1 Aprendendo a pensar teologicamente_replace.pdf

breno932836 26 views 36 slides Oct 20, 2024
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About This Presentation

Apostila de Teologia do curso de teologia descomplicada.


















































































































































































































































...


Slide Content

VOCÊ PRECISA DE
INTRODUÇÃOÀ TEOLOGIA

2
de rever as suas bases.
James Sawyer, em sua Introdução à teologia, diz que
muitos dos materiais introdutórios de hoje são destinados
a estudantes mais avançados. Isso faz com que algumas
pessoas sejam escravas de certos tutores para que possam
estudar teologia. E deixe-me ser claro: você precisa de
um tutor para estudar teologia! Mas é importante que
você, em algum momento, também aprenda a caminhar
com as próprias pernas. Então, é importante que os
materiais teológicos introdutórios sejam criados por
tutores interessados em lhe ajudar a progredir no caminho
do conhecimento. Uma boa teologia é muito diferente de
certos modelos terapêuticos onde o terapeuta entende
que ele é necessário para o seu progresso e crescimento.
Certas teorias de terapia curta, como a teoria cognitivo-
comportamental da psicologia, não creem nessas coisas.
Já outros movimentos, como na psicanálise, crê-se que o
terapeuta é fundamental. Nessa analogia, a boa teologia está
mais próxima de uma terapia curta que de uma psicanálise. O
interesse é que você não seja escravo de um tutor específico.
A palavra de Deus diz que, na Nova Aliança, somos
ensinados por Deus. Não precisamos de alguém que seja
um intermediário entre Deus e homens além de Cristo Jesus.
Então nossa função como mestres, pastores, teólogos e
professores é fazê-lo conhecer Deus e conhecer como AULA 1 - VOCÊ PRECISA DE INTRODUÇÃO
À TEOLOGIA
P
or que um curso sobre introdução à teologia? Quando
eu mesmo comecei a estudar teologia, não tinha
nenhum material introdutório que me ajudasse a
chegar em um ponto de conforto intelectual para começar
a estudar teologia sozinho. Comecei a estudar teologia
na internet e comecei a aprender várias coisas difusas.
Então, quando fui para o seminário, percebi que tudo aquilo
que julgava ser sabedoria teológica nada mais era que
uma coleção de informações vazia de qualquer poder de
concatenação. Eu tinha ideias difusas e não conseguia
encaixar essas ideias no todo do conhecimento de Deus.
E quanto mais eu pesquisava na internet, mais eu recebia
materiais muito divergentes. Fossem materiais com posições
contrárias, fossem materiais com níveis teológicos muito
distintos, fossem materiais cujos pressupostos por trás deles
fossem os mais discrepantes e variados. Eu não conseguia
entender nem reconhecer isso. Eu sentia falta de materiais
que fossem introdutórios o bastante e amplos o bastante
para me dar um bom panorama do conhecimento de Deus
para que eu pudesse a partir disso estudar por mim mesmo.
A questão é que a maioria dos materiais teológicos, mesmo
que se diziam introdutórios, na verdade, ainda pressupõem
muito daquele que vai fazer essa leitura. É muito difícil achar
um material para aqueles que estão começando e desejosos

3
reinventar a roda, não vai avançar o saber de Deus enquanto
não entender onde você está.
Temos que preservar a fé bíblica que veio e é passada por
nós através dos antigos até aqui. Por isso temos que dialogar
constantemente com o pensamento teológico que veio antes
de nós e estabelecer verdade e doutrina para o nosso tempo.
Um curso de introdução à teologia é fundamental para que
possamos nos posicionar a partir da imaturidade, a partir
de um momento inicial da nossa vida e então chegarmos
em algum lugar. O objetivo desse curso é justamente pegar
você pela mão e trazê-lo ao conhecimento de Deus, fazendo
com que você possa, a partir dessas aulas, abrir um livro de
teologia sistemática, abrir um material teológico e entender
o que está escrito ali. Só então avançar para níveis que você
nunca tenha imaginado.
Neste primeiro módulo, falaremos sobre como pensar
teologicamente. E introduzi-lo a algumas questões para que
os módulos a seguir sejam ainda mais úteis para sua vida e
você esteja ainda mais preparado para aprender da Palavra
de Deus. Temos grupos secretos e privados, específicos e
exclusivos, para você que é nosso aluno. Tanto no Facebook,
como no Telegram, você pode colocar suas perguntas
ou mesmo aqui na plataforma do Hotmart e poderemos
interagir e conversar acerca da Palavra de Deus. Não deixe
de assistir seja ao vivo, seja às gravações de nossas lives
conhecer Deus.
Essas questões introdutórias que trataremos aqui no curso
em toda a amplitude que queremos dar a ele é fundamental
para que você possa ter os bons fundamentos da
compreensão de Deus. Um bom jogador de futebol não é um
craque porque joga muitos jogos, mas porque está sempre de
novo e de novo revendo os fundamentos: treinando passes,
treinando toques de bola de novo, de novo...
Como diz novamente James Sawyer em sua Introdução à
teologia, “questões introdutórias são vitais tanto para o
estudante novato quanto para o estudante experiente” Temos
uma história teológica profundamente rica e é importante
que possamos voltar a ela e nos posicionarmos em um
debate que é muito maior que nós. Conhecermos os termos,
conhecermos a linguagem, entendermos qual é o estado da
questão dos assuntos teológicos e fazermos isso a partir do
zero e progredirmos até chegarmos em algum lugar.
Muitos falam que só podemos ver mais longe ao estarmos
nos ombros dos gigantes. Então é importante que
entendamos que estamos numa história que existe a partir
de pelo menos dois mil anos a partir de Cristo. Estamos num
bonde teológico que está andando. A história teológica é um
bonde andando, e não tem como fugir disso. Você não vai

4
onde tentaremos responder as perguntas de todos os
alunos semanalmente para tentarmos então progredirmos
no caminho da palavra da verdade. Seja muito bem-vindo
a esse caminho dessa jornada maravilhosa que queremos
desenvolver aqui no Teologia Descomplicada, o nosso curso
de Teologia aqui no Dois Dedos de Teologia.

5
Posso me engajar nesse ou naquele comportamento? São
perguntas que respondemos a partir da teologia cristã.
Sempre que pensamos ou elaboramos uma ideia acerca de
Deus, estamos fazendo teologia.
A teologia é uma ciência porque busca um conhecimento
da realidade, no caso, o conhecimento de Deus. R.C. Sproul
diz no seu livro “Somos todos teólogos ” que “a teologia
não poderia ser chamada corretamente de ciência se o
conhecimento de Deus fosse impossível. A busca por
conhecimento é a essência da ciência” (SPROUL, 23).
Dessa forma, a ciência da teologia é uma tentativa de obter
um conhecimento coerente e consciente de Deus. Nisso
podemos entender que a teologia consiste numa sapientia,
ou seja, uma sabedoria; uma ciência; e uma ortopraxia,
uma ação correta. Nesse tripé da teologia temos a teologia
como sabedoria como um esforço para dar orientação para
o relacionamento do cristão com a vida e com Deus. Dessa
forma, a teologia não se resume a proposições acerca
do transcendental e não envolve somente a aceitação de
crenças abstratas, mas busca um relacionamento pessoal
do homem com Deus. A teologia como ciência é vista como
uma síntese do conhecimento acerca de Deus. Ela é a
sistematização da crença que temos acerca dEle e daquilo
que Ele diz a nosso respeito. E a teologia como ortopraxia,
como ação correta, é a síntese das duas verdades anteriores.
Ou seja, tanto a sabedoria quanto a ciência devem produzir AULA 2 - SOMOS TODOS TEÓLOGOS
​​P
recisamos de teologia? Às vezes isso pode ser
uma coisa esquisita nas igrejas que desprezam o
saber e o conhecimento teológico, como se teologia
fosse uma coisa que você pudesse escolher ter ou não de
alguma forma. Conta-se que o famoso evangelista D.L.
Moody foi desafiado por uma senhora que lhe disse “eu
não concordo com a sua teologia!” e ele respondeu, “mas,
senhora, eu nem sabia que tinha uma teologia”. A palavra
teologia vem de théos, do grego, Deus, e logos, estudo,
saber ou conhecimento. Teologia significa conhecimento,
saber, ou ciência talvez, acerca de Deus. É diferente de
teontologia - que vem de théos, que é também Deus, onto,
que vem de indivíduo, ser, a própria pessoa em si, e logos,
que é o conhecimento – que é o estudo da pessoa de Deus
propriamente dito. O nosso próximo módulo, teontologia, vai
estudar a pessoa de Deus. Teologia já é tudo aquilo que fala
acerca do que é divino. Isso significa que se você tem algum
conhecimento, qualquer ideia acerca da pessoa de Deus,
você tem uma teologia. Qualquer declaração ou saber que
diga respeito ao transcendente, à vida da fé, à espiritualidade,
isso é teológico de alguma forma. Para onde vamos quando
morrermos? Qual é a forma correta de viver para agradar a
Deus? Como o nosso culto deve acontecer? Por onde Deus
fala? Que texto tenho que ler para conhecer o Senhor? Tudo
isso é teologia. Posso ou não ter essa ou aquela prática?

6
e errada. Uma boa teologia vai lhe ajudar a viver a vida que
Deus espera que você viva. Ainda mais em tempos como
os nossos, em que a Palavra de Deus é deturpada para
satisfazer anseios dos mais variados e onde a Bíblia usada
e a igreja é trazida para um relacionamento com visões de
mundo um tanto espúrias, conhecermos bem a Palavra de
Deus nos protege das heresias públicas, das falsidades à
nossa volta e nos dá uma fé que realmente representa o
interesse de Deus para a nossa vida.
Teologia não é exclusiva para profissionais, pessoas eruditas,
para gente que está trancada num seminário, para gente em
salas e escritórios cheios de livros. A boa teologia é dada
a todo crente. Como diz Deuteronômio 30.14, a palavra de
Deus está próxima, perto do nosso coração, perto da nossa
boca. A palavra de Deus está disponível e é a ela que nós
recorremos a nossa vida.
Jesus diz, em Mateus 22.37, que devemos amar o Senhor
de todo nosso coração, de toda nossa alma e de todo nosso
entendimento. Pedro diz que devemos estar prontos para
responder a razão da nossa fé (1 Pe 3.15). Uma boa teologia
nos ajuda a amar a Deus com toda nossa mente e nos ajuda
a responder aquilo que o mundo realmente acredita sobre
Deus. Então a boa teologia nos afeta horizontalmente e
verticalmente - ela nos afeta nos relacionamentos com os
outros e com nosso relacionamento com Deus.
no ser humano uma disposição a obedecer e honrar a Deus.
Em 1 Coríntios 14.20, Paulo exorta a igreja a deixar
de ser criança e a pensar como adultos. Pensar como
adulto passa por um processo de conhecer o Senhor, de
conhecer o que ele espera de nós. É a teologia que nos
amadurece, é o conhecimento de Deus que nos faz progredir
intelectualmente, emocionalmente e vivencialmente na
nossa fé e no nosso relacionamento com Deus. É verdade
que a teologia sozinha pode virar uma ortodoxia morta, sem
prática, sem realidade na nossa vida. Porém, uma ortodoxia,
ou seja, um pensamento correto, vivida de forma profunda
cria um relacionamento com Deus que o mundo não entende
e que apenas aqueles que têm essa experiência de fé
realmente podem experimentar. Uma má teologia faz com
que vivamos longe de Deus vidas que não representam aquilo
que ele espera de seu povo. O povo de Deus perece, porque
lhe falta conhecimento (Oséias 4.6). Encontrar sabedoria e
conhecimento de Deus é fundamental para que saibamos
como viver a vida do Senhor. Não estudamos Deus como se
disseca um sapo em laboratório, mas estudamos Deus como
um marido apaixonado lê e tenta compreender o que agrada
a sua noiva.
Teologia faz diferença na nossa vida. Pense na História e na
forma como a religião foi mal usada muitas vezes para criar
catástrofes, mortes e opressão das mais variadas formas.
Uma má teologia pode levar homens a agirem de forma falsa

