Um mover de olhos brando e piadoso

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About This Presentation

Lírica Camoniana


Slide Content

Corrente renascentista Um mover de olhos brando e piadoso Camões

Um mover d’olhos brando e piadoso, Sem ver de quê; um sorriso brando e honesto, quási forçado; um doce e humilde gesto, de qualquer alegria duvidoso; Um despejo quieto e vergonhoso; um repouso gravíssimo e modesto; ũa pura bondade, manifesto indício da alma, limpo gracioso; Um escolhido ousar; ũa brandura; um medo sem ter culpa; um ar sereno; um longo e obediente sofrimento: Esta foi a celeste formosura da minha Circe, e o mágico veneno que pôde transformar meu pensamento.

“É porventura (este) o mais célebre […] retrato da mulher amada que Camões deixou. O retrato, feito com base em enumerações iniciadas por “Um” (o que marca uma certa indefinição) é quase convencional, à maneira petrarquista: da amada se refere mais que os traços físicos a impressão que causam – brandura, piedade, timidez, gravidade, modéstia, bondade, serenidade, melancolia. Mas repare-se que cada um dos traços aponta, de certo modo, para antíteses “brando e honesto/quase forçado”, “encolhido ousar”, “doce e humilde gesto/de qualquer alegria duvidoso” – etc. E porquê a tristeza, o “medo sem ter culpa”, o “longo e obediente sofrimento”? Esta mulher enigmática […] é, afinal, ela própria, sede de contradição, como se revela na 2ª parte do soneto […]; é também a Circe , a feiticeira, que, com “mágico veneno”, perturbou, transformou o pensamento […] do poeta.” in Eu cantarei de amor , Amélia Pinto Pais

Tema: BELEZA FEMININA O soneto apresenta um retrato da mulher amada, onde se dá maior relevo aos traços morais. O conjunto de qualidades que lhe é dado tende a produzir uma imagem de perfeição e a não individualização da mulher. Como as qualidades morais são em maior número, parece ser sobretudo a beleza espiritual que fascina o sujeito poético. Beleza da mulher amada e fascínio que ela exerce no sujeito lírico . o amor petrarquista / saudosista

O retrato da amada mostra um ideal de beleza clássico. Segue um procedimento anafórico (repetição de uma mesma estrutura) - "um (...)“, só se esclarecendo o assunto do poema na última estrofe .

Assunto Camões expõe à maneira de Petrarca os atributos morais da mulher amada, a sua Circe (feiticeira), que “pôde transformar-lhe o pensamento”: brandura, piedade, honestidade, doçura, humildade, modéstia, bondade, retraimento, serenidade, obediência e mansidão. Trata-se de um retrato idealizado, indefinível.

Trata-se de um retrato mais espiritual do que físico, que se conclui com uma referência à transformação do seu pensamento provocada pela sua formosura, que funcionaria como um “mágico veneno”. Esta escassa referência a características físicas e a predominância das qualidades morais remetem-nos para a ideologia platónica. Todavia, é sobretudo nítida a influência petrarquista no ideal de beleza feminina , e nas qualidades morais atribuídas à mulher , expressas por uma adjectivação abundante e por substantivos abstractos. Observa-se, ainda, que, na esteira de Petrarca, as qualidades morais predominam sobre as físicas e o fascínio resulta, portanto, da beleza espiritual.

Um mover d'olhos, brando e piadoso, sem ver de quê; um riso brando e honesto, quase forçado; um doce e humilde gesto, de qualquer alegria duvidoso; um despejo quieto e vergonhoso; um repouso gravíssimo e modesto; üa pura bondade, manifesto indício da alma, limpo e gracioso; um encolhido ousar; uma brandura; um medo sem ter culpa; um ar sereno; um longo e obediente sofrimento; esta foi a celeste fermosura da minha Circe, e o mágico veneno que pôde transformar meu pensamento. Olhar, riso, gesto: caracterizados por atitudes, qualidades, estados. Artigo indefinido: indica elevado nível de abstração. Atributos habitualmente não próprios de uma dama galante; antes do galante! Cadência monótona e iterativa do retrato: sublinha a serenidade da amada.

