1. Introdução “A Reforma não foi apenas um momento na história, foi um movimento de retorno à Palavra de Deus.” Contexto do século XVI: Igreja Católica medieval marcada por corrupção, venda de indulgências, abusos do papado, e afastamento da Escritura. Redescoberta do humanismo renascentista: ad fontes (“de volta às fontes”). Clamor por reforma espiritual e moral na Igreja. Influência dos pré-reformadores : John Wycliffe , Jan Hus , Jerônimo Savonarola . Papel da imprensa na difusão das ideias.
2. MARTINHO LUTERO (1483–1546) 2.1 - Biografia de Martinho Lutero Nascimento e educação inicial : nasceu em Eisleben , Alemanha, em 10 de novembro de 1483, em família da pequena burguesia, com formação escolar em Mansfeld , Magdeburgo e Eisenach . Formação acadêmica e religiosa : começou na Universidade de Erfurt estudando direito, mas, após uma experiência angustiante durante uma tempestade em 1505, ingressou no convento dos eremitas agostinianos de Erfurt; foi ordenado sacerdote em 1507. Professor e mestre em Wittenberg : doutorou-se em teologia e tornou-se professor na Universidade de Wittenberg, dedicando-se a estudos bíblicos em latim e grego.
2. MARTINHO LUTERO (1483–1546) 2.2 - O Desencadeamento da Reforma As 95 Teses (1517) : em 31 de outubro de 1517, escreveu suas 95 Teses , criticando especialmente a prática da venda de indulgências e propondo debate teológico. Embora a tradição diga que foram afixadas na porta da igreja de Wittenberg, há hipóteses de que tenham sido enviadas como carta ao arcebispo de Mainz. A repercussão foi rápida, impulsionada pela recente invenção da imprensa, que permitiu ampla difusão de suas ideias.
2. MARTINHO LUTERO (1483–1546) 2.3 - Conflitos com a Igreja e Consequências Bula papal e queima : o Papa Leão X publicou a bula Exsurge Domine , exigindo retratação; Lutero respondeu queimando o documento publicamente, intensificando o conflito. Dieta de Worms (1521) : convocado pelo imperador Carlos V, Lutero recusou-se a retratar suas ideias. Sua famosa frase: " Aqui estou, não posso fazer diferente. " Ele foi excomungado e declarado herege.
2. MARTINHO LUTERO (1483–1546) 2.4 - Refúgio, Tradução da Bíblia e Família Refúgio em Wartburg : protegido pelo príncipe Frederico, o Sábio, foi levado ao Castelo de Wartburg . Lá traduziu o Novo Testamento para o alemão, democratizando o acesso à Bíblia. Vida familiar : em 1525, casou-se com Catarina von Bora, ex-freira ; juntos tiveram seis filhos. Esse casamento simbolizou o rompimento com o celibato clerical e impactou profundamente o movimento reformado.
2. MARTINHO LUTERO (1483–1546) 2.4 - Legado Religioso, Cultural e Político Novo ramo protestante : originou o luteranismo, que se espalhou pela Europa e promoveu novas formas de culto e organização eclesiástica. Educação e cultura : defendia a leitura da Bíblia pelos fiéis, estimulando a alfabetização, criação de escolas e formação do alemão moderno. Impacto socio-político : enfraqueceu o poder papal e fortaleceu os príncipes locais, contribuindo para o surgimento dos Estados modernos nacionais .
3. Ulrico Zwinglio (1484–1531) 2.1 - Biografia de Ulrico Zwinglio Nascido em 1º de janeiro de 1484 , na vila de Wildhaus , cantão de Sankt Galo, Suíça. Filho de família de classe média; seu pai era fazendeiro e juiz local. Estudou em Basileia e Berna , formando-se bacharel (1504) e mestre (1506), e tornou-se pároco em Glarus . Conheceu o humanista Erasmo de Roterdã e teve contato com a tradução grega do Novo Testamento, tornando-se expositor bíblico.
