14 ESPECTRO AUTISTA GNENERALIZADOTGD TEA.pdf

JosileiaSilva2 9 views 38 slides Aug 30, 2025
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About This Presentation

TRANSTORNO


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TGD / TEA
por RJ DIGITAL null

Sumário
TGD / TEA
Introdução
Evolução dos Critérios Diagnósticos
Mudanças na Classificação Internacional
Terminologia: Síndrome x Transtorno
Transformações na Saúde Mental Brasileira
CID 10: Classificação Internacional de Doenças
Evolução do Manual Diagnóstico e Estatístico
Evolução do DSM e suas Versões
Comparativo entre DSM-IV e DSM-5
CID-11: A Nova Classificação Internacional
Síndrome de Rett na Nova Classificação
Um Apanhado Histórico: Síndrome de Asperger
Características da Síndrome de Asperger
Definição e Características Clínicas da Síndrome de Asperger
Características Comportamentais na Síndrome de Aspe rger
Sintomas da Síndrome de Asperger
Desafios na Compreensão Social
Critérios para Diagnóstico
Causas da Síndrome de Asperger
Pontos Fortes e Desafios na Síndrome de Asperger
Intervenções e Tratamento para Síndrome de Asperger
A História do Autismo
Classificação e Evolução do Conceito de Autismo
Conceito de Autismo
Causas do Autismo
Diagnóstico do Autismo
Indicadores da Presença do TEA
Indicadores de Fala e Expressividade no TEA
Diretrizes Diagnósticas dos TEA
Autismo (Transtorno do Espectro do Autismo - TEA)
Causas Genéticas do Autismo
Sinais de Autismo na Infância
Informações e Estatísticas sobre Autismo
Síndrome de Rett e Tratamentos para TEA
Considerações Finais
Referências

Introdução
Os Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), anteriormente conhecidos como Transtornos Globais do
Desenvolvimento (TGD), representam um conjunto de c ondições caracterizadas por desafios na interação social,
padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. A compreensão dessas condições
sofreu transformações significativas ao longo das últimas décadas, refletidas nas mudanças de classificação,
terminologia e abordagens diagnósticas.
Este estudo busca explorar a evolução histórica e conceitual do autismo e condições relacionadas, incluindo a
Síndrome de Asperger e a Síndrome de Rett, analisando as mudanças nas classificações internacionais como a CID
(Classificação Internacional de Doenças) e o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais).
Examinaremos também os critérios diagnósticos, características clínicas, causas potenciais e abordagens de
intervenção para essas condições.
A importância deste tema se destaca no contexto atual, onde o aumento da conscientização sobre os TEA tem
levado a avanços significativos na identificação precoce, no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e na
promoção da inclusão social das pessoas com autismo. Compreender a complexidade desses transtornos é
fundamental para profissionais de saúde, educadores, familiares e para a sociedade como um todo.

EVOLUÇÃO DOS CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
Os critérios diagnósticos para o autismo evoluíram significativamente ao longo das décadas. Essa evolução reflete
um entendimento cada vez mais refinado e abrangente desse complexo espectro de condições neurológicas.
Desde as primeiras descrições feitas por Leo Kanner em 1943 e Hans Asperger em 1944, passando pelas primeiras
definições formais no DSM-III em 1980, os critérios têm sido constantemente revisados para melhor capturar a
diversidade de manifestações do autismo.
Conforme o DSM-IV, publicado em 1994, as crianças podiam ser diagnosticadas com cinco diferentes transtornos:
Transtorno Autista, Transtorno de Rett, Transtorno Desintegrativo da Infância, Transtorno de Asperger e Transtorno
Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação. Cada um desses diagnósticos apresentava critérios
específicos, embora compartilhassem algumas características fundamentais relacionadas às dificuldades de
comunicação social e padrões restritos de comportamento. Esta abordagem categórica, entretanto, apresentava
desafios na prática clínica, com muitos pacientes não se enquadrando perfeitamente em uma categoria es pecífica.
No entanto, o DSM-V, lançado em 2013, traz uma nova visão para a realização desse diagnóstico, adotando uma
abordagem dimensional em vez de categórica. Esta mu dança representou um paradigma importante na
compreensão do autismo, reconhecendo-o como um espe ctro contínuo de manifestações, em vez de condições
distintas e separadas.
A partir desta atualização, qualquer pessoa diagnosticada com algum dos transtornos supracitados ainda cumprirá
os critérios para o Transtorno Autista, ou outro transtorno mais especificamente diagnosticado pelo DSM-V. Foi
adotado o novo termo "Autism Spectrum Disorder" (ASD) - traduzido como Transtorno do Espectro Autista (TEA) - o
qual abrange todos esses transtornos anteriormente separados. Portanto, são realizadas distinções de acordo com
o nível de gravidade do transtorno, classificados em três níveis: Nível 1 (requer suporte), Nível 2 (requer suporte
substancial) e Nível 3 (requer suporte muito substancial).
De acordo com essa nova versão do DSM, os critérios para TEA são mais restritos, quando comparados aos da
versão anterior (DSM-IV). O critério de algum atraso no desenvolvimento da linguagem, por exemplo, não é mais
necessário para o diagnóstico de TEA. Em vez disso, o DSM-V enfatiza dois domínios principais: déficits persistentes
na comunicação social e interação social; e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou
atividades.
Esta evolução nos critérios diagnósticos tem implicações importantes para a prática clínica, pesquisa científica e
políticas públicas. Alguns estudos sugerem que os critérios mais estritos do DSM-V podem resultar em menos
diagnósticos, especialmente para casos que anteriormente seriam classificados como Transtorno Global do
Desenvolvimento Sem Outra Especificação. Por outro lado, a abordagem dimensional permite uma caracterização
mais nuançada e individualizada, potencialmente levando a intervenções mais direcionadas e eficazes.
É importante ressaltar que, além do DSM, a Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial
da Saúde também oferece critérios para o diagnóstico do autismo, que foram atualizados na CID-11, alinhando-se
mais com a abordagem do DSM-V, embora com algumas d iferenças importantes na terminologia e organização.

MUDANÇAS NA CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL
Em 2021, o youtuber Willian Chimura, que também é pesquisador e autista, fez um vídeo muito interessante sobre
"O último dia da Síndrome de Asperger", designação que cairá em desuso nos diagnósticos a partir de 2022,
quando entra em vigor o CID-11.
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) passou a constar na nova Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, a CID-11 (ICD-11 na sigla em inglês para International Statistical
Classification of Diseases and Related Health Problems), lançada em junho de 2018 pela Organização Mun dial da
Saúde (OMS) e que entrou em vigor a partir de 1º de janeiro de 2022.
Esta nova classificação representa uma mudança significativa na forma como o autismo é diagnosticado e
categorizado. Na CID-10, que vigorou até 2021, o autismo estava incluído na categoria de "Transtornos Globais do
Desenvolvimento" (F84), que abrangia condições como Autismo Infantil (F84.0), Autismo Atípico (F84.1), Síndrome
de Rett (F84.2), Síndrome de Asperger (F84.5), entre outros.
Com a implementação da CID-11, todas essas subcategorias foram condensadas em uma única classificação: o
Transtorno do Espectro do Autismo (6A02). Esta nova abordagem reconhece o autismo como um espectro
contínuo de características, com diferentes níveis de necessidade de suporte, em vez de condições distintas e
separadas.
Principais mudanças na classificação do
autismo
Eliminação das subcategorias anteriores (incluindo
a Síndrome de Asperger)
Adoção do conceito de espectro com diferentes
níveis de suporte necessário
Inclusão de especificadores para presença ou
ausência de deficiência intelectual
Reconhecimento da variabilidade nas habilidades
de linguagem funcional
Maior ênfase nos padrões de comportamento e
interesses restritos/repetitivos
Autismo
Infantil (CID-
10)
Síndrome de
Asperger
(CID-10)
Outros TGD
(CID-10)
TEA Nível 1
(CID-11)
TEA Nível 2
(CID-11)
TEA Nível 3
(CID-11)
A nova classificação também introduz níveis de suporte necessário: TEA com necessidade de suporte (Nível 1), TEA
com necessidade de suporte substancial (Nível 2) e TEA com necessidade de suporte muito substancial (Nível 3).
Estes níveis são determinados com base no compromet imento da comunicação social e nos padrões
restritos/repetitivos de comportamento.
Estas alterações têm gerado debates na comunidade autista e entre profissionais da saúde. Algumas pessoas que
foram diagnosticadas com Síndrome de Asperger, por exemplo, expressam preocupação com a perda de uma
identidade diagnóstica específica. Por outro lado, muitos especialistas defendem que a nova classificação reflete
melhor a natureza contínua das características autistas e pode reduzir o estigma associado a certos rótulos.
A implementação da CID-11 também visa harmonizar os critérios diagnósticos com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição), que já havia adotado o modelo de espectro em 2013, proporcionando
maior consistência internacional nos diagnósticos de autismo.

TERMINOLOGIA: SÍNDROME X TRANSTORNO
Na área de TGD é habitual depararmo-nos com os term os síndrome e/ou transtorno. Assim, é importante
esclarecer que a nomenclatura síndrome se refere a um conjunto de sintomas, não restrito a uma só doença, que
ocorre no indivíduo; e transtorno é aplicado para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou
comportamentos que ocorrem no transcorrer da infânc ia, com um comprometimento ou atraso no
desenvolvimento e maturação do sistema nervoso cent ral.
O transtorno não se desenvolve de traumatismo ou doença cerebral adquirida; ele denuncia uma desordem
neurológica e origina-se de anormalidades no processo cognitivo derivadas de disfunção biológica.
A distinção entre estes termos é fundamental para a compreensão adequada dos diagnósticos e suas implicações
clínicas. No caso das síndromes, como a Síndrome de Down ou a antiga Síndrome de Asperger, o termo indica
uma condição específica com um conjunto reconhecíve l de características e manifestações clínicas que costumam
ocorrer juntas. Já os transtornos, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), referem-se a alterações funcionais
com maior ênfase na apresentação comportamental e n as dificuldades adaptativas.
Do ponto de vista histórico, a terminologia na saúde mental tem evoluído consideravelmente. Nas classificações
anteriores (CID-10), utilizava-se amplamente o termo "Transtornos Globais do Desenvolvimento" (TGD), que incluía
condições como Autismo Infantil, Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett e Transtorno Desintegrativo da
Infância. Esta nomenclatura refletia a compreensão fragmentada que se tinha destas condições como entidades
clínicas separadas.
A transição terminológica de "síndrome" para "transtorno" no contexto do autismo representa mais do que uma
simples mudança de palavras – reflete uma evolução na compreensão científica destas condições. Enquanto a
designação "síndrome" tende a enfatizar aspectos médicos e sintomatológicos, o termo "transtorno" incorpora uma
visão mais ampla que reconhece fatores neurobiológicos, comportamentais e funcionais, considerando também
aspectos do desenvolvimento.
Na prática clínica atual, o uso adequado desta terminologia auxilia no alinhamento com as classificações
internacionais mais recentes e facilita a comunicação entre profissionais de diferentes especialidades, além de
contribuir para uma abordagem mais precisa no diagnóstico, intervenção e pesquisa relacionados ao TEA e outras
condições do neurodesenvolvimento.

TRANSFORMAÇÕES NA SAÚDE MENTAL
BRASILEIRA
Nas últimas décadas, torna-se cada vez mais evidente o conjunto de deslocamentos e transformações pelos quais
vem passando a saúde pública brasileira, especialmente o campo da saúde mental. Essas transformações
inevitavelmente conduzem os profissionais aí atuantes (psicólogos, psicanalistas, psiquiatras, enfermeiros,
assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, entre outros) a constantemente repensarem os princípios e os limites
de suas intervenções.
O movimento da Reforma Psiquiátrica brasileira, iniciado no final da década de 1970, teve papel fundamental neste
processo de transformação. A Lei 10.216 de 2001, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, consolidou uma
nova abordagem em saúde mental, priorizando o tratamento em serviços comunitários e reduzindo
progressivamente as internações em instituições psiquiátricas tradicionais.
Trata-se, pois, de uma constante revisita à clínica, às suas possibilidades bem como desafios. A interdisciplinaridade
tornou-se um princípio fundamental, reconhecendo qu e nenhuma disciplina isolada pode dar conta da
complexidade do sofrimento psíquico. Ademais, a inclusão dos usuários e familiares como protagonistas do
processo terapêutico revolucionou as relações de poder tradicionalmente estabelecidas no campo da saúde
mental.
Partindo destes pressupostos, apresentaremos abaixo a trajetória das alterações sofridas nos Transtornos Globais
do Desenvolvimento (TGD), destacando como os sistem as de classificação diagnóstica acompanharam essas
transformações conceituais e práticas na abordagem dos transtornos do neurodesenvolvimento.
CID-10 (1994-2021)
Classificação que organizava os TGD em
múltiplas categorias como Autismo Infantil,
Autismo Atípico, Síndrome de Rett, Transtorno
Desintegrativo da Infância e Síndrome de
Asperger. Esta fragmentação diagnóstica
frequentemente causava confusão entre
profissionais e dificultava o acesso a serviços
adequados para as famílias.
DSM-5 (2013)
Unificação dos diagnósticos sob o Transtorno
do Espectro Autista (TEA), abandonando as
subcategorias anteriores e adotando uma visão
dimensional com diferentes níveis de
gravidade. Esta mudança representou um
importante avanço na compreensão destes
transtornos como um espectro de
manifestações com características nucleares
comuns, mas com ampla diversidade de
apresentações clínicas.
Lei Brasileira de Inclusão (2015)
A Lei 13.146 fortaleceu os direitos das pessoas
com deficiência, incluindo aquelas com TEA,
garantindo acesso à educação inclusiva, saúde
especializada e participação social. Esta
legislação impactou significativamente as
políticas públicas voltadas para pessoas
neurodivergentes.
CID-11 (2022)
Implementação da nova classificação alinhada
com o DSM-5, consolidando a visão
dimensional do Transtorno do Espectro Autista
e substituindo definitivamente o termo TGD. A
CID-11 incorpora aspectos culturais e
contextuais na avaliação diagnóstica,
reconhecendo a influência de fatores
socioambientais nas manifestações clínicas do
transtorno.
Avanços em Neurociências (Presente e
Futuro)
Pesquisas em neuroimagem, genética e
biomarcadores prometem revolucionar a
compreensão, diagnóstico precoce e
intervenções personalizadas para pessoas com
TEA. Abordagens baseadas em medicina de
precisão começam a ser desenvolvidas,
considerando a heterogeneidade biológica
subjacente ao espectro.
Esta evolução na classificação diagnóstica reflete não apenas avanços científicos, mas também mudanças
socioculturais na compreensão da neurodiversidade. Gradualmente, tem-se caminhado de um modelo puramen te
médico para uma perspectiva biopsicossocial que reconhece tanto os desafios quanto as potencialidades únicas
das pessoas com transtornos do neurodesenvolvimento .