Um mover d'olhos, brando e piadoso, sem ver de quê; um riso brando e honesto, quase forçado; um doce e humilde gesto, de qualquer alegria duvidoso; um despejo quieto e vergonhoso; um repouso gravíssimo e modesto; üa pura bondade, manifesto indício da alma, limpo e gracioso; um encolhido ousar; uma brandura; um medo sem ter culpa; um ar sereno; um longo e obediente sofrimento; esta foi a celeste fermosura da minha Circe, e o mágico veneno que pôde transformar meu pensamento. Poder ‘maligno’ da amada: amor como alquimia. O seu carácter sublime transforma-se em ameaça. Beleza: aqui caracterizada pelos sentimentos e por elementos de ordem moral e psicológica. Qualidades interiores mais importantes do que os atributos físicos. Aspeto espiritual + Aspeto material = Elevação (o caminho divino)

Um mover d’olhos brando e piadoso, Sem ver de quê; um sorriso brando e honesto, quási forçado; um doce e humilde gesto , de qualquer alegria duvidoso; Um despejo quieto e vergonhoso ; um repouso gravíssimo e modesto; ũa pura bondade, manifesto indício da alma, limpo gracioso; Um escolhido ousar; ũa brandura; um medo sem ter culpa; um ar sereno; um longo e obediente sofrimento : Esta foi a celeste formosura da minha Circe , e o mágico veneno que pôde transformar meu pensamento. Brando : meigo Gesto : rosto Despejo : desembaraço Vergonhoso : recatado, tímido Sofrimento : paciência Circe : feiticeira da mitologia grega que deu a beber aos companheiros de Ulisses a poção mágica que os transformou em animais, impedindo assim, que o herói prosseguisse viagem e se afastasse dela.

Desenvolvimento do assunto 1ª parte (quadras+ 1º terceto) Faz-se uma enumeração dos atributos físicos e morais da mulher amada, repetindo-se a mesma estrutura frásica (artigo indefinido + substantivo + adjetivo ). Trata-se do retrato da mulher amada, onde são focados aspetos assaz abstratos (cf. artigo indefinido). Na 1ª quadra, referem-se aspetos exteriores (olhar, riso, rosto) e, em seguida, a descrição da amada engloba atitudes, qualidades e estados. 2ª parte (2º terceto) Atentar no pronome demonstrativo “Esta”, que introduz o fim da enumeração presente na 1ª parte. Nesta 2ª parte, sintetizam-se os atributos da mulher amada, que fascina o poeta.

Este poema está dividido em duas partes lógicas . A primeira parte é as duas quadras e o primeiro terceto e corresponde à acumulação de atributos físicos e morais da figura feminina . Assim, são feitas referências ao “mover d’olhos ”, ao “sorriso”, ao “gesto”, às quais são sempre atribuídas qualidades morais: “Um mover d’olhos brando e piadoso ,”, “um sorriso brando e honesto,” e “um doce e humilde gesto,”. A segunda parte é ultimo terceto e corresponde à síntese de todos esses atributos reunidos na expressão “celeste fermosura ” , que, além da beleza, remete para o carácter divino da mulher. Esta é também, metaforicamente, apresentada como Circe , ou seja, uma feiticeira que encanta o poeta como seu mágico veneno, isto é, a sua perfeição, que seduz o poeta e lhe transforma o pensamento. Estrutura interna

Um mover d'olhos , brando e piadoso , sem ver de quê; um riso brando e honesto, quase forçado; um doce e humilde gesto, de qualquer alegria duvidoso; um despejo quieto e vergonhoso; um repouso gravíssimo e modesto; üa pura bondade, manifesto indício da alma, limpo e gracioso; um encolhido ousar; üa brandura; um medo sem ter culpa; um ar sereno; um longo e obediente sofrimento; esta foi a celeste fermosura da minha Circe , e o mágico veneno que pôde transformar meu pensamento . 1º momento: Elogio das qualidades morais e psicológicas, por uma acumulação de predicados; A figura feminina não é real, nem concreta, nem palpável. Este retrato corresponde a um modelo de beleza tão perfeita que só pode ser entendido como idealização. 2º momento: Síntese das qualidades e efeito sobre o EU lírico. O amor é visto como uma poção venenosa que determina o rumo da vida do sujeito . Estrutura interna

