A arvore da vida estudo sobre magia

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A Arvore da Vida


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A Arvore da Vida - Israel Regardie
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A ÁRVORE DA VIDA
UM ESTUDO SOBRE MAGIA

ISRAEL REGARDIE


Dedicado com pungente memória do que poderia ter sido
a MARSYAS
“Deves compreender, portanto, que esse é o primeiro caminho para a felicidade,
concedendo às almas uma plenitude intelectual de união divina. Mas a dádiva sacerdotal
e teúrgica de felicidade é chamada, realmente, de portal para o Demiurgo das
totalidades, ou a sede, ou o palácio, do bem. Em primeiro lugar, outrossim, possui um
poder de purificação da alma. . . posteriormente provoca uma coaptação do poder da
razão com a participação e visão do bem e uma liberação de toda coisa de natureza
oposta, e em último lugar produz uma união com os deuses, que são os doadores de todo
bem”

JÂMBLICO


INTRODUÇÃO
Em virtude da bastante difundida ignorância a respeito da soberana natureza da
Teurgia Divina e a despeito de freqüentes referências quase em toda parte ao assunto
magia, permitiu-se que ao longo dos séculos se desenvolvesse uma total incompreensão.
São poucos hoje os que parecem ter sequer a mais vaga idéia do que constituiu o elevado
objetivo de um sistema considerado pelos sábios da Antigüidadea Arte Real e a Alta
Magia. E por ter existido quantitativamente ainda menos pessoas preparadas para
defender até o fim a filosofia da magia e disseminar seus verdadeiros princípios entre
aqueles julgados dignos de recebê-los, o campo de batalha tomado pelas reputações
destroçadas de seus Magos foi cedido aos charlatães. Esses, ai de nós, fizeram bom uso
de sua oportunidade de esbulho indiscriminadamente, a tal ponto que a própria palavra
magia se tornou agora sinônimo de tudo que é desprezível, sendo concebida como algo
repulsivo.
Durante muitos séculos na Europa autorizou-se esse incorreto estado de coisas,
que se manteve até em torno de meados do sculo passado, quando Éliphas Lvi, um
escritor dotado de certa facilidade de expresso e talento para a sntese e a exposio, se
empenhou em devolver à magia sua antiga reputao grandiosa. At que ponto teriam
seus esforos obtido xito ou no caso no tivessem sido sucedidos e estimulados pelo
advento do movimento teosófico em 1875 em associao com a discusso aberta do
oculto e de temas msticos que a partir de ento se seguiram, extremamente difcil dizer.
E mesmo assim, no foram coroados de muito xito, pois apesar de quase oitenta longos
anos de ateno e discusso aberta da filosofia e prática esotricas em vários de seus
ramos, no possvel descobrir no Catálogo da Sala de Leitura do Museu britânico uma
nica obra de magia que tente apresentar uma exegese lúcida, clara e precisa,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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desembaraada do emprego exagerado de smbolos e figuras de linguagem. Oitenta anos
de estudo do oculto e nem sequer uma obra sria sobre magia!
Por algum tempo tornou-se conhecido em vrios lugares que este escritor era um
estudioso de magia. Conseqentemente indagaões acerca da natureza da magia seriam
amiúde endereadas a ele. Com o passar do tempo tais indagaões tornaram-se to
numerosas e to abismal a ignorância involuntria sobre o assunto contida em todas elas
que parece ser a hora exata para tornar disponvel a esse público uma exposio sinttica
e definitiva. Visto que nenhuma outra pessoa tentou executar essa tarefa de tremenda
importância, recai sobre este escritor essa difcil tarefa. Ele no se propõe limitar-se
mediante observaões plausveis acerca da incomunicabilidade de segredos ocultos.
Tampouco mencionar a impossibilidade de transmitir a vera natureza dos mistrios da
Antigidade, como alguns autores recentes fizeram. Embora tudo isso seja verdadeiro,
no obstante h de comunicvel na magia o suficiente. A despeito de centenas de pginas
com o fito de elucidar, preciso tambm dirigir a esses escritores a severa acusao de
terem realizado muito para confirmar a opinio pública na j firme crena de que a magia
era ambgua, obscura e uma tolice. Dificilmente poder-se-ia sustentar uma concepo
mais errônea do que essa, pois a magia, que me permitam insistir, lúcida. É definida e
precisa. No h fórmulas vagas ou dubiedades compreendidas dentro da esfera de sua
exatido; tudo claro e concebido para o experimento prtico. O sistema da magia
absolutamente cientfico, e cada uma de suas partes passvel de verificao e prova sob
demonstrao. A rvore da vida publicado, admito, com uma certa hesitao, com o
único objetivo de preencher essa lacuna existente. Este escritor deseja tornar inteligvel e
compreensvel para o indivduo leigo, inteligente e comum, para o aprendiz dos
Mistrios e aqueles versados no saber de outros sistemas msticos e filosofias os
princpios radicais a partir dos quais a formidvel estrutura imponente da magia
construda. Com uma exceo, no conhecida ou adequada ao público em geral,
infelizmente, essa tarefa necessria jamais foi realizada anteriormente.
A freqncia de longas citaões provenientes de escritos de autoridades em magia
que o autor aqui inseriu se explica de modo bastante simples, devendo-se apenas ao
desejo de demonstrar que os mais amplos pontos essenciais desta exposio no so o
resultado de qualquer invencionice do autor, estando, pelo contrrio, firmemente
enraizados na sabedoria da Antigidade. É desnecessrio que se apontem para o autor
expressões rudes, possveis interpretaões equivocadas de fatos ou teorias e pecados de
omisso e cometimento. Em razo disso ele se desculpa humildemente, devendo ser
perdoado em funo de sua juventude e inexperincia. Que seus esforos incitem outra
pessoa mais sbia, dotada de melhores recursos para escrever e detentora de um
conhecimento mais profundo da matria e seus correlatos de modo a produzir uma melhor
formulao da magia. Este escritor estar dentre os primeiros que aclamaro essa
realizao com boas-vindas e louvores.
É tambm necessrio registrar a atitude corts dos senhores Methuen & Co. que
deram a permisso para reproduzir as ilustraões dos quatro deuses egpcios de Os deuses
dos egípcios, de Sir E. A. Wallis Budge.
Israel Regardie

Londres, agosto de 1932.

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INTRODUÇÃO À SEGUNDA EDIÇÃO

possvel que um pai tenha um filho favorito? Existir um entre todos os demais
que secretamente ele sinta ser a menina de seus olhos? Com maior freqncia que o caso
negativo, a despeito de todos os protestos em contrrio, certamente existe.
Pois isso que ocorre comigo. Ao me pedirem que escrevesse uma introduo
para esta nova edio de A rvore da vida, senti um entusiasmo interior que combina
muitas emoes bem distintas. Este livro tem um significado especial para mim que
nenhum dos meus outros escritos jamais teve. Primeiramente, h o fato elementar de ele
ter sido o primeiro livro que emergiu de meu esprito em boto. A garden of
pomegranates [Jardim das roms], publicao anterior, simplesmente se desenvolveu a
partir de um conjunto de notas cabalísticas que eu guardara por vrios anos – e isto tudo
o que sempre foi.
Comentou-se ser A rvore da vida a mais abrangente introduo disponvel aos
numerosos, complexos e por vezes obscuros escritos msticos de Aleister Crowley.
Ambos os livros mencionados foram a ele dedicados, para quem trabalhei como
secretrio durante muitos anos. Simbolicamente, esses dois livros vieram a representar a
minha independncia dele.
A rvore da vida gerou tambm uma correspondncia pelo mundo todo que
resultou em vrias amizades profundas e duradouras, pelas quais me sinto sumamente
grato.
Embora este livro apresente muitos erros tipogrficosde menor import ncia –
devidos, sobretudo, à pressa e o descuido da juventude – tem sido considerado til como
um guia para o extenso, complicado e maravilhoso sistema de iniciao Golden Dawn
[Aurora Dourada], cuja gratido que sinto por ele precisa ser aqui registrada. Alguns
aprendizesalegam que os dois volumes de The Golden Dawn (Llewellyn Publications, St.
Paul, Minn. 1970) contm uma tal massa diversificada de informaes que um guia
dotado de clareza constitui pr-requisito para abrir uma senda inteligvel atravs de seus
documentos, rituais e instrues. Esta nova edio deve vir a servir a tal finalidade.
Escrevendo A rvore da vida aprendi muito. Este livro combinou muitos
fragmentos isolados de conhecimento e experincia desconexos. A correspondncia
indicou que serviu a outros igualmente bem.
A despeito de sua extravag ncia e pendor para o emprego excessivo de adjetivos,
que foram as marcas de minha juventude – trinta e cinco anos transcorreram desde que foi
escrito – afirmou-se como um guia sincero e simples para uma arte intricada e, em outros
aspectos, obscura. Um psiquiatra brit nico foi amvel a ponto de admitir um sentimento
de espanto e real admirao pelo fato de algum de vinte e poucos anos de idade ter sido
capaz de demonstrar a compreenso espiritual e capacidade para sntese evidenciadas
neste livro. Se essa avaliao for vlida, dever-se- muito a Aleister Crowley, a quem
muito devo. À sua derradeira defesa da estupidez de biógrafos e jornalistas

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sensacionalistas devotei muitos anos de minha vida. Sua obra jamais perecer,
permanecendo como uma inspirao aos aprendizesde um futuro remoto, como o foi para
mim.
Crdito devido tambm ao meu Gnio superior e divino ± para usar a bela
linguagem da Golden Dawn ± pois sem essa diretriz interna nenhuma literatura, mesmo
profunda, atraente e arrebatadora, significaria muita coisa. Visto que a orientao obtida
posteriormente da Hermetic order of the Golden Dawn resultou da publicao de A
rvore da vida, sua redao no foi influenciada pela Ordem. Mais tarde, todavia, a
Ordem desempenhou efetivamente um papel preponderante no meu desenvolvimento
ntimo e na redao de livros mais posteriores.
Rememorando, este testemunho de minha independncia de Crowley resultou
numa carta do chefe de uma seo da Golden Dawn condenando tanto a mim quanto ao
livro em termos nada indefinidos. Por outro lado, resultou num convite, que partiu de um
chefe de outra unidade da Ordem, para que eu me tornasse membro dela. Aceitei esse
convite, embora os anos posteriores tenham produzido uma separao da Ordem, hoje eu
lamento minha presuno e arrogncia juvenis. Contudo, o destino deve ter interferido,
resultando numa reedio dos ensinamentos secretos da Ordem, a primeira exposio de
tal reedio tendo sido ensaiada logo antes da Primeira Guerra Mundial por Crowley no
Equinox.
Com o devido respeito ao imenso gnio de Crowley, foi dito que minha
apresentao fez mais justia à Ordem do que a sua. Vale a pena reiterar pela segunda vez
que esta nova edio de A rvore da vida propiciar ao aprendizuma viso geral da
tradio mgica ocidental. Nesse sentido, a despeito de desvios doutrinais e ritualsticos
menores, Crowley se enquadra numa linhagem direta de descendncia dos Adeptos da
Golden Dawn; nada que ele tenha escrito pode ser compreendido sem referncia aos
ensinamentos da Ordem. Tanto a Golden Dawn quanto Aleister Crowley ganham em
estatura e profundidade se o principiante nesses estudos lograr primeiramente uma viso
sinóptica de A rvore da vida.
Finalmente, uma antiga observao se faz ainda essencial. H muito compreendi
que a anlise psicológica moderna deveria ser associada aos mtodos da Grande Obra ±
uma tarefa ainda a ser plenamente realizada. Recomenda-se incisivamente que o
aprendizsrio se submeta a um processo de alguma modalidade de tratamento
psicoteraputico antes de aprofundar-se nessas prticas. No mnimo, ter com isso
conquistado autoconscincia e eliminado algumas tenses corporais e emocionais
exacerbadas pela arte mgica.
Assim, para esta nova edio de A rvore da vida, só me resta dizer com
humildade, sinceridade e convico: v em frente e propague a palavra. Ela expe um
bom ensino, uma nobre filosofia e um sistema arcaico porm prtico de se atingir alturas
embebidas de sol para as quais toda a espcie humana finalmente ter de se elevar e
repousar. Que possam todos os leitores obter toda a satisfao, ajuda e conforto
espirituais e esclarecimento que eu obtive na redao inicial deste livro e nos anos que se
seguiram.

Adeus!
Israel Regardie

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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12 de maio de 1968.
Studio City, Califrnia, 91604













PRIMEIRA PARTE


“A MAGIA A CIÊNCIA TRADICIONAL DOS SEGREDOS DA NATUREZA
QUE A NÓS FOI TRANSMITIDA PELOS MAGOS.”

Éliphas Lévi
CAPÍTULO I
expresso comum nos lbios de muitos a reiterao de que a espcie humana
hoje, com todas suas enfermidades e aberraes, chafurda às cegas num terrvel pntano.
Mensageiro da morte e munido de tentculos de destruio, esse pntano colhe a espcie
humana com crescente firmeza para seu seio, ainda que com grande sutileza e
furtivamente. Civilizao, por mais curioso que seja, civilizao moderna o seu nome.
Os tentculos, que so os instrumentos inconscientes de seus golpes catastrficos, partem
da estrutura enferma, falsa e repugnante do sistema social decadente e do conjunto de
valores em que estamos envolvidos. E agora, toda a textura do mundo social parece estar
em processo de desintegrao. Pareceria que a estrutura da ordem nacional est mudando
da runa econômica para aquele abandono derradeiro e insano que pode contemplar a
extino dessa estrutura num precipcio escancarado rumo à completa destruio.
Enraizados firmemente na plenitude da vida individual, os at aqui robustos basties de
nossa vida esto sendo ameaados como jamais o foram. Parece cada vez mais impossvel
diante do poente de cada sol para qualquer um reter mesmo a mais ligeira poro de seu
legado divino e individualidade e exercer aquilo que faz de ns homens. Apesar de terem
nascido em nossa poca e tempo, aqueles poucos indivduos que esto cientes mediante
uma certeza isenta da d vida de um destino que os impulsiona imperiosamente rumo à
realizao de suas naturezas ideais, constituem, talvez, as nicas excees. Estes, a
minoria, so os msticos de nascimento, os artistas e os poetas, os que contemplam alm
do vu e trazem de volta a luz do alm. Encerrada dentro da massa, contudo, existe ainda
uma outra minoria que, embora no plenamente consciente de um destino imperioso,
nem da natureza de seu eu mais profundo, aspira ser diferente das massas complacentes.

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Presa de uma ansiedade ntima, mantm-se inquieta na obteno de uma integridade
espiritual duradoura. impiedosamente oprimida pelo sistema social do qual constitui
parte e cruelmente condenada ao ostracismo pela massa de seus camaradas. As verdades e
possibilidades de um contato reintegrador com a realidade que pudesse ser estimulado
aqui e agora, durante a vida e no necessariamente por ocasio da morte do corpo, so
cegamente ignoradas. A atitude singularmente tola adotada pela maior parte da moderna
humanidade europia “inteligente” para com essa aspirao constitui um grave perigo
para a raa, a qual se permitiu com demasiada impacincia o esquecimento daquilo de
que realmente depende, e de que continuamente nutrida e sustentada tanto em sua vida
interior quanto exterior. Agarrando-se avidamente evanescncia flutuante da precipitada
existncia exterior, sua negligncia com relao aos assuntos espirituais somada sua
impacincia para com seus semelhantes mais perspicazes constitui um marca de fadiga e
nostalgia extrema.
Embora desgastado, o adgio “onde no h viso as pessoas perecem” no deixa
de ser verdadeiro e digno de ser repetido porquanto expressa de maneira peculiar a
situao hoje preponderante. A humanidade como um todo, ou mais particularmente o
elemento ocidental, perdeu de algum modo incompreensvel sua viso espiritual. Uma
barreira hertica foi erigida separando a si mesma daquela corrente de vida e vitalidade
que, mesmo atualmente, a despeito de impedimentos e obstculos propositais, pulsa e
vibra ardentemente no sangue, invadindo a totalidade da estrutura e forma universais. As
anomalias que se nos apresentam hoje se devem a esse rematado absurdo. A espcie
humana est lentamente cometendo seu prprio suicdio. Um auto-estrangulamento est
sendo efetivado mediante uma supresso de toda a individualidade, no sentido espiritual,
e de tudo que a tornou humana. Prossegue sonegando a atmosfera espiritual de seus
pulm es, por assim dizer. E tendo se separado das eternas e incessantes fontes de luz e
vida e inspirao, eclipsou-se deliberadamente diante do fato ± com o qual nenhum outro
pode comparar-se em importncia ± de que existe um princpio dinmico tanto dentro
quanto fora do qual se divorciou. O resultado letargia interior, caos e desintegrao de
tudo o que anteriormente era tido como ideal e sagrado.
Formulada h sculos, a doutrina ensinada por Buda vista por mim como aquela
que apresenta uma possvel razo para esse divrcio, esse caos e essa decadncia. Para a
maioria das pessoas, a existncia est inevitavelmente associada ao sofrimento, tristeza
e dor. Mas embora Buda tenha, com efeito, ensinado que a vida era repleta de dor e
misria, estou inclinado a crer, ao lembrar a psicologia do misticismo e dos msticos, dos
quais era ele indubitavelmente um par, que esse ponto de vista foi por ele adotado to-
somente para impulsionar os homens fora do caos rumo a obteno de uma modalidade
de vida superior. Uma vez superado o ponto de vista do ego pessoal, resultado de eras de
evoluo, o homem pôde ver os grilh es da ignorncia carem por terra revelando uma
paisagem desimpedida de suprema beleza, o mundo como uma coisa viva e jbilo
infindvel. No ser visvel para todos a beleza do sol e da lua, o esplendor das esta es
alternando-se ao longo do ano, a doce msica do romper do dia e o fascnio das noites sob
o cu aberto? E o que dizer da chuva escorrendo pelas folhas das rvores que se elevam
aos portais do cu, e o orvalho na madrugada insinuando-se sobre a relva, inclinando-a
com pontas de lana prateadas? A maioria dos leitores ter ouvido falar da experincia
do grande mstico alemo Jacob Boehme, que, aps sua viso beatfica, penetrou os

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campos verdejantes prximos de seu povoado contemplando toda a natureza flamejante
de luz to gloriosa que at as tenras folhinhas de grama resplandeciam com uma graa e
beleza divinas que ele jamais vira antes. Considerando que Buda tenha sido um grande
mstico ± superior, talvez, a qualquer outro de que o leitor mdio tem conhecimento ± e
que detinha uma grande compreenso da atuao da mente humana, -nos impossvel
aceitar em seu valor aparente o enunciado de que a vida e o viver constituem uma
maldio. Prefiro sentir que essa postura filosfica foi por ele adotada na esperana de
que mais uma vez pudesse a humanidade ser induzida a buscar a inimitvel sabedoria
que perdera a fim de restaurar o equilbrio interior e a harmonia da alma, cumprindo
assim seu destino desimpedida pelos sentidos e pela mente. Obstando este gozo esttico
da vida e tudo o que o sacramento da vida pode conceder, existe uma causa radical da
dor. Em uma palavra, ignorncia. Por ignorar o que em si realmente, por ignorar seu
verdadeiro caminho na vida, o homem , como ensinou Buda, to acossado pela tristeza e
to duramente afligido pelo infortnio.
De acordo com a filosofia tradicional dos magos, cada homem um centro
autônomo nico de conscincia, energia e vontade individuais ± numa palavra, uma alma
± como uma estrela que brilha e existe graas sua prpria luz interior, percorrendo seu
caminho nos cus reluzentes de estrelas, solitria, sem sofrer qualquer interferncia,
exceto na medida em que seu curso celeste seja gravitacionalmente alterado pela
presena, prxima ou distante, de outras estrelas. Visto que nos vastos espaos estelares
raramente ocorrem conflitos entre os corpos celestes, a menos que algum se extravie de
sua rota estabelecida ± acontecimento bastante espordico ±, nos domnios da espcie
humana no haveria caos, haveria pouco conflito e nenhuma perturbao mtua se cada
indivduo se contentasse em estar firmado na realidade de sua prpria conscincia
superior, ciente de sua natureza ideal e de seu verdadeiro propsito na vida, e ansioso
para trilhar a estrada que tem de seguir. Por terem os homens se desviado das fontes
dinmicas a eles e ao universo inerentes, por terem abandonado suas verdadeiras vontades
espirituais, e por terem ainda se divorciado das essncias celestiais, trados por um prato
de guisado mais repugnante que qualquer um que Jac tenha vendido a Esa, o povo que
o mundo hoje nos apresenta exibe aspecto to desesperanado e uma humanidade
vincada na sua aparncia pelo desalento. A ignorncia do curso da rbita celeste e do seu
significado inscrito nos cus perenemente constitui a raiz que se encontra no fundo da
insatisfao, infelicidade e nostalgia da raa, as quais so universais. E por isso a alma
viva brada por socorro aos mortos, e a criatura a um Deus silente. De todos esses brados
geralmente nada resulta. As mos erguidas em splica no trazem qualquer sinal de
salvao. O frentico ranger de dentes resulta to-somente em desespero mudo e perda de
energia vital. S existe redeno a partir de nosso interior, e ela lavrada pela prpria
alma mediante sofrimento e no decorrer do tempo graas a muito empenho e esforo do
esprito.
Como, ento, poderemos retornar a essa identidade esttica com nossos eus mais
profundos? De que modo pode ser realizada essa necessria unio entre a alma individual
e as Essncias da realidade universal? Onde o caminho que conduziria finalmente ao
aprimoramento e melhoramento do indivduo e conseqentemente soluo dos
desconcertantes problemas do mundo dos homens?
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O aparecimento do gnio, independentemente dos vrios aspectos e campos de sua
manifestao, marcado pela ocorrncia de um curioso fenômeno acompanhado quase
sempre por viso e xtase supremos. Essa experincia a que fao aluso
indubitavelmente a indicao de qualidade e legitimidade e a marca essencial de
realizao genuna. Essa experincia apocalptica no concedida mediocridade. À
pessoa ordinria, carregada como se acha com o dogma e a tradio fatigada raramente
ocorre esse lampejo de luz espiritual que faz sua descida em esplndidas lnguas de
chama como o Esprito Santo de Pentecostes, radiante de alegria e da mais elevada
sabedoria, prenhe de inspirao espontnea. Os sofisticados, os saturados pelos prazeres,
os diletantes ± esses esto excludos por barreiras intransponveis dos mritos de sua
bno. Para os que tm talento to-somente essa revelao no acontece, embora o
talento possa ser um ponto de partida para o gnio. O gnio no e nunca foi no passado
simplesmente o resultado de zelo e pacincia infinitos. Mas penso que pouca importncia
necessite ser dada definio reiterada freqentemente relativa a uma certa alta
percentagem de transpirao associada a um reduzidssimo restante de inspirao. Por
maior que seja o valor da transpirao, ele no pode produzir os efeitos magnficos do
gnio. Em todo campo do empreendimento na vida cotidiana, em toda parte vemos
realizada uma imensa quantidade de excelente labor, indispensvel como tal, em que se
vertem literalmente litros de suor sem que se evoque, de fato, uma frao de uma idia
criativa ou de uma exaltao. Essas express es exteriorizantes do gnio ± zelo, pacincia,
transpirao ± so simplesmente as manifesta es de uma superabundncia de energia
procedente de um centro oculto de conscincia. No passam de meios pelos quais o gnio
se distingue, esforando-se para tornar conhecidos aquelas idias e aqueles pensamentos
que foram arremessados para dentro da conscincia e penetraram aquela linha divisria
que logra demarcar e separar o profano daquilo que divino. O gnio em si produzido
ou ocorre concomitantemente com uma experincia espiritual da mais elevada ordem
intuicional. uma experincia que, trovejando do empreo como um raio gneo
proveniente do trono de Jpiter, traz consigo uma inspirao instantnea e uma retido
duradoura, com uma realizao de todos os anseios da mente e da constituio emocional.
No pretendo investigar a causa primordial dessa experincia, familiar queles
raros indivduos cujas vidas foram assim abenoadas desde a sua tenra infncia at os
seus derradeiros dias. Uma tal investigao me levaria longe demais, conduzindo ao
domnio de impalpabilidades metafsicas e filosficas, no qual de momento no desejo
ingressar. A reflexo, contudo, produz um fato bastante significativo. Aqueles indivduos
que receberam o ttulo de ªgnioº e foram chamados de grandes pela espcie humana
foram os receptores de uma tal inimitvel experincia que mencionei. Embora possa
muito bem ser uma generalizao, trata-se, no obstante, de uma generalizao que traz
consigo a marca da verdade. Muitas outras pessoas inferiores cujas vidas receberam
alegria e brilho de maneira similar foram capacitadas conseqentemente a realizar uma
certa obra na vida, artstica ou secular, que, de outra forma, teria sido impossvel.
Agora constitui um postulado mais ou menos lgico aquele que se conclui como
uma direta conseqncia da premissa precedente, a saber: supondo que fosse possvel
atravs de uma espcie detentora de treinamento psicolgico e espiritual induzir essa
experincia ao interior da conscincia de vrios homens e mulheres dos dias de hoje, a
humanidade como um todo poderia ser elevada alm das aspira es mais sublimes, e