3. Ulrico Zwinglio (1484–1531) 2.2 - Início da Reforma em Zurique Em 1518 , foi nomeado “sacerdote do povo” na Catedral de Zurique. A reforma que liderou ali começou em 1º de janeiro de 1519 . Iniciou uma série de pregações expositivas sobre o Novo Testamento que se estendeu até 1525. Durante a peste bubônica , envolveu-se espiritualmente com o povo, abraçando convicções reformadas, e teve papel decisivo na retirada de Zurique da aliança com a França católica, destacando-se pela crítica aos dízimos enviados a Roma.
3. Ulrico Zwinglio (1484–1531) 2.3 - Conflitos e Reformas Práticas Em 1522 , desafia práticas da Quaresma ao defender liberdade nos alimentos , casa-se com Ana Reinhart, e defende o casamento clerical — rompendo com vários ensinos tradicionais. Submete 67 teses à discussão pública (Primeira Disputa de Zurique, janeiro de 1523), defendendo: Supremacia de Cristo na igreja. Salvação somente pela graça. Autoridade das Escrituras. Sacerdócio de todos os crentes. Direito ao casamento clerical. Críticas à missa e ao papado. Após o debate, reformas profundas são implementadas: fim do dízimo obrigatório, permissão ao casamento dos religiosos, retirada de imagens e relíquias, suspensão da missa — consolidando Zurique como o primeiro estado protestante por iniciativa das autoridades.
3. Ulrico Zwinglio (1484–1531) 2.4 - Defesa Teológica e Rupturas Publica Da Justiça Divina e Humana defendendo a recusa ao dízimo; desencadeia debates sobre batismo (1525) e a Ceia do Senhor, elaborando “Da Religião Verdadeira e Falsa” , considerada uma das primeiras obras sistemáticas da teologia reformada. Os conflitos com os anabatistas resultam em perseguição, edito de execução em 1526, e execução de Felix Manz por afogamento em 1527 — sinalizando o uso da força na reforma. Em 1528, o modelo zuingliano se expande para Berna e outras cidades suíças.
3. Ulrico Zwinglio (1484–1531) 2.5 - Debate com Lutero e Morte Encontro com Lutero em Marburg (1529) resultou em discordância teológica: presença real de Cristo na Ceia, levando à separação entre os movimentos reformados alemães e suíços. Em 1531, publica Explicação da Religião de Zwinglio e “Exposição Breve e Clara da Fé Cristã” . Morte em combate na Primeira Guerra de Kappel (1531) em 11 de outubro. Foi sucedido por Henrique Bullinger .
3. Ulrico Zwinglio (1484–1531) 2.6 - Contribuições Teológicas e Legado Grande erudição e dedicação pastoral; decorou e copiou as epístolas de Paulo em grego, evidenciando profundo estudo bíblico. Introduziu exposição sistemática das Escrituras nos cultos públicos e foi conhecido por sua firmeza de vontade, sendo descrito como “erudito, democrático e sincero”.
4. Guilherme Farel (1489–1565) 4.1 - Biografia de Guilherme Farel Nascido em 1489 , provavelmente em Gap, França, ingressou no estudo da teologia e do humanismo. Influenciado pelos ideais reformadores de Lutero, Zwinglio e Bucer , tornou-se pregador fervoroso e itinerante, conhecido por seu estilo apaixonado e urgente. Teve atuação relevante na Suíça francófona , onde se tornou figura central na difusão das ideias da Reforma.
4. Guilherme Farel (1489–1565) 4.2 - Início da Reforma na Suíça Francófona Farel atuou em diversas cidades, principalmente Neuchâtel e Sion , levando uma mensagem clara de conversão, arrependimento e centralidade das Escrituras. Em Neuchâtel , suas pregações foram tão poderosas que a burguesia local adotou publicamente a Reforma, resultando em mudanças litúrgicas e eclesiásticas profundas.
4. Guilherme Farel (1489–1565) 4.3 - Conflitos e Reformas Práticas Farel criticava duramente as práticas papais, enfatizando a soberania de Deus, a justificação somente pela fé e a autoridade única das Escrituras. Sustentou uma rígida disciplina moral e eclesiástica, pressionando líderes civis a adotarem medidas reformadas, o que resultou em tensões com autoridades católicas.
