ESCOLA ESTADUAL RIACHUELO OLIVEIRA DE FÁTIMA – TO
Professora: Celenubia Lira
Data:21/03/2022 BIMESTRE: 1° série: 3° E.M
APROFUNDAMENTO DA APRENDIZAGEM
AGRONEGÓCIO E AGRICULTURA FAMILIAR
COMO REALIZAR UMA BOA INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE
DE SOLO:
Para obter lucro na produção, saber quais são as demandas do
solo e da planta são atividades indispensáveis. Portanto,
uma amostragem adequada é muito importante, assim é possível
ter uma noção real desta demanda.
Porém, apenas a amostragem adequada não é o suficiente para
identificar quais são as necessidades da sua lavoura. É
indispensável, também, saber interpretar a análise e entender o
que ela está “dizendo” sobre aquilo que foi amostrado. Funciona
como um exame médico, você apenas saberá como realmente está
sua saúde após realizar um.
Neste texto, vamos entender como realizar uma interpretação
adequada da sua análise de solo e com isso, realizar um melhor
manejo da sua lavoura.
Características de uma análise
Primeiramente, a avaliação da demanda pode ser dividida em três
tipos de análise:
–Análise química do solo: Quando são feitas avaliações químicas
em cima de amostras de solo e a partir delas, se avalia fatores como
o teor de um determinado nutriente na amostra.
–Análise física do solo: É composta por avaliações de
características físicas do solo, determinando sua qualidade física, o
que auxilia em diversas tomadas de decisão pelo produtor. Um
exemplo, é a averiguação da porcentagem de macro e microporos na
amostra.
–Análise química de plantas: Quando são realizadas avaliações
químicas com amostras da planta e a partir destas amostras, avaliar
o teor de algum fator presente na mesma.
No artigo em questão, iremos entender como interpretar a análise
química do solo, que é a mais comum quando se trata das
demandas da lavoura e sua correção por meio de adubação,
calagem e gessagem.
Como interpretar a análise química do solo
Antes de mais nada, é importante deixar claro o motivo da
necessidade de se fazer uma análise química do solo. Já é de
conhecimento de todos que uma boa lucratividade da
lavoura depende da produção máxima alcançada pela mesma.
Mas além de lucrar mais ao final da safra, também é importante não
desperdiçar com investimentos desnecessários. É aí que entra a
importância da análise de solo. Cada cultura demanda uma
quantidade diferente de nutrientes e condicionante de solo do
solo é possível saber a quantidade dos nutrientes que já estão
disponíveis no solo e com isso basta calcular o que está em falta e
suprir apenas esta demanda. Essa precaução evita um imenso
desperdício com adubos e condicionantes desnecessários que não
serão refletidos na produtividade final.Segue a explicação. Após
a amostragem do solo e o envio para o laboratório, é comum
receber um laudo de avaliação muito parecido com este:
Figura 1: Laudo de análise química, feita pelo laboratório de análise de solo
para a interpretação da análise de solo.
Fonte: Arquivo Agromove.
Neste laudo, é possível verificar as colunas: pH (água e CaCl2); P
(teor de fósforo) e K (teor de potássio) (mg/dm
3
); K (teor de potássio),
Ca (teor de cálcio), Mg (teor de magnésio), Al e H+Al (cmolc/dm
3
);
M.O. (teor de matéria orgânica) (g/dm
3
); Argila, Silte e Areia g/dm
3
Figura 2: Informações complementares , para a interpretação da
análise de solo.
Fonte: Arquivo Agromove.
Além destes dados, seu laudo da análise de solo virá com
informações complementares: SB (soma de bases), CTC
(capacidade de troca catiônica), V% (saturação por bases), etc. Cada
um destes símbolos representa uma característica do solo. E eles
podem e devem ser utilizados da melhor forma possível para
melhorar o manejo da lavoura.
Acidez ativa do solo – pH
A acidez é uma informação muito importante na hora de interpretar
a análise de solo. Cada cultura possui uma preferência. Algumas
preferem solos considerados mais ácidos, outras preferem solos
mais alcalinos ou básicos. Tudo vai depender da espécie e da
cultivar.