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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surgiria uma poderosa nova raa de super-homens. Na realidade, para essa meta que a
evoluo tende e o que encarado por todos os reinos da natureza. Desde os primrdios,
quando o homem inteligente surgiu pela primeira vez no palco da evoluo, devem ter
existido mtodos tcnicos de realizao espiritual por meio dos quais a verdadeira
natureza humana poderia ser averiguada, e por meio dos quais, ademais, o gnio da mais
alta ordem desenvolveu-se. Este ltimo, poderia acrescentar, foi concebido como sendo
apenas o subproduto e a eflorescncia terrestre da descoberta da rbita do Eu estrelado, e
em tempo algum, pelas autoridades desta Grande Obra, foi em si considerado um objeto
digno de aspirao. O ªConhece-te a ti mesmoº foi a suprema injuno impulsionando o
elevado esforo deles. Se a criatividade do gnio se seguia como um resultado da
descoberta do eu interior e da abertura das fontes da energia universal, se a inspirao das
Musas resultava ou de um estmulo na direo de alguma arte ou filosofia ou da ocupao
de leigo, tanto melhor. No comeo do treinamento, todavia, esses msticos ± pois foi com
esse nome que essas autoridades passaram a ser conhecidas ± eram completamente
indiferentes a qualquer outro resultado alm do espiritual. O conhecimento do eu e a
descoberta do eu ± a palavra ªeuº sendo usada num sentido grandioso, notico e
transcendental ± eram os objetivos primordiais.
Se as artes tm sua origem na expresso da alma que escuta e v onde para a
mente exterior existem meramente silncio e trevas, ento evidentemente o misticismo
uma e talvez a maior das artes, a apoteose da expresso e do esforo artsticos. O
misticismo, graas a algum suave decreto da natureza, tem sido sempre e em todos os
tempos a mais sagradas das artes. O mstico realmente abriga em seu peito aquela
tranqilidade que com freqncia se registra no rosto sereno do sacerdote exaltado ao
altar. Ele um reconhecido intermedirio e porta-voz, as duas chaves sendo colocadas em
suas mos. Ele , tanto as eras quanto seus colegas nas outras artes o admitem, mais
diretamente introduzido ao interior do Santurio e mais imediatamente controlado pela
psique. por essa razo que seus sucessos so o sucesso de toda a humanidade em todos
os tempos. Mas seus fracassos bastante freqentes, quase como uma nova runa de
Lcifer, so amargamente reprovados. Um mau poeta ou um mau msico apenas alvo
da censura daqueles de sua arte em particular, e seus nomes logo se apagam da memria
de seu povo. Uma charlato ou um falso mago, entretanto, pem em perigo o mundo
inteiro, arrojando um pesado vu sobre a luz translcida do esprito, a qual era sua
principal tarefa trazer aos filhos dos homens. por essa razo, tambm, que ele em toda
poca somente para os muito poucos; mas, do mesmo modo, ele para todos os poucos
em todas as pocas. Glorificado com as beatitudes de todos os artistas e profetas de todas
as pocas, sofre ignominiosamente com o vilipndio deles, pois eles, como ele prprio,
so msticos. Ele solitrio. Afastou-se para o seio das solides subjetivas. Para onde ele
foi ± aonde poucos podem segui-lo a no ser que tambm tenham as chaves ± ele
elogiosamente aclamado com canes e ditirambos.
No um conhecimento terico do eu que o mstico busca, uma filosofia
puramente intelectual sobre o universo ± embora isso, inclusive, tenha seu lugar. O
mstico procura um nvel mais profundo de compreenso. A despeito da retrica sobre a
poder absoluto da razo, os lgicos e os filsofos de todos os tempos estavam
intimamente convencidos da impropriedade e impotncia fundamentais da faculdade do
raciocnio. Dentro dela, acreditavam eles, existia um elemento de autocontradio que

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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anulava seu uso na busca da realidade suprema. Como prova disso toda a histria da
filosofia se apresenta como eloqente testemunho. Acreditaram os msticos, e a
experincia o confirmou reiteradamente, que apenas transcendendo a mente, ou com a
mente esvaziada de qualquer contedo e tranqilizada como uma lagoa de serenas guas
azuis, um relance da Eternidade podia ser refletido. Uma vez acalmadas ou transcendidas
as alteraes do princpio pensante, uma vez subjugado o turbilho contnuo que uma
caracterstica normal da mente normal, substitudos por uma serena quietude, podia ento,
e agora somente, ocorrer aquela viso de espiritualidade, aquela experincia sublime das
pocas, que ilumina todo o ser com o calor da inspirao e da profundidade, e uma
profundidade de imagens do tipo mais elevado e que tudo abarca.
A t cnica do misticismo se subdivide naturalmente em duas grandes classes. Uma
a magia, da qual nos ocuparemos neste tratado, e a outra a ioga. E aqui necessrio
registrar um veemente protesto contra os crticos que, em oposio ao misticismo ± por
cujo termo se compreende um tal processo como a ioga ou contemplao ±, posicionam a
magia como algo completamente parte, no-espiritual, mundano e grosseiro. Julgo essa
classificao contrria s implicaes de ambos os sistemas e inteiramente incorreta,
como tentarei mostrar daqui para a frente. Ioga e magia, os m todos de reflexo e de
exaltao, respectivamente, so ambos fases distintas compreendidas no nico termo
misticismo. Apesar de freqentemente empregado de maneira indevida e errônea, o termo
misticismo utilizado ao longo de todo este livro porque o termo correto para designar
aquela relao mstica ou esttica do eu com o universo. Expressa a relao do indivduo
com uma conscincia mais ampla ou no interior ou exterior de si mesmo quando, indo
al m de suas prprias necessidade pessoais, ele descobre sua predisposi a finalidades
mais abrangentes e mais harmoniosas. Se essa definio estiver em consonncia com
nossos pontos de vista, ento ser bvio que a magia, igualmente concebida para executar
essa mesma necessria relao, porquanto mediante diferentes m todos, no pode
satisfatoriamente ser colocada em oposio ao misticismo e s vantagens de um sistema
laudatoriamente celebradas em oposio s impropriedades do outro, pois os melhores
aspectos da magia constituem uma parte, tal como o melhor da ioga constitui tamb m
uma parte daquele sistema completo, o misticismo.
Tem-se escrito muito sobre ioga, de tolices e algo digno de nota. Mas todo o
segredo do Caminho da Unio Real est contido no segundo aforismo dos Sutras de Ioga
de Patanjali. A ioga busca atingir a realidade solapando as bases da conscincia ordinria,
de maneira que no mar tranqilo da mente que sucede a cessao de todo pensamento, o
eterno sol interior de esplendor espiritual possa brilhar para derramar raios de luz e vida, e
imortalidade, intensificando todo o significado humano. Todas as prticas e exerccios
nos sistemas de ioga so estgios cientficos com o objetivo comum de suspender
completamente todo pensamento sob vontade. A mente precisa estar inteiramente
esvaziada sob vontade de seu contedo. A magia, por outro lado, um sistema
mnemônico de psicologia no qual as mincias cerimoniais quase interminveis, as
circumambulaes, conjuraes e sufumigaes visam deliberadamente a exaltar a
imaginao e a alma, com a plena transcendncia do plano normal do pensamento. No
primeiro caso, o machado espiritual aplicado raiz da rvore, e o esforo feito
conscientemente para minar toda a estrutura da conscincia com o fito de revelar a alma
abaixo. O m todo mgico, ao contrrio, consiste no empenho de ascender completamente

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 11 -
alm do plano de existncia de rvores, razes e machados. O resultado em ambos os
casos ± xtase e um maravilhoso transbordamento de alegria, furiosamente arrebatador e
incomparavelmente santo ± idntico. Pode-se compreender facilmente ento que o meio
ideal de encontrar a prola perfeita, a jia sem preo, atravs da qual pode-se ver a cidade
santa de Deus, uma judiciosa combinao de ambas as tcnicas. Em todos os casos, a
magia se revela mais eficiente e poderosa quando combinada ao controle da mente, que
o objetivo a ser atingido na ioga. E, da mesma forma, os xtases da ioga adquirem um
certo matiz rosado de romantismo e significado inspiracional quando so associados
arte da magia.
Desnecessrio dizer, portanto, que quando falo de magia aqui fao referncia
teurgia divina louvada e reverenciada pela Antigidade. sobre uma busca espiritual e
divina que escrevo; uma tarefa de autocriao e reintegrao, a conduo vida humana
de algo eterno e duradouro. A magia no aquela prtica popularmente concebida que
filha da alucinao gerada pela ignorncia selvagem, e que serve de instrumento s
luxrias de uma humanidade depravada. Devido a ignorante duplicidade dos charlates e
a reticncia de seus prprios escribas e autoridades, a magia durante sculos foi
indevidamente confundida com a feitiaria e a demonolatria. Salvo algumas obras que
foram ou demasiado especializadas em sua abordagem ou distintamente inadequadas para
o pblico em geral, nada foi at agora publicado para estabelecer em definitivo o que a
magia realmente. Neste trabalho no se pretende tratar de maneira alguma de
encantamentos de amor, filtros e poes, nem de amuletos que impeam que a vaca do
vizinho produza leite, ou que lhe roubem a esposa, ou da determinao da localizao de
ouro e tesouros ocultos. Tais prticas vis e estpidas bem merecem ser designadas por
aquela expresso to abusivamente empregada, a saber, ªmagia negraº. Este estudo no
tem nada a ver com essas coisas, pelo que no se deve concluir que nego a realidade ou
eficcia de tais mtodos. Mas se qualquer homem estiver ansioso para descobrir a fonte
de onde brota a chama da divindade, caso haja algum que esteja desejoso de despertar
em si mesmo uma conscincia mais nobre e sublime do esprito, e em cujo corao arda o
desejo de devotar sua vida ao servio da espcie humana, que essa pessoa se volte
zelosamente para a magia. Na tcnica mgica talvez possa ser encontrado o meio para a
realizao dos mais grandiosos sonhos da alma.
Do ponto de vista acadmico, a magia definida como a ªarte de empregar causas
naturais para produzir efeitos surpreendentesº. Com essa definio ± e tambm com a
opinio de um escritor como Havelock Ellis, que um nome dado a todo o fluxo da ao
humana individual ± estamos de pleno acordo, visto que todo ato concebvel no perodo
inteiro que dura a vida um ato mgico. Que efeito sobrenatural poderia ser mais
espantoso ou miraculoso do que um Cristo, um Plato ou um Shakespeare que foi o
produto natural do casamento de dois camponeses? O que haveria de mais maravilhoso e
surpreendente que o crescimento de um minsculo beb que atinge a completa
maturidade de um ser humano? Todo e qualquer exerccio da vontade ± o erguer de um
brao, o proferir de uma palavra, o germinar silente de um pensamento ± todos so por
definio atos mgicos. Entretanto, os efeitos ªsurpreendentesº que a magia procura
abarcar ocupam um plano de ao um tanto diferente daqueles que foram indicados,
embora estes, apesar de to comuns, sejam, no obstante, surpreendentes e taumatrgicos.
O resultado que o mago, acima de tudo, deseja concretizar uma reconstruo espiritual

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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de seu prprio universo consciente e secundariamente aquela de toda a humanidade, a
maior de todas as transformaes concebveis. Mediante a tcnica da magia, a alma voa,
reta como uma flecha impelida por um arco tenso, rumo serenidade, a um repouso
profundo e impenetrvel.
Mas apenas o prprio homem quem pode esticar a corda do arco; ningum alm
dele mesmo pode realizar essa tarefa para ele. logicamente nesta clusula de
qualificao que o temporal fica espreita. A ªsalvaoº tem que ser auto-induzida e
auto-inventada. As ess ncias universais e os centros csmicos esto sempre presentes,
mas o homem quem tem que dar o primeiro passo na sua direo e ento, como disse
Zoroastro nos Orculos Caldeus, ªos abenoados imortais chegam rapidamenteº. Quem
causa e faz a sorte e o destino o prprio homem. O curso de sua exist ncia vindoura
resulta necessariamente de seu modo de agir. E no apenas isso, pois na palma de sua
mo reside a sorte de toda a espcie humana. Poucos indivduos se sentiro aptos a
despertar a coragem latente e a rgida determinao que comanda o universo, para que
assim por uma estrada direta e isenta de obstculos a espcie humana pudesse ser
conduzida a um ideal mais nobre e a um modo de vida mais pleno e mais harmonioso.
Houvessem to-somente alguns homens se empenhando para descobrir o que realmente
so, e apurando sem qualquer sofisma a refulg ncia cintilante de glria e sabedoria que
arde no mais ntimo do corao, e descobrindo os vnculos que as ligam ao universo, e
penso que no teriam apenas realizado seus propsitos individuais na vida e cumprido
seus prprios destinos, como tambm o que infinitamente mais importante, teriam
cumprido o destino do universo considerado como um vasto organismo vivo de
consci ncia.
O que significa acender uma vela? Nesse processo somente a poro mais superior
da vela mantm a chama, mas, embora apenas a mecha esteja acesa, hbito dizer que a
prpria vela est acesa, difundindo a luz que elimina as trevas sua volta. Nisso podemos
encontrar uma sugestiva refer ncia que se aplica significativamente ao mundo em geral.
Se apenas algumas pessoas em cada pas, cada raa e cada povo pelo mundo afora
encontrarem a si mesmas e entrarem em comunho sagrada com a prpria Fonte da Vida,
graas sua iluminao, elas se tornaro a mecha da humanidade e lanaro uma
resplandecente e gloriosa aurola de ouro sobre o universo. Nesses indivduos que
constituem uma minoria minscula, quase microscpica da populao do globo, desejosa
e ansiosa de se devotar a uma causa espiritual, reside a nica esperana para a suprema
redeno da espcie humana. liphas Lvi, o celebrado mgico franc s, arrisca uma
opinio nova que acho pode ter alguma relao com esse problema e projeta um raio de
luz sobre essa proposta. ªDeus cria eternamente...º, escreve ele, ªo grande Ado, o
homem universal e perfeito, que contm num nico esprito todos os espritos e todas as
almas. As intelig ncias vivem, portanto, duas vidas imediatamente, uma geral, que
comum a todas elas, e outra especial e individualº.
Esse Ado protoplstico chamado nessa obra qabalística intitulada O livro dos
esplendores*, de Homem Celestial e compreende em um ser, como observa o erudito
mago, as almas de todos os homens e criaturas, e foras dinmicas que pulsam atravs de
toda poro do espao estelar. No meu desejo tratar de metafsica neste momento,
discutindo se esse ser universal primordial criado por Deus ou se simplesmente se
desenvolveu do espao infinito. Tudo o que quero considerar agora que a totalidade da

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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vida no universo, vasta e difundida, esse ser celestial, a Super-Alma como alguns outros
filsofos o conheceram, criado para sempre nos cus. Nesse corpo csmico ns,
indivduos, bestas e deuses, somos as minsculas clulas e molculas, cada uma com sua
funo independente a ser cumprida na constituio e no bem-estar sociais dessa Alma.
Essa teoria filosfica admiravelmente sugere que como no homem da terra h uma
inteligncia que governa suas aes e seus pensamentos, da mesma maneira, em sentido
figurado, h no Homem Celestial uma alma que sua inteligncia central e sua faculdade
mais importante. ªTudo o que existe na superfcie da Terra possui sua duplicata espiritual
no alto, e no existe nada neste mundo que no esteja associado a algo e que no dependa
desse algo.º Assim escrevem os doutores da Qabalah. Tal como no homem a subst ncia
cerebral cinzenta a mais sensvel, nervosa e refinada do corpo, do mesmo modo os seres
mais sensveis, desenvolvidos e espiritualmente avanados no universo compreendem o
corao, a alma e a inteligncia do Homem Celestial. nesse sentido, em suma, que os
poucos que empreendem a realizao da Grande Obra, isto , encontrar a si mesmos de
um ponto de vista espiritual e identificar sua conscincia integral com as Essncias
Universais, como J mblico as chama, ou os deuses, que constituem o corao e a alma do
Homem Celestial ± esses poucos so os servos da espcie humana. Executam a obra da
redeno e cumprem o destino da Terra.
* Publicado no Brasil com o ttulo As origens da cabala, pela. Ed. Pensamento, traduo
de Mrcio Pugliesi e Norberto de Paulo Lima. (N. T.)
O misticismo ± magia e ioga ± o veculo, portanto, para uma nova vida
universal, mais rica, mais grandiosa e mais plena de recursos do que jamais o foi, to livre
como a luz do sol, to graciosa quanto o desabrochar de um boto de rosa. Ela para ser
tomada pelo homem.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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CAPÍTULO II
bastante provvel que de maneira tonitruante seja emitida de certas fontes a
condenao de que o sistema indicado nesta obra como magia faz somente referncia ao
princpio da constituio humana pertinente exclusivamente natureza inferior. Em
decorrncia dessa classificao, no difcil antecipar que toda a tcnica tergica venha a
ser inteiramente condenada como ªpsiquismoº, por exemplo, nos crculos teos ficos. Na
verdade, como poucas consideraes bastariam para demonstrar, tal condenao mal
colocada e injustificada. A fim de retificar esse ponto de vista de uma vez por todas,
apresentamos A rvore da vida ao pblico leitor. Abomino essa loquacidade teos fica.
Permitam que registre aqui minha repugnncia por suas classificaes demasiado
simplistas, sua contnua disposio de aplicar r tulos de mordaz opr brio a coisas
parcialmente compreendidas. No fosse o caso de sentir-me to profundamente envolvido
com a magia ± sustentando que nela possa ser encontrado o meio de tomar o reino dos
cus de assalto ± esse abuso e propositada censura dos te sofos seria merecidamente
ignorado e relegado quela esfera de desprezo a que com justia pertencem. Tem havido
em geral excessiva incompreenso quanto ao que a magia e qual a ao por ela
orientada. tempo de esclarecer de uma vez por todas essa fonte contnua de confuso
por meio da formulao dos princpios elementares de sua arte.
Em sua renomada obra Estâncias de Dzyan, em torno da qual toda a A doutrina
secreta* se acha organizada como um comentrio, Madame Blavatsky nos informa que
cada homem uma sombra ou centelha de uma divindade de sabedoria, poder e
espiritualidade superlativos. Esses seres sensveis so chamados de deuses ou Essncias
universais por uma das autoridades em teurgia. Uma autoridade em teosofia da
atualidade, o dr. Gottfried de Purucker escreve o seguinte: ªA parte mais refinada da
constituio do ser humano , em cada caso, um filho da parte espiritual de um ou outro
dos gloriosos s is espalhados pelo espao sem fronteiras. V s sois deuses em vossas
partes mais interiores, tomos de algum sol espiritual...º A definio conferida a um deus
em A doutrina secreta a de um ser hierrquico que nas pocas mais remotas do
empenho evolutivo, h muitssimo tempo, era um ser humano tal como o somos agora.
Por meio de esforo e progresso consciente uniu-se quela Realidade Espiritual difundida
atravs das ramificaes e fundaes do universo. Por ocasio dessa unio, entretanto, a
individualidade essencial da experincia foi retida. Mas transcendida a personalidade, o
ser retomou seu papel natural de dirigente, por assim dizer, ou Regente do universo, ou de
alguma poro ou aspecto particular do universo. Visto que, baseado nessa definio, o
homem a centelha de uma to grandiosa conscincia, um filho dos deuses c smicos, o
curso de sua vida s poder se orientar para o aspirar pela unio com seus progenitores
espirituais. Tanto a origem da magia quanto sua raison d’être se encontram na efetivao
dessa unio.
* Publicao da Ed. Pensamento. (N. T.)
Espero mostrar nestas pginas que a tcnica da magia est em estreito acordo com
as tradies da mais remota Antigidade, e que conta com a sano, explcita ou
implcita, das mais excelentes autoridades. Jmblico, o divino teurgo, tem muito a dizer
em seus vrios escritos sobre a magia; do mesmo modo em Proclo e Porfrio, e mesmo na
moderna literatura teos fica oficial, h obscuras referncias, embora inexplicadas e
jamais desenvolvidas, magia divina. Diversas boas invocaes procedentes dos registros