4. Guilherme Farel (1489–1565) 4.4 - Parceria com João Calvino Em 1536 , Farel mudou-se para Genebra , onde se juntou a João Calvino, então jovem teólogo em formação. Foi Farel quem convocou Calvino a permanecer em Genebra e deu início ao trabalho de reforma naquela cidade, usando palavras como: “Se você voltar à França, minha mão faltará à Igreja de Deus”. Esse momento foi decisivo: abriu caminho para que Calvino implementasse o sistema reformado genevano .
4. Guilherme Farel (1489–1565) 4.5 - Teologia e Contribuições Forte ênfase no arrependimento real , pregação vigorosa e compromisso pastoral profundo. Auxiliou no estabelecimento de uma disciplina eclesiástica firme em Genebra, preparando terreno para o governo eclesiástico organizado por Calvino. Encorajou a educação e a formação de novos líderes, embora sua abordagem fosse frequentemente mais emocional e menos sistemática do que a de Calvino.
5. João Calvino (1509–1564) 5.1 - Biografia de João Calvino Nascimento e formação acadêmica : Nascido em 10 de julho de 1509 em Noyon , França, filho de Gérard Cauvin (funcionário da Igreja) e Jeanne Le Franc. Estudou humanidades e teologia em Paris antes de ser direcionado ao Direito em Orléans e Bourges . Conversão ao protestantismo : Por volta de 1533 , Calvino abandonou o catolicismo e se tornou convertidamente protestante, fugindo depois de Paris por causa de suas convicções.
5. João Calvino (1509–1564) 5.2 - Publicação das Institutas e Convite a Genebra Chegada a Genebra (1536–1538) : Convidado por Farel, permaneceu na cidade por um período inicial, mas conflitos com autoridades o forçaram a sair em 1538. Institutas da Religião Cristã (1536) : Obra-prima de Calvino, publicada em Basileia, expõe sistematicamente a teologia reformada—sobre soberania de Deus, predestinação, Escrituras como autoridade.
5. João Calvino (1509–1564) 5.3 - Refúgio em Estrasburgo e Retorno Triunfal a Genebra Exílio em Estrasburgo (1538–1541) : Ali trabalhou como pastor e professor, revisou e ampliou as Institutas (1539), escreveu comentários bíblicos e apologias da fé reformada. Retorno definitivo a Genebra (1541) : Por convite dos governantes locais, retornou e liderou a implementação da Reforma com firmeza. Destacou-se na redação das “Ordenanças Eclesiásticas”, enfrentou oposição (como o grupo dos libertinos) e fortaleceu seu controle eclesial e moral na cidade.
5. João Calvino (1509–1564) 5.4 - Teologia, Ensino e Influência Sistema teológico e legado escritural : Calvino destacou-se por sua teologia sistemática, enfatizando a soberania de Deus, predestinação e a centralidade das Escrituras. Suas Institutas influenciaram a formação de grupos reformados no mundo ocidental. Formação educacional e institucional : Fundou a Academia de Genebra (1539/1559), precursor da universidade, e escreveu diversos comentários bíblicos e tratados que moldaram a tradição reformada. Assistência Social: Organizou um sistema para cuidar de pobres, órfãos, refugiados e enfermos . Os diáconos eram responsáveis pela arrecadação e distribuição de recursos, criando uma rede eficiente de socorro. Liberdade e Responsabilidade Cívica: Defendia que o governo civil devia ser submisso à lei de Deus e proteger a verdadeira religião. Seu pensamento ajudou a formar ideias que mais tarde influenciaram a democracia representativa e a separação de poderes, ainda que ele próprio defendesse um modelo teocrático moderado para o seu tempo. O calvinismo também incentivou a participação ativa dos cidadãos na vida pública. Ética do Trabalho e Economia: Calvino via o trabalho como vocação (chamado de Deus), dignificando todas as profissões e incentivando diligência, honestidade e administração responsável. Esse pensamento contribuiu para a chamada “ética protestante” , que influenciou o desenvolvimento econômico em regiões reformadas.
Aplicações Precisamos de um retorno constante às Escrituras. A Reforma não terminou no século XVI — a igreja deve sempre se reformar ( Ecclesia reformata semper reformanda ). O exemplo dos reformadores nos desafia a coragem e fidelidade diante da pressão cultural.