população refugiada, imigrante e migrante e atuação de enfermagem
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Added: Sep 22, 2025
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SAÚDE DA POPULAÇÃO MIGRANTE, REFUGIADA E IMIGRANTE: BARREIRAS CULTURAIS, LINGUÍSTICAS E LEGAIS; ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM Aula 11 de setembro de 2023 População vulnerável
A mobilidade humana é um fenômeno global crescente. Estima-se que em 2023 havia 285 milhões de migrantes internacionais , representando 3,9% da população mundial (ONU, 2023). O Brasil, historicamente receptor de fluxos migratórios, nos últimos anos tem recebido haitianos, venezuelanos, bolivianos, sírios, senegaleses e congoleses , além de manter populações tradicionais de imigrantes portugueses, japoneses, italianos e espanhóis.
Nesse cenário, é fundamental distinguir Migrantes : pessoas que se deslocam voluntária ou involuntariamente de um território a outro. Imigrantes : aqueles que chegam para residir em país diferente do seu de origem. Refugiados : indivíduos que deixam seus países devido a perseguições, conflitos armados ou violações de direitos humanos, amparados pela Convenção de Genebra (1951) .
A saúde A saúde dessa população é atravessada por múltiplos fatores de vulnerabilidade, entre eles as barreiras culturais, linguísticas e legais , que dificultam o acesso ao cuidado em saúde e exigem atuação estratégica da Enfermagem e das políticas públicas brasileiras.
Barreiras Barreiras Culturais Os migrantes e refugiados trazem consigo hábitos e práticas de saúde próprias , que muitas vezes entram em choque com o modelo biomédico ocidental predominante. Diferenças nos conceitos de saúde e doença : em algumas culturas, agravos podem ser associados a espiritualidade, maldições ou desarmonia comunitária. Práticas tradicionais de cura : uso de ervas, rituais e curandeiros pode ser desvalorizado nos serviços formais.
Cont Questões de gênero : mulheres de algumas culturas podem não aceitar atendimento por profissionais homens. A não valorização dessas diferenças resulta em desconfiança, baixa adesão e abandono do tratamento , evidenciando a necessidade de práticas culturalmente sensíveis.
Barreiras Linguísticas A comunicação é um dos maiores desafios: A ausência de intérpretes qualificados nos serviços de saúde compromete diagnósticos, adesão a tratamentos e o próprio vínculo terapêutico. Muitas vezes, crianças migrantes são usadas como tradutoras para pais, expondo-as a situações de constrangimento.
Cont Linguagens técnicas e burocráticas dificultam ainda mais a compreensão. Pesquisas mostram que migrantes que não dominam a língua do país têm menor uso dos serviços preventivos e procuram o sistema de saúde apenas em casos de urgência (Martes & Faist , 2020).
Barreiras Legais e Administrativas Embora a Constituição de 1988 e a Lei de Migração nº 13.445/2017 garantam acesso universal ao SUS, independentemente da situação migratória , na prática, migrantes e refugiados enfrentam: Exigência indevida de documentos (como CPF, carteira de identidade nacional). Desconhecimento por parte dos próprios profissionais de saúde sobre os direitos dessa população.
Cont Dificuldade de inclusão em programas sociais e de acesso a medicamentos contínuos. Além disso, refugiados frequentemente carregam traumas de guerra, violência ou deslocamento forçado , que exigem uma abordagem específica em saúde mental .
Condições e Agravos de Saúde Frequentes Entre os principais problemas de saúde observados em migrantes, imigrantes e refugiados, destacam-se: Doenças infectocontagiosas : tuberculose, hepatites virais, HIV, sífilis — muitas vezes ligadas a condições precárias de moradia e trabalho. Doenças crônicas : hipertensão e diabetes, agravadas pela dificuldade de continuidade do cuidado. Saúde mental : transtorno de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade são frequentes em refugiados, em função da violência e do deslocamento forçado.
Saúde materno-infantil : mulheres migrantes têm maiores taxas de mortalidade materna e menos acesso a pré-natal (OPAS, 2019). Atuação da Enfermagem A Enfermagem ocupa posição central na garantia do direito à saúde da população migrante, refugiada e imigrante, atuando na linha de frente da Atenção Básica e hospitalar. Algumas estratégias fundamentais: Acolhimento humanizado Atendimento sem discriminação, respeitando diferenças culturais, religiosas e de gênero. Criação de ambiente seguro para que migrantes expressem suas necessidades.
Cont Comunicação e mediação linguística Utilização de intérpretes, aplicativos de tradução e materiais educativos bilíngues . Treinamento de enfermeiros para comunicação não verbal e clara. Educação em saúde intercultural Oficinas de prevenção de ISTs , saúde materna e vacinação adaptadas ao idioma e cultura da população atendida.
Atuação enfermagem Atenção à saúde mental Identificação precoce de traumas e encaminhamento para serviços especializados. Escuta qualificada para lidar com sofrimento emocional associado à migração. Defesa de direitos ( advocacy ) Enfermeiros podem atuar como mediadores entre usuários e o SUS, denunciando práticas discriminatórias e assegurando acesso mesmo sem documentação formal.
Intersetorialidade Articulação com secretarias de direitos humanos, assistência social e educação para garantir suporte integral aos migrantes. Considerações Finais A saúde da população migrante, refugiada e imigrante revela as contradições de um mundo globalizado: ao mesmo tempo em que fronteiras são abertas para mercadorias e capitais, permanecem fechadas ou restritivas para pessoas.
Cont No Brasil, apesar da legislação garantir acesso universal, as barreiras culturais, linguísticas e legais ainda afastam migrantes dos serviços de saúde, ampliando vulnerabilidades. A Enfermagem, por sua capilaridade, protagoniza a superação dessas barreiras, atuando como agente de cuidado, de inclusão e de defesa de direitos humanos . Assim, cuidar dessa população exige mais que técnica: demanda sensibilidade cultural, compromisso ético e engajamento político , em consonância com os princípios do SUS.
Referências Brasil . Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Brasil. Lei nº 13.445, de 24 de maio de 2017. Lei de Migração. Martes, A. C. B., & Faist , T. (2020). Migração e saúde: barreiras de acesso e políticas públicas. Revista Interdisciplinar da Mobilidade Humana , 28(59). OPAS/OMS. (2019). Saúde dos migrantes e refugiados: desafios e oportunidades para os sistemas de saúde. Washington: OP