Esta acidez é indicada pelo pH, que é uma unidade de medida
(valores 0 a 14) utilizada para avaliar a atividade dos íons de
hidrogênio (H+). Os íons H+ são elementos monovalentes e por
conta disso, realizam ligações de alta energia. Essas ligações são de
extrema importância para as reações que ocorrem no solo e acabam
por influenciar significativamente a atividade das plantas.
O valor do pH é inversamente proporcional ao teor de H
+
presente no
solo e quanto mais H
+
, mais ácido o ambiente se torna. Ou seja,
quanto menor o valor do pH, mais ácido está o solo, pois
mais H
+
está presente. E quanto mais alto este valor de pH,
mais alcalino é considerado o mesmo.
Figura 3: Escala de pH.
Fonte: Toda Matéria.
Na análise de solo, este valor é calculado de duas diferentes
formas: a base de água e a base de CaCl2.
pH em água – Nesta análise mistura-se o solo com água e realiza-
se a avaliação com o auxílio de um equipamento composto por um
eletrodo. Neste caso, no entanto, ocorre o problema da turbidez e
parte do solo pode ficar aderido ao eletrodo, o que pode afetar a
leitura. Para isso, uma leitura complementar a base de CaCl2 é
necessária.
pH em CaCl2 – Esse tipo de leitura corrige a condutividade elétrica
da solução. O que auxilia na decantação do solo e com isso melhora
os problemas com contaminação de eletrodo.
Geralmente, a leitura do pH em CaCl2 é cerca de 0,5 ponto abaixo da
leitura em água. Mas é importante deixar claro que, uma leitura é
complementar à outra e ambas, são de extrema importância
na interpretação da análise de solo.
A acidez do solo é considerada:
muito alta quando o pH é até 4,3;
alta: 4,4 – 5,0;
média: 5,1 – 5,5;
baixa: 5,6 – 6,0 e
muito baixa: > 6,0
Acidez trocável ou Alumínio trocável – Al
3+
A acidez trocável representa o teor de Al
3+
no solo. Este elemento
atua como um ácido fraco, liberando H
+
na solução do solo e
alterando o pH do mesmo.
Além de atuar como ácido fraco, saber o teor de Al
3+
é importante,
pois o mesmo possui propriedades tóxicas e afeta de maneira
negativa o crescimento radicular. A correção ideal para este
elemento é a calagem, que age como um neutralizante de sua ação
acidificante e o insolubiliza, tornando-o inofensivo às plantas.
Acidez potencial – H+Al
Esta acidez é composta pela acidez trocável e não trocável do
solo (H+Al), e é calculada através da relação do pH de uma solução
tamponada, ou seja, uma solução neutra capaz de resistir às
mudanças de pH e o teor destes dois elementos. Esta avaliação
depende dos atributos físicos, químicos e mineralógicos do solo.
Este dado é muito importante para realizar cálculos de CTC e SB.
Bases trocáveis – P, K, Ca, Mg, H e Al
A argila do solo possui uma superfície eletricamente carregada,
juntamente com a matéria orgânica e alguns minérios de ferro. Por
conta disso, íons e moléculas polarizadas se ligam a esta superfície.
Essa ligação pode ser desfeita e pode ocorrer uma outra ligação com
outro íon ou molécula polarizada.
A capacidade de troca entre estas ligações é conh ecida
como capacidade de troca catiônica (CTC). Na maioria dos casos
essa superfície negativa atrai os cátions essenciais Ca
2+
, Mg
2+
e
K
+
, mas as vezes podem se ligar a ânions como H
+
e Al
2+
.
Se a CTC do solo se mostra em maior parte ocupada por cátions
essenciais, pode-se dizer que o solo está bem nutrido, mas quando
os teores de ânions tóxicos estão mais altos, o solo necessita de
correção. Entre os principais benefícios da Calagem está a correção
do pH do solo e o fornecimento de cálcio, magnésio e fósforo
Os teores de P, K, Ca, Mg, Al e H+Al indicam o teor de cátions
permutáveis presentes no solo, e com estes valores é
possível verificar a soma de bases (SB). Com a SB encontramos o
número de cargas negativas que estão ocupadas com estes cátions.