CID 10: CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE
DOENÇAS
A nomenclatura simplificada "Classificação Internacional de Doenças" refere-se ao instrumento de base
epidemiológica que organiza informações sobre doenç as, sinais, sintomas, achados anormais, queixas,
circunstâncias sociais e causas externas. A CID-10, décima versão do documento, foi aprovada em 1994. Dois anos
mais tarde, começou a ser utilizada no Brasil.
A principal função da CID-10 é auxiliar no estudo de doenças que afetam determinado local ou grupo de pessoas.
Para que isso ocorra da forma mais correta e simples possível, foi criado um padrão para classificar as patologias.
Este sistema de classificação permite aos profissionais de saúde e pesquisadores identificar com precisão
diferentes condições médicas, facilitando o diagnóstico, tratamento e desenvolvimento de políticas públicas de
saúde.
Sendo assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS) d esenvolveu a Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, mais conhecida como Código Internacional de Doenças (CID ). O
número 10, ao lado da sigla, indica a versão do documento. O Brasil segue esse documento.
A CID-10 divide os transtornos em diversos capítulos. No capítulo V (F), encontramos os transtornos mentais e
comportamentais. Dentro desse capítulo, o agrupamen to F80-F89 refere-se aos transtornos do desenvolvimento
psicológico, onde está inserida a categoria F84: Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD).
F84.0 Autismo infantil
Transtorno caracterizado por
desenvolvimento anormal antes
dos três anos, com perturbação
em interações sociais,
comunicação e comportamento.
Inclui alterações na
reciprocidade social,
comunicação verbal e não-
verbal prejudicada, e padrões
restritos e repetitivos de
comportamento. Também
conhecido como Transtorno
Autístico ou Autismo Infantil
Precoce.
F84.1 Autismo atípico
Transtorno que não responde a
todos os critérios do autismo
infantil, aparecendo após os três
anos. Caracteriza-se por
desenvolvimento atípico em
uma ou duas das três áreas de
prejuízo (interação social,
comunicação e
comportamento), mas não em
todas. Geralmente ocorre em
pessoas com retardo mental
profundo ou com transtorno
específico do desenvolvimento
da linguagem receptiva.
F84.2 Síndrome de Rett
Transtorno descrito até agora
apenas em meninas,
caracterizado por
desenvolvimento inicial
aparentemente normal seguido
de perda parcial ou completa da
fala, habilidades motoras e uso
das mãos, junto com
desaceleração no crescimento
da cabeça. Tipicamente começa
entre os 7 e 24 meses de idade.
F84.3 Outro transtorno
desintegrativo da infância
Desenvolvimento normal até
pelo menos 2 anos, seguido de
perda definitiva de habilidades
previamente adquiridas em
várias áreas. Acompanhado por
perda de interesse social,
comportamentos
estereotipados, e anormalidades
na comunicação semelhantes ao
autismo.
F84.4 Transtorno com
hipercinesia associada a
retardo mental e
movimentos estereotipados
Transtorno mal definido com
prejuízos cognitivos graves,
hiperatividade acentuada, déficit
de atenção e comportamentos
estereotipados. Não apresenta
progressão, e na adolescência a
hiperatividade pode ser
substituída por hipoatividade.
F84.5 Síndrome de
Asperger
Caracterizada por prejuízos na
interação social e interesses
restritos, sem atraso significativo
na linguagem. Apresenta
dificuldades na empatia e
interação social, com
inteligência normal ou acima da
média e interesses circunscritos
intensos. Diferencia-se do
autismo pela ausência de
atrasos significativos na
linguagem ou no
desenvolvimento cognitivo.
F84.8 Outros transtornos globais do
desenvolvimento
Categoria reservada para transtornos que
apresentam características de TGD mas não
satisfazem os critérios para as categorias específicas
acima. Inclui condições atípicas que não se
encaixam completamente nos outros diagnósticos.
F84.9 Transtornos globais não especificados
do desenvolvimento
Categoria residual para transtornos com
características de TGD mas com informações
insuficientes ou contraditórias, não permitindo um
diagnóstico mais específico.
Esta classificação foi utilizada amplamente em todo o mundo, incluindo no Brasil, orientando diagnósticos e
pesquisas na área de desenvolvimento infantil até a implementação gradual da CID-11, que trouxe mudanças
significativas na conceituação desses transtornos, especialmente na unificação de várias categorias sob o conceito
de Transtorno do Espectro Autista.

EVOLUÇÃO DO MANUAL DIAGNÓSTICO E
ESTATÍSTICO
O DSM foi traduzido para a língua portuguesa como Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Esse
compêndio psicopatológico é regularmente organizado , revisto e editado pela Associação Americana de
Psiquiatria (APA), tendo como principal função servir de "instrumento que auxilia as pesquisas clínicas e teóricas no
campo da saúde mental", além de padronizar diagnósticos entre profissionais e facilitar a comunicação entre
pesquisadores, clínicos e gestores de saúde mental em todo o mundo.
O manual tornou-se uma referência indispensável para profissionais de saúde mental, sendo utilizado não apenas
por psiquiatras, mas também por psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, terapeutas ocupacionais e outros
especialistas envolvidos no diagnóstico e tratamento de transtornos mentais. Sua influência se estende também
aos sistemas de saúde, seguradoras e órgãos governamentais responsáveis pela formulação de políticas públicas
de saúde mental.
Em sua primeira edição, publicada em 1952, o DSM baseava-se em uma compreensão psicossocial da doença
mental, na qual o uso de terminologias como "mecanismos de defesa", "neurose" e "conflito neurótico"
evidenciavam uma leitura psicanalítica dos fenômenos psicopatológicos. Nesse primeiro momento, o manual era
composto por 106 categorias de doenças mentais e surgiu da necessidade de classificar os transtornos mentais dos
soldados que retornavam da Segunda Guerra Mundial.
1
DSM-I (1952)
106 categorias diagnósticas com base
psicanalítica. Introduziu a distinção entre
neuroses e psicoses, com forte influência das
teorias de Freud. Os transtornos mentais eram
vistos como reações a problemas da vida e
estressores ambientais.
2
DSM-II (1968)
182 categorias com influência comportamental.
Publicado durante a Guerra do Vietnã, refletia
uma transição nas teorias psicológicas
predominantes. Manteve termos psicanalíticos,
mas começou a incorporar conceitos
comportamentais no diagnóstico dos
transtornos.
3
DSM-III (1980)
265 categorias com mudança para medicina
baseada em evidências. Representou uma
revolução no diagnóstico psiquiátrico ao adotar
uma abordagem ateórica e descritiva.
Introduziu critérios diagnósticos específicos e
um sistema multiaxial, aumentando
significativamente a confiabilidade
diagnóstica.
4
DSM-IV (1994)
297 categorias organizadas em cinco eixos.
Refinou o sistema multiaxial e incorporou mais
pesquisas empíricas. O Eixo I abordava
transtornos clínicos, o Eixo II transtornos de
personalidade, o Eixo III condições médicas, o
Eixo IV problemas psicossociais e o Eixo V
avaliação global do funcionamento.
5
DSM-5 (2013)
Diagnóstico dimensional com três seções
principais. Abandonou o sistema multiaxial em
favor de uma abordagem dimensional que
reconhece o espectro dos transtornos mentais.
Introduziu mudanças significativas, como a
inclusão do Transtorno do Espectro Autista
englobando condições anteriormente
separadas e novos diagnósticos como o
Transtorno de Desregulação do Humor
Disruptivo.
A cada nova edição, o DSM reflete não apenas os avanços científicos na compreensão dos transtornos mentais,
mas também mudanças culturais e sociais na percepçã o da saúde mental. As revisões contínuas buscam melhorar
a validade e confiabilidade diagnóstica, embora o manual não esteja isento de críticas relacionadas à
medicalização de comportamentos normais e à influên cia da indústria farmacêutica em suas classificações.
Atualmente, pesquisadores trabalham no desenvolvime nto de futuras edições que possam incorporar marcadores
biológicos, neuroimagem e genética ao processo diagnóstico, visando uma compreensão mais precisa e
personalizada dos transtornos mentais. O objetivo permanece o mesmo desde sua criação: fornecer um sistema de
classificação que auxilie no diagnóstico, tratamento e pesquisa dos transtornos mentais de forma consistente e
científica.

EVOLUÇÃO DO DSM E SUAS VERSÕES
A segunda versão do DSM foi publicada em 1968 e continha 182 categorias diagnósticas. Sua construção surgiu em
meio à Guerra do Vietnã e, devido a uma clara necessidade empírica oriunda da época, nota-se uma grande
influência da teoria comportamental em detrimento da concepção biopsicossocial dos transtornos mentais
utilizada até então. Essa mudança representou uma tentativa de aproximar a psiquiatria das ciências naturais,
buscando maior objetividade nos diagnósticos e na classificação dos transtornos mentais. O DSM-II manteve ainda
algumas influências psicanalíticas, mas começou a incorporar conceitos da psicologia comportamental, refletindo
as tendências científicas emergentes daquele período.
No final da década de 1970, identificaram-se divergências psicodiagnósticas entre os psiquiatras estadunidenses e
os europeus. Essa percepção levou à elaboração de uma nova versão do manual que buscava a padronização e
universalização dos diagnósticos psiquiátricos. A falta de uniformidade nos diagnósticos prejudicava tanto a prática
clínica quanto as pesquisas científicas, criando barreiras para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes. A
Associação Americana de Psiquiatria (APA) iniciou então um extenso trabalho de revisão, buscando criar critérios
diagnósticos mais específicos e operacionalizáveis, que pudessem ser utilizados com maior consistência pelos
profissionais de saúde mental em diferentes contextos culturais.
Em 1980, o DSM-III foi publicado. Nessa versão, as noções da psicanálise cederam espaço ao novo paradigma da
ciência, pautado em critérios da medicina baseada em evidências. Esse fato foi considerado uma revolução
científica, de modo que a terceira versão do manual "foi o marco da mudança de paradigma da psiquiatria, que até
o momento era regida predominantemente pela psicaná lise". O DSM-III introduziu uma abordagem multiaxial de
diagnóstico, com cinco eixos distintos para avaliar diferentes aspectos do funcionamento do paciente. Essa edição
expandiu significativamente o número de categorias diagnósticas para 265, refletindo uma tentativa de maior
precisão diagnóstica.
A transição para o modelo biomédico no DSM-III consolidou o que muitos autores chamam de "revolução
diagnóstica" na psiquiatria. Esta mudança não apenas transformou a prática clínica, mas também redirecionou os
investimentos em pesquisa para a neurobiologia e psicofarmacologia. A inclusão de critérios diagnósticos
explícitos e operacionalizáveis permitiu maior confiabilidade entre avaliadores, facilitando a comunicação entre
profissionais e pesquisadores. Contudo, críticos argumentavam que essa abordagem resultava em uma
fragmentação excessiva da experiência psicopatológica e na medicalização de reações normais da vida.
O impacto do DSM-III foi tão significativo que suas revisões subsequentes (DSM-III-R em 1987 e DSM-IV em 1994)
mantiveram a estrutura básica do sistema classificatório, apenas refinando critérios e adicionando novos
transtornos conforme as evidências científicas emergiam. A evolução do DSM reflete, portanto, não apenas
avanços científicos, mas também mudanças nas concep ções socioculturais sobre saúde mental e normalidade
psicológica ao longo das décadas.

COMPARATIVO ENTRE DSM-IV E DSM-5
A última versão do DSM foi publicada em 2013 pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), após um processo
de revisão que durou 14 anos. A aposta agora é no "diagnóstico dimensional, que englobaria o sujeito por
completo". Esta quinta edição do manual é fundamentada no modelo categorial organizado em três seções,
totalizando 947 páginas, um aumento significativo em relação às edições anteriores, refletindo a expansão do
conhecimento na área.
A seção I apresenta as orientações para o uso clínico e forense, além de contextualizar historicamente a evolução
do manual ao longo das décadas. A seção II descreve os critérios e códigos diagnósticos dos transtornos, com
modificações substanciais em relação à edição anterior. E, por último, na seção III estão os instrumentos para as
avaliações dos sintomas, os critérios sobre a formulação cultural dos transtornos, o modelo alternativo para os
transtornos de personalidade e uma descrição das condições clínicas para estudos posteriores.
O DSM-5 trouxe mudanças significativas em sua estrutura e abordagem diagnóstica, refletindo o avanço da
pesquisa em neurociências e os novos entendimentos sobre a natureza dos transtornos mentais. Uma
característica marcante é a maior ênfase na dimensionalidade dos transtornos em oposição ao modelo puramente
categórico das versões anteriores.
DSM-IV
Perturbações geralmente diagnosticadas pela 1ª
vez na infância ou adolescência
Perturbações Globais do Desenvolvimento como
categoria separada
Síndrome de Asperger como diagnóstico distinto
Transtorno Autista como entidade diagnóstica
específica
Transtorno Desintegrativo da Infância como
diagnóstico separado
Sistema multiaxial com 5 eixos para diagnóstico
Menor ênfase em marcadores biológicos
Ausência de escalas dimensionais para a maioria
dos transtornos
Categorização mais rígida dos transtornos mentais
DSM-5
Transtornos do Neurodesenvolvimento como nova
classe
Transtorno do Espectro Autista unificando
diagnósticos anteriores
Níveis de gravidade substituindo diagnósticos
específicos
Critérios específicos para comunicação social e
comportamentos repetitivos
Abandono do sistema multiaxial de diagnóstico
Maior integração com a neurociência e dados de
neuroimagem
Introdução de escalas dimensionais de gravidade
Reconhecimento da influência cultural nos
diagnósticos
Abordagem de desenvolvimento ao longo da vida
para os transtornos
Essa transição do DSM-IV para o DSM-5 representa uma evolução importante na compreensão dos transtorno s
mentais, especialmente no campo dos transtornos do neurodesenvolvimento. A abordagem dimensional permi te
uma avaliação mais precisa das necessidades individuais de cada paciente, considerando a gravidade dos sintomas
em vez de apenas categorias diagnósticas estanques.

