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momento da reflexão, faz uma nova digressão: o ‘medo cósmico’, descrito pelo filósofo russo
Mikail Bakhtin – “a emoção humana, demasiadamente humana, desencadeada pela
magnificência imaterial e desumana do universo; o tipo de medo que precede o poder
construído pelo homem e que lhe serve de alicerce, protótipo e inspiração’. E complementa:
“o medo cósmico é o horror do desconhecido (...) da incerteza” (p.61). Esse medo, segundo
Berman, mostra que a “vulnerabilidade e a incerteza humanas são as principais razões de ser
de todo o poder político. E todo poder político deve cuidar da renovação regular de suas
credenciais” (p. 66). Ilustra como muitos países desenvolvidos, através de suas organizações,
espalham o medo e a insegurança no seus habitantes como forma de controle (p.69). Traz
ainda, no bojo destas colocações, uma alusão a relação, de propósito, feita entre imigrantes e
terroristas aliadas ao perigo – estratégia do Estado-moderno, como forma de controle do
poder – segurança e perigo caminhando juntas. O Estado no papel de “guardião da segurança”
(p. 72). Continua apontando “razões úteis” para a existência de refugo humano como
mantenedora do “mundo no seu rumo atual”. Assim como aumenta os ‘refugos humanos’,
aumenta o ‘refugo de detritos’ – restos dos usos dos consumidores que não estão dispostos e
“nem foram treinados para isso” a fazer o “serviço sujo e pesado”. Ilustra, com exemplos,
alguns lugares do planeta que foram transformados para serem, humanos e matéria, coletores
de lixo. É a “vitória” do progresso econômico.
No capítulo terceiro, “A cada refugo seu depósito de lixo Ou o refugo da globalização” faz
uma abordagem sobre o crescimento da criminalidade e da impotência dos poderes políticos
contra essa força, uma vez que elas “controlam recursos que, nenhum governo sozinho e
muitas vezes em conjunto, podem igualar” (p. 82). Mostra como possuem um governo “sem
governantes”, de leis próprias, pois o espaço que dominam é o espaço global, ou conforme
citado por Manuel Castells, numa apropriação do autor, é um “espaço de fluxos”. Este espaço
não tem comandados, portanto, não tem leis que o regem. Para o autor, como os poderes do
Estado não podem aplacar esses sentimentos, transferem a atenção das pessoas para os
refugos: refugiados, pessoas em busca de asilo, imigrantes, onde podem demonstrar sua
“capacidade de manejo e controle” (p.84). São, assim, segundo o autor, “alvo bastante visível,
e imóvel, para o excedente da angústia” (p.85)
Traz aqui a grande transformação ocorrida entre ‘os trinta gloriosos anos do pós-guerra.
Alerta ainda que, pela curta distância de tempo e por serem “parciais” e ‘’provisórias” não
conseguimos ainda penetrar em as todas as “profundezas dessa grande transformação” e que