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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gnsticos e as vrias recenses do Livro dos Mortos sero apresentadas prximo
concluso deste livro, e pesquisas baseadas nas concepes mgicas egpcia e qabalística
nos demais captulos deste livro.
Resumir, portanto, a magia de maneira vaga com a nica palavra ªpsiquismoº
um completo absurdo, para dizer o mnimo. Conheo tesofos, todavia, e percebo a
necessidade de antecipar suas objees com ampla contraposio. O mago tem que estar
no controle de toda sua natureza; todo elemento constituinte em seu ser precisa ser
desenvolvido sob a vontade ao auge da perfeio. Princpio algum deve ser reprimido, j
que cada um um aspecto do esprito supremo, tendo que cumprir seu prprio propsito e
natureza. Se o teurgo se envolve, por exemplo, com viagem astral ± parte da Grande Obra
qual as objees da teosofia sero mormente dirigidas ± assim ser por tr s razes
principais. Primeira, na chamada luz astral ele pode perceber um exato reflexo de si
mesmo em todas as suas vrias partes, qualidades e atribuies, sendo que um exame
desse reflexo tende naturalmente para uma espcie de autoconhecimento. Segunda, a
definio da luz astral do ponto de vista mgico extremamente lata, incluindo todos os
planos sutis acima ou no interior do fsico, o objetivo do mago sendo ascender
constantemente aos domnios mais fervorosos e mais lcidos do mundo espiritual. Os
elementos mais grosseiros da esfera de Azoth, com suas imagens sensrias e vises
opacas obscurecidas, precisa ser sempre transcendido e deixado bem atrs. liphas Lvi
chega a estabelecer, por razes de ordem prtica, apenas duas grandes classes de planos
no universo: o mundo fsico e o mundo espiritual. Terceira, antes que essa poro
particular do mundo invisvel possa ser transcendida, necessrio que seja conquistada e
dominada em cada um de seus aspectos. Todos os habitantes dessa esfera t m que ser
submetidos ao mago, aos seus smbolos mgicos e obedecer inequivocamente realidade
da Vontade Real que esses ltimos simbolizam. No nosso plano e em nosso domnio de
viglia da experi ncia ordinria, os smbolos so meramente representaes arbitrrias de
uma significao inteligvel interior. So as assinaturas visveis de uma dignidade
metafsica ou espiritual, por assim dizer. Na luz astral, entretanto, esses smbolos
assumem exist ncia independente revelando sua realidade tangvel, e conseqentemente
so de mxima importncia. As evocaes so empreendidas pelo mago no por
curiosidade ou para satisfazer a uma sede pelo poder, mas sim com a finalidade nica de
trazer essas facetas ocultas de sua prpria consci ncia para o mbito de sua vontade,
submetendo-as ento ao seu domnio.
Pode-se, talvez, definir como objeto do psiquismo o estmulo e a preservao do
eu inferior s expensas ou na ignorncia do eu superior. Trata-se de uma abominao
merecedora da mais severa censura. Na magia no se fazem tentativas para aquisio de
poderes em proveito prprio, ou com qualquer propsito abjeto ou nefando. Qualquer
poder adquirido deve instantaneamente ser subordinado vontade, e mantido em seu
prprio lugar e adequada perspectiva. Essa questo de poderes bastante curiosa, tendo
obtido, devo acrescentar, maior destaque em meio ao pblico somente a partir do advento
do culto ao espiritualismo e da formao das organizaes teosficas. Por que os
indivduos ± particularmente alguns tesofos ± cobiam ou encaram como encaram os
poderes astrais ou outros poderes ocultos para sua prpria vantagem e uma morbidez
patolgica que escapa a minha compreenso. No incio de sua carreira, o mago
compelido a compreender que sua exclusiva aspirao diz respeito ao seu eu superior, ao

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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seu Santo Anjo Guardio, e que quaisquer faculdades que sejam obtidas precisam ser
subordinadas a essa aspirao. Qualquer trabalho menor que seja realizado necessita ter
um motivo espiritual definido. Uma aspirao por qualquer coisa que no seja o Santo
Anjo Guardio* constitui realmente, salvo raras excees, um ato de magia negra que ,
portanto, sumamente abominvel. Deve ficar, por conseguinte, bvio para todos que o
psiquismo, entendido como o desejo de poderes psquicos anormais que sirvam como fim
em si mesmos, absolutamente estranho inteno e meta dessa tcnica.
* A respeito do Santo Anjo Guardio, consultar O livro da magia sagrada de Abramelin,
o Mago, publicado por esta mesma editora. (N. T.)
Uma outra objeo a ser levantada provavelmente que a magia pode levar
mediunidade. Esta tambm uma crtica improcedente por vrias razes. Tem sido
observado corretamente que tanto o mdium quanto o mago cultivam o transe. Mas a
exatido da observao pra por a, pois entre os respectivos estados de conscincia do
mdium e do mago h uma colossal diferena. Na linguagem popular encontramos a idia
vulgar segundo a qual gnio e loucura esto associados. A distino efetiva que num
caso o equilbrio de gravidade est acima do centro normal da conscincia; no outro
encontra-se abaixo, e a conscincia de viglia foi invadida por uma horda inicial de
impulsos subconscientes descontrolados. Idia idntica se aplica ainda com maior fora
comparao do mdium com o mago, pois o mdium cultiva um transe passivo e negativo
que arremessa seu centro de conscincia para baixo, para o interior do que podemos
chamar de Nephesch. O mago, por outro lado, intensamente ativo tanto de um ponto de
vista mental quanto espiritual, e embora ele tambm se empenhe no transe notico para
manter os processos de raciocnio em suspenso, seu mtodo consiste em elevar-se acima
deles, abrir-se para os raios telsticos do eu superior de preferncia a descer a esmo ao
limo relativo de Nephesch. esta a nica diferena. O cultivo da vontade mgica e a
conseqente exaltao da alma a tcnica da magia. O transe esprita no nada mais
nada menos que uma descida no-natural inrcia e conscincia animal. Abdica-se de
toda humanidade e divindade no transe passivo negativo a favor da vida animal e da
obsesso demonaca. A abdicao do ego racional no caso do mago ocorre em favor de
uma realizao espiritual notica, no do torpor da vida instintiva e vegetativa. Por
conseguinte, a magia no est associada sob qualquer ponto de vista mediunidade
passiva.
Antes de passar exposio dos princpios fundamentais da magia, necessrio
esclarecer minha posio no que concerne s fontes de filosofia terica que esto na base
de minha interpretao pessoal da tcnica da magia. Ficar bastante bvio que estou em
grande dbito com a teosofia. Muitas prticas mgicas encontram sua base na Qabalah
Prtica dos filsofos hebreus e na teurgia sacerdotal dos egpcios. Fragmentos foram
selecionados de vrias fontes e sou grande devedor de um grande nmero de pensadores
anteriores a mim e tambm contemporneos, e a todos sou grato.
No que diz respeito a teosofia, acho uma questo de honestidade confessar ± a
despeito das observaes depreciativas aqui registradas contra a conduta de certos
tesofos ± que por Blavatsky s posso alimentar a maior admirao e o maior respeito.
Muito da superestrutura filosfica exibida em A doutrina secreta s indica tcita
aquiescncia e sincera concordncia com minhas idias. Minha prpria concepo da
filosofia mgica deve o que h nela de concatenado e claro aos desenvolvimentos em

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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religio e filosofia comparadas dos quais Blavatsky me muniu. Todavia, minha postura
ecltica, selecionando aqui, rejeitando ali, e formando a partir do todo uma sntese
coerente e consistente que agrade ao intelecto e satisfaa alma. Sinto que no posso
aceitar a totalidade do ensino de Blavatsky em vrias de suas comunicaes. H muito
com o que simpatizo inteiramente, com o que se experimenta a um tempo orgulho e
felicidade assimilando-se a prpria filosofia pessoal, e, ao mesmo tempo, h muito que
desagrada e repugna o senso interior.
Tambm muito devo, e no em menor grau, s obras de Arthur Edward Waite, em
particular a seus resumos do ensino qabalístico. H uma quantidade considervel de boa
literatura escrita por esse agora idoso contemporneo que sumamente encantadora,
informativa e sublime, entoando cantos por vezes de incomparvel eloq ncia. E esse
aspecto de excelente erudio e lirismo que acho no deve ser esquecido, embora algumas
vezes parea arruinado pela freq ncia de passagens em seus escritos que provocam
justificvel reprovao. So de uma turgidez e pomposidade abismais, e exibem uma
tendncia desnecessria crtica destrutiva. Mas eu, no que diz respeito aos sentimentos
pessoais, tenho um lugar clido no fundo de meu corao para o sr. Waite, e lhe devo bem
mais do que meras palavras so capazes de expressar, e a ttulo de suplementao ao
presente estudo recomendo enfaticamente a todos os leitores o seu Doutrina secreta em
Israel e A Santa Cabala.
Embora nas obras do eminente mago francs cujo pseudnimo era liphas Lvi
Zahed haja muita tagarelice sem sentido que no tem a menor conexo com a magia,
percebe-se aqui e ali no Dogma e ritual da Alta Magia* e em suas outras obras, cintilando
como estrelas no bojo do firmamento, reluzentes pepitas do mais puro ouro no negro
minrio da obscuridade e da trivialidade. Devo confessar, contudo, estar pouco
impressionado em todos os aspectos com sua prpria ficha como mago prtico, visto que,
ao que tudo indica, a sua chamada evocao da sombra de Apolnio de Tiana resultou em
pouqussimo. Lvi constitui um problema difcil para a maioria dos leitores. Ademais, ele
sobrecarregou a si mesmo com uma confuso, ou uma tola tentativa de reconciliar a
magia com o catolicismo romano. Assim, sem uma slida compreenso dos princpios
fundamentais da Qabalah e da filosofia comparativa ficar sujeito a ser arremessado de
cabea nos vrios fossos que ele supre para os incautos.
* Publicado no Brasil pela Ed. Pensamento, traduo de Rosabis Camaysar, e pela
Madras, traduo de Edson Bini. (N. T.)
S. L. McGregor Mathers e W. Wynn Westcott tambm me forneceram muito que
servisse de fundamento nesta filosofia mgica, particularmente o primeiro, e muito
material til pode ser reunido a partir das obras de ambos. O mundo ter de ser
eternamente grato a Mathers por sua traduo de O livro da Magia Sagrada de
Abramelin, o Mago** e A Introduo ao Estudo da Cabala, de Westcott talvez um dos
mais atraentes textos elementares a respeito desse assunto. Entretanto, a aceitao da
totalidade das opinies desses escritores levaria a uma crise aguda de indigesto mental.
Em cada um h vrios elementos da verdade ± verdade, ao menos para cada aprendiz ±
mas sondando o fundo observa-se um ligeiro resduo de exagero, mal-entendidos e erro.
** Publicado no Brasil por esta editora, traduo de Norberto de Paula Lima, Mrcio
Pugliesi e Edson Bini. (N. T.)

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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Observar-se-, igualmente, que fao freqentes citaes de Aleister Crowley, e
imperioso que eu defina claramente minha posio relativamente a esse homem genial.
Deixando de lado o oprbrio de magia negra que lhe foi dirigido violentamente por
muitos indivduos completamente ignorantes do que ele ensinou, h muita coisa
importante em Crowley, muita filosofia e pensamento original tanto sobre Qabalah
quanto sobre magia belamente expressos em prosa e verso e de concepo profunda.
Acho lamentvel que o pblico seja privado dessa novidade e originalidade superlativas
que pertencem a Crowley e despojado daqueles aspectos de seus ensinamentos que so
bons, enaltecedores e duradouros, simplesmente por causa de uma certa parte de sua
produo literria que certamente banal, insignificante, sem import ncia e
indubitavelmente repreensvel.
As personalidades e vidas particulares desses indivduos no me dizem respeito
em absoluto, e no me sinto inclinado a discuti-las. Quase todos eles, numa ocasio ou
outra, foram atingidos pelas ferroadas e setas do mau juzo de uma multido maliciosa.
Tambm no me dizem respeito nem esta multido nem a natureza das invectivas que
lanam, pois a magia nada tem a ver com elas.
A cada aprendiz, portanto, cabe a tarefa de determinar para si mesmo o que deve
ser verdadeiro e confivel e estabelecer por sua prpria conta um padro de referncia
sem controvrsia. E esse padro deve ser experincia espiritual. Por isso, a Árvore da
Vida Qabalística foi adotada como a estrutura da magia prtica, visto que est, em
primeiro lugar, aberta classificao sinttica e construtiva, e porque fornece aquilo que
pode ser apropriadamente chamado de alfabeto mgico. preciso notar que a palavra
ªalfabetoº empregada, e empregada de preferncia palavra linguagem e aos seus
desdobramentos. A Qabalah no procura suprir uma completa linguagem mgica ou uma
inteira filosofia. Essa ltima s pode ser conquistada mediante experincia espiritual. Mas
a partir do alfabeto de idias, nmeros e smbolos e das sugestes apresentadas por ele, o
aprendiz poder se achar capacitado, com o auxlio da pesquisa mgica, a construir um
edifcio satisfatrio de elevada filosofia que o conduzir ao longo da vida.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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CAPÍTULO III
Insistem todos os teurgos do passado que a augusta filosofia que serve de base
teoria e tcnica da magia, sendo to importante quanto o trabalho prtico e uma
necessidade radical que deve preceder esse trabalho, constitui um pr-requisito para
qualquer discusso adicional. Na verdade, dificilmente teremos um efetivo entendimento
da base racional da magia e certamente nenhuma compreenso das complexidades que
ocorrem no interior e no exterior da constituio do mago se o fundamento filosfico no
estiver firmemente assentado em sua mente. Se h perigo na busca da magia, esse perigo
s surge quando o operador no dispe de conhecimento preciso do que est fazendo.
de uma compreenso inteligente do significado dos smbolos do oculto e das realidades
que eles, em primeiro lugar, visam a comunicar que a eficcia dos ritos depende muito.
Os smbolos e acessrios da magia nas mos profanas de algum no familiarizado com
os fundamentos da arte indubitavelmente no produziriam os corretos efeitos
taumat rgicos. Contudo, o mero conhecimento intelectual desses princpios arcanos de
pouca valia se no houver experincia espiritual. Em contrapartida, a investigao mgica
do universo e sua conseqente compreenso espiritual na conscincia assumem maior
dignidade, e implicao e profundidade mais frteis se apoiadas numa compreenso
terica.
Em sua recente obra, Os mistrios do Egito, Lewis Spence afirmou que o sistema
filosfico da magia reuniu ªe tornou manifestos toda a sabedoria e conhecimento arcano
do mundo antigo, que foram assim cristalizados e sistematizados de tal maneira que
tivessem sido eles preservados de uma forma no adulterada, teriam certamente poupado
pocas posteriores de muitas catstrofes religiosas e muito falso misticismo. Mas graas
indolncia e negligncia de seus preservadores e talvez atravs das cnicas influncias que
lhes eram impingidas de fora, sua primitiva beleza divina foi gradualmente perdida at,
finalmente, restar apenas o esqueleto de seus rituais e cerimniasº.
Foi nas religies esotricas ortodoxas que alguns dos vrios fragmentos esparsos
do esqueleto mgico foram retidos, em sua maior parte ineficazes e incompreensveis
para a maioria devido inescrupulosa adulterao. Mas a essncia da magia, sua
ªprimitiva beleza divinaº, foi preservada por mos altrustas e cuidada zelosamente em
mentes sublimes, e se houver muita aplicao, pode at ser compilada em publicaes.
Nos trabalhos gnsticos, inclusive nos escritos neoplatnicos, nas propositais
obscuridades dos alquimistas, em meio literatura procedente dos rosacruzes ± em tudo
isso temos a possibilidade de encontrar vestgios luminosos da filosofia e prtica dessa
magia da luz que, cuidadosamente reunidos sobre a base sinttica suprida pela Árvore da
Vida, formam um sistema sublime e funcional que concede a luz da compreenso a todos
aqueles que queiram contempl-la. Os principais ingredientes do sistema mgico so a
Árvore da Vida qabalística, que a fonte de referncia, e a religio hiertica da casta
sacerdotal do Egito. Existe, devo mencionar ± deixando a interpretao a critrio do leitor
± a lenda segundo a qual a Qabalah foi recebida por Moiss como uma custdia sagrada
no Sinai, que ele a entregou a Josu, o qual a entregou, por sua vez, aos juzes, e estes ao
sindrio, at que finalmente os Tanaim e rabinos posteriores se apoderaram dela e a
trabalharam. Outras pessoas sustentam com convico que se essa pessoa chamada
Moiss existiu historicamente e se a Qabalah e seus corolrios se originaram dele, ele a
obteve dos sacerdotes egpcios, em companhia dos quais ele sem d vida estudou nos

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templos do Nilo. Poucos pases no mundo, exceto a Índia, talvez, podem se gabar de uma
crnica de tradio mstica e mgica to eloqente quanto o Egito, que com justia
recebeu o ttulo de matriz da magia. Se a Qabalah ou no realmente oriunda dos
egpcios ou qualquer outro povo um ponto discutvel, no havendo, apesar da lenda e da
especulao extravagante, nenhuma evidncia histrica autntica nesse sentido. E
contudo, a teurgia prtica dos egpcios se harmoniza notavelmente bem com as teorias
filosficas da Qabalah, e a experincia de uma multido de magos tende a nos fazer crer
que dificilmente poderia haver uma combinao mais adequada ou mais satisfatria.
Conseqentemente, apresentaremos aqui uma exposio dos princpios
subjacentes do universo tais como concebidos pelos magos e um estudo daquilo que
forma necessariamente a base de todo o trabalho prtico.
Essa concepo do universo ser resumidamente enunciada nos termos filosficos
da Qabalah, e entremeada em torno da estrutura central da rvore da Vida. ªQuem
penetra no santurio da cabala tomado de admirao vista de um dogma to lgico,
to simples e ao mesmo tempo to absoluto. A unio necessria das idias e dos signos, a
consagrao das realidades mais fundamentais pelos caracteres primitivos, a trindade das
palavras, letras e nmeros; uma filosofia singela como o alfabeto, profunda e infinita
como o Verbo; teoremas mais completos e luminosos que os de Pitgoras; uma teologia
que se condensa contando pelos dedos; um infinito que pode caber na palma da mo de
uma criana; dez algarismos e vinte e duas letras, um tringulo, um quadrado e um
crculo: aqui est a totalidade dos elementos da cabala. So os princpios bsicos do
Verbo escrito, reflexo desse Verbo discursante que criou o mundo!º ± Assim pensava
Lvi, e na verdade preciso concordar sinceramente com ele, pois o admirvel
fundamento da Qabalah uma simples estrutura matemtica de smbolos, nmeros e
nomes, que emprega dez nmeros e as letras do alfabeto dos anjos, como foi denominado
o alfabeto hebraico. A matemtica sempre foi considerada uma cincia divina pelos
discpulos da filosofia esotrica, particularmente entre os pitagricos, prefigurando, como
o faz por meio do nmero os processos criativos tanto do universo quanto do
desenvolvimento do ser humano. Diversos magos sustentaram que foi pelas idias
expressas no nmero que a natureza foi concebida no seio do espao infinito. Dessas
idias universais brotaram os elementos primordiais, os imensos ciclos do tempo, os
corpos csmicos e toda a gama de transformaes celestes.
Como os nmeros eram os meios ou os smbolos pelos quais o significado das
idias universais abstratas podia ser compreendido, ao longo do tempo acabaram sendo
substitudos pelas prprias idias. Os filsofos do nmero eram ensinados no incio de
seus estudos a pensar em crescimento e desenvolvimento em termos do nmero, a
considerar as realidades csmicas em seus estados progressivos como a seqncia da
progresso numrica. Os nmeros se tornaram identificados com esses vrios estados.
Conseqentemente, na filosofia mgica aludir ao zero, por exemplo, significa sugerir em
primeiro lugar a essncia imanifesta do universo antes mesmo do nascimento das
palavras, o ilimitado e a imutabilidade do espao infinito no qual no h nem estrelas
nem sis, nem planetas nem homens. O crculo, um zero (0) na sua forma, era assim
considerado como sendo uma representao adequada daquela realidade primordial que
proporcionara existncia a todas as coisas vivas e seres vivos em toda a vastido do
espao. O ponto, metafsico e espiritual, que aparece num acordo estrito com a lei cclica,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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era representado por um trao ou uma linha estendendo-se do alto base do crculo, uma
figura ereta do um. O prprio nmero passou ento a indicar o processo de germinao
dos mundos. Cada nmero, em virtude do processo evolutivo ao qual originalmente se
aplicava, conseqentemente significava o prprio processo. Por conseguinte temos a base
racional das figuras geomtricas, dos selos e dos smbolos empregados nas cerimnias
m gicas. À medida que a filosofia da Qabalah for revelada, o leitor perceber quais so
as implicaes fundamentais na raiz dos signos e smbolos usados pela teurgia. E ser
percebido claramente que no se trata mais de signos arbitr rios de conotao dbia, mas
sim de realidades rigorosas investidas de uma augusta verdade. Devo pedir
insistentemente ao aprendiz, entretanto, que seja paciente comigo por enquanto neste e
nos captulos subseqentes, visto que estou lidando com um assunto sumamente
complexo e difcil. No importa quo bem se apresenta uma simplificao para o estudo
geral, ela sempre exigir uma detida ateno e muita aplicao.
Acima de tudo a filosofia da Qabalah uma filosofia da evoluo. O universo,
com todos seus planetas, mundos e seres independentes, foi concebido como a emanao
de um princpio-substncia primordial que alguns chamaram de Deus, de Absoluto, de
Infinito, de Todo e assim por diante. Na Qabalah, esse princpio, que a Realidade
Única, chamado de Ain Soph, o Infinito. O Sepher haZohar, talvez o mais importante
dos textos qabalísticos, o concebe imut vel, incognoscvel para a mente, ilimitado,
imanifesto e absoluto. Alm de toda compreenso intelectual em Si, visto que jamais
poderia ser abarcado por uma mente que apenas um segmento de Sua toda-
inclusividade, afirma-se ser Ele Ain ± nada. Visto que ultrapassa efetivamente toda
compreenso finita, sendo suas vastides imut veis e ilimitadas para a mente humana,
cuja especulao mais profunda seria incapaz de aproximar-se do mais vago esboo do
que Ele em Si, foroso que permanea sempre um vazio misterioso ± nada, nenhuma
coisa. Nesse sentido, a concepo gr fica dos antigos egpcios mostra-se bastante
expressiva, bem como pitoresca. O cu, ou espao anterior a toda manifestao, era
concebido como o corpo nu da deusa Nuit, a rainha do espao infinito, de seus seios
brotando o leite das estrelas, as guas primordiais da substncia.
Tudo o que pode ser dito de verdadeiro dessa Realidade Absoluta e Suprema que
ELA . Isto tem que bastar. Onipresente, eterno e auto-existente ± essas so idias que
transcendem mesmo os mais sublimes vos da imaginao treinada, abstraes alm da
apreenso das mentes mortais. Um dos smbolos dessa potencialidade do Ain durante um
perodo de repouso um crculo, significando que tudo tendo sido recolhido
homogeneidade, o movimento retorna perpetuamente para si mesmo, como no glifo a
cauda da serpente se recolhe e tragada pela cabea. O crculo s interrompido, por
assim dizer, pela lei da periodicidade. Essa lei, que a tudo afeta e que inerente prpria
natureza das coisas, governa o constante fluxo e refluxo, aparecimento e desaparecimento
dos mundos. A potencialidade do Ain Soph apenas refletida mediante a emanao de si
mesmo do alento de criatividade, com o comeo de um ciclo quando a Vida Una
polarizada no esprito e matria. A ruptura do crculo de movimento incessante
realizada por uma contrao de sua Luz Infinita, por uma colocao de um ponto
minsculo de refulgncia cintilante nos confins do espao. Como foi efetivada essa
concentrao de luz num centro csmico, qual sua obscura origem, somos incapazes de
diz-lo. H explicaes confusas quanto Vontade do Ain Soph ou lei dos ciclos, mas

