Quando passou à disponibili-
dade foi convidado para ser sócio da Metalúrgica F. Moucho, Ld.ª. Nesta
empresa trabalhou para a Shell, BP, Mobil, L’Air Liquide, Sandeman, Fer-
mentos Holandeses, Hoechst, Foster Wheeler Française, Badger, Cristian
& Nielsen e a SNAN-Progetti.
A 21 de julho de 1969 partiu para Cabo Verde, onde dirigiu vários projetos para a Shell, e em 1970 foi para
Paris para estudar a palatização das garrafas de gás para uso doméstico. Em 1971 regressa novamente a Paris
para negociar com a Foster trabalhos para a refinaria do Porto. Em janeiro de 1974 é convidado para ingressar na
empresa Soares da Costa. Em março de 1981 foi nomeado director da empresa de metalomecânica Socometal.
Em janeiro de 1987 interrompeu a colaboração com a Socometal e enveredou pela profissão liberal de
consultadoria, regressando mais tarde ao Grupo Soares da Costa como adjunto do novo chefe-executivo.
Em janeiro de 1995 é nomeado administrador-delegado da Socometal. Após 43 anos de intensa actividade
profissional, em outubro de 2000 achou por bem retirar-se.
Ao longo da vida fez vários cursos oficiais e livres, quer os diretamente relacionados com o exercício da
sua profissão, quer com a sua insaciável curiosidade intelectual. Assim, para além do curso de Electrotecnia
e Máquinas no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), que em 1973 lhe deu o título de engenhei-
ro técnico, equiparado a bacharel de Engenharia, em 1979 concluiu a licenciatura em Engenharia Mecânica
na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Concluiu também um curso de Gestão In-
tegrada (A.I.C.O.P.N), um outro de Informática para Gestão da Produção promovido pela AIP e um outro de
Operador de Gestão Industrial no Cesai (Centro de Formação Profissional de Informática). Em paralelo com
a sua atividade profissional, foi assistente do curso de Línguas e Literatura Espanholas, no Colégio Oficial
Español de Oporto em 1958, e em 1960 concluiu o curso de francês prático, no Instituto Francês do Porto.
Em 2000-2002 frequentou o curso de inglês do American Language Center. Foi frequentador assíduo dos
cursos livres organizados pela Academia Eça de Queirós no Solar Condes de Resende.
Como profissional de Engenharia nas diversas empresas onde trabalhou em projetos de grande exi-
gência técnica nunca descurou a parte humana e social, o que o levou à criação de cantinas, gabinetes
médicos e outras formas de apoio e valorização profissional dos trabalhadores, promovendo encontros de
convívio lúdico entre os seus colaboradores. Quando se reformou os seus interesses continuaram a girar
em volta da matemática e da eletrónica, mas também da pintura, lógica, literatura, história, cinema e reli-
gião, além da vitivinicultura e da vela, onde em 2002 acedeu à categoria de patrão de costa.
Foi sócio e participou nas atividades de diversas agremiações, como o Sindicato dos Engenheiros Téc-
nicos e a Ordem dos Engenheiros – Região Norte (OERN), na qual foi eleito como secretário da mesa para
os triénios 2004-2007 e 2007-2010. Foi também sócio do Automóvel Clube de Portugal, do Real Clube
Clube Fluvial Portuense, colaborou com o Abrigo Nossa Senhora da Esperança e a Liga Portuguesa Contra
o Cancro; foi sócio da Árvore – Cooperativa de actividades artísticas, CRL; e dos Amigos do Solar Condes de
Resende – Confraria Queirosiana.
De índole discreta e por natureza avesso a manifestações que envolvessem a sua pessoa, mesmo as-
sim algumas das instituições de que fez parte reconheceram publicamente a sua colaboração: em 2010,
o conselho diretivo nacional da Ordem dos Engenheiros outorgou-lhe o nível de qualificação profissional
de membro sénior como «reconhecimento da Ordem pela competência e maturidade demonstradas no
exercício da profissão, em trabalhos de Engenharia, na área técnica ou científica».
Faleceu a 20 de julho de 2018, vítima de doença prolongada, aos 78 anos de idade.

8
O NOME E OS LUGARES DE PORTUCALE
Jorge de Alarcão
Professor catedrático (aposentado) do Instituto de Arqueologia
da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
A localização de Cale foi durante muito tempo
discutida, oscilando as opiniões entre a cidade do
Porto e a de Vila Nova de Gaia (CORREIA, 1932; SIL-
VA, 2010: 217-220, com bom resumo do debate en-
tre as décadas de 1930 e 1970). Hoje, graças a mui-
tas intervenções arqueológicas realizadas na cidade
do Porto desde a década de 1980 (SILVA, 1994: 66-
105; SILVA, 2010, com inventário exaustivo actuali-
zado até à data da publicação), não há dúvida de
que a Cale romana corresponde à cidade do Porto.
O morro da Sé do Porto, ocupado desde o Bron-
ze Final, foi o núcleo originário de Cale. Circunscre-
via-o uma muralha já na Idade do Ferro – muralha
que terá sido refeita no século I d. C. e, depois, nos
fins do século III ou nos inícios do IV, talvez sem que
essas reconstruções se tenham desviado muito do
primeiro traçado (SILVA, 2010-2011).
A povoação seria, nos finais do século II a. C., o
lugar principal de um dos populi do Noroeste pe -
ninsular: o dos Callaeci. Por aqui terá passado Dé-
cimo Júnio Bruto; e porque os Callaeci foram o pri-
meiro povo que o cônsul defrontou depois de ter
atravessado o Douro, o nome de Callaecia terá sido
estendido pelos Romanos a uma vasta região do
Noroeste que era ocupada por muitos outros populi
(TRANOY, 1981: 65-66).
Cale terá sido tomada por Perpena. A referên-
cia a esta expedição do lugar-tenente de Sertório
encontrar-se-ia num texto de Salústio, infelizmen-
te perdido e que só conhecemos indirectamente
através de um comentário de Sérvio, gramático do
século IV, que escreveu: «Cale civitas... est enim in
Gallaecia, quam Sallustius captam a Perpenna com-
memorat» (VASCONCELOS, 1905: 29, nota 7; COR-
REIA, 1932: 23; SILVA, 1994: 82).
Cale foi, no século I d. C., elevada à categoria
político-administrativa de capital de civitas. Como
tal, teve seguramente seu forum. Parece razoável
supor que se situaria na área da Sé. O morro era, to-
davia, acanhado. O desenvolvimento urbano ter-se-

9
-á feito para a zona ribeirinha entre dois pequenos
cursos de água que hoje não são perceptíveis, mas
na Idade Média se chamavam rio da Vila e rio Frio.
Foi aqui, aliás, que se descobriram os restos da úni-
ca domus (com mosaicos) até agora identificada na
cidade (TEIXEIRA e DORDIO, 2000).
Na margem esquerda do Douro situava-se um
outro povoado que, como o de Cale, teve origem no
Bronze Final. Ficava num morro sobranceiro ao rio –
morro que ainda hoje é conhecido como Castelo de
Gaia, apesar de não sobreviverem vestígios do cas-
telo que aí terá surgido na Idade Média. A ocupação
da Idade do Ferro, romana e suevo-visigótica do
local está atestada (GUIMARÃES, 1989 e 1995; CAR-
VALHO e FORTUNA, 2000; GUIMARÃES, 2000: 159;
CARVALHO, 2003; GUIMARÃES, 2017; SILVA, 2017;
SILVA, MORAIS, PINA-BURÓN e DE LA TORRE, 2018).
Nunca o sítio foi abandonado, e devemos conside-
rá-lo como um dos pólos geradores da cidade de
Vila Nova de Gaia.
Não é fácil reconstituir, na actual área urbana
de Vila Nova de Gaia, o percurso da estrada romana
que, vinda do Sul, alcançava o Douro (MATOS, 1937;
MANTAS, 1996: 831-832; MANTAS, 2012: 198-199).
Parece difícil fazê-la passar pelos pontos altos
de Santo Ovídio (157 m) ou de Coimbrões (129 m).
Num caso ou no outro, teria demasiado declive até
ao rio – a menos que descesse em lacetes pela en-
costa. A passagem entre Santo Ovídio e Coimbrões
resolveria a questão do declive. Se o percurso pela
rua Direita de Vila Nova de Gaia parece lógico, não
nos devemos esquecer que Armando de Matos
(1937: 23) atribuiu a sua abertura ao fim do século.
XVII. Terá o autor razão? Ou nessa data foi apenas
melhorada uma antiquíssima via? Gonçalves Gui-
marães (2017: 70) considera a rua Direita como me-
dieval, alargada no século XIX.
Um miliário de Caracala encontrado (mas des-
contextualizado) no lugar de Tartomil, na foz do rio
Valverde, na freguesia de Valadares (LEITE, BEITES e
COELHO, 2012-2013), complica a restituição da rede
viária no actual concelho de Vila Nova de Gaia. Aca-
so a estrada principal, correndo pela actual fregue-
sia de Valadares, ia direita ao povoado do Castelo de
Gaia? Ou trata-se de um percurso alternativo, sem
prejuízo de uma outra via que poderia passar entre
Santo Ovídio e Coimbrões?
Seja como for, a estrada devia alcançar o rio
Douro sensivelmente num ponto ligeiramente a
ocidente da igreja de Santa Marinha. Aí havia cer-
tamente um cais de embarque e desembarque. O
cais da margem oposta ficaria na Ribeira, junto da
confluência do antigo rio da Vila. Daqui partiria o
caminho que, seguindo as actuais ruas dos Merca-
dores e da Banharia, contornava o morro da Sé e
iria entroncar na via que saía do oppidum de Cale
para Norte. No antigo aljube da rua de S. Sebastião
foram recolhidos muitos fragmentos de ânforas
(MORAIS, 2013: 105-107). Podemos supor que a
área, fora de muralhas, era vazadouro de ânforas
que, chegadas à cidade e esvaziadas, eram atira-
das para essa lixeira.
O cais do lado de Cale ficaria ligeiramente a
montante do cais da margem esquerda do Douro.
As barcas de passagem seguiriam um percurso li-
geiramente oblíquo. A travessia seria facilitada se
se aproveitasse a maré enchente para passar da
margem sul à margem norte e se, pelo contrário,
se esperasse a vazante para se atravessar de Cale à
margem oposta.
Na sua origem, portus Cale seria o nome daque-
le troço do rio onde fundeavam as embarcações, se
faziam cargas e descargas e se passava de uma a
outra margem. Em escavações recentes e ainda não
publicamente divulgadas foi identificado junto do
rio, na margem esquerda, um edifício que serviu de
armazém e se deve atribuir aos finais do século I a.
C. ou aos inícios do I d. C.
A palavra portus, «porto», como tem sido recor -
dado por muitos autores, não significava apenas
fundeadouro e lugar de embarque e desembarque
de mercadorias e de passageiros, mas tinha tam-
bém o sentido de “lugar de passagem”.
Talvez este tenha sido mesmo o sentido pri-
meiro, pois o termo indo-europeu *pr-tu significa-
va «ponto de passagem» (PRÓSPER, 2002: 274). O
sentido original ainda se conserva na toponímia
portuguesa em Porto Alto, Porto Carreiro, Porto da
Estrada... São múltiplas as atestações – e mais ainda
as do seu diminutivo Portela.
Podemos perguntar-nos se esse troço do rio se
chamava Portus Cale ou Portus Calis. A palavra Cale
podia ser flexionável – e no Itinerário de Antonino te -
mos o acusativo Calem. Nada impede que se admi-
ta um genitivo Calis. A verdade é que não o temos
atestado. Talvez se falasse de Portus Cale e não se
usasse a designação Portus Calis.
Na margem esquerda do rio, junto do cais, de-
vemos presumir a emergência de um povoado que,
de pequeno, se pode ter tornado relevante. Haveria
aí armazéns, tabernae, uma estalagem, as casas dos
barqueiros e dos estivadores. Talvez este lado fosse

10
também o mais adequado à instalação de estaleiros
onde se construíssem e reparassem embarcações.
Perto da povoação do Castelo de Gaia, este núcleo
seria distinto (ainda que, eventualmente, não tives-
se administração autónoma).
Se o cais da margem direita servia Cale e as povoa-
ções a Norte, o da margem esquerda servia uma vasta
região a sul. Só em Cacia, na foz do Vouga, havia, na
época romana, outro porto, na civitas de Talabriga.
O povoado ribeirinho da margem esquerda te-
ria nome próprio e diferente do do Castelo de Gaia?
Neste caso, que nome seria o seu? E que nome teria
a povoação do Castelo de Gaia?
No Itinerário de Antonino não se regista esta pa-
ragem. Estará ela mencionada na Chorographia do
Anónimo de Ravena, roteiro atribuído ao século VII
(ROLDÁN HERVÁS, 1973: 111)?
Neste texto lemos a seguinte sequência: Olisi-
pona, Terebrica, Langobrica, Cenoopi docalo, Augus-
ta Bracaria.
Cenoopi docalo tem sido restituído como Ceno,
opido Calo ou Ceno opido, Calo.
Não deixa de surpreender-nos que o Anónimo
de Ravena omita Scallabis, Sellium, Conimbriga, Ae-
minium e Talabriga, localidades todas elas impor -
tantes na estrada de Olisipo a Bracara Augusta.
Langobriga ficaria no Monte Redondo ou Mon-
te de Santa Maria (Fiães, Vila da Feira) (ALMEIDA e
SANTOS, 1971; MANTAS, 1996: 640-645; MANTAS,
2012: 197-198). Ceno tem de situar-se, pois, entre a
Vila da Feira e o Porto.
Ora nesse troço de estrada não temos indício de
povoação relevante que merecesse referência a não
ser na margem esquerda do Douro. Não nos parece
que Ceno possa identificar-se com o castro do Mon-
te Murado (SILVA, 1983 e 2015). A distância a que
este se acha do Monte de Santa Maria é de cerca de
12 milhas. Isso justificaria uma mutatio. Um roteiro
que omite Scallabis, Sellium, Conimbriga, Aeminium
e Talabriga mencionaria uma simples mutatio?
Tudo nos inclina a localizarmos Ceno na área de
Vila Nova de Gaia. Mas seria o povoado do Castelo
de Gaia ou a povoação ribeirinha onde se fazia a tra-
vessia do Douro?
A Chorographia do Anónimo de Ravena, onde se
encontra a única atestação do nome Ceno, põe-nos
numerosos problemas. Terá sido escrita, em grego,
no século VII. Em data incerta terá sido feita uma tra-
dução (ou transcrição) para latim. Perdido o original,
não dispomos senão de manuscritos da versão latina,
o mais antigo dos quais data do século XIII. Ficamos
sem saber quando, exactamente, se fez a versão lati-
na: em algum tempo entre os séculos VII e XIII.
A forma (românica) Ceno deixa supor uma for -
ma latina Caenum. Porque o nome pessoal Caeno
também surge com a forma Caino na epigrafia ro-
mana da Lusitânia (Atlas Antroponímico), podemos
admitir Cainum.
Caenum ou Cainum seria o nome do povoado
do Castelo de Gaia? Ou o do povoado junto do cais?
Ou ambos partilhavam o mesmo nome?
Escrita no século VII, a Chorographia do Anóni-
mo de Ravena não é obra que possa considerar-se
actualizada para a época. O autor forrageou em coro-
grafias, mapas ou roteiros muito mais antigos, desig-
nadamente no Itinerário de Antonino (onde, porém,
como dissemos, não se encontra menção de Ceno).
Podemos admitir que no século VII o nome já se ti-
nha perdido e que o Anónimo o encontrou em qual-
quer fonte bem mais antiga. A antiga Ceno podia ter,
no século VII, outro nome. Ou, na hipótese contrária:
Ceno seria, no século VII, o nome de um povoado
que em séculos anteriores teria tido outro nome?
Poderá o nome Ceno ter sido transferido para
outro lugar?
Em 1035, o mosteiro de Leça recebeu parte de
uma «...piscaria que est in Durio quam vocitant Cau-
num inter Villar et Lauridello» (LP 184). Vilar e Lordelo
são identificáveis na actual área urbana do Porto.
De Caeno ou Ceno não podemos derivar Cau -
num; mas, na hipótese de Cainum, a evolução Cai -
num > Caunum já seria admissível. Se o povoado da
margem esquerda se chamou Cainum, terá o nome
emigrado para a margem direita? Isto é mais do que
incerto, se bem que migrações toponímicas se en-
contrem atestadas.
Chegados a este ponto, podemos concluir:
1 – Na época romana, na margem esquerda do
rio Douro e na actual área urbana de Vila Nova de
Gaia haveria uma povoação no Castelo de Gaia e ou-
tro aglomerado mesmo junto do rio, com seu cais.
2 – Não sabemos se partilhavam o mesmo
nome.
3 – É possível, mas não seguro, que Caenum ou
Cainum fosse o nome de uma dessas povoações (ou
das duas, se acaso tinham o mesmo nome).
No século. VI, Portucale era nome comum à ci-
dade do Porto e à povoação situada no Castelo de
Gaia. A ocupação desta na época suevo-visigótica
está, como dissemos, arqueologicamente atestada.

11
O Parochiale Suevum documenta uma reorga-
nização do mapa eclesiástico feita sob a égide de
S. Martinho de Dume entre 569 e 572 (ALARCÃO,
2015: 36).
Nele lê-se:
«Ad sedem Portugalensem in castro novo» – e
seguem-se as ecclesiae ou «paróquias» que integra-
vam a diocese.
«Ad Conimbricensem» – seguem-se as respec-
tivas ecclesiae, terminando com «Portucale castrum
antiquum».
Havia, pois, c. 572, duas localidades com o nome
de Portucale: uma era a antiga Cale, isto é, a cidade
do Porto; outra ficava na área urbana de Vila Nova
de Gaia. Esta última pertencia à sé de Conimbriga,
porque era o rio Douro que servia de limite às dio-
ceses portucalense e conimbricense.
Não é forçoso pensar que havia um Portuca-
le Novum contraposto a um Portucale Antiquum
(como hoje temos Montemor-o-Novo e Montemor-
-o-Velho ou Torres Novas e Torres Vedras). Aliás, se
se usassem adjectivos para distinguir uma povoa-
ção da outra, talvez se dissesse Portucale Vetus e não
Portucale Antiquum. «Ad sedem Portugalensem in
castro novo» poderá entender-se como «À sé portu-
calense na sua nova localização». Isto explicar-se-ia
porque a primitiva sede episcopal havia sido Mag-
netum (Meinedo, Lousada) (MARQUES, 2002: 482).
Sob a igreja paroquial de Meinedo reconheceram-
-se vestígios de uma anterior igreja que foi atribuída
ao século VI-VII (SILVA, 1994: 102-103; RODRIGUES,
2012-2013). Esta atribuição cronológica não pode
considerar-se indiscutível. Talvez o templo possa
datar-se do século IX ou X. De qualquer forma, é
mais do que provável que a transferência da sede de
Magnetum para Portucale tenha tido lugar aquando
da reorganização do mapa eclesiástico sob a égide
de S. Martinho de Dume.
No II Concílio de Braga, em 572, ainda aparece
Viator subscrevendo as actas como «Magnetensis
ecclesiae episcopus». Deveremos deduzir daqui
que, em 572, a sede continuava em Meinedo, e
que a sua transferência para o Porto foi posterior?
É possível que a transferência tenha sido aprova-
da ou oficializada nesse mesmo concílio. Viator
terá comparecido como bispo de Magnetum, mas
saído como bispo de Portucale. Podemos também
recordar o caso dos bispos de Coimbra que con-
tinuaram a intitular-se «episcopi Conimbrigenses»
mesmo depois da transferência da sede de Conim-
briga para Aeminium.
Dado o sentido do adjectivo antiquus, o nome
de «Portucale castrum antiquum» para a povoação
da margem esquerda parece dever entender-se no
sentido de que o nome de Portucale foi primeira-
mente dado a essa povoação antes de ser atribuí-
do também ao Porto. O nome de castrum, por ou-
tro lado, inclina-nos a supor que a ecclesia ficava
no Castelo de Gaia. Seria a igreja supostamente
identificada no sítio da capela do Bom Jesus ou da
Senhora da Bonança (GUIMARÃES, 1989 e 1995:
123-139 e 175-183).
Neste caso, nos finais do século VI, a povoação
do Castelo de Gaia, se em algum tempo se chamou
Caenum ou Cainum, chamar-se-ia então Portucale.
A Ceno do Anónimo de Ravena poderia ser a povoa-
ção junto do rio, onde se fazia a travessia?
Não podemos deixar de examinar agora o teste-
munho da Crónica de Idácio.
Segundo este, em 456, Teodorico, rei dos Vi-
sigodos, atacou os Suevos. O rei suevo, Requiá-
rio, derrotado «ad fluvium nomine Urbicum», a
doze milhas de Astorga, fugiu «ad extremas sedes
Gallaecia» e acabou por ser feito prisioneiro em
Portucale: «Rechiarius, ad locum qui Portumcale
appellatur profugus, regi Theodericus captivus
adducitur» – «Requiário, fugido para o lugar a
que chamam Portucale, foi levado como prisio-
neiro ao rei Teodorico» (ou «fugido para o lugar
a que chamam Portucale, foi aí preso e levado ao
rei Teodorico»).
Tem-se argumentado que este Portucale onde
Requiário foi preso deve identificar-se com a cida-
de do Porto, visto que ficava «ad extremas sedes
Gallaecia» e o limite da Gallaecia era o Douro.
A releitura atenta de Idácio permite outra inter-
pretação. Derrotado junto do rio Orbigo, Requiário
fugiu para Braga, que era a capital do reino suevo.
Teodorico avançou para esta cidade: «Theoderico
rege cum exercitu ad Bracaram extremam civitatem
Gallaeciae pertendente...» – «o rei Teodorico, com
seu exército, tendo marchado para Braga, cidade
nos confins da Galécia...».
A cidade que ficava nos confins da Galécia era
Braga e não foi aqui que Requiário foi preso. O rei
fugiu para Braga. Depois, perante o ataque de Teo-
dorico a esta cidade (ataque que Idácio também
descreve), continuou a fuga e foi preso em Portuca-
le. Mas onde ficava este Portucale?
Idácio escreveu que Requiário foi preso «ad lo-
cum qui Portumcale appellatur». Nunca o cronista
se refere a outras cidades usando a expressão «ad

12
locum qui appellatur». Não diz, por exemplo, «ad
locum qui Conimbrigam appellatur» ou «ad locum
qui Scallabim appellatur».
Isto deixa-nos pensar que Portucale era um lu-
gar menor que muitos dos seus leitores desconhe-
ceriam, ou era uma designação recente para um
lugar que todos (ou quase todos) conheceriam por
outro nome: o de Cale.
Se pensarmos que, para a batalha do rio Orbi-
go, Idácio usa a expressão «ad fluvium nomine Ur-
bicum», podemos admitir a primeira hipótese, isto
é, a de que Portucale era um lugar menor que pou-
cos saberiam identificar. Idácio não fala de «fluvium
nomine Tagum» nem de «fluvium nomine Anam»,
porque o Tejo e o Guadiana eram rios conhecidos
de todos. O rio Urbicum seria desconhecido da
maior parte dos leitores e por isso Idácio usa nomi-
ne (equivalente a qui appellatur).
A segunda hipótese (a de ser recente a desig-
nação de Portucale para a antiga Cale) é igualmen-
te razoável. Neste caso, a expressão de Idácio seria
equivalente a «ad locum qui nunc Portumcale appe-
llatur». Apenas o uso do termo locum nos obriga a
reflectir: se Portucale era a antiga Cale, Idácio não
teria escrito «ad castrum (em vez de ad locum) qui
Portumcale appellatur»?
O nome Portumcale, com flexão do elemento por -
tum e não do nome Cale, também merece atenção.
Acaso Idácio escreveu «ad portum Cale» e foi um co-
pista que reuniu numa só palavra, Portumcale, o que,
no manuscrito original, estaria como duas palavras?
Ficamos, pois, na dúvida: em 456 (quando Re-
quiário foi preso) ou em 469 (data em que Idácio
terminou a sua Crónica), Portucale era nome recente
para a antiga Cale? E foi aí que Requiário foi preso?
Nada nos impede de pensar que Requiário foi
preso na margem esquerda do Douro. Aqui estaria,
aliás, mais estrategicamente situado: no Porto cor-
reria o risco de ficar encurralado; do lado de Gaia
teria maiores possibilidades de continuar a fuga, se
necessário, para Sul ou Oriente.
Não pretendemos sustentar que Requiário foi
preso do lado de Gaia e que ficava aqui o «locum qui
Portumcale appellatur»; queremos apenas manter a
dúvida. Será que em outros passos de Idácio encon-
tramos outras referências que nos permitam esclare-
cer se Portucale corresponde ao Porto ou a Gaia?
Prossigamos na leitura do cronista.
Em 457, «Agiulfus... Portucale moritur» – «Agiul-
fo morreu em Portucale»; em 459, «Maldras... Por -
tumcale castrum idem hostis invadit» – «Maldras...
invadiu como inimigo o castro de Portucale».
Após a morte de Agiulfo, os Suevos dividiram-se:
uns reconheceram Frantano como seu rei e, depois,
Requimundo; outros aclamaram Maldras. Este teve a
Lusitânia, enquanto Frantano e Requimundo reina-
ram na Galécia. Se o Douro era a fronteira, a área de
Vila Nova de Gaia seria de Maldras, e a do Porto, do
inimigo ou adversário. Maldras terá invadido a cida-
de do Porto. A própria referência a Portucale como
castrum e não, como anteriormente, a locus, parece
dever tomar-se como alusão a um Portucale diferente
do lugar onde Requiário havia sido feito prisioneiro.
Que concluiremos de tudo isto? Que talvez, já
nos meados do século V, o nome de Portucale se
aplicasse tanto à povoação da margem direita como
à da margem esquerda; mas se podemos duvidar
disso, pois o testemunho de Idácio não é isento de
ambiguidades, o Parochiale Suevum deve levar-nos
à conclusão de que, na década de 570, os dois luga-
res tinham realmente o mesmo nome. Ainda assim,
fica a dúvida: acaso, no século V ou VI, o Portucale
da margem esquerda poderia ser a povoação da
beira-rio onde se fazia a travessia? E o povoado do
Castelo de Gaia teria outro nome?
Parece útil recordarmos agora o testamento do
bispo D. Gomado a favor do mosteiro de Crestuma
em 922 (LP 81 = DC 25).
Noutro trabalho justificaremos a ideia de que D.
Gomado foi bispo do Porto e de que o documento
deve considerar-se autêntico.
Deixou o bispo ao mosteiro de Crestuma (ao
qual se havia recolhido depois de resignar) várias
terras e, entre elas, «villa de Portugal quomodo di-
vidit per suos terminos antiquos quomodo dividit
cum villa de Mahamudi et inde per montem, a ter-
mino de Colimbrianos usque in Gal».
Sendo identificáveis e localizáveis Mafamude
e Coimbrões (nomes que ainda persistem na área
urbana actual de Vila Nova de Gaia), é provável que
Gal corresponda ao Castelo de Gaia, e villa de Portu-
gal ao povoado ribeirinho junto do cais.
Gal é grafia anómala num documento em latim
do século X. Esperaríamos Gale ou Galia. Não me -
nos anómala, porém, é a forma Portugal em vez de
Portugale ou Portucale. Terá o notário usado as for-
mas faladas? Gal corresponderia a Cale e Portugal a
Portucale, nos dois casos com apócope do /e/, como
em sole > sol, aprile > abril ou fidele > fiel, e com a
oclusiva velar surda /c/ transformada na velar sono-
ra /g/, como em Lucus > Lugo ou Callaecia > Galécia.

13
De qualquer forma, parece dever concluir-se
que, no século X, o povoado ribeirinho do Douro se
chamava Portugal(e), e o do Castelo de Gaia, Gal(e).
Donde vem o nome de Gaia? A hipótese de Cale
> *Gala > Gaia não parece impossível. A vocalização
do /l/ em /i/ encontra-se, por exemplo, em ausculta-
re > escuitar (forma arcaica e popular de «escutar»).
Numa outra hipótese, podemos admitir que,
de Cale, com o sufixo -ia, se formou Calia/Galia.
Este sufixo serve à formação de nomes de regiões
ou províncias, com Britannia, Gallia, Lusitania. Nes-
te caso, Calia/Galia teria designado uma área, não
necessariamente muito extensa, em torno de Cale.
A evolução Galia > Gaia explicar-se-ia pela queda
do /l/ como em salire > sair, casales > casais ou mo -
lino > moinho.
O elemento Calia encontra-se no nome de Ca -
liabriga, que foi, segundo o Parochiale Suevum, ec-
clesia da diocese de Viseu depois convertida em
sede de bispado pelos Visigodos.
Na Chronica Gothorum (in Scriptores: 13) diz-se
que, em 1147, os Cruzados entraram no porto de
Gaia: «Eodem quoque tempore venerunt quedam
naves exinsperato de partibus Galliarum, plene ar-
matis viris votum habentes ire in Jerusalem, cum-
que venissent ad portum Gaye et intrassent Do-
rium, audivit hec Rex»...
Talvez se não deva tomar esta referência como
segura prova de que o povoado ribeirinho se cha-
mava, em 1147, portus Gaye, pois a Chronica, escri-
ta depois dessa data, pode ter actualizado o nome.
Quando não dispomos de originais, mas de cópias,
há sempre o risco de actualizações, que os copistas
frequentemente faziam. Há, todavia, documentos
dos séculos XII e XIII que se referem à igreja de San-
ta Marinha de portu Dorij ou de portu (GUIMARÃES,
1989: 18 e 1995: 64).
Em 1155, D. Afonso Henriques doou ao mos-
teiro de Salzedas «ecclesia Sancti Martini de
Gaya cum piscariis et pertinentiis suis» (DR 255);
e em 1161 confirmou a doação, delimitando-a
«per petram de Deveza», pela «carreriam quae
venit de Gaya», pela extrema com Villar e pelo
Douro» (DR 277).
A autenticidade destes documentos foi examina-
da por Rui de Azevedo (DR II: 751-753). Se o primeiro
é falso, o de 1161 deve considerar-se autêntico.
Não nos parece possível identificar petra de De -
veza com o lugar de Devesas na actual área urbana
de Gaia, nem Villar com Vilar de Andorinho. Não te -
mos, em qualquer outro documento, indício de que
o mosteiro de Salzedas tenha tido área tão vasta.
A igreja de S. Martinho ficaria na Afurada
ou na encosta do Castelo de Gaia (GUIMARÃES,
AFONSO e PRATA, 1983, mapa de p. 41 e GUIMA-
RÃES, 1995: 432)?
Em 1255, D. Afonso III deu foral a «mea villa de
Gaia» (GUIMARÃES, AFONSO e PRATA, 1983). Ao
mesmo tempo, concedeu ao concelho o seu re-
guengo de Gaia, «quomodo dividit cum terminis
de Conimbrianos et de Canidelo et de Almeara et
deinde quomodo intrat in Dorium».
Aquelas localidades correspondem a Coim-
brões, Canidelo e Alumiara. Pode entender-se que
o reguengo era muito mais vasto e que D. Afonso III
apenas deu ao concelho uma parte desse mesmo
reguengo – parte que já não abrangeria as aldeias
de Coimbrões, Canidelo e Alumiara, embora essas
ficassem no reguengo. No que respeita a Canide-
lo, terá continuado terra regalenga, pois viria a ser
doada aos filhos de D. Pedro e de D. Inês de Castro –
ou, pelo menos, a D. Beatriz, filha do casal (ARNAUT,
1960: 18-19, 74 e 220).
Se Coimbrões, Canidelo e Alumiara ficavam
fora do concelho de Gaia no tempo de D. Afonso III,
fora ficariam também, provavelmente, Mafamude
e Quebrantões. Em data que desconhecemos estas
localidades terão sido integradas no concelho.
D. Afonso III doou aos habitantes de «mea villa» de
Gaia também o «casale quod fuit sedis portucalensis
quod est in Gaia, et Sanctum Martini si illum habere
potuero». A interpretação de «casale quod fuit sedis
portucalensis como «casal que foi sé portucalense» e
a sua identificação com o burgo em torno da igreja
de Santa Marinha já foi corrigida (SILVA, 1994: 83-84).
Deve entender-se «casal que foi da sé portucalense».
Não sabemos onde ficaria, exactamente.
Quanto a Sanctum Martini, poderia ser aquele
mesmo lugar (ou igreja) que D. Afonso Henriques
havia doado ao mosteiro de Salzedas. Talvez D.
Afonso III estivesse em negociações para, por meio
de escambo, reaver o lugar.
No foral, D. Afonso III refere-se aos moradores
de «meo burgo veteri de porto» e à «villa episcopi».
A «villa episcopi» era a cidade do Porto. Noutros
documentos do mesmo rei surge como »civitate
episcopi» (Chanc. Afonso III, Liv. I, 308 e Liv. III, 34).

