do Sul. Não para mim, que não fui convidado para nenhuma
das duas (talvez pensem que já morri?), e mesmo que
fosse, quase certamente não poderia ir. É que embora still
alive, arrumei uma inimiga poderosa. A Tosse, eu a chamo,
assim mesmo, com maiúsculas merecidas, pois já dura uns
quatro meses e não tem nada, absolutamente nada que a
cure.
Começou, que eu lembre — e essas coisas a gente
nunca lembra bem, começam discretas, quase
imperceptíveis —, lá por maio. Foi logo depois de uma gripe
e tão generalizada que tinha também um pouco de sinusite,
rinite, otite e se outros ites existem no aparelho
respiratório, essa gripe certamente também tinha. Tudo foi
passando aos poucos. Ela, a Tosse, não.
Xaropes dos mais modernos àqueles mais clássicos,
tipo mel-guaco-agrião, a outros feitos em casa, como uma
indescritível mistura de abacaxi com alho e limão, foram
perfeitamente inúteis, gotas jurássicas (Binelli) não
adiantaram nada. Gargarejos, diminuir radicalmente e até,
em certos dias, cortar cigarros; dormir em posições
exóticas, meio sentado; exercícios respiratórios — tudo,
tudo inútil. E chapas no pulmão — meu Deus, uma
tuberculose, uma pneumonia: nada. Impávida, a Tosse
continua.
Traiçoeira, inadequada, vem principalmente à noite.
Tarde da noite, como entidade do mal que é, lá pelas
quatro, cinco da manhã, quando faz tanto frio que seria
suicídio sair da cama. E não passa. Procuro compreendê-la
— de onde brota — para, quem sabe, com algum tipo de
postura conseguir impedi-la. Mas é incompreensível, vem
sem lógica, seca, constante, às vezes parece que do lado
esquerdo da garganta, e a qualquer hora do dia,
caminhando, sentado, lendo, comendo. Já não posso ir ao
cinema, tenho pena de quem senta perto (ou mesmo longe,
ela é poderosa), muito menos ao teatro (já pensou, um