CID-11: A NOVA CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL
A CID-11 seguiu a alteração feita em 2013 na nova versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos
Mentais, o DSM-5, que reuniu todos os transtornos que estavam dentro do espectro do autismo num só
diagnóstico: TEA, inclusive a Síndrome de Asperger.
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) passou a constar na nova Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, a CID-11 (ICD-11 na sigla em inglês para International Statistical
Classification of Diseases and Related Health Problems), lançada pela Organização Mundial da Saúde (OM S). Esta
nova versão foi aprovada em maio de 2019 durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde e entrou oficialmente em
vigor em 1º de janeiro de 2022, substituindo a CID-10 que estava em uso desde 1990.
A CID-10 trazia vários diagnósticos dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD - sob o código F84),
como: Autismo Infantil (F84.0), Autismo Atípico (F84.1), Transtorno Desintegrativo da Infância (F84.3), Transtorno
com Hipercinesia Associada a Retardo Mental e a Movimentos Estereotipados (F84.4), Síndrome de Asperger
(F84.5), Outros TGD (F84.8) e TGD sem Outra Especificação (F84.9). A nova versão da classificação une todos esses
diagnósticos no Transtorno do Espectro do Autismo (código 6A02); as subdivisões passaram a ser apenas
relacionadas a prejuízos na linguagem funcional e deficiência intelectual. A intenção é facilitar o diagnóstico e
simplificar a codificação para acesso a serviços de saúde.
Esta mudança significativa na classificação reflete um novo entendimento científico sobre o autismo como um
continuum de características, em vez de condições distintas e separadas. Os especialistas concordam que as
diferenças entre as antigas categorias eram muitas vezes arbitrárias e inconsistentes, com muita sobreposição de
sintomas entre os diagnósticos.
Com a nova classificação da CID-11, o TEA é categorizado dentro dos Transtornos do Neurodesenvolvimento e é
caracterizado por déficits persistentes na capacidade de iniciar e sustentar interações sociais recíprocas e
comunicação social, além de uma série de padrões comportamentais e interesses restritos, repetitivos e inflexíveis.
O início do transtorno ocorre durante o período do desenvolvimento, tipicamente na primeira infância, mas os
sintomas podem não se manifestar plenamente até mai s tarde.
O sistema de classificação da CID-11 para TEA estabelece três níveis de gravidade baseados em dois domínios
principais: (1) déficits na comunicação social e interação social e (2) padrões restritos e repetitivos de
comportamento, interesses ou atividades. Além disso, inclui especificadores para presença ou ausência de
deficiência intelectual e comprometimento da linguagem funcional.
Esta unificação tem implicações importantes para o diagnóstico clínico, pesquisa científica e acesso a serviços
terapêuticos e educacionais. Para as famílias e indivíduos com autismo, representa um reconhecimento d a
complexidade e diversidade do espectro, potencialmente reduzindo o estigma associado a certos rótulos
diagnósticos anteriores.

SÍNDROME DE RETT NA NOVA
CLASSIFICAÇÃO
A exceção na nova classificação ficou somente por conta da Síndrome de
Rett (antigo F84.2) que agora fica sozinha na nova CID-11, com o código
LD90.4.
A CID-11 da Síndrome de Rett passa a ser LD90.4 - no DSM-5, porém, é o
mesmo de TEA: 299.00. No anterior, o DSM-IV, Rett era código 299.80; no
CID-10, era F84.2.
Esta mudança reflete o reconhecimento de que a Síndrome de Rett
possui características genéticas e clínicas distintas que a diferenciam dos
outros transtornos do espectro autista, justificando sua classificação
separada.
A Síndrome de Rett é um distúrbio neurológico grave que afeta
principalmente meninas e é causado por mutações no gene MECP2,
localizado no cromossomo X. Esta condição é caracterizada por um
desenvolvimento normal até os 6-18 meses de idade, seguido por uma
regressão das habilidades adquiridas, particularmente as habilidades
motoras e de comunicação.
Os sintomas típicos incluem movimentos estereotipados das mãos
(como torcer ou bater as mãos), problemas respiratórios, distúrbios do
sono, convulsões, escoliose e deficiência intelectual. A severidade dos
sintomas varia significativamente entre os indivíduos afetados, e o curso
da doença é tipicamente dividido em quatro estágios clínicos distintos.
A separação da Síndrome de Rett do espectro autista na CID-11 é
significativa para o diagnóstico preciso e o desenvolvimento de
intervenções terapêuticas específicas. Enquanto o TEA é um transtorno
do neurodesenvolvimento com base principalmente com portamental, a
Síndrome de Rett tem uma causa genética bem definid a e um curso
clínico característico.
Esta reclassificação também facilita a pesquisa direcionada e o
desenvolvimento de tratamentos específicos para a Síndrome de Rett,
incluindo terapias genéticas experimentais que visam corrigir a disfunção
do gene MECP2. Os estudos clínicos em andamento ofe recem esperança
para famílias afetadas por esta condição rara, mas devastadora.

UM APANHADO HISTÓRICO: SÍNDROME DE
ASPERGER
Hans Asperger e Leo Kanner, que descreveu o autismo em 1943, nasceram ambos na Áustria e estudaram em
Viena, mas nunca se encontraram. Asperger, que era dez anos mais jovem que Kanner, especializou-se em
pediatria, enquanto Kanner estudou psiquiatria.
Em 1944, Hans Asperger publicou sua tese de doutorado descrevendo crianças com o que ele chamou de
"psicopatia autística", caracterizada por inteligência normal ou acima da média, mas com dificuldades
significativas na interação social, comunicação peculiar e interesses restritos. Ele observou quatro meninos entre 6
e 11 anos que demonstravam dificuldades em integrar-se socialmente, apesar de suas habilidades cognitivas
aparentemente normais. Asperger notou que estas crianças eram "pequenos professores" em suas áreas de
interesse, mostrando conhecimento excepcional em tópicos específicos.
Asperger acreditava que para estas crianças educação e terapia eram a mesma coisa e que, apesar de suas
dificuldades, elas eram capazes de adaptar-se desde que tivessem um programa educacional apropriado. Ele
adotou uma visão notavelmente positiva e humanista, enfatizando as habilidades especiais e talentos dessas
crianças, em vez de focar apenas em suas deficiências. Durante a Segunda Guerra Mundial, Asperger defendeu
corajosamente essas crianças contra o programa nazista de eutanásia, argumentando que elas poderiam fazer
contribuições valiosas à sociedade se recebessem apoio adequado.
As observações sobre Asperger, publicadas em alemão, não eram completamente conhecidas até 1981, quando
uma médica inglesa chamada Lorna Wing publicou uma série de estudos de casos de crianças apresentando
sintomas semelhantes, os quais ela chamou de Síndrome de "Asperger". Wing não apenas popularizou o trabalho
de Asperger, mas também expandiu significativamente a compreensão da condição, introduzindo o conceito de
"espectro autista" e argumentando que o autismo e condições semelhantes existiam em um continuum de
gravidade, em vez de categorias distintas.
Antes do trabalho de Wing, a pesquisa de Asperger havia permanecido relativamente obscura por várias décadas.
A tradução de Uta Frith do trabalho original de Asperger para o inglês em 1991 ajudou ainda mais a disseminar seu
trabalho para uma audiência internacional. Esta tradução revelou a riqueza das observações clínicas de Asperger e
sua abordagem humanística para entender e apoiar as crianças que ele descreveu.
Os trabalhos de Wing foram completamente publicados e popularizados. Em 1992, a SA tornou-se uma condição
distinta e diagnosticada, quando foi incluída na décima edição publicada do Manual de Diagnóstico da
Organização Mundial da Saúde, Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e, em 1994, ela foi adicionada à
quarta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV). Este reconhecimento formal
foi um marco importante para famílias e indivíduos afetados, facilitando o acesso a serviços educacionais e
terapêuticos específicos.
Notavelmente, em 2013, com a publicação do DSM-5, a Síndrome de Asperger deixou de ser classificada como um
diagnóstico separado e foi incorporada na categoria mais ampla de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esta
mudança refletiu uma compreensão científica emergen te de que essas condições compartilham características
fundamentais semelhantes, embora variem em gravidad e e manifestação. Apesar dessa reclassificação
diagnóstica, o termo "Asperger" continua a ser culturalmente significativo para muitas pessoas que se identificam
com essa condição específica.

CARACTERÍSTICAS DA SÍNDROME DE ASPERGER
O National Institute of Neurological Disorders and Stroke (NINDS), parte do National Institute of Health, define a
Síndrome de Asperger como uma desordem do desenvolv imento que se caracteriza por uma série de
comportamentos específicos e desafios no funcioname nto social. Esses indivíduos frequentemente demonstram
inteligência média ou acima da média, mas enfrentam dificuldades significativas em áreas específicas. As
principais características incluem:
Rotinas repetitivas ou
rituais
Comportamentos ritualizados
e resistência a mudanças na
rotina. Pessoas com Asperger
frequentemente desenvolvem
interesses intensos em
tópicos específicos, dedicando
horas extraordinárias a
aprender tudo sobre um
assunto. Qualquer alteração
inesperada no ambiente ou
em rotinas estabelecidas
pode causar ansiedade
extrema e desconforto.
Peculiaridades na fala e
linguagem
Falar de forma
excessivamente formal ou
monótona, usando
literalmente figuras de
expressão. Apesar de
possuírem vocabulário rico e,
às vezes, rebuscado, estas
pessoas podem ter
dificuldade em compreender
nuances da comunicação,
ironia, sarcasmo ou metáforas.
O discurso tende a ser
verborrágico, especialmente
quando discutem seus
interesses especiais.
Comportamento social
inadequado
Incapacidade de interagir de
forma bem-sucedida com os
colegas. Indivíduos com
Asperger frequentemente
desejam formar conexões
sociais, mas carecem da
intuição natural para
entender regras sociais não
escritas. Podem demonstrar
dificuldade em manter
contato visual, respeitar
distância pessoal ou entender
quando é apropriado falar em
uma conversa. Esta
incompreensão social muitas
vezes leva ao isolamento e,
em alguns casos, à ansiedade
social ou depressão.
Problemas com comunicação não verbal
Uso restrito de gesticulações, expressões faciais
limitadas ou inadequadas. Há uma notável
dificuldade em interpretar sinais não verbais
emitidos por outras pessoas, como expressões
faciais, posturas corporais e tons de voz. Esta
incapacidade de "ler" sutilezas da comunicação
humana cria barreiras significativas para a
integração social e para o estabelecimento de
relações interpessoais profundas.
Falta de coordenação motora
Movimentos descoordenados e dificuldades
motoras. Muitas pessoas com Síndrome de
Asperger apresentam desafios significativos com
habilidades motoras finas e grossas, parecendo
desajeitadas ou tendo dificuldade com tarefas
como amarrar cadarços, escrever à mão ou
praticar esportes. Esta característica
frequentemente afeta a autoestima,
especialmente durante atividades escolares ou
em grupo que requerem coordenação motora.
É importante ressaltar que nem todas as pessoas com Síndrome de Asperger apresentarão todas estas
características, e a intensidade dos sintomas varia consideravelmente de pessoa para pessoa. Muitos indivíduos
desenvolvem estratégias eficazes para lidar com seus desafios e conseguem ter vidas produtivas e satisfatórias,
frequentemente se destacando em campos que exigem a tenção aos detalhes e pensamento sistemático, como
ciências, matemática, tecnologia ou música.

DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS DA
SÍNDROME DE ASPERGER
Tentativas de codificar os escritos de Asperger em uma definição categorial da condição foram realizadas por
alguns pesquisadores influentes na Europa e na América do Norte. A psiquiatra Lorna Wing (1981) publicou um
estudo sistematizando o quadro clínico, chamando-o de Síndrome de Asperger. Hans Asperger, médico austríaco,
havia descrito pela primeira vez esta condição em 1944, ao observar crianças com dificuldades de interação social,
mas com inteligência preservada e linguagem estruturada.
A Síndrome de Asperger é classificada como um transtorno invasivo do desenvolvimento. Crianças com esta
síndrome podem ter inteligência normal e tipicamente apresentam inteligência verbal maior que a não verbal.
Embora as habilidades verbais dessas crianças não apresentem os prejuízos encontrados nas crianças autistas, elas
frequentemente apresentam profundas dificuldades so ciais e de semântica. Estas crianças muitas vezes
interpretam literalmente o que ouvem, tendo dificuldade em compreender metáforas, ironia, sarcasmo e outras
nuances da comunicação social.
O desenvolvimento inicial da criança parece normal, contudo, no decorrer dos anos, seu discurso torna-se
diferente, monótono, peculiar e há, com frequência, a presença de preocupações obsessivas. Os primeiros sinais
geralmente aparecem quando a criança está em idade escolar e precisa interagir mais intensamente com seus
pares, momento em que as dificuldades sociais se tornam mais evidentes.
Características diagnósticas importantes incluem a presença de interesses restritos e intensos, muitas vezes
incomuns para a idade da criança, com acúmulo excessivo de informações sobre tópicos específicos. Pessoas com
Síndrome de Asperger frequentemente demonstram hipe rsensibilidade sensorial, reagindo de forma intensa a
determinados sons, texturas, sabores ou estímulos visuais.
De acordo com critérios diagnósticos estabelecidos, a Síndrome de Asperger difere do autismo clássico
principalmente pela ausência de atraso significativo no desenvolvimento da linguagem e pelo desenvolvimento
cognitivo dentro dos padrões normais. No DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais),
publicado em 2013, a Síndrome de Asperger foi incorporada ao Transtorno do Espectro Autista, embora muitos
profissionais e famílias ainda utilizem o termo para designar indivíduos com essas características específicas.
O diagnóstico precoce e intervenções apropriadas podem melhorar significativamente a qualidade de vida das
pessoas com Síndrome de Asperger, ajudando-as a des envolver estratégias para lidar com suas dificuldades sociais
e aproveitar seus pontos fortes, que frequentemente incluem memória excepcional, atenção aos detalhes e
pensamento lógico.

CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS NA
SÍNDROME DE ASPERGER
É um transtorno de múltiplas funções do psiquismo, com afetação principal nas áreas do relacionamento
interpessoal e da comunicação, embora a fala seja relativamente normal. A interação da criança com Síndrome de
Asperger com outras crianças torna-se difícil, pois demonstra pouca empatia e apresenta comportamento
excêntrico; sua vestimenta pode apresentar-se estranhamente alinhada e a dificuldade de socialização pode torná-
la solitária. Estas crianças frequentemente são vítimas de bullying escolar devido às suas peculiaridades
comportamentais e dificuldade em compreender as nua nces sociais.
É inflexível, ou seja, tem dificuldades de lidar com mudanças. É emocionalmente vulnerável e instável, ingênua e
eminentemente carente de senso comum. Há prejuízo n a coordenação motora e na percepção visoespacial. Essas
características podem manifestar-se em rotinas rígidas e reações intensas quando estas são alteradas, podendo
resultar em crises de ansiedade ou comportamentos disruptivos. A sensibilidade sensorial também é comum,
incluindo hipersensibilidade ou hiposensibilidade a estímulos como sons, texturas, luzes ou cheiros específicos.
A comunicação verbal é geralmente funcional, mas apresenta peculiaridades como entonação monótona, falta de
reciprocidade conversacional e interpretação literal da linguagem. Metáforas, ironias e expressões idiomáticas
podem ser particularmente desafiadoras. A linguagem corporal e o entendimento de expressões faciais também
são áreas de dificuldade significativa, o que complica ainda mais as interações sociais.
Frequentemente apresenta interesses peculiares em determinadas áreas do conhecimento, podendo passar h oras
assistindo ao canal da previsão do tempo na televisão ou estudando exaustivamente sobre temas ou assun tos
preferidos, como dinossauros, Egito, carros, aviões, mapas de ruas, planetas, missões espaciais, entre outros. Estes
interesses restritos são acompanhados por uma memór ia excepcional para detalhes e fatos relacionados ao tema
de interesse, sendo comum o acúmulo e a memorização de estatísticas, datas, nomes e informações específicas
que podem ser recitadas com precisão.
No ambiente escolar, podem apresentar desempenho ac adêmico desigual, com áreas de grande habilidade
contrastando com dificuldades significativas em outras. A organização, planejamento e gestão do tempo
frequentemente representam desafios. Apesar dessas dificuldades, muitas pessoas com Síndrome de Asperger
desenvolvem estratégias de compensação e podem se d estacar profissionalmente em áreas alinhadas com seus
interesses e habilidades.
Interesses Específicos
Foco intenso em áreas de interesse
específicas, com conhecimento
detalhado
Dificuldades Sociais
Desafios na interação com pares e
compreensão de regras sociais não
explícitas
Sensibilidade Sensorial
Reações intensas a estímulos
sensoriais como sons altos, luzes
fortes ou texturas específicas

SINTOMAS DA SÍNDROME DE ASPERGER
Devido ao desenvolvimento regular das habilidades linguísticas, nas fases iniciais, os sintomas da SA podem ser
difíceis de serem diferenciados de outros problemas comportamentais como o déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH). Consequentemente, a criança pode ter sido previamente diagnosticada com transtornos como TDAH até
que os problemas pareçam ser causados mais por uma incapacidade de socializar do que por uma incapacidade
de se concentrar.
Os sintomas da Síndrome de Asperger geralmente se m anifestam antes dos 3 anos de idade, embora o
diagnóstico formal muitas vezes ocorra mais tarde. Diferentemente do autismo clássico, indivíduos com SA
geralmente apresentam inteligência normal ou acima da média e desenvolvimento da linguagem dentro do
esperado para a idade, mas demonstram déficits significativos nas habilidades sociais e nos padrões de
comportamento.
A identificação precoce é crucial para intervenção adequada. Estudos mostram que quanto mais cedo a
intervenção ocorre, melhores são os resultados em termos de adaptação social e aprendizagem de estratégias
compensatórias. Os sintomas podem variar em intensidade, mas tipicamente incluem os seguintes aspectos:
Interações sociais impróprias
Dificuldade em estabelecer e manter relações
sociais apropriadas. Crianças e adultos com
Síndrome de Asperger frequentemente não
compreendem regras sociais implícitas, podem
se aproximar de maneira inadequada,
interromper conversas ou falar excessivamente
sobre seus temas de interesse sem perceber o
desinteresse do outro.
Fala repetitiva ou "robótica"
Padrão de fala monótono ou com entonação
peculiar. A prosódia (melodia da fala) é
frequentemente afetada, resultando em um
discurso formal, pedante e com ritmo incomum.
Podem falar muito alto ou muito baixo, sem
ajustar o volume conforme o contexto social
exige.
Habilidades de comunicação
desbalanceadas
Comunicação verbal na média ou acima, mas não
verbal abaixo da média. Possuem vocabulário rico
e formalizado, mas apresentam grande
dificuldade em compreender gestos, expressões
faciais, linguagem corporal e outras formas de
comunicação não verbal essenciais para a
interação social efetiva.
Tendência a discutir alto
Dificuldade em modular o tom de voz em
discussões. Quando contrariados ou envolvidos
em temas de seu interesse, podem elevar
excessivamente a voz e demonstrar intensa
argumentação, sem perceber como isso afeta os
outros. Apresentam dificuldade em aceitar
pontos de vista diferentes ou críticas, mesmo que
construtivas.
Incompreensão do "senso comum"
Dificuldade em entender frases ou problemas
considerados óbvios. Interpretam literalmente
expressões idiomáticas, metáforas ou sarcasmo.
Esta literalidade na compreensão da linguagem
pode levar a mal-entendidos constantes e
frustração nas interações sociais cotidianas,
especialmente em ambientes escolares ou
profissionais.
Falta de contato visual
Evitação ou inadequação no contato visual
durante interações. Estabelecer e manter contato
visual pode ser desconfortável ou até doloroso
para pessoas com SA. Alguns compensam
olhando fixamente por tempo demais, o que
também causa estranheza social. Esta dificuldade
impacta significativamente a qualidade das
interações pessoais e pode ser interpretada
erroneamente como desinteresse ou desrespeito.
Interesses restritos e intensos
Desenvolvimento de fascínio por temas
específicos, frequentemente incomuns ou muito
técnicos. Dedicam horas estudando e
colecionando informações sobre seus interesses
especiais, demonstrando conhecimento
enciclopédico sobre esses temas, mas dificuldade
em compreender quando os outros não
compartilham o mesmo entusiasmo.
Rotinas e rituais rígidos
Necessidade de manter padrões previsíveis e
resistência a mudanças na rotina. Alterações
inesperadas podem causar ansiedade intensa,
crises de choro ou comportamentos de oposição.
Esta inflexibilidade pode afetar significativamente
o funcionamento familiar, escolar e social do
indivíduo com Síndrome de Asperger.

DESAFIOS NA COMPREENSÃO SOCIAL
Outro sintoma proeminente da Síndrome de Asperger é uma significativa incapacidade de compreender as ações,
palavras ou comportamentos de outras pessoas. Os indivíduos com SA muitas vezes não entendem o
temperamento, as implicações de frases específicas, ou ações de outras pessoas. Esta dificuldade se manifesta
desde a infância e pode persistir ao longo da vida adulta, afetando diversos aspectos das relações interpessoais.
Gestos discretos ou expressões, como um sorriso, um olhar de reprovação ou um gesto de "vem aqui" podem não
sincronizar com as crianças com SA porque elas são incapazes de perceber a relação entre estes métodos de
comunicação não-verbais e os métodos verbais, como fala e linguagem. Enquanto a maioria das pessoas
desenvolve naturalmente a capacidade de interpretar estas pistas sociais, indivíduos com Asperger
frequentemente precisam aprender conscientemente a reconhecer e interpretar estes sinais através de
intervenções terapêuticas estruturadas.
Devido ao fato de muitas vezes serem incapazes de compreender estas "dicas" não-verbais, o mundo social pode
parecer muito confuso e opressivo para estes indivíduos. Em ambientes sociais complexos como escolas, festas ou
locais de trabalho, a sobrecarga sensorial combinada com a dificuldade de interpretar as interações pode levar a
níveis elevados de ansiedade e estresse.
Para agravar o problema, as pessoas com Síndrome de Asperger têm dificuldade em ver as coisas pelo ponto de
vista de outra pessoa. Esta limitação os deixa incapazes de prever ou compreender as ações das outras pessoas. O
conceito de "teoria da mente" – a capacidade de atribuir estados mentais a si mesmo e aos outros e entender que
outras pessoas têm crenças, desejos e intenções diferentes das suas próprias – é frequentemente prejudicado
nestes indivíduos.
Embora não seja um fato generalizado, é comum as pessoas com SA apresentarem dificuldade em regular as suas
emoções. Isso pode se manifestar como explosões emo cionais aparentemente desproporcionais à situação,
dificuldade em identificar e nomear seus próprios sentimentos, ou uma expressão emocional que parece
inadequada ao contexto social. Esta desregulação emocional pode agravar ainda mais os desafios sociais, criando
um ciclo que dificulta a integração e adaptação em diferentes ambientes.
Estratégias de intervenção focadas no desenvolvimento de habilidades sociais, como grupos de prática de
habilidades sociais, histórias sociais e terapia cognitivo-comportamental adaptada, têm demonstrado ef icácia na
ajuda a pessoas com Síndrome de Asperger para naveg ar melhor por estes desafios de compreensão social.

CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO
Assim como no autismo, não existem exames clínicos que identifiquem a Síndrome de Asperger e o diagnóstico é
feito através da observação dos comportamentos. Os critérios do diagnóstico oficial da Síndrome de Asperger
estão enumerados no DSM-IV.
O diagnóstico inclui a identificação de dificuldades persistentes na interação social e padrões restritos e repetitivos
de comportamento, interesses ou atividades. Estes sintomas devem estar presentes desde a infância e causar
prejuízo significativo em áreas importantes do funcionamento atual. Diferentemente do autismo clássico, não deve
haver atrasos significativos no desenvolvimento cognitivo ou na aquisição da linguagem.
A observação clínica geralmente envolve entrevistas com os pais ou cuidadores, entrevistas com o próprio
indivíduo, observação direta do comportamento em diversos contextos, além de testes neuropsicológicos para
avaliar o perfil cognitivo. Os profissionais buscam padrões específicos como dificuldade em interpretar linguagem
não-literal, manter contato visual, demonstrar reciprocidade emocional e desenvolver relacionamentos
apropriados à idade.
Alguns pesquisadores acreditam que a Síndrome de As perger seja a mesma coisa que autismo de alto
funcionamento, isto é, com inteligência preservada. Outros acreditam que no autismo de alto funcionamento há
atraso na aquisição da fala, e na Síndrome de Asperger, não.
Esta distinção baseada no desenvolvimento da linguagem foi importante por muitos anos, pois indivíduos com
Síndrome de Asperger frequentemente desenvolvem fal a no tempo esperado ou até precocemente, com
vocabulário sofisticado, embora possam apresentar peculiaridades na pragmática e prosódia da linguagem. Em
contraste, pessoas com autismo de alto funcionamento normalmente apresentam algum atraso na aquisição de
fala, mesmo que posteriormente desenvolvam boa capa cidade linguística.
Muitas pessoas acreditam que a importância da diferenciação entre Síndrome de Asperger e Autismo de Alto
Funcionamento seja mais de cunho jurídico do que propriamente para escolhas relacionadas ao tratamento. Por
um lado, para algumas pessoas, dizer que alguém é portador de Síndrome de Asperger parece mais leve e menos
grave do que ser portador de autismo, mesmo que de alto funcionamento – embora isto seja provavelmente uma
ilusão. Por outro lado, associações de autismo em todo o mundo alegam que esta divisão em duas patolog ias
diferentes enfraquece um movimento que necessita de tanto apoio como o dos que trabalham pelo autismo.
Vale ressaltar que a partir do DSM-5, publicado em 2013, a Síndrome de Asperger deixou de existir como
diagnóstico separado e foi incorporada ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), com especificadores de gravidade.
Esta mudança reflete a visão atual de que estes transtornos fazem parte de um continuum, em vez de serem
condições completamente distintas. No entanto, muitos profissionais e pessoas diagnosticadas antes desta
mudança ainda utilizam o termo Síndrome de Asperger , seja por identificação pessoal ou para facilitar a
comunicação sobre um conjunto específico de características.
O diagnóstico precoce é fundamental para a implemen tação de intervenções adequadas que possam maximiza r o
potencial de desenvolvimento da pessoa. Contudo, muitas pessoas recebem diagnóstico apenas na adolescência
ou vida adulta, especialmente aquelas com sintomas mais sutis ou compensados por habilidades cognitivas
elevadas, o que é comum na Síndrome de Asperger.