14
O «meo burgo veteri de porto» não pode iden-
tificar-se com a cidade do Porto: seria o povoado
em torno da igreja de Santa Marinha, distinto do
povoado do Castelo de Gaia, que seria a sede do
concelho afonsino. Documentos dos séculos XII e
XIII chamam ao povoado da margem esquerda Por -
tu Dorij, Portum Dori, Portus Gay (GUIMARÃES, 1995:
64). Um documento de 1251 (MOREIRA, 1964-1966:
120) chama, à povoação em torno da igreja de San-
ta Marinha, «burgo de portu de Gaya».
A igreja de Santa Marinha era do padroado régio.
Em 1292, D. Dinis cedeu-a ao bispo do Porto, junta-
mente com dois casais, por escambo com o lugar de
Marachique (no Alentejo) (ALARCÃO, 2015a: 26-31).
Em 1288, D. Dinis deu foral ao «burgum vetus»
e determinou que passasse a chamar-se Villa Nova
de Rey. A povoação em torno da igreja de Santa Ma-
rinha tornou-se assim autónoma da do Castelo de
Gaia, embora o seu foral dionisino tenha seguido os
termos do de D. Afonso III dado a «mea villa de Gaia».
Não conhecemos os limites de Villa Nova de Rey.
Provavelmente eram muito reduzidos, vindo a sul só
até ao Cabeçudo, designação ainda hoje mantida na
área urbana de Gaia, na travessa de Cândido dos Reis.
Em documentos da Chancelaria de D. João I, Vi -
lla Nova de Rey surge com as designações de Villa
Nova de par de Gaya e de Gaya a Pequena.
As designações ainda se mantinham no século
XVIII, pois nas Memórias Paroquiais de 1758 lemos:
«Villa Nova no que respeita do Cabeçudo
abaixo, e seu circuito chama-se Villa Nova
de par de Gaya com o titulo de Villa Nova
del Rey...
...ha Villa Nova do Porto, ou de par de
Gaya, que nos foraiz antigos se [chama]
Villa Nova do Bispo, que tudo he do Ca-
beçudo abaixo...»
Conclusão
É possível que o nome Ceno (ou Caenum ou
Cainum) tenha sido o do povoado do Castelo de
Gaia, e que a povoação ribeirinha onde se fazia a
travessia para Cale se tenha chamado, na época
romana, portus Cale.
Talvez já no século V, e seguramente no VI, a
antiga Cale chamou-se Portucale. Passou a haver
dois Portucale, um dos quais seria o povoado do
Castelo de Gaia. Porque o Parochiale Suevum fala de
«Portucale castrum antiquum», e porque o nome
de castrum não se aplicaria ao povoado ribeirinho,
devemos supor que era o da povoação do Castelo
de Gaia. Acresce que os materiais arqueológicos
descobertos na igreja do Bom Jesus consentem a
hipótese de ser aí a sede da ecclesia sueva.
A povoação ribeirinha surge com o nome de por-
tus Dorii no século XII, com o de «burgo de portu de
Gaya» em 1251, e, em 1255, com o de «burgo vetus
de portu». D. Dinis chamou-lhe Vila Nova d´El-Rei. O
nome não vingou, e a povoação passou a chamar-
-se, desde os tempos de D. João I, Vila Nova de par
de Gaia – nome que ainda mantinha no século XVIII.
Referências
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16
O edifício de tradição romana sob a igreja do Bom Jesus de Gaia
destruído nos últimos dias do reino dos Suevos
J. A. Gonçalves Guimarães
Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR– CQ)
[email protected]
Localização e descrição geral
Fig. 1 – Localização da igreja do Bom Jesus no Castelo de Gaia,
visto da cidade do Porto; fotografia do autor.
A igreja do Bom Jesus de Gaia

é um pequeno
templo que fica situado no centro histórico de Vila
Nova de Gaia, na encosta nordeste da colina sobran-
ceira ao rio Douro, a meio caminho entre este e o alto
do Castelo (77,8 metros) na antiga vila medieval de
Gaia (fig. 1). Construída sobre um socalco artificial
entulhado pelos destroços de dois edifícios anterio-
res, com um desnível de cerca de 5 metros junto à
cabeceira, o edifício tem de comprimento máximo
17,5 metros e a largura do corpo principal é de 7,75
metros. A sua área de implantação, considerando
também o pequeno adro a norte e o largo do Prior
a sul é de 576 metros quadrados. A igreja compõe-se
de dois corpos simples e justapostos, a capela-mor
e o corpo principal, tendo a sacristia adossada a sul
e a torre sineira, no alinhamento da fachada, a nor-
te. Em época recente foi construída neste adro uma
capela mortuária com materiais de construção mo-
dernos. Ao longo dos tempos o edifício sofreu obras
de alargamento e «beneficiação» que o foram alte-
rando. Apresenta o aspeto de uma pequena igreja da
segunda metade do século XVII ou XVIII (fig. 2).
A capela-mor evidencia alguns paramentos de
boa silharia, com uma fresta a nascente e uma ou-
tra na parede norte, onde igualmente em tempos
se abria uma porta de acesso para uma divisão ex-
terior agora inexistente, tendo no seu espaço sido
construídos uns sanitários e a tal recente capela
mortuária. O telhado foi alteado duas vezes em
épocas indeterminadas, sendo a empena da cabe-
ceira coroada por uma pequena cruz de pedra.
O corpo principal da igreja abre para a capela-
-mor através do arco triunfal, feito ou refeito prova-
velmente no século XIX e que é de muito menor es-
pessura do que a primitiva parede onde se implanta.
A nave da igreja, mais elevada do que a capela-mor,
apresenta, além da porta principal na fachada virada
a poente, duas portas laterais ao nível do piso térreo,
uma de cada lado junto ao arco triunfal. A parede
norte, para além desta porta, apresenta uma outra
a nível mais elevado, presentemente entaipada,
e que dava acesso ao púlpito que se abria a meio
da parede através de uma escada de pedra exterior
que continua até à porta elevada da torre sineira, so-
brelevada acima do telhado, abrindo o campanário
através de dois olhais com arcos de volta perfeita.
Possui dois sinos antigos e é coberta por um telhado
piramidal de quatro águas, encimado por uma cruz
em ferro. Abre-se igualmente para o interior da igre-
ja através de uma porta que dava acesso a um coro
construído em madeira sobre a porta principal, re-
tirado nas obras recentes. Na parede sul, para além
da porta já referida, abre-se um janelão engradado,
que presentemente dá para a sacristia.
Fig. 2 – Igreja do Bom Jesus de Gaia na atualidade; fotografia
do autor.

17
A fachada, voltada a oeste, apresenta um am-
plo portal construído após obras que destruíram a
porta medieval e cujas ombreiras foram recobertas
por nova cantaria tendo as aduelas do antigo arco
sido reutilizadas para compor um incipiente arco de
descarga, suporte de um óculo quadrilobado que
se lhe sobrepõem. A soleira foi elevada. A parede
exterior apresenta cantarias nitidamente reutiliza-
das, mas com paramentos com alguma unidade so-
bretudo no cunhal sudoeste. A empena, rematada
por uma cornija de tijolos, é coroada por uma cruz
de pedra e duas pirâmides.
A sacristia, que comunica com o corpo principal
através de uma porta na parede sul e pelo janelão
já referido, aninha-se no prolongamento do telha-
do da igreja. Situada a um nível mais baixo do que a
soleira da porta principal, desce-se para a sua porta
por degraus em granito. Na sua parede exterior, a
sul, abrem-se duas pequenas janelas engradadas
1
.
A povoação de Gaia, ou Castelo de Gaia, onde se
localiza esta igreja, é muito antiga. Os vestígios ar-
queológicos já conhecidos datam-na desde o Bron-
ze Final, tendo sido um povoado castrejo romani-
zado, cristianizado no período tardo-romano ou já
na presença dos povos germânicos, com fortes pro-
babilidades de aqui se ter localizado um dos Portu-
cale Castrum da Crónica de Idácio (século V), ou o
Portucale castrum antiquum do Paroquial suevo de
569 ou da Divisão de Teodomiro de 572. Foi depois
um castelo arabizado e asturo-leonês e por fim por-
tucalense, o qual se tornou a cabeça do julgado me-
dieval de Gaia, com foral outorgado em 1255, até
que em 1384, durante a crise dinástica portuguesa,
a população da vizinha cidade do Porto situada na
margem direita do rio Douro, que pretendia subor-
dinar à sua tutela os julgados da região, destruiu o
castelo, ficando Gaia, a vizinha Vila Nova e o respe-
tivo julgado integrados no Termo do Porto, uma su-
perestrutura regional subordinada à administração
daquela cidade até 1834
2
.
Contexto histórico e arqueológico
A documentação medieval apresenta algu-
mas confusões hagionomásticas no que se refere
às igrejas de Gaia e de Vila Nova e em que a pri-
meira aparece sistematicamente sem orago. Mas
antes, pelo menos no século XII, teve como pa-
droeiro S. Martinho, o apóstolo dos Suevos que
em 550 chega por mar a Portus Galliciae, ou seja,
a barra do Douro; já em 1059 a «villa santa maria»
(por mari[~]a, marinha) se dizia «inter riuulo... (?)
et sancto martinu» e em 1155 D. Afonso Henri-
ques doa ao Mosteiro de Santa Maria da Salzeda
a «ecclesia Sancti Martini de Gaya cum piscaris
et pertinentiis suis» que depois confirma, indi-
cando os limites em 1161
3
. Mas como explicar
que não apareça na lista do Censual do Cabido
atribuída aos anos 1174-1175, ou no Rol anterior
a 1238, ou no Catálogo das igrejas de 1320? Em
1292 a igreja de Gaia aparece claramente referi-
da em três documentos, sem qualquer possibili-
dade de confusão com a igreja de Santa Marinha
de Vila Nova, o mesmo acontecendo em 1298.
Mas a confusão documental volta a estabelecer-
-se no século XIV, talvez não por causa do ora-
go, mas porque muitos escrivães de outras terras
confundiam Gaia com Vila Nova, as duas povoa-
ções que existiam dentro de uma única freguesia
chamada de Santa Marinha
4
.
Em 1557 os habitantes de Gaia afirmavam que
«... a Igreja do Crusefisio que se hora mandava Cor-
reger e Rapairar Era muito antiga das majs deste
Reyno em tanto que della tomara o nome o Reyno
de Portugal por rezão de dita villa», e onde ouviam
missa «...ha tanto tempo que não ha memoria
d’homens», pois a igreja era «muito antiga, tinha
Campanário Antigo», mas que nela cabia apenas
a «quarta parte dos habitantes de Gaia» (80 fre-
gueses, isto é, fogos ou cerca de trezentas almas),
o que aliás também acontecida com a igreja de
Santa Marinha de Vila Nova. Trata-se pois de uma
igreja medieval com prerrogativas especiais, que
lhe virão a merecer o tratamento de filial da igreja
matriz da freguesia
5
.
Não obstante a sua antiguidade e importância
simbólica, a degradação do templo e da respetiva
Confraria das Almas acompanhou a degradação da
vila de Gaia, muito maltratada pelos bombardea-
mentos durante as lutas liberais
6
. Com o abandono
do lugar pelas famílias nobres ou burguesas ricas,
nos finais do século XIX já era conhecida simples-
mente por capela da Senhora da Bonança, dado
que a maioria dos habitantes era então constituída
por famílias ligadas à faina marítima e fluvial. A de-
gradação foi-se acentuando até 1987, ano em que
foi solicitado à Câmara Municipal de Vila Nova de
Gaia a realização de obras adequadas, o que permi-
tiu a realização de escavações arqueológicas, cujos
resultados passaremos a descrever
7
.

18
Estruturas e estratigrafia
A intervenção revelou as sucessivas fases de
construção, destruição e reconstrução dos edifícios
que existiram neste local ao longo dos tempos. O
estudo do seu espólio tem permitido tirar conclu-
sões para uma diacronia do lugar com cerca de
1500 anos. Concentrando agora o nosso estudo no
edifício de tradição romana destruído nos últimos
dias do reino suevo, o primeiro assente no local,
deixamos por ora os construídos por cima dos seus
escombros, um alti-mediévico, também destruído,
e um terceiro, de construção medieval que chegou
aos nossos dias com reconstruções e remodelações
sucessivas a que já aludimos na introdução. Dado
que só foi escavada a área interior da atual igreja, as
conclusões aqui apresentadas são necessariamente
limitadas, mas representaram, à época, um grande
avanço no conhecimento da história local
8
.
Assim, sobre o afloramento granítico, situado à
cota negativa média de -2,50 metros abaixo do pon-
to 0 (nível do soalho existente antes das obras), fo-
ram encontradas as ruínas de um edifício destruído
no século VI, sobre as quais foi posteriormente cons-
truído na Alta Idade Média um outro edifício, tam-
bém ele violentamente destruído e incendiado, e
por cima das suas ruínas, a igreja atual, que apresen-
ta alguns paramentos de parede de Baixa Idade Mé-
dia, sucessivamente alterados, reforçados e alteados
ao longo das épocas Moderna e Contemporânea e
que as obras recentes vieram mostrar.
Fig. 3 – Ruinas do edifício tardo-romano destruído em 585 exis-
tentes sob a igreja do Bom Jesus de Gaia; fotografia do autor.
Coincidindo com parte da planta da atual igreja
encontramos um muro no sentido NNE/SSO a cer-
ca de 2,5 metros do alicerce da fachada que passa-
remos a designar por M 1. Este muro sustinha um
socalco de saibro onde se abriam sepulturas antro-
pomórficas, contrariado pela abertura de uma es-
cadaria perpendicular em granito com cerca de 1,5
metros de largura da qual subsistem quatro degraus,
a qual prosseguia até à cota mais elevada, pois ainda
existiam vestígios do seu alinhamento. Os degraus
que faltam terão sido destruídos para abrir as sepul-
turas já referidas ou para alinhar a grelha sepulcral
existente na Época Moderna. Este muro encontrava-
-se muito derrubado do lado SSO devido ao facto de
por ali terem rolado enormes batólitos de granito
usados para o derrube do edifício. A NNE o muro
apresenta-se mais bem conservado, com mais de 1
metro de altura e com aparelho regular (fig. 3). Deste
lado partia um outro muro (M 2), perfeitamente per-
pendicular ao primeiro, o qual, no sentido ONO/ESE,
continuava até ultrapassar a sapata do arco triun-
fal para terminar em ângulo reto já dentro da área
da atual capela-mor, com um total de 9 metros de
comprimento. Deste ângulo parte uma outra pare-
de para NE (M 3) que, ao contrário das anteriormen-
te descritas construídas com duas faces de pedra
aparelhada e enchimento central, esta é formada
por grandes blocos de granito bem aparelhados e
esquadriados, o que nos levou a pensar que estáva-
mos perante uma parede de fachada ou o pedestal
de uma colunata, dado que nos entulhamentos des-
te canto do corpo principal da igreja descobrimos
um fuste partido, de bom granito e também bem
aparelhado, ainda com 1 metro de comprimento e
cerca de 30 centímetros de diâmetro. Neste canto,
também ao contrário do restante «alicerce» da igreja
feito de pedras em posição caótica, aqui existe um
outro muro de grandes blocos graníticos bem apa-
relhados (M 4), paralelo ao muro de maior compri-
mento atrás descrito (M 2), e que seria parte de uma
outra parede mais interior (fig. 4).
Para além das diferenças de materiais e de
técnica de construção dos muros atrás descritos,
encontramos vestígios de estuque com óxidos ne-
gro e vermelho junto de M 2, o que pode querer
significar que a parede tinha reboco pintado. No
espaço delimitado pelos muros M 1 e M 2 foram
encontradas tijolos de argila alaranjada clara (bes -
sallis), com as dimensões aproximadas de 19 x 18 x
5,5 cm, pertencentes a colunelos que suportavam
um pavimento que ruiu aquando da destruição
de que o primeiro edifício foi alvo, e que o desli-
zamento posterior dos escombros fizeram sair das
posições iniciais e concentrar-se junto da sapata do
arco triunfal da igreja, para onde pende a inclina-
ção do suporte geológico. Por toda a área escavada

19
distribuía-se um extenso nível de tegulae de argila
alaranjada, de boa cozedura, algumas com incisões
digitais, resultante do abatido telhado do edifício, a
qual separava nitidamente este estrato do da des-
truição do edifício construído, e também derruba-
do, em nível superior, e sobre o qual a camada de
entulhamento era demasiado caótica, formada por
pedras de derrube dos muros, mas igualmente pe-
los enormes blocos graníticos que obviamente não
pertenciam à construção que derrubaram. Quer as
tegulae, quer os tijolos são idênticos aos de outras
construções romanas na região
9
. Apareceram ain-
da, para além de tambores de fustes em granito, al-
guns elementos de capitéis, de pilastra e outros, de
tipo corintizante
10
.
Comparando a planta das ruínas deste edifício e
a da atual igreja que lhe está sobreposta, sem esque-
cer que entre ambos existiu outro edifício destruído,
ao que tudo leva a crer, no século XI ou princípios do
XII, de imediato se verifica que, ao contrário do que
sucede com as paredes da capela-mor e do corpo
principal, a planta da sacristia tem uma relação dire-
ta com os alinhamentos dos muros destas ruínas de
um primeiro edifício. A escada de acesso à sacristia é
paralela e de largura semelhante à que abre em M l, a
parede exterior sul do corpo da igreja é praticamente
paralela ao muro M 2 e a parede de fecho da sacristia
SO/NE aparece com a mesma orientação do muro M
3, o tal formado por grandes blocos graníticos apa-
relhados. Podemos pois concluir que estas paredes
assentam sobre o que resta da parte do edifício de
tradição romana que lhe servem de alicerce, o que
explicaria também o seu traçado oblíquo em relação
à planta da igreja atual
Fig. 4 – Planta da igreja atual e das ruínas; in GUIMARÃES, 1995: 291.
Espólio com elementos paleocristãos
Os materiais de construção encontrados indi-
cavam-nos apenas que estávamos perante um edi-
fício tardo-romano, mas foi o restante espólio que
veio fornecer-nos uma cronologia mais fina para a
data da sua destruição através de um número sig-
nificativo de fragmentos de cerâmica importada
datável do século VI d. C.. Estávamos pois perante
um edifício destruído depois de 580 d. C., a avaliar
pelos resultados disponíveis do estudo ceramológi-
co. De entre os cerca de 15.000 fragmentos recolhi-
dos destacam-se neste estrato os de terra sigillata
foceense, que pertenceram a peças importadas da
zona oeste da atual Turquia, entre meados do sécu-
lo V e primeira metade do século VI d. C..
Fig. 5a – Prato-taça Hayes 104A, século. VI, in GUIMARÃES, 1993:
46, e idem, 1995: 30.

20
Estão igualmente presentes fragmentos de ter -
ra sigillata africana tardia, dos quais destacamos
um prato-taça da forma Hayes 104A, tendo estam-
pilhados no fundo três cordeiros em volta de uma
jewelled cross, cuja data de fabrico é apontada para
o período entre 540 e 580 d. C.. Trata-se de uma
produção típica da zona de Cartago, caracteriza-
da pelo seu engobe avermelhado, existente só no
interior, e pelos bordos de tipo almendrado. Duas
peças de ambas as proveniências foram entretanto
reconstituídas, as quais se expõem hoje no Núcleo
Museológico de Arqueologia do Solar Condes de
Resende (fig.s

5a e5b). Foram aqui também encon-
trados, além de fragmentos de cerâmica comum
regional, também de terra sigillata hispânica tar -
dia, com cronologia idêntica, mas em quantidade
muito menor, e de cerâmicas cinzentas tardias, de
origem gálica
11
.
Fig. 5b – Iconografia paleocristã da peça anterior; in GUIMA-
RÃES, 2002: 556.
Para além da cerâmica, foi aqui também en-
contrada uma grande quantidade de fragmentos
de vidro, amarelado e esverdeado, nomeadamen-
te fundos de base anelar e côncavos e bordos al-
mendrados ou tubulares, também datáveis do sé-
culo VI. Sabendo-se hoje da grande produção de
vidro romano bracarense que vai aparecendo em
muitas estações arqueológicas da região, para a
única peça deste local para já reconstituída, um
copo-taça com pé e asa lateral no bojo, não te-
mos encontrado paralelos locais, sabendo que se
insere numa tradição de fabrico e utilização de
peças idênticas que se estende da Itália à Rússia
nesta época (fig. 6)
12
.
Por fim registe-se o achado, também neste ní-
vel arqueológico, de um elenchi lacrimiforme de
ouro, constituído por uma fita martelada daque-
le metal a delimitar-lhe a forma, tendo no interior
uma pedra transparente de cristal de quartzo, com
um arame estirado do mesmo metal, em forma de
S, para suspensão na orelha, sendo até à data este
brinco a única joia tardo-romana conhecida neste
local

(fig. 7)
13
.
Fig. 6 – Copo-taça em vidro, século. VI; fotografia do autor.
Não sendo objeto de estudo da arqueologia,
mas não devendo ser ignorada pela etno-arqueo-
logia na tentativa da compreensão da simbologia
do lugar, recordemos aqui que ao Castelo de Gaia
anda associada a lenda de Santa Liberata, virgem
mártir do século II que teria sido aqui crucificada
por não ter renunciado à fé cristã. Trata-se de uma
lenda medieval difundida por toda a Europa, e leva-
da para outras paragens pelos povos peninsulares,
cuja fixação em texto em Portugal remonta apenas
ao século XVI. Se não antes, pelo menos no sécu-
lo XVIII, já tinha culto na igreja de Gaia, onde ainda

21
hoje existe uma sua imagem. Tal significa apenas
que no lugar sempre houve uma grande consciên-
cia da sua antiguidade materializada em volta da
sua igreja e de uma demolida capela de S. Marcos,
que ainda era visível no século XIX, a qual, segundo
outra tradição, fora a primitiva sé portucalense
14
.
Fig. 7 – Brinco de ouro e cristal de rocha, século. VI; fotografia
do autor.
Um edifício destruído em 585
Na área hoje ocupada pela igreja do Bom Je-
sus no lugar do Castelo de Gaia existiu até ao sé-
culo VI um edifício com boas paredes de granito,
um piso interior suportado por colunelos cerâmi-
cos, com colunata da mesma pedra na sua face
voltada ao rio Douro, capitéis decorados e telha-
do de tegulae, com dois lanços de escada para
acesso a cota superior, hoje a rua que passa em
frente da fachada da igreja.
Podemos inferir o seu aspeto geral por analo-
gia com edifícios que apresentam a mesma área e
a distribuição dos mesmos materiais de constru-
ção, segundo o modelo vitruviano, mas não sabe-
mos qual a sua utilidade. Poderia tratar-se de um
templo, e o espólio aqui encontrado ser para o
serviço dos seus curadores ou oferendas dos de-
votos. Esta dedução tem em conta, não só o que
atrás se disse, mas a constatação de que estamos
perante um d’«aqueles sítios aos quais uma longa
e sedimentada memória de gerações, por uma ou
outra razão, conferiu poderes sacralizadores, [e
que] raramente esquecem estas qualidades mes-
mo quando já se perderam as razões originais»
(TORRES, 1992: 169). Em todo o caso, registe-se
que foi aqui que apareceram os dois primeiros
elementos paleocristãos num povoado da mar-
gem esquerda do Baixo Douro, o já referido pra-
to-taça com uma cruz e três cordeiros gravados
e um fundo de terra sigillata foceense, com uma
cruz com o esboço do P do Khi-Rho constantinia-
no, datável de entre 470 e 580 (fig. 8). Posterior-
mente haveriam de aparecer, ainda no Castelo de
Gaia, outras ruínas paleocristãs de muito maior
envergadura e espólio, cuja publicação se aguar-
da, bem assim como nas escavações do Castelo
de Crestuma, situado a montante deste primeiro,
também na margem esquerda do Douro
15
.
Outra interrogação que estas ruínas suge-
rem é a que se refere à sua violenta destruição
no último quartel do século VI, através de enor-
mes batólitos de granito rolados a partir de cota
superior e que entraram pelo edifício dentro,
destruindo-o de tal modo que as suas estru-
turas apenas serviram para assentamento dos
edifícios posteriores, para além da reutilização
de alguns materiais. A explicação poderá ser
encontrada na lição histórica: em 573 Leovigil-
do, que seguia a corrente cristã ariana, torna-se

22
rei dos Visigodos, sendo Miro, Eborico e Aude-
ca, os reis dos Suevos contemporâneos, da cor-
rente católica. As duas povoações denominadas
Portucale, a da margem direita (futura cidade
do Porto), sueva e católica, e a da margem es-
querda (futura vila de Gaia), visigoda e ariana,
ficavam precisamente numa das fronteiras en-
tre os dois povos e crenças, controlando a mais
importante travessia litoral entre a Galécia e a
Lusitânia. Cada uma tinha então o seu bispo, um
católico e outro ariano. Talvez venha daqui a len-
da seiscentista da «primeira sé portucalense» na
margem esquerda
16
.

Pelos dados ceramológicos
tudo leva a crer que o edifício que temos vindo
a apresentar tenha sido destruído na sequência
da revolta de Audeca, a qual trouxe Leovigildo à
Galiza e, como consequência, a conquista defini-
tiva do reino dos Suevos em 585
17
.
Fig. 8 – Cruz paleocristã sobre fundo de cerâmica do Mediterrâ-
neo oriental, século V/VI: in GUIMARÃES, 2002: 556.
Notas
1
Para esta descrição simplificamos o publicado em
GUIMARÃES, 1989: 17-20; idem 1995a: 429-431 e idem
1995b: 123-127.
2
As referências à antiguidade de Gaia, e desta sua igreja,
foram por nós apresentadas e discutidas em GUIMARÃES, 1989:
431-433; idem 1995b: 54 e seg.s; idem 2002: 547-549, idem
2010: 5-20, sobretudo nota 4, e idem 2017: 56 e seg.s.
3
Cf. PMH-DC 12; 420; DMP-DR 255; DMP-DR 277 e 354;
OLIVEIRA, 1964: 57 e seg.s; TORRE RODRÍGUEZ, 2001; MACIEL,
2007: 8; FERNANDES, 2012, 126 e 137.
4
Cf. OLIVEIRA, 1967: 223, 233 e 237; MOREIRA ,1987: 105/106.
5
Cf. CAMPO BELLO, 1984: 337/338; COSTA, 1983: 160.
6
A própria igreja de Gaia parece ter sofrido com os bom-
bardeamentos pois algumas paredes tinham brechas muito lar-
gas que podem não ter sido só originadas pela deslocação dos
terrenos e muros de suporte. Isso explicaria igualmente a não
existência de altares anteriores ao século XIX, embora existam
ali algumas imagens importantes do século XVIII.
7
À data o Regulamento do Centro Histórico de Vila Nova
de Gaia determinava que nas obras de restauro ou beneficiação
em edifícios localizados nesta área classificada, sempre que
aparecessem elementos ou vestígios com interesse histórico
ou arqueológico, o seu estudo e enquadramento passassem a
ser feitos pelo Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova
de Gaia (hoje Gabinete de História, Arqueologia e Património
– ASCR-CQ), do qual o autor era membro e hoje coordenador.
Sobre a evolução administrativa do Centro Histórico de Gaia e
seus regulamentos ver COUTO, 2017: 187-206. A intervenção
arqueológica teve início a 30 de janeiro de 1988 e prolongou-
se até 1 de abril de 1989; cf. GUIMARÃES, 1989: 17. Após uma
interrupção para o avanço dos trabalhos de engenharia e ar-
quitetura, em maio de 1992 retomamos as escavações no sen-
tido de proteger as ruínas já descobertas, aquando do assenta-
mento dos pilares para suporte da placa do chão da igreja e da
consolidação dos «alicerces» com betão injetado.
8
Privilegiando nesta abordagem as cerâmicas, de que
publicamos um primeiro estudo, GUIMARÃES & PINTO, 2000.
Desde 1992 para cá, muito perto da igreja de Gaia ou um pouco
por todo o Castelo de Gaia, têm sido realizadas escavações ar-
queológicas com notáveis resultados, pese a precariedade das
condições em que foram feitas algumas delas e da não aceit-
ação de um plano global para as intervenções no sítio já por
nós apresentado a várias administrações autárquicas desde
1984; a este propósito ver COUTO, 2017 e SILVA, 2017a.

23
9
Ver estes elementos em GUIMARÃES, 1995b: 183-184 e
305, comparáveis com os de Tongóbriga apresentados em
DIAS, 1997: 132.
10
Sobre a possível reconstituição e interpretação funcional
destes elementos arquitetónicos ver GUIMARÃES, 1995a: 437 e
1995b: 137e 294.
11
Parte destes materiais cerâmicos foram publicados em
GUIMARÃES, 1993: 46; idem, 1995a: 435; idem 1995b: 179-183
e 302-304; GUIMARÃES & PINTO, 2000: 500-502; GUIMARÃES,
2002: 551-553 e 556. Mais recentemente os fragmentos de terra
sigillata africana tardia, terra sigillata foceense e terra sigillata
hispânica tardia, foram estudados em pormenor por Joaquim
Filipe Ramos, aluno do mestrado em Arqueologia da Faculdade
de Letras da Universidade do Porto orientado pelo Prof. Doutor
Rui Morais; cf. RAMOS, 2017.
12
Publicamos a peça em GUIMARÃES, 1995b: 209-210
e 316; sobre os vidros tardo romanos na região ver MOREI-
RA, 1997: 13-82; sobre a sua ocorrência na Europa visigótica,
merovíngia e bizantina, ver FOY, 1995.
13
Publicamos a peça em GUIMARÃES, 1995b: 210-212 e
316. Algumas destas peças, nomeadamente o prato-taça de
sigillata; o copo-taça de vidro e o brinco, foram publicadas em
GUIMARÃES, 2017c: 187/188; 255; 386; 412; 506 e 533.
14
Cf. OLIVEIRA, 1964: 111 e seg.s; COSTA, 1983: 160. A lenda
da capela de S. Marcos como primitiva sé portucalense, além
de referida por vários autores desde o século XVII, foi literari-
amente desenvolvida por Almeida Garrett no seu romance O
Arco de Santana (1.ª edição 1845). Recorde-se que o escritor
na sua infância viveu na Quinta do Castelo [de Gaia], perto das
suas ruínas que então ainda seriam visíveis.
15
Cf. GUIMARÃES, 2002: 551-553; SILVA & GUIMARÃES,
2013: 16, e SILVA, 2017a: 113/114; O fundo cerâmico com o
chrismon foi publicado em GUIMARÃES, 2002: 556.
16
«Ao que respondemos com facilidade, q. S. Basileo, naõ
foy Bispo desta cidade [do Porto], no sitio em que ella hoje està,
e a edificaraõ os Suevos, porque isto aconteceo quasi à 380
años depois de sua gloriosa morte: se naõ em quanto esteve
dlem douro, na paragem de Gaya, e com o nome de Cale, ou
Portucale» (CUNHA, 1742-I: 18).
17
Cf. MATTOSO, 1992: 315. Curiosamente, ainda no século
XIV, no Castelo de Gaia havia uma «fonte do Rey miro», que tem
sido associada à lenda do Rei Ramiro de Leão, posta por escrito
no final do século anterior ou mesmo no início deste (MATTOS,
1933: 20, nota 2 e 24-31). Mas essa associação pode ser abu-
siva e apenas pela similitude fonética rei miro> Ramiro, e na
realidade referir-se ainda então à memória do último rei suevo
e não àquele outro mais recente, mas cuja lenda passou a ser
sinónimo literário do Castelo de Gaia.
Nota final: uma primeira versão deste texto foi publicada
em GUIMARÃES, 2018.
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24
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169-178.

25
Sorrisos Lágrimas Poemas
Jaime Milheiro
Psicanalista; ensaísta
Resumo
Este texto
1
é uma reflexão sobre os seres
humanos, que, nascidos prematuros e absolu-
tamente dependentes de quem os alimente e
agasalhe, sempre se obrigam a sorrisos e lágrimas
para sobreviver.
Pelos seus caminhos e descaminhos perpassam
encantos e sofrimentos, estéticas e palavras, afectos
e disfunções, donde podem brotar poemas sempre
atravessados por uma condição essencial da es-
pécie a que o autor chama misteriosidade (contra-
ponto do medo do desconhecido).
A ocultação dos genitais femininos, pela posição
erecta determinada, desempenha um significativo
papel na potencialidade expressiva de todos esses
sentimentos, nos homens e nas mulheres.
Sorrisos, lágrimas e poemas são formas de ex-
pressão características e caracterizadoras da es-
pécie humana. Interligam-se, no fundo, seja numa
função activadora e construtiva, seja como contra-
ponto de dores e sofrimentos.
Nenhuma outra espécie de tal capacitação dispõe.
Sorrisos
Sorriso é um movimento para o desconhecido
que se deseja conhecer (mesmo que já se conheça),
no agrado de o fazer.
Será algo que se oferece e não se diz, que se ten-
ta e fica a meio, num aceno de misteriosidade e de
música entre as pessoas.
_____________________

1
Conferência apresentada em 17-11-2018 na Faculdade
de Letras da Universidade do Porto, no "Colóquio Inter-
nacional e Interdisciplinar Poética das Lágrimas".
Num primeiro tempo, na situação infantil e no
que dela resta dentro de cada um, sorrir será um
movimento natural e activo, que conjuga corpo e
mente em separação impossível. Indicia confiança
e desejo, insinua relação e carinho, promete ligação
e futuro, numa cordial ideação sobre a realidade e
sobre a fantasia da pessoa a quem se dirige ou da
pessoa de quem se espera. Mesmo ainda não com-
pletamente entendido pela criança, conterá sempre
uma natureza apelativa e colorida, eventualmente
uma súplica angustiante.
Sorrir ilumina, abençoa, aproxima. Transporta
os sinais positivos de quem no sorriso dos outros
se revê. Só no temor do desconhecido os seres
humanos desenvolveram tão extraordinária ca-
pacidade, na intenção por certo de compensarem
as hostilidades que dele temem. Sem ameaças su-
postas sorrir não faria sentido, salvo em situações
botânicas ou em múmias de cativeiro.
Será por isso que um verdadeiro sorriso jamais
contém arrogâncias de vencedor ou inferioridades
de perdedor, porque jamais em tais águas desliza.
Superou-as, como condição de existir. Transpor-
tará, pelo contrário, cumplicidades despojadas de
artimanhas e reciprocidades agradecidas em vice-
versa, assentes nos princípios de vida que todos
os seres humanos incluem e que por norma só se
notam quando falham.
Nas disparidades humanas os sorrisos serão
sempre, por isso, muito bem recebidos. À maneira
de afortunadas bonanças e de primordiais atitudes
exercitam convergências, relativizam subsolos,
apaziguam estandartes. Foi através deles que os Sa-
piens se civilizaram e activamente distenderam as
comensalidades que os distinguem e que tornaram
cromossómicas, numa socialização certamente ini-
ciada quando começaram a responder pelo nome e
a reconhecer nome nos outros.
Sem identidade, sem presença, sem interiori-
zação do «outro», sorrisos nunca haveria. Nada os
justificaria. Poderemos mesmo afirmar que jamais
existirão sorrisos imotivados, mesmo em doentes
portadores de esquizofrenia. O alvo apenas estará
bastante longe, em tais situações. Apenas isso.