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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elas realmente no nos conduzem a uma satisfatria compreenso inteligente. Num caso,
inteiramente impossvel conceber uma condio espiritual to infinita e to abstrata
como o Ain Soph possuindo uma Vontade que possa ser posta em operao, tanto quanto
possuindo uma mente ou um corpo. Segundo a tradio filosfica, Ain Soph no nem
Esprito nem Vontade, mas sim a causa subjacente de ambos; no fora ou matria, mas
aquilo que serve de base a elas, sua causa ltima. No segundo caso, o postulado da lei
cclica que pretende dar conta do aparecimento do centro de luz trata de algo
independente do Ain Soph ou que impe necessidade sobre ele. Se a lei cclica
identificada com o Absoluto, o postulado se torna idntico Vontade de manifestao.
Em qualquer dos casos, desde que concordemos no domnio da teurgia que a razo no
pode ser o rbitro final no que diz respeito a isso e questes metafsicas similares, a
tradio filosfica ser simplesmente aceita como afirmao rida, sem a pretenso de
esforar-se para suprir explicaes racionais para um centro csmico de esplendor surgido
no espao.
Esse centro metafsico csmico chamado de Kether, a coroa, e a primeira
manifestao do Desconhecido, uma concentrao de sua luz infinita. Kether , tambm,
num certo sentido desconhecido, o Zohar o chamando de o Oculto. Blavatsky o considera
como o primeiro Logos, imanifesto, pois a partir dele tanto o esprito quanto a raiz da
matria csmica ainda nascero. Seu nmero um, pois o ponto no crculo alongado e
traado como um trao reto esse nmero.
Como a coroa que est acima do sistema de emanao, como o pice da rvore
da Vida que tem sua razes nos cus, descendo em desenvolvimento rumo terra, Kether
o sentido mais profundo da egocidade, constituindo o substrato da conscincia humana
e a raiz ltima da substncia. Esse ponto central, sensvel e espiritual, este centro
metafsico ou mnada metafsica de conscincia, preenche essas duas exigncias,
existindo como a real individualidade e a diviso ltima da matria. Da mnada brota a
dualidade, dois princpios distintos de atividade permanentes atravs de um perodo
inteiro de manifestao, co-existente e co-eterno. Trata-se da conscincia e da base
substantiva metafsica sobre a qual a conscincia sempre atua, substncia da raiz
csmica. Um chamado de Chocmah ± sabedoria, e ao outro atribui-se o ttulo de Binah
± compreenso. Com o intuito de tornar coisas abstratas um pouco mais compreensveis
s mentes que se esforavam para instruir nessa metafsica, uma das caractersticas dos
filsofos cabalistas era explicar, na medida do possvel, seus complexos e difceis
teoremas em termos de conduta humana, atividade humana e emoo humana. Assim
notamos que dado o ttulo de Pai a Chocmah e de Me a Binah. Todas as Sephiroth,
como so chamadas essas emanaes, abaixo daquela que chamada de Coroa, recebem
atribuies masculinas e femininas, e a atividade entre Sephiroth masculinas e femininas
em reconciliao um ªfilhoº, por assim dizer; uma Sephirah neutra atuando em
equilbrio. Assim, a rvore da Vida, compreendendo essas dez emanaes, se desenvolve
a partir da mais elevada abstrao at o mais concreto material em v rias trades de
potncias e foras espirituais. Masculino, feminino e criana; positivo, negativo e sua
resultante mescla num terceiro fator reconciliador.
Esses dois princpios ou Sephiroth, ao serem intitulados o Pai e a Me, so
tambm atribudos a letras do chamado Tetragrammaton, do qual as quatro letras so
YHVH. Relativamente a essa doutrina do Tetragrammaton, devo lembrar o leitor que as

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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atribuies desse nome e os modos de emprego exegtico so sumamente importantes, e
quanto mais clara e precisa for a compreenso desses, mais claro e preciso ser o
discernimento das frmulas prticas de magia a serem consideradas posteriormente. O Pai
recebe a letra ªYº desse nome e o primeiro ªHº atribudo Me. Da unio de Y e de H
flui o resto de todas as coisas criadas. Em outras palavras, da conscincia e seu veculo
todas as coisas so formadas, e todo ser concebvel, deus ou homem, divino ou animal,
tem sua base no Y e no H do nome divino.
Deve-se mencionar, de passagem, que a postura adotada pelo que conhecido
como Cincia Crist ao negar a existncia da matria no ratificado pela filosofia dos
teurgos. verdade que esta ltima afirma que o mundo fsico uma iluso, a saber, no
sentido de que suas formas externas esto em constante mutao, que se encontra num
estado de fluxo perptuo. Desse ponto de vista, quando observado ªde cimaº, acredita-se
ser o universo uma iluso. Mas sua existncia est fundada numa realidade, a substncia-
raiz de Binah, distinta e separada do aspecto conscincia de Chocmah. Nesse ponto
apenas, deixando de lado vrias outras brechas para discusso, a magia no tem qualquer
interesse pela Cincia Crist ou algo em comum com ela. Tanto o esprito quanto a
matria so reais, quer dizer, reais durante um perodo de manifestao; em si mesmos
so apenas modos passageiros da atividade, por assim dizer, do Ain Soph.
Expandindo atravs da totalidade do espao, usando Binah como um veculo
imediato, as energias de Chocmah do origem s sete emanaes restantes que resultam
no aparecimento do mundo fsico tangvel. Em Chocmah, o plano de mundo ideal ou
imaginativo pelo Logos que est em Kether, as idias sobre as quais o ªmundo que vir a
serº se basear. No Livro dos Mortos do Antigo Egito, o deus Tahuti ou Thoth*, a
divindade atribuda a Chocmah, visto que as caractersticas essenciais de ambos so
idnticas, ali concebido como tendo sido a ªlnguaº do criador Ptah, e ele sempre
proclamou a Vontade do grande Deus, falando as palavras que ordenavam a todo ser e
toda coisa no cu que adentrasse a existncia. Sir E. A. Wallis Budge, o eminente
egiptologista, observa no folheto informativo do Museu Britnico que trata de O Livro
dos Mortos que ªThoth concebeu as leis pelas quais o cu, a Terra e todos os corpos
celestes so mantidos; ele ordenou os cursos do sol, da lua e das estrelasº. Isso est em
harmonia total com a natureza de Chocmah, a ideao ou imaginao do cosmos, em que
todas as coisas foram primeiramente concebidas e ento realizadas e tornadas manifestas
em substncia.
* Tahuti ou Tehuti egpcio, Thoth copta. (N. T.)
A Me de todas as formas, esta Binah, a terceira Sephirah. De acordo com o
grande qabalista do sculo XVI, rabi Moiss Cordovero, esse nmero a raiz das coisas.
Substncia-raiz csmica e energia primordial so as expresses usadas por Blavatsky para
designar essa manifestao particular, chamada na Qabalah de Grande Mar. O formato
das letras da palavra hebraica para mar um glifo eloqentemente indicativo da elevao
e expanso das ondas no seio das guas. Os antigos simbolizaram muito sabiamente com
o mar a substncia virgem intocada espalhada espao afora, pois a gua plstica, de
forma sempre cambiante, e assume a forma de qualquer recipiente em que despejada. O
mar um smbolo sumamente adequado dessa substncia plstica a partir da qual todas as
formas devem ser compostas e representa uma energia ininterrupta, a despeito de ser
passiva. Diz-se que a cor de Binah o preto, visto que o preto absorve todas as outras

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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cores tal como todas as formas materiais aps inumerveis transformaes e mutaes
retornam substncia-raiz e por ela volta a ser absorvidas.
Essas trs emanaes so nicas de uma maneira especial. A Coroa, com seus dois
derivados, o Pai e a Me, concebida como Sephiroth suprema, no tendo relao com as
emanaes que dela procedem. No diagrama da rvore da Vida, as supremas so vistas
como existindo al m do Abismo, aquela grande voragem fixada entre o ideal e o real,
separando-as das emanaes que so as inferiores, o acima do que est abaixo. Tal como
as ondas se alam e afundam abaixo do nvel normal das guas sem produzir qualquer
efeito duradouro nas prprias guas, assim considerada a relao do universo real com
as Sephiroth supremas, pois elas repousam num plano completamente afastado de
qualquer coisa que possamos compreender intelectualmente. somente com o
aparecimento da quarta emanao que temos algo que realmente cognoscvel pela mente
humana.
Por essa razo, h um segundo m todo de numerao que se soma quele que j
apresentamos. As Sephiroth supremas so consideradas inteiramente independentes das
inferiores, e enquanto estas so geradas a partir de sua prpria essncia divina e no seu
interior, o ser das supremas no de maneira nenhuma afetado. Como a luz brilha na
escurido e ilumina sem sofrer diminuio de sua prpria existncia, do mesmo modo as
obras das supremas transbordam de seu ser central sem com isso diminuir em grau algum
a realidade de sua fonte. Conseqentemente, elas existem sozinhas al m do Abismo,
embora atrav s do espao seja difundida sua essncia, sua numerao se completando em
Trs. Comeando com as inferiores abaixo do Abismo, o plano da existncia finita
condicionada, a numerao comea mais uma vez com o nmero Um. Assim, cada
Sephirah, nesse sentido, possui dois nmeros, indicando um distinto desenvolvimento
duplo da corrente de vida. Chesed tanto o nmero Quatro quanto o nmero Um,
porquanto a primeira Sephirah no plano da causalidade abaixo do abismo. Jpiter, como
o pai dos deuses, s vezes atribudo a Kether no alfabeto mgico. Mas tamb m pertence
a Chesed de uma outra maneira, visto que Chesed num plano inferior o reflexo da
Coroa. A numerao direta conservada para evitar a confuso de duas s ries num ricas,
continuando de um a dez sem interrupo. apenas mencionada porque este fato por si
s pode explicar os fragmentos isolados do sistema de numerao pitagrico que, quando
aplicado rvore da Vida sem lembrar-se da dupla numerao, pode levar imensa
confuso.
Da primeira trade, ento, uma segunda trade de emanaes refletida ou
projetada abaixo do Abismo. Estas, do mesmo modo, so compostas de uma potncia
masculina e feminina com uma terceira Sephirah produzida em reconciliao direta de
maneira a harmonizar e equilibrar seus poderes. A quarta chamada tanto de Chesed, que
significa graa, quanto Gedulah, que significa grandeza, tendo os antigos filsofos lhe
designado a qualidade astrolgica denominada Jpiter. Quatro um nmero que significa
sistema e ordem, qualidades atribudas pela tradio astrolgica ao planeta Jpiter.
Segundo certas autoridades, esse o primeiro nmero a mostrar a natureza da solidez, e
como vimos acima que Chesed a primeira Sephirah abaixo do Abismo, e a primeira
das Sephiroth ªreaisº, essas observaes so justificadas. A Sephirah masculina Chesed
simboliza as potencialidades da natureza objetivizada, e atrav s da confirmao da
atribuio astrolgica, incluindo a figura mitolgica da divindade tutelar com esse nome,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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os pitagricos chamavam o Quatro de ªo maior prodgio, um deus segundo uma maneira
diferente da tradeº.
A quinta Sephirah Geburah, poder, e apesar de ser uma emanao de qualidade
feminina, sua natureza se afigura sumamente masculina. Alguns antigos afirmavam que o
cinco era um smbolo do poder criativo e que nesse conceito de criatividade e poder se
achava o carter de Geburah. uma fora formativa, como o seu nome Poder e a
atribuio planetria a Marte sugeririam, pela qual o plano formulado na imaginao
csmica e projetado como uma imagem na substncia-raiz abaixo do Abismo em Chesed
impulsionado celeremente atividade e manifestao. O cinco composto de tr s e
dois, o primeiro representando a energia passiva da Me e o segundo, a sabedoria do Pai.
No expressa tanto um estado de coisas mas um ato, uma passagem ulterior e uma
transio da idealidade para a realidade.
Seis a Sephirah desenvolvida para proporcionar harmonia e equilbrio s foras
anteriores, e seu nome Tiphareth, uma palavra hebraica que significa beleza e harmonia.
O nmero um smbolo de tudo que equilibrado, harmonioso e de boa proporo, e
como o dobro de tr s, reflete novamente as idias variadas representadas por esse
nmero. Considerando-se, portanto, que o tr s representa os reais poderes motivadores da
evoluo, o Macroprosopus ou o Logos, da mesma maneira em Tiphareth encontramos
uma reflexo devida e uniforme num Logos menor, o Microprosopus. A essa Sephirah os
qabalistas atriburam o sol, o senhor e centro do Sistema Solar. Ao consultar o diagrama
da rvore da Vida, o leitor pode perceber que Tiphareth ocupa uma posio destacada no
centro da estrutura da rvore da Vida como um todo. Os filsofos pitagricos
asseveraram que seis era o smbolo da alma, e mais tarde descobriremos que no ser
humano Tiphareth, a harmoniosa emanao do sol a Sephirah da alma do homem, o
centro do sistema microcsmico e a luminosa intermediria entre o Esprito meditativo
acima e o corpo com os instintos abaixo. Os doutores do Zohar da divina filosofia
atribuam a terceira letra ªVº do nome divino a Tiphareth, e visto que a Tiphareth o
filho do Pai e da Me Celestiais, chamada de Filho. O selo de Salomo, os tringulos
entrelaados, um verdadeiro smbolo de equilbrio, o smbolo apropriado.
Os processos de reflexo continuam, e a segunda trade composta dos nmeros
quatro, cinco e seis ± embora tenham sido eles mesmos projetados pelas Sephiroth
supremas ±, por sua vez, gera uma terceira trade reproduzindo a si mesma num plano
ainda mais inferior. A primeira dessas Sephiroth masculina ± Netzach, que significa
triunfo ou vitria. Concebe-se que o sete um nmero inteiro que representa uma
consumao das coisas, a concluso de um ciclo e seu retorno para si mesmo. Assim, na
stima Sephirah, comeando uma nova trade e concluindo a segunda srie de Sephiroth,
so resumidas novamente todas as pot ncias anteriores. Sua natureza a do amor e da
fora de atrao; o poder de coeso no universo, unindo uma coisa outra e atuando
como a intelig ncia instintiva entre as criaturas vivas. O planeta V nus, emblema do amor
e da emoo, atribudo pelos filsofos da magia a essa Sephirah; da mesma maneira, a
cor verde, tradicionalmente pertencente a Afrodite, como as foras pertencentes a essa
Sephirah esto peculiarmente ligadas ao cultivo, colheita e agricultura.
Em oposio a Netzach como segunda Sephirah da terceira trade est Hod,
esplendor ou glria, que uma qualidade feminina repetindo as caractersticas de
Chocmah num plano menos exaltado e sublime. Representa essencialmente uma

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qualidade mercurial das coisas ± sempre fluindo, em metamorfose constante e fluxo
contnuo, tendo sido denominada, acredito, ªmudana na estabilidadeº. Com ela,
detentora de natureza bastante similar, esta a nona Sephirah, Yesod, o fundamento, que
ªestabilidade em mudanaº. Tal como a tremenda velocidade das partculas eletrnicas
assegura a estabilidade do tomo, do mesmo modo as formas fugazes e o movimento de
Yesod constituem a permanncia e a segurana do mundo fsico. a nona Sephirah e por
conseguinte o nono dgito, compreendendo em si todos os nmeros precedentes.
Comumente chamada de plano astral ou alma do mundo, Yesod aquele fundamento de
sutil substncia eletromagntica no qual todas as foras mais elevadas est o focalizadas,
constituindo a base ou o modelo final sobre o qual o mundo fsico construdo. Yesod
tem natureza lunar, a lua sendo o luminar atribudo visto haver uma curiosa rela o entre
o satlite morto da Terra e a luz astral. Yesod completa as trs trades, cujo apndice
Malkuth, a dcima e ltima Sephirah, que representa em forma concreta, numa completa
cristaliza o visvel e tangvel aos sentidos, todas as qualidades dos planos precedentes.
A prpria palavra significa reino, o reino do mundo fsico e o cenrio das atividades e
encarnaes das almas exiladas de cima, a morada do Esprito Santo. No Zohar dada a
letra ªHº do nome divino a Malkuth, que chamada de Filha, sendo o reflexo mundano
do primeiro ªHº, que a M e. Essa dcima Sephirah chamada alhures de Noiva, de
Filha e de Virgem do Mundo.
Reconhecidamente, esse esboo acima oferece somente uma vista resumida e
geral do sistema numrico de evolu o e desenvolvimento csmico que tanto fez jus ao
respeito de Lvi e dele teve uma admira o t o grande e extremada. Nesse esboo
elementar ser possvel perceber claramente que os nmeros se vinculam a processos
criativos ou evolutivos, e que fundamentalmente compreendida, a natureza do nmero o
ritmo. Essa ltima afirma o importante, j que propores e atividades harmoniosas
realmente conduzem e marcam as primeiras manifestaes da Vida Una nos elementos e
substncias diversas presentes em toda parte. Essas diferenciaes s o corretamente
simbolizadas pelo nmero, que se concebe como sendo glifo precisamente dos processos
de revela o. Representam o desenvolvimento de um universo tangvel explcito a partir
de uma essncia intangvel implcita; de uma concep o ideal consuma o da forma
construda na qual o ideal encontra sua morada terrestre. Assim, para o teurgo, os
nmeros simbolizam o prprio ritmo do universo, e com seus signos apropriados eles
representam poderes e entidades com os quais o teurgo procura comungar.
H um outro aspecto da rvore da Vida que eu gostaria de abordar. Diz respeito
ao que chamado de Quatro Mundos. Esses mundos s o regies metafsicas tanto de
conscincia quanto de matria, pois a teurgia sustenta que cada estado de conscincia
possui seu prprio veculo, um estgio apropriado de substncia. Esses mundos podem
ser encarados sob dois pontos distintos de anlise, sendo que o primeiro coloca uma
rvore em cada um dos quatro mundos, oferecendo-nos assim quarenta Sephiroth no
total. Os quatro mundos s o chamados de Mundo Arquetpico, no qual os arqutipos ou
emanaes primordiais s o desenvolvidos sob a forma de uma rvore da Vida. Pode-se
imaginar tambm essa rvore da Vida arquetpica representando uma forma humana que,
no Livro dos Esplendores, chamada de Adam Kadmon, o Homem Celestial, que contm
em seu interior todas as almas, espritos e inteligncias em toda parte do cosmos. a
Alma Universal, m e e progenitora divina de todas as outras. Essa Alma o Homem