Teor de matéria orgânica – M.O.
A matéria orgânica (M.O.) é composta por todo material orgânico
em decomposição e pelos microrganismos presentes no solo. Junto
com o teor de argila, a matéria orgânica é um dos principais
reguladores da CTC do solo e se liga aos cátions essenciais. Essa
ligação evita que os mesmos sejam lixiviados e com isso possam ser
disponibilizados para as plantas.
Saturação por bases – V%
A saturação por bases é o teor em porcentagem da proporção
ocupada por bases na troca catiônica. Este dado é extremamente
importante nos cálculos de correção do solo e mostra uma primeira
noção do solo de modo geral.
Solos com V% igual ou superior a 60% dispensam a necessidade de
calagem e solos com teores inferiores a 50% tendem a necessitar de
correção.
No entanto, é importante lembrar que cada cultura possui uma
exigência diferente em cada aspecto do solo que é apresentado na
análise química. Por isso, é muito importante conhecê-la, possuir um
manual em mãos e, se possível, ter a ajuda de um técnico para as
tomadas de decisão.
Saturação por Alumínio – m%
Alguns laudos de análise de solo apresentam também, o valor
de saturação por alumínio (m%). Este valor indica a porcentagem
do solo ocupada pelo ânion Al
3+
e expressa a toxidez do mesmo no
solo.
Quanto mais ácido o pH do solo, maiores são as chances do mesmo
ter um alto m%.
Micronutrientes
Ao solicitar o seu laudo de análise do solo, é possível pedir à parte,
alguns dados adicionais. Dentre estes dados solicitados, os mais
comuns são os micronutrientes.
Figura 4: Dados adicionais: micronutrientes, para a interpretação da análise
de solo.
Fonte: Arquivo Agromove.
Os micronutrientes são essenciais para o bom desenvolvimento da
cultura, assim como os macronutrientes. O que os difere é a
quantidade exigida pela planta.
Como sempre , tudo vai depender da espécie e da cultivar, mas o
IAC(Instituto Agronômico de Campinas ) lançou uma média da
necessidade de cada micronutriente para a planta e é possível usá-
la como base para os cálculos de adubação.
Mas é sempre importante utilizar dos boletins de adubação que
indicarão o teor de nutriente necessário para cada uma das
principais culturas cultivadas no Brasil.
Figura 5: Teores ideais de micronutrientes.
Fonte: IAC. Instituto Agronômico de Campinas
Com todos estes requisitos e sabendo um pouco mais sobre
a interpretação da análise de solo, é possível conseguir um melhor
aproveitamento da cultura na lavoura e com isso obter uma
maior lucratividade.
QUAIS SÃO OS 5 FATORES QUE PODEM SER OS
RESPONSÁVEIS PELA PERDA DE PRODUTIVIDADE DA SUA
LAVOURA?
São muitos os fatores de manejo que podem, e devem, ser
otimizados para explorar melhor a região de Yield Gap. Porém, neste
texto iremos falar de 5 dos principais fatores que afetam a
produtividade agrícola do país.
O Brasil é considerado o celeiro do mundo, isso é um fato. E são
diversos os fatores que contribuem para colocá-lo nessa posição.
Como diz a frase “moro num país tropical, abençoado por Deus e
bonito por natureza”. Nosso país possui muitos atributos climáticos,
hidrológicos, de solo e área que contribuem em muito, para que a
sua produção agrícola se posicione entre os primeiros lugares do
mundo, utilizando apenas 7,6% (de acordo com a NASA), do território
total, com agricultura. No entanto, quando se fala de produtividade
da lavoura, alguns estudos indicam que existe um Yield Gap a ser
explorado.
O que é Yield Gap?
Yield Gap ou quebra de produtividade, de acordo com o Professor
Sentelhas da ESALQ-USP é um conceito agrícola que indica o quanto
se está deixando de produzir por conta de práticas de manejo que
não são ótimas ou são sub-ótimas. Isto é, quando a falta de um
manejo adequado reflete em uma perda de produtividade dentro e
fora da lavoura.