26
Sorrir será condição matricial duma espécie
sempre estruturalmente insegura e sempre rebus-
cada nas suas próprias afirmações e confirmações.
Num segundo tempo, desde sempre o mais
visível, sorrir será o festejo de proximidades conse-
guidas. Representará simpatias encadeadas, amabi-
lidades distribuídas, galhardias em movimento.
Contrariando pânicos, teimosias e disfunções,
sinaliza o glorioso triunfo da espécie sobre a im-
ponderabilidade e a volatilidade das relações, num
alegre contributo. Pelo menos numa temporária
aparência, todas as divergências se colocam para
além do postigo e para aquém de empedernidos
vernizes. Contagiando alegorias, o sorriso patrocina
quem evoca e renova quem participa, resolvendo
ansiosas reservas dentro e fora de cada um.
Sorrir será imperiosa necessidade duma espécie
sempre interiormente carecida e sempre rebuscada
nas suas próprias referências e consistências.
Num terceiro tempo, o sorriso converte-se num
estereotipo aberto às portas do salão e fechado
logo à saída, particularmente utilizado nas estações
e apeadeiros das lojas de conveniência que os seres
humanos se obrigaram a frequentar.
De geometria variável e de focalização à me-
dida, em moldes afectivos, económicos, sociais ou
outros, transforma-se no esgar humedecido de bor-
nais a preencher, como quem engendra compro-
missos sem se querer comprometer.
Facetas gloriosas ou desdenhosas ganham en-
tão volume, abandonada a fluidez naturalista dos
tempos infantis. Frequentemente evolui para aneu-
rismas dissecantes de mentes empobrecidas, pro-
tagonizando encomendas e exercitando vibrações
tanto mais estampadas quanto maior for o jogo e o
pedaço a presumir.
Sorrir será indispensável encenação duma es-
pécie sempre socialmente entretecida e sempre re-
buscada nas suas próprias realizações e admirações.
Esboços de sorriso aparecem desde os primei-
ros dias, por norma entremeados de agitações e
de choros, como reflexos neuromusculares de um
bebé que se inicia.
Nascidos prematuros, absolutamente depend-
entes de quem os alimente e agasalhe, os primeiros
verdadeiro sorrisos aparecerão pelo mês e meio. Risos
abertos, gargalhadas, caretas, virão a seguir, tornados
importantíssimos meios de comunicação com a mãe
e significativos avanços no crescimento do bebé que
gostosamente se envolve, interpreta e replica.
Todas as mães sabem disso e todas o esperam,
sem livro de instruções, desde o Paleolítico. Todas
reconhecem o que o sorriso representa para elas
e para o filho, quanto lhes propicia em gostos e
desgostos, seguranças e inseguranças, recusas e
aceitações. E quanto através dele dão e recebem,
numa adaptação progressiva aos choros e sofri-
mentos que nunca acabarão de percutir.
Brincar só induz parcerias porque fermenta sor-
risos, incorporando emoções e presenças. Não brin-
car adoece porque não relaciona sorrisos nem os
distribui, incapaz de simbolismos e de integrações.
Mãe e bebé têm prazer no estímulo, na respos-
ta, no sinal, na partilha, na atenção, no diálogo, na
experiência, na vivência, em tudo quanto sorrisos
faça prosseguir.
Há calor e erotismo nessa troca. Num e noutro
o corpo estremece em ritmos de cintura, carícias
de manipulação, balancear de extremidades, re-
laxamentos tensionais, animismos em teatro, cenas
de toque e retoque. Todo o Sapiens rodopia numa
troca que sonoriza.
É a festividade em gorjeio, a bênção que se
assegura.
Sorrir veicula a genuinidade duma relação,
mais ainda duma relação mãe/bebé.
A sua justeza e dimensão marcará tendências
e desenvolvimentos. Num interesse pressentido e
numa funcionalidade engalanada, assinala mere-
cimentos e recompensas, objectos e objectivos,
conteúdos e continentes.
Sem verdadeiros sorrisos tudo se prejudica,
porque os artifícios sorridentes nunca serão sorrisos.
Não passam de caricaturas que atrofiam a esponta-
neidade da relação, amortecem a evolução da miste-
riosidade e comprimem uma afectividade deficiente
à partida. As falsidades ganham corpo e os ressenti-
mentos acentuam-se numa tal condição, pouco ou
nada se resolvendo dos fantasmas de abandono que
no horizonte sempre se levantam, nem das ameaças
de um desconhecido tornado cada vez mais hostil
por cada vez mais desconhecido.
Resultarão depressividades mais ou menos en-
cobertas, inúmeras vezes automaticamente rep-
rimidas e conservadas.
Não partilhar sorrisos em curta idade perturba a
essência da emocionalidade. Multiplica as defesas,

27
justifica alertas e desconfianças da cidadela, perturba
alguns dos alicerces fundamentais do crescimento.
Uma das maiores preocupações da criança, a par-
tir dos 4/5 anos, é a procura de uma mãe que lhe sor-
ria. Tal sorriso significará que ela estará bem consigo
própria, apesar de todas as malandrices pela criança
realizadas. E significará também que provavelmente
ela estará bem com o mundo em geral, sobretudo com
o mundo do pai, numa proclamação e numa dúvida
inúmeras vezes, mesmo no adulto, vivenciada até ao
fim. Tudo na vida lá irá bater, tal a importância do es-
tado emocional da mãe, às vezes numa tal intensidade
que para a protegerem até com ela se identificam.
Sisudez não significa ausência de sorriso: signifi-
ca apenas controlo de qualidade.

Três fundamentais organizadores da vida
psicológica são temporizados no crescimento.
Serão, segundo os livros:
O sorriso... no terceiro mês... donde parte o con-
forto expressivo de uma relação que recompensa.
A angústia do desconhecido... no oitavo mês...
donde parte o medo do outro e a misteriosidade
que o compensa.
A capacidade de dizer não... no décimo oitavo
mês... donde parte o sentimento de autonomia e a
responsabilização que o não dispensa.
Só cabalmente cumpridos, o adulto de si
próprio dirá:
«Sempre me senti altamente desapontado
por não ganhar os 100 metros nos Jogos Olímpi-
cos... mas continuo a sorrir e a responder a mim e
aos outros».
Ou, dito doutro modo:
«A quem contarei a imensidade de histórias e de
memórias que dentro de mim fervilham e que nin-
guém parece interessado em escutar, menos ainda
em dialogar...?»
«... Provavelmente apenas a mim mesmo... na
certeza de continuar a pensar e na satisfação de
continuar a sorrir».
Não cumpridos, provavelmente dirá:
«Morro no deserto, insatisfeito de todos e de mim...
num vazio onde nada me interessa e onde ninguém
me sorri... ninguém sabe quem sou nem onde estou...
não sei o que faço por aqui... resta-me partir».
Ou, dito doutro modo:
«Vivo numa raiva de tudo... já nem de lágrimas
disponho... na minha rotunda ninguém circula... de -
sesperado de mim e dos outros».
Lágrimas
Lágrimas são emoções liquefeitas, a brotar sem
pedido em fastas e nefastas ocasiões.
Ao contrário dos sorrisos, sempre activos e di-
rigidos, lágrimas são processos reactivos. Partem de
alegrias e tristezas donde o sorriso se expatriou, na
sequência de sofrimentos, de perdas ou de falhas.
Algumas pretendem repatriar os sorrisos perdidos,
até os suplicam, outras pretendem expulsá-los mais
ainda, numa expressão que será sempre íntima
e pessoal dos jardins de quem chora, mesmo que
aparentemente aos outros se dirija.
Há lágrimas de emoções visíveis, de emoções
escondidas e de emoções tão secretas que nem o
próprio descortina.
Neste último caso, podem irromper através de
emergências tão compulsivas e tão inquietantes
que fornecem inopinadas revelações sobre íntimos
recônditos. Serão emoções de quem reage, não ap-
enas aos confrontos de momento, mas a todos os
de idêntico teor que dentro de si se acumularam
e que associados retinem, mesmo considerados
esgotados. Partem quase sempre de zonas incon-
fessáveis, de arquivos ou de elementos indecorosos
ou traumatizantes, negativamente auto estimados
por impossibilidade de elaboração.
Ninguém lacrimeja porque quer, embora todos
os humanos transportem um saco de lágrimas e a
experiência facilite.
Todos engoliram dores e sofrimentos desde o
primeiro dia.
Todos por entre gritos, demandas e compen-
sações inscreveram alarmes e pedidos de socorro,
por vezes num formato incontinente.
Todos com lágrimas lubrificaram fisiologica-
mente os olhos e psicologicamente os olhares,
compungindo-se, alegrando-se, amaldiçoando-se,
na companhia doutros gestos e linguagens que es-
meradamente entrecruzaram.
Muitas lágrimas são lágrimas perdidas.
Mesmo aparentemente justificadas são lágri-
mas do chão. Não passam de fermentações epi-
dérmicas, purificadoras de homens e mulheres
numa cultura que as admite.

28
Mas há lágrimas doutro cariz. Soberanas e sem
rede, fundamentos da espécie que as vive e reali-
za, como veremos a seguir, nunca serão externali-
dades culturais.
A cultura apenas reside no último piso de um
edifício atribuladamente construído.
A cultura impressiona mas não cria.
Engendra partituras mas não gera criaturas. Dá
novas expressões e novos formatos, mas só por si
não chora nem ri. Não cria lágrimas nem sorrisos,
menos ainda poemas.
Muito antes de se envolverem nas suas circunstân-
cias epigenéticas e nos respectivos mergulhos cul-
turais, já os seres humanos se haviam comprometido
noutras primícias e noutras elaboradas composições.
Só pelo facto de existirem já todos se haviam
comprometido com as lágrimas da mãe, por exem-
plo, plenas de sossegos e desassossegos, e com a
enorme repercussão que elas tiveram e que pela
vida fora continuaram a ter, mesmo em secreto seg-
redo. Para o bem e para o mal, com ela e com elas
haviam compartilhado choros, às vezes numa tal
magnitude que metaforicamente poderíamos diz-
er: sem as lágrimas da mãe (sem aquele verdadeiro
interesse que elas revelaram, tal como no que diz
respeito aos sorrisos) ninguém sobreviveria.

Todas as mães são iguais em tais sobressaltos,
salvo as «mães científicas» em livros formatadas.
Em todas as épocas, em todas as culturas, nos
índios da Amazónia ou em Silicon Valley, por es-
sência biológica e por condição psicológica, todas
funcionam numa idêntica atitude, porque intrin-
secamente e em toda a parte representam a fun-
cionalidade da espécie. Jamais o poderemos elidir,
mesmo que artificiosas supermotivações e engen-
hosas superinteligências (neles e nelas) nos últi-
mos tempos tenham vindo a propor mães à con-
signação e pais em perfusão. Só mudando quem
somos tal seria possível.
Só elas dão à luz. Só elas darão à luz, que se saiba,
facto que ultrapassa todos os «senhorios» epocais e
todos os «alocamentos» tribais porventura desenha-
dos. Ninguém em vez delas se vincula e ninguém tão
abnegadamente pode sequer tentar perceber o seu
«misterioso» bebé. É impossível ser doutro modo.
Jamais haverá seres humanos de aviário. Morre-
riam em tempo curto, embrutecidos pelo chumbo.
Mas, mesmo antes de nascerem, já em todos os
seres humanos funcionavam dois originários tram-
polins, plenos de lágrimas e de sorrisos.
O primeiro vinha do sexto dia, altura em que
o «Criador», pleno de esperanças mas descuidado
de quantas guerras, maledicências e apedrejamen-
tos com tal gesto iria fomentar, criou Adão e Eva.
Quando criou apenas dois sexos, não quatro ou
cinco, num tremendo erro até há pouco sem remé-
dio. Foi um erro colossal, o maior da História, como
recentemente nos têm vindo a garantir os meios de
comunicação social, mais indesculpável ainda por
ter vindo de quem veio.
Fontenários de lágrimas de tal desatenção re-
sultaram, embora o «Criador» tenhamos de descul-
par, por dois motivos.
Primeiro, reconhecendo-lhe o enorme cansaço
(tão desgastado andava que no sétimo dia se obrig-
ou a descansar), segundo, dando-nos conta dos
seus anteriores compromissos. Nos gatos, nas aves,
nos peixes, nas minhocas, nas couves, nos bichos
das couves, em todos os seres vivos até então con-
hecidos, apenas dois sexos ele havia igualmente cri-
ado. Não pareceria justo abrir excepções, fosse para
quem fosse, nem nada justificaria dar aos primatas
maior protagonismo do que aquele que já tinham.
Por razões difíceis de explicar, esses dois sexos
tenazmente foram mantidos ao longo dos tempos,
apesar das enormes dificuldades de relação que
pertinazmente lhes aconteciam. E só agora, cerca
de cinco mil anos volvidos, os Sapiens mais enten-
didos na matéria acordaram e tão grave anomalia
decidiram corrigir. Ancorados nos novos dados pela
evolução mental concedidos, facetados nos novos
desígnios pelos estados gerais concedidos, tal erro
assertivamente repudiaram e em breve irão prom-
ulgar as necessárias medidas.
Quatro ou cinco sexos estão nesta altura a fab-
ricar-se, na poderosa e constituinte determinação
de quem nos Sapiens orienta as artificialidades que
seremos. De máscaras montadas far-se-ão pessoas,
estando igualmente prevista a rápida exportação
de tão reconfortante mudança para todo o univer-
so, buracos negros incluídos.
Em modos de voo e em nome da justiça, todas
as humanas dificuldades irão por fim dissipar-se,
restando-nos agradecer e piedosamente colaborar
em tão abrangente boa nova, não vá o céu cair-nos
em cima e atolar-nos na jarreta ou na valeta.

29
Acabar-se-ão finalmente as medievais tor-
rentes de lágrimas que pelo planeta circularam,
igualmente fenecendo muitas outras indecentes
questões às questões sexuais associadas, substituí-
das pelos harmoniosos sorrisos de quem sexo não
possui e nem sabe o que isso é.
O segundo trampolim provinha de um outro
enorme sobressalto, na pradaria acontecido.
Resultava daquela esquisitíssima posição de
pé pela evolução desencantada, posição que pro-
fundamente ocultou os genitais femininos e que,
sobretudo a partir da altura em que machos e
fêmeas tentaram civilizar-se e referenciar-se como
homens e mulheres, tantas lágrimas determinou e
nas culturas ainda não abrangidas pela boa nova
continua a determinar.
A evolução proporcionou, de facto, esse
oblíquo «recalcamento orgânico sexual», ex-
celente base para os recalcamentos psicológicos
que vieram a seguir-se. Dificultou o acesso aos
pontos de encontro, motivou desencontros e des-
varios, embora tal ocultação também os tenha
beneficiado com uma sexualidade disponível o
ano inteiro (não apenas na época do cio) e com
uma misteriosidade ampliada e atractivamente fo-
calizada em ardentes regozijos.
Muitos homens e mulheres deixaram de saber
objectivamente onde o filme começava e onde
terminavam os efeitos especiais. E todos foram
obrigados a inventar uns estranhíssimos posicion-
amentos corporais e uns energéticos contorcionis-
mos para as portas franquearem e para uns breves
sorrisos anunciarem, enquanto o resto da bichara-
da que não sabe o que são sorrisos, nem lágrimas,
nem poemas, funciona muito mais à vontade e
nem nisso pensa.
Por insuficiente engenho na distinção entre
real, simbólico e imaginário, grande parte dos ho-
mens e das mulheres não se mostraram, de facto,
capazes de sorrir nem de chorar numa tal condição,
menos ainda de cuidar ou repartir. Não inocularam
o quantitativo necessário de benefício e continu-
aram sofridamente a respirar.
Por entre fascínios e consumições, virtudes e
consumações, malabarismos e solidões, enchar-
caram-se de lágrimas, nenhuma cultura até hoje as
conseguindo interromper:
sejam lágrimas de vida, «pétalas de lágrimas»...
a sinalizar cânticos, amores, orações e poemas
sejam lágrimas de morte, «lágrimas de péta-
las»... (há uma agência funerária em Évora com esse
nome)... sinalizando perdas, contrições, desamores e
sofrimentos
mesmo que os seus conteúdos possam even-
tualmente diferenciar-se entre homens e mulheres
mesmo que o seu grande manancial provenha de
ocultas jazidas e quanto mais oculta for a sexualidade
de mais lágrimas disporá, numa equação universal
mesmo que todas não passem de gotas de água
salgada em sentimentos, teatros e ilusões, por-
ventura já secas e caladas
mesmo que todas sejam despejadas numa su-
perfície e sensibilidade de evaporação equiparável
em ambos os sexos
mesmo que todas sejam convertíveis num in-
igualável processo de relação pela beleza que des-
pertam e pela conjugalidade que outorgam.
Noutro plano, são essas mesmas que lágrimas
dão corpo e mote ao mais elevado que os Sapiens
até hoje obtiveram.
Todas as humanas faculdades de pensar, sentir,
mentir, fazer humor, fazer poesia, assentes em duas
razões pela evolução instituídas:
aquisição de uma subjectividade pessoalizada
aquisição de uma capacidade de mentalmente
transportar figuras parentais, mesmo na sua ausên-
cia, tornando-as desse modo presenças internas e
constantes, protectoras e julgadoras
intimamente conjugam as complexidades es-
truturais da espécie e as singularidades culturais de
cada um
numa construção onde as lágrimas represen-
tam um significativo condimento da criatividade
em geral e da criatividade artística em particular.
Sem misteriosidade lágrimas não haveria.
Nada haveria para descobrir, ajustar ou decifrar.
Apenas haveria machos e fêmeas, numa caserna
de paranóias e de cios, ninguém nada inventando
nem reinventando.
Perdidas as lágrimas perderíamos as artes e as
letras.
Pior ainda, perderíamos a poesia que digna-
mente eterniza incombustíveis sorrisos.
Jamais os seres humanos encerrarão este capítulo.
Jamais o secarão, mesmo que por vezes o
pareça.

30
Poemas
Sorrisos e lágrimas calam palavras. De palavras
caladas podem brotar prejuízos e benefícios.
Podem brotar sonhos e paradoxos, alguns de in-
olvidável dimensão, sem antes nem depois.
Podem brotar efemeridades intermináveis, a
recomeçar no dia seguinte porque não podem
terminar.
Podem brotar caligrafias de amor/desamor e
ortografias doutros confins, mesmo sabendo que
palavras de amor são palavras de dicionário: só na
fonte sabem o que dizem, só na maresia significam
o que serão.
Podem brotar poemas que serão sempre os
seus momentos mais altos: os momentos em que
verdadeiramente metade de nós são os outros e
metade dos outros seremos nós.
Sem misteriosidade poemas nunca haveria, da
mesma maneira que nunca haverá poemas de cariz
racional, académico ou geométrico, mesmo que os
escritores porventura lhes cumpram os devidos rit-
mos, métricas e compassos.
Poemas nunca serão uma ideia a defender,
uma ideologia a demonstrar, uma externalidade
a propor.
Serão um interior a falar com o interior dos out-
ros, mais derivados de sensibilidades propulsivas
que de escolaridades favorecidas.
Poesia será sobretudo o desejo de a fazer, numa
disponibilidade avançada por alusões e sentimentos.
Poeta será quem perto ou longe das complexi-
dades críticas, literárias, logísticas, linguísticas ou
outras, entrelaça, hoje como há mil anos, o passado,
o presente e o futuro numa textura consistente e
numa esteticidade promitente. Sem fixação tempo-
ral nem localização espacial, será alguém que sente
e a seu propósito fala (ou escreve), através de res-
sonâncias e palavras que em toda a gente germi-
nam garantias culturais mas poucos sabem dizer.
Sorrindo lágrimas, encantando sorrisos, desen-
cantando emoções, foi na humana insatisfação que
as ondas da poesia se iniciaram e sem cansaço milé-
nios atravessaram.
Surfando, navegando, criando, foram os po-
emas ditos sem razão que capacitaram ilusões e
conduziram a humanidade aos picos da montanha
anunciada mas nunca atingida.
Numa ocasião de encontro um poeta dizia-me:
«Poeta será sempre uma pessoa em crise... será o
seu interior inquieto que ao interrogar-se produz...
só sofrendo o poeta vai criando... as suas palavras
traduzem um sofrimento que muitas vezes nem ele
sabe donde vem... ”»
Segundo ele, nunca haveria tranquilidade beatí-
fica no processo criativo das artes em geral, particu-
larmente na poesia e jamais haveria pombinhas do
Espírito Santo a insuflar proposições.
Haveria sempre mal-estar, inquietação, desas-
sossego, contra o qual o poeta luta e em cuja elabo-
ração assenta quanto de si dissimula e quanto de si
próprio descreve.
Por entre ideias, factos, latências e reconstitui-
ções, o interior do poeta de facto sonha, imagina e
soletra, ora na reconfiguração de si, ora na íntima
ancoragem duma infância que recapitula nas in-
confidências que recupera.
Nada resolve enquanto faz, mas isso nada lhe
importa. Apenas envia mensagens e nada mais pro-
picia do que as palavras que nos deixa, mas a breve
pacificação que no momento pressente e posterior-
mente o ilumina iluminando quem passa, comple-
tamente lhe justifica as improváveis ousadias e as
inesgotáveis alegorias.
É por isso que só quem «teve» infância pode
fantasiar os símbolos que devassa nos poemas que
repassa. Só alguém que revive pode frequentar ar-
quivos que baralha e emoções que agasalha, num
jogo arriscado e eterno, que só terminará se a espé-
cie implodir. Se desmoronar quanto em nós sobre-
vive, parasitada por tecnicismos e códigos que tudo
tentam demolir.
É por isso também que o produzido pelo poeta,
como pelos artistas em geral, nunca será o mais
significativo, apesar de por norma apenas isso lhes
conhecermos.
Essencial será, para quem emite e para quem re-
cebe, a levitação do processo, a estética do testemu-
nho, o desembaraço da emoção. Algo que lhe com-
praza o seu próprio comprazimento e nos conduza
ao nosso próprio usufruir... seja no coração dilac -
erado das «ligações sentimentais», seja no simbolis-
mo exacerbado das «escavações universais», seja
no psicologismo desconcertado das «felicidades
paradoxais», seja na total ausência de sentido que
muitos mobilizam e que a si próprios autorizam...
através de instrumentos que lágrimas e sorrisos to-

31
cam no interior e trocam no exterior, mesmo que
apenas mencionem desesperos de causa, moradias
sem casa e sofrimentos sem pausa.
Desde que a espécie os reconheceu como ne-
cessidade, sem legislação a impedir, os poetas de-
screvem eternidades impossíveis de discutir, menos
ainda de dirimir.
Transformam as palavras numa auto-suficiente
capacitação de liberdade e viagem. Debulham
as asnarias propagandeadas, desenovelam as ex-
clusões sedimentadas. Analisam a mediocridade
das pomposas avenidas, rebatem a excentricidade
das inumanas teorias, afastam o vazadoiro das in-
fectas mercadorias, mesmo que nada saibam ex-
actamente definir. Nelas vogamos e alunamos, só
lhes podendo agradecer, mesmo que ao acordar
tudo esteja na mesma e nada se verifique difer-
entemente resolvido.
Pelo caminho atropelam as construções fonéti-
cas, descumprem os trânsitos gramaticais, debicam
inqualificáveis fraseologias, desapontam bacama-
rtes e auditorias, aconchegam novidades sem fron-
teiras, desalinham tributações encapotadas e fac-
tualidades pouco lisonjeiras sobre quem somos e
sobre o que andamos por aqui a fazer...
(tudo coisas que mais ninguém diz porque mais
ninguém pode dizer)
numa conjugação impossível de repelir, menos
ainda de fugir:
pela admiração que propicia
pela motivação despida de condenações
murmuradas e de ordenações catequizadas que
se adivinha.
pela envolvência de misteriosos recantos que a
poesia veicula e no seu enriquecimento transporta
pela saudação que faz da vida, jamais da morte,
mesmo que paraísos perdidos e noivados do sepul-
cro entreteça.
Poesia é o contraponto do vazio.
Soluciona os maus sonhos e os maus desfiladei-
ros de quantos por ela sobrenadam, aderentes ou
não ao tema desvendado, pelas mobilizações que
anuncia e pelo pensar que pronuncia.
O seu destino será o nosso destino, visível so-
bretudo de olhos fechados, mesmo que jamais in-
dique partidas ou chegadas...
porque em todos os humanos há uma poesia
originária (todos transportam lágrimas e sorrisos)
nas franjas dum rochedo que os inquieta...
mesmo que a actual cultura tudo isso pretenda
negar ou destruir, como se tal fosse possível, através
de cliques e aparelhos.
Há sempre um planeta enriquecido no interior
de cada um.
Há sempre um jardim primaveril, latente mes-
mo não dito, pela poesia sacralizado. Todos com
ele fomos dotados e todos nele pairamos desde o
primeiro dia, imaginando horizontes que a poesia
redimensiona e repescando alimenta. Há sempre
frutos maduros, comensalidades apetecidas, paisa-
gens desmesuradas que a si próprias se justificam
numa exigência-testemunho que funcionará sem-
pre como um documento de si, mesmo entremea-
do de sonambulismos e tempestades.
Tratar desse jardim será o destino final dos hu-
manos, mesmo daqueles que na realidade nunca
o possuíram, ou daqueles que por circunstâncias
de morte em vida nem dele tiveram conhecimen-
to. Todos necessitam de algo que lhes encareça
memórias e os desembarace de teorias. Cuidando
cuidam-se, cuidando-se sobrevivem, secando er-
vas daninhas e desintoxicando os desertos que ao
longe nunca se esgotam.
Mexendo, remexendo, todos alindam essa
jardim-terra-jardim que os irá recolher e com
gosto à tarefa se entregam, sabendo que se o
merecerem estarão melhor consigo próprios e
retribuídos serão.
À terra todos irremediavelmente voltarão, de
corpo inteiro ou de cinzas ao vento, na levada de
todos e na levada da estima de si.

Fazer poesia será jardinar por entre as pa-
lavras, numa solução inútil e magnífica por
isso mesmo.
À maneira de quem pede sem pedir, ou de
quem encadeia e encandeia sem disso fazer mercê,
alguns começam cedo outros no limite, todos o de-
sejando, poucos o acometendo.
Todos dispõem dessa capacidade, porque no
início todos a possuíram.
Todos os poetas e todos os humanos disso têm
consciência.
Todos de poesia necessitamos, mesma que dela
não cuidemos

32
ANTÓNIO SÉRGIO. TEMAS ESSENCIAiS DE VIDA E OBRA
A. Campos Matos
Ensaísta
Com defuntos terei portanto de gastar a minha cera, enquanto os defuntos forem mais vivos do que os vivos,
e os vivos, mais defuntos do que os defuntos.
António Sérgio, in: «Carta do exílio de Paris», 1932(?).
Em memória dos queridos amigos, sergianos de polpa, que tanta falta me fazem:
Dr. Jacinto Baptista e Prof. Vasco de Magalhães-Vilhena.
Prólogo
Por mera coincidência acabei de rever este
texto sobre António Sérgio, que será objecto da
minha comunicação, no mesmo dia em que rece-
bi da Editora Húmus o ensaio mais original, entre
tudo o que até agora escrevi, acerca do «Altíssimo».
Curiosamente, nesta pequena monografia que aqui
apresento (agora revista e aumentada), e no texto
objecto desta palestra, o tema fulcral, de grande
interesse, é a capacidade de ajuizarmos a realida-
de das coisas, de penetrarmos essa realidade com
maior ou menor isenção, movidos pela sede de
conhecimento e pela leitura em profundidade, só
possível com a sua repetição. A questão resume-se
em praticar ou não praticar, pacientemente, aquele
«esburacar» a realidade, na pitoresca expressão que
Eça usou a propósito de José Matias.
A reedição do Diálogo com António Sérgio, que
se encontra agora no prelo, foi provocada pela co-
memoração do centenário da morte do ensaísta.
Neste livro apresento, na página 194, um tema que
considero dos mais importantes na filosofia de An-
tónio Sérgio, ou seja, o do seu
autoproclamado «racionalismo místico». Como
assim, perguntar-se-á, como pode um a-religioso
confesso fazer tal afirmação? Poucos autores abor-
daram até hoje este tema escaldante. O primeiro a
fazê-lo, presumo que muito a contragosto, dada a
sua formação marxista, foi o grande especialista em
Sérgio, o prof. Vasco de Magalhães-Vilhena, numa
obra de grande interesse, da Academia das Ciên-
cias, publicada em 1976, intitulada Homenagem
a António Sérgio. Ele interrogava aí: «Será tão fácil
conciliar, como parecia a Sérgio, o racionalismo com
misticismo? Será acaso concebível, sem antagónicas
contradições, conciliar um misticismo racionalista ou
um racionalismo místico? Como atribuir, como atri-
buía Sérgio, um papel filosoficamente tão essencial,
numa doutrina que se queria racionalista de ponta a
ponta, à ideia de um Deus de cuja existência não se
duvida apenas, mas que categoricamente se nega?»
Já na 2.ª edição do Dialogo com António Sérgio,
de 1983, apresentei este tema, verificando a nula
influência que teve entre os analistas! Magalhães-

33
-Vilhena, no belo prefácio ao meu livro, não o refere,
pois o devia assaz incomodar, não o considerando
deliberadamente. Nas conversas que tivemos, ao
longo do tempo, jamais me ocorreu abordar este
tema com ele. Fi-lo em 2007, na entrevista que pu-
bliquei na monografia Agostinho da Silva e Vasco de
Magalhães-Vilhena, Entrevistados sobre António Sér-
gio. Aí questiono-o deste modo:
– «Numa conferência que fez na Academia de
Ciências de Lisboa considerou o carácter místico do
racionalismo sergiano como «a mais grave limita-
ção desse racionalismo.» No entanto Sérgio afirma-
va que misticismo e razão eram revelações de uma
só tendência: a da afirmação da Unidade, e que os
grandes místicos eram espíritos de inteligência, de
subtileza, de objectividade e até de previsão...
– Essa é uma pergunta de natureza complexa
que tenciono desenvolver, em capítulo específi-
co, no trabalho que tenho em preparação sobre o
idealismo crítico sergiano. Há que reunir primeiro
tudo aquilo que ele escreveu sobre essa matéria,
confrontar as respectivas datas e verificar o exacto
sentido que ele dava à palavra misticismo. Em todo
o caso deverá recordar-se, desde já, o que a este
respeito ele disse: «Para perceber a preceito como
o racionalismo se acomoda com a mística – é ler Es-
pinosa e é estudar Platão. Atenção também, neste
ponto, à enorme influência de Antero sobre ele. O
Bem é o fim supremo, unificando a mente com as
leis da natureza. Em ambos existe um sentimento
de religiosidade sob forma de espiritualidade pura.»
Nos dois extensos estudos que dedicou a Sér-
gio, Magalhães-Vilhena não referiu este tema incó-
modo. Voltemos todavia à coincidência a que alu-
dimos de início desta minha comunicação e que
associa Eça e Sérgio. Não é difícil atribuir-lhes gran-
des afinidades, embora sejam muito diferenciados
os temas das suas escritas: romancista um, ensaís-
ta o outro. São ambos muito próximos no tempo,
tendo Sérgio nascido apenas 38 anos depois de
Eça. Filosofia e filosofar, como demonstrei na mo-
nografia agora publicada, com o título de Por Entre
Névoa e Realidade, foram uma constante na produ-
ção queiroziana, muito embora o seu autor tenha
afirmado «sou em filosofia um touriste facilmente
cansado, em ciência um diletante de coxia». Ambos
são escritores de alta craveira e artistas civilizado-
res, atingindo uma qualidade de escrita ímpar, de
grande originalidade.
Quanto à análise que dediquei a estes autores, pos-
so sem vaidade dizer que fui precursor, apenas porque
não esqueci a lição que aprendi com Sérgio, na leitura
do seu ensaio acerca de Junqueiro: só uma leitura feita
em profundidade, repetidas vezes, pode levar à desco-
berta do que entre linhas se oculta de mais essencial.
1. De como entrei ao conhecimento
da sua obra
Foi em Ponte de Lima, pelos anos 50, na biblio-
teca do meu futuro sogro o conhecido advogado
Teófilo Carneiro, amigo e consultor jurídico do ge-
neral Norton de Matos, que vi, pela primeira vez, os
Ensaios de António Sérgio. Por essa altura já haviam
sido publicados seis volumes. Com esse título de
Ensaios havia lido uma antologia francesa de Mon-
taigne, associando desde logo Sérgio ao conhecido
autor. De Sérgio ninguém me falara e comecei a ler,
com muita curiosidade, o 1.º volume, para logo me
deslumbrar com o texto «O caprichismo literário do
Sr. Junqueiro». Claro que apreciava Junqueiro e me
divertia a leitura da «Sesta do senhor abade», gran-
de e humorístico poema. De repente, à medida que
percorria Sérgio, Junqueiro caía em pedaços. Quer
dizer, eu lera A Velhice do Padre Eterno inteiramente
a dormir! Assim fora, na verdade, e como eu vim a
verificar mais tarde, grande parte da minha geração
ficara apanhada com a leitura deste brilhante en-
saio. O’Neill, num conhecido poema da obra Feira
Cabisbaixa, escrevera com chiste:
«Dizem que me junqueiro
E tolentino e até que me paulino
«Depois vi o Sérgio desmontar as peças de
uma máquina que nem sequer havia
E perdi o Junqueiro de vista.
Será que me junqueiro? Pode ser.
Já que tenho comido sem saber
De muita alpista...»
A crítica demolidora de Sérgio dirigia-se às insa-
náveis contradições ideológicas de Junqueiro, que
no seu tempo era dado como «filósofo», anuncian-