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Divino sobre o qual Lvi fala e ao qual nos referimos anteriormente; essa Alma de cuja
grande vida cada ser individual e conscincia independente participam. Os
desdobramentos que emergem desse postulado simples e as idias sugestivas que ele
suscita so demasiado numerosos para deles tratarmos nesta oportunidade. Minha
inteno primeira foi apresentar apenas um breve resumo da filosofia mgica, deixando
ao leitor a tarefa de preencher por si mesmo muitas lacunas que foram deixadas em
aberto.
A totalidade das Sephiroth em Olam Atsiluth, o mundo arquetpico, ocupa o plano
mais elevado de conscincia espiritual, o primeiro surgir de conscincia do Ain Soph. À
medida que os processos de evoluo continuam, Adam Kadmon gradualmente projeta a
si mesmo ainda mais na matria um tanto mais densa, sua unidade sendo aparentemente
fragmentada, espelhada em muitas facetas e formando o Mundo Criativo, Olam Briah.
Nesse mundo, o plano contido na imaginao criativa do Macroprosopus ainda mais
elaborado, as centelhas ou idias separadas sendo revestidas daquela condio de
substncia sutil apropriada quela esfera. Aqui, tambm, uma completa rvore da Vida
desenvolvida atravs da reflexo. Do mundo criativo, a rvore projetada para um
terceiro plano, o Mundo Formativo, Olam Yetsirah, onde as idias imaginativas do
Logos, as centelhas mondicas espirituais j revestidas na substncia mental sutil do
mundo criativo se modelam em entidades consistentes definidas, os modelos astrais que
do origem ou servem de fundamentos estveis ao mundo fsico. O mundo fsico, Olam
Assiah, o quarto e ltimo plano, e como projeo cristalizada do mundo formativo a
sntese e concreta representao de todos os mundos mais elevados.
((entra aqui em pgina inteira o diagrama da rvore da Vida))
Est encerrada nessa concepo a justificativa do axioma hermtico ªComo
acima, abaixoº. Pois aquilo que existe abaixo possui sua duplicata arquetpica ideal nos
mundos mais elevados. Em formas variadas, as idias arquetpicas encontram sua
particular representao abaixo ± pedras, jias, perfumes e formas geomtricas todas
sendo peculiarmente indicativas na esfera mundana de uma idia celestial. Essa frmula
metafsica tambm supre Lvi da devida razo para falar do ªdogma nico da magia ± que
o visvel para ns a medida proporcional do invisvelº. O mago francs tambm observa
alhures que ªo visvel a manifestao do invisvel, ou em outros termos, o perfeito
Logos est, em coisas que so apreciveis e visveis, na exata proporo com aquelas que
so inapreciveis para os nossos sentidos e invisveis para os nossos olhos... A forma
proporcional idia... e sabemos que a virtude inata das coisas criou palavras, e que
existe uma exata proporo entre idias e palavras, as quais so as primeiras formas e
realizaes articuladas das idiasº. essa afirmao filosfica da relao entre idias e
coisas que proporciona a base lgica fundamental de muito que verdadeiro em magia.
Quanto a esse ponto, teremos que voltar a ele mais tarde, pois h ao longo do caminho
algumas outras idias que exigem aprimoramento.
A frmula do Tetragrammaton tambm aplicada aos Quatro Mundos e aos
quatro elementos primordiais. A letra ªYº atribuda ao mundo arquetpico, sendo
conseqentemente o Pai, o gerador de tudo, o todo devorador dos mundos. O ªYº
tambm representa, nesse caso, o elemento fogo, anunciando a natureza impetuosa, ativa
e espiritual do Pai. O primeiro ªHº do Tetragrammaton atribudo ao mundo criativo, ao
qual, receptivo e passivo, pertence o elemento gua. Esse plano representa a Me que,

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antes que o Filho possa ser gerado, aguarda a energia criativa e o influxo da vida divina
proveniente do Pai. A letra ªVº cabe ao mundo formativo, o Filho que, como o Pai,
ativo, masculino e energtico, da ser o elemento ar sua atribuio. Completando o nome
divino temos um segundo ªHº, similar Me, passivo e inativo, recebendo quaisquer
influncias que sejam derramadas em seu interior. Em O Livro dos Esplendores, ªHº
chamado de Palcio do Rei e de a Filha, representado o mundo fsico, que a sntese de
todos os mundos.
O segundo mtodo ligeiramente diferente do que acabamos de esboar. Nesse
caso, emprega-se uma nica rvore, sendo os quatro planos assim colocados sobre ela.
Kether, a Coroa, ocupando sozinha um plano inteiro, o mundo arquetpico, o domnio
do Logos. A segunda e a terceira Sephiroth, o Pai e Me supremos, constituem o mundo
criativo, recebendo e executando a divina imaginao. O terceiro plano, ou mundo
formativo, o plano astral propriamente ± do qual falaremos mais no pr ximo captulo ±
compreendido pelas seis Sephiroth seguintes, em cujo mundo tudo preparado para a
manifestao visvel. Malkuth, o reino, o mundo fsico. Todas as atribuies relativas
primeira descrio dos quatro mundos so vlidas para este segundo mtodo, salvo o que
j observei, a saber, que esto dispostas numa nica rvore.
Antes de encerrar este captulo, preciso que seja mencionada mais uma srie de
concepes. Do ponto de vista da teurgia, o universo todo conscincia, vida e
inteligncia corporificados sob forma visvel e invisvel. Atravs do cosmos palpita e
vibra uma inteligncia, uma conscincia espiritual prefigurada em mirades de centelhas
ou mnadas, permeando toda forma, e da qual nada nesse cosmos se acha, de maneira
alguma, isento. Tal como h vrios graus de qualidade de vida mineral, animal e vegetal e
inumerveis estgios de inteligncia entre os homens, de acordo com as tradies mgicas
essa mesma escala hierrquica de inteligncia existe alm e acima do homem. No
somente se pode dizer verdadeiramente no tocante ao nosso pr prio universo, como
tambm se pode afirmar que alhures nas infinitudes do espao existem outras hierarquias
de sublimes seres espirituais e inteligncias divinas. Da Escurido ignota
incompreensvel, que Ain Soph, no h seno uma conscincia indivisvel, semelhante
no mais baixo demnio de feies caninas bem como na mais elevada hierarquia
celestial. H hierarquias de conscincia celestiais e terrestres, algumas divinas, outras
demonacas, e ainda outras que incluem os mais excelsos deuses e Essncias universais.
Esse o eixo da totalidade da filosofia mgica. Trata-se ao mesmo tempo de um
monotesmo e de um politesmo num sistema filos fico nico. O universo todo
permeado por uma Vida Una, e essa Vida em manifestao representada por hostes de
deuses poderosos, seres divinos, espritos ou inteligncias c smicas, chame-se-os
conforme se deseje. A condio e a diversidade espirituais atribuveis a eles so grandes e
intensas; entre eles h aquelas foras deficas da aurora rosada da manifestao c smica
da qual brotamos, centelhas espirituais arrojadas em sentido descendente a partir de sua
essncia divina.
Diante disso, possvel ampliar a concepo da rvore da Vida e dos Quatro
Mundos em termos de conscincia. As primeiras manifestaes so deuses ou seres da
mais excelsa conscincia que, brotando da Coroa, compreendem a Mente do Logos, ou os
administradores imediatos do plano formulado. Esses seres so os deuses, Dhyan
Chohans, Elohim, Teletarchae ± seja qual for a designao escolhida, a idia fundamental

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deve ser firmemente apreendida, ou seja, que h vastas hierarquias de seres no espao,
numa escala seqencial ordenada de descenso dos mais excelsos deuses nos mais
elevados mundos s hierarquias menores de seres anglicos dos mundos inferiores.
Conectada a cada Sephirah e cada Mundo emanado de Ain Soph h uma certa hierarquia
de deuses, cada um deles encarregado de uma tarefa especfica na evoluo e governo do
universo, e detendo uma natureza caracterstica. Tal como Kether, a Coroa, produziu as
outras Sephiroth, assim os mais excelsos deuses desenvolvem a partir de si mesmos
outras divindades menos augustas e menos sublimes do que eles prprios. Porquanto os
nmeros foram atribudos s Sephiroth a fim de simbolizar processos criativos no
cosmos, e visto que os deuses so atribudos s Sephiroth, os deuses podem tambm ser
simbolizados por nmeros e as idias associadas a um processo csmico particular podem
aplicar-se igualmente bem natureza de um dado deus. Pitgoras disse bem que ªh uma
conexo misteriosa entre os deuses e os nmerosº.
ªComo acima, abaixo.º Todas as coisas sobre a Terra t m seus prottipos
eternos nos cus, e todos os seres so reflexos simples, tmidos e dbeis dos deuses.
Quanto mais distante (metafisica e relativamente) estiver qualquer emanao de sua fonte,
mais dbil e lnguida ser em relao quilo de que procedeu. Os deuses ou Ess ncias
universais exprimem mais clara e brilhantemente a natureza espiritual inefvel de Ain, e
nos eidolons* terrestres deles, os deuses menores, tal brilho lmpido se torna mais velado
e plido, e sua expresso obstada. No homem, a sombra da imagem dos deuses, a
irradiao do esplendor de Brahma, na maioria dos casos, aparece inteiramente reprimida.
Tal como o calor para o fogo, diminuindo mais e mais medida que irradia sua
influ ncia a partir da chama, o homem para os deuses. Quanto mais se distancia deles,
mais leva a cabo um processo de autodestruio. Essa relao entre a ordem da vida e as
Sephiroth, entre os deuses, homens e nmeros explica a eficcia dos smbolos mgicos e
dos papis que eles desempenham nos ritos tergicos. Os signos e selos so
profundamente indicativos de realidades interiores, e cada smbolo particular representa
algumas das hierarquias de deuses e intelig ncias espirituais. Mediante essa doutrina de
assinaturas, cada fenmeno** indissoluvelmente conectado a um numeno***, a
eficcia da teurgia sendo assim assegurada.
* Do grego, imagens, retratos, espectros, fantasmas, simulacros. (N. T.)
** Do grego, aquilo que aparece, se mostra, se manifesta. (N. T.)
*** Do grego, aquilo que permanece oculto, velado, imanifestado. (N. T.)
O objeto da magia , ento, o retorno do homem aos deuses, o unir da consci ncia
individual durante a vida com o ser maior das Ess ncias universais, a mais abrangente
consci ncia dos deuses que so as fontes perenes de luz, vida e amor. Somente assim,
para o ser humano, possvel haver liberdade e iluminao, e o poder de ver a beleza e a
majestade da vida tal como ela realmente . Mediante o retorno em esprito s fontes das
quais proveio, apenas reabrindo a si mesmo a elas como uma flor dourada se abre e se
volta ao sol para absorver ansiosa e avidamente seu sustento e luz, pode o homem atingir
a iluminao e a suspenso das amarras e grilhes terrestres. Pela descoberta de seu
prprio deus interior em primeiro lugar e formando uma relao indissolvel com os
deuses da vida universal, ser encontrada a soluo dos problemas do homem e do
mundo. Por meio dessa consci ncia mais nobre de iluminao transmitida pela unio
divina possvel desenredar os emaranhados do caos mundial. possvel assim romper

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as amarras que prendem o homem com uma fora superior a todas as cadeias e grilhes
mortais. Nenhum rompimento desses ferros possvel a no ser por meio do
conhecimento mgico do prprio eu interior e dos deuses de toda existncia.
ªSe a essncia e a perfeio de todo bem esto compreendidas nos deuses, e o
primeiro e antigo poder deles detido por ns, sacerdotes (teurgos), e se por meio
daqueles que similarmente se prendem a naturezas mais excelentes e genuinamente obtm
uma unio com elas, o incio e o fim de todo bem seriamente ameaado ± se esse for o
caso ± aqui que a contemplao da verdade e a posse da cincia intelectual devem ser
descobertas. E um conhecimento dos deuses acompanhado do... conhecimento de ns
mesmos.º *
* Mistrios Egípcios, Jmblico.

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CAPÍTULO IV
ªExiste um agente que natural e divino, material e espiritual, um mediador
plstico universal, um receptculo comum das vibraes cinticas e das imagens das
formas, um fluido e uma fora, que podem ser chamados de certo modo de Imaginao da
Natureza... A existncia dessa fora o grande arcano da magia prtica.º
O agente mgico ao qual Lvi se refere aqui a substncia do mundo formativo
ou, mais particularmente, a esfera de Yesod ± uma palavra hebraica que pode ser
traduzida como o Fundamento ou a Base. O direto equivalente da Yesod qabalística na
filosofia teosfica tal como enunciado por Madame Blavatsky ± e nesse ensejo seguirei o
extenso esboo delineado em seu sistema e aquele formulado em Dogma e ritual de Alta
Magia, de Lvi ± conhecido como luz astral. Definido em alguns lugares como um
fluido ou meio onipresente que tudo permeia, constitudo por matria extremamente sutil,
essa luz est difundida pelo espao, interpenetrando e penetrando todo objeto ou forma
visveis. Se quisermos estabelecer tal idia diferentemente, trata-se de um plano
quadridimensional composto de uma substncia etrea luminosa num estado sumamente
tnue, substncia em sua natureza eltrica, magntica e radioativa.
ªEsse fluido ambiente e que tudo penetra, esse raio destacado do esplendor do sol
e fixado pelo peso da atmosfera e pelo poder de atrao central, esse corpo do Esprito
Santo, que chamamos de luz astral e agente universal, esse ter eletromagntico, esse
calrico vital e luminoso representado nos antigos monumentos pelo cinto de Ísis que se
enlaa num n cego ao redor de duas varas, pela serpente de cabea taurina, pela serpente
de cabea de bode ou de co, nas antigas teogonias pela serpente que devora a prpria
cauda, emblema da prudncia e de Saturno. o drago alado de Media, a serpente dupla
do caduceu e o tentador do Gnese; mas tambm a cobra brnzea de Moiss que
circunda o tao, isto , o lingam gerador; a hyle dos gnsticos e a cauda dupla que forma
as pernas do galo solar de Abraxos.º
nesses termos simblicos, eloqentes e singularmente expressivos sua
maneira, embora com ressaibo de verbosidade para o leitor final, que o mago francs
descreve a luz astral. Trata-se de smbolos sumamente interessantes e significativos, e se
bastante cuidado e ateno forem dispensados em sua interpretao, proporcionaro
considervel instruo e podero servir para revelar muitas informaes valiosas,
auxiliando na compreenso intelectual, ao menos, da natureza e das caractersticas desse
plano sutil. Vibrando a um ndice cintico diferente da substncia grosseira do mundo
fsico, e existindo assim num plano superior, a luz astral contm o planejamento ou
modelo do construtor, por assim dizer, projetado em sentido descendente pela ideao ou
imaginao do Pai; o planejamento com base no qual o mundo exterior construdo, e
dentro de cuja essncia jaz latente o potencial de todo crescimento e desenvolvimento.
Todas as foras e ªidiasº dos domnios criativo e arquetpico so representadas e
focalizadas nesse agente plstico, o mundo formativo. Ele de imediato substncia e
deslocamento, sendo o movimento ªsimultneo e perptuo em linhas espirais de
deslocamento em contrrioº. Foi o falecido Lorde Salisbury, posso aqui intercalar, que
definiu o ter como o nominativo do verbo ªondularº.
Em muitos pontos, esse mundo formativo, o recipiente das foras criativas
superiores, comparvel em seus aspectos mais inferiores ao ter da cincia. H,
contudo, uma ressalva. A luz astral foi no passado e poder no futuro ser verificada pela

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experincia direta visionria. A concepo cientfica do ter hoje difere radicalmente
daquilo que o cientista de meio sculo atrs entendia por ter luminfero. Tanto assim que
avaliado por seus padres e empregando sua linguagem, a moderna idia de ter e suas
ondas de irradiao no so realidades em absoluto. E a despeito disso, o que
suficientemente estranho, observa Sir James Jeans em Os mistrios do Universo, o ter
uma das coisas mais reais ªde que temos qualquer conhecimento ou experincia, sendo,
portanto, to real quanto qualquer coisa possivelmente possa ser para nsº. A entidade
que os fsicos experimentais hoje definiriam como ter teria que ser algo que reagisse
qualitativa e quantitativamente aos instrumentos e equaes matemticas deles. Por outro
lado, quando os teurgos se referem subst ncia magntica e eltrica da luz astral, uma
condio ou estado metafsico da subst ncia est implcito ± uma condio ou estado que
atualmente no pode ser mensurado ou observado com instrumentos fsicos, embora sua
existncia seja corroborada nos mesmos termos por uma srie de videntes treinados e
magos. Reside, como j afirmamos, num plano existencial e consciencial completamente
diferente, e suas partculas vibram de uma tal maneira e a uma tal taxa de movimento que
so inteiramente invisveis e imperceptveis aos nossos sentidos comuns exteriores.
Recentemente assistiu-se no domnio da especulao cientfica ao
desenvolvimento da teoria eletromagntica que, por motivos de ordem prtica da fsica,
descarta como desnecessria a hiptese vitoriana de um ter luminfero ondulante que
tudo penetra. No seu lugar, foi instalada como se num trono majestoso, coroada e
venerada com devoo, uma concepo matemtica ainda mais abstrata: o mltiplo ou
contnuo espao-tempo. Um grupo de cientistas inteiramente a favor da manuteno da
hiptese do ter, enquanto muitos outros, no menos famosos e de menor autoridade,
esto igualmente convictos de que uma tal estrutura sutil como o ter inexiste e nem
sequer possvel. Admitem-na apenas como uma estrutura terica de referncia, caso em
que assume o papel de uma hiptese de trabalho destituda de qualquer grau de realidade
objetiva. Um exame das definies cientficas desses dois grupos de cientistas, entretanto,
revela o fato de que pelas expresses ter e contínuo espao-tempo quadridimensional
indicam um nico e mesmo conceito. Sir Arthur Eddington, em uma de suas recentes
obras, ao fazer referncia a esses dois conceitos cientficos, expressou a opinio de que
ambos os partidos querem dizer exatamente a mesma coisa, sua ciso estando somente
nas palavras. Sir James Jeans, em sua obra anteriormente mencionada, observa
cautelosamente com relao a essa obscura questo que parece apropriado descartar a
palavra ªterº a favor dos termos mais modernos ªmltiploº ou ªcontnuoº, apesar de o
princpio essencial permanecer quase totalmente inalterado. Em outra parte, nessa mesma
obra de erudio, o sbio cientista assevera que todos os fenmenos do eletromagnetismo
podem ser considerados como ocorrentes num contínuo de quatro dimenses ± trs
espaciais unidas a uma temporal ± no qual impossvel separar o espao do tempo de
qualquer maneira absoluta. Chamo ateno particularmente para essa observao porque
se enquadra aproximadamente na natureza de uma exata confirmao daquilo que os mais
eminentes magos de todos os tempos escreveram relativamente a Anima Mundi ou o
Azoth. possvel indicar bem grosso modo as demais observaes de Jeans dizendo que
se desejarmos visualizar a propagao de ondas luminosas e foras eletromagnticas
tomando-as como distrbios num ter, nosso ter poder ser considerado uma estrutura

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quadridimensional que preenche todo o contnuo, estendendo-se assim por todo o espao
e todo o tempo, caso em que todos ns desfrutamos do mesmo ter.
Esse ter da cincia que todos podem desfrutar e que se estende ao longo do
espao e do tempo, servindo como o meio das vibraes de todos os tipos, difere em
poucos pontos essenciais da luz astral de Lvi. A definio em que insistem
constantemente os teurgos relativamente a esse plano etreo que se trata de um estgio
de substncia plstica refinada, menos densa e grosseira que aquela que vemos
normalmente em torno de ns, de natureza magntica e eltrica, servindo como o
fundamento real sobre o qual as formas e acmulo de tomos do universo f sico se
ordenam a si mesmos. o plano que, em seu aspecto mais inferior, constitui a verdadeira
cloaca do universo, compreendendo aquela faceta da conscincia que dirige os instintos e
as energias dos animais; em suas ramificaes superiores, elevando-se alm dessa esfera
mundana, realmente faz fronteira com o divino. Que assim pode-se compreender por
meio da referncia rvore da Vida, na qual v-se que o Mundo Formativo no inclui
apenas a esfera de Yesod, mas naquela classificao da rvore em Quatro Mundos, ela se
estende bem alm de Yesod, de modo a incluir Tiphareth, a casa da Alma, mesmo at a
beira do Abismo. A esfera do Fundamento somente sua fase mais inferior. Como Yesod
apenas, aquela regio grosseira do cosmos metaf sico que contm os restos astrais
rejeitados das criaturas vivas, a sujeira bestial e mental descartada pelos seres humanos
na sua ascenso aps a morte a esferas mais elevadas. Nos seus aspectos de Chesed e
Geburah, a mais pura expresso do cu, por assim dizer, a morada devachânica.
Relativamente a essa maneira de consider-lo, ocasionalmente chamado de divino
Astral, e de Alma do Mundo.
ª em si mesmo uma fora cega, mas pode ser dirigida pelos l deres das almas, os
quais so esp ritos da ao e da energia. de imediato a teoria por inteiro dos prod gios e
milagres. Como, de fato, poderiam tanto o bem quanto o mal constranger a natureza a
expor suas foras excepcionais? Como poderia o esp rito rprobo, desviado, perverso
deter em alguns casos maior poder que o esp rito da justia, to poderoso em sua
simplicidade e sabedoria, se no supormos a existncia de um instrumento do qual todos
podem fazer uso, sob certas condies, de um lado para o maior dos bens, do outro para o
maior dos males?º Quero insistir enfaticamente com relao a esta dupla interpretao do
ter mgico que Lvi aqui apresenta, que nele esto inclu dos um elemento inferior vil e
um elemento superior nobre. O primeiro a base da causa feita por si mesma de muitos
dos males da espcie humana, o segundo o fogo central e a Alma do Mundo. O divino
Astral solar e celestial por natureza, enquanto que o grosseiro Astral lunar, reflexivo e
puramente automtico. Blavatsky confirma essa hiptese da natureza dupla da luz astral
nos seguintes termos: ªA luz astral ou Anima Mundi dupla ou bissexual. Sua parte
masculina (ideal) puramente divina e espiritual, a sabedoria, Esp rito ou Purusha;
sua poro feminina maculada num certo sentido pela matria, efetivamente matria, e
portanto j o mal*.º Desnecessrio afirmar que o teurgo diz respeito inteiramente s
mais elevadas regies da luz astral, os fogos solares.
* A doutrina secreta, v. I.
Do ponto de vista prtico, esse plano o agente mgico ao qual a viso treinada e
acumulada dos teurgos atribuiu o poder de transmitir vibraes e impresses no somente
de luz, calor e som f sicos, mas tambm aquelas vibraes mais sutis e menos tang veis,

