linguística que escape desse triângulo escola-gramática-dicionário
é considerada, sob a ótica do preconceito linguístico, “errada, feia,
estropiada, rudimentar, deficiente”, e não é raro a gente ouvir que
“isso não é português”. [...]
Ora, do ponto de vista exclusivamente linguístico, o fenômeno que
existe no português não-padrão é o mesmo que aconteceu na
história do português-padrão, e [p. 42] tem até um nome técnico:
rotacismo. O rotacismo participou da formação da língua portuguesa
padrão, como já vimos em branco, escravo, praga, fraco etc., mas
ele continua vivo e atuante no português não-padrão, como em
broco, chicrete, pranta, Craudia, porque essa variedade não-padrão
deixa que as tendências normais e inerentes à língua se manifestem
livremente. Assim, o problema não está naquilo que se fala, mas em
quem fala o que.[...]” (BAGNO, 2007, p.40).
Mito n° 5
“O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”
[...]
É sabido que no Maranhão ainda se usa com grande regularidade o
pronome tu, seguido das formas verbais clássicas, com a terminação
em -s característica da segunda pessoa: tu vais, tu queres, tu
dizes, tu comias, tu cantavas etc. Na maior parte do Brasil, como
sabemos, devido à reorganização do sistema pronominal de que já
falei, o pronome tu foi substituído por você. [...]
O que acontece com o português do Maranhão em relação ao
português do resto do país é o mesmo que acontece com o português
de Portugal em relação ao português do Brasil: não existe nenhuma
variedade nacional, regional ou local que seja intrinsecamente
“melhor”, “mais pura”, “mais bonita”, “mais correta” que outra.
Toda variedade linguística atende às necessidades da comunidade
de seres humanos que a empregam (BAGNO, 2007, p.44).
Mito n° 6
“O certo é falar assim porque se escreve assim”
“[...]
Infelizmente, existe uma tendência (mais um preconceito!) muito
forte no ensino da língua de querer obrigar o aluno a pronunciar “do
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