34
do até a criação de um «sistema filosófico». A crítica
era pertinente e válida, não atingindo o estro poéti-
co de Junqueiro.
Dias depois atirava-me, no volume VI, ao ensaio
acerca de Eça, uma interpretação geral do sentido
claro e profundo da sua obra. Ainda hoje, cerca de
70 anos depois, na vastíssima bibliografia de Eça, na-
cional e estrangeira, nada li de mais aliciante do que
este texto brilhante, que David Mourão-Ferreira, na
Homenagem a António Sérgio, da Academia de Ciên-
cias das Lisboa, 1972, disse «ser dos mais notáveis
exemplos de crítica intrínseca que jamais se escreve -
ram em qualquer literatura.» Fiquei, a partir daí, intei-
ramente fascinado pelo autor da História de Portugal.
Vim para Lisboa poucos anos mais tarde, e não
tardei a descobrir a Livraria Histórica-Ultramarina, ao
Bairro Alto, do sr. Almarejão. Aí pude fazer a minha
«sergiana» paulatinamente, até com textos anóni-
mos publicados no Brasil, incluindo tudo aquilo que
existia sobre este autor de eleição. Ao meu segundo
filho, poria então o nome do ensaísta. Professor, mais
tarde, da Faculdade de Letras da Universidade de Lis-
boa, viria a tornar-se também ensaísta e sergiano.
Um dia fui à Travessa do Moinho de Vento, a
Buenos-Aires, à casa de Sérgio, com o VI volume dos
Ensaios na mão para ele autografar. O escritor esta-
va de cama desde a morte de sua mulher, em 1960,
com uma grande depressão de que não se liberta-
ria mais. A empregada entregou-me depois esse
exemplar, com grandes desculpas de Sérgio pela le-
tra tremida. Entretanto relacionara-me com um dos
amigos íntimos de Sérgio, Castelo-Branco Chaves,
autor de belos estudos acerca de Eça, e mais tarde
com o prof. Vasco de Magalhães-Vilhena, o maior
especialista da ideologia sergiana, ele próprio tam-
bém grande admirador de Eça. Terei ocasião de, por
diante, voltar a falar deste meu amigo.
Tive ocasião mais tarde de publicar um instru-
mento de trabalho indispensável, a sua Bibliografia,
em nova edição de 1983, na Revista da História das
Ideias de Coimbra. Depois, em 1989, a 2.ª edição do
Diálogo Com António Sérgio, prefaciado pelo prof.
Magalhães-Vilhena, que enorme gosto teve em o
fazer. Inúmeros artigos fui também publicando so-
bre temas sergianos, aqui e ali. 2. Peculiaridade e categoria
da sua escrita
Era conhecida a rapidez fulgurante com que
escrevia, como testemunhou o grande especialista
da sua filosofia, Vasco de Magalhães-Vilhena, que o
conta na entrevista que lhe fiz em 2007, publicada
em Livros Horizonte. O convívio estreito e, por ou-
tro lado, os estudos sobre mestres, como Bernar-
des, Vieira, D. Francisco Manuel de Melo, Camões,
Antero, Eça, Camilo e Oliveira Martins deram-lhe o
domínio absoluto da língua e um lugar cimeiro no
seu panteão, como escreveu Jorge de Sena. Vem daí
a riqueza do vocabulário que usa, e até a criação de
vocábulos por ele compostos, muito embora pos-
sam aborrecer a muitos tais virtudes.
3. O seu papel como crítico literário
Neste domínio é deveras espantoso o seu labor
crítico, com trabalhos extremamente originais, de
análise dos autores atrás citados. As suas anotações
aos Sonetos de Antero (muito embora seja discu-
tível a sua organização), em três edições diversas,
apresentam uma intuição e capacidade analítica
raras, que não conheço em nenhum outro crítico.
Essas anotações apresentam uma exposição por-
menorizada de Hegel, autor muito citado por An-
tero. O mesmo se poderá dizer dos seus estudos
acerca de Camões e também sobre Oliveira Martins.
A sua originalidade crítica atinge o brilho supremo,
ao que me parece, com o extenso ensaio sobre Eça
de Queiroz, escrito para as comemorações do Cen-
tenário do romancista e depois recolhidas no vol. VI
dos seus Ensaios. Fialho, Camilo, Raúl Brandão, An-
dré Gide e José Régio proporcionaram-lhe também
páginas de estupenda análise, ao longo dos oito vo-
lumes dos Ensaios.
4. Um retrato do ensaísta feito
com as suas próprias expressões
É sabido que os grandes autores falam muitas
vezes de si próprios, quando analisam os seus au-
tores preferidos. Não é, assim, difícil usar termos de

35
Sérgio para definir o seu retrato e as suas confissões.
Começaremos por dizer que toda a sua obra respira
«uma tónica atmosfera de problemática», conse-
guindo atingir a «alta civilidade» de Eça e de Antero.
Quanto ao seu temperamento, segundo nos disse,
é o de um «extrovertido, risonho, de claro humor
e folgazão». Herdou de sua mãe «a susceptibilida-
de profunda, a sensibilidade feminina de artista». É
seu «um dom de clareza crítica» afirmando-se «um
pedagogista, uma sorte de pregador, um filósofo,
um campeador pela cultura e pelo bem do Povo.»
Salienta-se do seu contacto, eminentemente, a «ho-
nestidade intelectual e a solidez do espírito», a par
da acção constante de «grande campeador melho-
rista». O seu estilo distingue-se pelo «garbo mar-
cial de um pensamento sólido». Chamar-lhe-ia um
«nervoso e musculoso, marcial e esgrimista».
5. Falemos agora do aspecto fulcral
da sua actividade, o cerne mesmo
do seu pensamento no domínio
da filosofia
Não é nada fácil a exposição do seu idealismo
racionalista, como se pode ver através dos dois es-
tudos que lhe dedicou Magalhães-Vilhena em 1964
(António Sérgio, o Idealismo Crítico e a Crise da Ideo-
logia Burguesa) e mais recentemente, em 2013, em
ensaio publicado depois da sua morte, organizado
pelo prof. Hernâni Resende (António Sérgio, O Idea-
lismo Crítico: Génese e Estrutura. Raízes Gnoseológi-
cas e Sociais. Estudo de História Social das Ideais).
A primeira obra, atrás citada, começa com uma
afirmação ousada, que viria a provocar enorme es-
cândalo entre os intelectuais: «António Sérgio ocu-
pa na história das ideais em Portugal uma posição
singular. Nada talvez a defina melhor do que a dis-
tância imensa que o separa do vivaz e culto mas de
certa maneira limitado António Verney, do enciclo-
pedista «estrangeirado» Ribeiro Sanches, da fluidez
filosofante e do confusionismo «teórico» de Oliveira
Martins, do diletantismo metafísico– social do ma-
logrado Antero». Repare-se que Magalhães-Vilhena
não refere um único nome do século XX, para não
causar susceptibilidades. Pois mesmo assim, não foi
poupado a protestos de toda a ordem. Na tertúlia
de Verão, de José Régio, na Póvoa de Varzim, estas
palavras caíram como uma bomba, embora Régio
admirasse e tivesse relações muito cordiais com Sér-
gio. Durante três dias, os membros da tertúlia disse-
caram este ensaio de Magalhães-Vilhena, ao rubro
da indignação. O meu amigo Prof. João Marques,
membro activo da tertúlia, punha-me diariamente,
entusiasmado, ao corrente do que se ia passando.
Vergílio Ferreira, por seu turno, reagiu também in-
dignado mas Vilhena não lhe respondeu.
Retomemos todavia o caso delicado do «racio-
nalismo místico». Vem de longe o apreço de Sérgio
pelos grandes místicos: Santa Teresa de Ávila, San-
to Inácio, Santa Clara, etc,. que ele considera men-
tes modelares, claras, altamente ordenadas, efi-
cazes e racionais. Daí a considerar-se, ele próprio,
um «racionalista místico», dá para encher todo um
caderno... Este é um problema deveras complexo
que exigiria a definição prévia, que aqui não pode-
remos fazer, dos conceitos em causa. Cumpre-nos
expor os textos mais expressivos. Já com 26 anos,
em carta para sua noiva, escreve: «Tenho um gran-
de amor místico pelas coisas puras.» No pequeno
texto denominado «Em louvor de S.ta Clara» escre-
ve: «O racionalismo em mim, é a busca da Unidade
(doutrina pois de unidade mística, ligada à de que
é possível uma apreensão directa, não discursiva
dessa mesma Unidade radical do Ser» Na obra:
Cartas de Exílio a Joaquim de Carvalho (1927-1933),
Sérgio dá-nos conta de uma «revelação» que teve
na juventude, sobre o carácter do seu idealismo,
durante uma viagem de comboio, que não mais
o abandonou. Ora esta revelação aproxima-se,
de certo modo, da sua descoberta do misticismo
como caracterizador do seu racionalismo. E «racio-
nalismo místico» muito implica sentimento, «reve-
lação», emoção. É um dos caminhos para alcançar o
«Uno-unificante». A emoção criadora subordina-se
a uma disciplina intelectual. No prefácio ao ensaio
de Magalhães-Vilhena, o prof. Hernani Resende, é
um dos poucos autores a referir o pendor «místico»
de Sérgio, não mencionado quase nunca, ou esca-
moteado, pelos seus comentadores. E este analista
interroga-se: «Como atribuir, como atribuía Sérgio,
um papel filosoficamente tão essencial, numa dou-
trina que se queria racionalista de ponta a ponta, à
ideia de um Deus de cuja existência não se duvida
apenas, mas que categoricamente se nega? (...) O

36
problema não é fácil e, a nosso ver, não tem sido
até hoje devidamente analisado» (p.74). Ficam es-
tas observações como uma ferida nos textos ser-
gianos, de dificílima aceitação e explicação, ou seja,
aquilo que apetece chamar de «heresia epistemo-
lógica». Este aspecto não me escapou, quando pu-
bliquei, há cerca de 30 anos, o Diálogo Com António
Sérgio, aprofundando-o agora, quando voltei a re-
ler todas as suas obras, para ampliação desse livro.
Com efeito, na pagina 183, interrogo Sérgio deste
modo: «para melhor esclarecimento da questão
anterior parece-me indispensável perguntar-lhe o
que é para si o misticismo». Ora a questão anterior
focava precisamente o «racionalismo místico». Na
importante nota, exarada nessa página, transcrevi
um passo de uma carta a sua noiva, onde Sérgio,
então com 26 anos, confessava: «Tenho um gran-
de amor místico pelas coisas puras, e sou cristão
em certa repugnância instintiva ao que às vezes
se chama a natureza. (...) Esse misticismo é exclu-
sivamente sentimental e não mental.» Sérgio mais
do que uma vez se define como não religioso. Em
1925 diz ser a-religioso. Declara em 1938, em «Con-
siderações sobre problemas da cultura», Seara
Nova: «Tenho sem dúvida alguma, uma sensibilida-
de mística e romântica; sendo porém, um cérebro
implacavelmente racionalista, sequioso de clareza
e demonstração». E é esta sede de clareza, quanto
a mim, que o leva a um extremismo que me legiti-
ma questionar, se tal sede de saber justifica a sua
declaração de ser um «racionalista místico»... Para
isso, junta ao seu pensamento uma noção metafí-
sica que designa como «Uno-unificante», e classifi-
cou de «Origem das origens das nossas hipóteses
científicas da necessidade de um acto absoluto de
pensamento efectivo; de uma actividade originária
de pronunciar juízos» A sua imensa admiração pela
pureza da mensagem evangélica, juntamente com
o apreço das qualidades excepcionais dos grandes
místicos, e a consciência dolorosa de uma zona
obscura, impenetrável da realidade da vida, leva-o
a considerações metafísicas que casam mal, ao que
se me antolha, com o seu vero racionalismo. Como
é evidente, se pudesse conversar ou polemicar com
Sérgio acerca deste tema ele num ápice me con-
traditaria com ponderosas razões e por certo que
não deixaria de invocar em sua defesa cientistas
partidários deste misticismo... Nas «Anotações» às
Notas de Esclarecimento (Ensaios II, p. 262) podemos
ainda ler: « A inteligibilidade do Mundo, a existência
de Formas, o determinismo dos factos, são simples
postulados da actividade científica, não são re-
sultados experimentais da ciência; mas a eles me
atenho; nunca deles desisti. Racionalismo radical
– ou misticismo racionalista, se assim preferirem.
Em mim (pode dizer-se) há um racionalismo radical
que tem o seu quê de místico, de vida unitiva, de
moral fraterna.»
Numa excelente tese apresentada à Faculda-
de de Letras de Lisboa, em 2012, Romana Isabel
Valente Pinho foi um dos raros autores a abordar
frontalmente o «racionalismo místico» de Sérgio,
escrevendo com pertinência: «No que respeita
a esta temática temos a sensação de que o en-
saísta se refugia em questões mascaradas e em
pseudo-ciências, que não ousa sair de um mundo
que ele próprio criou.» Bento de Jesus Caraça, por
seu turno, caracterizava este «Uno-unificante»,
como um mero flatus vocis, na polémica célebre
que travou com Sérgio em 1945. Subestimou o
significado do tema que não soube ou não quis
compreender, tornando-se perfeitamente cla-
ra esta atitude num marxista. Como veremos, o
professor Hernani Resende abordou também co-
rajosamente esta matéria ao apresentar a segun-
da grande tese póstuma de Magalhães-Vilhena, e
vale muito a pena lê-lo.
Muita água ainda isto fará correr por se inte-
grar numa área de grande interesse, a da dificul-
dade do conhecimento e da realidade das coisas,
no mundo obscuro, sempre em mudança, que nos
rodeia. No formoso texto com que Sérgio fez an-
teceder a sua tradução de Os Problemas da Filoso -
fia, de Bertrand Russell (1959), escreveu: «Porque
não consiste a educação filosófica, na adopção de
umas tantas das opiniões de um filósofo, senão
que no treino da atitude crítica, no exercício pes-
soal de um pensar autêntico, no uso metódico de
um cepticismo activo, na prática da elucidação dos
problemas básicos.» Não nos esqueçamos de ser,
pois, activos cepticistas...
Lisboa, 10 de Abril de 2019

37
Cumpre-me iniciar a presente colaboração
com uma advertência em que vou pôr toda a se-
riedade intelectual que devo a mim próprio. A ad-
vertência consistirá em avisar os meus prezados
leitores para o facto de haver um não especialista,
como eu sou, a arrogar-se escrever sobre Eça de
Queirós e logo na tão prestigiada e naturalmente
exigente Revista de Portugal.
Há uma razão, convenhamos que meramente
circunstancial, que ajudará a perceber esta mi-
nha ousadia de colaborar: é que o autor destas
linhas vem sendo protagonista de uma longa (de
70 anos), intensa e apaixonada relação de amor
com a obra de Eça de Queirós. Pela qual, para ser
sincero, sinto muita vaidade e também alguma
vergonha. Vergonha, por exemplo, quando, um
pouco escandalizado, me confronto com o facto
de ter lido dezenas de vezes a maioria das obras
do nosso escritor maior. Numa delas, que tem o
formidável título de «Um génio que era um Santo»
(in Antero de Quental – In Memoriam) atingi o grau
máximo da exageração. Terei atenuantes. Este tex-
to do «In memoriam», para o Arq. Campos Matos,
um dos mais, se não o mais conceituado especia-
lista do autor, será o mais belo texto de toda a cria-
ção queirosiana. Outra vergonha: em 1955, foi isso,
num gesto de total imprudência financeira, adqui-
ri as obras completas de Eça de Queirós, por prati-
camente metade do meu vencimento de professor
primário. E, sei lá, vergonha também por nem sem-
pre ter sabido relativizar esta espécie de compul-
são que, enfim, tão pouco vale quando compara-
da com as voltas que a vida dá e com as teias que
ela nos vai tecendo. Seja como for, aqui me têm
a carpinteirar um texto da temática queirosiana e,
como pude escolher o tema, pensei no seguinte:
em termos culturais, (não estou a brincar, nem se-
quer comigo) há uma jeira que admito saber lavrar
com alguma desenvoltura, que é a jeira do fenó-
meno desportivo; daí, por que não excursionar um
pouco pela obra queirosiana e dela tentar «catar»,
se os houver, alguns resquícios de tal fenómeno,
designadamente os relacionados com o futebol?
Situemo-nos para o efeito no último quartel
do século XIX e reportemos sobretudo à Ingla-
terra e à França. Curiosamente, um período sem
guerras, porventura o único que, por largos anos,
ocorreu no nosso assomadiço continente. Muito
por causa desse clima social, viveu-se então um
dos mais festivos e prazerosos períodos da era
contemporânea, a que se dá o nome de Belle Épo -
que que, como todos sabemos, trouxe ao mun-
do (entenda-se, ao mundo de alguma abastança)
uma nova forma de viver e de pensar o quotidia-
no. Como que um novo paganismo a atravessar
com grande intensidade as várias formas de arte,
do espectáculo e do convívio social. Com a cha-
mada cultura boémia ou de diversão a dar espaço
à criação e difusão da indústria do divertimento.
Tendo Londres e Paris à cabeça, como seria ine-
vitável. Pois vejamos: o que aqui pretendo des-
tacar é um outro fenómeno, que, quase em rota
paralela, então nascia – era o fenómeno do fute-
bol, do futebol «association», como uma espécie
de contraponto à ridente atmosfera social criada
pela Belle Époque. Fenómeno que na Inglaterra se
torna omnipresente a partir das «Regras de Cam-
bridge» de 1848. É então que nasce o futebol que
nós conhecemos, pois antes mais não era do que
um conjunto de exercícios de brutalidade física
entre homens apeados, sendo a bola pouco mais
do que mero instrumento para estimular a agres-
sividade de quem lutava. A prática do futebol na
Inglaterra, que teve o seu início nos meios aristo-
cráticos, logo se estendeu aos operários das fábri-
cas do carvão e do aço, dos têxteis e da indústria
transformadora em geral. O futebol converte-se
numa espécie de religião laica do operariado e,
sem porventura o próprio Karl Marx se ter aper-
cebido, passou a constituir, como já li, um novo
traço de identidade da classe operária. Como fa-
zendo parte do seu ADN.
UM, PARA MIM, ESTRANHO SILÊNCIO DE EÇA DE QUEIRÓS
César Veloso
Ensaísta

38
Apesar da desbrutalização que as «Regras de
Cambridge» trouxeram à prática do futebol, a sua
observância ia-se fazendo muito devagar, criando,
em termos de produção industrial, um problema
de enorme dimensão, qual foi o crescente absen-
tismo dos trabalhadores que jogavam futebol, pro-
vocado por lesões ocorridas nos terrenos de jogo,
situados, em geral, nos logradouros contíguos às
fábricas. O patronato reagirá de uma forma muito
lúcida e muito «british»: em vez de comprar uma
guerra aberta aos sindicatos, proibindo ou difi-
cultando a prática do futebol, o que fez foi apoiar
financeiramente as organizações desportivas que
iam surgindo, foi ajudar a promover a implemen-
tação das «Regras de Cambridge», tudo isso para
reduzir a violência das confrontações físicas em
campo. Vendo bem, o que, nessa ilha dos nevoei-
ros intensos e dos parques verdejantes, estava a
irromper era uma autêntica revolução nos hábitos
colectivos de uma população que, com a práti-
ca do futebol, vai ganhando como que um culto
novo, certamente uma nova e genuína devoção.
Mas não é só a sua prática que nos dá a con-
figuração completa da revolução social que, na
Inglaterra, o fenómeno futebol arrastava consigo.
A consequência mais visível terá sido o estabe-
lecimento oficial da chamada «semana-inglesa».
Por outro lado, de ano para ano, os jogos de fute-
bol, assistidos por entusiasmadas multidões, vão
ganhando a natureza de grande espectáculo, a
suplantar, a nível de sumptuosidade pública e so-
bretudo de receitas de bilheteira, os espectáculos
tradicionais como o teatro, o circo, as «horsing ra-
ces», as corridas de galgos, as paradas militares, a
procissão religiosa, o protesto político, etc, etc. E,
como tudo aquilo que nasce com força, o futebol
vai precisar de ser organizado. Em 1868, é fun-
dada «The English Football Association», que faz
disputar, em 1872, a primeira Taça da Inglaterra e,
em 1876, a primeira «Primier League». Ora bem.
É mesmo altura de dar conta da hipotética cor-
relação entre tais acontecimentos por um lado
e os escritos queirosianos e bem assim a própria
personalidade do romancista, por outro. Eça de
Queirós, como se sabe, trabalhou em Inglaterra
nos anos 70 e 80 do século XIX e produziu escri-
tos notáveis sobre este país, mais tarde conden-
sados em livro póstumo denominado Cartas de
Inglaterra. Pois devo dizer que não existe corre-
lação nenhuma. Não há nas Cartas de Inglaterra,
que eu encontrasse, uma só palavra sobre o fute-
bol. Ainda que este, como acima sublinhei, tives-
se atacado transversalmente as estruturas da so-
ciedade civil inglesa, com destacado reflexo, não
se duvide, nos jornais e revistas de que Eça certa-
mente era leitor assíduo. Cá para mim, que, pela
idade, posso gozar, como disse o próprio Mestre,
as delícias da irresponsabilidade, é este, na ver-
dade, um estranhíssimo silêncio. No mesmo sen-
tido, outra omissão a assinalar terá sido o facto de
o nosso escritor ter ignorado os primeiros Jogos
Olímpicos Modernos, realizados com toda a pom-
pa e circunstância no Estado Olímpico de Atenas,
expressamente construído para o efeito. Como se
calcula, a inauguração destes Jogos em 1886 teve
uma enorme carga simbólica, ou não se preten-
desse fazer deles a versão moderna de jogos que
foram o mais importante festival religioso e atlé-
tico da Grécia Antiga. Sempre tão atento e tão lú-
cido ao fluir dos acontecimentos mais relevantes
da época, e magistralmente a escrever sobre eles,
por certo que Eça conhecia bem os contornos da
formidável iniciativa civilizacional que foi a reali-
zação destes Jogos.
Mas, tal como quanto ao futebol, não deixou
nada escrito.
Sobre o porquê destes silêncios, por mera
recriação já se vê, tem o autor destas linhas, não
raras vezes, procurado uma explicação. Sem ne-
nhum sucesso, há que dizer. Será que o escritor,
devido à sua fraca figura de gente, magricela e de
costas a fazer curva, com as vísceras sempre ava-
riadas, por complexo, por despeito, abominaria fa-
lar e escrever sobre cultura física, designadamen-
te, pela sua bruteza, sobre o futebol? Digo que não
e, penso eu, por indiscutíveis razões. Vejamos, para
começar, como ele retrata o seu amigo Ramalho
Ortigão. Passo a citar: «de entre a figura anémica e
derreada dos seus contemporâneos, tem a saúde,
a firmeza, a linha desempenada, a marcha sólida, o
movimento ágil. E mais: tem 1,80 metros de altura.
E mais ainda: não é bacharel!». Era, aliás, numa sim-
ples expressão, que Eça, a meu ver, costumava ex-
primir a sua admiração pelo porte atlético do ami-

39
go quando lhe chamava a «Ramalhal Figura». Em
Os Maias, por exemplo, lembram-se do Mr. Brown,
perceptor de ginástica de Carlos da Maia na Quin-
ta de Santa Olávia? Dizia ele, no seu português mal
pronunciado: «o que é prreciso é terr forrça, o que
é prreciso é terr músculo»!
Ainda em Os Maias, desta vez com recurso à
sempre luminosa ironia do autor, pela boca do
conde de Gouvarinho, a propósito de intervenção
sua, em debate nas Cortes, sobre a possível intro-
dução da educação física no sistema escolar. Diz
esse ilustre pateta: «...nunca este país retomará o
seu lugar à testa da civilização, se, nos liceus, nos
colégios, nos estabelecimentos de instrução, nós
outros, os legisladores, formos, com mão ímpia,
substituir a cruz pelo trapézio!».
Mas será em Lendas de Santos que Eça de Quei-
rós, para mim, mais terá enfatizado o esplendor
das capacidades atléticas do ser humano. Num
dos contos que integram esta obra, «S. Cristóvão»,
escreve o autor que este, tendo nascido disfor-
me, feíssimo, desmedido e aparentemente sem
discernimento, ao longo da vida, sempre a favor
dos pobres e dos oprimidos, cometeu façanhas de
desempenho físico absolutamente assombrosas.
Nunca tão prodigamente se juntaram numa só
pessoa, mesmo na ficção, tanta força de corpo e
tanta pureza de alma. Para se ter a ideia do extraor-
dinário «élan» atlético do «Imenso Bruto», como o
autor lhe chama, detenhamo-nos numas brevíssi-
mas passagens desse conto: «seus vastos pés (os
de Cristóvão) empurravam rochas como seixos...»;
«é ele, só ele que na aldeia devasta florestas a gol-
pes de machado, carrega às costas grossas pipas,
puxa carros de bois...», que trata dos velhos e dos
mendigos, dos órfãos e das viúvas, cura as suas fe-
ridas, lava as suas roupas, lava e conserta os seus
casebres que enche de pão e de lenha seca para os
defender do frio trazido, com os ventos revoltos,
do alto das montanhas».
Não tenho dúvidas: S. Cristóvão ganharia todo
o ouro das Olimpíadas de Atenas de 1886. Se acaso
o Cristóvão da lenda tivesse existido. E, se existin-
do, não se desse o caso de, por compaixão, tudo
fazer para que fossem os adversários e não ele a
ganhar as provas...
Parece-me, pois, de concluir que Eça de Quei-
rós, se nada publicou sobre desporto, tal se não de-
veu a qualquer aversão sua à cultura física. Ele era,
pelo contrário, um seu assumido entusiasta, como
fiz prova nos vários exemplos de texto que acima
pude transcrever. Na tentativa de indagar por que
motivo Eça de Queirós, nos seus escritos, terá si-
lenciado o desporto, apetece-me formular uma
hipótese que, sob a nudez forte da verdade, tem
a cobri-la, devo avisar, um largo e diáfano manto
de fantasia – isto é um «falar» meu, baralhando e
maltratando a frase inscrita na estátua a ele erigida
no Largo Barão de Quintela em Lisboa.
Houve sempre muito boa gente a embirrar
com o futebol. Ora bem. Quer as Cartas de Ingla-
terra quer os Ecos de Paris são obras póstumas.
Os textos foram seleccionados por pessoas que
podiam não ter os mesmos critérios que tinha o
seu autor. Pode ter havido a preocupação de fazer
publicar certos textos e não publicar outros. Existe
um exemplo concreto deste tipo de discriminação:
houve cartas trocadas entre marido e mulher do
casal Queirós que permaneceram nos arquivos de
família por opção desta e não integraram a obra
póstuma intitulada Eça de Queirós entre os seus:
apresentado por sua filha: cartas íntimas (1948).
Porque não admitir que a viúva do escritor, D. Emí-
lia de Castro, tivesse tido uma participação muito
actuante nas opções a tomar quanto à publicação
ou não dos textos escritos por seu marido?
Como ninguém me sabe dizer se D. Emília gos-
tava ou não gostava de futebol, peço imensa des-
culpa mas vou usar a minha «doida da casa», como
quem diz, a velha mas não cansada fantasia que
sempre viveu em mim.
Querem saber o que ela me disse? Sim, de facto,
o nosso Eça escreveu alguns textos sobre o impacte
que o futebol teve em «Terras de Sua Majestade»; D.
Emília, porém, decidiu, pura e simplesmente, não os
deixar publicar.
Coitada da senhora... Mas pronto, brincando
um pouco, aqui têm à la carte uma «explicação»
possível para o estranho silêncio que venho co-
mentando.
E assim termino.

40
Eça de Queirós e a coleção de Frédéric Sptizer (1815-1890).
Perspetivas críticas
Susana Moncóvio
[email protected]
Introdução
Havia, até há pouco, em Paris um homem
que se chamava Spitzer. Tão mal conhecido
era este nome daqueles que se não ocupam
absorvente e unicamente de curiosidades de
arte e de colecções de arte, que eu não sei
se o escrevo com rigor e todas as suas letras.
Entre aqueles, porém, felizmente numerosos,
que têm a religião do objecto de arte e para
quem o coleccionar é a forma superior de vi-
ver, Sptizer era tão popular e venerado como
Descartes entre os filósofos ou Colombo entre
os navegantes. [ ...]

(QUEIROZ, 1988: 329).
O texto supra foi extraído da crónica queirosia-
na «Uma colecção de Arte» (1893), cujo teor tomá-
mos como fio condutor para este estudo, que tem
como objetivo dar a conhecer o negociante de arte
e colecionador Frédéric Spitzer (1815-1890) e o
«museu Spiter», leiloado em 1893 e agora disperso
por várias instituições (QUEIROZ, 1988: 329-334).
A perspetiva crítica veiculada por Eça de Queirós
(1845-1900) permite aquilatar a elevada considera-
ção que a sociedade parisiense coeva, possidente,
ilustrada e amiga das artes tinha pelo antiquário
Frédéric Spitzer e pela sua coleção, apelidada «a oi-
tava maravilha do mundo». Um vasto espólio que
o proprietário mostrava, embora parcelarmente,
em exposições públicas e, muito raramente, quan-
do franqueava a raros eleitos a sua casa na rue de
Villejuste, Paris, pelo que o leilão constituiu uma
oportunidade para os mais curiosos. Tal como Eça,
muitos interessados ou diletantes puderam admirar
uma das maiores coleções privadas, cerca de quatro
mil objetos cuidadosamente selecionados, estuda-
dos e integrados no espaço organizado, recobrindo
as superfícies parietais desde o solo ao teto, uma
verdadeira lição sobre as artes decorativas desde a
Idade Média até ao seu tempo (Collector, 1890: 61).
Mas as perspetivas críticas que emergiram dos
estudos efetuados foram fundamentais para a des-
construção da narrativa propagada no século XIX,
porquanto revelaram aspetos obscuros dos mean-
dros do negócio de obras de arte oitocentista. À luz
dos novos conhecimentos, observa-se o efeito do-
minó sobre os pilares do sistema: desde logo a alte-
ração na perceção pública e abalo na confiança no
sistema, impõe a reconsideração do valor dos obje-
tos artísticos procedentes da coleção Spitzer, fenó-
menos interdependentes com reflexos na cotação
no mercado da arte e inevitáveis repercussões no
património dos atuais possuidores, tanto particula-
res como institucionais.
O colecionador Frédéric Sptizer
(1815-1890)
Fig. 1 – Frédéric Spitzer (1815-1890), in Catalogue, 1929.
A maioria das publicações com apontamen-
tos biográficos acerca de Frédéric Sptizer indicam
1815 como o ano de nascimento e a naturalidade

41
austríaca, no entanto, a The Jewish Encyclopedia
identifica Friedrich (Samuel) Sptizer, colecionador e
comerciante de arte francês, nascido em 1814, em
Pressburg (atual Bratislava, Eslováquia), e falecido
em Paris, em 1890. Era filho do coveiro oficial da co-
munidade, e cedo foi viver em Viena, tendo viajado
pela Alemanha, Inglaterra, Bélgica e Holanda, expe-
riência que lhe permitiu apurar o sentido de negó-
cio e ampliar a educação artística (G., 1906, XI: 524;
Catalogue, 1929).
Integrou as campanhas militares do exército aus-
tríaco em Itália (1848), e por essa altura começou a
comprar objetos de arte. É consensual que o eleva-
do lucro obtido na venda de uma gravura (em Paris),
que se comprovou ser da autoria de Albrecht Dürer,
lançou as bases da sua fortuna. Ainda na década de
quarenta viajou para Londres com o negociante de
arte König, tendo aproveitado a ocasião para visitar
diversos colecionadores ingleses, apercebendo-se
do apreço que tinham pelas armas antigas, pelo que
começou a investir nessa categoria. Vendeu algumas
peças ao barão Adolf von Rothschild, influente per-
sonalidade que o instou a fixar-se na capital francesa,
o que aconteceu cerca de 1852, residindo na rue de
Villejust (atual rue Paul-Valéry), próximo do Arco do
Triunfo, onde acomodou a sua coleção e criou repu-
tação de negociante de arte (G., 1906, VI: 524; Kuns-
tkammer, 2016: 10).
Entre 1855 e 1869, aproximadamente, estabe-
leceu negócio de antiguidades, criando a empresa
Spitzer, Kunst und Antiquitäten-Handlung em Aix-
-la-Chapelle (Aachen, Alemanha), e terá sido nesse
período que formou parceria com Reinhold Vasters
(1827-1909), ourives e restaurador que interveio no
tesouro da catedral de Aachen, uma relação cujos
contornos e significado veremos adiante.
No período da Guerra Franco-Prussiana (1870-
1871), Spitzer enviou parte da sua coleção para
Londres, onde foi comprada por Sir Richard Walla-
ce (1818-1890), cujo espólio pessoal e familiar deu
origem à The Wallace Collection (1900), Hertford
House. Na mesma época expediu a coleção de ar-
maduras para Viena, onde foi comprada pelo barão
Anselm von Rothschild (1834-1854) por 500.000
francos. Progressivamente, foi ampliando os meios
de fortuna e adquirindo um crescente número de
objetos de arte.
Durante mais de uma década, sobretudo en-
tre 1878 e 1890, conviveu com a alta sociedade
parisiense, quer na qualidade de connaisseur, con-
selheiro e intermediário nas aquisições dos cole-
cionadores amadores, designadamente diversos
elementos da família Rothschild, Sir Richard Wallace
e outros, quer nas receções em sua casa, onde re-
cebia numerosas individualidades da «artistocracie
de naissance, de talent ou de fortune», entre as quais
o pianista Franz Liszt, o pintor John Singer Sargent,
os Rothschild, ou o empresário americano William
Randolph Hearst (Catalogue, 1929; Kunstkammer,
2016: 10). Um círculo de relações privilegiadas que
lhe permitiu cultivar o inato sentido de negócio,
mas também lhe conferiu proteção no turbulento
período de transição do Segundo Império de Napo-
leão III (1852-1870) para a III República de Adolphe
Tiers (1870-1940) (KAPLAN, 2016).
Ao fim de alguns anos, com a posição consoli-
dada, permitiu-se colocar preços exorbitantes nas
peças colocadas à venda, o que afastava muitos
clientes, e ocupar-se cada vez mais da sua própria
coleção de arte medieval e do Renascimento, che-
gando a incorporar outras coleções particulares,
como as de Louis Fidel Debruge-Duménil, do prín-
cipe Soltykoff, do barão Seillière, de Alessandro Cas-
tellani, de Julien Gréau, e outros (Collector, 1890:
116; Frick, 2019). Embora poucos tivessem o ensejo
de contemplar a robusta seleção de objetos, orga-
nizados no espaço das várias galerias, a verdade é
que o «museu Spitzer» possuía uma magnitude que
rivalizava com as melhores galerias públicas da ci-
dade. Segundo o testemunho de um conhecedor,
«La Renaissance, dans la collection Spitzer, est, nous
dit M. M., pour nous donner le vertige» (MÉLY, 1894:
31). Mas o colecionador levou mais longe o seu afã
e investiu na realização de catálogos ilustrados, fac-
to que nos permite avaliar o espólio reunido.
Em 1887, surgiu The illustrated Catalogue of
Spitzer´s collection, publicado em Paris, em três vo -
lumes (1200 francos), logo considerado uma publi-
cação admirável (G., 1906, XI: 525)
.
Em 1890, o co-
lecionador e historiador de arte Edmond Bonnaffé
(1825-1903) publicou em Paris o livro Le Museé Spit-
zer (BONNAFFÉ, 1890). Procurando colmatar a au-
sência de informação sobre os colecionadores pri-
vados, pois os estudos enfatizavam habitualmente