7
busco compreensão daquilo que ela diz. A fé não é fideísta.
Ela não impede uma racionalidade que a justifique, mas
a fé é anterior à própria capacidade de explicar lógica e
filosoficamente muitas coisas. Não porque as coisas não
fossem explicáveis logicamente, mas porque muitas vezes o
que Deus cobra de nós é que acreditemos antes de entender.
Infelizmente, ainda existem aqueles que entendem a
teologia como algo puramente frio. Os sistemas de crença
“inertes” são trocados por “experiências de adoração” onde
o individualismo é incentivado. O que mais importa é o que
o adorador experimenta, no lugar do sistema de crenças que
ele carrega. Esse é um dos aspectos da heresia. Que trai o
papel do teólogo como um guardião da verdade. Ela satisfaz
os desejos do coração humano, refletindo as coisas como
gostaríamos que fossem e não como de fato são. Nesse
sentido, a heresia é mais uma questão de escolha do que de
entendimento.
Por causa disso, a ortodoxia deve levar à elaboração de
credos que servem como mapas que norteiam o pensamento
correto. Esses mapas, entretanto, não servem como fim em
si mesmos. Eles devem conduzir a uma realidade maior. O
papel da tradição nesse sentido é importante, pois, com base
no que já foi dito sobre um assunto antes de formarmos
nossas ideias a respeito de algo, podemos trilhar um
caminho mais seguro para a ortodoxia. O apelo cristão às AULA 3 - O TEÓLOGO COMO PRESERVA-
DOR, CIENTISTA E CONTEXTUALIZADOR
​​O
que é um teólogo? Um teólogo é um guardião da
verdade, um cientista e um contextualizador. Como
guardião da verdade, o teólogo entende que a Bíblia é
a Palavra de Deus que traz verdades acerca dele ao longo de
uma grande narrativa por meio dos livros que a compõem.
A Bíblia não é simplesmente um compêndio de proposições
doutrinárias. As verdades bíblicas são percebidas através
do estudo daquilo que Deus revela ao homem. A tarefa do
teólogo é apresentar essas verdades para que as pessoas
possam ser conduzidas à fé em Deus. Essa atitude de fé é a
mesma que foi descrita por Agostinho e Anselmo: uma fé que
busca o entendimento, a fides quarem intellectum. Ao passo
que o racionalista compreende para crer – primeiro entende
para depois depositar fé – o teólogo vai à fé para então
compreender o objeto de crença. Conforme desenvolve-se o
estudo teológico, a compreensão aumentada do objeto da fé
conduz à maturidade.
Muitas vezes seremos confrontados com elementos de fé
que não entendemos bem. Se você me perguntar sobre todos
os detalhes dos mistérios de Deus, as complexas relações na
Trindade, as conciliações entre soberania e responsabilidade,
eu mesmo não saberei lhe dar uma resposta coerente.
Entretanto, pela fé, creio naquilo que a Escritura diz e

8
línguas originais e caso não tenha acesso ao grego e ao
hebraico, ele vai comparar as várias traduções. E vai agir com
humildade entendendo que as traduções possuem limitações
comparadas às línguas originais. Ele também vai perceber
e dar importância aos conceitos culturais que são distintos
para não impor algo de nossa cultura à Bíblia, entendendo
bem o que ela quer dizer ao relatar determinado aspecto.
Através da revelação geral, o teólogo percebe e recebe a
grandeza de Deus. E através das obras dos teólogos do
passado analisamos o que já foi proposto com nossas
próprias opiniões e podemos traçar um caminho rumo a uma
conclusão e a uma conclusão pessoal mais sólida acerca de
determinado problema teológico.
O modo como a teologia avança e se desenvolve é muito
próximo daquilo que Thomas Kuhn chamou de revolução
dos paradigmas científicos. Ele desenvolveu uma importante
contribuição sobre a avaliação e constatação de paradigmas
científicos. Ele sugere que, no desenvolvimento de uma
ciência, existirão vários paradigmas em competição. O
paradigma escolhido, a ideia do momento, por assim
dizer, é a que foi escolhida pela comunidade científica de
um tempo porque melhor responde aos questionamentos
feitos pela comunidade. Esse paradigma permanece até
que surjam várias questões que não são respondidas pelo
modelo vigente. Assim, o cientista terá que reavaliar seus
Escrituras não pode ficar isolado. Isso não é um abandono
das Escrituras como única regra de fé, mas é simplesmente
considerar e analisar uma a história da igreja para que
possamos constatar com mais segurança que as posições
que temos seguido não são heréticas. É bom lembrar que
quando alguém se desvincula da análise da tradição, é
fácil recorrer a erros sob o pretexto de ter recebido uma
nova verdade. Os concílios que transmitem a tradição não
inventam novas doutrinas, mas apenas as preservam.
O teólogo também é um cientista. Ele é aquele que está
em busca da verdade. Ou seja, ele admite que ela existe e
pode ser encontrada. Como cientista ele investiga de forma
analítica e crítica as fontes que estão disponíveis. Seu papel
é apontar as fontes de sua pesquisa para que outras pessoas
possam avaliar as conclusões dele e entender a base sobre a
qual os teólogos estão apoiados. Sendo assim, os teólogos
olham em três direções: para o texto das Escrituras; para a
revelação geral e para a obra dos teólogos do passado.
Obviamente, as Escrituras possuem prioridade e primazia
nessa análise. Analisando as Escrituras, os teólogos devem
buscar um refinamento do que tem sido proposto ao longo
dos séculos. A ideia não é tanto descobrir algo novo, mas
desenvolver corretamente o que já tem sido proclamado ao
longo dos anos. O teólogo irá respeitar o distanciamento
linguístico, cultural e histórico da Bíblia. Ele analisará as

9
Isso está relacionado ao terceiro papel do teólogo. O teólogo
como um tradutor, ou um contextualizador. Ele deve fazer
uma viagem de ida ao contexto do autor original e de volta
ao seu contexto. Nem pode se reduzir ao seu nem pode
ficar só no do autor. O teólogo tem que explicar para seus
contemporâneos as verdades expostas na Bíblia. Ele deve
analisar também o contexto em que as declarações foram
ditas para que elas não adquiram significados diferentes
daquilo que foi intentado originalmente. Algo que deturparia
as doutrinas a serem desenvolvidas.
A contextualização toma aquilo que foi dito em determinado
momento, encontra o âmago do ensinamento e o transporta
a uma cultura do ouvinte moderno. Se uma cultura não sabe
o papel de um pastor de ovelhas, João 10 não fará muito
sentido. Uma cultura que não entenda o tamanho de uma
semente de mostarda e seu crescimento não entenderá a
parábola de Jesus e assim por diante.
É bem conhecido que durante a idade antiga e na Idade
Média, a Bíblia ainda era vista como um livro contemporâneo.
Os teólogos não se preocupavam em entender como os
autores bíblicos pensavam em seu tempo. Eles consideravam
que os seus pensamentos eram os mesmos daqueles dos
autores antigos e não conseguiam suplantar as barreiras
culturais e as diferenças linguísticas de mentalidade que
existiam naquele tempo para entender corretamente como
estudos para propor um novo paradigma que responda a
essas questões. Dessa forma, se aplicarmos Thomas Kuhn
à teologia, veremos que as doutrinas se desenvolvem, ou
são reformuladas, quando perguntas que continuam sem
respostas e essa busca por novas respostas a questões
teológicas podem proporcionar o desenvolvimento
doutrinário, um aperfeiçoamento da teologia, ou uma
nova perspectiva acerca da abordagem de determinado
tema. A própria Reforma Protestante é um exemplo disso.
Cria-se em um paradigma teológico – o da Igreja Católica
Apostólica Romana – que os reformadores julgaram que
tinha problemas quanto dar respostas adequadas para
as perguntas feitas. Então, algumas proposições foram
reavaliadas e um novo paradigma – o da justificação pela fé
somente – o qual foi percebido e crido como ortodoxia. Os
reformadores perceberam que a igreja estava se baseando
em paradigmas errados que consequentemente conduziram
sua conduta equivocada. Então, um novo paradigma surgiu
para poder abarcar melhor as questões de ordem teológica.
É por causa disso que o teólogo está constantemente
explorando o mundo. Agindo realmente como um explorador.
Ele reconhece que a tradição tem seu papel, mas que
elementos novos podem ser incorporados para desenvolver
a teologia, porque ela é dinâmica, não estática. O teólogo
explora elementos que podem aprimorar a teologia vigente.