CAUSAS DA SÍNDROME DE ASPERGER
É importante ter em mente que esse conjunto de transtornos do autismo não são transtornos com uma única
causa. Em vez disso, o termo representa um grupo de transtornos relacionados com muitas causas diferentes. Na
maioria dos casos, a SA/HFA é causada por uma combinação de fatores de risco genéticos que podem interagir
com fatores de risco ambientais.
Provavelmente, muitos genes contribuem para a ocorrência da Síndrome de Asperger/HFA. Acredita-se que esses
genes interajam com os fatores ambientais. Uma grande parte das pesquisas atuais tenta descobrir como fatores
de risco genéticos e ambientais contribuem para o autismo.
Estudos com gêmeos e famílias demonstram que o comp onente genético é bastante significativo. Se um gêmeo
idêntico tem Síndrome de Asperger, há uma probabilidade de 60% a 90% de que o outro gêmeo também a ten ha.
Em gêmeos fraternos, essa probabilidade cai para 0% a 30%. Pesquisas recentes identificaram vários genes
candidatos que podem estar associados à condição, incluindo aqueles envolvidos no desenvolvimento neuronal e
nas conexões sinápticas.
Em relação aos fatores ambientais, algumas pesquisas sugerem que complicações durante a gravidez e o parto,
como infecções maternas, exposição a certos produtos químicos, idade avançada dos pais (especialmente do pai) e
prematuridade extrema podem aumentar o risco. No en tanto, é fundamental entender que esses fatores apenas
aumentam ligeiramente o risco em pessoas que já têm predisposição genética.
Existem alguns equívocos comuns sobre as pessoas com Síndrome de Asperger/HFA. Ela não pode ter sido
causada pela forma como uma pessoa foi criada, por pais inadequados ou problemas emocionais; uma crian ça
nasce com Síndrome de Asperger/HFA, que é um transt orno neurobiológico, e não consequência de problemas
decorrentes das experiências de vida da mesma.
É importante também desmistificar outras falsas causas frequentemente mencionadas. A Síndrome de Asper ger
não é causada por vacinas, como sugerem alguns mitos populares que já foram cientificamente refutados por
múltiplos estudos em larga escala. Tampouco é resultado de traumas na infância, estilo de educação ou qualquer
outro fator puramente psicológico ou social.
A compreensão atual é que a Síndrome de Asperger representa uma variação neurológica natural que resulta em
um cérebro que processa informações de maneira diferente. Isso explica por que as pessoas com esta condição
frequentemente demonstram habilidades excepcionais em certas áreas, enquanto enfrentam desafios em outras,
particularmente nas interações sociais. Estudos de neuroimagem têm revelado diferenças sutis na estrutura e
função cerebral, especialmente nas regiões relacionadas ao processamento social e emocional.

PONTOS FORTES E DESAFIOS NA SÍNDROME DE
ASPERGER
Pessoas com Síndrome de Asperger apresentam caracte rísticas únicas que podem ser vistas tanto como pontos
fortes quanto como desafios. Compreender este perfil cognitivo e comportamental ajuda a valorizar as diferenças
neurológicas e a desenvolver estratégias de apoio adequadas.
Pontos Fortes
Atenção aos detalhes: Capacidade extraordinária
de observar e lembrar detalhes específicos que
muitas vezes passam despercebidos para outras
pessoas.
Altamente qualificados em áreas específicas:
Desenvolvimento de habilidades excepcionais em
áreas de interesse, frequentemente alcançando
níveis de especialização notáveis.
Estudos profundos, resultando em muito
conhecimento: Tendência a pesquisar
intensamente sobre tópicos de interesse,
acumulando conhecimento enciclopédico e
profundo sobre estes assuntos.
Pensamento lógico e independente: Capacidade
de analisar situações com objetividade, sem se
deixar influenciar facilmente por pressões sociais
ou emocionais.
Processamento visual desenvolvido: Habilidade
elevada para pensar em imagens e visualizar
conceitos, facilitando a compreensão de sistemas
complexos e padrões.
Comunicação direta: Estilo de comunicação
objetivo e sem rodeios, valorizando a clareza e
precisão nas informações compartilhadas.
Lealdade e honestidade: Forte senso de ética e
dedicação em relacionamentos, com tendência a
ser extremamente confiável e sincero.
Escuta imparcial: Capacidade de ouvir sem
preconceitos e oferecer perspectivas diferentes
sobre situações, baseadas em análise lógica.
Inteligência frequentemente acima da média: QI
formal geralmente elevado, com capacidades
cognitivas particularmente desenvolvidas em
raciocínio lógico e memória.
Desafios
Dificuldade em compreender o panorama geral:
Tendência a focar em detalhes específicos pode
dificultar a compreensão de contextos mais amplos
e o estabelecimento de conexões entre diferentes
ideias.
Conjunto de habilidades diferentes:
Desenvolvimento assimétrico de habilidades, com
áreas de excelência contrastando com outras que
podem requerer maior suporte.
Dificuldade em desenvolver motivação para
áreas sem interesse: Considerável resistência em
dedicar atenção a tópicos ou atividades que estão
fora dos interesses específicos, afetando o
desempenho acadêmico ou profissional.
Dificuldade em perceber estados emocionais dos
outros: Desafios na interpretação de expressões
faciais, tom de voz e linguagem corporal,
prejudicando a compreensão das emoções alheias.
Problemas para entender regras sociais não
explícitas: Confusão frente a normas sociais
implícitas e dificuldade em decifrar "códigos
sociais" que não são claramente explicados.
Dificuldades de processamento sensorial:
Hipersensibilidade ou hiposensibilidade a
estímulos como sons, luzes, texturas ou sabores,
levando ao desconforto em ambientes com muita
estimulação.
Desafios na generalização de habilidades:
Dificuldade em transferir conhecimentos ou
comportamentos aprendidos em um contexto para
situações novas, necessitando de instruções
específicas para cada cenário.
Expressão de empatia de forma não
convencional: Embora sintam empatia, podem
expressá-la de maneiras diferentes do esperado
socialmente, sendo às vezes mal interpretados
como insensíveis.
Dificuldades no funcionamento executivo:
Desafios em planejamento, organização,
gerenciamento de tempo e priorização de tarefas,
impactando a autonomia em atividades cotidianas.
É importante ressaltar que cada pessoa com Síndrome de Asperger é única, apresentando diferentes combinações
destas características em diversos graus de intensidade. O reconhecimento destes pontos fortes e desafios permite
desenvolver estratégias personalizadas que potencializem as habilidades e ofereçam suporte adequado às áreas
de maior dificuldade.

INTERVENÇÕES E TRATAMENTO PARA SÍNDROME
DE ASPERGER
Mesmo considerando que o tratamento é realizado com auxílio de programas individuais em função da evolução
de cada criança, os seguintes aspectos podem ser fundamentais como alvos preferenciais de tratamento em um
programa de intervenção precoce com indivíduos com Síndrome de Asperger. A intervenção adequada e
personalizada pode melhorar significativamente a qualidade de vida e promover o desenvolvimento de pessoas
com Asperger, permitindo que desenvolvam seu potenc ial pleno.
As intervenções devem ser multidisciplinares, envolvendo psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e
educadores especializados que trabalham em conjunto para abordar as necessidades específicas de cada
indivíduo.
Desenvolver autonomia e independência
Promover habilidades de autocuidado e vida diária, como higiene pessoal, vestir-se adequadamente,
preparar refeições simples e gerenciar horários. Estas habilidades são fundamentais para que a pessoa
com Síndrome de Asperger possa eventualmente viver de forma independente e se integrar na
sociedade com maior confiança.
Melhorar comunicação não-verbal
Trabalhar expressões faciais, gestos e contato visual através de exercícios estruturados e roleplay. A
compreensão das nuances da comunicação não-verbal é essencial para o desenvolvimento de
relações sociais saudáveis e para a interpretação correta de situações sociais cotidianas que muitas
vezes são desafiadoras.
Desenvolver aspectos sociais
Imitação, aprender a esperar a vez e jogos em equipe são fundamentais para criar oportunidades de
interação social positiva. Grupos de habilidades sociais e atividades estruturadas podem ajudar a
pessoa com Asperger a compreender regras sociais implícitas e desenvolver relações de amizade
mais significativas, reduzindo o isolamento social frequentemente experimentado.
Flexibilizar tendências repetitivas
Reduzir rigidez comportamental e ampliar interesses através da exposição gradual a novas atividades
e experiências. A introdução cuidadosa e paciente de variações em rotinas pode ajudar a pessoa com
Asperger a desenvolver maior tolerância a mudanças e imprevistos, diminuindo a ansiedade
associada a alterações no ambiente ou nas expectativas.
Desenvolver habilidades cognitivas
Estimular capacidades acadêmicas e de aprendizagem, aproveitando os interesses específicos como
motivadores. Muitas pessoas com Síndrome de Asperge r têm habilidades cognitivas excepcionais em
áreas específicas, que podem ser canalizadas para a aprendizagem formal e eventualmente para
oportunidades vocacionais ou acadêmicas avançadas q uando adequadamente estimuladas.
Ao mesmo tempo, é importante trabalhar na redução d os problemas de comportamento, utilizando abordagen s
comportamentais positivas e estratégias de autorregulação emocional. O tratamento farmacológico pode ser
necessário em alguns casos para gerenciar sintomas específicos como ansiedade, depressão ou dificuldades de
atenção que frequentemente coexistem com a Síndrome de Asperger.
A família deve receber orientação e informações completas, incluindo treinamento em técnicas específicas e
acesso a grupos de apoio. O suporte familiar é crucial para a generalização das habilidades aprendidas em
ambiente terapêutico para situações da vida real. Igualmente importante é garantir que os professores recebam
assessoria e apoio necessários para implementar adaptações pedagógicas adequadas, como instruções claras e
diretas, ambiente previsível e material visual de apoio.
A consistência entre os diferentes ambientes (casa, escola e terapias) é fundamental para o sucesso das
intervenções, assim como o acompanhamento contínuo e ajustes ao plano de tratamento conforme o
desenvolvimento e as necessidades do indivíduo evoluem ao longo do tempo.

A HISTÓRIA DO AUTISMO
O autismo foi descrito pela primeira vez em 1943 pelo Dr. Leo Kanner (médico austríaco, residente em Baltimore,
nos EUA) em seu histórico artigo escrito originalmente em inglês: "Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo". Nesse
artigo, Kanner descreve 11 casos, dos quais o primeiro, Donald T., chegou até ele em 1938. Kanner observou que
estas crianças apresentavam uma inabilidade para se relacionarem com outras pessoas, graves distúrbios de
linguagem e uma insistência obsessiva na manutenção da rotina, denominando essa condição como "autismo
infantil precoce".
Em 1944, Hans Asperger, um médico também austríaco e formado na Universidade de Viena - a mesma em que
estudou Leo Kanner -, escreve outro artigo com o título "Psicopatologia Autística da Infância", descrevendo
crianças bastante semelhantes às descritas por Kanner. Ao contrário do artigo de Kanner, o de Asperger levou
muitos anos para ser amplamente lido. A razão mais comumente apontada para o desconhecimento do artigo de
Asperger é o fato de ele ter sido escrito originalmente em alemão. Asperger descreveu pacientes com inteligência
normal ou acima da média, mas com dificuldades significativas na interação social, déficits na comunicação não-
verbal e interesses circunscritos.
Entre as décadas de 1950 e 1970, o autismo era frequentemente confundido com esquizofrenia infantil e muitos
profissionais acreditavam erroneamente que a causa era o comportamento dos pais, especialmente da mãe -
teoria conhecida como "mãe geladeira" proposta pelo psicanalista Bruno Bettelheim. Esta teoria foi posteriormente
refutada pela comunidade científica, mas causou um estigma significativo para muitas famílias durante décadas.
Na década de 1970, o psiquiatra Michael Rutter propôs uma nova definição do autismo baseada em quatro
critérios: atraso e desvio sociais não só como deficiência intelectual; problemas de comunicação não só devidos à
deficiência intelectual associada; comportamentos incomuns, tais como movimentos estereotipados e
maneirismos; e início antes dos 30 meses de idade.
1
1943
Leo Kanner publica "Distúrbios Autísticos do
Contato Afetivo" identificando o que chamou
de "autismo infantil precoce" 2
1944
Hans Asperger publica "Psicopatologia
Autística da Infância" descrevendo uma
condição similar, mais tarde conhecida como
Síndrome de Asperger
3
1967
Bruno Bettelheim publica "A Fortaleza Vazia",
promovendo a teoria incorreta da "mãe
geladeira"
4
1977
Primeiro estudo de gêmeos sobre autismo
sugere forte componente genético
5
1981
Lorna Wing populariza o trabalho de Asperger
e introduz o conceito de "espectro autista"
6
1988
Lançamento do filme "Rain Man", que
aumentou a conscientização pública sobre o
autismo 7
1994
Inclusão da Síndrome de Asperger no DSM-IV
como diagnóstico distinto do Autismo
8
2013
DSM-5 unifica os diagnósticos sob Transtorno
do Espectro Autista (TEA), eliminando
subcategorias
Ao longo dos anos, a compreensão do autismo evoluiu de uma visão binária para o reconhecimento de um
espectro complexo de características. As pesquisas atuais concentram-se em identificar biomarcadores,
compreender as causas genéticas e ambientais, e desenvolver intervenções mais eficazes e personalizadas. O
movimento de neurodiversidade, liderado por pessoas autistas, também tem contribuído significativamente para
mudar a percepção do autismo de um "distúrbio" para uma "diferença neurológica" que deve ser respeitada e
aceita.

