—Sire, vai para trinta e cinco anos, como eu
dizia, que sirvo a casa de França; pouca gente
terá usado tantas espadas quanto eu nesse
serviço, e as espadas de que falo eram boas,
Sire. Eu era criança, ignorante de todas as
coisas, quando o rei, pai de Vossa Majestade,
adivinhou em mim um homem. Eu era um
homem, Sire, quando o Cardeal de Richelieu, que
entendia do assunto, adivinhou em mim um
inimigo. E a história dessa inimizade, entre a
formiga e o leão, teria podido lê-la Vossa
Majestade, da primeira à última linha nos
arquivos secretos de sua família. Se algum dia
sentir o desejo de fazê-lo, não se prive; a história
vale a pena, sou eu quem lho afiança. Lerá então
Vossa Majestade que o leão, cansado, exausto,
ofegante, acabou pedindo misericórdia, e,
cumpre fazer-lhe justiça, também soube
dispensá-la. Oh! foi um belo tempo, Sire,
semeado de batalhas, como uma epopéia do
Tasso ou do Ariosto! As maravilhas desse tempo,
em que o presente se recusa ria a acreditar,
eram trivialidades para nós. Durante cinco anos,
fui herói diariamente, pelo menos segundo
afirmaram alguns personagens de mérito; e é
bem longo, creia-o Vossa Majestade, um he -
roísmo de cinco anos! Mas acredito no que
disseram, pois eram entendidos no assunto:
chamavam-se o Sr. de Richelieu, o Sr. de
Buckingham, o Sr. de Beaufort, o Sr. de Retz, um
gênio e tanto na guerra das ruas; o Rei Luís XIII,