10
cultura. Essas estruturas profundas podem, por sua vez,
serem transmitidas através de outras estruturas de superfície
como, por exemplo, em outra língua. É nesse nível, abaixo
da estrutura superficial, onde jaz o significado universal. Ele
pode ser comunicado em outras línguas (forma) porque sua
estrutura profunda (conteúdo) foi preservada. Dessa forma, o
teólogo é chamado para entender essas estruturas, pegando
a mensagem e o significado de um texto, e traduzir para seu
tempo apresentando a mensagem poderosa do evangelho.
aplicar a Escritura em tempos modernos. Foi somente com
a Renascença e a Reforma que veio a compreensão que o
contexto bíblico era diferente do contemporâneo e que isso
precisava ser considerado na interpretação.
O método histórico-crítico do Iluminismo apontou as
“digitais humanas num sentido real e essencial” na Bíblia. Ou
seja, os autores estavam imersos em um contexto diferente
e transmitiam isso em sua escrita. Esse método, apesar
de suas consequências desastrosas em algum momento,
trouxe em questão de percebemos corretamente a cultura
antiga antes de fazermos nossa interpretação. Dessa forma,
uma boa hermenêutica e uma boa exegese consideram o
significado das coisas em seu tempo enquanto uma boa
teologia sistemática traz essas coisas para cá.
Eu disse que o teólogo atua como tradutor, nesse sentido
que ele é um contextualizador. Por tradutor, quero dizer
o seguinte: O teólogo atua no mundo da linguística
diferenciando as estruturas superficiais das estruturas
profundas da linguagem. Na estrutura superficial está
a gramática, vocabulário, pronúncia ou qualquer outro
elemento que constitui uma língua. Através disso, o
significado é transmitido. Porém, a tradução acontece
quando o teólogo percebe a estrutura profunda, aquilo
que está para além da superficial e que fala das teias de
significado que fazem parte de uma mentalidade e de uma

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encaixam com determinada declaração da Escritura, mas
que não derivam necessariamente daquela aplicação. Não é
disso que estamos falando. Estamos falando de inferências
necessárias, ou seja, coisas que derivam diretamente daquilo
que é dito no texto bíblico. Não é a declaração do texto em si,
mas são aplicações lógicas claras daquilo que está escrito.
Um nível acima temos implicações prováveis e mais
acima conclusões indutivas. Ou seja, aqui, já estamos nos
afastando bastante da intenção original do autor quando
ele fala a respeito de determinado assunto para induções
que podemos fazer a partir do que é dito na passagem e
conclusões que podemos induzir através de método lógico
usando premissas e conclusões. Nisso já estamos um pouco
mais longe do que é dito na passagem para tentar formular
teorias em cima daquilo que é escrito num texto.
Num nível acima, já bem fora do aspecto teológico
tradicional, temos conclusões inferidas da revelação geral,
onde podemos ao observar a realidade compreender alguma
coisa acerca do divino. E, por último, questões inteiramente
especulativas, as quais são pontos que devemos discutir
a partir de outras ciências, mas que em termo teológico é
especulação. Alguns vão dizer que não é teologia de fato,
outros chamarão de teologia especulativa. São assuntos que
estão dentro do tema da teologia, mas que, muitas vezes,
não são discutidos e nem é possível discutir teologicamente AULA 4 - A PIRÂMIDE DE ERICKSON
​​T
odas as doutrinas são iguais? Elas têm a mesma
centralidade para a fé? Quero apresentar para você a
pirâmide de Erickson. Chamo assim a classificação
das autoridades teológicas que Millard Erickson dá em sua
Teologia Sistemática. Imagine uma pirâmide. Na base dela,
você tem as afirmações diretas da Escritura. Aquilo que a
Bíblia fala diretamente e diz algo a respeito de forma clara
e objetiva. São certamente muito mais centrais e devem
ser tratadas como algo muito mais importante, doutrinas
bíblicas que são declaradas diretamente pela Palavra
de Deus com clareza. Esses assuntos são importantes
corolários, são nosso núcleo duro – citando o teórico
Lakatos quando fala que toda ideia tem um núcleo duro e um
cinturão protetor, onde no cinturão protetor você tem ideias
que são um pouco mais maleáveis, enquanto no núcleo duro
você tem ideias centrais que nunca podem ser negadas
por determinada corrente de pensamento. Se forem, aquela
corrente deixa de ser o que realmente é. Declarações diretas
da Escritura fazem parte do núcleo central do cristianismo.
No segundo nível da pirâmide, temos implicações diretas
da Escritura. São inferências que podemos fazer a partir
daquilo que está escrito. Aqui precisamos levantar uma
distinção entre implicação necessária e implicação lógica.
Implicações lógicas são muitas vezes ideias que se

12
aquele assunto de forma completa e total.
Essa pirâmide de Erickson é importante porque nos ajuda
a ter humildade e consciência no nosso fazer teológico.
Determinada doutrina ou crença é baseada em que?
Declarações diretas da Escritura? Em implicações prováveis?
Em conclusões indutivas? Em conclusões inferidas da
revelação geral? Ou é algo profundamente especulativo.
Quando começamos a analisar nossa própria teologia com
base nisso, passamos a ter mais autoconsciência em nossa
forma de fazer teologia e ter mais humildade na nossa
própria avaliação teológica e mais capacidade de avaliar
certas doutrinas à nossa volta. É o exercício que você precisa
fazer quando estiver lendo um livro, um material teológico.
Essa declaração provém diretamente do que é dito no texto?
Era intenção original do autor ao escrever essa passagem?
Isso é só uma explicação provável? É uma conclusão
indutiva? O que é isso? Isso vem como a partir da passagem?
É um bom exercício para ser feito e uma boa lição para, nesse
momento, você analisar alguma doutrina que para você é
importante a partir dessa metodologia.
Imagem cedida por André Luís Toledo, aluno do curso

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determinado escopo de crença em um período específico da
história da revelação como no período de Adão e Eva, Noé,
no judaísmo, ou em outros momentos. Seja o modo como
Isaías ou Jeremias usam determinada palavra ou a visão
que eles têm acerca do Messias. Seja no Novo Testamento
quando você considera cada autor como um centro em si
mesmo de doutrina antes de compará-lo com as doutrinas
de outro autor. Assim você consegue respeitar melhor o
aspecto humano da escrita do livro bíblico. Por mais que o
autor seja divino, também há um autor humano que deixou
traços de sua literalidade no texto. A teologia bíblica não
está preocupada em responder sobre o que é que esse texto
significa para minha vida, ou a forma correta de agir nesta
ou naquela situação. A teologia bíblica está preocupada em
entender como o autor bíblico, em determinado contexto,
descreveu algo acerca de Deus e dos homens.
Foi B.B.Warfield, o teólogo famoso de Princeton, que disse
que a tarefa da teologia bíblica é coordenar os dados que
nós recebemos no processo exegético. A teologia bíblica
é que dá base e fundamentação para uma boa teologia
sistemática, porque dá o conteúdo teológico mais profundo,
visto de forma mais correta dentro de um contexto específico
para que então seja sistematizado todo esse grande escopo
de conhecimento de uma forma que responda às questões
filosóficas, teóricas e práticas do nosso tempo.AULA 5 - TEOLOGIAS BÍBLICA, HISTÓRICA
E SISTEMÁTICA
T
eologia é um termo bem amplo, então quais são as
principais divisões no estudo teológico? Se pensar em
uma pirâmide novamente, terá na base pelo menos
três elementos principais: Os idiomas bíblicos, os contextos
culturais, elementos arqueológicos e seus pressupostos
hermenêuticos, ou seja, aquilo que vai te levar diretamente
à interpretação do texto. Acima disso, há a exegese do texto
bíblico. Ela é exatamente a interpretação das passagens em
suas línguas originais. Subindo na pirâmide, há pelo menos
três grandes tipos ou modos de fazer teologia que compõem
a metodologia para encontrarmos respostas para nossas
questões de fé.
Há a teologia bíblica, ao seu lado teologia histórica e acima,
no topo da pirâmide, teologia sistemática. Teologia bíblica
é uma forma de fazer teologia que procura mostrar o modo
como certas compreensões acerca de Deus progrediram
ao longo da história da revelação bíblica, mostrando como
as coisas eram cridas em determinado período ou em
determinado autor da Escritura. Por isso que se fala de
teologia bíblica de Paulo ou teologia bíblica de João. É
um jeito de respeitar os contextos de cada autor do livro
bíblico e respeitar cada modo como um deles faz teologia.
A teologia bíblica, por exemplo, é quem vai localizar

14
levantaram a questão, como a igreja vivenciou isso no livro
de Atos e, a partir disso tudo, criar uma resposta que seja
comum à vida privada ou à vida social. No fim das contas,
a teologia sistemática é que dá as respostas práticas e
pastorais para nossa vida. É aqui, na teologia sistemática,
que temos o diálogo com as outras ciências, com a filosofia,
sociologia, economia, psicologia e com outras formas de ver
o mundo, às quais daremos respostas, ou os aproveitaremos
de certas compreensões que essas ciências fornecem.
Imagem cedida pelo aluno André Luís Toledo baseada na
classificação de James Sawyer.
Ao lado da teologia bíblica temos a teologia histórica. Como
o próprio nome já diz, visa ver como a compreensão de
Deus mudou e evoluiu ao longo da história da igreja. Como
cada tempo e cada autor descreveu acerca da ideia do
divino e como a igreja com o passar dos tempos mudou ou
continuou no seu processo de interpretação das doutrinas
e das passagens bíblicas. A história da doutrina nos ajuda a
perceber muito das formas como a igreja caiu muitas vezes
em erro e evoluiu na sua compreensão acerca de Deus.
Ele nos ajuda a termos argumentos muito mais coerentes
para interpretarmos a passagem bíblica, entendendo que
não estamos em um vácuo, mas recebemos de uma longa
tradição de intérpretes que nos ajudam a ter material para
trabalharmos, concordarmos ou discordarmos da nossa
leitura da Escritura.
Com base na teologia histórica e na teologia bíblica, temos a
teologia sistemática. Ela tenta formar um esquema que junte
todos os dados bíblicos dentro de um ponto de resposta
comum. Quando pergunto, “um crente pode comer carne de
porco?”, não quero saber se um judeu podia ou não comer
carne de porco, nem quero saber o que Paulo quer dizer aos
Coríntios quando ele fala sobre carne de porco. Quero uma
resposta que comunique à minha vida, mas, para fazer isso,
tenho que ver todo o escopo da revelação e entender o que
posso aprender com o que foi dito no Antigo Testamento,
com o que Jesus tratou do assunto, como os apóstolos

15
centrais para esse tipo de assunto, uma no Antigo e outra no
Novo Testamento. Definitivamente, Deuteronômio 29.29 é um
texto central para refletir sobre momentos em que Deus se
recusa a explicar alguma coisa. Ele diz que as coisas ocultas
são para Deus e as reveladas são para nós e nossos filhos.
Vemos, portanto, o próprio Deus criando uma divisão entre
coisas reveladas e coisas ocultas. O que Deus fala é nosso
e para nossos filhos, representa algo que Deus deseja que
nós encontremos. Nós devemos olhar para a Escritura como
revelação e assumir como algo que Deus nos deu.
Por outro lado, existem coisas que são ocultas. No contexto,
oculto é o que não foi revelado por Deus; portanto, não é
nosso, é unicamente do Senhor. Algumas coisas representam
o que está escondido em Deus e não nos foi revelado, seja
pela revelação natural da criação, seja por tudo o que é dito
na Bíblia.
Em Romanos 9, Paulo faz algo muito parecido com o que
está expresso em Deuteronômio 29.29, quando ele está
discorrendo sobre a predestinação, sobre como o homem
encontra salvação, sobre Deus escolher alguns para ira e
outros para glória; esse assunto que gera tanto debate, tanta
loucura na Internet. No verso 20, Paulo pergunta: “quem
és tu, ó homem, para argumentares com Deus? Por acaso
a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste
assim?”. O homem é colocado, então, antropologicamente no UMA TEOLOGIA DOS LIMITES DA
TEOLOGIA
E
quando Deus te manda calar a boca? Às vezes, olhamos
para a Escritura e temos dúvidas teológicas que nos
fazem vasculhar e responder questões sobre as quais
a própria Escritura não se manifesta. Através do Dois Dedos
de Teologia, recebo constantemente perguntas com dúvidas
relacionadas a assuntos para os quais não há nenhuma
menção na Bíblia. Por isso, precisamos fazer um trabalho
árduo de encontrar os princípios que se aplicam. Mas há
questões para as quais nem chegamos perto de encontrar
resposta escriturística.
Diante disso, nos desesperamos ou desistimos? Será que
a Escritura tem algo a dizer sobre o que ela não diz? Será
que é possível fazer uma teologia do oculto ? Será que Deus
realmente nos manda, às vezes, calar a boca? Será que
existe resposta bíblica para alguns assuntos estranhos como
soberania de Deus, livre-arbítrio, pecado? Existe limite para
a teologia? O que seria um tagarela teológico? Este Apêndice
pretende lidar com algumas dessas questões e investigar se
em algumas situações o melhor não é ficar em silêncio.
Para fazer o que pretende ser uma teologia do oculto,
precisamos começar com duas passagens bíblicas que são