CLASSIFICAÇÃO E EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE
AUTISMO
O autismo pode ser classificado em grau leve, moderado ou severo, dependendo do apoio necessário que a pessoa
precisa para realizar as atividades do dia a dia. A nomenclatura atual é "Transtorno do Espectro do Autismo" (TEA),
por ser um conjunto de comportamentos que afeta cad a indivíduo de modo e grau diferente, com uma ampla
variedade.
De acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição), publicado em 2013,
os níveis de suporte são classificados da seguinte forma:
Nível 1: "Requer suporte"
Pessoa que, sem apoios,
apresenta déficits na
comunicação social. Tem
dificuldade para iniciar
interações sociais e
demonstra respostas atípicas
ou malsucedidas a aberturas
sociais dos outros. Pode
aparentar interesse reduzido
por interações sociais.
Nível 2: "Requer suporte
substancial"
Pessoa com déficits graves
nas habilidades de
comunicação social verbal e
não verbal. Os prejuízos
sociais são aparentes mesmo
na presença de apoio, com
limitação em dar início a
interações sociais e resposta
reduzida ou anormal a
aberturas sociais.
Nível 3: "Requer suporte
muito substancial"
Pessoa com déficits graves
nas habilidades de
comunicação social verbal e
não verbal, causando
prejuízos graves de
funcionamento. Grande
limitação em iniciar interações
sociais e resposta mínima a
aberturas sociais.
Com a evolução das pesquisas científicas, chegou-se à conclusão de que o autismo não é um distúrbio de contato
afetivo, mas sim um distúrbio do desenvolvimento.
A compreensão do autismo passou por várias mudanças ao longo das décadas. Inicialmente, nas décadas de 1940
e 1950, acreditava-se erroneamente que o autismo era causado por "mães frias" que não forneciam afeto suficiente
aos filhos. Esta teoria, proposta pelo psicanalista Bruno Bettelheim, foi completamente desacreditada por
pesquisas subsequentes.
Em 1989, Frith resume o autismo como uma "deficiência mental específica, suscetível de ser classificada nas
Perturbações Pervasivas do Desenvolvimento, que afeta qualitativamente as interações sociais recíprocas, a
comunicação não-verbal e a verbal, a atividade imaginativa e se expressa através de um repertório restrito de
atividades e interesses".
Nos anos 1990, os critérios diagnósticos para o autismo foram expandidos e refinados no DSM-IV, que incluía
diferentes subtipos como o Transtorno Autista, Síndrome de Asperger, Transtorno Desintegrativo da Infância e
Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Espe cificação (TGD-SOE).
Em 2013, o DSM-5 trouxe uma mudança significativa ao unificar todos esses diagnósticos sob um único guarda-
chuva: o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Esta mudança reconheceu oficialmente a natureza espectral da
condição, abandonando a ideia de categorias distintas em favor de um contínuo de intensidade de sintomas.
Estando assente a ideia de que o autismo é uma perturbação desenvolvimental que afeta a capacidade da pessoa
comunicar, entender a linguagem, jogar e interagir com outros, constitui-se, assim, como uma síndrome
comportamental por ser definida com base nos padrõe s de comportamento exibidos. Estes autores esclarecem
ainda que o autismo não é uma doença, nem tampouco é contagioso, não havendo indícios de que se adquira
através do contato com o meio.
Atualmente, a ciência reconhece o autismo como uma condição neurobiológica complexa, com forte compone nte
genético, influenciada por fatores ambientais durante o desenvolvimento pré-natal e nos primeiros anos de vida.
As pesquisas mais recentes apontam para alterações na conectividade neural e no desenvolvimento cerebral,
particularmente nas áreas responsáveis pela cognição social, linguagem e funções executivas.
A prevalência estimada do TEA aumentou significativamente nas últimas décadas, passando de aproximadam ente
1 em cada 2.000 crianças na década de 1970 para cerca de 1 em cada 54 crianças atualmente, segundo dados do
CDC (Centers for Disease Control and Prevention) dos Estados Unidos. Este aumento é atribuído principalmente à
maior conscientização, ampliação dos critérios diagnósticos e melhores ferramentas de identificação.

CONCEITO DE AUTISMO
Autismo é um distúrbio do desenvolvimento que se caracteriza por alterações presentes desde idade muito
precoce, tipicamente antes dos três anos de idade, com impacto múltiplo e variável em áreas nobres do
desenvolvimento humano como as áreas de comunicação , interação social, aprendizado e capacidade de
adaptação.
O autismo não é uma doença, e sim uma condição neur ológica, marcada por dificuldades no desenvolvimento da
linguagem, nos processos de comunicação, na interação e no comportamento social.
O termo "autismo" foi utilizado pela primeira vez em 1911 pelo psiquiatra Eugen Bleuler, para descrever um sintoma
da esquizofrenia caracterizado pelo isolamento social. Posteriormente, em 1943, o médico austríaco Leo Kanner
descreveu um grupo de 11 crianças com características específicas que ele denominou "distúrbios autísticos do
contato afetivo". Quase simultaneamente, em 1944, o pediatra austríaco Hans Asperger publicou um trabalho
descrevendo crianças com características semelhantes, porém com habilidades verbais mais desenvolvidas.
As pessoas com autismo apresentam uma tríade de car acterísticas principais: dificuldades de comunicação verbal
e não verbal, dificuldades de interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento. É importante
ressaltar que estas características podem se manifestar em diferentes graus de intensidade, criando um espectro
de manifestações que variam de caso para caso.
Algumas características comuns incluem: dificuldade em manter contato visual, preferência por rotinas e
resistência a mudanças, interesses específicos e muitas vezes intensos, dificuldade em compreender expressões
faciais e emoções alheias, linguagem atípica (como ecolalia ou inversão pronominal), e sensibilidade sensorial
aumentada ou diminuída.
F84.0 Autismo infantil
Transtorno global do desenvolvimento caracterizado
por um desenvolvimento anormal ou alterado,
manifestado antes da idade de três anos, e
apresentando uma perturbação característica do
funcionamento em cada um dos três domínios:
interações sociais, comunicação, comportamento
focalizado e repetitivo.
O transtorno acomete três a quatro vezes mais
meninos do que meninas. Conforme o CID-10, o
autismo infantil apresenta anomalias demonstráveis
em todas as seguintes áreas: interação social
recíproca, comunicação e comportamento restrito,
estereotipado ou repetitivo.
F84.1 Autismo atípico
Transtorno global do desenvolvimento, ocorrendo
após a idade de três anos ou que não responde a
todos os três grupos de critérios diagnósticos do
autismo infantil. Esta categoria deve ser utilizada
para classificar um desenvolvimento anormal ou
alterado, aparecendo após a idade de três anos.
Difere do autismo infantil pela idade de início ou por
não satisfazer os três grupos de critérios
diagnósticos. Esta subcategoria deve ser utilizada
quando existe um desenvolvimento anormal ou
alterado, surgindo após a idade de três anos, e não
apresentando manifestações patológicas suficientes
em um ou dois dos três domínios psicopatológicos
necessários para o diagnóstico de autismo.
F84.5 Síndrome de Asperger
Transtorno caracterizado por uma alteração qualitativa das interações sociais recíprocas, semelhante à
observada no autismo, com repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Difere do
autismo essencialmente pelo fato de que não se acompanha de um retardo ou de uma deficiência de
linguagem ou do desenvolvimento cognitivo.
As pessoas com Síndrome de Asperger frequentemente demonstram interesses intensos e habilidades
específicas excepcionais em determinadas áreas. Geralmente possuem inteligência normal ou acima da
média, e muitas vezes apresentam linguagem formal e vocabulário rico, embora possam ter dificuldades com
aspectos pragmáticos da comunicação.
O diagnóstico do autismo é essencialmente clínico, baseado nos comportamentos apresentados e na histór ia do
desenvolvimento. Não existem exames laboratoriais específicos para confirmar o diagnóstico, embora exames
complementares possam ser solicitados para investigar condições associadas. A identificação precoce e a
intervenção adequada são fundamentais para melhorar o prognóstico e a qualidade de vida das pessoas com
autismo.
Atualmente, o autismo é entendido como uma condição de neurodesenvolvimento que acompanha a pessoa por
toda a vida, embora as manifestações clínicas possam mudar ao longo do tempo. Com apoio adequado, muit as
pessoas com autismo conseguem desenvolver suas habi lidades, superar desafios e levar uma vida plena e
satisfatória.

CAUSAS DO AUTISMO
As causas do autismo são desconhecidas. Acredita-se que a origem do autismo esteja em anormalidades em
alguma parte do cérebro ainda não definida de forma conclusiva e, provavelmente, de origem genética. Além
disso, admite-se que possa ser causado por problemas relacionados a fatos ocorridos durante a gestação ou no
momento do parto.
Estudos recentes sobre genética e autismo identificaram mais de 100 genes que podem estar associados ao
Transtorno do Espectro Autista (TEA). Pesquisas com gêmeos indicam uma forte contribuição genética, já que
gêmeos idênticos têm maior probabilidade de ambos s erem diagnosticados com autismo em comparação com
gêmeos fraternos. Isso sugere que o componente hereditário é significativo, embora a expressão desses genes
possa variar consideravelmente, explicando a diversidade de manifestações clínicas.
Fatores ambientais também são investigados como pos síveis contribuintes para o desenvolvimento do autismo.
Entre esses fatores estão a idade avançada dos pais no momento da concepção, complicações durante a gr avidez
(como infecções maternas, diabetes gestacional ou uso de certos medicamentos), exposição a toxinas ambientais
e complicações no parto, como prematuridade extrema ou baixo peso ao nascer. No entanto, é importante
ressaltar que esses fatores provavelmente interagem com predisposições genéticas de maneiras complexas.
A hipótese de uma origem relacionada à frieza ou rejeição materna já foi descartada, relegada à categoria de mito
há décadas. Porém, a despeito de todos os indícios e da retratação pública dos primeiros defensores desta teoria,
persistem adeptos desta corrente que ainda a defendem ou defendem teorias aparentemente diferentes, ma s
derivadas desta. Essa visão é fortemente rejeitada pela comunidade científica, que possui evidências substanciais
de que o autismo tem bases neurobiológicas e não é causado por fatores psicossociais ou estilos parentais.
Outra teoria descartada cientificamente foi a ligação entre vacinas e autismo, especialmente a vacina tríplice viral
(sarampo, caxumba e rubéola). Múltiplos estudos epidemiológicos envolvendo milhões de crianças não
encontraram associação entre vacinação e desenvolvimento de autismo. O estudo original que propôs essa ligação
foi posteriormente retratado por falhas metodológicas e conflitos de interesse.
Pesquisas atuais focam em compreender como diferent es regiões cerebrais se comunicam em pessoas autistas.
Estudos de neuroimagem revelam diferenças na conect ividade cerebral, particularmente nas áreas responsáveis
pela comunicação social, processamento sensorial e funções executivas. Alterações no desenvolvimento neuronal
precoce, incluindo crescimento acelerado do cérebro nos primeiros anos de vida, também estão sendo
investigadas como potenciais marcadores biológicos.
Já que as causas não são totalmente conhecidas, o que pode ser recomendado em termos de prevenção do
autismo são os cuidados gerais a todas as gestantes, especialmente cuidados com a ingestão de produtos
químicos, tais como remédios, álcool ou fumo. Adicionalmente, recomenda-se acompanhamento pré-natal
regular, nutrição adequada, suplementação com ácido fólico, evitar infecções durante a gravidez e minimizar
exposição a poluentes ambientais. No entanto, é fundamental compreender que muitos casos de autismo nã o
podem ser prevenidos, e o foco deve estar no diagnóstico precoce e intervenções adequadas para otimizar o
desenvolvimento da criança.

DIAGNÓSTICO DO AUTISMO
O diagnóstico de autismo deve ser feito por um profissional com formação em medicina e experiência clínica de
vários anos diagnosticando essa síndrome. Idealmente, uma equipe multidisciplinar composta por neurologista,
psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional deve participar do processo diagnóstico para uma
avaliação mais completa. O diagnóstico de autismo é feito basicamente através da avaliação do quadro clínico. Não
existem testes laboratoriais específicos para a detecção do autismo. Por isso, diz-se que o autismo não apresenta
um marcador biológico.
Normalmente, o médico solicita exames para investigar condições (possíveis doenças) que têm causas
identificáveis e podem apresentar um quadro de autismo infantil, como a síndrome do X-frágil, fenilcetonúria ou
esclerose tuberosa. É importante notar, contudo, que nenhuma das condições apresenta os sintomas de au tismo
infantil em todas as suas ocorrências. Exames de neuroimagem como ressonância magnética e
eletroencefalograma podem ser solicitados para descartar outras condições neurológicas, embora não sejam
determinantes para o diagnóstico do TEA.
Os critérios diagnósticos do TEA (Transtorno do Espectro Autista) são baseados em dois domínios principais:
déficits persistentes na comunicação social e interação social; e padrões restritos e repetitivos de comportamento,
interesses ou atividades. Ambos os domínios devem estar presentes desde o início da infância e limitar o
funcionamento cotidiano da criança.
Portanto, embora às vezes surjam indícios bastante fortes de autismo por volta dos dezoito meses, raramente o
diagnóstico é conclusivo antes dos vinte e quatro meses, e a idade média mais frequente é superior aos trinta
meses. Para melhor instrumentalizar e uniformizar o diagnóstico, foram criadas escalas, critérios e questionários.
Entre os instrumentos mais utilizados estão o M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers), o ADI-R (Autism
Diagnostic Interview-Revised), o ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule) e o DSM-5 (Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais).
O diagnóstico precoce é importante para poder iniciar a intervenção educacional especializada o mais
rapidamente possível. Estudos demonstram que intervenções iniciadas antes dos três anos de idade têm maior
impacto no desenvolvimento das habilidades sociais, de comunicação e cognitivas. A intervenção precoce pode
ajudar a reduzir comportamentos desafiadores e promover o desenvolvimento de habilidades adaptativas que
serão fundamentais para a autonomia futura da pessoa com TEA.
Além disso, o diagnóstico permite que as famílias tenham acesso a serviços especializados e direitos garantidos por
lei, incluindo terapias, educação especial e outros apoios necessários. É importante ressaltar que o diagnóstico não
é um rótulo, mas uma ferramenta para compreender as necessidades específicas da criança e orientar as
intervenções mais adequadas para cada caso.