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que no so, todavia, menos reais por sua imperceptibilidade, que pertencem a correntes
projetadas de Vontade, pensamento e sentimento. Lvi chama esse instrumento de
imaginao da natureza, porquanto est sempre vivo de ricas formas, sonhos exticos,
imagens luxuriantes, o veculo imediato das faculdades mentais e emocionais. O controle
desse plano constitui de um certo ponto de vista a Grande Obra. Alguns magos, inclusive
o ilustre Lvi, opinavam que o segredo mgico central o da orientao sob vontade
desse arcano. Sendo o veculo em que so registradas dinamicamente as paixes e
impresses mentais de toda a espcie humana, a memria da natureza inferior, e estando
presente na Terra todo o tempo, visto que tudo penetra e um plano destacado do fsico,
seu contedo deve influenciar muito as mentes de homens dbeis e sensveis. E no
apenas esses ltimos, como a maioria das crianas da Terra influenciada de alguma
maneira pelas correntes que ondulam por sua substncia. Por conseguinte, postar-se
isolado em relao s suas cegas ondulaes e transcend-lo cabalmente a ponto de se
mover naquele estrato mais elevado que sua alma no constitui realizao desprezvel,
mas sim digna de todas as energias humanas.
Uma moderna autoridade em magia, aquela cujo pseudnimo Therion, declara
que nos estratos superiores da luz astral ªdois ou mais objetos podem ocupar o mesmo
espao ao mesmo tempo sem interferncia entre si ou perda de seus contornos. Nessa luz,
os objetos podem alterar sua aparncia completamente sem sofrer transformao de sua
natureza. A mesma coisa pode revelar a si mesma num nmero infinito de aspectos
distintos. Nessa luz -se clere sem ps e voa-se sem asas; pode-se viajar sem se mover e
se comunicar sem as formas convencionais de expresso*.º No que diz respeito ao
processo de viajar no corpo de luz, a autoridade que citei acima acrescenta que ali somos
insensveis ao calor, ao frio, dor e a outras formas de percepo sensorial, que nessa luz
estamos presos pelo que superficialmente pode parecer uma srie inteiramente diferente
de leis. Nesse plano, que o agente mgico par excellence, smbolos, emblemas e selos
no so convenes intelectuais e nem mesmo representaes arbitrrias de idias
universais e foras naturais; so entidades vivas absolutas, possuindo nesse plano vida e
existncia reais e independentes que lhes so prprias. À primeira vista, isso pode no
parecer importante, mas tal afirmao realmente de mxima importncia no trabalho
mgico. Os smbolos representam no plano astral entidades reais e tangveis. No captulo
anterior nos esforamos para demonstrar que os nmeros indicavam com profundidade os
processos de evoluo e de desenvolvimento e expressavam sinteticamente tanto o ritmo
csmico quanto certas foras e inteligncias ocultas a que damos os nomes de deuses,
Dhyan Chohans e Essncias. A esses nmeros que representam foras imensamente
poderosas so aplicveis vrios selos e pictogramas, os quais possuem nesse Mundo
Formativo uma existncia que no em absoluto simblica no sentido no qual
entendemos normalmente esse termo, mas real, vital e viva. Na substncia plstica e
malevel da luz astral esses smbolos podem ser galvanizados atividade por uma
vontade e uma imaginao treinadas. Essa substncia peculiarmente suscetvel aos
vos e s obras da imaginao, esta ltima possuindo o poder de transformar seu fluxo
perptuo e deformidade em moldes e matrizes que a vontade capaz de estabilizar e
energizar poderosamente numa dada direo. Entre numerosos exemplos est registrado
aquele de uma mulher grvida que, tendo experimentado um choque nervoso, a impresso
foi imediatamente transferida atravs do meio da imaginao atuante sobre a luz astral ao

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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feto em formao gerado em seu tero. Historicamente, as deusas que presidiam entre os
antigos ao nascimento eram deusas da lua e, conseqentemente, da luz astral. Considera-
se entre essas raas que a lua possui maior poder para acelerar o desenvolvimento da
vida, das plantas e de toda a vegetao que o prprio sol. Sempre foi tida como o astro da
mudana, da gerao e da fertilidade. Em A doutrina secreta h muita informao e
especulao incomuns a respeito da relao oculta entre a lua e o nosso planeta, embora o
mero saber que essa relao realmente exista seja suficiente para finalidades prticas por
parte do novio. A conexo da lua com a luz astral , entretanto, inteiramente vlida, a
maioria das autoridades nesse ponto estando de pleno acordo. Astrologicamente, a lua o
planeta que simboliza mudana e fluxo, e as contnuas alteraes das formas, a troca das
condies. No plano astral, a viso treinada registrou que ali as configuraes mudam de
forma, cor e tamanho da maneira mais extraordinria; e para o novio em Skrying
constitui um fen meno sumamente desconcertante e enigmtico ver um conjunto de
percepes desvanecer-se sob seu prprio nariz para ser substitudo por um outro grupo
de cenas que ter muito brevemente o mesmo destino. Trata-se de um caleidoscpio
oscilante de fen menos, sendo que as figuras, formas e energias nunca esto imveis. Por
conseguinte, estabelecer uma relao entre a lua e a luz astral uma correspondncia
perfeitamente bvia. Ademais, foi observado que a lua no brilha graas sua prpria luz
interna e autogerada, mas sim por refletir os raios do sol. Yesod, a esfera da lua na
rvore da Vida, est colocada imediatamente abaixo de Tiphareth, a esfera do sol,
refletindo assim as foras criativas de cima para baixo. H muitas outras razes altamente
significativas, demasiado numerosas para aqui serem citadas, a favor dessa associao da
lua com a luz astral, conquanto o estudo e o experincia mgica provam a validade e
preciso da correspondncia.
* Magick, Mestre Therion.
Nas lendas de todos os povos, mesmo dos das mais primitivas tribos selvagens,
est presente a concepo da luz astral como meio das vibraes do pensamento e dos
atos mgicos. Sir J. G. Frazer, o eminente antroplogo e autoridade em folclore, registra
muitas delas em sua A rama dourada. Muitos outros autores tambm discutiram a
natureza dessa fora hipottica reconhecida pelos primitivos, sem ter se aproximado de
qualquer clara formulao de sua natureza como o grande agente mgico, o que
dificilmente se poderia esperar, visto que seus estudos e pesquisas jamais deixam, por um
nico momento, o plano acadmico. Os melansios das ilhas do mar do sul acreditam,
segundo afirmao do professor Bronislaw Malinowsky em seu pequeno livro sobre
mitos, num depsito ou reservatrio de fora sobrenatural ou mgica a que deram o nome
de mana, o qual, como uma fora similar concebida como Orenda pelos ndios norte-
americanos, cr-se ter seu centro na lua. Essa ltima parece, por assim dizer, encerrar um
tanque gigantesco desse poder oculto que pareceria por eles ser associado com a fonte da
vida e da energia. No difcil perceber que essa concepo ± imperfeitamente registrada
pelos antroplogos, ou imprecisamente descrita pelos primitivos, difcil dizer, sendo
provvel que a falha exista dos dois lados ± seja uma formulao muito vaga daquela
realidade que em magia chamamos de luz astral.
Foi, contudo, com absoluta clareza reconhecida pelos teurgos egpcios, sendo que
em relao a isso no h o transtorno de teorias ou descries vagas, pois observamos que
quase cada jarda dos chamados mundos superior e inferior, Amentet e Tuat, que so os

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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dois aspectos, inferior e superior do plano astral, cuidadosamente mapeada e suas
qualidades observadas. E como se no o bastasse, em alguns dos captulos de O livro dos
mortos, cada subdiviso descrita com preciso em benefcio dos mortos ± e,
conseqentemente, em beneficio do teurgo ± acrescendo-se os nomes dos guardies e
vigias dos pilões atravs dos quais a alma defunta tinha que passar a fim de obter o
ingresso em alguns outros sales do reino de Osris. Repetindo a viso egpcia, Budge
menciona que o Tuat no era considerado o subterrneo seja do cu, seja de seus limites;
mas estava localizado nas fronteiras do mundo visvel; que no se tratava da um lugar
particularmente feliz, percebe-se pela descrio de O livro dos mortos, quando o escriba
Ani ali chegou, aparentemente desnorteado, ªNo h gua ou ar aqui, sua profundidade
insondvel, to escuro quanto a mais escura das noites e os homens vagueiam sem
esperanaº. Uma observao final do venervel protetor das Antigidades egpcias do
Museu Britnico que o Tuat era uma regio de destruio e morte, um lugar onde os
mortos apodreciam e se deterioravam, um lugar de abominao e horror, terror e
aniquilamento; que isto coincide perfeitamente com as esferas astrais inferiores de
desintegrao ou kama loka pode-se tomar por certo.
O divino astral era conhecido como o reino de Osris ou Amentet; tambm
chamado de ilha da verdade onde nenhuma alma podia ser conduzida aps sua morte at
que fosse declarada ªde palavra verdadeiraº pelos deuses na Grande Avaliao. Um canto
dessa regio era especialmente reservado como morada das almas beatificadas, onde
Osris, na qualidade de deus da verdade, era a esperana e consolo eterno daqueles de
disposio espiritual. Teosoficamente, Amentet poderia ser denominado Devachan, a
morada dos deuses, e de um ponto de vista te rgico ocuparia aquela parte do Azoth qual
demos o nome de divino astral. De acordo com O livro dos mortos h sete grandes salões
e vinte e um pilões que do acesso a essa regio celestial, havendo para cada um dos vinte
e um piles dois vigias ou guardies sagrados. Numa outra parte desse Livro so dados
com certo detalhe os nomes dos arautos e guardies de portas mais as frmulas de magia
prtica mediante a qual eles podem ser sobrepujados o ingresso ilha da verdade
realizado. To precisos eram os magos egpcios em seu pensamento que imaginavam
correspondncias entre as vrias divises do Egito e os domnios metafsicos do Tuat e
Amentet. Cada uma das vrias camadas ou regies do mundo astral, tanto grosseira
quanto divina, era mapeada com uma preciso que mesmo hoje no encontra com que
rivalizar ou se igualar.
H um outra analogia bastante significativa para a qual devemos dirigir nossa
ateno. Entre psicanalistas oficiais encontramos o conceito de inconsciente. Esse termo
implica uma corrente dinmica de pensamento, memria e tendncia que flui abaixo do
nvel de nossa conscincia normal individual, servindo como o receptculo de instintos e
memrias raciais e aqueles complexos que so com freqncia o resultado de conflito
consciente. Como essa coleo de instintos e impulsos automticos possui uma origem na
evoluo muito anterior formao e desenvolvimento do intelecto no homem, ,
conseqentemente, mais poderosa e urgente dentro dele. dessas camadas de hbito e
conscincia racial herdada que se supe que os primitivos tenham extrado a elaborao
de seus eloqentes mitos e lendas. Esses so, assim, no somente um registro de histria
pr-histrica da raa, mas tambm uma expresso dinmica daquilo que esses psiclogos
chamariam de inconsciente coletivo, visto que com respeito a toda raa e povo primitivos,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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independentemente de ter havido ou no relao e comunicao sociais, mitos e lendas
so essencialmente idnticos. Considerando-se que aquilo que os analistas chamam de
inconsciente praticamente sinnimo num certo aspecto do que os cabalistas denominam
Nephesch, e considerando-se que este ltimo se funda na luz astral do mesmo modo que o
corpo fsico se funda e se forma a partir da matria grosseira, h entre a luz astral e o
conceito de inconsciente coletivo uma clara correspondncia. Tal como o inconsciente no
caso de alguns indivduos uma entidade vulcnica subterrnea que despedaa a
integridade e unidade da conscincia, do mesmo modo a tradio mgica assevera que
ao aspecto inferior da luz astral, o dep sito de mem rias raciais, apetites predat rios,
instintos e todos os impulsos animais, que uma grande parte da espcie humana deve seus
problemas, enfermidades e lamentveis fontes de conflito. sobre essa parte de Nephesch
ou do inconsciente que o mago, afirma Lvi, tem que assentar seu p, de maneira que seja
conquistada, controlada e mantida em seu lugar adequado. Ao mesmo tempo, entretanto,
o chamado inconsciente com sua riqueza de material animado, sua fertilidade de idias e
sugestes impressivas pode ser para algumas pessoas a fonte de inspirao potica e
artstica. Esse aspecto do inconsciente, o aspecto mais elevado ou divino da luz astral, ou
Neschamah no homem, o que o mago busca cultivar e expandir, visto que graas ao seu
crescimento, desenvolvimento e facilidade de expresso ele opera tambm sua pr pria
integridade individual e a habilidade de superar a si mesmo.
No interior dessa luz astral que individualmente trazemos conosco em todas as
ocasies e em todos os lugares, vivemos, nos movemos e somos. Cada pensamento que
temos grava uma impresso indelvel na substncia impressionvel daquele plano ± na
verdade a tradio sustenta que ele se funde com alguma das criaturas daquele plano e
ento transferido de nosso controle imediato para esse oceano pulsante de vitalidade e
sentimento para influenciar outras mentes no bem ou no mal. Toda coisa viva respira e
absorve essa luz livremente, no sendo exclusividade ou particularidade de nenhuma. De
fato nela vivemos muito semelhantemente a um peixe na gua, circundados por todos os
lados e em toda direo; e como um peixe n s constantemente a aspiramos e expiramos
atravs de guelras astrais, por assim dizer, dela extraindo energia e para ela acrescentando
uma variedade de impresses a cada momento. No s este agente mgico a
imaginao da natureza, como tambm desempenha o papel de memria da natureza,
pois cada ato que realizamos, cada pensamento que atravessa nosso crebro, cada emoo
ao deixar nosso corao registram a si mesmos na matria astral, permanecendo a por
todo o tempo como um registro eterno, de modo que aqueles que so capazes possam ver
e ler. Quanto a isso, liphas Lvi observou de maneira significativa que ªO Livro das
Consciências, o qual, de acordo com a doutrina crist ser aberto no dia derradeiro, nada
mais do que a luz astral na qual esto preservadas as impresses de todo Logos, que
toda ao e toda forma. No h atos solitrios e no h atos secretos; tudo o que n s
verdadeiramente queremos, ou seja, tudo o que confirmamos por nossas aes, est
escrito na luz astral”.
Embora alguns possam pensar que para o teurgo dificilmente possa haver algo
mais interessante e esclarecedor do que examinar a mem ria dessa luz, no esta a ao
do teurgo, pois isso nem o interessa nem lhe til na prtica. Como seu objetivo a
aquisio de autoconhecimento e a unio divina, seria uma certa perda de tempo precioso
envolver-se na transliterao desse registro. A despeito de ser necessrio ao mago

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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investigar a natureza dessa luz em seu corpo de luz e familiarizar-se com os aspectos
variados de conscincia que esse plano continuamente apresenta, no que diz respeito ao
seu prprio trabalho, ele sempre procura ascender aos domnios espirituais mais gneos.
Seu interesse na luz astral, sendo esta um plano magntico dinmico, no sentido da
mesma lhe servir mais pronta e adequadamente do que qualquer outra coisa para focalizar
as foras e inteligncias com as quais ele aspira entrar em contato. Em segundo lugar,
porque nessa luz ou em suas camadas superiores ele pode perceber a si mesmo em
reflexo, como os outros o vem, por assim dizer, e assim obter dados confiveis que o
conduzam ao autoconhecimento.
Separando o bem do mal, o ter solar divino do ter lunar malfico, ocorre
automaticamente uma diviso nessa luz. Nesse plano parece que os pensamentos impuros
dos homens perduram por um perodo mais longo que os bons pensamentos, porque esses
aparentemente sobem s camadas mais elevadas, s regi es de harmonia e s partes
superiores do mundo da formao. O resultado que a luz astral, cujo espao lunar
povoado pelos elementos mais grosseiros e maliciosos do ser, torna-se gradualmente cada
vez mais contaminada, sua sujeira pairando sobre a espcie humana como uma mortalha
txica mortfera. Nos livros da Cabala, os constituintes dessa mortalha venenosa so
comparados aos Qliphoth ou casc es excrementais dos estgios mais baixos de
existncia. So os crtices adversos, ªdemnios de rosto caninoº de acordo com os
orculos caldeus ªnos quais no h trao de virtude, jamais mostrando aos mortais
qualquer sinal de verdadeº. esse aspecto da luz astral que para cada ser humano a
serpente sedutora do mal do Gnese, e aquele aspecto cego que tem que ser
transcendido pelo teurgo, visto que sendo representado em sua prpria constituio o
que obsta a execuo da Grande Obra. Se esse processo de preenchimento do plano astral
com os Qliphoth continuasse indefinidamente, sem qualquer meio adequado de elimin-
lo e proceder a uma purificao, resultaria no envenenamento total da espcie humana por
suas prprias emana es vis. A despeito de todos os esforos do modesto grupo de
msticos e teurgos ao longo das eras, que transmutam atravs de suas prprias vidas e
realiza es espirituais os elementos baixos em bem duradouro e afvel, o mal se torna
mais pesado em cima do que embaixo, por assim dizer. A excessiva fora malfica
ento precipitada de acordo com as leis naturais e cclicas. Essas precipita es de
impureza astral ocorrem realmente sob as formas de convuls es desastrosas da natureza.
Terremotos, incndios e enchentes elementais, e crimes e doenas cataclsmicas so
algumas de suas manifesta es. Escrevendo profundamente para confirmao desse
parecer, liphas Lvi declara a convico de que a luz astral ªa fora misteriosa cujo
equilbrio a vida social, progresso, civilizao e cujo distrbio a anarquia, revoluo,
barbrie, de cujo caos um novo equilbrio finalmente se desenvolve, o cosmos de uma
nova ordem, quando uma outra pomba paira sobre as guas enegrecidas e turvas. Essa a
fora pela qual o mundo transtornado, as esta es so mudadas, pela qual a noite da
misria e desgoverno pode ser transfigurada no dia do Cristo... na era de uma nova
civilizao, quando as estrelas da manh cantam em conjunto e todos os filhos de Deus
proferem um brado de alegriaº.
Assim, ao mesmo tempo, a luz astral um nimbo de mxima santidade e uma
serpente vil de destruio, a mais excelsa concepo de um domnio celestial bem como
do mais abjeto inferno de depravao. Se atravs dos canais da luz astral que so

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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executadas as calamidades universais, e se a anarquia e as catstrofes so o produto de
seu desequilbrio e perturbao, segue-se que atravs desse meio, tambm, pode uma
ordem nova e aprimorada de equilbrio e harmonia ser instituda sobre a Terra mesmo em
nosso prprio tempo. Uma civilizao mais amvel pode, assim, ser o resultado da
presente passagem a esmo pelo caos e a confuso ignbil. Eis aqui, ento, uma chave
nossa disposio.
Alguns tm acusado o teurgo de ser egosta no sentido de parecer primeiro
empenhar-se a favor de sua prpria salvao. Na realidade, seu juramento diz respeito a
essa grande realizao, essa transfigurao do mundo de desgoverno num aeon mais
claro; ele jurou ser o arauto invisvel e silente de um mundo novo e melhor.
Superficialmente pode parecer que ele tenta lograr um grau de conscincia espiritual para
si mesmo apenas, e que no se importa em absoluto com o bem-estar da humanidade.
Mas seus esforos para alcanar a divindade finalmente redundam no sumo proveito do
caminhar normal da espcie humana. ªEu ...º, disse um sbio, ª...se for erguido, erguerei
toda a humanidade comigo.º Assim com o teurgo. Proclo observou que por meio das
invocaes mgicas e a unio espiritual, as essncias divinas parecem de algum modo
descer ao mundo e encarnar entre as fileiras dos homens. Quando o teurgo consumou a
unio com a Alma Universal e se tornou uno com as grandes essências que constituem a
alma e inteligência diretora de Ado Kadmon, o homem celestial, est no domnio de seu
poder prestar realmente um servio incomparvel espcie humana, pois esta ter sido
sumamente exaltada pela descida dos deuses. Ser, ento, uma decisiva possibilidade
executar as necessrias mudanas na subst ncia plstica e arqutipos do mundo da
formao, que atuaro eles mesmos conseqentemente no plano fsico e ajudaro a elevar
as mentes dos homens e restaurar a harmonia e ordem eternas das esferas, fontes da vida e
do ser. Mas enquanto o mago no tiver ele prprio institudo harmonia no mbito de sua
prpria conscincia, seu poder ser limitado. Enquanto a beleza e a iluminao no
constiturem a ordem de sua prpria vida e enquanto ele no tiver equilibrado aquela
esfera com as Essências Universais, os centros perenes da luz e da vida que sustentam o
universo em todas as suas ramificaes, no ser capaz de concretizar de maneira cabal
esse sonho utpico da humanidade.