16
silêncio doxológico na revelação que nos leva ao louvor.
Paulo não vislumbra o que não é revelado com uma mera
especulação filosófica. Ele o faz encarando como uma
manifestação da profundidade do caráter de Deus, expondo
a diferença de quem é o homem e quem é o Senhor. As
coisas profundas e ocultas que Deus não revela não devem
nos deixar inconformados, devem nos deixar de joelhos.
Principalmente, pelo que encontramos em 1 Coríntios 13.12:
“Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente;
então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então,
conhecerei como também sou conhecido”.
Nós ainda não temos uma revelação completa de Deus,
de forma a podermos vê-lo face a face, interpretá-lo em
sua completude. A Escritura é toda a revelação que temos,
mas não é toda a revelação possível. Ainda há muito a
ser revelado do ser de Deus quando o encontrarmos na
eternidade. A Bíblia ainda é Deus falando com o homem
caído, com os efeitos noéticos do pecado afetando sua
vida. Podemos até dizer que a Escritura representa uma
diminuição da grandeza de Deus, porque ele é inexplicável,
inalcançável.
Olhando para a Escritura, ainda vemos Deus como que por
um espelho. Haverá uma transformação da nossa natureza,
seu lugar, ou seja, o homem não possui capacidade, meios
para discutir com o divino, de se colocar em contraposição
com aquilo que o divino coloca. Algumas coisas
simplesmente não foram ditas.
O modo como Paulo se refere ao homem que questiona
Deus não faz parecer que ele esteja pensando no mérito da
resposta. Ele está lidando com antropologia: o homem não
está em posição de questionar Deus a respeito das coisas
que não estão reveladas na Escritura.
Temos, dessa forma, dois problemas: um na ordem da
revelação (Deus não quis revelar todas as coisas possíveis
de serem encontradas na Escritura) e um problema
antropológico (o homem não está em condição de olhar
para Deus e tentar argumentar sobre tudo que é possível na
realidade presente).
Em Romanos 11, Paulo conclui seu arrazoado a respeito
de várias coisas ocultas e difíceis sobre Deus com o que
Rômulo Monteiro chama de silêncio doxológico, dizendo “Ó
profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de
Deus! [...] Pois, quem conheceu a mente do Senhor? Quem se
tornou seu conselheiro? [...] Porque todas as coisas são dele,
por ele e para ele”. O homem não consegue entender tudo, e
a resposta de Paulo para o que é inescrutável é louvor. Há um

17
serão melhor respondidas quando formos transformados e
estivermos diante do Senhor. Por isso, os amigos de Jó no
livro que leva seu nome foram tão tolos diante de Deus. Eles
foram muito tolos por falarem sem conhecimento, tentando
explicar aspectos da vida e de Deus, como Jó deveria agir
sem nada da Palavra que lhes desse sustento. O próprio Jó
foi repreendido por Deus por falar sem conhecimento. Jó
falava sem ser como uma resposta à revelação recebida. Ele
se expressava sem utilizar o que o próprio Deus transmitia
para Jó em revelação.
É por esse motivo que Jesus, quando questionado acerca da
queda da torre de Siloé, em que algumas pessoas morreram,
não responde. Ele não dá resposta à dúvida teológica.
Ele simplesmente diz que não importa (Lucas 13.4). Não
tem importância o esforço humano de tentar descobrir os
motivos para tudo que acontece no Universo, porque não
foi revelado. Porém, Jesus transforma aquela mera dúvida
especulativa em um convite ao arrependimento.
Sendo assim, na Escritura, há muitos exemplos de silêncio
no processo revelatório de Deus. Imagine doutrinas como
o surgimento do pecado, imagine como o pecado brotou no
coração de Satanás ou nos corações de Adão e Eva. Deus
criou o pecado? Se Satanás era um anjo bom que caiu com
um terço da força angelical, como um ser bom, perfeito,
criado por Deus, pode ter deixado que o mal crescesse em
como é prometido em 2 Pedro 1.4: “pelas quais nos têm sido
doadas as suas preciosas e mui grandes promessas, para
que por elas vos torneis co-participantes da natureza divina,
livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo”.
Quando formos revestidos da natureza divina, poderemos
compreender mais profundamente. Por enquanto, temos uma
revelação limitada da grandeza e do poder do Senhor.
Justamente por isso, não é possível ao cristão ir ao infinito
na tentativa de construção teológica. Existe especulação,
mas o cristão deve ser humilde, deve olhar para a Escritura
com a humildade de se calar quando Deus se cala. Diante
disso, o cristão deve desistir de encontrar respostas para
certos assuntos? Sim, mas não por fadiga da mente,
puramente por um exercício de fé. Afinal, não é que a
Escritura não diga qual a resposta correta para certas coisas,
mas que ela diz expressamente que algumas coisas não
possuem resposta ainda. A resposta é: “você ainda não vai
saber a resposta, ainda não vai entender a solução para
esse problema, você precisa descansar diante do que não é
revelado”.
É possível que não iremos compreender algumas coisas em
sua totalidade nem na eternidade. Imagine a profundidade
do ser de Deus. Talvez mesmo transformados nos passemos
de eternidade a eternidade aprendendo e recebendo mais
revelação de quem é Deus. Outras coisas, possivelmente,

18
entendemos a grandeza disso? Não entendemos.
Já diziam Harold Lindsell e Charles J. Woodbridge no livro “A
handbook of Christian truth”, “He who has tried to understand
the mystery fully will lose his mind; but the who would deny
the Trinity will lose his soul” [Quem tenta entender o mistério
plenamente perderá a cabeça, mas quem nega a Trindade
perderá sua alma]. Esse é o tipo de doutrina que aceitamos
pelo que a Escritura declara e recebemos unicamente por fé,
ainda que Deus não expresse em último nível como funciona
cada uma dessas questões. Deus não está limitado à nossa
capacidade de compreensão.
Convenhamos, se pudéssemos compreender a totalidade e
a grandeza de tudo que Deus é e revela ou poderia revelar,
poderíamos até dizer que o Cristianismo é uma invenção
humana, que a Sagrada Escritura é de origem unicamente
material. Mas quando encontramos doutrinas tão
inalcançáveis para a mente humana, não podemos crer que
tudo isso pode ter saído da cabeça de uma única pessoa.
É aqui que encontramos a figura maldita do tagarela
teológico. Ele é aquele que fala o que a Bíblia não diz, revela
o que a Bíblia não revelou; ele não reconhece os limites
epistemológico, antropológico, revelacional daquilo com o
que ele se relaciona; ele não entende que a Escritura é ainda
seu coração?
Imagine o tema da soberania de Deus e a responsabilidade
humana. Como essas duas coisas que parecem
contraditórias andam juntas? O homem é plenamente
responsável no que faz, ao mesmo tempo Deus é soberano
e nada escapa da sua boa vontade. As duas coisas andam
juntas sem se excluírem. Como isso funciona? A Escritura
não diz, não tem como saber, mas cremos nas duas verdades
por fé.
Pense na união hipostática das duas naturezas do redentor.
Imagine que Jesus é cem por cento homem e cem por
cento Deus. As duas naturezas não se confundem nem se
separam. Como podemos entender isso? Como entender
que Deus seja homem e um homem seja Deus? E a clássica
doutrina da Trindade? Temos Jesus cem por cento Deus,
o pai cem por cento Deus, o Espírito Santo cem por cento
Deus; cada um isoladamente é Deus, mas os três são Deus
em sua completude, muito embora o Filho não seja o Pai,
o Pai não seja o Filho, o Filho não seja o Espírito, o Espírito
não seja o Pai. Um não é o outro, mas simultaneamente
um está no outro. “O Pai está em mim e eu nele”. Há essa
interpenetração entre as pessoas da Trindade em que no
Filho estão o Pai e o Espírito, no Pai estão o Filho e o Espírito
e no Espírito estão o Pai e o Filho. Não existe absolutamente
nada na criação que seja comparável à Trindade. Como

19
preguiçoso na palavra. Como diz Agostinho, “Feriste-me o
coração com a tua palavra e te amei”.
Se nós fomos feridos pela palavra, nós a amamos, jorramos
dela e queremos cada vez mais do texto. Este é o ponto:
ficar no texto, não estar aquém nem além da teologia. Já que
abordei isso, cabe mencionar que esses comportamentos
são muito comuns no calvinismo e no arminianismo.
Calvinistas tentando dizer coisas que vão além da revelação,
e arminianos estando aquém sem querer dar respostas
ao que Deus já revelou. Muitas vezes, arminianos têm o
problema sério de querer que calvinistas respondam coisas
sobre as quais a Escritura não se manifesta.
Temos o exemplo de Roger Olson no livro “Contra o
calvinismo”, quando diz: “apelar para o mistério não é
apropriado”. Mas a própria Bíblia não nos dá uma teologia
do mistério como estamos demonstrando? Será que Roger
Olson não está se comportando como um tagarela teológico,
cobrando de calvinistas que eles também sejam tagarelas
e tentem responder o que a Escritura não responde? Talvez
falte a algumas pessoas a humildade epistemológica de se
sujeitar ao que Deus não diz.
Para não ser acusado de ser partidário – apesar de eu ser
mesmo, não sou neutro -, esse não é um problema exclusivo
como que por um espelho, que ela revela algumas coisas,
mas existem outras ocultas; e ele não entende que o homem
não está em posição de questionar Deus. Falta a esse
homem a Inteligência Humilhada sobre a qual fala Jonas
Madureira, uma compreensão da humilhação da inteligência,
de que sua inteligência não é poderosa o bastante para
especular, como que tateando no escuro, coisas que Deus
não fala.
A teologia especulativa é a tentação de buscar responder
questões sobre as quais Deus nunca se manifestou. Isso
é perigoso, pois há o risco de se tentar fazer adição à
revelação divina. Muitas vezes o homem bate o martelo e fala
firmemente sobre coisas que Deus nunca expressou em sua
Palavra. O problema da especulação filosófica, então, é tentar
responder o que a Bíblia não responde e dizer o que Deus não
diz.
Claro que há diferença entre o tagarela teológico e o homem
que acha simplesmente que nada pode ser compreendido.
Deuteronômio 29.29 fala sobre coisas ocultas, mas deixa
claro que existem coisas reveladas também. Logo, é legítimo
haver uma busca pela compreensão do que Deus revela.
É muito confortável assumir a posição de quem diz “Viu?
Fica discutindo essas coisas que Deus não fala”, quando,
às vezes, está revelado e você é apenas preguiçoso. Não é
porque existem tagarelas teológicos que você pode ser um