INDICADORES DA PRESENÇA DO TEA
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por um conjunto de sinais que podem se manifestar em
diferentes idades e com intensidades variadas. A identificação precoce desses indicadores é fundamental para o
diagnóstico e intervenção adequados, possibilitando melhores resultados no desenvolvimento da criança.
Comportamentos incomuns não são bons preditores de TEA, pois várias crianças com TEA não os apresentam e,
quando o fazem, costumam demonstrá-los mais tardiam ente. Em alguns casos, são observados comportamento s
atípicos, repetitivos e estereotipados severos, indicando a necessidade de encaminhamento para avaliaç ão
diagnóstica de TEA.
É importante ressaltar que a presença isolada de alguns desses indicadores não confirma o diagnóstico, que deve
ser realizado por uma equipe multidisciplinar especializada. Também é necessário considerar que cada pessoa
com TEA apresenta características únicas, podendo manifestar os sintomas de formas muito diferentes.
Indicadores Motores
Movimentos motores estereotipados: flapping de
mãos, "espremer-se", correr de um lado para o outro
Ações atípicas repetitivas: alinhar/empilhar
brinquedos de forma rígida
Dificuldade de se aninhar no colo dos cuidadores
Dissimetrias na motricidade
Andar na ponta dos pés com frequência
Dificuldades de coordenação motora fina (como
segurar um lápis ou abotoar roupas)
Movimentos circulares ou giratórios do corpo (rodar
sobre si mesmo)
Hipertonia ou hipotonia muscular (tensão muscular
aumentada ou diminuída)
Indicadores Sensoriais
Hábito de cheirar e/ou lamber objetos
Sensibilidade exagerada a determinados sons
Insistência visual em objetos com luzes ou que
emitem barulhos
Insistência tátil em determinadas texturas
Aversão ou fascinação por certos tipos de alimentos
baseados em textura, cor ou cheiro
Reação exagerada ou reduzida à dor física
Desconforto com certas roupas ou etiquetas de
tecido
Perturbação em ambientes com muitos estímulos
sensoriais (lugares barulhentos, muito iluminados
ou com muita movimentação)
Indicadores Comportamentais e Sociais
Além dos indicadores motores e sensoriais, é importante observar também aspectos comportamentais e soc iais
que podem sugerir a presença do TEA:
Dificuldade em estabelecer e manter contato visual
Preferência por brincar sozinho, com pouco interesse em interagir com outras crianças
Resistência a mudanças na rotina ou ambiente, podendo resultar em crises de ansiedade
Interesse restrito e intenso por temas ou objetos específicos
Dificuldade em compreender expressões faciais e linguagem corporal
Comportamento aparentemente alheio quando chamado p elo nome
Dificuldade em compartilhar interesses ou em apontar para mostrar algo interessante
Ausência ou redução de brincadeiras simbólicas ou de faz de conta
A observação cuidadosa desses sinais, especialmente quando persistentes e em conjunto, pode ajudar pais,
cuidadores e profissionais a identificarem a necessidade de uma avaliação mais aprofundada, contribuindo para o
diagnóstico precoce e intervenção adequada em casos de Transtorno do Espectro Autista.

INDICADORES DE FALA E EXPRESSIVIDADE NO
TEA
A comunicação e a expressão emocional são áreas fundamentais para observação no Transtorno do Espectro
Autista (TEA). Crianças com TEA frequentemente apresentam padrões atípicos de comunicação verbal e não-
verbal que podem ser observados desde os primeiros anos de vida. Estes indicadores, quando presentes em
conjunto com outros sintomas, podem auxiliar no processo de identificação precoce e intervenção adequada.
Indicadores na Fala
Repetem palavras que acabaram de ouvir (ecolalia
imediata) - repetição automática e imediata do que
foi dito por outras pessoas
Podem emitir falas ou "slogans/vinhetas" sem
sentido contextual (ecolalia tardia) - frases de
comerciais, desenhos animados ou conversas
passadas são repetidas fora de contexto
Características peculiares na entonação e no
volume da voz - fala monótona, mecânica ou com
padrões incomuns de ritmo e entonação
Perda de habilidades previamente adquiridas
(regressão) - perda de palavras ou frases que a
criança já utilizava anteriormente
Dificuldade na compreensão de linguagem
figurada, metáforas e expressões idiomáticas
Tendência a falar sobre temas de interesse restrito
com detalhes excessivos
Indicadores na Expressividade
Expressividade emocional menos frequente e mais
limitada - redução na variação e intensidade das
expressões faciais
Dificuldade de encontrar formas de expressar
preferências e vontades - podem recorrer a
comportamentos inadequados como forma de
comunicação
Dificuldade em responder às tentativas dos adultos
em compreendê-las - parecem não perceber ou
ignorar esforços de comunicação
Tendência a rotinas ritualizadas e rígidas -
resistência significativa a mudanças na rotina diária
Dificuldade importante na modificação da
alimentação - seletividade alimentar extrema
baseada em textura, cor ou disposição dos
alimentos
Contato visual reduzido ou atípico durante
interações sociais
Respostas emocionais desproporcionais ou
aparentemente desconectadas do contexto social
É importante ressaltar que a presença isolada desses indicadores não é suficiente para o diagnóstico de TEA. A
avaliação deve ser abrangente e realizada por equipe multidisciplinar especializada, considerando o
desenvolvimento global da criança e o contexto familiar. Quanto mais precoce for a identificação desses sinais,
maiores são as chances de intervenção efetiva e melhora no prognóstico.

DIRETRIZES DIAGNÓSTICAS DOS TEA
Toda pessoa com suspeita de apresentar um dos TEA deve ser encaminhada para avaliação diagnóstica. O
diagnóstico é essencialmente clínico e, nesse sentido, não deve prescindir da participação do médico especialista
(psiquiatra e/ou neurologista), acompanhado de equipe interdisciplinar capacitada para reconhecer clinicamente
tais transtornos.
A equipe deverá contar com, no mínimo: médico psiquiatra ou neurologista, psicólogo e fonoaudiólogo. Cada
profissional, dentro de sua área, fará sua observação clínica e aplicará instrumentos específicos para avaliação dos
comportamentos e habilidades da pessoa. A avaliação geralmente ocorre em múltiplas sessões para garantir uma
visão completa e precisa do quadro clínico.
Entrevista com os Pais ou Cuidadores
História de problemas de desenvolvimento dos
familiares
Quando surgiram os primeiros sintomas e em
que área
Problemas no sono e na alimentação
Problemas na conduta: agressividade,
hiperatividade
Registrar tipos de atendimentos anteriores
Histórico gestacional e de desenvolvimento
Marcos de desenvolvimento (sentar, andar, falar)
Padrões de interação social e comunicação
Comportamentos repetitivos e interesses
restritos
Observação Direta do Comportamento
Atenção compartilhada
Busca de assistência
Responsividade social
Sorriso e expressões afetivas
Linguagem e comunicação
Jogo simbólico e imitação
Respostas sensoriais (hiper ou hiposensibilidade)
Comportamentos repetitivos e estereotipados
Interesses restritos ou fixações
Habilidades cognitivas e adaptativas
Instrumentos de Avaliação Padronizados
ADOS-2 (Autism Diagnostic Observation
Schedule)
ADI-R (Autism Diagnostic Interview-Revised)
M-CHAT (Modified Checklist for Autism in
Toddlers)
CARS (Childhood Autism Rating Scale)
Protocolo TEA da Academia Americana de
Pediatria
Escalas de desenvolvimento neuropsicomotor
Avaliações de linguagem específicas
Critérios Diagnósticos (DSM-5)
Déficits persistentes na comunicação e interação
social
Padrões restritos e repetitivos de
comportamento, interesses ou atividades
Sintomas presentes desde o início da infância
Sintomas causam prejuízo significativo no
funcionamento
Níveis de gravidade (1, 2 ou 3) baseados na
necessidade de suporte
Especificadores (com ou sem comprometimento
intelectual, linguístico, etc.)
O diagnóstico de TEA não pode ser baseado em um úni co sintoma isolado ou teste específico. É necessária uma
avaliação abrangente que considere o histórico completo, observações em múltiplos contextos e avaliações
padronizadas. É importante também considerar diagnó sticos diferenciais e possíveis comorbidades, como
Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Transtornos de Linguagem, Deficiência Intelectual, entre
outros.
O diagnóstico precoce é fundamental para o início da intervenção, que pode melhorar significativamente o
prognóstico. Recomenda-se que a avaliação seja iniciada assim que os primeiros sinais de alerta forem
identificados, idealmente antes dos 3 anos de idade, quando a plasticidade cerebral é maior.

AUTISMO (TRANSTORNO DO
ESPECTRO DO AUTISMO - TEA)
O autismo ou Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), como é
tecnicamente chamado, é uma condição de saúde carac terizada por
prejuízos em três importantes áreas do desenvolvimento humano:
habilidades socioemocionais, atenção compartilhada e linguagem.
Atualmente, a ciência fala não só de um tipo de autismo, mas de muitos
tipos diferentes, que se manifestam de maneira única em cada pessoa.
Para definir a grande abrangência do autismo, usa-se o termo "espectro",
pois há vários níveis de comprometimento, desde pessoas com outras
doenças associadas (chamadas de comorbidades), como deficiência
intelectual, até pessoas que têm uma vida comum, independente,
porém, algumas nem sabem que são autistas, pois jam ais tiveram esse
diagnóstico.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) , estima-se que 1
em cada 160 crianças no mundo apresente TEA. No Bra sil, calcula-se que
cerca de 2 milhões de pessoas estejam dentro do espectro autista. O
transtorno é mais comumente diagnosticado em menino s, em uma
proporção de 4 para 1 em relação às meninas, embora estudos recentes
sugiram que as meninas possam ser subdiagnosticadas devido a
apresentarem características diferentes.
Os sinais do TEA geralmente aparecem nos primeiros anos de vida e
podem incluir dificuldades na interação social, padrões repetitivos de
comportamento, interesses restritos e dificuldades na comunicação
verbal e não verbal. Algumas pessoas com autismo podem apresentar
hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais como
sons, luzes, texturas ou cheiros.
É importante ressaltar que o TEA não é uma doença, mas uma condição
do neurodesenvolvimento que acompanha a pessoa por toda a vida. Não
existe cura para o autismo, mas o diagnóstico precoce e as intervenções
adequadas podem melhorar significativamente a qualidade de vida e o
desenvolvimento das pessoas dentro do espectro.
As características do TEA variam amplamente, e cada pessoa autista
possui um conjunto único de pontos fortes e desafios. Enquanto algumas
pessoas com TEA podem precisar de apoio substancial em sua vida
diária, outras podem viver de forma totalmente independente e ter
carreiras bem-sucedidas em diversas áreas.

CAUSAS GENÉTICAS DO AUTISMO
O autismo é um transtorno multifatorial do qual não se conhece completamente o mecanismo causal. Um es tudo
publicado pelo JAMA Psychiatry em 17 de julho de 2019 sugere que 97% a 99% dos casos de autismo têm causa
genética, sendo 81% hereditária. O trabalho científico, com 2 milhões de indivíduos de cinco países diferentes,
sugere ainda que de 18% a 20% dos casos têm causa genética somática (não hereditária). E o restante,
aproximadamente de 1% a 3%, deve ter causas ambient ais, pela exposição a agentes intrauterinos, como drogas,
infecções ou trauma durante a gestação.
No início de 2020, um trabalho científico publicado na revista Cell, com base em uma análise do sequenciamento
genético de mais de 35.000 pessoas autistas e seus familiares, identificou 102 genes como sendo os principais
relacionados ao autismo. Estes genes estão predominantemente envolvidos no desenvolvimento neuronal e na
comunicação entre neurônios, afetando a formação de sinapses e a plasticidade cerebral durante o
desenvolvimento fetal e infantil.
Após centenas de estudos, entre eles o norte-americano MSSNG, publicado em 2017 na revista científica Nature
Neuroscience, considerado o maior programa de estudos genéticos em autismo no mundo, sabe-se que testes
genéticos podem detectar a causa em 10% a 40% dos casos de TEA nos EUA e Canadá, com taxa maior de
detecção quando tecnologias de análises genéticas mais modernas são utilizadas em casos onde o autismo está
associado a outros problemas de saúde e sinais clínicos.
Como a ciência tem certeza da influência da genética no autismo, existem atualmente mais de mil genes já
mapeados e implicados como fatores de risco para o transtorno, sendo 102 o número total dos principais genes
relacionados ao autismo. Estas descobertas indicam a complexidade genética do TEA, onde múltiplas variações
genéticas podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno, explicando em parte por que o espectro de
manifestações é tão amplo.
Os testes genéticos para autismo evoluíram significativamente na última década. Inicialmente, eram realizados
apenas exames de cariótipo tradicional, que detectavam apenas alterações cromossômicas maiores. Hoje, técnicas
como microarray cromossômico (CMA), sequenciamento de exoma completo (WES) e sequenciamento de
genoma completo (WGS) permitem identificar variaçõe s genéticas cada vez menores e mais sutis, inclusive
mutações de ponto único em genes específicos.
Pesquisas atuais estão explorando como a epigenética - mudanças que afetam como os genes se expressam sem
alterar o DNA - pode influenciar o desenvolvimento do autismo. Modificações epigenéticas podem ser
influenciadas por fatores ambientais, o que pode explicar como certos fatores de risco ambientais interagem com a
predisposição genética. Estudos com gêmeos idênticos que apresentam diferentes manifestações de autismo
sugerem que fatores não genéticos também devem ser considerados.
Um campo promissor na pesquisa genética do autismo é a medicina personalizada, que visa desenvolver
tratamentos específicos baseados no perfil genético individual. Algumas variantes genéticas específicas associadas
ao autismo afetam vias metabólicas ou neurológicas que poderiam ser alvos de intervenções farmacológicas
personalizadas, abrindo a possibilidade de tratamentos mais eficazes no futuro.
Genética Hereditária Genética Somática Fatores Ambientais