1ª estrofe: descreve fisicamente sugerindo um comportamento de delicadeza (ideal de beleza clássico) 2ª e 3ª estrofe: descreve o carácter da amada, quebrando a imagem de delicadeza com antíteses (manifesto indício, encolhido ousar) e sugerindo que há algo mais na mulher. 4ª estrofe: esclarece o assunto do poema, eleva beleza da amada a um patamar divino (celeste formosura) e compara-a a uma feiticeira da mitologia (retomada da cultura greco-latina) que o encanta. A emoção, porém, não é totalmente boa, perturbando o E u lírico . As antíteses "manifesto indício", "encolhido ousar" sugerem o jogo de sedução feminino, que ora esconde (indício) e ora mostra (manifesto). A comparação com uma feiticeira também sugere o jogo. Um mover d'olhos , brando e piadoso , sem ver de quê; um riso brando e honesto, quase forçado; um doce e humilde gesto, de qualquer alegria duvidoso; um despejo quieto e vergonhoso; um repouso gravíssimo e modesto; üa pura bondade, manifesto indício da alma, limpo e gracioso; um encolhido ousar; üa brandura; um medo sem ter culpa; um ar sereno; um longo e obediente sofrimento; esta foi a celeste fermosura da minha Circe , e o mágico veneno que pôde transformar meu pensamento .

Anáfora – repetição do artigo indefinido em início de verso, e que marca a passagem de uma qualidade para outra; Discurso Valorativo - traduz o juízo de valor que o sujeito faz da amada, e assenta, sobretudo, em adjectivos e expressões que contêm uma apreciação subjectiva das suas qualidades ; Adjetivação , que marca o discurso valorativo que o sujeito tece sobre a mulher amada; Abundância de adjetivos e substantivos abstractos e a quase inexistência de verbos; Substantivação de verbos : “um mover de olhos”, “um encolhido ousar” Artigo Indefinido - sugere proximidade afetiva entre o sujeito e a amada; Antítese - “celeste fermosura” / “mágico veneno”, “um mover de olhos(…)” / “sem ver de quê ” que comprova que está a ser descrita uma mulher quase indefinível. Enumeração assindética - acumulação de segmentos de frase, separados por ponto e vírgula, e sem recorrer à copulativa “e”; Metáfora - “mágico veneno”, “a minha Circe”. Encavalgamento ou transporte, que acentua a fluidez do ritmo da enumeração ; Ao carácter descritivo do poema, constituído por uma enumeração de qualidades e seus efeitos no sujeito, determina a utilização de certos recursos estilísticos:

A composição poética é constituída por duas quadras e dois tercetos (soneto), em metro decassilábico , com um esquema rimático : ABBA///ABBA//CDE//CDE verificando-se a existência de rima interpolada em A, emparelhada em B e interpolada em CDE. Estrutura externa Um mover d’olhos brando e piadoso, Sem ver de quê; um sorriso brando e honesto, quási forçado; um doce e humilde gesto, de qualquer alegria duvidoso; Um desejo quieto e vergonhoso; um repouso gravíssimo e modesto; ũa pura bondade, manifesto indício da alma, limpo gracioso; Um escolhido ousar; ũa brandura; um medo sem ter culpa; um ar sereno; um longo e obediente sofrimento: Esta foi a celeste formosura da minha Circe, e o mágico veneno que pôde transformar meu pensamento. A B B A A B B A C D E C D E

Tema a beleza da amada Qualidades físicas da amada "mover d'olhos brando e piadoso", "riso brando e honesto", "ar sereno". Qualidades psicológicas da amada branda e piedosa, honesta, doce, alegre sem exagero, maneira de estar serena, bondosa, alma pura, ousada com medida, sofredora. Classe social da amada Senhora "celeste fermosura " Justificação de expressões celeste fermosura da minha Circe a sua beleza é celestial, divina mas também diabólica pois conseguiu prendê-lo irremediavelmente. Recursos estilísticos utilizados no retrato Adjetivação : simples, dupla e tripla: em todo o poema; Antítese: “celeste fermosura”; “mágico veneno” Metáfora; Hipérbole; Anáfora Tipo de composição Soneto. ABBA/ABBA/ CDE/ CDE Rima emparelhada e interpolada. Em síntese

semiótica do amor camoniano Aisthesis: Percepção do amor mais dinâmica a partir de sentimentos contraditórios / oscilantes Estética: ideia do amor «elevado», derivada do petrarquismo Anestética: heterotopia deste modelo do amor, soneto camoniano Relação convencional e individual Tanto sensual como platónica Cria tradição

Disciplina: Português Prof.ª: Helena Maria Coutinho Fim