20
coração e amam o Seu salvador”.
Em segundo lugar, temos as 97 teses de Lutero contra os
escolásticos. Ele fala muito sobre Aristóteles entre as teses
43 e 49. Basicamente, contra Aristóteles. Sua tese 46 diz: “É
em vão que se forja uma lógica da fé, uma suposição sem pé
nem cabeça”. A tese 47 diz que “nenhuma forma silogística
subsiste em questões divinas”. A tese 49 é muito bonita: “Se
uma fórmula silogística subsistisse em questões divinas, o
artigo sobre a Trindade seria conhecido, em vez de ser crido”.
Aqui, Lutero cria um certo tipo de oposição entre aceitar
pela fé, crendo em certas doutrinas bíblicas, e tentar prová-
las argumentando filosófica e silogisticamente, por vias
aristotélicas.
Em terceiro lugar, João Calvino, nas suas Institutas, segue
o mesmo caminho. Respondendo à pergunta “por que Adão
não perseverou na fé?”, ele responde: “No entanto, por que
não quis sustentá-lo com o poder da perseverança, isso está
oculto em seu conselho secreto”. Apreendemos, portanto,
que Calvino cria em um conselho secreto de Deus. Calvino
diz mais: “Que aqui ninguém vocifere dizendo que Deus
poderia ter acudido melhor à nossa salvação se houvesse
impedido a queda de Adão, visto que essa objeção, em vista
da curiosidade em extremo ousada que envolve, não só
deve ser abominada pelas mentes piedosas, como também
pertence ao mistério da predestinação”.
de arminianos. Dentro do calvinismo, temos homens como
Vincent Cheung. É um tipo de autor que, mesmo não sendo
reconhecido em nenhum lugar do mundo, fez sucesso
exclusivamente no Brasil. Ele escreve algumas atrocidades
como o livro “O autor do pecado ”. Nesse livro, ele argumenta
que Deus é o autor do pecado, e não há problema nenhum
nisso. É uma tentativa de responder o problema do mistério
por outras vias, indo para o lado de um hipercalvinismo,
que certamente apresenta uma oposição ao que é dito pela
Escritura e só convence quem não consegue entender os
limites da revelação.
Permita-me dar três exemplos históricos interessantes. Em
primeiro lugar, os Cânones de Dort. O artigo 14 do primeiro
capítulo diz o seguinte: “Essa doutrina deve ser ensinada na
igreja de Deus – para qual ela foi particularmente destinada
– em tempo e lugar apropriados, com espírito criterioso,
de modo reverente e santo, sem curiosa investigação nos
caminhos do Altíssimo, para a glória do santíssimo nome
de Deus, e para a viva consolação do Seu povo”. No artigo
18, é dito algo muito parecido: “nós, porém, adorando
com reverência estes mistérios, exclamamos com o
apóstolo: Ó profundidade da riqueza [...]”. No artigo 13, o
documento ainda reconhece que não podemos compreender
a completude do agir de Deus: “Na vida presente, não é
possível aos que creem compreenderem totalmente o modo
como Deus realiza esta obra. Contudo, lhes é suficiente
conhecer e sentir que por essa graça de Deus eles creem de

21
“não sei, Deus não disse, só saberemos no céu”. Por isso
a pregação expositiva é tão importante. Ela é um jeito de
focar no que a Palavra de Deus tem para dizer, não no que eu
especulo a respeito da Escritura.
Pare de tentar defender a Bíblia dela mesma. Nós pregamos
muito dizendo “não é isso que o texto significa”, o que
faz com o que o sermão seja sem poder, sem estrutura de
convencimento, torna-se apenas uma tentativa de fazer
apologética contra o que a Bíblia diz. Tentando conciliar as
coisas, acabamos pregando de forma boba. Nós passamos
muito tempo tentando amarrar todos os detalhes da
revelação, quando Deus não quis isso. Às vezes vai soar
arminiano mesmo, calvinista ou legalista. Soe o que o texto
quer soar. Nós não pecamos por focar no que a própria
Escritura foca em determinado texto, entendendo que nem
tudo é totalmente conciliável em nível teórico. Não estou
dizendo que a Escritura contém contradições, mas ela
contém lacunas, tensões e mistérios que ainda não nos
foram revelados.

Esses são três documentos históricos que apresentam um
mesmo sentimento: às vezes Deus nos manda calar a boca.
Por vezes, não conseguiremos entender tudo. Deus não
intentou satisfazer nossa ociosa curiosidade em todos os
detalhes da natureza. Às vezes Deus quer te dizer que você
não consegue, que sua mente não alcança, apenas tenha fé,
ouça e pregue. Não se submeta aos caprichos da sua própria
consciência.
Concluindo, apresento quatro aplicações rápidas:
Seja humilde com os limites da própria mente. Reconheça
que você não consegue saber de tudo, não consegue
entender tudo, nem responder todas as perguntas. Sua
mente é limitada pelo que Deus falou.
Encontre paz em certas ignorâncias. Você não consegue
responder todos os mistérios da natureza? Nem eu. Isso não
pode te deixar nervoso ou triste, nem achar que não dá para
acreditar na Escritura. Certas ignorâncias nos são dadas por
Deus para humilhar nossos pensamentos.
Devemos dizer o que Deus diz. Precisamos aprender a nos
centrar na Palavra e nos concentrar no que foi revelado.
Crianças gostam muito de perguntar coisas absurdas sobre
os mistérios ocultos da natureza e às vezes o jeito é dizer

22
para preguiçosos, mas para aqueles que são interessados
em conhecer mais de Deus e aprender dEle. Dependendo
do nível de exposição à Palavra, isso cobra um certo tipo de
aproximação da Escritura. Um teólogo, pastor ou pregador,
precisa muitas vezes de uma aproximação um pouco mais
técnica, enquanto o cristão comum, nem sempre nem sempre
vai ter essa aproximação técnica, mas tem uma aproximação
que também é um tipo de pensamento. Que é a ideia de
meditar, meditar na Lei do Senhor. Meditar é gastar tempo
raciocinando sobre aquilo que foi lido. A palavra de Deus diz
para meditarmos na Lei de Deus de dia e de noite. Então, por
mais que não tenhamos um tempo extenso de leitura muitas
vezes, precisamos se dar ao máximo a meditação do texto
bíblico. Gastar tempo imaginando, pensando, aplicando, o
que o texto revela a respeito de Deus, sobre a obra de Cristo
e de como isso se aplica a nossas vidas, obras comuns a
cerca de trabalho, por exemplo. Tudo isso é de certa forma,
pensar teologicamente. Pensar a vida de acordo com a
Palavra de Deus. Teologia Sistemática, Teologia Pastoral,
Teologia Prática, Cosmovisão Cristã, tudo isso, é pensar
teologicamente.
GUILHERME: Paulo fala isso a Timóteo, “pense nessas
coisas”, diz ele. Além disso, Paulo, em Filipenses 2 diz: Tende
em vós o mesmo pensamento de Cristo. Alguns traduzem
como “atitude”, é uma ideia de que quando se pensa em
algo, vai agir também pensando nesse algo. O ponto de AULA 6 - COMO PENSAR TEOLOGICA-
MENTE
YAGO: Por que pensar teologicamente? Existem muitas
pessoas que acreditam que a vida deve ser pensada a partir
de muitos fatores. Pensar teologicamente convém a todo
cristão como o primeiro passo em qualquer tentativa de
interpretação de mundo.
GUILHERME: A própria palavra “pensar” pressupõe algo
muito importante: que o indivíduo irá pensar. Com isso, quero
dizer que, às vezes, lemos livros e estudamos no automático
e acabamos não pensando. Com teologia, é muito perigoso
algo assim, lendo algum conteúdo sem pensar a respeito
dele. Há uma grande diferença entre ler e pensar. Por
isso, existem algumas pessoas que não entendem certos
livros, pois o leem como receita de bolo, ou seja, não estão
pensando teologicamente. Não leem com leitura apropriada
para determinado livro. Cada autor tem sua forma de pensar
e de apresentar seu argumento, e como teólogo, o estudante
deve embarcar numa viagem. Se alguém deseja pensar
teologicamente e não apenas absorver algum conteúdo
automaticamente, tem que pensar.
YAGO: Isso é fundamental para que possamos compreender
a Escritura. A. W. Tozer dizia que Deus não fez as Escrituras

23
dispostos a pensar teologicamente e não apenas em receber
teologicamente.
GUILHERME: Por isso, às vezes, eu chamo de “Discípulo
Pragmático”, este é aquele que precisa saber apenas o
que ele deve fazer. Não quer saber por que ou como, ele é
pragmático. Existem duas coisas que você pode perceber
nas falas do Apóstolo Paulo. Paulo falava em indicativos e
imperativos e para ele, a ordem era sempre essa. Indicativos,
descrição e ensino primeiro, depois, imperativos. Se você
entender errado os indicativos você irá entender e praticar
errado. A vida cristã é pensar primeiro para agir. Sua
vida de discipulado vai ser afetada se você não pensar
teologicamente.
YAGO: Teologia precede prática, não é?
GUILHERME: Exato! Por ser muito parecido a religiosidade
com o exercício piedoso, as pessoas, por vezes, acham que
estão praticando o discipulando realmente. Mas não, estão
apenas trocando a missa pelo culto, a hóstia pela ceia e
ainda não conseguiram compreender o que é realmente o
cristianismo.
YAGO: O processo de pensar teologicamente sempre
passa pela revelação teológica fundamental da Igreja, que
Paulo é claro ali, você precisa ter essa mentalidade. Ele usa
o exemplo de Cristo logo em seguida, para que você possa
entender tudo que está acontecendo na igreja, na obra e
no mundo. Estudar teologia é pensar. Pensar não é uma
atividade tão amada nos dias atuais, pois sempre queremos
fast foods. Teologia não é isso.
YAGO: Talvez você tenha entrado no Teologia Descomplicada
com esse espírito. Receber no curso algo pronto e rápido.
Quando, na verdade, o Teologia Descomplicada é um
caminho para te apresentar o seu próprio aprofundamento
e raciocínio. Se chegando em qualquer ambiente teológico,
com dúvidas sobre certos temas, você pode sugerir um
vídeo que o responda rapidamente, mas isso, nunca pode
ser suficiente para alguém. Se você está interessado em
entender mais de um assunto, começar a raciocinar para
além do senso comum, você precisa ter várias fontes, autores
que discordam etc. Mas claro, se um cristão comum, alguém
com pouca leitura ou alguém que trabalha muito, tudo bem.
Talvez ao escutar uma ou duas pessoas se dê por satisfeito.
O problema é que existem muitos desafios relacionados a
isso, muitos perigos até ao se deixar se convencer por coisas
que muitas vezes não representam bem a vontade de Deus.
Por isso é tão importante estar sempre conferindo nossas
fontes, ouvindo mais pessoas, confiando em teólogos de
mais renome, sempre parando para ouvir uma segunda ou
terceira posição sobre um mesmo assunto se estivermos