Figura 1 – Gráfico demonstrativo de Yield Gap e sua relação com a
produtividade da lavoura.
Fonte: Meteorologia Agrícola ESALQ-USP.
O termo produtividade pode ser dividido em 3 tipos diferentes:
Produtividade Potencial
Produtividade Atingível
Produtividade Real
Produtividade Potencial
A produtividade potencial é dada apenas por um conceito, ou seja,
ela não existe na prática. Este tipo ou nível de produtividade indica
o máximo produtivo da planta, qual a máxima produzida por uma
determinada cultivar de uma determinada cultura, em situações
ótimas de plantio. Em suma, o tipo de produtividade potencial é
afetado apenas pelo fator genético e para estimá-lo, não se leva em
consideração os fatores climáticos ou de manejo.
Produtividade Atingível
Esta produtividade, indica o máximo valor atingível em um local.
Neste caso, o nível de produtividade considerado atingível, como o
próprio nome diz, é possível de ser alcançado com um manejo
ótimo. Isto é, o nível de produtividade atingível tem como fator
limitante apenas as adversidades incontroláveis. Os fatores
controláveis, que englobam o manejo, podem ser superados
quando feitos de maneira ideal.
Produtividade Real
O tipo de produtividade real, indica a produtividade final que se
consegue no campo, é a que de fato se consegue na lavoura. Esta
produtividade, leva em consideração todos os fatores que afetam a
planta, fatores genéticos, climáticos e disponibilidade de água, além
dos fatores de manejo. Os fatores limitantes desta produtividade
são fatores controláveis.Com estes conceitos e tendo
conhecimento de alguns fatores que afetam a produtividade na
lavoura, conseguimos visualizar que existe a possibilidade de
aproximar os teores de produtividade real aos de produtividade
atingível. Diminuindo assim a quebra de produtividade (Yield Gap
explorável).
Figura 2 – Gráfico indicando os tipos de produção. Fonte: Meteorologia
Agrícola ESALQ-USP.
Plantas daninhas
Com certeza, são um fator limitante de extrema importância. Por
serem plantas pioneiras, elas possuem um crescimento rápido e
vigoroso, ultrapassando facilmente as plantas cultivadas, que
possuem um crescimento mais lento. Por isso, são fortes
competidoras por água, luz, nutrientes e sol. E podem diminuir em
até 70% da produção final da lavoura (em casos mais extremos).
pH do solo
pH é a unidade de medida que indica o teor de íons H+ no solo,
dizendo o quão ácido ou alcalino está o mesmo. Este teor afeta a
disponibilidade de nutrientes e de elementos tóxicos para as
plantas. A faixa ideal de pH do solo para a agricultura é de 6,5 a 7,5.
Caso não se encontre dentro destes valores (solos muito ácidos ou
muito alcalinos), o crescimento e a produtividade podem ser afetados
de forma negativa.
Teor de nutrientes
A disponibilidade de nutrientes para as plantas é um dos principais
fatores que afetam seu crescimento e produtividade. Ter
uma nutrição balanceada é essencial para a vida de qualquer ser
vivo e isso não exclui as plantas. Um manejo adequado de
nutrientes permite o pleno crescimento e produção das plantas
cultivadas.
Logística
Os fatores que impactam a produção da fazenda não se limitam
apenas à lavoura (dentro da porteira). Levar o produto em
sua máxima qualidade possível para o consumidor final também é
um fator positivo para o produtor. Para que isso ocorra,
técnicas de pós colheita e armazenamento corretos, além de
uma logística bem feita e com maquinários adequados, são
essenciais.
Inovações
A FAO (Food and Agriculture Organization) Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura já apresentou diversos
modelos de demanda futura por alimentos no mundo. De acordo
com a organização, a demanda por alimento aumentará em 70% e
para abastecer toda essa quantidade, um dos fatores importantes é
a inovação. A tecnologia será e já está sendo essencial para o
melhor aproveitamento da produtividade. Seja pelo aumento da
agilidade na produção, seja na melhor visibilidade do produtor quanto
sua lavoura.