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CAPTULO V
Em relao complexa controvrsia filosfica de sculos relativa subjetividade
ou objetividade dos fenmenos, h alguns problemas sumamente abstrusos a serem
resolvidos por cada teurgo. Cada um desses problemas clama imperiosamente por
resposta. A Cabala deixa toda a questo aberta para ser respondida eventualmente sob a
luz da experincia espiritual. Esse grande problema no pass vel de ser descurado,
embora a prtica mgica no precise necessariamente ser afetada por uma opinio
sustentada preferivelmente a uma outra. Muitos teurgos preferiram o bvio ponto de vista
direto isento de todas as complexidades da metaf sica. Considera todas as coisas
individuais, os deuses e todas as foras da natureza como existindo independentemente
entre si e exteriores conscincia individual; que o teurgo no passa de uma poro
infinitesimal da grandeza majestosa da universalidade. Essa teoria pressupe que as
hierarquias espirituais existem da maneira mais objetiva conceb vel. Em algum lugar do
universo em algum plano sutil invis vel h uma inteligncia chamada Taphthartharath,
por exemplo, que um ser to real em seu prprio modo como o alfaiate de algum o
no seu, e que como o alfaiate ele responde quando convocado atravs dos mtodos
apropriados. Taphthartharath assim to independente dos sentidos e conscincia do
mago quanto este independente dos sentidos de uma mosca domstica ordinria.
Ambos existem objetivamente cada um em seu prprio plano sua prpria maneira. As
mesmas observaes se aplicam aos vrios planos sutis da natureza com os quais o mago
entra em contato. Embora sejam invis veis e compostos de uma substncia sutil ssima e
rarefeita, ainda assim, do mesmo modo, so objetivos para sua prpria mente. Assim, o
progresso na teurgia implica uma unio real entre a conscincia menor do mago e a
conscincia maior do deus. O primeiro assimilado prpria estrutura e natureza do
segundo.
Um dos postulados fundamentais da magia que o homem uma imagem exata
em miniatura do universo, ambos considerados objetivamente, e que aquilo que o homem
percebe como existente externamente est tambm, de alguma maneira, representado
internamente. Uma interpretao dessa idia fornecida por Blavatsky ± e, na verdade, por
todos os filsofos ocultistas, inclusive Steiner e Heindl ± que o homem foi formado pela
ao de diversas hierarquias criadoras, sendo que cada uma delas no apenas contribuiu
com alguma parte de si mesma, como tambm efetivamente desceu Terra e se encarnou
em natureza humana. Evidncias semelhantes existem no Livro dos Mortos,
demonstrando que entre os eg pcios no havia nenhuma parte do homem que no
estivesse relacionada com as essncias universais; que cada membro e parte de sua
natureza era, na verdade, o membro de algum deus. Com base nessa teoria, os deuses e as
essncias universais passam a ser apreendidos no dom nio da constituio interior do
homem, prestando-se interpretao de que a arte tergica no envolve a convocao de
entidades exteriores, que o caso da teoria da objetividade, mas sim a revelao das
faculdades inerentes ao prprio ser humano. Desse ponto de vista, a experincia m stica
no se refere primariamente a qualquer assunto externo. Formulando esse elemento de um
modo um pouco mais preciso, a transformao espiritual da unio fundamentalmente
um reajuste de elementos ps quicos entre si, o que capacita a mquina inteira a funcionar
harmoniosamente. No h necessariamente introduo atravs dos canais do ritual mgico
de novas idias, ou deuses. Graas a esse meio ocorre uma expulso de idias decadentes

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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que obstruram o processo vital com conseqncias desastrosas. A organizao psquica
ou alma no estivera em harmonia consigo mesma, e atravs dos mecanismos da magia
ela agora gira verdadeiramente em torno de seu prprio eixo, e ao faz-lo encontra
simultaneamente sua verdadeira rbita no sistema csmico. Tornando-se una consigo
mesma, efetuando este reajuste dinmico, esta retomada da integridade de sua
conscincia, ela se torna una com o universo, ou com alguma poro do universo. O
processo anlogo ao que acontece no plano fsico com uma pessoa cuja mandbula, por
exemplo, deslocada. O infeliz com uma mandbula deslocada no est apenas em
desarmonia consigo mesmo, como tambm com o universo; nem seus prprios esforos
nem aqueles de seus amigos podem ajud-lo. Mas ento surge um cirurgio que,
aplicando uma ligeira presso, coloca a mandbula no lugar; aquele homem devolvido
harrmonia e ± claro ± o universo estaticamente transformado. Assim, a ªunio com um
deusº e o xtase que da advm so o resultado de harmonizar ou equilibrar por meio da
magia as vrias at ento conflitantes ou separadas pores da conscincia. Nada novo
foi acrescentado mente ou invadiu a esfera da conscincia a partir do exterior para que
um homem devesse estar to iluminado e capacitado a perceber com fino arrebatamento a
beleza da natureza e a glria esplndida no corao de todas as coisas. Certos centros de
sua mente ou idias poderosas, at aqui latentes no interior dos departamentos de seu
prprio ser, foram estimulados a tal ponto que uma sntese mais elevada e um mundo
melhor so revelados.
Visto que sua prpria conscincia que o mago deseja influenciar, expandir e
elevar-lhe os limites, preciso apresentar uma breve exposio dos mtodos pelos quais
os teurgos concebem essa conscincia. Previamente, a rvore da Vida foi considerada
como um smbolo numrico da progresso ordenada do universo a partir da idealidade;
como um meio de classificao para referncia sistemtica das hierarquias espirituais; e,
em terceiro lugar, como a estrutura de referncia para idias, smbolos e signos que esto
presentes na magia prtica. As Sephiroth podem ser pensadas como foras csmicas,
como emanaes cuja esfera principal de operao se acha no macrocosmo. Por analogia
e j que o ser humano , por definio, o microcosmo, princpios similares tm
preponderncia na economia humana. As hierarquias de deuses, sendo csmicas em suas
atividades, so tambm, das mais grandiosas s mais modestas, representadas em alguma
parte dos princpios que na sua totalidade compreendem o que conhecemos como homem,
exatamente como elas em si mesmas, como a totalidade das foras csmicas, so
includas na concepo unificadora do Homem celestial. O poeta celta A. E. em seu mais
recente trabalho, Song and its fountains [A cano e suas fontes], no qual ele se empenha
para descobrir a fonte da criao lrica numa entidade espiritual interna alm da
imaginao, percebe com suma beleza essa concepo. ªPenso que poderamos descobrir
se nossa imaginao profunda fazendo os raios de nossa personalidade transbordarem
para algum zodaco celeste. E, como em sonho, o ego drasticamente dividido em isto e
aquilo e tu e eu, de sorte que na totalidade de nossa natureza esto todos os seres que os
homens imaginaram, aeons, arcanjos, domnios e poderes, as hostes das trevas e as hostes
da luz, e podemos trazer este ser mltiplo a uma unidade e ser herdeiros de sua sabedoria
imensurvel.º
Dos grandes seres que surgiram na alvorada do tempo ao mais baixo elemental e
eon, todos os deuses e foras celestes esto contidos no homem, que o templo vivo do

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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Esprito Santo. A Coroa, a primeira Sephira, representa o esprito auto-existente, eterno,
supremo, que no nasce e no morre, e que persiste sublimemente ao longo das eras
fugazes. Chamado pelos Zoharistas de Yechidah, o ªÚnicoº, por definio um ponto de
conscincia metafsica e espiritualmente sensvel, indivisvel e supremo, o centro do qual
flui a energia e fora do homem. O homem ntegro um esprito, um centro eterno de
conscincia, todos os outros princpios sendo variaes de suas atividades, invlucros de
sua prpria substncia, espiritualidade e corporeidade sendo to-s duas facetas de uma e
mesma essncia. A mônada como um espelho e, embora imutvel em si mesma, reflete
ao mesmo tempo a harmonia de todas as outras mônadas com as quais, no corpo de Ado
Kadmon, est em conjuno indivisvel. Seus veculos diretos so os poderes de Chokmah
e Binah ± Sabedoria e Compreenso, os dois plos manifestos do instrumento criador que
ela emprega. E, no entanto, no so apenas instrumentos, mas, na realidade, os mais
elevados aspectos da atividade do ser espiritual cuja luz consagrada infinita e eterna. No
homem essas duas Sephiroth so representadas pelos princpios chamados Chiah e
Neschamah, a vontade e a alma espiritual cuja natureza intuio. Existindo no plano
da criao, refletindo as potncias que emanam do Eu divino no mundo arquetpico, a
vontade e a alma constituem com a m nada o imperecvel homem inaltervel. No a
m nada sozinha, pois como princpio demasiadamente abstrato e espiritualmente
indiferente para ser concebido como homem, mas essa trindade de Sephiroth forma
coletivamente uma unidade metafsica que o deus interior, o criador na vida individual,
o artista e o poeta, o gnio cujas criaes ideais so projetadas a partir de sua prpria
essncia divina para dentro da conscincia de despertar-de-um mundo de seu veculo
imediato. essa trade celestial, a m nada com seus veculos da vontade e intuio, a
qual efetivamente um deus, uma inteligncia divina na Terra para a obteno de
experincia e autoconscincia. Quanto mais se entra em comunho com essa entidade e
quanto mais firmemente est a conscincia pessoal entrincheirada em sua conscincia
mais terna e mais extensiva que tudo abarca, mais se compreende plenamente o
sacramento da encarnao, atingindo o esplendor total daquele eterno milagre: a
humanidade. No criador do universo individual realmente vivemos, nos movemos e
somos. Contudo, to absurdos so os caminhos dos homens e a tal ponto nos desviamos
do essencial, que poucos de ns conscientemente compreendem nossa divindade; que ns,
como Cristo, como Buda, como Krishna somos filhos de Deus, deuses em verdade.
Chiah a vontade, o primeiro veculo criativo da m nada, e sua atividade
sabedoria e discernimento, bem como aquela fora misteriosa de criatividade chamada
por Blavatsky de Icchashakti. tambm como o aspecto ativo do buddhi da teosofia,
normalmente o escrnio da m nada, peculiarmente conectada ao esplendor da serpente
enrodilhada, a Kundalini, simbolizada pela Uraeus encontrada na fronte e cobertura de
cabea de muitas divindades egpcias. Como Chiah o poder criativo energtico ativo e
visto que na magia prtica o basto o instrumento cerimonial da criao, o basto o
smbolo verdadeiro da vontade espiritual, aquele que ereto ascende aos cus, um poder
de criao vigoroso e irresistvel.
Estando Neschamah em oposio a Chiah na rvore, feminina e passiva,
representando a verdadeira viso espiritual da intuio ou imaginao. Como o clice
no altar est sempre aberta para receber os ditames e comandos emitidos de cima. A ela
tambm se refere a imaginao espiritualizada chamada Kriyasakti, que com a vontade

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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constitui o poder por excelncia utilizado na magia. Esses trs princpios, como as
Sephiroth superiores, existem alm do Abismo, se refletindo descendentemente no
universo fenomnico da conscincia humana, no qual a alma humana provida da vontade
inferior, memria e imaginao se agita. Mas enquanto essas existem abaixo do Abismo,
seus numenos existem acima do Abismo sem a limitao e restrio que a mente inferior
e as condies humanas geralmente impem a elas. Quanto mais algum se abre para a
vontade divina e a imaginao divina do deus interior, maior se torna na manifestao da
divindade de si mesmo, um orculo dos mais elevados, um veculo imaculado do mais
puro fogo espiritual. Tal como um poeta ou um m sico to-somente assim e jamais
diferentemente quando a inspirao apocalptica est sendo nele derramada de sua prpria
fonte divina, fato que, entretanto, na maioria dos casos sequer reconhecido e muito
menos compreendido e encorajado, um homem existe como melhor mstico e maior mago
na ren ncia em sacrifcio devoto oblao de sua prpria vontade e ego humanos, de
maneira que a Vontade de seu Pai no cu possa ser consumada na Terra.
Como as Sephiroth superiores e as Essncias csmicas se projetam em formas
mais densas e em matria menos sutil, do mesmo modo atuam as Sephiroth humanas em
obedincia lei do macrocosmo. Abaixo do Abismo, as cinco Sephiroth seguintes
recebem o nome de Alma humana ou Ruach, um princpio composto de razo, vontade,
imaginao, memria e emoo centradas na Sephira da harmonia. este Ruach que o
veculo criado do eu real, um mecanismo, por assim dizer, criado atravs de longos eons
de evoluo, esforo e sofrimento como um recurso para obteno de contato com o
mundo externo, de modo que pela experincia assim obtida o eu possa atingir uma
compreenso autoconsciente de seus prprios poderes divinos e natureza elevada. em
Ruach que a autoconscincia centrada, embora seja verdadeira a anomalia psicolgica
de que esse mecanismo de percepo, desenvolvido somente como um instrumento,
usurpa o poder daquele que lhe deu origem, colocando a si mesmo num pedestal como o
ego, como aquele que possui poder real, discernimento, vontade e capacidade de resolver
os problemas da vida. Este Ruach que chama a si mesmo de ªeuº, alterando-se
momentaneamente com o passar do tempo, perturbado pelo fluxo e pela onda premente
de pensamentos mutveis e emoes convulsivas, precisamente a coisa que no ªeuº.
Simplesmente um veculo, ele assumiu ± como um macaco simula as aes de seu dono ±
a prerrogativa de uma existncia independente, divorciando a si mesmo de seu prprio
senhor divino, a energia que exclusivamente lhe concede vida e sustento. Em magia
esse ego emprico, esse eu inferior que tem que ser oferecido em sacrifcio ao Santo Anjo
Guardio. Como o conceito de sacrifcio implica que aquilo a que se renuncia deva ser o
melhor e maior sacrifcio, um Ruach bem desenvolvido, bem treinado em todos os
processos da lgica e do pensamento, bem munido de conhecimento e observao, e
perfeito na medida do possvel nas coisas de seu prprio domnio, constitui o maior
sacrifcio que o mago pode depositar sobre o altar como uma oferenda ao Supremo.
ªAquele que perder sua vida a encontrar.º
Normalmente, devido natureza ilusria da mente em que est focalizado o centro
da conscincia, e devido sua prpria predileo por coisas inexpressivas e ilusrias, a
nossa viso do eu superior est obscurecida, impedindo nosso contato mais estreito com a
conscincia real, permanente e imortal que realmente nos pertence. , portanto, mediante
o sacrifcio do falso ego que podemos atingir a conversao espiritual e o conhecimento

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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do Santo Anjo Guardio. Somente atravs da renncia da mente e da completa destruio
de sua natureza ilusria, o desenraizamento daquele elemento que concede egosmo a
uma mera combinao de percepes, tendncias e memrias, pode o deus interior se
manifestar e conferir a magnfica bno do xtase mstico alma humana. Para que no
haja uma interpretao err nea relativamente s palavras destruio, renncia e
sacrifcio do ego, entenda-se que o prprio princpio no destrudo, o que constitui uma
impossibilidade em todos os casos. Mas o falso valor do ego, sua complacncia, a iluso
de que ele apenas real e permanente, tudo o mais sendo suas criaes ± isso oferecido
para a destruio. Quando a afetao e o falso egosmo no Ruach so desenraizados, ele
um instrumento da alma supervel por poucos.
A nona Sephira o fundamento do homem inferior. chamada de Nephesch* e
aquele princpio lunar vegetativo e instintivo que concerne unicamente ao ato de viver.
Essa alma animal a um nico e mesmo tempo um princpio de energia e substncia
plstica, a totalidade das correntes de vitalidade bem como o molde astral invisvel na
superfcie do qual os tomos grosseiros se arranjam como o corpo fsico. Como um
princpio substantivo, ele o corpo astral, o duplo plstico construdo de substncia astral
e que serve de base ou esboo do corpo fsico. Nutrido pela luz astral, precisamente como
o corpo fsico nutrido pelo produto e as energias da terra, comparvel ao que
denominado subconsciente ± a despeito de no possuir nem mente nem inteligncia
prprias ± de maneira que todo pensamento que temos, toda emoo que sentimos, toda
ao que praticamos deixam uma impresso ou memria indelvel sobre aquela
substncia, preservando assim no corpo astral o reflexo e registro automtico da vida
passada. Todas, ou quase todas, as caractersticas atribudas pelos psicanalistas ao
subconsciente so analogamente atribuveis a Nephesch, ou ao menos quele aspecto de
Nephesch que diz respeito aos instintos e impulsos, e que atua como um depsito
automtico de sensaes e impresses, tal como a expresso inconsciente coletivo pode
muito bem ser aplicada ao nosso conceito de luz astral. Todos os instintos fundamentais
de um homem, os impulsos radicais primrios que ele vivencia, pertencem Sephira
Yesod, o fundamento do qual toda a energia vital flui.
* A nona Sephira Yesod. (N. T.)
Todos esses princpios se mantm e operam como um organismo vivo no
princpio do corpo fsico, Guph, atribudo decima e ltima Sephira, o Reino**, a sede
de toda fora e funo de todos os planos sutis da natureza e de todo poder espiritual do
homem; de toda verdade, e nesse sentido o corpo humano o Templo do Esprito Santo.
** Ou seja, Malkuth. (N. T.)
com respeito a Ruach ou Manas inferior que desejo, em particular, me
estender um pouco mais. Embora ele compreenda as cinco Sephiroth numeradas de
quatro a oito inclusive, sua sede central em Tiphareth, a esfera da harmonia e equilbrio.
E embora, tambm, a vontade e a imaginao em seus aspectos vitais estejam colocadas
acima do Abismo nas Sephiroth superiores na constituio imperecvel do homem
interior, esto em Ruach os plidos reflexos daqueles dois poderes que so de particular
interesse para os teurgos na busca de suas artes. Um outro problema que diz respeito ao
mago o fato de ser inerente a Ruach um princpio de autocontradio que impede seu
uso, independentemente de qualquer assistncia superior, para a busca da verdade e da
luz. Alhures eu consegui ocupar-me um pouco dessa questo da incapacidade do homem

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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racional de transcender o mundo fenomnico, e muito mais a respeito desse tema pode ser
encontrado no esplndido tratamento de Kant das quatro antinomias da razo no
Prolegmenos, em Aparncia e Realidade, de Bradley; e um resumo excelente se acha
no Tertium Organum de P. D. Ouspensky.
Usando exclusivamente a razo, o ser humano jamais poder chegar a qualquer
verdadeira compreenso do que ele em si, quer dizer, nunca ser capaz de compreender
apenas atravs da mente que ele uma entidade espiritual eterna, uma estrela brilhante
que resplandece pela luz de sua prpria essncia no interior do corpo brilhantemente
adornado de Nuit, a rainha do espao infinito. Para conhecer realmente a si mesmo como
um deus e ingressar na comunho com o criador pessoal, o homem precisa fazer uso de
outros instrumentos e outras faculdades. Jmblico formula a lei com muita clareza em Os
Mistrios, que no s pelo raciocnio discursivo ou pela reflexo filosfica que se
chega comunho com os deuses. por intermdio do despertar dos poderes espirituais
mais elevados por meio dos ritos te rgicos que se efetua a consumao das longas eras.
ªPois uma concepo da mente no une os teurgos aos deuses, visto que se este fosse o
caso, o que impediria aqueles que filosofam teoricamente de celebrar uma unio te rgica
com os deuses?... Ora, na realidade esse no o caso. Pois a perfeita eficcia das obras
inefveis, que so divinamente executadas de uma maneira que ultrapassa toda
inteligncia, e o poder de smbolos inexplicveis, que so conhecidos s dos deuses, que
concedem a unio da teurgia. Conseqentemente, ns no executamos essas coisas por
meio da percepo intelectual.º
Observa-se comumente que o indivduo que detentor apenas de escassa
capacidade intelectual tem freqentemente um maior contato com uma presena espiritual
e est mais aberto a intuies do que o seu irmo mais aquinhoado intelectualmente.
Paracelso nos assegurou que os grandes Mistrios podem, ami de, ser mais bem
apreendidos por uma mulher simples na sua roca do que pela erudio mais profunda. E,
se a memria no me falha, em alguma parte de seus escritos mgicos Lvi tambm
observa que com freqncia os verdadeiros magos prticos so encontrados no campo,
entre as pessoas incultas, os privados de intelectualidade e sofisticao, ou simples
pastores. No a falta de mentalidade ou intelecto que torna o campons superior. A
ausncia de capacidade mental por parte do campons o tornaria realmente inferior, visto
que obviamente a mente que distingue o homem dos animais do campo. Mas quando
essa capacidade mental corrompida pela afetao, pelo convencimento de que ela
suprema, pelo sofisma egotstico, o que mais freqente que o caso contrrio, ento a
falta dela se torna relativamente uma grande virtude. Havelock Ellis cita um exemplo que
corrobora tal afirmao. Ele narra que durante uma longa cavalgada pelo serto
australiano na companhia de um tranqilo e simples fazendeiro, este subitamente lhe
confessou que por vezes subia ao topo de uma colina e ficava perdido para si mesmo e
para tudo enquanto permanecia contemplando o cenrio que o cercava. Aqueles
momentos de xtase, de unio pelo esquecimento de si mesmo com a beleza divina da
natureza circundante eram inteiramente compatveis, observa Ellis, com a perspectiva de
um homem dedicado ao trabalho rduo e no sobrecarregado pela teologia, a tradio
dogmtica e a sofisticao dos modos civilizados.
Ora, bem verdade que os Mistrios eram e so mais facilmente compreendidos e
as intuies mais freqentemente franqueadas entre os simples e no-intelectualizados