42
as obras, as escolas e os artistas, este autor havia já
lançado a obra Dictionnaire des Amateurs français au
XVII.
e
siècle (BONNAFFÉ, 1884).
Nos últimos anos de vida, Frédéric Spitzer solici-
tou a colaboração do curador e historiador de arte
Émile Molinier (1857-1906) para elaborar um catá-
logo da sua coleção, supervisionou pessoalmente
o primeiro dos seis volumes, tendo os seguintes
sido publicados postumamente, embora de acor-
do com as instruções deixadas. A obra, intitulada
La Collection Spitzer: Antiquité, Moyen Age, Renais-
sance, foi publicada entre 1890 e 1892, pela Maison
Quantin, Librairie Centrale des Beaux-Arts, em Paris,
e M. Davis, em Londres, com a seguinte cadência:
tomo 1.º – 1890, 2.º e 3.º – 1891, 4.º, 5.º e 6-.º – 1892.
Teve uma tiragem de 600 exemplares, possuía 342
cromolitografias e placas heliográficas, numerosas
ilustrações intertexto, com encadernação em couro
(MOLINIER, 1890-1892).
Através do testemunho de Fernand de Mély
(1851-1935), arqueólogo, historiador e crítico de
arte que privou com Spitzer, sabemos que havia a
intenção de publicar um catálogo que fizesse jus à
coleção, e superasse todos os precedentes. O pro-
jeto contava com textos e imagens de Émile Levy,
o livreiro Quantin, e a colaboração de figuras de
prestígio e reconhecidas autoridades no mundo
da arte como Wilhelm Fröhner (1834-1925), ar-
queólogo e curador no Museu do Louvre, Alfred
Darcel (1818-1893), curador dedicado ao período
medieval e do Renascimento, Léon Palustre (1838-
1894), arqueólogo com interesse na arquitetura
do Renascimento e ourivesaria religiosa, Eugène
Müntz (1845-1902), professor na École des Beaux-
-arts e especialista em arte do Renascimento, com
várias obras publicadas, Émile Molinier (1857-
1906), curador e historiador de arte.
No texto escrito em 1890 e publicado em 1894,
Mély salienta as terracotas gregas e os bronzes
etruscos, mas dilata a sua análise no que diz respeito
às demais categorias. Refere-se ao segundo volume,
cuja publicação póstuma teve como objetivo asse-
gurar que o projeto editorial sobreviveria, o qual
contemplava: esmaltes pintados, apresentados pelo
pintor de esmalte Claudius Popelin (1825-1892), a
secção de mobiliário e escultura em madeira com
texto de Edmond Bonnaffé (1825-1903), autor que
também escreve sobre as faianças de Saint-Porchai-
re (renascimento), as faianças de Bernard de Palissy
(século XVI) tratadas por Émile Molinier, o estudo de
serralharia conduzido pelo historiador e especialis-
ta em artes decorativas Henri-René D´Allemagne
(1863-1950), e os objetos em couro por Alfred Dar-
cel, diretor do museu de Cluny, que também aborda
a ourivesaria civil (MÉLY, 1894: 1-31).
Também o periódico americano The Collector
(1890), especialista em notícias de arte, bibliografia
e antiguidades, dedicou diversos apontamentos à
coleção francesa, que conhecedores e amadores
reputavam como «the eighth wonder of the worl»,
sublinhando o carácter de exceção do dealer ter
ascendido à condição de colecionador, e a reserva
com que geria o acesso a uma das maiores coleções
do género. Oferece uma descrição detalhada das
vinte principais divisões (e subdivisões) que com-
põem a coleção reunida ao longo de décadas, em
alguns casos com a incorporação de museus par-
ticulares para completar certas secções, citando a
coleção de armas de Carrand, de Lyons, parte da
coleção do amador inglês Waddington, os marfins
e esmaltes da coleção Meyrick, a joalharia das co-
leções de Debruge e de Soltykoff (Collector, 1890:
61). Também o lançamento do primeiro dos seis
volumes do catálogo da coleção europeia no mer-
cado americano foi notícia, tendo correspondido
às expetativas lançadas pelos promotores (texto e
ilustrações) (Collector, 1890: 93).
Foi igualmente publicado em Paris outro for-
mato do catálogo, pela Macon, Protat Frères, Im-
primeurs, agrupando no primeiro volume (1890) as
seguintes categorias: antiguidades, marfins, ourive-
saria religiosa, tapeçaria, esmaltes pintados, faian-
ças de Bernard Palissy, faianças de Saint. Porchaire,
ditas de Henrique II ou D´Oiron, móveis (madeira
esculpida), couro, ferragens, chaves, faianças persas
e orientais, faianças hispano-mouriscas, faianças
italianas, mármores, terracotas, medalhas italianas,
medalhas alemãs, medalhas francesas, bronzes,
placas, grés e outros. O conteúdo do segundo vo-
lume do catálogo (1891) versava sobre ourivesaria
civil, joias, anéis, vitrais, vidros, escultura, cutelaria,
ferragens, pedras duras, relógios, instrumentos de
precisão, ceras, cofres, jogos, manuscritos, estofos,
armas, miniaturas, quadros, cobres.

43
Por altura da sua morte, em 1890, Frédéric Spit-
zer era visto como o mais proeminente negocian-
te e colecionador de arte europeu. Ainda em vida,
surgiram ofertas de compra para a coleção, desig-
nadamente de Gambetta, que ofereceu 6.000.000
francos, e de uma corporação encabeçada pelo
banqueiro Hainauer, de Berlim, que ofereceu
25.000.0000 francos por toda a galeria. Foi também
ponderada a sua incorporação num museu públi-
co, sendo Sptizer designado diretor perpétuo, con-
tudo, o proprietário determinou em testamento a
realização de um leilão três anos após a sua morte
(G., 1906, XI: 524).
Frédéric Spitzer faleceu no dia 23 de abril de
1890, encontrando-se sepultado em jazigo no ce-
mitério de Passy, Paris. Como estipulado, os herdei-
ros procederam à venda de grande parte da cole-
ção em 1893, naquele que foi designado o «leilão
do século», um acontecimento com repercussão na
imprensa local e internacional. Pelo seu carácter ex-
cecional, este evento constituiu uma referência que
perdurou por longo tempo entre os negociantes
de arte, e o catálogo tornou-se um verdadeiro guia
para colecionadores e profissionais dos museus
(Catalogue, 1929). Compreensivelmente, os interes-
sados consideravam a participação um bom inves-
timento, uma perceção baseada na qualidade dos
próprios objetos e na reputação do proprietário,
valores que transitariam para as coleções dos novos
possuidores (Catalogue, 1929).
O evento decorreu na rue de Villejuste, entre 17
de abril e 16 de junho de 1893, a exposição apre-
sentou mais de três mil objetos, o que acarretou
alguns problemas de identificação, e foi acompa-
nhado da publicação do Catalogue des objets d’art
et de haute curiosité antiques, du moyen âge et de
la Renaissance, composant l’importante et précieuse
collection Spitzer, com prefácio de Émile Molinier e
participação de Edmond Bonnaffé, e do atlas ilus-
trado (Catalogue, 1893). Foram ainda publicados
catálogos parcelares (Numismática, sessão realiza-
da em maio; Manuscritos do século XV e XVI, sessão
realizada em junho).
O magno leilão promoveu a pulverização da
coleção e, apesar dos apelos às grandes institui-
ções, incentivando as aquisições, nesse período de
três meses dispersaram-se milhares de peças. Entre
os numerosos compradores encontrava-se Geor-
ge Salting (1835-1909), colecionador sediado em
Londres, que mais tarde legou obras aos museus
londrinos British Museum, The National Gallery e
Victoria and Albert Museum
.
Algumas peças foram
adquiridas ou doadas a museus americanos, como
The Metropolitan Museum, em Nova Iorque e The
Frick Collection, também em Nova Iorque, e muitos
mais contribuíram para a mobilidade dos cobiçados
artefactos (KAPLAN, 2016).
Eça de Queirós e o Museu Sptizer
Enquanto representante da diplomacia por-
tuguesa, Eça de Queirós exerceu atividade em
Havana, então Antilhas Espanholas (1872), onde
teve intervenção ativa no que concerne aos direi-
tos dos imigrantes chineses procedentes do por-
to de Macau (coolies), posteriormente foi coloca-
do em Inglaterra, em Newcastle (1874) e Bristol
(1878), e em 1888 tomou posse no consulado de
Paris. Permaneceu nesta cidade doze anos, tendo,
entre 1889 e 1891, habitado na rue Creveaux, 5,
no quartier de Passy e próximo da avenue du Bois
de Bologne (atual avenue Foch, desde 1929), mu-
dando posteriormente para a rue Charles Laffitte,
32, em Neuilly-sur-Seine, onde residiu entre 1891
e 1893 (MATOS, 1996: 17).
Fig. 2 – Avenue du Bois de Bologne, c. 1900. In Rues de Paris.
Foi neste período, mais precisamente na pri-
mavera de 1893, que decorreu o leilão da coleção
de Frédéric Sptizer, um acontecimento que domi-

44
nou a atualidade parisiense e atraiu colecionado-
res, interessados ou curiosos, que afluíram ao pa-
lacete da rue de Villejust, nas cercanias da avenue
du Bois de Bologne.
Eça de Queirós teve o ensejo de percorrer as dez
ou doze galerias do palacete, observar o ambiente
sumptuoso e organizado, onde uma profusão de
objetos artísticos e elementos decorativos reunidos
ao longo de uma vida se apresentavam dispostos
em vitrines, estantes e peanhas, uma extensa co-
leção subordinada a um denominador comum: o
gosto do proprietário pela arte medieval e do Re-
nascimento. A experiência estética é contada pelo
escritor numa das crónicas inspiradas pela vida
quotidiana na capital francesa, “Uma colecção de
Arte” (1893), texto publicado na Gazeta de Notícias
e integrado na edição de Notas Contemporâneas
(QUEIROZ, 1988: 329-334).
Fig. 3 – Museu Spitzer, 1893. In Kunstkammer, 2016: 11.
Mas a narrativa contém outros elementos de
interesse. Sobre o colecionador, Eça de Queirós sa-
lienta a riqueza, a erudição, o gosto seguro e a te-
nacidade, predicados que guiaram os cerca de cin-
quenta anos de vida dedicados à formação da vasta
e valiosa coleção de objetos de arte da Renascença.
Sobre o espólio, não obstante a ausência de obras
em ouro ou pedras preciosas, confere-lhe dignida-
de para integrar um qualquer museu nacional, pois
o «génio de uma civilização» encontra-se represen-
tado em materiais menos nobres: o barro, o vidro, a
cera, a madeira, o cobre ou o ferro. Descreve a cole-
ção de «móveis, estofos, louças, esmaltes, ferragens,
armas, relicários, iluminuras, cofres, dalmáticas,
lâmpadas, alfaias, imagens», elementos que tornam
tangível o «luxo faustoso com que a Renascença re-
vestiu toda a sua vida civil, militar e religiosa» (QUEI-
ROZ, 1988: 329-330).
Com admiração, destaca as armas, designada-
mente as diversas espadas, adagas, punhais e cou-
raças, pois, embora fossem objetos de uso pessoal
e do quotidiano dos homens da Renascença, osten-
tavam uma decoração requintada, saída das mãos
dos melhores cinzeladores e joalheiros. Coloca no
mesmo patamar de «luxo complicado e bárbaro»
as chaves, as campainhas, as cobertas de cama,
os cabos de facas e de garfos finamente esculpi-
dos em marfim, onde abundam as representações
mitológicas do mundo pagão. Mas além das artes
decorativas da Renascença, salienta a presença de
pequenas estátuas de marfim, madeira, faiança,
bronze, peças de proveniências diversas e com es-
tilos de épocas entre os séculos XIII e XVI. O escri-
tor estende-se na descrição de imagens de santos,
«provenientes de capelas ou de oratórios fidalgos»,
referindo as Virgens esculpidas em dentes de mar-
fim, São Cristóvão talhado em madeira de carvalho,
o Menino Jesus vestido e caracterizado ao gosto
barroco. Contudo, a sua atenção é despertada pela
presença de «uma breve e modesta coleção de ter-
racotas gregas», constituída por «quinze ou vinte
dessas figurinhas, cor de greda, de roupagens ligei-
ras, designadas pelo vago nome de tânagras [...].
São obras pertencentes à indústria mais que à arte»
(QUEIROZ, 1988: 330-332).
Na deambulação pelas salas, capta a presen-
ça de esmaltes de Limoges, a faustosa ourivesaria
eclesiástica, os marfins esculpidos, as faianças de
Bernard Palissy, ceramista quinhentista que influen-
ciou a louça desenhada por Rafael Bordalo Pinheiro
e produzida na Fábrica de Faianças das Caldas da
Rainha, mas acaba por reconhecer que o percurso
efetuado pelas sucessivas galerias e a observação
de tantas e tantas peças que representam «o génio
ornamental de uma grande civilização», não se fi-
xou na mesma extensão na sua memória, a qual, a
custo, formou algumas imagens, mas sem atender
aos seus pormenores, frustrando o desejado en-
riquecimento do «pecúlio da educação artística»
(QUEIROZ, 1988: 333-334).
Mas a reflexão sobre a impressão causada pela
imensa e multivariada coleção Sptizer aprofunda-

45
-se e, se da amálgama de sensações vividas emer-
ge apenas a noção da «vaga refulgência de um te-
souro», Eça de Queirós acaba por reconhecer que
apenas as «quinze ou vinte terracotas gregas», que
«há três mil anos os santeiros de Atenas vendiam
por meio dracma», conseguiram provocar-lhe uma
emoção distinta, fazendo perdurar «pela recorda-
ção o mesmo encanto que deram pela contem-
plação». Por fim, conclui: «Em arte, a copiosa, exu-
berante, luxuosa e florida fantasia cansa, esquece
e passa – e só há eternidade para a beleza pura e
simples» (QUEIROZ, 1988: 334).
Fig. 4 – Coleção Sptizer: Terracotas gregas. In MOLINIER, 1890, I
O catálogo, publicado em 1890, possui uma sec-
ção dedicada à Antiguidade, na qual se incluem as
terracotas gregas, as figuras de Tânagra que estimu-
laram o sentido estético do escritor e lhe causaram a
impressão mais duradora, aqui tipificadas pelas escul-
turas como o n.º 2: Amour et jeune fille / Amor e jovem
mulher, alt. 21 cm, policromada, considerada uma das
mais belas da categoria «par la forme, le motif et le
sentiment», e n.º 3: Femme en deuil / Mulher de luto,
alt. 24 cm, policromada (Collection, 1890, I: 1-2).
O testemunho direto, mediado pela sageza e
acutilância que reconhecemos nas observações de
Eça de Queirós, aliadas à sensibilidade estética e
capacidade descritiva do escritor, fornece-nos uma
primeira perspetiva crítica sobre a «oitava maravi-
lha» e sobre o abalizado colecionador oitocentista.
Concluímos que o juízo do português não foi sedu-
zido pelos materiais refulgentes, nem sucumbiu à
«vertigem» que atingiu muitos dos estudiosos que
rodearam Spitzer. Intuitivamente, senão premoni-
toriamente, antecipou o escrutínio que tem vindo
a desconstruir os substratos de uma das coleções
mais elogiadas do seculo XIX.
Abordagem crítica à coleção Spitzer
Depois do grande leilão de 1893, a dispersão
das peças da coleção Spitzer prosseguiu. Em junho
de 1895 decorreu o leilão de armas, realizado na
Galerie Georges Petit, em Paris (Collection, 1895).
Em janeiro de 1929 teve lugar o leilão de peças de
arte medieval, do Renascimento, pinturas, escultu-
ra, armaduras, e algum mobiliário do século XVIII,
promovido pelas suas herdeiras, Mme baronesa Co-
che de la Ferte e Mme Augustin Rey de Villette, na
Andersen Galleries, em Nova Iorque, muitas delas
expostas ao público pela primeira vez (Catalogue,
1929). Em Portugal, a Casa Museu Medeiros e Al-
meida, em Lisboa, possui uma complexa ampulhe-
ta (século. XVII), de Michael Schedeloch, comprada
neste leilão (Casa, 2012).
Embora se tenham levantado algumas dúvi-
das aquando da realização do leilão de 1893, as
suspeitas sobre as peças provenientes da coleção
Spitzer surgiram no início do século XX, sobretu-
do quando os estudos colocaram em evidência
haver, afinal, cópias ou alterações em peças ge-
nuínas, fatores que comprometiam a autenticida-
de dos exemplares.
Mas podemos falar em falsos? A resposta a
essa questão requer o devido enquadramento. À
época, as exposições apresentavam lado a lado
obras originais, restauros e imitações, pois a cor-
rente historicista que atravessou o século XIX foi
pródiga em revivalismos, tanto no âmbito da ar-
quitetura como nas artes decorativas (neorromân-
tico, neogótico, etc.). Assim, tomar como modelo
peças do Renascimento e produzir «recriações»
insere-se no mesmo gosto e prática (JONES, 1990;
HACKENBROCH, 1986: 163).
Sendo um fornecedor muito requisitado, Spit-
zer disponibilizava aos colecionadores com eleva-
do poder de compra peças executadas pelos me-
lhores artesãos do ofício, superando por vezes os
exemplares do século XVI. Essa realidade do merca-
do da arte oitocentista e as relações entre os diver-
sos agentes tem vindo a ser desconstruída pelos
sucessivos estudos.

46
Logo em 1909, Stephen Beissel (1841-1915),
jesuíta e historiador de arte nascido em Aachen,
com trabalhos publicados sobre relíquias, revelava
que durante décadas Sptizer encomendou peças
«antigas» aos melhores artistas de Paris, Colónia,
Aachen e outros centros (Kunstkammer, 2016: 10).
Nos anos setenta, o conservador Charles Truman
(1949-2017), estudioso da joalharia da Renascença,
descobriu no Victoria and Albert Museum vários
desenhos de Reinhold Vasters que esclareceram o
processo. Além de apresentaram instruções manus-
critas para a execução de objetos de arte medieval
e do Renascimento, possibilitaram reconhecer cor-
respondências entre os projetos e as peças reali-
zadas. Assim ocorreu com a taça em ágata verde,
coberta, com base, friso com figuras, pegas e orna-
mentos em esmalte dourado, outrora pertencente à
coleção Spitzer, datada de cerca 1870-90, colocada
em confronto com o projeto que lhe deu origem, o
desenho de Vasters existente no Victoria and Albert
Museum, Londres (HACKENBROCH, 1986: 241).
Fig. 5 – a) Taça em ágata verde / b) Desenho. (c. 1870-90),
in HACKENBROCH, 1986: 241.
Fig. 6 – Livro de Paola Cordera, 2015.
Acresce que os elementos descobertos
contribuíram para a definitiva identificação
de Vasters como o mestre ativo em Aachen, e
confirmaram a associação a Spitzer, tanto mais
que a sua atividade cessou por altura da mor-
te do austríaco. Recentemente, Marion Camp-
bell, curadora do Victoria and Albert Museum,
colocou a hipótese de Gabriel Hermeling ser o
artista contratado em Colónia, sendo conhe-
cidos trabalhos em esmaltes, de 1860 a 1904
(Kunskammer, 2016: 10). Em Paris, a parce-
ria para a área da ourivesaria terá sido firma-
da com Alfred André (1839-1919), ativo desde
1859, cotado restaurador de arte medieval e re-
nascentista que foi requisitado para trabalhar
no Escorial (Kunstkammer, 2016: 10).
Após estas descobertas, certas instituições re-
tiraram peças da exposição ao público, a exemplo
do Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque,
verificando-se que alguns dos objetos legados por
George Salting ao Victoria Albert Museum eram, na
verdade, forjados, e o mesmo escrutínio foi aplica-
do às obras legadas por Sir Richard Wallace aos mu-
seus do Louvre e National Gallery (Collector, 1890:
166; Collector, 1890: 148).

47
Os mais recentes estudos efetuados sobre
esta temática devem-se a Paola Cordera, primeiro
na tese de doutoramento Dal museo delle cose al
Musée Imaginaire. Materiali per la (ri)costituzione
del museo di arti decorative e industriali di Frédéric
Spitzer (1815-1890), na qual procura reconstruir a
unidade da coleção oitocentista, considerada um
modelo em 1893, analisar o seu papel no quadro
europeu do século XIX e significado na cultura
atual (CORDERA, 2014). Este trabalho deu origem
ao livro La fabbrica del Rinascimento. Frédéric Spit-
zer mercante d’arte e collezionista nell’Europa e delle
nuove nazioni, que exibe na capa a fotografia de
Sptizer, por Félix Nadar (1820-1910), envergando
uma indumentária à maneira renascentista (COR-
DERA, 2015). São contributos que sistematizaram
o conhecimento disperso e servem de estímulo a
novas investigações
Bibliografia
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çais au XVII.e siècle. Paris: A. Quantin, Imprimeur-Éditeur.
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medeirosealmeida.pt/ pecas/ampulheta-destaque-marco-
-de-2011> (acesso em julho de 2017).
Catalogue des objets d’art et de haute curiosité antiques, du
Moyen-Âge et de la Renaissance, composant l’importante et
précieuse collection Spitzer, dont la vente publique aura lieu à
Paris, 33, rue de Villejust... du lundi 17 avril au vendredi 16 juin
1893.  Introd. de Émile Molinier. Paris: Imprimerie de l´Art,
1893, 2 volumes.
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Art. Paintings, Sculpture, Armour and few pieces of 18th cen-
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Collection Spitzer (La). Antiquité, Moyen-Âge, Renaissance. Paris:
Macon, Protat Frères, Imp., 1890, Tome 1.
Collection Spitzer (La). Antiquité, Moyen-Âge, Renaissance. Paris:
Macon, Protat Frères, Imp., 1891, Tome 2.
Collection Spitzer (La). Armes et Armures (10-14/06/1895). Paris:
Galerie Georges Petit, 1895, vol. 1.
Collector (The). New York, 01.04.1890: 93.
Collector (The). New York, 01.09.1890: 148.
Collector (The). New York, 01.10.1890: 166.
Collector (The). New York, 15.02.1890: 61.
Collector (The). New York, 15.05.1890: 116.
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naire. Materiali per la (ri)costituzione del museo di arti de-
corative e industriali di Frédéric Spitzer (1815-1890). Milão:
Politécnico de Milão, Departamento de Design. Tese de
doutoramento.  
CORDERA, Paola, 2015 — La fabbrica del Rinascimento. Frédéric
Spitzer mercante d’arte e collezionista nell’ Europa e delle
nuove nazioni. Bolonha: Bononia Universiy Press.
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Disponível em <http://www.parisrues.com/rues16/paris-
avant-16-avenue-du-bois-de-boulogne.html>. (acesso em
junho de 2019).

48
Nos primeiros meses de 1979, a Fundação Ca-
louste Gulbenkian levou a efeito, nas suas instala-
ções em Lisboa, uma notável reconstituição, em
tamanho natural, do túmulo da rainha Nefertari, a
esposa preferida de Ramsés II, célebre faraó do Egi-
to, que reinou entre 1279 e 1213 a. C. (XIX dinastia
do Império Novo). Essa reconstituição foi depois fei-
ta no Porto, no Museu Nacional de Soares dos Reis,
atestando uma salutar política cultural de descen-
tralização que já nessa altura a mecenática Funda-
ção procurava seguir
1
.
Três anos antes, e graças ao empenho da Ko-
dak-France, a reconstituição fotográfica do belo
túmulo da rainha Nefertari tinha estado à dispo-
sição dos milhares de visitantes que então a ela
acorreram, coincidindo com a exposição feita em
Paris subordinada ao aliciante título «Ramsés, o
Grande», a qual repetiu o imenso sucesso da ex-
posição parisiense sobre Tutankhamon e o valio-
so espólio encontrado no túmulo do jovem faraó,
uma espetacular mostra que esteve em diversas
cidades europeias e americanas.
Para além da experiência própria, granjeada
pela visita feita à Galeria de Exposições Temporá-
rias da Fundação Calouste Gulbenkian
2
, na altura
em que Maria Teresa Gomes Ferreira era diretora
do Museu Calouste Gulbenkian, o essencial da im-
pecável reconstituição fotográfica do túmulo pôde
ser apreendido graças a um pequeno livrinho en-
tão editado pela Fundação, onde eram apresenta-
das as principais divindades que desfilavam pelas
paredes e pilares da casa de eternidade de Neferta-
ri, e sobretudo pelo esclarecedor livro de Christiane
Desroches-Noblecourt e Diane Harlé, O Túmulo da
Rainha Nofretari (Lisboa: Fundação Calouste Gul-
benkian, 1979)
3
.
Há 40 anos na Fundação Calouste Gulbenkian:
Reconstituição do túmulo da rainha Nefertari
Luís Manuel de Araújo
Faculdade de Letras da Universidade de Lisbo
Fig. 1 – Lintel da entrada da câmara do sarcófago mostrando a deusa Maet alada encimada pela inscrição: «Palavras ditas
por Maet, filha de Ré, que protege (a sua) filha, a grande esposa real Nefertari-meritenmut, justificada».

49
A realização, coordenação e montagem da ex-
posição esteve a cargo do Serviço do Museu, com
as conservadoras Maria Helena Soares Costa e Ma-
ria Manuela Marques Mota, assessoradas por Maria
Helena Assam (recentemente falecida, autora de
um pequeno catálogo da coleção egípcia editado
em 1991) e Maria Rosa Figueiredo (recentemente
aposentada depois de muitos anos de dedicação ao
Museu). O Serviço de Exposições e Museografia co-
laborou na montagem com o arquiteto José Aleixo
França Ribeiro e o desenhador-projetista Américo
Ferreira da Silva.
A rainha Nefertari
A mais importante das várias esposas que Ra-
msés II teve ao longo do seu reinado de mais de
meio século foi a rainha Nefertari, para quem foi
feito o magnífico túmulo que aqui se evoca, o qual
pode ser interpretado como uma prova de amor do
faraó, a ele se juntando outra sublime manifesta-
ção de apreço: o templo rupestre de Abu Simbel,
feito para Nefertari e para a deusa Hathor. Este im-
pressionante monumento rupestre, esculpido na
montanha um pouco a sul do grande templo ali
preparado para o rei, seu esposo e senhor das Duas
Terras, recebe todos os anos milhares de visitantes,
ao contrário do túmulo feito para Nefertari no Vale
das Rainhas, a ocidente de Lucsor (a antiga Tebas-
-Uaset, a capital do Egito durante o Império Novo),
onde os visitantes são em menor número devido,
em grande parte, ao preço cobrado para lá se po-
der entrar, medida tomada após os dispendiosos
trabalhos de restauro e de conservação
4
.
No templo rupestre de Abu Simbel, dedicado a
Nefertari e a Hathor, a fachada mostra seis colossos
com cerca de dez metros de altura, sendo quatro do
faraó Ramsés II e dois de Hathor-Nefertari, sendo a
deusa Hathor identificada como Hathor de Abchek
(o antigo nome egípcio de Abu Simbel). Entre a de-
coração parietal do túmulo, onde a rainha venera
diversas divindades, não falta a imagem portento-
sa de Ramsés II castigando os inimigos do Egito ou
fazendo ofertas aos deuses, enquanto no túmulo
escavado para a sua esposa preferida, no Vale das
Rainhas, o famoso monarca não aparece, nas pare-
des pontificam apenas diversas divindades e Ne-
fertari, sedutora e donairosa
5
.
Fig. 2 – Uma das mais sugestivas imagens do túmulo: as deusas
Ísis e Néftis ladeando a imagem da divindade sincrética Osíris-
-Ré, com uma inscrição dupla: «É Ré que repousa em Osíris e
Osíris repousa em Ré».
Consta que o príncipe Ramsés teria pouco mais
de 10 anos de idade quando seu pai, Seti I (1290-
1279 a. C.), o presenteou com um pequeno harém,
onde se destacavam duas meninas chamadas Ne-
fertari e Isitnefert, suas esposas principais, pelo que
no momento em que ele se tornou faraó era já pai
de cinco rapazes e duas raparigas, filhas dessas es-
posas e de outras mulheres do harém que diligen-
temente o seu pai lhe preparara. Quase nada se
sabe acerca de Nefertari, exceto que ela foi a rainha
principal e figura destacada da corte até à sua mor-
te, cerca do ano 25 do longo reinado de Ramsés II,
tendo dado ao fogoso monarca vários filhos, o pri-
meiro dos quais foi o príncipe Amen-herkhopechef,
que faleceu prematuramente, e pelo menos outros
três filhos e duas filhas, as princesas Meritamon e
Nebettaui, com as quais o rei casou. De resto, ele
também viria a casar com a princesa Bentanat, filha
de outra rainha (Isitnefert), seguindo os exemplos
anteriores de monarcas da XVIII dinastia (Amen-ho-

50
tep III e Amen-hotep IV-Akhenaton), que desposa-
ram algumas irmãs (ou meias-irmãs) e filhas ainda
de tenra idade. Quanto ao herdeiro do longevo Ra-
msés II, acabou por ser o seu décimo terceiro filho,
Merenptah, filho da rainha Isitnefert, que se tornou
senhor das Duas Terras já em idade avançada, rei-
nando entre 1213-1203 a. C., tendo sido também
sepultado no Vale dos Reis
6
.
Embora existissem várias rainhas na corte (para
além de muitas esposas menores e concubinas),
Nefertari foi a principal rainha, com o elevado títu-
lo de «grande esposa real» (hemet nesu ueret) até à
sua morte. Existe um santuário dedicado a Ramsés
II, em Gebel el-Silsileh, que conserva uma estela da-
tada do seu primeiro ano de reinado, onde se po-
dem ver Ramsés e Nefertari desempenhando rituais
perante várias divindades. De facto, ao contrário de
outras apagadas rainhas, Nefertari parece ter parti-
cipado na vida política e nos assuntos «de Estado»,
aparecendo ao lado do seu marido nas cerimónias
festivas, sabendo-se que ela trocou correspondên-
cia com a rainha dos Hititas, rivais do Egito durante
os séculos XIV e XIII a. C., antes do tratado de paz
assinado entre o Egito e o Hatti no vigésimo primei-
ro ano de reinado de Ramsés II, na sequência da in-
decisa batalha de Kadech travada em 1275 a. C. nas
margens do rio Orontes, na Síria do Norte
7
. Nessa
empolgante batalha, que o rei das Duas Terras quis
apresentar como uma grande vitória egípcia, este-
ve presente Nefertari com algumas crianças reais,
como de resto era hábito naquele tempo, em que
a família real e os altos dignitários da corte seguiam
o faraó mesmo em campanhas militares no estran-
geiro, sendo uma oportunidade para que os jovens
príncipes, mesmo ainda adolescentes, pudessem
adquirir alguma experiência de combate.
No texto que descreve a batalha de Kadech,
percebe-se o momento dramático em que os carros
de guerra hititas, depois de terem destroçado a di-
visão de Ré (com cerca de 5000 soldados, o tradicio-
nal número de combatentes de uma divisão egípcia
no Império Novo), irrompem pelo acampamento da
divisão de Amon, onde na altura se encontrava o rei
e a sua família, ordenando então Ramsés II que fos-
sem protegidas e afastadas do local «as mulheres e
as crianças», atestando assim a presença de parte
da corte faraónica em Kadech
8
.
Na correspondência trocada entre o rei do Egi-
to, na altura residindo amiúde em Per-Ramsés (no
Delta oriental), e o rei do Hatti, cuja capital era Hat-
tucha, no centro da península da Anatólia (a atual
Turquia), também foram encontradas cartas envia-
das pela rainha Tuia, a mãe de Ramsés II (viúva de
Seti I), e pela rainha Nefertari. De resto, esta viria a
conhecer a futura esposa de Ramsés II vinda do Hat-
ti, quando, na altura do tratado de paz, se entendeu
reforçar os laços de amizade entre as duas grandes
potências da época com o casamento do faraó com
uma princesa hitita, filha do rei Hattusil. Sabe-se
que depois deste jubiloso enlace, com fortes moti-
vações políticas, o nome de Nefertari, a graciosa rai-
nha que teria então 50 anos de idade, praticamente
desapareceu dos textos contemporâneos
9
.
Fig. 3 – Algumas das divindades representadas nas paredes do
túmulo de Nefertari, reconhecendo-se Khepri, Ísis (conduzindo
pela mão a rainha) e Serket.
Sublinhe-se, entretanto, que as inscrições do
seu túmulo e as do templo rupestre de Abu Simbel
preservaram os títulos elevados e os epítetos dig-
nificantes que foram atribuídos a Nefertari, onde a
rainha surge com o seu nome completo de Neferta-
ri-meritenmut (amada da deusa Mut). Quanto à for-
ma onomástica principal, note-se que Nefertari tem
o sugestivo significado de «A mais bela de todas»,
derivando de um epíteto gentil usado na época
para certas damas. A imagem de Nefertari é geral-
mente acompanhada por vários títulos, como o de

51
«grande esposa real» (a que acima aludimos), e ne -
bet-taui, ou seja, «senhora das Duas Terras» (o Alto e
o Baixo Egito), nebet-tau nebu, «senhora de todas as
terras», neferet-her, «bela de rosto» e beneret-merut,
«doce de amor». No seu templo funerário de Abu
Simbel é dignificada com os títulos de «membro
da elite» (irit-pat) e «esposa divina» (hemet-netjer),
detetando-se também a apropriada referência ao
facto de o sol brilhar para ela, o que bem se entende
com a posição da fachada virada a oriente, sendo
essa alusão solar enfatizada com a presença do dis-
co solar (como Aton ou como Ré). Por outro lado, o
título de «mão do deus» (deret-netjer) que algumas
rainhas do Império Novo exibem, aludindo à mas-
turbação levada a cabo pelo deus Atum para criar o
mundo através da ejaculação do seu sémen, não se
vê na titulatura composta para Nefertari
10
.
As rainhas do antigo Egito tinham o título ge-
nérico de hemet-nesu (esposa do rei), já que na lín-
gua egípcia não existia a palavra rainha, e este título
acompanha amiúde a figura de Nefertari, por vezes
alongado para hemet-nesu ueret (grande esposa
real), reforçado pelo título de conotação política de
nebet-taui (senhora das Duas Terras), com a variante
henut-taui (dama das Duas Terras) e ainda henut-
-tau-nebu (dama de todas as terras). Outros títulos
referem-na como sendo henut-nedjem-ib (dama de
doçura), nebet-imat (senhora de encanto) e henut-
-hemut-nebut (dama de todas as mulheres). Pode -
ria, enfim, ajustar-se a Nefertari um belo poema líri-
co da época ramséssida exaltando o ideal de beleza
feminina de então:
«A única, a amada sem igual, a mais bela entre
todas (Nefertari)!
Ela é como a estrela da manhã que aparece no
início de um bom ano.
Ela tem uma luminosa perfeição, a pele resplan-
decente.
É amoroso o olhar dos seus lindos olhos.
É suave o falar dos seus lábios, sem nunca falar
demais.
De pescoço elegante, peito radioso, cabelo de
verdadeiro lápis-lazúli.
Os seus braços valem mais que o ouro, os seus
dedos são como flores de lótus.
De coxas largas e cintura estreita, as pernas
acentuam a sua beleza, com um andar gracioso ao
pisar o chão.»
11
.
O túmulo de Nefertari
O túmulo, descoberto pelo italiano Ernesto Schia-
parelli em 1904, foi escavado no Vale das Rainhas, sí-
tio a que os antigos Egípcios chamavam Tasetneferu,
isto é, «O Lugar da Beleza», sendo ainda conhecido
pelas expressões Tainetaat («O Grande Vale») ou Ta-
setresit («O Vale do Sul»). Hoje é conhecido por Biban
el-Harim, estando localizado, com o número 66 (QV
66), no lado sudoeste da vasta necrópole tebana
onde se encontram os devassados túmulos faraóni-
cos do Vale dos Reis (Biban el-Muluk) e as centenas
de tumbas do chamado «Vale dos Nobres»
12
.
Fig. 4 – Imagem da câmara do sarcófago, também conhecida por sala dos quatro pilares,
tirada durante a fase dos trabalhos de restauro (1988-1992).