24
Bíblia, para que seu horizonte, pensamentos e mente sejam
expandidos. Não apenas ler a Bíblia como uma tecla só, pois
a Bíblia é um instrumento inteiro.
Duas dicas iniciais para se estudar biblicamente são: se
aproximar das Escrituras e procurar fazer a pergunta certa.
Às vezes nós não entendemos o texto porque estamos
fazendo a pergunta errada ao texto.
YAGO: Um maravilhoso exemplo disso é um vídeo que
gravei com Mário Meister com título: Gênesis, além do
Evolucionismo, no canal Dois dedos de Teologia no YouTube.
O ponto de Meister é muito interessante, para ele, Gênesis
um não foi escrito para podar-me, mas foi escrito para
explicar sobre o caráter de Deus e algo sobre a criação de
Deus.
Ao lermos Gênesis 1, queremos respostas sobre
evolucionismo, terra nova ou velha, quando essa não é a
intenção proposta no texto. Claro, é uma ideia acerca do
texto, mas não é a ideia teológica do texto. Muitas vezes,
trazemos nosso arcabouço de pensamento para o texto, e
acabamos perdendo aquilo que o texto tem a nos dizer.
GUILHERME: Uma das formas erradas de se pensar
teologicamente é quando você procura texto sem contexto.
é a Escritura. Se não temos teologia bíblica, também não
temos o pensar teologicamente de forma bíblica. Você pode
pensar teologicamente a partir do momento que você pensa
sobre Deus, um budista pensa sobre a vida, alguém pensa
sobre a história da Igreja ou religiões afro. Um panteísta,
por exemplo, está pensando teologicamente, mas pensar
teologicamente da forma cristã tem certos pré-requisitos. O
principal deles é fazê-lo por meio da revelação da teologia
cristã que é a Palavra de Deus. Pensar teologicamente é
usar a Escritura para dar respostas à vida. Muitas vezes, não
sabemos como fazer isso porque achamos que a Escritura
fala apenas sobre coisas acerca do culto e devocionais,
como se a Bíblia falasse apenas sobre jejum, oração amar
aos pais e não falar palavrões. No entanto, a Bíblia é muito
mais do que isso. Ela ensina algo para ser aplicado a todas
as áreas de nossas vidas. Pensar teologicamente é quando
precisamos tomar alguma decisão, de alguma estrutura
de pensamento, comportamento, ato, ideia, volição que
tentamos estabelecer ou algum pensamento interior, sempre
raciocinar aquilo a partir da Palavra de Deus.
GUILHERME: É muito importante essa compreensão porque
a Bíblia não vai apenas me dar respostas, mas corrigir
minhas perguntas. A Bíblia vai me dar novas perguntas e
expandir meu horizonte. Às vezes, eu não devo procurar o
que estou precisando hoje pois a Bíblia irá dizer o que estou
precisando. Por isso, é importante uma leitura sistemática da

25
quer dizer está no centro desse círculo, enquanto ao redor
do círculo estão as implicações do que o autor quis dizer.
Então, tenho que entender primeiro o núcleo, e depois
as implicações do que ele quis dizer e fora do núcleo,
as aplicações diretas do meu contexto. Primeiro, buscar
entender o significado. Para entender o significado, preciso
entender primeiro a pergunta que o autor quis responder.
O ponto é sempre que estamos procurando saber o que
o autor está querendo dizer a igreja naquela época. A
grande dificuldade é que sempre queremos compreender
com nossos pressupostos. Nunca nos livramos de nossos
pressupostos, tudo que carregamos, nossa vida, o que
pensamos e a forma que pensamos. Mas, ainda que eu
carregue meus pressupostos, tenho que chegar à Bíblia com
expectativa de que este pressuposto será transformado.
Tenha cuidado para quando for ao texto não o retirar do
contexto. Primeiro, tente entender a pergunta que o autor
tenta responder, só depois, coloque suas perguntas à luz do
que ele se propõe a responder.
YAGO: Pensar teologicamente está relacionado ao modo que
pensamos texto-prova. Na imaturidade teológica, colocamos
textos para brigarem entre si. Temos diversos versículos que
melhor se encaixam na nossa compreensão. No entanto,
encontrar textos que defendam uma posição não diz muita
coisa por si só. A questão é, como cada posição interpreta
as passagens e como essa leitura das passagens melhor se
Por exemplo, quero saber algo sobre arminianismo e
calvinismo. Pego um texto isolado fora de contexto, não se
importando com a questão que estava sendo debatida na
época. Eis a dica: preciso procurar primeiro a pergunta que
estava sendo feita no contexto bíblico, antes de tentar fazer
minha própria pergunta.
Em Gênesis, será que Moisés estava querendo explicar quem
criou o mundo? Acredito que sim. Ou mesmo, tentando
responder a seguinte pergunta: Deus criou um mundo mal?
Ou até “A quem devemos adorar?”. Antes de qualquer coisa,
preciso ir às perguntas que o texto bíblico está se propondo a
responder.
YAGO: Isso não significa que não podemos chegar ao texto
com algumas perguntas específicas. Se quero, por exemplo,
entender como funcionam as relações cristãs com a política.
Mas antes disso, preciso sempre dar um passo atrás. Antes
de fazer minha pergunta ao texto, tenho que olhar para a
resposta do texto, descobrir qual a pergunta que o texto
responde, qual o objetivo do autor para o público primário,
o que eles entenderam, contexto e forma, para a partir daí,
tentar achar a resposta que pode ser dada a minha pergunta.
GUILHERME: Você pode ver o significado do texto como
um grande círculo. Imagine que o significado que o autor

26
estaremos lidando com linguagem simbólica. A dica é
se livrar do texto-prova “terrível” e considerar o contexto
tomando cuidado para não relacionar aquele texto no tema
que deseja provar.
YAGO: Isto está relacionado a ler o texto bíblico como nossa
própria hermenêutica, como na ilustração do cartógrafo e do
arquiteto.
GUILHERME: O grande problema é que o arquiteto tem algo
pronto, ele quer formar uma estrutura própria. O cartógrafo,
por sua vez, está no mapa, está à procura de algo. O
cartógrafo não chega fazendo prédios, ou fazendo sua
estrutura de pensamento, mas chega procurando algo.
Eu gosto muito da série Sherlock Holmes. Estou assistindo
a uma outra série que utiliza um método hermenêutico
chamado na linguística de forense chamada abdução. Você
pode pesquisar depois a diferença entre abdução, dedução
e indução. Abdução é quando eu junto provas. Sherlock
Holmes usa abdução.
A abdução é basicamente quando me aproximo de um
acidente e começo a observar as evidências que tenho. O
método abdutivo vai olhar a bicicleta e qual a posição que
ela está. Logo depois, irá olhar para o corpo e observar
harmoniza com o contexto imediato e com o contexto todo
da Escritura. Texto-prova não é de todo ruim, mas o problema
está em achar que fazer teologia é colecionar versículos que
muitas vezes estão de forma isolada.
GUILHERME: Uma vez eu estava dando uma aula e um rapaz
me perguntou sobre escatologia. Ele citou várias passagens
de Zacarias, Amós e Miquéias. Perguntei a ele o que esses
textos citados significavam de acordo com o contexto.
O problema do texto-prova é quando vejo que uma palavra
que se parece com a palavra que quero dizer ou provar. Você
precisa fazer as associações que o autor quer fazer antes de
colocar o que você acha. Uma palavra parecida não significa
que os textos se conectam. Essa é uma maneira errada de
pensar.
YAGO: Às vezes, autores usam palavras completamente
diferentes, ilustrações distintas, para falar da mesma coisa.
Às vezes, usam as mesmas palavras, mesmas ilustrações
para falar de coisas diferentes. Se apenas colecionarmos
versículos parecidos, estaremos com problemas no nosso
processo de construção teológica.
GUILHERME: Por isso, gosto sempre de começar a pensar
teologicamente por versículos mais claros onde não

27
das ciências sociais. A mediação hermenêutica é a leitura da
Escritura a partir da mediação sócio-analítica e a mediação
prática é a resposta para a realidade a partir das duas
mediações anteriores.
Vai primeiro analisar o mundo através da ciência social que
é um jeito neutro de interpretar a realidade. A partir desses
dados da realidade, é levado essa carga de informação à
Escritura para poder ler a Escritura com essas leis. Por isso,
quando Ariovaldo Ramos diz que lê a Bíblia com a mente de
classes, ele está fazendo um método teológico da teologia
da libertação. Uma mediação sócio-analítica, lendo a Bíblia
a partir da ciência social. O problema disso é que isso não é
pensar teologicamente. Pensar teologicamente é ler a ciência
social a partir da Escritura e não o contrário. Eu consigo fazer
uma freudiana da Bíblia, assim como de forma evolucionista,
liberal ou marxista. Mas isso não é a forma correta. Temos
que ler evolucionismo, liberalismo ou marxismo a partir da
Bíblia. Usar a Escritura como instrumento para interpretar os
elementos da realidade e não o contrário.
GUILHERME: O problema disso é que você observa que
quando uma ideologia vem com carga muito pesada no
texto bíblico, não consegue captar o todo. Você sabe que
tem algo errado no pensamento quando parece que as
coisas não se juntam num texto como um todo. Como Yago
disse, é quando eu pego um texto e coloco aquilo à luz do
sua localização em relação a bicicleta. Ela não deduz, mas
primeiro reúne todo o material.
A metáfora da cartografia no estudo bíblico é ir atrás de
algo. A mente do arquiteto já é de montar uma estrutura de
pensamento. Temos que ter cuidado para não tornamo-nos
teólogos papagaios, que apenas repetem e não aprendem
a pensar teologicamente. Ele não junta os textos, provas,
pistas que o autor está querendo falar.
O quadro De Olho no Texto do canal Dois dedos de Teologia é
um exemplo disso. De tentar juntar o material bíblico.
YAGO: Às vezes algumas pessoas até reclamam e dizem que
deveríamos ter dado as respostas às suas dúvidas logo de
cara. Nós mostramos o processo de chegada.
É interessante que às vezes, o meio pelo qual tentamos
pensar teologicamente acaba sendo destruído pela nossa
própria metodologia. Se pensarmos no catolicismo e outros
modos de fazer hermenêutica política, como a teologia da
libertação, por exemplo, defende o que eles chamam de
mediações. Algo também muito apropriado pela teologia da
missão integral. Eles vão falar do processo teológico como
três mediações: sócio-analítica, hermenêutica e a prática.
A mediação sócio-analítica é a leitura da realidade a partir