SINAIS DE AUTISMO NA INFÂNCIA
A partir de um ano e meio de idade, alguns sinais de autismo já podem aparecer, até mesmo mais cedo em casos
mais graves. Estudos recentes demonstram que indicadores sutis podem ser identificados em alguns bebês a
partir dos 6 meses, como dificuldades no engajamento social e padrões atípicos de atenção visual. A observação
cuidadosa por parte dos pais e pediatras é essencial para identificação precoce desses sinais.
Há uma grande importância em se iniciar o tratamento o quanto antes, mesmo que ainda seja apenas uma
suspeita clínica, pois quanto antes iniciarem-se as intervenções, maiores são as possibilidades de melhorar a
qualidade de vida da pessoa. O cérebro infantil possui grande neuroplasticidade, o que significa maior capacidade
de reorganização neural e adaptação quando estimulado adequadamente nos primeiros anos de vida.
O tratamento psicológico com evidência de eficácia, segundo a Associação Americana de Psiquiatria, é a terapia de
intervenção comportamental, aplicada por psicólogos. A mais usada delas é o ABA (sigla em inglês para Applied
Behavior Analysis, em português, Análise Aplicada do Comportamento). Esta abordagem foca no ensino
estruturado de habilidades fundamentais, utilizando reforço positivo e estratégias baseadas em evidências
científicas para promover o desenvolvimento de comunicação, socialização e independência.
Como o tratamento para autismo é interdisciplinar, ou seja, além da psicologia, pacientes podem se beneficiar com
intervenções de fonoaudiologia, terapia ocupacional, entre outros profissionais. A integração entre essas terapias e
a participação ativa da família no processo terapêutico são fatores determinantes para o sucesso do tratamento a
longo prazo.
Contato visual limitado
Não manter contato visual por mais de 2
segundos. Crianças com autismo
frequentemente evitam olhar nos olhos ou
mantêm um olhar periférico. Isso não significa
falta de interesse, mas sim uma diferença na
forma como processam informações sociais e
visuais, podendo ser também uma tentativa de
reduzir estímulos sensoriais intensos.
Não responde ao nome
Não atender quando chamado pelo nome,
mesmo quando está próximo e sem distrações
evidentes. Esse comportamento pode indicar
dificuldades no processamento auditivo ou na
atenção compartilhada, habilidades
fundamentais para o desenvolvimento social e da
comunicação.
Isolamento social
Isolar-se ou não se interessar por outras crianças,
preferindo brincar sozinho mesmo quando há
oportunidades de interação. Pode demonstrar
dificuldade em compreender brincadeiras sociais
típicas e regras implícitas de interação, resultando
em afastamento ou abordagens inadequadas nas
tentativas de socialização.
Alinhamento de objetos
Alinhar objetos de forma repetitiva e precisa,
demonstrando mais interesse nas características
físicas dos brinquedos do que em seu uso
funcional. Este comportamento reflete uma
preferência por ordem e previsibilidade, podendo
dedicar longos períodos organizando itens por
cor, tamanho ou outras características.
Apego a rotinas
Ser muito preso a rotinas a ponto de entrar em
crise quando há mudanças, mesmo pequenas
alterações no ambiente ou na sequência de
atividades cotidianas. Esta necessidade de
previsibilidade funciona como uma estratégia
para lidar com um mundo que pode parecer
caótico e imprevisível para a criança com
autismo.
Movimentos repetitivos
Fazer movimentos repetitivos sem função
aparente, como balançar o corpo, agitar as mãos,
girar objetos ou andar na ponta dos pés. Esses
comportamentos, conhecidos como
estereotipias, podem servir como autorregulação
sensorial ou expressão de estados emocionais,
aumentando em momentos de estresse ou
excitação.
É importante ressaltar que a presença de um ou alguns desses sinais isoladamente não confirma o diagnóstico de
autismo. Uma avaliação completa deve ser realizada por equipe multidisciplinar especializada, considerando o
desenvolvimento global da criança, histórico familiar e outros fatores relevantes. O diagnóstico precoce, seguido de
intervenções adequadas, pode fazer uma diferença significativa na trajetória desenvolvimental da criança com
TEA.

INFORMAÇÕES E ESTATÍSTICAS SOBRE AUTISMO
O termo "Transtorno do Espectro do Autismo" passou a ser usado a partir de 2013, na nova versão do Manual de
Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, publicação oficial da Associação Americana de Psiquiatria, o
DSM-5, quando foram fundidos quatro diagnósticos sob o código 299.00 para TEA: Autismo, Transtorno
Desintegrativo da Infância, Transtorno Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação e Síndrome de
Asperger.
O TEA é caracterizado por dificuldades persistentes na comunicação social e por padrões restritos e repetitivos de
comportamentos, interesses ou atividades. Os sintomas estão presentes desde o início da infância e limitam ou
prejudicam o funcionamento diário. A gravidade do transtorno é baseada em prejuízos na comunicação social e
em padrões restritos ou repetitivos de comportamento.
1:59
Prevalência nos EUA
Crianças diagnosticadas com TEA
(CDC, 2018)
4:1
Proporção por Gênero
Meninos para cada menina
diagnosticada
1-2%
Prevalência Mundial
Estimativa da OMS para população
com TEA
30%
Comorbidades
Pessoas com TEA que também têm
epilepsia
Aproximadamente um terço das pessoas com autismo pe rmanecem não-verbais (não desenvolvem a fala). Estima-
se que um terço das pessoas com autismo tem algum n ível de deficiência intelectual. Há algumas condições
clínicas associadas ao autismo com mais frequência, como: distúrbios gastrointestinais, convulsões, distúrbios do
sono, Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), ansiedade e fobias.
O diagnóstico precoce é fundamental para o desenvolvimento de crianças com TEA. Estudos mostram que
intervenções iniciadas antes dos 3 anos de idade têm resultados significativamente melhores no desenvolvimento
cognitivo e social. No Brasil, estima-se que existam aproximadamente 2 milhões de pessoas com TEA, seg undo
dados da Organização Mundial de Saúde aplicados à população brasileira.
Dificuldade
na interação
so...
Padrões
repetitivos
Comunicação
não-verbal
prej...
Sensibilidade
sensorial
Dificuldades
alimentares
Distúrbios do
sono
Os custos econômicos associados ao TEA são substanciais. Nos Estados Unidos, estima-se que o custo médio anual
para famílias com uma criança com TEA seja de aproximadamente 60 mil dólares, incluindo terapias, educação
especializada e perda de produtividade dos cuidadores. No entanto, investimentos em intervenção precoce
demonstram um retorno positivo, reduzindo os custos de suporte a longo prazo em até 65%.

SÍNDROME DE RETT E TRATAMENTOS PARA TEA
Síndrome de Rett
Descrita pela primeira vez pelo médico austríaco
Andreas Rett em 1966. É uma doença neurológica que
acomete principalmente crianças do sexo feminino.
Caracteriza-se pela perda progressiva das funções
neurológicas e motoras após um período de
desenvolvimento aparentemente normal nos
primeiros meses de vida.
Dos seis a dezoito meses, há uma estagnação do
desenvolvimento e a criança perde gradativamente as
habilidades até então adquiridas. A prevalência é de
1:10.000 a 1:15.000 em meninas. O quadro genético
apresenta mutações no gene MECP2 no cromossomo
X.
A síndrome de Rett se desenvolve em quatro estágios
clínicos distintos:
Estágio I (Início Precoce): Desenvolvimento
aparentemente normal seguido por desaceleração
e estagnação (6-18 meses)
1.
Estágio II (Regressão Rápida): Perda das
habilidades adquiridas, movimentos estereotipados
das mãos, comportamentos autísticos (1-4 anos)
2.
Estágio III (Pseudo-estacionário): Alguma
recuperação na comunicação, persistência de
deficiências graves (2-10 anos)
3.
Estágio IV (Deterioração Motora Tardia): Redução
da mobilidade, escoliose, rigidez muscular (10+
anos)
4.
Os sintomas característicos incluem movimentos
repetitivos e involuntários das mãos (como "lavar as
mãos"), perda da fala, problemas respiratórios,
convulsões, dificuldades motoras e de equilíbrio, e
retardo no crescimento da cabeça.
Tratamentos Indicados para TEA
Abordagens em equipe, com plano terapêutico
singular. Não há uma abordagem única e
insubstituível a ser privilegiada no atendimento de
pessoas com transtornos do espectro do autismo. Os
profissionais podem escolher entre várias abordagens
existentes, considerando, caso a caso, sua efetividade e
segurança.
Treinamento e Educação dos Pais: Programas que
ensinam aos pais estratégias para lidar com
comportamentos desafiadores e melhorar a
comunicação. Estudos mostram maior
engajamento familiar e melhores resultados no
desenvolvimento da criança.
Treinamento das Habilidades Sociais e
Fonoaudiologia: Intervenções para desenvolver
competências comunicativas, incluindo linguagem
verbal e não-verbal, compreensão de pistas sociais
e expressão de necessidades.
Terapia Comportamental Cognitiva: Ajuda a
pessoa com TEA a identificar pensamentos
negativos e desenvolver habilidades de
enfrentamento para ansiedade e depressão,
condições frequentemente associadas ao autismo.
Análise Comportamental Aplicada (ABA): Método
baseado em evidências que trabalha com reforço
positivo para estimular comportamentos
desejáveis. Altamente estruturado e
individualizado, pode ser implementado em
diferentes contextos.
Integração Sensorial / Terapia Ocupacional:
Auxilia no processamento de informações
sensoriais (sons, toques, movimentos), reduzindo
sensibilidades excessivas e melhorando a
funcionalidade nas atividades diárias.
A intervenção precoce é fundamental e produz os
melhores resultados. O tratamento deve ser adaptado
ao perfil único de cada pessoa e reavaliado
periodicamente à medida que ocorrem mudanças no
desenvolvimento. A participação da família e da escola
é essencial para a generalização das habilidades
aprendidas.
Medicamentos podem ser prescritos em alguns casos,
não para tratar o autismo em si, mas para controlar
sintomas específicos como hiperatividade,
irritabilidade ou problemas de sono, sempre como
parte de um plano terapêutico mais amplo.

Considerações Finais
Os Transtornos do Espectro Autista representam uma condição complexa e heterogênea, com manifestações
distintas em cada indivíduo. Ao longo deste documento, exploramos a evolução histórica das classificações
diagnósticas, terminologias e abordagens terapêuticas que fundamentam nossa compreensão atual do TEA. Esta
jornada histórica revela não apenas o progresso científico, mas também as transformações sociais e culturais na
forma como compreendemos a neurodiversidade.
É fundamental reconhecer que, apesar dos avanços significativos na identificação e intervenção precoce, cada
pessoa com TEA possui um perfil único de habilidades, desafios e necessidades. Não existe uma abordagem
terapêutica universal, mas sim um conjunto de estratégias que devem ser personalizadas e continuamente
reavaliadas. Esta perspectiva individualizada nos convida a olhar além do diagnóstico e valorizar as potencialidades
e singularidades de cada pessoa no espectro.
A participação ativa da família, dos profissionais de saúde, educadores e da sociedade como um todo é essencial
para construir um ambiente inclusivo que valorize a neurodiversidade. O respeito às diferenças individuais e o
acesso a suportes adequados são pilares fundamentais para promover o desenvolvimento pleno e a qualidade de
vida das pessoas com TEA. Criar oportunidades equitativas requer adaptações em múltiplos contextos: domiciliar,
escolar, profissional e comunitário.
O campo do autismo continua em constante evolução, com pesquisas emergentes trazendo novas perspectiva s
sobre causas, biomarcadores e intervenções inovadoras. Manter-se atualizado e adotar uma abordagem baseada
em evidências, porém humanizada, representa o camin ho mais promissor para apoiar as pessoas no espectro
autista e suas famílias. Os avanços na neurociência, genética e tecnologias assistivas oferecem possibilidades antes
inimagináveis para melhorar a compreensão e o suporte às pessoas com TEA.
O movimento pela autodeterminação e autoadvocacia d as pessoas autistas tem ganhado força e visibilidade,
promovendo uma mudança de paradigma fundamental. A voz ativa das pessoas no espectro tem sido crucial para
desafiar estigmas, promover políticas públicas inclusivas e redefinir conceitos como "sucesso" e "funcionalidade". O
lema "nada sobre nós sem nós" reflete essa importante transformação na abordagem dos direitos e necessidades
das pessoas autistas.
A educação inclusiva representa um direito fundamental e um desafio contínuo. Escolas verdadeiramente
inclusivas não apenas acomodam diferenças, mas as celebram como oportunidades de enriquecimento mútuo.
Adaptações curriculares, formação continuada de professores e suportes especializados são elementos essenciais
para garantir que estudantes com TEA possam desenvo lver plenamente seu potencial acadêmico e social.
As políticas públicas e a legislação têm avançado significativamente no reconhecimento dos direitos das pessoas
com TEA, embora ainda existam lacunas importantes a serem preenchidas. No Brasil, leis como a Política Nacional
de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Lei nº 12.764/2012) representam
conquistas importantes, mas sua implementação efetiva requer vigilância constante e mobilização social.
Por fim, é imperativo reconhecer que a jornada do autismo é, acima de tudo, uma jornada humana – repleta de
desafios, conquistas, aprendizados e momentos de profunda conexão. Ao avançarmos em nossa compreensão
científica e prática sobre o TEA, não podemos perder de vista que, no centro de todas as discussões, estão pessoas
com sonhos, talentos, direitos e dignidade que merecem ser reconhecidos e valorizados em sua plenitude.

Referências
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