52
No belo túmulo do Vale das Rainhas, rasgado
em profundidade na montanha calcária, seguindo
o plano geral de uma tumba real, a decoração é de
elevada qualidade mas partes do gesso pintado que
revestia as paredes já desapareceu, perdendo-se as-
sim algumas imagens e os textos hieroglíficos que as
acompanhavam. Do espólio que já conteve restam
fragmentos do sarcófago de granito de Assuão, pla-
cas de ouro e de prata com o nome da rainha, cerca
de trinta estatuetas funerárias (chauabtis), alguns re-
cipientes de alabastro e de cerâmica, bem como par-
te de uma perna da múmia, materiais que se encon-
tram hoje guardados no Museu Egípcio de Turim
13
.
O túmulo consiste numa entrada com uma es-
cadaria que desce até uma primeira antecâmara,
a qual dá acesso a um duplo vestíbulo à direita de
onde se passa para o primeiro anexo do túmulo.
Neste pequeno anexo esteve guardado parte do
vultuoso espólio funerário da rainha, estando de-
corado com cenas do capítulo 148 do «Livro dos
Mortos», permitindo apreciar a típica cena com o
desfile das sete vacas e o touro copulador. A ante-
câmara mostra nas paredes o capítulo 17 do «Livro
dos Mortos» e imagens da rainha a ser apresentada
aos deuses, continuando esta temática pelo ves-
tíbulo. Surge depois uma escadaria onde a rainha
Nefertari aparece junto de diversas divindades, sen-
do aí acompanhada por fórmulas mágicas de prote-
ção. No final da escadaria, uma porta (decorada em
cima com uma bela imagem da deusa Maet com
asas abertas) dá acesso à câmara funerária, a qual
tem quatro pilares e três pequenas câmaras laterais.
Trata-se do local onde esteve o sarcófago, e que era
sem dúvida o espaço mais importante do túmulo,
tendo sido feito num nível ligeiramente inferior ao
do chão da câmara. Este precípuo espaço nuclear
é conhecido pela expressiva designação de «sala
dourada», exibindo um teto decorado com estrelas
amarelas de cinco pontas sobre um fundo azul es-
curo, representando o céu do Além, a Duat
14
.
A decoração, de temática fúnebre e religiosa,
que em certa medida também se pode apreciar em
certos túmulos reais coevos, evidencia finos deta-
lhes e uma composição deveras equilibrada, con-
cluindo-se que houve um criterioso estudo prévio
para que os artistas, sob as ordens de experientes
iconógrafos, levassem a cabo o programa decora-
tivo. A câmara exibe ainda os capítulos 144 e 146
do «Livro dos Mortos», desfilando pelas paredes os
guardiões das várias portas do Além. Também os
quatro pilares da sala apresentam uma rica deco-
ração de que sobressai o profilático pilar djed invo -
cando o deus Osíris. Numa das três pequenas salas
laterais da câmara funerária pode observar-se uma
imagem de Nefertari em forma de múmia, contras-
tando com a maior parte das suas representações
na pujança da vida

15.
Fig. 5 – Planta do túmulo da rainha Nefertari, no Vale das Rainhas, reconstituída nas instalações
da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, em 1979 (Galeria de Exposições Temporárias).

53
O túmulo da rainha Nefertari, magnificamente
reconstituído pela Fundação Calouste Gulbenkian
em 1979, é o mais belo do Vale das Rainhas, mes-
mo superior a alguns túmulos feitos para faraós do
Império Novo escavados no calcário friável do Vale
dos Reis. Trata-se, em suma, de uma estrutura inter-
na bem escavada, com motivos decorativos fora do
comum e pinturas de cores vivas, onde a sedutora
esposa de Ramsés II surge em todo o seu esplen-
dor e gracioso donaire, envergando longos vestidos
brancos e transparentes e ostentando belas joias. A
rainha é representada com um bonito rosto de to-
nalidades rosadas, exibe cabeleira requintada, cin-
tura estreita, mãos e gestos delicados e uma pos-
tura majestosa, o que também reflete a perícia dos
artistas que elaboraram a decoração parietal.
A rainha terá, aparentemente, participado na
escolha dos temas para a decoração da sua casa de
eternidade e terá passado por ela a seleção dos ca-
pítulos do «Livro dos Mortos» que lá figuram, alguns
em versões sintetizadas. Muitas divindades do vas-
to panteão egípcio foram representadas nas pare-
des, notando-se uma especial predileção por Osíris,
o deus da eternidade, e Ré, deus solar, relacionado
neste contexto com o tão desejado renascimento – a
exemplo do próprio sol, que todos os dias volta a nas-
cer, como Khepri, a oriente. Era, pois, com estes dois
poderosos deuses que a bela rainha (e, afinal, todos
os defuntos) se desejava identificar: com Osíris obti-
nha a divinização e a vida eterna fruída nos úberes
e verdejantes Sekhet-Iaru, isto é, os Campos de Iaru
(de onde os Gregos farão os seus Campos Elíseos), e
com Ré ela auferia a solarização e a capacidade de
viajar na divina barca solar, em perpétuo movimento
no céu diurno e no céu noturno da Duat.
Outras divindades pintadas na tumba são Anú-
bis, benévolo protetor dos defuntos e das necrópo-
les, Atum (deus criador do mundo pela sua mastur-
bação), Ptah (também criador do mundo pela força
eficaz do seu verbo divino), Tot (criador da escrita,
patrono de escribas e médicos), Khepri (o sol na
alvorada), Hórus e os seus quatro filhos protetores
das vísceras (Imseti, Hapi, Duamutef e Kebehse-
nuef), além de Ísis, Néftis, Serket, Neit, Hathor e a
muito solicitada deusa Maet, personificação da ver-
dade, justiça e ordem universal
16
.
O restauro das paredes do túmulo
Entre 1934 e 1977, vários restauradores e técni-
cos da Organização de Antiguidades Egípcias leva-
ram a efeito importantes campanhas para suster a
avançada deterioração das pinturas e conservar o
túmulo. O processo incluiu a remoção de parte das
camadas de gesso para as colocar em novas super-
fícies, mas o método acabou por alterar as cores,
gerando nos meios internacionais algumas críticas.
Muito ficou por fazer, além de as tarefas de restauro
não serem fáceis naquele difícil contexto, porque o
túmulo foi escavado em calcário de má qualidade,
com a agravante de ao longo dos séculos a água ir
entrando nas fendas. De facto, embora a zona onde
se situa o Vale das Rainhas seja inóspita e extrema-
mente seca, uma vez por outra caem lá inopinadas
chuvadas de grande intensidade, formando eféme-
ros riachos de caudal destruidor que entram nos
túmulos, e os sais cristalizados que se foram acu-
mulando fizeram com que algumas das placas de
gesso com as pinturas caíssem das paredes. Entre a
variedade cromática, notou-se que a coloração em
verde escuro das pinturas também estava danifica-
da, devido à cristalização dos sais, na sua maioria
cloreto de sódio
17
.
A degradação do túmulo foi evoluindo, geran-
do lícitas preocupações das autoridades culturais
e arqueológicas do Egito e nos meios científicos e
académicos internacionais, e já no decurso da expo-
sição parisiense de 1976 sobre «Ramsés, o Grande»
o assunto foi alvo de debate, com resultados positi-
vos – uma parte dos lucros com essa exposição con-
tribuiu para a constituição de um fundo destinado
ao restauro do túmulo de Nefertari
18
.
Em 1986 a Organização de Antiguidades Egíp-
cias, numa eficiente cooperação com o Getty Con-
servation Institute, recomeçou os trabalhos de res-
tauração do túmulo, num projeto mais ambicioso e
cientificamente mais estruturado. No ano seguinte,
a equipa internacional começou a estudar os vários
aspetos ligados à delicada tarefa que se antevia: fo-
ram desta vez tidos em conta os aspetos geológicos,
químicos, biológicos, geográficos e ainda os traba-
lhos complementares de conservação. As áreas da-
nificadas foram cuidadosamente verificadas, sendo
analisados por especialistas os pigmentos, os ges-
sos, os sais e as cores, chegando-se à conclusão que
as partes em pior estado estavam nas secções mais
profundas do túmulo, isto é, a câmara fúnebre e as
salas laterais. O teto, pintado de azul, com as tradi-
cionais estrelas de cinco pontas a sugerir o céu es-
trelado, apresentava várias fraturas
19
.
O minudente trabalho de restauro das pinturas
parietais do túmulo de Nefertari teve início em 1988,
constituindo o primeiro passo a importante tarefa de

54
fixação dos painéis que estavam soltos ou ameaçan-
do cair, usando-se para esse efeito um tipo de papel
japonês, para que não eles não se soltassem. Com
grande proficiência, as poeiras acumuladas ao longo
dos séculos foram removidas com instrumentos den-
tários, e a camada de gesso foi reforçada, tendo sido
injetada nas falhas uma substância apropriada, de-
signada primal (a 3%), uma solução de resina acrílica
consolidada com água. As junções foram reparadas
usando uma argamassa leve, o sal foi removido da
rocha manualmente com instrumentos cirúrgicos, e
foram recolocadas as placas de gesso. As cores foram
limpas com algodão embebido em primal, e as cores
originais tornaram-se então mais brilhantes, sem se-
rem necessários novos retoques. Os trabalhos foram
completados em 1992, e a equipa de especialistas
manteve o túmulo sob observação durante três anos,
até que finalmente, em 1995, o túmulo foi aberto ao
público – e todos os anos, alguns dos viajantes que
integram os grupos da Faculdade de Letras da Uni-
versidade de Lisboa na tradicional viagem ao Egito
decidem entrar no túmulo restaurado, quedando-se
embevecidos perante a imagem da rainha Neferta-
ri, grande esposa real, esposa divina e senhora das
Duas Terras, senhora de doçura e de encanto, bela de
rosto e doce de amor
20
.
Notas
1)
Registe-se, com o devido apreço, o fundamental apoio
do Professor Gonçalves Guimarães, diretor do Solar Condes de
Resende e mesário-mor da Confraria Queirosiana que naquele
edifício tem a sua sede, a informação sobre a exposição que tam-
bém se realizou no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto.
2)
O autor deste texto evocativo era então aluno finalista do
curso de História da Faculdade de Letras de Lisboa e, com a sua
turma da altura, foi à exposição numa visita de estudo conduzi-
da pelo Professor Rio de Carvalho. Nessa ocasião todos os visi-
tantes, incluindo o docente que conduzia essa visita, sentiram
alguma frustração por não entenderem toda a rica iconografia
mural e as muitas inscrições hieroglíficas do espaço tumular re-
criado na Fundação Calouste Gulbenkian.
3)
O livro então editado para acompanhamento da recons-
tituição fotográfica, feita na Galeria de Exposições Temporárias,
apresenta textos de Christiane Desroches-Noblecourt e Diane
Harlé, com as respetivas traduções em português. Note-se que
a exposição que esteve patente em Lisboa e no Porto teve o
apoio das embaixadas da França e do Egito em Portugal. A
notável egiptóloga Christiane Desroches-Noblecourt (1913-
2011) era na altura conservadora-chefe do Departamento de
Antiguidades Egípcias do Museu do Louvre, e Diane Harlé era
documentalista no mesmo departamento, sendo mais tarde
conferencista e professora na École du Louvre.
4)
Nas visitas anuais que o Instituto Oriental da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa promove ao Egito, e que nos
últimos anos têm sido organizadas pela agência Novas Frontei-
ras, os membros que integram os grupos estão presentes em
Abu Simbel para ver o grande templo erigido para Ramsés II e
outras divindades (Ptah, Amon-Ré e Ré-Horakhti) e o templo de-
dicado à rainha Nefertari e à deusa Hathor (sugerindo Christiane
Desroches-Noblecourt que Hathor possa ali ser também a deu-
sa Sothis, a estrela brilhante que surgia no céu no primeiro dia
do ano, coincidindo com o aparecimento da cheia anual); ver
DESROCHES-NOBLECOURT e HARLÉ, O Túmulo da Rainha Nofre -
tari, p. 6. Para a deusa Sothis (forma grega do nome egípcio So-
pdit) veja-se SALES, As Divindades Egípcias, pp. 145-146.
5)
Ver DESROCHES-NOBLECOURT, La Femme au Temps des
Pharaons, pp. 79-82, 90-93, e 134; ver ainda DESROCHES-NO-
BLECOURT e HARLÉ, O Túmulo da Rainha Nofretari, pp. 6-7. Para
a deusa Hathor ver SALES, As Divindades Egípcias, pp. 174-181.
6)
Para o reinado de Ramsés II pode ser útil a consulta de
ARAÚJO, Os Grandes Faraós do Antigo Egito, pp. 172-177; JOU-
RET (dir.), Thèbes, 1250 av. J.-C. Ramsès II et le rêve du pouvoir ab-
solu, 1990; LALOUETTE, L’Empire des Ramsès, 1985; LALOUETTE,
Ramsés II, o Grande, 2006; SMITH, Ramesses II. A chronological
structure for his reign, 1982. Para o reinado de Merenptah ver
ARAÚJO, Os Grandes Faraós do Antigo Egito, pp. 172-177.
7)
Ver ARAÚJO, «Kadech», Dicionário do Antigo Egipto, pp.
470-472.
8)
Ibidem; também em DESROCHES-NOBLECOURT e HARLÉ,
O Túmulo da Rainha Nofretari, p. 8.
9)
Ver DESROCHES-NOBLECOURT e HARLÉ, O Túmulo da Rai-
nha Nofretari, pp. 9-10.
10)
Lista dos títulos da rainha Nefertari em MCDONALD,
House of Eternity. The Tomb of Nefertari, p. 17; ver também PU-
VILL DOÑATE, Textos de la Tumba de la Reina Nefertari, pp. 60-
61; para o expressivo título de «mão do deus» ver ARAÚJO, Arte
Egípcia. Coleção Calouste Gulbenkian, pp. 80-83.
11)
Ver ARAÚJO, «Beleza», Dicionário do Antigo Egipto, pp.
146-147. Sobre as rainhas do antigo Egito e o seu estatuto
ver DODSON e HILTON, The Complete Royal Families of Ancient
Egypt, 2004; GRAJETZKI, Ancient Egyptian Queens. A Hieroglyphic
Dictionary, 2005; JACQ, As Egípcias. Retratos de Mulheres do Egip -
to Faraónico, 1998 (apesar dos muitos erros de revisão e de tra-
dução feita a partir do original francês); LESKO, The Remarkable
Women of Ancient Egypt, 1996; e SALES, «Rainha», Dicionário do
Antigo Egipto, pp. 731-734.
12)
Ver HALL, «Vale das Rainhas», Dicionário do Antigo Egipto,
pp. 857-858; para o túmulo veja-se, entre outros, GOEDICKE e
THAUSING, Nofretari. Eine Dokumentation der Wandegemälde ihres
Grabe, 1971; e ainda NASR e TOSI, The Tomb of Nefertari, 2001.

55
13)
Ver DESROCHES-NOBLECOURT e HARLÉ, O Túmulo da
Rainha Nofretari, p. 15.
14)
Podem ser apreciados os capítulos mencionados em AL-
LEN, The Book of the Dead or Going Forth by Day, 1974; BARGUET,
Le Livre des Morts des Anciens Égyptiens, 1968; e FAULKNER, The
Ancient Egyptian Book of the Dead, 1985. Uma versão portugue -
sa do «Livro dos Mortos» traduzida do francês por Maria Helena
Trindade Lopes é inaproveitável devido aos crassos e grosseiros
erros que contém.
15)
Ver MCDONALD, House of Eternity. The Tomb of Nefertari,
p. 57; veja-se também ARAÚJO, «Livro dos Mortos», Dicionário
do Antigo Egipto, pp. 513-517.
16)
Para as divindades mencionadas veja-se SALES, As Divin-
dades Egípcias, 1999 (pesquisa a partir do índice final).
17)
Ver SILIOTTI, «Cronaca di un restauro: il risveglio di Ne-
fertari», Archeologia Viva, 18, pp. 32-51; também em CORZO e
AFSHAR, Art and Eternity: the Nefertari Wall Paintings Conserva-
tion Project, 1993.
18)
Ver DESROCHES-NOBLECOURT e HARLÉ, O Túmulo da
Rainha Nofretari, p. 7.
19)
Ver SILIOTTI, «Cronaca di un restauro: il risveglio di Ne-
fertari», Archeologia Viva, 18, pp. 32-51.
20)
Mas nem para tudo houve solução, tendo Eduardo
Porta, coordenador do notável projeto, considerado que
se perdeu cerca de 20% da decoração que ainda existia no
momento da descoberta de Ernesto Schiaparelli, em 1904 –
ou seja, em menos de um século, a desaconselhada acumu-
lação de visitantes, a falta de uma vigilância consistente,
ou os atos de vandalismo deixaram para sempre funestos
resultados; ver CORZO e AFSHAR, Art and Eternity: the Ne -
fertari Wall Paintings Conservation Project, 1993; e SILIOTTI,
«Cronaca di un restauro: il risveglio di Nefertari», Archeolo -
gia Viva, 18, pp. 32-51.
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56
Aveiro e a Fundação Eça de Queiroz
Jorge Campos Henriques
Através do site da Fundação Eça de Queiroz
tive conhecimento que entre a Fundação e a Câ-
mara Municipal de Aveiro foi celebrado um acor-
do de cooperação.
Em representação da edilidade aveirense esti-
veram presentes o vereador da Cultura da Câmara
Municipal de Aveiro, Miguel Capão Filipe, acompa-
nhado da chefe de divisão da Cultura, Sónia Almei-
da e da diretora da Biblioteca Municipal, «onde pu-
deram conhecer a Fundação e degustar a ementa
queirosiana da obra A Cidade e as Serras. Para além
disso, foram definidas algumas linhas orientadoras
para o cumprimento do protocolo estabelecido».
O protocolo tem em vista «a dinamização e rea-
lização de iniciativas que visem o reforço pedagó-
gico da ligação de Eça de Queiroz a Aveiro, por um
lado, e do turismo cultural e na educação informal
da comunidade por outro, assim como a afirmação
do município de Aveiro nos circuitos nacionais e in-
ternacionais da obra queirosiana».
Ao tornar-se mecenas da Fundação, o Minicí-
pio de Aveiro terá que fazer uma comparticipação
anual de 5.000,00€.
Durante a visita foi entregue o diploma que con-
fere esse estatuto, bem como um medalhão de Eça
de Queiroz, conforme está estabelecido nas regalias
que a Fundação atribui aos seus mecenas.
Considera a Fundação que a atribuição do título
de mecenas ao município aveirense se deve ao fac-
to de que em Verdemilho, «ainda se encontra edifi-
cada. pese embora em ruínas, a denominada casa
de Eça de Queiroz, casa essa indissociavelmente
ligada à vida e obra de Eça de Queiroz, considera-
do “filho de Aveiro”, educado na Costa Nova, quase
“peixe da ria”, como o próprio escreveu, de tal modo
que foi intensa a sua ligação a Aveiro, tornando as-
sim Aveiro num dos municípios queirosianos»
A surpresa acontece sabendo-se que o protoco-
lo fora assinado em 9 de julho de 2019 e a «Casa de
Eça de Queiroz» em Verdemilho já havia sido demo-
lida um ano antes, em 2018.
Poder-se-á concluir que a Fundação desco-
nheceria tal facto. A pergunta surge: será que a
comitiva aveirense que a “Tormes” se deslocou,
não teve coragem ou não se lembrou de dar co-
nhecimento, à Fundação Eça de Queiroz, que a
casa já tinha sido demolida há mais de um ano
ficando reduzida à sua fachada?
Compreendo que após um repasto queiro-
siano à base do famoso arroz de favas, frango
alourado ou cabidela e leite-creme (Jacinto jurou
«nunca ter provado nada tão sublime»), regado
com verde da Fundação (um vinho fresco, esper-
to, seivoso e tendo mais alma, entrando mais na
alma, que muito poema ou livro santo, de acordo
com Eça) o espírito amoleça e tudo vai ficando no
esquecimento.
PS: Aproveito para questionar o facto de o «Memorial a Eça de
Queiroz» instalado em plena EN 109, na chamada rotunda do
Botafogo, ter como elemento preponderante e mais destacado
do monumento um brasão de armas quando Eça de Queiroz
nunca teve qualquer título de nobreza. O brasão de armas é
de seu avô, o conselheiro Joaquim de Queiroz. De acordo com
o despacho da rainha D. Maria II, de 30 de junho de 1835, que
lhe concedeu esse privilégio «poderá trazer e usar tão somente
o dito Joaquim José de Queiroz e Almeida [...] e com elas pode-
rá entrar em batalhas, reptos, escaramuças e exercitar todos os
mais actos lícitos da guerra e da paz», podendo ainda usar «em
seus firmais, anéis, sinetes e divisas, pô-las em suas casas, cape-
las e mais edifícios e deixá-los sobre a sua própria sepultura»,
e, finalmente, «servir, honrar, gozar e aproveitar delas em tudo
que à sua nobreza convém».

57
AFONSO, José António Martin Moreno
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Fernandes de Calvos, “O rico de Ormuz” (c.1529-
<1592), p. 46; Nuno da Silva (c.1540-c.1600) [co-
aut. com GUIMARÃES, S.], p. 47; Filipe de Távora e
Noronha (c.1640-1715), p. 50; José Pereira dos Santos

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(1719-1762), p. 53; Pedro Leite Pereira de Mello (1741-
1831) [co-aut. com TEIXEIRA, M. F.], p. 57; Barão do
Corvo (1768-1859), p. 60; Rosa Maria da Conceição e
Silva, D. (c.1770-1854), p. 61; José Liberato Freire de
Carvalho (1772-1855) [co-aut. com GUIMARÃES, S.],
p. 64; Visconde de Beire (1774-1849) [co-aut. com
GUIMARÃES, S.], p. 66; Visconde de Vila Nova de Gaia
(1776-1844), p. 70; Conde de Laborim (1781-1864), p.
71; António Ribeiro da Costa (1783-1851) [co-aut. com
TEIXEIRA, M. F.], p. 73; Barão do Candal (1787-1840),
p. 74; Visconde de Santo António de Vale da Piedade
(1788-1878), p. 75; Visconde de Oliveira (1794-1853)
[co-aut. com TEIXEIRA, M. F.; GUIMARÃES, S.], p.
77; Visconde da Pena (1794->1865), p. 78; Conde de
Castro (1794-1878), p. 79; Marquês Sá da Bandeira
(1795-1876), p. 80; Pedro IV, D., Rei (1798-1834), p. 82;
Almeida Garrett, Visconde de Almeida Garrett (1799-
1854), p. 84; Visconde da Graceira (1808-1902) [co-
aut. TEIXEIRA, M. F.], p. 92; Barão de Forrester (1809-
1861) [co-aut. GUIMARÃES, S.], p. 93; Antónia, D., “A
Ferreirinha” (1811-1896), p. 94; Visconde de Oliveira
do Douro (1813-1896) [co-aut. TEIXEIRA, M. F.], p. 96;
Visconde das Devesas (1814-1884), p. 97; Frederick
William Flower (1815-1889), p. 98; Visconde de Castro
Silva (1825-1886) [co-aut. com TEIXEIRA, M. F.], p. 109;
Camilo Castelo Branco, Visconde de Correia Botelho
(1825-1890), p. 111; Joaquim Pereira Fula (1831-
1906) [co-aut. TEIXEIRA, M. F.], p. 118; Visconde de
Proença Vieira (1831-<1917), p. 119; Barão de S. João
Baptista de Canelas (1836->1883), p. 122; Caetano
Pinho da Silva (1839-1907) [co-aut. com TEIXEIRA,
M. F.; GUIMARÃES, S.], p. 127; Marciano de Azuaga
(1840-1905), p. 132; Eduardo da Costa Santos (1840-
1912) [co-aut. com TEIXEIRA, M. F.], p. 134; Visconde
da Ermida, 1.º (1841-1896) [co-aut. com TEIXEIRA,
M. F.], p. 137; Artur Napoleão dos Santos (1843-1925),
p. 141; Eça de Queirós (1845-1900), p. 146; Adriano de
Paiva, Conde de Campo Bello, 1.º (1847-1907), p. 148;
Flórido Toscano (1853-1922) [co-aut. com BAPTISTA,
Eva; TEIXEIRA, M. F.; GUIMARÃES, S.], p. 154;
Salvador Brandão (1858-1932) [co-aut. TEIXEIRA,
M. F.], p. 156; Agostinho de Almeida Rego (1858-
1938) [co-aut. com TEIXEIRA, M. F.; GUIMARÃES,
S.], p. 158; Domingos da Rocha Romariz (1859-
1929) [co-aut. com TEIXEIRA, M. F.], p. 159; Adriano
Ramos Pinto (1859-1927), p. 161; Maximiano Lemos
(1860-1923) [co-aut. com TEIXEIRA, M. F.], p. 164;
Francisco Gonçalves Cortez (1861-1934) [co-aut. com
TEIXEIRA, M. F.], p. 165; Osório Gondim (1863-1837)
[co-aut. com TEIXEIRA, M. F.; GUIMARÃES, S.], p. 170;
Venceslau Pedro da Silva (1865->1951) [co-aut. com
TEIXEIRA, M. F.], p. 174; Alberto Júlio Pereira (1871-
1963) [co-aut. com TEIXEIRA, M. F.; GUIMARÃES, S.],
p. 192; Adelino Gonçalves Gomes (1873-1965) [co-
aut. com TEIXEIRA, M. F.; GUIMARÃES, S.], p. 195;
Augusto Francisco da Rocha (1874-1929) [co-aut.
com TEIXEIRA, M. F.; GUIMARÃES, S.], p. 202; Miguel
Joaquim da Silva Leal Júnior (1875-1944) [co-aut. com
TEIXEIRA, M. F.; GUIMARÃES, S.], p. 203; Conde das
Devesas, 2.º (1875-1945), p. 205; João Porfírio de Lima
Calheiros Lobo (1875-1913) [co-aut. com BAPTISTA,
E.; TEIXEIRA, M. F.], p. 206; Santos Costa (1880-1955)
[co-aut. com TEIXEIRA, M. F.; GUIMARÃES, S.], p. 210;
Ramiro Mourão (1880-1949) [co-aut. com TEIXEIRA,
M. F.; GUIMARÃES, S.], p. 211; Magalhães Costa
(c.1880->1815) [co-aut. com GUIMARÃES, S.], p.
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GUIMARÃES, S.], p. 213; José Domingues da Rocha
Beleza (1882-1926) [co-aut. com TEIXEIRA, M. F.;
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[co-aut. com TEIXEIRA, M. F.], p. 237; Cunha da Rasa
(1892-1938), p. 239; Avelino Monteiro (1896-1965),
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Miguel Joaquim da Silva Leal Júnior (1875-1944)
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J. A. G.; TEIXEIRA, M. F.], p. 211; Magalhães Costa
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futurismo algarvio em Vila Nova de Gaia. «Boletim da
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– Uma obra do pintor Francisco Pinto da Costa (1826-
1869) na Casa-Museu Egas Moniz. «Revista de Antuã:
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12. Estarreja: Câmara Municipal, p. 219-230.
OLIVEIRA MARTINS, Guilherme de
– Ao encontro da história. 1ª edição. Lisboa: Gradiva.
(Trajectos portugueses; 112). 
– [Colab. quinzenal no jornal]. «As Artes entre as
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– Primeiros escritos de economia  [coord. com COSTA,
André; PISTOLA, Renato]. 1ª edição. [S.l.]: Círculo de
Leitores. (Obras pioneiras da cultura portuguesa; 18).
PEIXINHO, Ana Teresa
[Dir. com CAMPONEZ, Carlos; REIS, Carlos].
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e espaço público», nº 7. Coimbra: Imprensa da
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64
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organizacional [ed. e org. com FIGUEIRA, João].
Coimbra: Imprensa da Universidade. (Investigação).
- O intelectual, o artista e as massas na cultura
portuguesa finissecular [co-aut. com DIAS, Luís
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18. Coimbra: Imprensa da Universidade, p. 135-151.
– Otzi, a múmia glaciar e as suas sobrevidas:
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Jornalismo e Espaço Público», n.º 6, p. 27-39; nº 7
[colab.]. Coimbra: Imprensa da Universidade.
QUEIRÓS, Eça de [1845-1900]
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de Notícias. (Clássicos da literatura portuguesa
contados às crianças; 3).
– Civilização e outros contos. 1ª edição. Amadora:
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– Ilustre casa de Ramires ( A). 1ª edição. Lisboa:
Guerra & Paz.
– Conde d’Abranhos ( O).1ª edição. Lisboa: 11-17.
(Biblioteca Eça de Queirós; 7) (11-17; 412).
– Farpas  (As). Lisboa: Relógio D’Água.
(Argumentos; 48).
– Maias (Os ). Porto: Coisas de Ler.
– Mandarim ( O). 1ª edição. [S.l.]: Jornal de Notícias.
(Clássicos da literatura portuguesa contados às
crianças; 8).
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Livros do Brasil. (Obras de Eça de Queiroz; 22).
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[Dir. com CAMPONEZ, Carlos; PEIXINHO, Ana Teresa].
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Universidade.
– Estudos literários e ensino da literatura: o jardim
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Silva; BUENO, Luís, orgs. – Nós e as palavras. S. Paulo:
Ateliê Editorial, p. 33-48.
– Ética: indagações e horizontes  [coord. com
FORMOSINHO, Maria; JESUS, Paulo]. Coimbra:
Imprensa da Universidade. (Documentos). 
– Figuração de personagens e mundos possíveis
insólitos [org. com SILVA, Luciana Morais da]. Rio de
Janeiro: Dialogarts.
– GARRETT, Almeida – Camões [coord.]. Lisboa:
Imprensa Nacional-Casa da Moeda. (Biblioteca
fundamental da literatura portuguesa).
– Pessoas de livro: estudos sobre a personagem. 3ª
edição. Coimbra: Imprensa da Universidade.
RESENDE, Nuno
– A adoração dos Magos. Porto: Santa Casa da
Misericórdia do Porto.
– A igreja de Tendais: culto, comunidade e memória.
Tendais (Cinfães): Fábrica da Igreja Paroquial da
Freguesia de Tendais.
– [Colab.]. «Brotéria: cristianismo e cultura», vol. 187,
n.º 4 (out.). Lisboa: Livraria Apostolado da Imprensa.
– [Colab.].  In Atas das 5
as
Conferências do Museu de
Lamego. Lamego; Porto: Museu; CITCEM.
– Do Grand Tour à excursão: a jornada como
diletância, p. 73-85; Um livro de horas quatrocentista
no acervo do Museu Nacional de Soares dos Reis [co-
aut. com BARROCA, Mário Jorge], p. 285-297.   In
VASCONCELOS, Maria João, MORAIS, Rui; REIS, José
da Costa, coords. – João Allen: colecionar o Mundo.
Porto: DGPC/MNSR.
– [Ed.]. «Revelar: revista de estudos da fotografia e
imagem».  Porto: FLUP. Departamento de Estudos
Portugueses e de Estudos Românicos. 
– “Pobre galego?”: ideia e representação dos
emigrantes galegos na literatura de viagens em