28
GUILHERME: Quando você vai ao texto das Escrituras
carregado de ideologias, começa-se as aberrações. Malafaia,
nesse exemplo, não consegue harmonizar textos. Algum dos
textos vai ser pervertido, no mínimo. Cuidado com definições
de palavras, procure o que o autor definiu. Prefiro a definição
de Efésios de predestinação do que a do Silas Malafaia.
Paulo está preparando no texto o que é predestinação. É uma
eleição que é realizada antes da fundação do mundo para
ser santo e irrepreensível. É um pacote, e não uma definição
fraca. Eu não posso tirar o “para se santificar” ou que Deus
elegeu no passado. Pensar teologicamente errado é como o
Silas Malafaia fez. Cuidado para não trazer suas ideologias
para a Escritura para não perverter algum texto e não
conseguir harmonizar com o todo.
Separei alguns métodos de dois teólogos sobre o processo
de pensar teologicamente. Millard Erickson e Wayne Grudem.
Erickson acredita que existem dez aspectos de pensar
teologicamente. Se, por exemplo, desejar estudar sobre
a Trindade, tendo cuidado com o contexto e para não
pegar texto-prova fora do contexto, deve-se encontrar as
passagens relevantes, ou seja, selecionando possíveis.
Quando ele fala isso, não está falando de texto-prova,
mas de passagens que explicitamente citam aquilo que
você está procurando. No exemplo de Trindade, que
passagens poderíamos utilizar? Há nove passagens no
todo. O problema dessas ideologias é que casa como todo
bíblico. Qual a melhor maneira de pensar que harmoniza
com o todo da Escritura? Eu poderia mostrar ao Ariovaldo
vários pontos que não se conectam na Escritura e ele terá
que negar alguma coisa. Se você quer um modelo errado
de pensar teologicamente, assista vídeo como de Silas
Malafaia definindo predestinação. Ele diz que predestinação
é determinar o futuro. Minha pergunta a ele seria de onde ele
tirou essa definição. Ele pode unir duas palavras do grego
para tentar provar isso, mas minha pergunta é onde a Bíblia
me dá uma definição de predestinação? Algumas pessoas
definem pecar como errar o alvo, mas onde está essa
definição na Bíblia? A melhor definição que temos de pecado
é dada por João, quando ele diz que pecado é transgressão
da Lei. É muito mais fácil apegar-se a essa definição do que
estudar palavras, simplesmente.
YAGO: Existe um livro muito famoso de D. A. Carson que foi
publicado em português como Os Perigos da Interpretação
Bíblica, que antes foi publicado como Falácias Exegéticas.
Carson vai definir que muitas vezes achamos que o
significado de algo está contido no léxico. Se pecado é
errar o alvo, se eu quero matar alguém e não consigo, eu
estou pecando? Pecado já está definido, é transgredir a Lei.
Podemos até dizer que transgredir a Lei é errar o alvo, mas
não é um alvo qualquer, é a Lei de Deus.

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YAGO: Para muitas pessoas, termina por aí nesses três
passos. Selecionando os textos, tentando conciliá-los e
procurando uma aplicação.
GUILHERME: O problema disso é que você pode estar
deixando passar muita coisa. Pode haver pontos cegos
que você ainda não pensou. Por isso, a importância de ir ao
quarto ponto, o do tratamento histórico, ou seja, procurar na
história da Igreja, mestres que falam a respeito do tema. Por
exemplo, o que Lutero pensava, o que a patrística me diz.
Lembre-se, Deus deu dons para a Igreja. Não foi apenas no
século XXI, foi também no decorrer da história. Procure o que
outros escreveram. Quando estou escrevendo sobre algo,
gosto de ver o que Calvino falou. Não que ele esteja sempre
certo, mas porque era um mestre. Ou Lutero, que é alguém
que gosto muito. Procure sempre saber o que teólogos
pensam sobre determinado assunto.
Depois disso, perspectivas culturais acerca do texto. Às
vezes você está estudando sobre demonologia, por exemplo,
e precisa ver como teólogos africanos lidam com isso. Estive
conversando com alguns e eles têm uma perspectiva sobre
a realidade do mundo espiritual interessantíssima. Por
estarmos em certa cultura, temos um pensamento muito
fechado sobre isso, fazendo afirmações tolas. Perdendo
o contato com outras culturas onde existe essa realidade
espiritual.
Novo Testamento que falam explicitamente da divindade de
Cristo. E por explicitamente, quero dizer, que estou reunindo
passagens que tem debates sobre elas. Um versículo muito
claro é o de João 1:1, sem procurar o que as seitas falam
a respeito dele, mas procurando passagens relevantes que
falem especificamente sobre aquilo.
YAGO: Unificando e buscando um todo coerente.
GUILHERME: Como vemos no exemplo, Paulo fala sobre
justificação pela fé, e Tiago fala sobre justificação pelas
obras.
YAGO: A ideia é selecionar as passagens que falam sobre
justificação e tentar unificá-las buscando coerência nisso.
GUILHERME: Acreditando que a Bíblia é de um autor divino,
então possui essa coerência no todo.
Em terceiro lugar, você deve analisar o ensinamento que
todas essas passagens lhe dão. Como no exemplo, selecionei
as passagens de Jesus como Deus, então agora eu considero
o ensinamento de que Jesus é Deus. Isso é simples, mas
talvez nem tanto, pois há passagens que dizem que Jesus
é homem. Por isso, preciso entender o significado do que o
texto bíblico me ensina sobre Jesus ser Deus.

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GUILHERME: Quais seriam os ensinos que não são
permanentes na Bíblia e que foram apenas pra época dos
autores?
YAGO: Não aparar os pelos da barba.
GUILHERME: Ou a alimentação por exemplo. Marcos diz que
Jesus tornou puro todos os alimentos. Então a questão de
matar animais não é permanente. A pergunta seria então, o
que é permanente?
YAGO: Toda doutrina tem um pouco disso. Tem algo que é
culturalmente localizado, mas tem algo que é supracultural,
a essência daquele aspecto doutrinário. Usar ou não o
véu, por exemplo, ao perceber que aquilo é algo localizado
temporalmente, não significa apenas que foi algo que se foi.
Mas perceber o que é eterno naquela doutrina. Isso é uma
forma de olhar pro Antigo Testamento.
GUILHERME: I Coríntios 8, fala sobre as comidas sacrificadas
aos ídolos.
YAGO: E não enfrentamos mais essa realidade.
GUILHERME: Exato! O problema é que só pensamos com
YAGO: Muitas vezes nós não temos como pensar de forma
alheia a nossa cultura, e uma das formas de sairmos do
nosso próprio cativeiro hermenêutico é tentar olhar pessoas
em outras culturas e outras formas de interpretar o mundo a
partir de outras histórias de vida que lançam cada vez mais
luz sobre a interpretação da passagem bíblica.
GUILHERME: Existe um monopólio de teólogos americanos,
mas e os teólogos brasileiros que conseguem falar melhor
sobre relações de pobreza? Ou então, teólogos da Ásia
que conseguem falar melhor sobre questões de mundo
espiritual ou do mundo da mente enquanto meditação? Tive
contato com teólogos da Tailândia e minha percepção é
que eu estava com uma mente americanizada e eles tinham
aplicações da doutrina que eu nunca pensaria em aplicar
aquela doutrina na minha vida. Realidade daquela cultura
surgiram e eu não esperava dentro do meu pensamento
doutrinário. Por isso, procure teólogos e outras culturas.
YAGO: Em sexto lugar!
GUILHERME: Veja o que é permanente. Os ensinos da Bíblia
são permanentes, já outros ensinos não.
YAGO: A essência da doutrina.

31
GUILHERME: Já falamos um pouco da parte histórica, então
agora consultarei comentários. Mas bons comentários. Você
deve ter cuidado nisso, deve pegar várias perspectivas. Não
esqueça que quem escreveu os comentários foram homens.
YAGO: Pecadores também.
GUILHERME: Você deve ter uma boa lista de comentários. A
minha dica é que você deve aproveitar os bons comentários
que estão sendo traduzidos agora. O da editora Vida Nova
é um dos melhores comentários. Traduziram há pouco o
melhor comentário de I Coríntios, já escrito. Não é apenas
eu que estou dizendo, mas praticamente todos os teólogos.
Esse comentário foi escrito por Gordon Fee. Um pentecostal
inteligentíssimo. É imprescindível que você tenha esse
comentário se você deseja estudar I Coríntios.
Depois de falarmos da metodologia de Erickson, vamos falar
sobre o método do Grudem. O método dele é mais simples.
YAGO: Três passos apenas.
GUILHERME: Ele começa com passagens relevantes, depois
ele tenta encontrar um tópico como uma harmonia e depois
ele tenta dar uma conclusão, o que pode falar daquilo.
Apenas isso. Passagens relevantes, harmonizar essas
esse texto em festa junina, ou que é sobre a consciência do
irmão. Mas o ponto central do texto fala é que existem certos
lugares onde os demônios estão presentes e estão sendo
cultuados de alguma forma através de pecados sexuais ou
algo do tipo e aquilo vai me tocar de alguma maneira. De
onde eu tirei isso? Do texto! O texto diz que para lembrar
dos israelitas que, enquanto estavam fazendo aquela festa
com o bezerro de ouro, caíram na idolatria sexual. Paulo diz
para terem cuidado ao sair do templo pois no templo não
tinha apenas comida, mas também relações sexuais impuras
sendo feitas em cima da mesa. Paulo ao dizer que eles estão
em comunhão com os demônios, está querendo dizer que
estando naquele lugar em comunhão com os demônios, vai
ser afetado por aquilo. A aplicação é que há certos lugares
que é impossível você não ser afetado de alguma forma em
sua vida espiritual. Assim como a comunhão com o Senhor
me afeta, a comunhão com aquilo que tem comunhão com
demônios vai me afetar. No caso, ali, foram levados a praticar
relações sexuais. Paulo estava alertando os coríntios que
isso iria acontecer. Indícios da carta indicam que isso já
estava acontecendo.
YAGO: Então, em sexto lugar, olhamos para a essência
da doutrina, aquilo que é transcultural e em sétimo lugar,
olhamos para a iluminação que provém de materiais
extrabíblicos.

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vai utilizar esse conceito para falar sobre como o teólogo
pensa sobre Deus. Podemos descrever em terceira pessoa,
mas o processo teológico tem que ser em oração. Porque
nós estamos humilhados diante da grandeza de Deus. Nós
fazemos teologia pedindo para que Deus participe desse
processo teológico conosco.
GUILHERME: O Salmo 23 diz que o Senhor é o meu Pastor e
nada me faltará. Depois o autor utiliza-se do pronome Ele, e
logo depois do pronome Tu. Ele não fala mais que Ele está
comigo, mas que Tu estás comigo. E isso, é muito importante
no pensamento teológico. Onde você chega no momento em
que deixa de falar sobre Ele e fala com Ele.
YAGO: Encerraremos essa aula respondendo algumas
perguntas. Um dos alunos perguntou se a sistematização da
teologia pode levar ao desprezo da teologia bíblica.
GUILHERME: Às vezes, o indivíduo pode ficar tão preocupado
em ter uma doutrina prontinha para o agora, um pensamento
fechado e em como aplicar isso na vida, e acaba esquecendo
as particularidades de cada autor. O que Paulo ensina sobre
aquele assunto, naquele momento, sem nenhuma ansiedade
de já querer ter uma formulação geral sobre o assunto. A
dificuldade pode aparecer em Jesus ser Deus, por exemplo.
Há textos que dão um aspecto muito interessante. Por que
passagens e daí você tenta dar uma definição sua.
YAGO: Dentro do nosso processo teológico, podemos
explicar isso de uma forma muito simples. Identificação dos
textos, exegese dos textos, teologia bíblica, teologia histórica
e aplicação.
GUILHERME: Em outras palavras eu selecionaria as
passagens bíblicas, estudo essas passagens dentro do seu
contexto, procuro entender o que cada autor me diz sobre
isso dentro do seu contexto e de sua linguagem – teologia
bíblica - , depois vou ao que outro escreveram sobre isso-
teologia histórica- e na luz de tudo isso, aplico a minha vida.
YAGO: É um meio de pensar teologicamente que faz
realmente sentido.
GUILHERME: Não são apenas passos robotizados, é algo
que você precisa encarar como teólogo. Lutero vai falar algo
sobre o teólogo que eu gosto. Que o teólogo abraça a oração,
o estudo e a cruz. Ele fala sobre o orar, o labutar e o sofrer.
Não são passos mecânicos, é uma imersão no texto bíblico.
É fazer teologia em segunda pessoa, como diz Agostinho.
YAGO: Teologia é isso, fazer teologia conversando com
Deus. Jonas Madureira no livro Inteligência Humilhada

33
Apocalipse e como interpretamos as cartas de Paulo.
Querendo interpretar uma linguagem simbólica da mesma
forma que interpreta os Evangelhos. Às vezes, dentro dos
Evangelhos há linguagens simbólicas, então é necessário
respeitar esse gênero. É necessário entender qual o foco do
gênero. Qual o foco da simbologia, por exemplo? No texto de
Apocalipse quando diz que Jesus tem olhos como chamas de
fogo, pode-se entender errado, fazendo um reducionismo do
texto.
quando João diz que Jesus é filho não é da mesma forma
que o livro de Hebreus fala que Jesus é filho? A doutrina diria
que Jesus é filho de Deus, a teologia diria que Jesus é filho
em vários aspectos. A teologia bíblica de Hebreus iria auxiliar
nesse processo. Hebreus ensina que ser filho tem mais a
ver com reinado, enquanto João define filho como ter mais
intimidade. Tenha cuidado, vá sempre no que o autor quer
dizer.
YAGO: Outra pergunta de um aluno é como podemos ajudar
as pessoas a pensarem teologicamente quando elas têm a
mente mais fechada sobre esses assuntos.
GUILHERME: Às vezes é difícil tentar convencer uma pessoa,
então faça um exercício de interpretação com essa pessoa.
Faço isso com meus alunos, pergunto coisas ao texto
com eles. Quando tenho mais contato com as pessoas,
pego um texto e faço o processo de interpretação para
mostrar na prática que sem interpretação cuidadosa não há
conhecimento.
YAGO: Em uma outra pergunta, um aluno perguntou como
qual o risco de desprezarmos o gênero literário de cada texto
bíblico no processo de pensar teologicamente.
GUILHERME: Às vezes queremos interpretar o livro de

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ou ato e potência. Ele disse que somente uma coisa é o Ser
(Deus) e tudo mais tem ser com potenciais diferentes. As
coisas que existem no mundo existem em potência. Uma
mesa existe em potência numa árvore. A árvore precisa ser
cortada, trabalhada e transformada em mesa. Esse processo
de “tornar-se” é possível porque as coisas são compostas de
ato e potência. Pode-se dizer que na medida que realizamos
a potência de uma coisa ela está em ato. De volta ao
exemplo da mesa: a mesa só existe em ato, como mesa, na
medida em que sua potência, o trabalho de transformação, é
realizada. Porém, Deus é o ato puro. Deus não tem potência
porque isso o faria mutável, mas Deus como ser criador de
tudo e supremo a tudo não muda. Todas as demais coisas
criadas são análogas ao Ser, portanto finitas e mesclando ato
e potência.
Assim, podemos conhecer Deus a partir da observação e
experimentação do mundo, mas sempre por analogia, nunca
e totalidade. Podemos dizer que Deus é justiça, amor, ou
santidade por analogia com o que observamos. As cinco vias
de Aquino são o resultado desse pensamento. Através do
uso da razão, o ser humano pode fazer analogias e chegar ao
conhecimento de Deus.
Esse conhecimento, porém, nunca é um conhecimento de
identidade. Se o fosse, Deus seria limitado. Assim, podemos
conhecer mais Deus pelo que ele não é, do que pelo que é. AULA 7 - ANALOGIA FIDEI E ANALOGIA
ENTIS
​​U
ma das diferenças entre a igreja católica e a
protestante é como cada uma vê a forma como Deus
pode ser conhecido. Tomás de Aquino e João Calvino
são fundamentais para essa diferenciação. Ainda que Aquino
seja muito citado e referenciado por ambas teologias católica
e protestante, ele se distingue de Calvino na compreensão do
conhecimento de Deus. Tradicionalmente, a Igreja Católica
segue o pensamento de Aquino. Ele seguia aquilo que é
chamado de analogia entis ou analogia do ser.
A analogia entis é dita ser a essência do catolicismo por
próprios representantes do catolicismo como Steven Bevans.
A analogia do ser está alicerçada na filosofia aristotélica
empregada por Aquino. Ela tem como ponto de partida o
princípio da inteligibilidade, o qual diz que se o ente é o
objeto do intelecto, logo ele pode ser conhecido.Ou seja, o
ser humano pode conhecer o ser naturalmente. Isso se dá
através das experiências que o ser humano tem no mundo.
Existe uma continuidade entre o ser de Deus e tudo mais que
foi criado. Todas as coisas têm sua existência derivada a
partir de um só ser. Aquino, para se livrar de uma associação
com o panteísmo, fez uma distinção entre forma e matéria,

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revelação de Deus é um dom divino e não depende de nós
mesmos. A analogia fidei nos leva a não procurar saber mais
do que a própria Bíblia nos fala acerca de Deus. As Escrituras
são nossa regra de fé e nossa única forma de conhecer a
Deus conforme ele pretendeu se revelar.
A analogia fidei busca entender o que o autor bíblico falou
em seu próprio contexto e peça literária. Cada autor tem
suas características e peculiaridades que o distinguem
dos outros. Ela também advoga que a Escritura é a própria
intérprete de si mesma. Textos paralelos complementam
a compreensão do que está sendo trabalhado em comum.
Entretanto, um risco que podemos correr aqui é interpretar
um autor segundo os termos outro. Às vezes, na busca de
aplicar a analogia da fé cometemos o erro hermenêutico de
não deixar um autor falar dentro de seus próprios termos
e acabar misturando categorias de autores diferentes,
causando assim uma confusão doutrinária. Isso não quer
dizer que a Bíblia se contradiz, mas que cada autor abordou
temas de uma forma peculiar e que pode ser distinta em
abordagem de outros. De tal forma, que se aplicarmos
indistinta e impensadamente tudo o que Tiago fala sobre
fé à Paulo, teremos um problema acerca da compreensão
da justificação. É preciso analisar o propósito, contexto e
contexto dos autores antes de aplicar a máxima “textos
mais claros interpretam textos mais obscuros”. Devemos
entender que pode ser propósito do autor deixar um texto
Deus não é conhecido em sua essência, porque ele ainda é
transcendente à criatura.
Dessa forma, as Escrituras se tornam apenas mais uma fonte
de conhecimento de Deus. Assim, o catolicismo entende
que o homem não precisa da Bíblia para discernir Deus
da criação. A partir desse pressuposto, várias doutrinas
católicas surgem. O resultado do pensamento de Aquino é
que Deus é totalmente acessível através da teologia natural,
mas por outro lado ele é desconhecido, porque é ato puro.
Isso pode causar uma confusão. Se falamos que Deus é
amor, até que ponto essa afirmação não torna o amor o
próprio Deus em identidade? Até que ponto o amor de Deus
é análogo ao de um pai por um filho, mas em que ponto ele
é totalmente diferente? A analogia entis pode levar a sérios
problemas acerca da compreensão de quem Deus é.
Outra abordagem é chamada de analogia fidei. A analogia
fidei ou analogia da fé diz que nunca poderemos chegar
ao conhecimento de Deus por si mesmos. Isso só pode
acontecer por meio da revelação que Deus faz e quanto esta
nos alcança. O conhecimento de Deus se dá em sua Palavra,
por meio do ES. Ou seja, só podemos conhecer a Deus a
partir da revelação especial que ele faz de si mesmo.
A própria capacidade de perceber as Escrituras como

36
obscuro. Essa máxima pode ser utilizada para dizer que o
NT interpreta o AT. O que pode nos levar a pensar: “Como os
leitores do AT interpretavam seus textos antes do NT? Eles
não precisariam dele?” A resposta de outros é que o AT tem
seu contexto próprio e interpreta a si mesmo, assim como o
NT interpreta a si mesmo. A diferença entre os testamentos
se dá na progressão da revelação que torna as coisas mais
claras. Portanto, de forma resumida, a analogia fidei nos
aponta que Deus só pode ser conhecido tal qual ele quer ser
conhecido por meio de uma revelação especial. Moisés não
deduziu que a sarça em chamas era Deus se revelando, foi
Deus quem se revelou a ele. Da mesma forma, Deus se revela
através das Escrituras hoje para nós. É através dela que
conhecemos quem ele é pelas analogias que estão reveladas.