65
Portugal de oitocentos. «Via Spiritus: revista de História
da Espiritualidade e do Sentimento Religioso», vol. 25,
p. 147-168. Disponível em <https://ler.letras.up.pt/
uploads/ficheiros/16742.pdf>.
– Um rico pano: antologia de verso, prosa e imagem
de Lamego. Lamego: Museu.
– Vinho e medo descobrem o segredo: o vinho e a
vinha no discurso intra e interfamiliar em casas do
Douro (séculos XVI–XIX). «Douro – Vinho, História
e Património = Wine, History and Heritage», n.º 7.
Porto: APHVIN/GEHVID, p. 115-130.
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– [Colab. com CRUZ, P.; FERREIRA, A.]. «CrystEng-
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– Microencapsulation of citronella oil with
carboxymethylated tamarind gum [co-aut. com
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– Microencapsulation of curcumin by a spray-drying
technique using gum Arabic as encapsulating agent
and release studies [co-aut. com BUCURESCU,
A.; BLAGA, A. C.;... et al.]. «Food and Bioprocess
Technology»,  vol. 11, n.º 10. [S.l.]: Springer US, p.
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– Production, properties, and applications of solid self-
emulsifying delivery systems (S-SEDS) in the food and
pharmaceutical industries [co-aut. com GONÇALVES,
Antónia; NIKMARAM, Nooshin;... et al.]. «Colloids
and Surfaces A: Physicochemical and Engineering
Aspects», vol. 538. [S.l.]: Elsevier, p. 108-126.
– Protein crystallization in a droplet-based microfluidic
device: hydrodynamic analysis and study of the phase
behavior [co-aut. com FERREIRA, J.; CASTRO, F.;
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– Armanda Passos: obra gráfica: serigrafias no atelier
1980-1991: exposição [textos com... et al.]. Vila Nova
de Gaia: Câmara Municipal.
– E de súbito o silêncio toma-os: Cruzeiro Seixas [textos
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– O Foral Manuelino de Vila Nova de Gaya, 1518-2018
[coord. com CARVALHAL, Paula; GUIMARÃES, J. A.
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– Para a construção do Museu de Causas: coleções
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SOUSA, Gonçalo de Vasconcelos e, coord. de vol.
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– Produção de vinhos de marca em contexto urbano:
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Heritage», n.º 7. Porto: APHVIN/GEHVID, p. 53-70.
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– Paulino Gonçalves (1869-1953), p. 184; Alves de
Sousa (1884-1922), p. 220; Joaquim Lopes (1886-
1956), p. 223; Guilherme Camarinha (1912-1994), p.
263; Aureliano Lima (1916-1984), p. 266; Eduardo

66
Luiz (1932-1988), p. 270. In GUIMARÃES, J. A., coord.
geral; SOUSA, Gonçalo de Vasconcelos e, coord.
de vol. – Património Cultural de Gaia. Património
humano: personalidades gaienses. Vila Nova de Gaia:
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– A Idade do Bronze na margem sul do Baixo Douro
sítios e pistas de investigação [co-aut. com PEREIRA,
Gabriel; LEMOS, Paulo A. P.; SILVA, Sara Almeida],
p.  92-117; Sondagem arqueológica no povoado
da Idade do Bronze do Senhor dos Aflitos (Arouca,
centro-norte de Portugal) [co-aut. com LEMOS,
Paulo A. P.], p. 191-203; Archaeometalurgical
analysis and archaeological contextualization of a
bronze spearhead from Gralheira (Muro mountain
range, Baltar, Paredes, north Portugal) [co-aut.
com SILVA, Maria Antónia; CASTRO, Fernando;
BETTENCOURT, Ana M. S.; BREA, Alexandre
Manteiga], p. 204-213; Materiais proto-históricos
do Castelo de Crestuma (Vila Nova de Gaia) [co-
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In HERNÁNDEZ GUTIÉRREZ, Noelia; LARRAZABAL
GALARZA, Javier; PORTERO HERNÁNDEZ, Rodrigo,
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Paleolítico a la Edad Media, 6. España: Glyphos
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sobre a ocupação indígena e romana da foz do
douro. In DIAS, Lino Tavares; ALARCÃO, Pedro,
coords. – Construir, navegar, (re)usar o Douro da
antiguidade. Porto: CITCEM – Centro de Investigação
Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, p. 45-
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– [Colab. com CIRNE, T.; VIDAL, A.; AFONSO, José
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de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas.
Disponível em <https://www.bad.pt/publicacoes/
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– [Colab. com REAL, Manuel Luís]. In LÓPEZ
QUIROGA, Jorge; MARTÍNEZ TEJERA, Artemio
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de los Suevos en la Gallaecia (411–585). El primer
reino medieval de Occidente: [volumen de estúdios].
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– Diogo Cassels (1844-1923), p. 144; António
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Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal; ASCR–
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– Trabalhos arqueológicos no Castro de Salreu: breve
crónica da intervenção de 2018 [co-aut com PEREIRA,
Gabriel R.; SILVA, Sara Almeida e; LEMOS, Paulo A.
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do Porto. «A fonte: fonte de estímulo intelectual» n.º
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– Martinho Lutero: o reformador e a sua época. In A
reforma aos 500 anos: 1517-2017. Porto: Fundação
SPES, p. 7-30. (Mundo, evangelho, igreja; 12).
– O Foral Manuelino de Vila Nova de Gaia e a
complementaridade fiscal e económica das duas
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Paula; GUIMARÃES, J. A. Gonçalves, coords. – O Foral
Manuelino de Vila Nova de Gaya, 1518-2018. Vila
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– Jerónimo Rossi (c.1750-1821), p. 59. In
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Vasconcelos e, coord. de vol. – Património Cultural

67
de Gaia. Património humano: personalidades
gaienses. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal;
ASCR–Confraria Queirosiana.
– Materiais proto-históricos do Castelo de Crestuma
(Vila Nova de Gaia) [co-aut. com SILVA, António
Manuel S. P.; PINTO, Filipe]. In HERNÁNDEZ
GUTIÉRREZ, Noelia; LARRAZABAL GALARZA,
Javier; PORTERO HERNÁNDEZ, Rodrigo, coords. –
Arqueología en el Valle del Duero: del Paleolítico a
la Edad Media, 6. España: Glyphos Publicaciones,
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TEDIM, José Manuel Alves
– Cenários da morte redentora no contexto do Barroco
português: caminhos de substituição. In OLIVEIRA,
Marlene... [et al.], coords. – VIII Festival Internacional
Polifonia Portuguesa  =  VIII International Festival of
Portuguese Polyphony  . Vila Nova de Famalicão:
Fundação Cupertino de Miranda, p. 122-130.
– [Dir. adj.]. «Revista de Portugal». Vila Nova de Gaia:
ASCR-Confraria Queirosiana.
TEIXEIRA, Maria de Fátima
– Pedro Leite Pereira de Mello (1741-1831) [co-aut.
com GUIMARÃES, J. A. G.], p. 57; António Ribeiro da
Costa (1783-1851) [co-aut. com GUIMARÃES, J. A. G.],
p. 73; Visconde de Oliveira (1794-1853) [co-aut. com
GUIMARÃES, J. A. G.; GUIMARÃES, S.], p. 77; Visconde
da Graceira (1808-1902) [co-aut. com GUIMARÃES,
J. A. G.], p. 92; Visconde de Oliveira do Douro (1813-
1896) [co-aut. com GUIMARÃES, J. A. G.], p. 96;
Visconde de Castro Silva (1825-1886) [co-aut. com
GUIMARÃES, J. A. G.], p. 109; José Mariani (1828-
1905), p. 114; Joaquim Pereira Fula (1831-1906) [co-
aut. com GUIMARÃES, J. A. G.], p. 118; Caetano Pinho
da Silva (1839-1907) [co-aut. com GUIMARÃES, J. A.
G.; GUIMARÃES, S.], p. 127; Eduardo da Costa Santos
(1840-1912) [co-aut. com GUIMARÃES, J. A. G.], p.
134; Visconde da Ermida, 1.º (1841-1896) [co-aut.
com GUIMARÃES, J. A. G.], p. 137; António Monteiro
dos Santos (1847-1924), p. 147; Augusto César da
Cunha Moraes (1852-1939), p. 153; Flórido Toscano
(1853-1922) [co-aut. com BAPTISTA, E.; GUIMARÃES,
J. A. G.; GUIMARÃES, S.], p. 154; Salvador Brandão
(1858-1932) [co-aut. com GUIMARÃES, J. A. G.], p.
156; Agostinho de Almeida Rego (1858-1938) [co-
aut. com GUIMARÃES, J. A. G.; GUIMARÃES, S.], p.
158; Domingos da Rocha Romariz (1859-1929) [co-
aut. com GUIMARÃES, J. A. G.], p. 159; Maximiano
Lemos (1860-1923) [co-aut. com GUIMARÃES, J. A.
G.], p. 164; Francisco Gonçalves Cortez (1861-1934)
[co-aut. com GUIMARÃES, J. A. G.], p. 165; Osório
Gondim (1863-1837) [co-aut. com GUIMARÃES, J.
A. G.; GUIMARÃES, S.], p. 170; Venceslau Pedro da
Silva (1865->1951) [co-aut. com GUIMARÃES, J. A.
G.], p. 174; Alberto Júlio Pereira (1871-1963) [co-
aut. com GUIMARÃES, J. A. G.; GUIMARÃES, S.], p.
192; Adelino Gonçalves Gomes (1873-1965) [co-aut.
com GUIMARÃES, J. A. G.; GUIMARÃES, S.], p. 195;
António Pimenta da Fonseca (1873-1954), p. 196;
Augusto Francisco da Rocha (1874-1929) [co-aut.
com GUIMARÃES, J. A. G.; GUIMARÃES, S.], p. 202;
Miguel Joaquim da Silva Leal Júnior (1875-1944)
[co-aut. com GUIMARÃES, J. A. G.; GUIMARÃES, S.],
p. 203; João Porfírio de Lima Calheiros Lobo (1875-
1913) [co-aut. com BAPTISTA, E.; GUIMARÃES, J. A.
G.], p. 206; Santos Costa (1880-1955) [co-aut. com
GUIMARÃES, J. A. G.; GUIMARÃES, S.], p. 210; Ramiro
Mourão (1880-1949) [co-aut. com GUIMARÃES, J. A.
G.; GUIMARÃES, S.], p. 211; José Domingues da Rocha
Beleza (1882-1926) [co-aut. com GUIMARÃES, J. A. G.;
GUIMARÃES, S.], p. 216; Armando Leça (1891-1977)
[co-aut. com GUIMARÃES, J. A. G.], p. 237; Joaquim
Francisco Pedrosa Júnior (1896-c.1985) [co-aut.
com GUIMARÃES, J. A. G.; GUIMARÃES, S.], p. 243;
Visconde de Pereira Machado, 3.º (1905-1993) [co-aut.
com GUIMARÃES, J. A. G.], p. 254. In GUIMARÃES, J.
A., coord. geral; SOUSA, Gonçalo de Vasconcelos
e, coord. de vol. – Património Cultural de Gaia.
Património humano: personalidades gaienses. Vila
Nova de Gaia: Câmara Municipal; ASCR–Confraria
Queirosiana.
– Salon d’ Automne Queirosiano 2018 [org.]. Vila
Nova de Gaia: ASCR-Confraria Queirosiana.
VALENTE, Marco
[Colab.]. «Al-Madan», II série, t. 2, n.º 22. Almada:
Centro de Arqueologia.
VIEGAS, Francisco José
– Bíblia [coord.]. 2ª edição. Lisboa: Quetzal, 2018-.
Vol. 1: Novo Testamento: os quatro evangelhos.
– DINIS, Júlio, pseud. – Os fidalgos da casa Mourisca
[adapt.]. 1ª edição. [S.l.]: Jornal de Notícias. (Clássicos
da literatura portuguesa contados às crianças; 7).
– Juncos à beira do caminho. Alfragide: Editorial
Caminho.
Elaboração: Celeste Pinho

68
Movimento de sócios
Anos 20172018
Total de sócios desde a fundação
372 382
Sócios de honra e institucionais
56 59
Confrades
112 111
Sócios excluídos e falecidos
175 189
Sócios efetivos
141 134
Situação financeira
Saldo da gerência 2017 161.434,04€
Saldo da gerência 2018 302.055,16€
Cativo projetos em 2019 121.810,89€
Confrades falecidos
Sr. Alexandre Franco Rufo, pintor amador (31de
dezembro de 2016)
Dr. António Gomes da Costa, presidente do Real
Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro (9
de maio de 2017);
Eng.º José Alberto Querido Loureiro (20 de julho
de 2018);
Comendador Fernando de Lima Pinho Fernan-
des (30 de setembro de 2018).
Sócios retirados dos ativos
68, 113, 170, 172, 177, 178, 179, 322, 323, 327,
342, 343
Atividades da ASCR-CQ
Reuniões dos corpos gerentes: reunião mensal
da direção; Março 06: reunião do conselho fiscal;
idem, 14: assembleia geral ordinária no Solar Con-
des de Resende.
Relatório de atividades em 2018 da associação Amigos
do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana
Projeto de investigadores-tarefeiros, cele -
brado entre a Câmara Municipal de Vila Nova de
Gaia e a ASCR-CQ para trabalharem no levanta-
mento do Património Cultural de Gaia (PACUG), na
investigação histórica sobre o Município e a região
envolvente e no apoio às atividades de abertura
do Solar a partir das 17,30 até às 19 horas e sába-
dos, domingos e feriados entre as 9 e as 19 horas,
incluindo visitas guiadas e atendimento e informa-
ção aos munícipes.
Projeto de levantamento, estudo e divulga-
ção do Património Cultural de Gaia (PACUG) ce -
lebrado entre a Câmara Municipal de Vila Nova de
Gaia e a ASCR-CQ (Gabinete de História, Arqueolo-
gia e Património, GHAP) para a produção e edição
de dez volumes; Fevereiro, sexta-feira 23: reunião
com o Professor Doutor Rio Fernandes; Março, quin-
ta 15: reunião com a Doutora Carmem Abreu sobre
Património Literário de Gaia; Julho, sexta-feira 13,
reunião com o presidente da Câmara Municipal de
Vila Nova de Gaia.
Parceria com a Escola de Música de Perosi-
nho no projeto «Atlânticos – Música e Língua... Um
Património Comum» em colaboração com a IESA
(Paralaia de Moaña, Galiza) e o Colégio Na La Salle
(La Laguna, Tenerife) em Espanha.
Atividades regulares no Solar Condes de Re-
sende ao abrigo do Protocolo com a Câmara Mu-
nicipal de Vila Nova de Gaia:
Gestão do bar e de parte da loja de venda de
livros e outros, nomeadamente as edições e pro -
duções da ASCR-CQ.
Feira das Novidades: todos os meses, no 1.º
domingo de cada mês, exceto no dia 01 de Abril,
que mudou para 25 de março (Dia de Ramos), e no
dia 4 de novembro, que mudou para 11 (Feira de S.
Martinho), esta última em colaboração com a Junta
de Freguesia de Canelas.

69
Oficina de Pintura: sob a direção da Prof.ª
Pintora Paula Alves, uma vez por semana.
Eça Bem Dito: grupo coral que interpreta can-
ções do tempo de Eça de Queirós, com a pianista
Maria João Ventura, contrabaixista João Santos,
vozes de J. A. Gonçalves Guimarães e Valença Ca-
bral; ensaios uma vez por semana e atuação na
Feira de S. Martinho e no Capítulo.
Salon d`Automne queirosiano 2018, salão
de Artes Plásticas dos sócios e outros: inaugura-
ção a 10 de novembro, aberto ao público até 31
de dezembro.
Capítulo da Confraria Queirosiana (16.º), dia
24 de novembro: comemoração do 173.º aniversá-
rio de Eça de Queirós e dos 130 anos da 1.ª edição
de Os Maias e insigniação de confrades de honra
e de número.
Jantar de Natal – sexta-feira 14 de dezembro,
dos funcionários do Solar, dos dirigentes, funcio-
nária e tarefeiros da ASCR-CQ, com a presença da
vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Vila
Nova de Gaia, Eng.ª Paula Carvalhal;
Colaboração na permuta de publicações do
Centro de Documentação do Solar Condes de Re-
sende, com a oferta de publicações para tal.
Palestra das últimas quintas-feiras do mês,
organizadas elo Gabinete de História, Arqueo-
logia e Património em colaboração com o So-
lar Condes de Resende: Janeiro, quinta-feira, dia
25, palestra por J. A. Gonçalves Guimarães, sobre
«Toponímia Gaiense: introdução ao seu estudo»;
Fevereiro, quinta-feira, dia 22, palestra por J. A.
Gonçalves Guimarães sobre «Portucale entre os
Suevos e Visigodos»; Março, quinta-feira 29, pa-
lestra por J. A. Gonçalves Guimarães intitulada «A
propósito de “Feiras Medievais”: História e recria-
ção»; Abril, quinta-feira 26: palestra por Sérgio
Veludo Coelho sobre «As Fortificações do Cerco
do Porto em Gaia»; Maio, quinta-feira 24: palestra
por J. A. Gonçalves Guimarães sobre «O Museu
da Universidade de Manchester e as Coleções
Oitocentistas»; Junho, quinta-feira 28: devido à
presença da direção nas comemorações do Dia
do Município de Gaia, a palestra transitou para
Julho; Julho, quinta-feira 05: palestra por André
Macedo sobre «A necrópole romana do Monte
do Sameiro em Valadares»; quinta-feira 26: pales-
tra por Paulo Costa sobre «Os forais medievais de
Vila Nova de Gaia»; Agosto, quinta-feira 30: pales-
tra por Rui Ferreira sobre «A Coleção de Armas de
Fogo da Coleção Marciano Azuaga»; Setembro,
quinta-feira 27: palestra por J. A. Gonçalves Gui-
marães sobre «O Marechal Duque de Saldanha:
Ele poderia ter sido um rei»; Outubro, quinta-feira
25: palestra por António Manuel S. P. Silva sobre
«Os 150 anos do Torne: uma evocação histórica»;
Novembro, quinta-feira 29: palestra por J. A. Gon-
çalves Guimarães sobre «Atravessamentos do rio
Douro antes das pontes»; Dezembro, quinta-feira
27: palestra por Adrião Pereira da Cunha sobre
«Humberto Delgado no Portugal de Salazar».
Cursos livres organizados pela
Academia Eça de Queirós em
colaboração com o Solar Condes
de Resende
– Curso livre sobre «Património Cultural de
Gaia», certificado pelo Centro de Formação de As-
sociação de Escolas Gaia Nascente do Ministério da
Educação, coordenado por J. A. Gonçalves Guima-
rães, aos sábados entre as 15 e as 17 horas (conti-
nuação): Janeiro, sábado, dia 6: quinta aula por J. A.
Gonçalves Guimarães, sobre «Património do Mundo
em Gaia»; sábado dia 27: sexta aula por Francisco
Barbosa da Costa, sobre «Património Institucional
em Gaia»; Fevereiro, sábado 03: sétima aula sobre
«Património Humano. Personalidades Gaienses»,
por Gonçalo de Vasconcelos e Sousa; sábado 17: oi-
tava aula sobre «Património Edificado de Gaia» por
Nuno Resende; Março, sábado 03: nona aula sobre
«Património Artístico», por José Manuel Tedim; sá-
bado 17: décima aula do curso sobre «Património
Gaiense no Mundo» por Francisco Queiroz; Abril,
sábado 07: décima primeira sobre «Património Et-
nográfico e Imaterial», por Teresa Soeiro; sábado 21:
penúltima aula sobre «Património do Século XX»,
por José A. Rio Fernandes; Maio, sábado 05: ultima
aula do curso sobre «Legislação do Património», por
Carlos Medeiros.
– Ação de formação sobre «Genealogia e Histó-
ria da Família – descubra os seus octavós» pelo Prof.
Doutor Francisco Queiroz, março, sexta-feira e sába-
do, 16 e 17;

70
– Curso livre sobre «Música & Músicos: aspetos
do Património Musical Português», certificado pelo
Centro de Formação de Associação de Escolas Gaia
Nascente do Ministério da Educação, coordenado
por J. A. Gonçalves Guimarães, aos sábados entre as
15 e as 17 horas (1.ª parte): Outubro, sábado 27: aber-
tura com uma lição sobre «Sociologia da Música» por
Eduardo Vítor Rodrigues; Novembro, sábado 10: se-
gunda sessão sobre «Os órgãos ibéricos: instrumen-
tos, textos e contextos no Noroeste português» por
Elisa Lessa; sábado 17: terceira sessão sobre «Musica
e ritual nas cerimónias fúnebres luso-brasileiras – Sé-
culos XVIII e XIX» por Rodrigo Teodoro; Dezembro,
sábado 15: quarta sessão sobre «Os Músicos Napo-
leão» por J. A. Gonçalves Guimarães.
Outras atividades pontuais
realizadas pela ASCR-CQ no Solar
Condes de Resende
Abril, sábado 14: acolhimento da assembleia
geral anual da Federação dos Amigos dos Museus
de Portugal (FAMP) na qual a ASCR-CQ está filiada
e entrega do prémio Reynaldo dos Santos; quar-
ta-feira 18: colaboração no Dia Internacional dos
Monumentos e Sítios; Maio, sábado 19: 4.º Capí-
tulo Extraordinário de homenagem a J. Rentes de
Carvalho, insigniação como confrades de honra de
Francisco José Viegas e Hélder de Carvalho e des-
cerramento do busto em bronze do escritor da au-
toria de Hélder de Carvalho; Setembro, sábado 29:
colaboração no programa das Jornadas Europeias
do Património organizadas no Solar Condes de Re-
sende sob o tema «Partilhar memórias – memórias
de Gaia e do Mundo», onde foram palestrantes J.
A. Gonçalves Guimarães sobre «As diversas mani-
festações das memórias»; Susana Guimarães sobre
«Memória da água da Nascente de S. Mamede per-
tencente ao Solar Condes de Resende»; e Susana
Moncóvio sobre «Partilhar Memórias: a Empresa
Artística Teixeira Lopes».
Presença da ASCR-CQ em atividades
de outras instituições
Janeiro, terça-feira 02. Concerto de piano na
Casa da Música por Daniel Cunha com obras de
Alfredo Napoleão; sexta-feira 05, concerto de
Ano Novo no Auditório Municipal de Gaia; sába-
do, 20: presença na sessão solene das comemo-
rações do Foral de Gaia de 1518 no Arquivo Mu-
nicipal de Gaia, com conferência pelo Professor
Doutor Francisco Ribeiro da Silva; terça-feira 30:
palestra por J. A. Gonçalves Guimarães no IEFP,
Vila Nova de Gaia, sobre projeto turístico-cultu-
ral sobre a Broa de Avintes para formandos desse
Centro de Formação. Fevereiro, quinta-feira 01 e
sexta-feira 02: presença de vários confrades no
14.º Encuentro Internacional de Cofradias Gas-
tronomicas y Enófilas em Ourense (Galiza, Espa-
nha); visita à Exposição In Tempore Sueborum. El
tiempo de los Suevos en la Gallaecia onde estavam
expostas quatro peças depositadas no Solar Con-
des de Resende provenientes das escavações ar-
queológicas do Gabinete de História, Arqueolo-
gia e Património (GHAP, ASCR-CQ) no Castelo de
Gaia (3) e do Castelo de Crestuma (1); visita ao
Museu Marítimo de Vigo; sábado 05: presença no
106.º aniversário do Centro Recreativo de Mafa-
mude; sexta-feira 08: reunião com a vereadora
do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de
Vila Nova de Gaia para a organização do cortejo
comemorativo do Foral de Gaia de 1518 a realizar
no dia 30 de junho; sexta-feira 16: participação
em visita à Companhia de Fiação de Crestuma
com o Arq.
to
Daniel Couto

da Gaiurb e com o Prof.
Arq.
to
Domingos Tavares para conhecimento da
história do complexo e da sua reabilitação, tendo
estado também presente o Prof. Dr. António Ma-
nuel S. P. Silva do GHAP-ASCR-CQ, para avaliação
do interesse arqueológico de edifício a ser recu-
perado; sábado 20: presença na abertura da ex-
posição de escultura e pintura «O meu Olhar» de
António Pinto e outro, na Biblioteca Municipal de
Gaia; presença no Forum Avintense de J. A. Gon-
çalves Guimarães com a comunicação «Morado-
res de Avintes no século XVI: a propósito do foral
de Gaia de 1518»; sexta-feira, 23: participação no
2.º Encontro INOVAR – «Roteiros da inovação pe-
dagógica: escolas e experiências de referência
em Portugal no século XX» na Faculdade de Le-
tras da Universidade do Porto, onde foram ora-
dores, entre outros, entre outros, Eva Baptista
sobre «O papel educativo da Associação de Cre-
ches de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia» e José
António Afonso sobre «A presença do protestan-
tismo em Vila Nova de Gaia: das Escolas ao Asso-

71
ciativismo (1868-2015)»; segunda-feira 26: pales-
tra no Colégio da Bonança com uma palestra
sobre «A linguagem do Foral Manuelino de Vila
Nova de Gaia (1518): 500 anos de História»; terça-
-feira 27: palestra no Agrupamento de Escolas de
Canelas sobre «Feiras Medievais: origens, finali-
dades e evolução». Março, quinta a sábado 01 a
03: presença em Manchester do mesário-mor J.
A. Gonçalves Guimarães integrado numa missão
cultural e comercial da Quinta da Boeira e de vá-
rias confrarias portuguesas, tendo feito uma pa-
lestra sobre a Expansão Portuguesa e as embar-
cações históricas no Midland Hotel; sábado, 24:
presença na abertura da exposição de artes plás-
ticas inspiradas no Foral de Gaia de 1518 organi-
zada no Auditório Municipal pelos Artistas de
Gaia. Abril, terça 03: a ASCR-CQ integra uma de-
legação da Câmara Municipal de Vila Nova de
Gaia que se desloca a Estevais do Mogadouro
para convidar o escritor J. Rentes de Carvalho
para ser homenageado pelos seus 50 anos de
vida literária nos próximos dias 18,19 e 20 de
maio na terra onde nasceu; sábado 14: presença
de vários sócios e confrades na Biblioteca Almei-
da Garrett no Porto na 65.ª edição de «Porto de
Encontro» promovido pela Porto Editora, com a
participação do escritor J. Rentes de Carvalho;
quarta-feira 18: palestra por J. A. Gonçalves Gui-
marães nas instalações da Stella Maris na Foz do
Douro, organizada pela União de Freguesias de
Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, com a colabo-
ração da Universidade Portucalense Infante D.
Henrique e outras entidades, sobre o «Marechal
Duque de Saldanha: “Ele poderia ter sido um
rei”»; sexta-feira, 20: palestra idem sobre «Gaia?
Vila Nova? Vila Nova de Gaia? A história local con-
tada através dos forais», na Escola Secundária Al-
meida Garrett, a propósito dos 500 anos do foral
manuelino de Vila Nova de Gaia; sexta-feira, 27:
presença de J. A. Gonçalves Guimarães com Licí-
nio Santos e Olga Cavaleiro da FPCG na Escola de
Hotelaria de Viana do Castelo onde o primeiro
falou sobre «Gastronomia e Enofilia queirosia-
nas» para alunos e professores; sábado, 28: pre-
sença de vários dirigentes e sócios no Encontro
Associativo de Gaia que se realizou no Parque
Biológico de Gaia, organizado pela Câmara Mu-
nicipal de Vila Nova de Gaia. Maio, quinta-feira
03: presença da ASCR-CQ na conferência de im-
prensa sobre o Dia da Gastronomia a promover
pela Federação Portuguesa das Confrarias Gas-
tronómicas e pela Câmara Municipal no cais de
Vila Nova de Gaia nos próximos dias 26 e 27 de
maio, realizada no Mosteiro de Corpus Christi;
sexta-feira 04: presença na abertura da exposi-
ção sobre o escritor J. Rentes de Carvalho na Bi-
blioteca Municipal de Gaia, tendo J. A. Gonçalves
Guimarães falado sobre a sua vida e obra; sexta-
-feira 11: presença de em reunião da APHVIN-
-GEHVID para acerto de colaboração sobre a His-
tória do Vinho em Vila Nova de Gaia; sábado 12:
presença no capítulo da Ordem dos Companhei-
ros de S. Vicente, Confraria dos Vinhos de Portu-
gal, na Quinta do Boeira, com a presença da Fe-
deração Portuguesa das Confrarias Gastronómicas;
sexta-feira 18: presença na homenagem da Câ-
mara Municipal ao escritor J. Rentes de Carvalho
na Casa Museu Teixeira Lopes e no Auditório Mu-
nicipal de Vila Nova de Gaia; sábado e domingo,
26 e 27: presença nas comemorações do Dia da
Gastronomia com pavilhão próprio para venda
de livros, vinho do porto e divulgação da Confra-
ria no Cais de Vila Nova de Gaia; Junho, sábado
02, participação do presidente da direção José
Manuel Tedim no capítulo da Confraria do Pão,
da Regueifa e do Biscoito de Valongo; domingo
03: participação de vários elementos dos corpos
gerentes da Confraria Queirosiana na comemo-
ração do Dia Nacional de Itália que se realizou na
Pousada do Freixo, organizada pelo Consulado
Honorário do Porto e pela Associazione Socio-
-Culturale Italiana del Portogallo Dante Alighieri;
terça-feira 05: presença na homenagem a A.
Campos Matos, coordenador do Dicionário de
Eça de Queiroz, na passagem do seu 90.º aniver-
sário, a qual teve lugar na Biblioteca Nacional de
Portugal, Lisboa; quinta-feira 07, presença na ho-
menagem a Manuel de Novaes Cabral na Árvore
– Cooperativa de Actividades Artísticas, C. R. L.
do Porto; sexta-feira 08: participação de J. A.
Gonçalves Guimarães no II.º Encontro Nacional
sobre Literaturismo, na Fortaleza de S. João da
Foz, Porto, organizado pela União de Freguesias
de Aldoar, Foz e Nevogilde, com uma comunica-
ção sobre «O Roteiro queirosiano do Alentejo» e
de Manuel Novais Cabral sobre «O Vinho do Por-
to e a Literatura», além de outros confrades; sá-
bado 09: presença daquele mesmo dirigente na

72
Fortaleza de S. João da Foz no mesmo encontro
num painel sobre Literatura, Turismo e Gastrono-
mia; sábado 16: palestra por J. A. Gonçalves Gui-
marães sobre «A Música e os Músicos na vida e
obra de Teixeira Lopes» antes da atuação do Trio
Vermeer de Amsterdam na Casa Museu Teixeira
Lopes, integrada no «5.º festival Internacional de
Música de Gaia», organizado pelo Conservatório
Regional de Gaia; sexta-feira e sábado, 22 e 23:
participação de vários sócios e confrades no II
World Heritage Congress – Steel Bridges of Large
Arch, organizado pelas câmaras municipais de
Gaia (Gaiurb) e do Porto, onde J. A. Gonçalves
Guimarães apresentou uma comunicação sobre
«Atravessamentos antigos do Rio Douro antes
das pontes» e Hélder de Carvalho um busto de
Edgar Cardoso; quinta-feira 28: presença de vá-
rios sócios e confrades no salão nobre da Câmara
Municipal de Vila Nova de Gaia nas comemora-
ções do Dia do Município onde J. A. Gonçalves
Guimarães apresentou o livro comemorativo do
Foral de 1518 com colaboração de vários deles;
sábado 30: delegação da Confraria Queirosiana
presente no Cortejo Comemorativo do Foral de
1518 e respetiva recreação histórica na Praça do
Centro Cívico e Gaia; uma outra delegação pre-
sente no aniversário do jornal As Artes Entre As
Letras; sábado 30 e domingo 1 de Julho, visitas
guiadas ao edifício da Câmara Municipal de Gaia
integrado no Open House Porto 2018 por J. A.
Gonçalves Guimarães; terça-feira 03: uma dele-
gação da Confraria Queirosiana, juntamente com
elementos do Pelouro da Cultura da Câmara Mu-
nicipal de Gaia deslocou-se a Estevais do Moga-
douro para agradecer ao escritor J. Rentes de
Carvalho a sua participação no ciclo de ativida-
des que lhe foram dedicadas em Vila Nova de
Gaia no passado mês de Maio; quinta-feira 19: no
lançamento do n.º 6 da revista Douro Vinho, His -
tória & Património. Wine, History and Heritage,
editada pela APHVIN/GEHVID no Instituto do Vi-
nho do Douro e Porto, no Porto; Agosto, sexta-
-feira 17: visita de delegação da Confraria à aber-
tura da Feira de Gastromomia de Vila do Conde;
Setembro, segunda-feira 10: presença de uma
delegação da Confraria Queirosiana no Port Wine
Day na LIT no Cais de Gaia; Outubro, terça-feira,
02: apoio à equipa de aderecistas e caraterização
da serie televisiva «O nosso cônsul em Havana»
(Eça de Queirós) realizada por Francisco Manso
para a RTP, sobre trajos, penteados e adereços da
época, que está a ser filmada em Penafiel; sexta-
-feira 05: presença de dirigentes da Confraria
Queirosiana, coordenadores e autores no salão
nobre da Câmara Municipal de Gaia para o lança-
mento do primeiro volume do PACUG, Patrimó -
nio Humano. Personalidades Gaienses, coordena-
do por J. A. Gonçalves Guimarães e Gonçalo de
Vasconcelos e Sousa, organizado pelo Gabinete
de História, Arqueologia e Património da Confra-
ria Queirosiana e editado pela autarquia em ses-
são presidida pelo presidente da Câmara Munici-
pal de Vila Nova de Gaia; às 18 horas presença no
lançamento do livro e do filme “Tongobriga” de
António Manuel de Carvalho Lima na Casa das
Artes no Porto; sábado 06 visita guiada à igreja
de Vilar do Paraíso para a associação Amigos de
Gaia por José Manuel Tedim; domingo 07: pre-
sença de membros da direção na homenagem a
A. Silva Fernandes, presidente da Associação dos
Amigos de Pereiros, S. João da Pesqueira e lança-
mento do seu livro Singularidades da Aldeia; sex -
ta-feira 12: presença de J. A. Gonçalves Guima-
rães e Susana Moncóvio na assembleia geral da
Federação Portuguesa das Confrarias Gastronó-
micas em Mira; sábado 20: no encerramento da
exposição sobre os 150 anos da Igreja e Escola do
Torne no Arquivo Municipal; quinta-feira 29, no
lançamento do livro Humberto Delgado no Portu-
gal de Salazar, de Adrião Pereira da Cunha, na
Fundação Engenheiro António de Almeida; No-
vembro, sexta-feira 16: participação no Colóquio
sobre o centenário da Grande Guerra no Arquivo
Municipal de Gaia, organizado pelo CITCEM, com
as seguintes comunicações, além de outras: «A
participação de Portugal na Grande Guerra: a es-
calada através dos documentos oficiais», por Jor-
ge Fernandes Alves, e «A “Escola de Escultura de
Gaia” e os Monumentos aos Mortos da Grande
Guerra (1914-1918) em Portugal, França e Ango-
la» por J. A. Gonçalves Guimarães; sexta e sábado
16 e 17, participação no Encontro Preservar a
Memória (i)material da Escola, na Escola Sá de
Miranda, Braga, com a comunicação «O Patrimó-
nio Educativo Edificado Gaiense», por José Antó-
nio Martin Moreno Afonso, Eva Baptista e outro;
terça-feira 20: presença de vários dirigentes na
conferência sobre «A Vida e Obra do Escultor Ro-

73
dolfo Pinto do Couto (1888-1945)» proferida pelo
colaborador do PACUG, Doutor José Francisco Al-
ves, na Casa Museu Teixeira Lopes; quarta-feira
28: presença mesário-mor e do confrade Dias
Costa no almoço queirosiano promovido pelo
Agrupamento de Escolas Leonardo Coimbra Fi-
lho, do Porto, a propósito dos 130 anos da edição
de Os Maias;
Edições de textos da ASCR-CQ
em 2018 – em colaboração
­ – FERNANDES, A. Silva (2018) – Singularidades
e Curiosidades da Aldeia (devidamente desordena-
das). S. João da Pesqueira: Associação dos Amigos
de Pereiros;
­ – GUIMARÃES, J. A. Gonçalves, texto e coorde-
nação (2018) – página Eça & Outras, no jornal As
Artes Entre As Letras, direção de Nassalete Miran-
da, mensal;
­ – GUIMARÃES, J. A. Gonçalves, coord. técnica
(2018) – O Foral Manuelino de Vila Nova de Gaya
1518-2018, com a colaboração de GUIMARÃES,
Susana­– The Charter of Vila Nova de Gaia 1518: sig-
nificance and range, p. 12-15; SILVA, Francisco Ribei-
ro da – O Foral Manuelino de Vila Nova de Gala e a
complementaridade fiscal e económica das duas mar-
gens, p. 16-36; BARROS, Amândio J. M. – Vila Nova
de Gaia. Os forais, o rio e o mar, p. 38-60, Vila Nova de
Gaia: Câmara Municipal;
­ – GUIMARÅES, J. A. Gonçalves; SOUSA, Gonça-
lo de Vasconcelos e, coordenadores e co-autores
(2018) ­– Património Humano. Personalidades Gaien-
ses. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal/ ASCR –
Confraria Queirosiana.
Edições próprias de textos
­ – ARAÚJO, Luís Manuel de; GUIMARÃES, J. A.
Gonçalves; TEDIM, José Manuel, direção e co-dire-
ção (2018) – Revista de Portugal, n.° 15.
­ – GUIMARAES, J. A. Gonçalves, editorial e coor-
denação (2018) – blogue Eça & Outras, ao dia 25 de
cada mês.
­ – TEIXEIRA, Maria de Fátima, org. (2018) – Salon
d’ Automne Queirosiano 2018. Vila Nova de Gaia:
ASCR– Confraria Queirosiana.
Aquisição de obras de Arte pela
ASCR-CQ
­ – Busto do escritor J. Rentes de Carvalho em
bronze, e respetivo plinto, da autoria do escultor
Hélder de Carvalho, para ficar em exposição no
átrio do auditório do Solar Condes de Resende.
Exposições
Maio, sábado 19: exposição “J. Rentes de Car-
valho. Vila Nova de Gala, 1930” no Solar Condes de
Resende com o espólio do escritor depositado na
Confraria Queirosiana; Novembro, sábado 10: 13.º
Salon d’Automne Queirosiano, que apresenta pin-
tura, desenho, escultura e cerâmica dos sócios e
do curso de Pintura da Confraria Queirosiana que
decorre no Solar; sábado 24: apresentação da ex-
posição Ephemera da mesa: menus e outros docu-
mentos em Portugal e na Europa 1850 – 2018 pelo
Professor Doutor Gonçalo de Vasconcelos e Sousa,
no Solar Condes de Resende.
Projetos de investigação que
decorrem no Solar Condes
de Resende com o apoio
da ASCR-CQ (GHAP e AEQ)
Associativismo, mutualismo e cooperativismo
em Vila Nova de Gaia; Barra do Douro e o Brasil;
Castelo de Crestuma; Castelos medievais segun-
do o Cartulário Baio-Ferrado; Centro Histórico de
Gaia: História, Arqueologia e Patrimônio; Coleção
Marciano Azuaga; Eça de Queirós e o Caminho-
-de-Ferro; Ensino em Vila Nova de Gaia; Espadas
e sabres militares da Coleção Marciano Azuaga;
Fábrica de Cerâmica Pereira Valente; Fábrica de
Material de Guerra da Companhia Geral da Agri-
cultura das Vinhas do Alto Douro, Lever; Grupo
Musical Lealdade e Mérito dos Carvalhos, Vila
Nova de Gaia; História Naval do Noroeste de Por-
tugal; Hóquei em patins em Gaia e em Portugal;
Hotelaria em Sintra; Indústria Têxtil em Gaia; In-
dustrialização de Gaia no século XVIII; J. Rentes
de Carvalho, vida e obra; Monumentos aos Mor-
tos da Grande Guerra; Movimento Socialista no
Concelho de Gaia em finais do século XIX e inícios
do século XX (18931928); Museus e Coleções do

74
século XIX; Música e Músicos de Gaia; Necrópole
do Sameiro, Valadares; Núcleo de Arte Sacra cris-
tã do Solar; Patrimônio Cultural de Vila Nova de
Gaia (PACUG): Património de Gaia no Mundo / Do
Mundo em Gaia; Patrimônio de Gaia século XX;
Produção vinícola gaiense no século XIX; Profes-
sora Dr.ª Júlia Castro, discípula de Teófilo Braga,
vida e obra; Quinta de Mafamude; Rua Rei Ramiro
no Castelo de Gala; Ruinas paleocristãs do Bom
Jesus de Gaia; Sigillatas da estação arqueológica
de Ervamoira, Vale do Côa; Sigillatas tardias e ce-
râmicas cinzentas tardias da Igreja do Bom Jesus
de Gaia; Travessias do Rio Douro antes da existên-
cia de pontes; Visconde de Beire, biografia.
Doações e depósitos de peças e
espólios na Confraria Queirosiana
Janeiro, sábado 6: pelo Dr. Marcus Vinícius
Cocentino Fernandes oferta de livros para o es-
pólio da Dr.ª Júlia Cunha, discípula de Teófilo
Braga; terça 9: depósito de imagem antiga de S.
Gonçalo pelos Mareantes do Rio Douro; Dossiê
do Fundo de Fomento Mineiro, secção de Valon-
go, escala 1/100, 1963, pelo Eng.º João José Ro-
seira; Fevereiro, quarta-feira 06: oferta do livro O
Fydias Peregrino. Nicolau Chanterene e a Escultura
Europeia do Renascimento, pelo Prof, Doutor José
Manuel Tedm; ao longo do mês: oferta de grande
quantidade de livros para a Feira de Trocas Leva
& Trás pelo Eng.
º
João José Roseira, alguns dos
quais completaram o acervo da Confraria Quei-
rosiana; Maio sábado; oferta de dois quadros
a óleo da autoria de Adélio Martins evocativos
da infância de J. Rentes de Carvalho no Monte
dos Judeus, Vila Nova de Gaia; Junho, oferta de
quadro a óleo de Alexandre Rufo, representan-
do uma paisagem da Madeira; Julho, oferta de
uma espingarda de caça Tower (século. XIX) e
10 videocassetes com entrevistas, programas de
televisão e exposições sobre a vida e obra do es-
critor gaiense J. Rentes de Carvalho, gravadas na
Holanda e em Portugal, adicionadas ao seu es-
pólio depositado na Confraria Queirosiana; ofer-
ta pela empresa Urbiface de um novo painel pu-
blicitário da Feira das Novidades; Agosto, oferta
pelo Dr. Joaquim Armindo Pinto de Almeida do
seu arquivo pessoal sobre a associação Jovens
do Torne e bibliografia e documentos dos anos
sessenta do século passado; Novembro: patrocí-
nio da Revista de Portugal pelo escultor Hélder
de Carvalho e pela Urbiface; patrocínio do catá-
logo do Salon d’ Automne pela Disnoral; Dezem-
bro: oferta pelo canteiro-ornatista Sr. António
Pinto de uma escultura em pedra de xisto sua
autoria, 30x20x10, cujo preço considerado para
venda ao público foi de 650 €, intitulada Justiça.
Funcionários, tarefeiros
e voluntariado
Maria de Fátima Teixeira, licenciada em Ciên-
cias Históricas – Ramo Património, mestre em
História Contemporânea; tarefeira no Solar Con-
des de Resende desde março de 2005; técnica
superior de História contratada pela Confraria
Queirosiana desde janeiro de 2016, funcionária
da ASCR-CQ a tempo inteiro a trabalhar no PA-
CUG durante o ano de 2018 e ainda no apoio às
atividades e abertura do Solar Condes de Resen-
de a partir das 17,30, sábados, domingos e feria-
dos; tarefeiros por turnos em apoio às mesmas
tarefas: Eva Cristina Ventura Baptista, licenciada
em Ciências Históricas – Ramo Património, dou-
toranda em História Contemporânea, tarefeira no
Solar Condes de Resende desde março de 2005,
técnica superior de História contratada pela Con-
fraria Queirosiana entre janeiro 2016 e dezembro
de 2017; Licínio Manuel Moreira Santos, licen-
ciado em História, mestre em História Contem-
porânea, doutorando em História Contemporâ-
nea, tarefeiro no Solar Condes de Resende desde
2012; técnico superior de História contratado
pela Confraria Queirosiana entre janeiro de 2016
e dezembro de 2017; João Santos, licenciado em
História da Arte, cantor e músico no coro do So-
lar (Eça Bem Dito); Joaquim Ramos, licenciado em
Arqueologia, mestre em Arqueologia, ex-estagiá-
rio pela FLUP no Solar Condes de Resende; João
Silva, licenciado e mestre em História pela FLUP,
desde Outubro de 2018. Voluntariado: apoio gra-
cioso por parte de vários associados às atividades
da ASCR-CQ no Solar Condes de Resende e em
programas noutros locais.

75
Cooperação direta com
outras entidades
Academia das Coletividades do Distrito do
Porto; Academia de Dança Gente Gira; Agrupa-
mento de Escolas de Canelas, Vila Nova de Gaia;
Águas de Gaia; Arquivo Histórico Adriano Ramos
Pinto, Vila Nova de Gaia; Arquivo Histórico da
Casa Ferreira/Sogrape, Vila Nova de Gaia; Arqui-
vo Histórico Militar, Lisboa; Arquivo Histórico Ul-
tramarino, Lisboa; Arquivo Municipal Sophia de
Mello Breyner, Vila Nova de Gaia; Associação das
Creches de Santa Marinha; Associação de Ami-
gos de Pereiros, S. João da Pesqueira; Associação
de Amizade Portugal-Egipto; Associação Portu-
guesa de História da Vinha e do Vinho APHVIN/
GEHVID; Associazione Socio-Culturale Italiana
del Portogallo Dante Alighieri; Auditórios Muni-
cipais de Gaia; BAD – Associação Portuguesa de
Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas;
Barão de Saavedra, 5.º, Rio de Janeiro; Biblioteca
Municipal de Vila Nova de Gaia; Biblioteca Nacio-
nal de Portugal, Lisboa; Câmara Municipal de Vila
do Conde; Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia;
Casa da Companhia, Paço de Sousa, Penafiel; Ca-
sa-Museu Teixeira Lopes, Vila Nova de Gaia; Cen-
tro de Formação de Associação de Escolas Gaia
Nascente; Cerâmica do Douro, Vila Nova de Gaia;
CITCEM/FLUP; Colégio da Bonança, Vila Nova de
Gaia; Companhia de Fiação de Crestuma/Sudan-
tax, Lever; Confrarias da Sopa do Vidreiro, Ma-
rinha Grande; Confraria do Anho com Arroz de
Forno, Marco de Canaveses; Confraria dos Nabos
e Companhia, Mira; Confraria dos Ovos Moles de
Aveiro; Confraria dos Rojões da Bairrada, Oliveira
do Bairro; Confraria dos Sabores de Sintra; Con-
servatório Regional de Música de Gaia; Damião
Vellozo Ferreira, Dr.; Dionísio Alves Pereira, Dr.;
Direção Geral do Património Cultural; Divisão de
Turismo da C.M. Gaia; Divisão Municipal de Ar-
quivo Histórico – Casa do Infante, Porto; Edições
Afrontamento; Escola Artística Soares dos Reis,
Porto; Escola de Hotelaria de Viana do Castelo;
Escola de Música de Perosinho; Escola EB 2/3 de
Canelas; Escola Secundária Almeida Garrett, Vila
Nova de Gaia; Escola Secundária Diogo de Mace-
do, Vila Nova de Gaia; Faculdade de Ciências So-
ciais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa;
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa;
Faculdade de Letras da Universidade do Porto;
Família de António de Azevedo Lima; Família de
António Pereira da Costa, Amapá, Brasil; Famí-
lia de Avelino Monteiro; Família Eça de Queiroz
Cabral; Família Löfgren Rodrigues; Família Ola-
zabal; Federação das Coletividades de Vila Nova
de Gaia; Federação das Confrarias Báquicas de
Portugal; Federação dos Amigos dos Museus de
Portugal (FAMP); Federação Portuguesa das Con-
frarias Gastronómicas (FPCG); Fundação Bibliote-
ca Nacional, Rio de Janeiro; Fundação Campo Be-
llo; Fundação Instituto Marques da Silva, Porto;
Fundação Padre Luís, Vila Nova de Gaia; GAIURB,
Vila Nova de Gaia; Gertal; Igreja Lusitana e Esco-
la do Torne; Instituto dos Vinhos do Douro e do
Porto; Instituto Politécnico do Porto; Joana Sofia
Leal da Silva, Prof.
a
Engenheira; Jornal As Artes
entre as Letras; Jornal O Gaiense; Jornal Terras de
Gaia; José Carvalhais, Arq.
to
; José Filipe Amaral; J.
Rentes de Carvalho; Junta de Freguesia de Avin-
tes, Vila Nova de Gaia; Junta de Freguesia de Ca-
nelas, Vila Nova de Gaia; Junta de Freguesia de
Milheirós de Poiares, Santa Maria da Feira; Liga
das Associações de Socorro Mútuo de Vila Nova
de Gaia; Mareantes do Rio Douro; Maria Filome-
na Alpendurada, D.; Maria Gabriela Oliveira, Dr.ª;
Maria Luísa de Castro de Mendia, D.; Mário M. J.
Marques; Miguel Castro Silva, Chefe; Mosteiro de
Corpus Christi; Museu de História da Medicina
“Maximiano Lemos” da Faculdade de Medicina
da Universidade do Porto; Museu Nacional de
Arte Antiga, Lisboa; Museu Nacional de Soares
dos Reis, Porto; Pedro Davies de Castro e Silva,
Dr.; Omnisinal, Porto; Professor Doutor Gonçalo
de Vasconcelos e Sousa; Quinta de Villar d’Allen;
Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Gaia;
Santa Casa da Misericórdia do Porto; Sociedade
Eça de Queiroz, Recife, Brasil; Solar Condes de
Resende; União de Freguesias de Aldoar, Foz do
Douro e Nevogilde, Porto; Universidade do Por-
to, Reitoria; Universidade Portucalense Infante D.
Henrique; Venerável Ordem Terceira de S. Fran-
cisco, Porto; Urbiface.

76
Protocolos para a realização
de trabalhos profissionais
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia – proje-
to dos tarefeiros do Solar e projeto PACUG; GAIURB,
EM – acompanhamento arqueológico do Castelo
de Gaia.
Personalidades e instituições
distinguidas pela ASCR-CQ em 2018
Personalidades e instituições
distinguidas pela ASCR-CQ em 2018
Novos confrades insigniados no Capítulo de 2018
A Confraria Queirosiana integrou a Comissão
de Honra da recandidatura da Confraria do Doce de
Tentúgal à liderança da Federação Portuguesa das
Confrarias Gastronómicas e nomeou o confrade Li-
cínio Santos como delegado para os corpos gerentes
da Federação das Coletividades de Vila Nova de Gaia;
Nos capítulos realizados em 2019 (4.º Extraordi-
nário e 16.º Anual) foram insigniados os seguintes
confrades: de honra – grau mecenas: Eng.ª Paula
Carvalhal, vereadora da Cultura e da Programação
Cultural da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia;
Dr. Fernando Rui Morais Soares, economista (con-
frade efetivo); Dr. Francisco José Viegas, escritor e
editor; Escultor Hélder de Carvalho (sócio efetivo),
estatuário; Eng.º. Manuel Hipólito Almeida dos
Santos, administrador da Cerâmica do Douro (con-
frade efetivo); de honra – grau louvado: Prof. Dou-
tor António Barros Cardoso; historiador; presiden-
te da APHVIN/ GEHVID; confrade de número – grau
leitor: Dr. Amadeu António Ribeiro Pegas. O Prof.
Dr. J. Rentes de Carvalho, escritor, foi homenagea-
do com o seu busto em bronze para ficar presente
no Solar Condes de Resende.
Algumas presenças
na comunicação social
Todos os meses, dia 25 – «Eça & Outras», blogue
da Confraria Queirosiana, publicado no Jornal As
Artes Entre as Letras; Janeiro, quarta-feira 11 – As Ar -
tes Entre as Letras, p. 25, publicou uma notícia sobre
a Feira das Novidades e os cursos e palestras do So-
lar, situação que se repetiu ao longo dos restantes
números, sexta-feira 13, presença de J. A. Gonçal-
ves Guimarães num programa da RTP sobre a festa
de S. Gonçalo em Vila Nova de Gaia; Setembro – o
n.º 44 da revista Nona Arte, da FPCG publicou uma
entrevista com a Confraria Queirosiana com ilus-
trações sobre as suas atividades e publicações; No-
vembro, notícias sobre o capítulo da Confraria, dia
25: Jornal Terras de Gaia: «Preservação da memó -
ria gaiense está assegurada», por Joaquim Pedro
Santos, p. 5; Dezembro, sexta-feira 01 – «Confraria
Queirosiana celebrou Eça e apresentou dois livros»,
por Luiz Ferraz, O Gaiense, p. 16.
Dagoberto Caqrvalho Júnior da Sociedade Eça de Queiroz do Re-
cife. Brasil, discursando na mesa que presidiu ao capítulo de 2018
Aspetos mais relevantes de 2018
Para além das atividades estatutárias, tive-
ram especial relevo as seguintes: continuação das
ações para obter o estatuto de Instituição de Uti-
lidade Pública; realização de projetos na área do
Património; continuação dos trabalhos do PACUG

77
e preparação para edição de dois novos volumes;
edições: 1.º volume do PACUG, elaborado pelo Ga-
binete de História, Arqueologia e Património, com
o patrocínio da Câmara Municipal de Vila Nova de
Gaia, intitulado Património Humano. Personalida-
des Gaienses; página Eça & Outras (blogue) ao dia
25 de cada mês, também publicada no jornal As
Artes Entre As Letras; n.º 15 da Revista de Portugal;
organização de curso livre sobre Musicologia Por-
tuguesa; comemoração dos 130 anos da edição de
Os Maias.

Atividades previstas
para 2019 e seguintes
Participação em comemorações internacionais
e nacionais:
1 – Comemorações da primeira circum-nave-
gação por Fernão de Magalhães e dinamização das
relações queirosianas internacionais;
2 – Comemorações da Revolução Constitucio-
nal de 1820 – realização do curso livre «Revoluções
e Constituições» (2019-2020);
Programas por protocolos em continuidade
e outros
1 – Continuação do programa dos investigado-
res-tarefeiros do Solar
2 – Edição dos vol.
s
2 e 3 do PACUG; reformula-
ção das equipas dos volumes em elaboração.
3 – Acompanhamento de escavações arqueoló-
gicas no Castelo de Gaia para a GAIURB.
Programa organizativo
1 – Obtenção do Estatuto de Utilidade Pública;
2 – 17.º capítulo, 23 de novembro;
3 – Salon d’ Automne queirosiano 2019;
4 – Organização do Salon du Printemps;
5 – Roteiro Queirosiano do Egito colaboração);
6 – Dinamização da secção juvenil da ASCR-CQ.
Programa organizativo
1 – Obtenção do Estatuto de Utilidade Pública;
2 – 17.º capítulo, 23 de novembro;
3 – Salon d’ Automne queirosiano 2019;
4 – Organização do Salon du Printemps;
5 – Roteiro Queirosiano do Egito colaboração);
6 – Dinamização da secção juvenil da ASCR-CQ.
Participação da Confraria Queirosiana no Cortejo cívico como-
morativo dos 500 anos do Foral de Vila Nova de Gaia
Programas pedagógicos no Solar Condes de
Resende e outros locais
1 – Curso livre “Mùsica & Mùsicos: aspetos do Pa-
trimónio Musical Português (continuação);
2 – Curso livre sobre “Revoluções e Constituições”;
3 – Palestras das últimas quintas-feiras do mês;
4 – Curso de Pintura e outras expressões plásti-
cas no Solar Condes de Resende;
5 – Grupo cantante Éça Bem Dito;
6 – Palestras em escolas e outras instituições so-
bre Eça de Queirós e a Geração de 70.
Organizações sociais
1 – Feira das Novidades do Solar Condes de Re-
sende;
2 – Participação em outras feiras.
Presenças e representações
1 – Corpos gerentes da FCVNGaia;
2 – Participação nas atividades da FCGP;
3 – Participação nas atividades da FAMP.
Edições próprias e em colaboração
1 – Página do blogue Eça & Outras, republicada
no jornal As Artes Entre as Letras;
2 – Revista de Portugal n.º 16;
3 – Gaya, nova série, n.º 1;
4 – Edição comercial do livro do PACUG n.º 1;
5 – Edição dos volumes do PACUG n.º 2 e n.º 3.
6 – Edição do livro «Eça de Queirós e o Caminho-
-de-ferro» de Joana Ribeiro;
7 – Outras edições.
Relatório para aprovação na Assembleia Geral
Ordinária realizada no Solar Condes de Resende a
11 de março de 2019.

78
Atividades de alguns associados e homena-
gens públicas em 2018
Alfredo Campos Matos – Homenageado a 5 de
junho pela Biblioteca Nacional de Portugal com um
colóquio com vários interventores e uma exposição
antológica de objetos e documentos pessoais.
António Pinto – Exposição de esculturas em
mármore, granito e xisto (com a participação de
uma pintora), intitulada “O Meu Olhar”, que abriu ao
público no dia 17 de fevereiro na Biblioteca Pública
Municipal de Gaia.
Hélder de Carvalho – Autor do busto do escritor
J. Rentes de Carvalho, inaugurado no Solar Condes de
Resende a 19 de maio e de um busto de Alberto Ama-
ral, ex-reitor da Universidade do Porto, inaugurado na
respetiva Faculdade de Ciências a 29 de junho.
Isabel Pires de Lima – Comissária científica e
curadora da exposição «Tudo o que tenho no saco.
Eça e Os Maias», inaugurada a 29 de novembro, na
Fundação Calouste Gulbenkian, alusiva aos 130
anos da publicação de Os Maias.
José Rentes de Carvalho – Homenageado
pelo Município de Vila Nova de Gaia em Maio e pela
Confraria Queirosiana com uma exposição do seu
espólio, um capítulo extraordinário e inauguração
de um busto no Solar Condes de Resende, e capa e
textos no n.º 15 da Revista de Portugal.
Luís Manuel de Araújo – Guiou mais uma via-
gem cultural ao Egito faraónico de um grupo de
alunos e outros interessados, em boa parte seguin-
do o trajeto percorrido em 1869 por Eça de Queirós
e o Conde de Resende.
Manuel de Novaes Cabral – Agraciado com a
Medalha de Mérito Municipal de Vila Nova de Gaia
no dia 28 de junho na celebração do Dia do Municí-
pio no Auditório Municipal.
Manuel Hipólito Almeida dos Santos – À Obra
Vicentina de Auxílio aos Reclusos, de que é presi-
dente da direcção, foi atribuído o Prémio Direitos
Humanos 2018 atribuído pelo júri constituído no
âmbito da Comissão de Assuntos Constitucionais,
Direitos, Liberdades e Garantias, da Assembleia da
República, pela sua atuação junto da população
detida e do apoio a reclusos e suas famílias, contri-
buindo dessa forma para a humanização do sistema
prisional e a reinserção dos cooptados.
Sebastião Feyo de Azevedo – Agraciado com a
Medalha de Mérito Municipal de Vila Nova de Gaia
dia 28 de junho na celebração do Dia do Município
no Auditório Municipal.
PUB

79
Joana Almeida Ribeiro é licenciada em
História e mestre em Museologia pela
Faculdade de Letras da Universidade
do Porto, com uma dissertação dedicada
à história e aos públicos do Museu
Nacional Ferroviário. Em 2005,
interessou-se pelo estudo da cultura
material dos caminhos de ferro, tendo
participado no processo de inventário
das antigas secções museológicas
da CP (2005-2007), realizado
a descrição arquivística e estudo
qualitativo do acervo histórico das
companhias ferroviárias portuguesas
(2007-2009) e colaborado na conceção
e montagem de conteúdos expositivos
sobre a história do caminho de ferro.
Nos últimos anos, tem trabalhado
como professora do ensino secundário
e, no ramo editorial, na produção
de objetos educacionais digitais,
nomeadamente na aplicação da
modelação tridimensional (3D) e
de outras ferramentas computacionais
na valorização, interpretação e
divulgação do património industrial.
Em 2011, integrou a equipa de investi-
gadores-tarefeiros da Associação Amigos
do Solar Condes de Resende – Confraria
Queirosiana, onde procurou conciliar
a sua experiência no estudo da história
do caminho de ferro com o escrutínio
do legado escrito de um dos autores
oitocentistas que mais escreveu
sobre comboios e ferrovias.
Eça de Queirós e o Caminho de Ferro
constitui, assim, uma nova abordagem
historiográfica do meio de transporte
que revolucionou o século XIX e que
influenciou o percurso de vida
e a obra do escritor.
«Como se depreende do trabalho
de Joana Almeida Ribeiro, as obras
de Eça de Queirós proporcionam
inúmeros elementos que nos permitem
compreender não apenas como a
sociedade da época encarava a inovação
tecnológica que o caminho de ferro
representava, mas também alguns
dos aspetos relacionados com as
orientações dos diferentes governos
para a construção da rede ferroviária.
Elementos que não passaram
despercebidos à perspicácia do escritor
e que ele incorporou nas suas obras
com a maestria – e também com a ironia
e o humor – que legou à posteridade».
J. M. LOPES CORDEIRO
«Temos agora em mãos a obra Eça de
Queirós e o Caminho de Ferro, de Joana
Almeida Ribeiro, elaborada no âmbito
dos trabalhos propostos no projeto dos
investigadores-tarefeiros do Solar
Condes de Resende, que aqui decorre,
desde 2005, por protocolo celebrado
entre a Confraria Queirosiana e a
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.
Tendo um lustro de gestação, só agora
o apoio mecenático do Confrade António
Pinto Bernardo possibilitou a sua edição.
Este tempo de espera, que também
serviu para apurar o texto e as suas
incidências, se é certo que viu entretanto
crescer alguma bibliografia queirosiana
essencial – biografias e fotobiografias,
dicionários, e quantos outros – não viu
publicado nenhum ensaio sobre a
presente temática, que a autora aqui
perseguiu até à exaustão, fazendo uma
análise completa, mas emocionante,
do mundo ferroviário português,
europeu e americano que Eça de
Queirós viu nascer e desenvolver,
e do qual faz mesmo um personagem
dos seus textos e da sua própria vida».
J. A. GONÇALVES GUIMARÃES

80
Joana Almeida Ribeiro é licenciada em
História e mestre em Museologia pela
Faculdade de Letras da Universidade
do Porto, com uma dissertação dedicada
à história e aos públicos do Museu
Nacional Ferroviário. Em 2005,
interessou-se pelo estudo da cultura
material dos caminhos de ferro, tendo
participado no processo de inventário
das antigas secções museológicas
da CP (2005-2007), realizado
a descrição arquivística e estudo
qualitativo do acervo histórico das
companhias ferroviárias portuguesas
(2007-2009) e colaborado na conceção
e montagem de conteúdos expositivos
sobre a história do caminho de ferro.
Nos últimos anos, tem trabalhado
como professora do ensino secundário
e, no ramo editorial, na produção
de objetos educacionais digitais,
nomeadamente na aplicação da
modelação tridimensional (3D) e
de outras ferramentas computacionais
na valorização, interpretação e
divulgação do património industrial.
Em 2011, integrou a equipa de investi-
gadores-tarefeiros da Associação Amigos
do Solar Condes de Resende – Confraria
Queirosiana, onde procurou conciliar
a sua experiência no estudo da história
do caminho de ferro com o escrutínio
do legado escrito de um dos autores
oitocentistas que mais escreveu
sobre comboios e ferrovias.
Eça de Queirós e o Caminho de Ferro
constitui, assim, uma nova abordagem
historiográfica do meio de transporte
que revolucionou o século XIX e que
influenciou o percurso de vida
e a obra do escritor.
«Como se depreende do trabalho
de Joana Almeida Ribeiro, as obras
de Eça de Queirós proporcionam
inúmeros elementos que nos permitem
compreender não apenas como a
sociedade da época encarava a inovação
tecnológica que o caminho de ferro
representava, mas também alguns
dos aspetos relacionados com as
orientações dos diferentes governos
para a construção da rede ferroviária.
Elementos que não passaram
despercebidos à perspicácia do escritor
e que ele incorporou nas suas obras
com a maestria – e também com a ironia
e o humor – que legou à posteridade».
J. M. LOPES CORDEIRO
«Temos agora em mãos a obra Eça de
Queirós e o Caminho de Ferro, de Joana
Almeida Ribeiro, elaborada no âmbito
dos trabalhos propostos no projeto dos
investigadores-tarefeiros do Solar
Condes de Resende, que aqui decorre,
desde 2005, por protocolo celebrado
entre a Confraria Queirosiana e a
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia.
Tendo um lustro de gestação, só agora
o apoio mecenático do Confrade António
Pinto Bernardo possibilitou a sua edição.
Este tempo de espera, que também
serviu para apurar o texto e as suas
incidências, se é certo que viu entretanto
crescer alguma bibliografia queirosiana
essencial – biografias e fotobiografias,
dicionários, e quantos outros – não viu
publicado nenhum ensaio sobre a
presente temática, que a autora aqui
perseguiu até à exaustão, fazendo uma
análise completa, mas emocionante,
do mundo ferroviário português,
europeu e americano que Eça de
Queirós viu nascer e desenvolver,
e do qual faz mesmo um personagem
dos seus textos e da sua própria vida».
J. A. GONÇALVES GUIMARÃES

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