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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(no digo destitudos de inteligncia) porque neles no existe qualquer barreira racional
aos raios telsticos de Neschamah. Entretanto, visto que Ruach foi desenvolvido em
virtude de uma longa evoluo, no deve ser completamente negligenciado, devendo-se,
sim, encorajar seu desenvolvimento em seu prprio campo e no plano de aplicao que se
coaduna com ele. E aqui, num certo sentido, que se infiltra um certo perigo da teurgia.
No basta ao teurgo intoxicar-se de Deus e envolver-se no conhecimento e na
conversao de seu Santo Anjo Guardio e das Essncias dos deuses. Por mais grandioso
que isso seja, ainda no suficiente; pois dentro dele, cuja mente est desordenada,
ignorante e indisciplinada, os deuses vertem seu vinho em vo. Pelo fato de se ter
renunciado razo a fim de se alcanar uma sntese mais elevada e uma espcie mais
nobre de conscincia, no h motivo para negligenciar a aplicao daquela faculdade s
matrias pertinentes ao seu prprio lugar na natureza. Essa a razo porque no sistema
de Pitgoras a gramtica, a retrica e a lgica eram ensinadas para cultivo e
aprimoramento da mente, e tambm a matemtica porque os mtodos dessa cincia eram
disciplinados e ordenados. A geometria, a msica e a astronomia tambm eram
ministradas, sendo desenvolvido a partir da um sistema de smbolos. No incorrer em
erro o moderno teurgo que seguir esse plano de treinamento intelectual. O cultivo do
discernimento intelectual uma tarefa essencial, mas feito isso, restar ainda uma passo a
ser dado. ªO rei-mago...º, escreve Vaughan, ª...constri sua torre de especulao pelas
mos de trabalhadores humanos at atingir o andar mais alto, e ento convoca seus gnios
para confeccionarem as ameias adamantinas e as coroa com o fogo das estrelas.º pouco
proveitoso contemplar as ameias da torre enquanto a prpria torre for uma possibilidade.
Tampouco particularmente aconselhvel construir o pice da pirmide antes de
providenciar a base na qual a pirmide possa se assentar. Mas uma vez esteja ali a base e
a torre da razo tenha sido construda, as ameias e o pice da experincia espiritual
passam a ser uma necessidade urgente.
Assim, o objetivo supremo de todo ritual mgico a construo do pice da
pirmide e a instalao das ameias na torre intelectual; em outras palavras, a comunho
com o eu superior. Para todo homem esse o mais importante passo e nenhum outro se
compara a ele em importncia e validade at que essa unio tenha sido realizada. Traz
consigo novos poderes, novas extenses da conscincia e uma nova viso da vida. Arroja
um raio brilhante de luz nas fases at ento escuras da vida, removendo da mente as
nuvens que inibem a glria da luz espiritual. Com o atingimento da viso e do perfume
percebe-se, como percebeu Jacob Boehme, o campo inteiro da existncia natural
literalmente fulgurar com um esplendor divino incomparvel, de modo que mesmo as
rvores erguem seus cimos para os cus e as relvas nos prados verdes gentilmente entoam
cantos de louvor e ao de graas, oferecendo hinos de glria luz suprema.
Na plenitude do Conhecimento e Conversao do Santo Anjo Guardio, o teurgo
capaz de prever mediante a extenso da luz da razo que outros passos tm que ser dados
na grande busca que no findou com a iluminao do Anjo, mas que, ele percebe, apenas
comeou. O universo todo uma vasta gama de hierarquias espirituais, e o Santo Anjo
Guardio se posta em apenas um degrau da escada que se estende acima e abaixo para o
infinito. O teurgo percebe que ele somente uma centelha emitida da essncia espiritual
de um deus, e por mais estupendamente brilhante que seu prprio anjo seja, se, como os
princpios de sua arte o ensinam, esse anjo seja apenas uma centelha, quo mais glorioso

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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o deus que lhe deu origem? Assim, sua aspirao sob a orientao de seu anjo sempre
dirigida para cima e para a frente, promovendo sua viso interior para a Vida una, para o
Ain-Sof, a fonte inominvel de tudo. A natureza no procede por solavancos ou por
desfiladeiros intransponveis ou saltos. Ela progride numa marcha gradual, e essa onda de
progresso estvel para a frente o teurgo procura imitar. A unio com o Ain-Sof no pode
ser efetivada imediatamente; mister que ele suba a escada da vida lentamente, unindo-
se em cada degrau em amor e sabedoria com cada hierarquia superior, at que a Luz
eterna ilimitada seja alcanada. Jmblico concebe o mesmo procedimento nas seguintes
palavras: ªE quando a alma O recebeu como seu condutor, o daimon imediatamente
preside alma, concedendo completamento s suas vidas, e a prende ao corpo por ocasio
de sua descida. De modo semelhante, ele governa o animal ordinrio da alma e dirige sua
vida peculiar e nos proporciona os princpios de todo nosso pensamento e raciocnio.
Igualmente executamos tais coisas conforme ele sugere ao nosso intelecto e ele prossegue
nos governando at que atravs da teurgia sacerdotal, obtenhamos um deus para guardio
supervisor e condutor da alma; pois ento o daimon cede ou entrega seu governo a uma
natureza mais excelente, ou submetido ao deus como colaborador na sua guarda, ou de
alguma maneira ministrante com ele como se fosse seu senhor. ª
No bem que o Santo Anjo Guardio cede o governo da alma humana presena
do deus, e sim que a alma, j unida ao anjo e assim formando um ser completo, se une de
maneira similar ao deus. Ou, talvez, que o anjo que tomou para si mesmo a vida da alma
tenha, correspondentemente, assumido a vida ampla e superior do deus, o qual para o
anjo como o anjo era primeiramente para a alma. Prosseguindo, Jmblico acrescenta:
ªAdemais, depois dela (quer dizer, a teurgia) ter unido a alma s diversas partes do
universo e aos poderes divinos totais que por ela passam, ento guia a alma e a deposita
no ntegro demiurgo, fazendo-a ser independente de toda matria e estar co-unida com a
razo eterna somente. Mas o que quero dizer que ela liga peculiarmente a alma com o
deus autogerado e automovido e com os poderes intelectuais que tudo sustentam e tudo
embelezam do deus, e igualmente com aquele poder dele que eleva verdade, e com seus
poderes de auto-aperfeioamento, de eficincia e outros poderes demirgicos, de maneira
que a alma tergica se torna perfeitamente estabelecida nas energias e intelec es
demirgicas desses poderes. E ento a teurgia tambm insere a alma no deus demirgico
integral, findando aqui com os egpcios o assunto da elevao da alma divindade pelo
sacerdcio.º
Dificilmente se poderia descobrir uma viso mais grandiosa e mais completa. A
teurgia se prop e tomar um homem, despoj-lo gradualmente, por assim dizer, de tudo
que no seja essencial e penetrar, finalmente, na alma interior. Ento essa alma interior
exaltada e guindada, sempre de maneira gradual, at que ela encontre seu Senhor
soberano, o Amado. Guindando-a cada vez mais alto, embora ainda humano num corpo
fsico de carne e sangue, o homem elevado alm dos cus, ingressando na unio e
comunho espirituais com os poderes que so o universo, as fontes que proporcionam
vida e sustentao ao conjunto da existncia manifesta. Ultrapassando-os, a alma plana e
ascende, transcendendo mesmo aos deuses que surgiram ao primeiro rubor da aurora
dourada, at que com um xtase incomparvel de silncio, ela retorna Grande Fonte de
Tudo.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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CAPTULO VI
A magia superior, como foi demonstrado, tem como um dos seus objetivos uma
comunho com o divino tanto aqui quanto no porvir, uma unio para ser obtida no por
meio de uma mera doutrina e especulaes intelectuais estreis, mas sim pelo exerccio
de outras faculdades e poderes mais espirituais em ritos e cerimnias. Por divino os
teurgos reconheciam um princpio eterno espiritualmente dinmico, e sua manifestao
refrata em seres cuja conscincia, individual e separadamente, so de um grau de
espiritualidade to grandioso e sublime a ponto de realmente merecerem o nome de
deuses. Essa , obviamente, a viso objetiva, e eu me referirei aos deuses neste captulo
somente desse ponto de vista, deixando ao leitor a liberdade de interpret -los de modo
diverso, se assim o quiserem.
Uma advertncia deve, entretanto, ser feita aqui. No se deve pensar que os
teurgos e os filsofos divinos eram politestas em qualquer sentido comum. Uma tal
concluso estaria, de fato, bem distante do que realmente verdadeiro. Mesmo para os
egpcios, que possuam um panteo repleto de hierarquias e deuses celestiais e que so
acusados to freqentemente de serem primitiva e grosseiramente politestas, E. A. Wallis
Budge profere uma defesa, pois embora os no-instrudos apreciassem uma pluralidade de
deuses, ªos sacerdotes e as classes instrudas que eram capazes de ler e compreender os
livros adotaram a concepo do Deus nico, o criador de todos os seres no cu e na terra,
os quais, por falta de uma palavra melhor, eram chamados de deusesº.
Essa a posio do ponto de vista empregado na magia. Primariamente, h apenas
uma Vida onipresente que penetra todo o cosmos. Permeia e vibra em todo canto e poro
do espao, sustentando a vida individual de todo ser que existe em qualquer um dos
mundos infinitos. Desconhecido em si mesmo, visto que onipresente e ilimitado em
toda direo e exaltado alm do alcance intelectual, jamais poderia ser compreendido pela
mente humana. Mas preciso que se compreenda que a partir Dele procedem todos os
deuses, todas as almas humanas e espritos e toda coisa concebvel que . De um certo
modo, incompreensvel ao nosso entendimento finito, a energia negativa e passiva
homogeneamente espalhada atravs do espao se tornou vivificada, formando ela mesma
centros ativos prim rios que, com o desenrolar de eons de tempo, expandiu-se e
gradualmente evoluiu para o cosmos. Com esses centros, as primeiras manifestaes,
brotou da homogeneidade latente um grupo heterogneo de entidades divinas ou foras
inteligentes csmicas que se tornaram os arquitetos e construtores do universo. Da prpria
essncia espiritual individual deles, hierarquias menores nasceram, as quais, por sua vez,
emanaram ou criaram a partir de si mesmas ainda outros grupos at que finalmente as
almas humanas vieram a ser a descendncia refletida dos deuses abenoados. Essas foras
inteligentes receberam nomes variados, deuses, daimons, essncias universais, dhyan
chohans, eons, teletarchae e muitos outros. Todos implicam a mesma idia fundamental
de centros conscientes (embora no necessariamente autoconscientes, intelectuais) de
fora, sabedoria e inteligncia que emanam ou criam, de uma maneira ou de outra, a partir
de si mesmos o universo finito manifesto.
Essas foras csmicas ou deuses eram estudados pelos teurgos egpcios com muito
rigor, e seus atributos cuidadosamente observados e registrados sob a forma de par bolas,
alegorias, mitos e lendas. Mesmo nos pictogramas convencionais de suas divindades,
cada um dos emblemas tem uma importante significao que ao mesmo tempo profunda

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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nas suas implicaes e simplesmente eloqente na descrio das caractersticas de
determinado deus. Por exemplo, uma pena azul levada mo de um dos deuses, ou
encimando a cobertura de cabea, implicava a verdade, firmeza e retido, enquanto um
cetro tinha a finalidade de transmitir a idia de que um certo deus era detentor de suprema
autoridade e soberania. Cada smbolo e sigillum portados pelo deus em alguma parte de
sua pessoa constituam uma pista para a natureza inerente a ele. Os mitos e as lendas
relativos aos deuses passados posteridade pelos sacerdotes egpcios no eram meras
invenes ociosas produzidas por homens ignorantes, embora imaginativos, que no
tinham coisa melhor para fazer, ocupando-se com a narrao de histrias e a urdidura de
fices agradveis ou desagradveis baseadas em invencionice. Pelo contrrio, longe de
puerilidade, em cada uma dessas lendas e descries pictricas dos deuses est oculto um
patrim nio de conhecimento transcendental para todo aquele que for capaz de perceb-lo.
Relativamente a um povo to perspicaz como o egpcio, um povo que desenvolveu uma
civilizao resistente cujos restos permanecem como nobres monumentos at os dias de
hoje, dificilmente se poderia acreditar que seus mitos no passem de contos interessantes,
como se os deuses reconhecidos por eles no tivessem existido ou tenham sido, no
mximo, fantasias infantis. Jamais se deve considerar que o panteo egpcio,
particularmente os deuses associados aos cultos tergicos, era em qualquer grau mtico no
sentido de que era o resultado do jogo divertido de uma frtil faculdade inventiva. O
homem primitivo no ªcriouº os deuses, como pensam tantos aprendizes modernos de
teologia comparativa, destitudos de toda simpatia e gnio religioso. O que ele realmente
fez, talvez inconscientemente, foi aplicar nomes (e mesmo esses nomes eram carregados
de significado) e faculdades quase humanas a esses ªpoderesº ou grandes foras da
natureza que observava com tanta preciso, e que ele acreditava serem, com justeza
suficiente, manifestaes ou smbolos do divino. Todos os pensamentos e idias, todo o
grande saber e conhecimento dos egpcios encontraram sua expresso pictrica na
alegoria, na parbola e nas pinturas. Assim ns os recebemos hoje. Descartar seu sistema
bem desenvolvido de lenda e mitologia instrutivas como absurdo e infantil s indica a
postura de uma inteligncia superficial e pueril. Pode-se demonstrar que basta um pouco
de estudo para revelar uma profundidade de discernimento que nunca se compreendeu
antes existir. Alm disso, as vinhetas e os smbolos pintados dos deuses com os quais os
egpcios estavam habituados a decorar seus papiros, pelo mesmo motivo no so
meramente desenhos infantis descritivos de vagas opinies intelectuais. Cada deus na
mitologia egpcia tinha uma precisa e bem-definida funo a executar no cosmos ±
criadora, preservadora ou destruidora, de acordo com o caso ± e tal funo fora
confirmada com preciso pela observao, tanto secular quanto tergica, levada a cabo
por um longo perodo de tempo, e as qualidades e natureza dos deuses eram expressas em
gravuras. Que os egpcios concebiam que Ra, o deus-Sol, realmente existia naquela forma
artstica convencional em que o pintavam, no estou disposto a acreditar; tampouco que
achavam que o sol meia-noite assumia a forma de um escaravelho. Em que realmente
acreditavam que o escaravelho, como smbolo, exprimia de vrias maneiras sutis a
natureza do sol aps o poente. A vaca, analogamente, era um smbolo de fertilidade
exuberante, a bis, um smbolo de sabedoria e suprema inteligncia. O falco, devido
sua capacidade de permanecer equilibrado no firmamento, constitua um smbolo perfeito
do eu divino que, desapegado de todas as coisas da terra e da forma, as observa com o

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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olho da equanimidade. O assunto todo deve ser cuidadosamente estudado, e se a metade
do zelo e ateno que o homem comum dedica ao seu jornal no dia-a-dia forem dedicados
pelo leitor ao estudo dos deuses, muito conhecimento til de profunda importncia para a
magia ser obtido.
A evoluo e o desenvolvimento do cosmos, espirituais e fsicos, foram
primeiramente registrados pelos filsofos em mudanas geomtricas da forma. Toda
cosmogonia esotrica usava um crculo, um ponto, um tringulo, um cubo e assim por
diante. Esses mais tarde foram incorporados numa forma geomtrica simples que
chamada na Cabala de Árvore da Vida. Aplicou-se a cada desenvolvimento csmico um
nmero, e existindo como o significado especfico do nmero ou a fase particular de
evoluo, havia a atividade de um deus ou de uma hierarquia de deuses. Assim, na Cabala
temos dez emanaes principais. A cada uma dessas um nmero atribudo e em cada
nmero, portanto, est encerrado um deus. H dez sries de hierarquias de foras
csmicas, espirituais, dinmicas e inteligentes, cujas operaes em concerto resultam na
formao do universo fsico. A tradio dos teurgos as classifica numa escala descendente
de pureza e espiritualidade, dos deuses aos arcanjos, intelig ncias e espritos.
Considerando-se que em magia o objetivo obter de uma maneira ou de outra
uma unio espiritual estreita e duradoura com essas divindades csmicas, que so as
realidades essenciais e as fontes de sustentao e vitalidade, aconselhvel dar uma breve
descrio delas tal como entendidas pelos egpcios. Na tabela que se segue elas so
classificadas de acordo com suas hierarquias e escala de graduao, e a interpretao ser
auxiliada se o leitor se recordar das afirmaes feitas num captulo anterior a respeito das
Sephiroth.
Com relao a cada um desses deuses, apresentarei uma curta descrio baseada
em textos de egiptologia, deixando a critrio do leitor a interpretao que desejar. A
natureza dos arcanjos, inteligncias e espritos cujos nomes so indicados na tabela, ser
revelada pelos atributos da divindade regente.
Correspondendo ao desenvolvimento csmico representado entre os cabalistas
por Kether, a Coroa, temos a divindade egpcia Ptah, sendo que o significado de seu
nome o franqueador. Para os egiptlogos isso parece ter sido um obstculo em suas
classificaes, pois no caso de se supor que ele estava associado com a abertura do dia
mediante o sol, suficientemente singular o fato de nunca formar um dos importantes
grupos dos deuses solares nos textos hierticos. Em O livro dos mortos seus atributos no
guardam a menor relao com Ra, Khephra e Tum, os deuses ligados ao nascer do sol, ao
pr-do-sol e ao seu obscurecimento meia-noite. Dentro do delineamento da filosofia
mgica, contudo, no , em absoluto, difcil compreender em que sentido Ptah chamado
de O Franqueador. Visto que seu aparecimento inaugurou ou deu incio a um ciclo de
manifestao csmica ele assim chamado, e ele o Logos oculto, a ess ncia metafsica
central da qual tudo se originou. Essa interpretao parece ser corroborada por vrias
ilustraes nas quais ele mostrado confeccionando o ovo do mundo num torno de oleiro.
Budge, confirmando, tambm salienta que a raiz etimolgica de Ptah cognata com o
significado de uma outra palavra que significa esculpir ou talhar. Essa raiz cognata
posiciona o deus de maneira excelente, como o faz a palavra artfice que aparece nos
textos, pois no s abre Ptah o ciclo evolucionrio como tambm ele quem, emergindo
das trevas triplamente desconhecidas, o Grande Arquiteto do Universo, dando,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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juntamente com Thoth e sis, nascimento s coisas manifestas. Dizia-se dele que era ªo
grandioso deus que veio a ser no tempo mais remotoº e para indicar de modo conclusivo
sua natureza ele tambm era considerado o ªpai dos princpios e criador do(s) ovo(s) do
Sol e da Luaº.
________________________________________________________________________
_____________
Número Sephira Planeta Deus Arcanjo Coro de anjos Inteligência
Espírito do planeta
do planeta
________________________________________________________________________
_____________
1 Kether ± Ptah, Metraton Chayos ±
-
Amon haQadosh
2 Chokmah ± Tahuti Ratziel Ophanim ±
-
3 Binah Saturno sis Tsafkiel Arilim Agiel
Zaziel
4 Chesed Jpiter Maat Tsadkiel Chashmalim Iophiel
Hasmiel
5 Geburah Marte Hrus Kamael Seraphim Graphiel
Bartzbael
6 Tiphareth Sol Ra, Raphiel Malachim Nachiel
Soras
Osris
7 Netzach Vnus Hathor Haniel Elohim Hagiel
Kadmiel
8 Hod Mercrio Anbis Michael Beni Elohim Tiriel
Taphthartharath
9 Yesod Lua Shu, Gabriel Querubim
Tarshishim ve-Ad Hasmodai
Pasht
Ruach Shechalim
10 Malkuth ± Seb Zaziel Ishim ±
-
________________________________________________________________________
______________
Na mesma categoria que Ptah, como uma correspondncia da mesma srie de
idias filosficas ligadas Coroa, existe o deus Amon ou Amen. Ele era o poder criativo
invisvel que era a fonte de toda a vida no cu, na terra e no mundo inferior, finalmente
fazendo a si mesmo manifesto em Ra, o deus-Sol. O prprio nome indica aquele que
oculto ou dissimulado, e nos tempos de Ptolomeu essa expresso associou-se a uma
palavra que significa subsistir e tambm ser permanente. Num dos documentos
sacerdotais o deus saudado em tais termos de modo a nos fornecer uma descrio
narrativa de sua real natureza. ªA alma santa que veio a ser no princpio... a primeira

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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substncia divina que deu origem s duas outras substncias divinas; o ser atravs do qual
todo outro deus existe.º
H, alm disso, uma considervel quantidade de evidncias que nos levam a crer
que Osris poderia ser atribudo a essa mesma categoria. O prospecto do Museu Britnico
do Livro dos mortos afirma que uma princesa egpcia podia saudar Amen-Ra e Osris no
como dois deuses distintos, mas como dois aspectos do mesmo deus. Ela acreditava que o
poder criador ªocultoº de que era investido Amen era apenas uma outra forma do mesmo
poder tipificado por Osris. Com toda certeza, entretanto, Osris tem que ser saudado
como a encarnao humana do poder criador, a assuno em humanidade do deus mais
supremo, um avatar, se assim se preferir, do Esprito supremo. Todas as razes levam a
crer que seja este o ponto de vista acertado a respeito de Osris, pois ele tambm
permaneceu para a renovao do nascimento e uma ressurreio espiritual, tipificando o
Adepto iluminado, purificado pela provao e pelo sofrimento; algum que morreu e,
depois de descer ao mundo inferior, miraculosamente ressuscitou glorificado para reinar
eternamente nos cus. Na medida em que este o caso, ele ser considerado como um
tipo pertencente a Tiphareth. H, contudo, um aspecto dele, Asar-Un-Nefer, Osris feito
beneficente ou perfeito em cuja forma defica ele uma representao mas adequada
daquela fase de Kether que o aspecto mais real e mais profundo da individualidade.
A natureza de Thoth ou Tahuti e a descrio das caractersticas que os egpcios
atribuam a ele no deixa o menor motivo para d vida quanto sua imediata atribuio a
Chokmah. Ele sabedoria e o deus da sabedoria, e como observado por Budge, a
personificao da inteligncia de todo o conjunto dos deuses. O nome Tahuti parece ser
derivado daquele que se supe ser o nome mais antigo da bis, que uma ave que sugere
pela sua prpria postura meditao e conseqentemente sabedoria. H uma excelente
descrio dos atributos de Thoth no livro de Budge Os deuses dos egpcios que eu cito a
seguir: ªEm primeiro lugar, julgava-se ser ele tanto o corao quanto a lngua de Ra, quer
dizer, ele era a razo e os poderes mentais do deus, e o meio pelo qual a vontade dele era
traduzida em discurso; num certo aspecto ele era o prprio discurso e em tempos
posteriores ele pode muito bem ter representado, como afirmou o dr. Birch, o Logos de
Plato. Em toda lenda na qual Thoth desempenha um papel de destaque, percebemos que
ele quem profere a palavra que resulta na concretizao dos desejos de Ra, e evidente
que uma vez tivesse ele pronunciado a palavra de comando, esse comando no poderia
deixar de ser cumprido por um meio ou outro. Ele proferiu as palavras que tiveram como
resultado a criao dos cus e da Terra... Seu conhecimento e seus poderes de clculo
mediram os cus e planejaram a Terra e tudo o que se acha neles; sua vontade e seu poder
mantiveram as foras no cu e na Terra em equilbrio; foi sua habilidade na matemtica
celeste que possibilitou o uso correto das leis sobre as quais os fundamentos e a
manuteno do universo se apiam; foi ele quem dirigiu os movimentos dos corpos
celestes e seus tempos e estaesº. Ele era, em suma, a personificao da mente de Deus
ou o Logos, e como o poder todo penetrante, governante e dirigente do cu, ele configura
um aspecto da religio egpcia ªque to sublime quanto a crena na ressurreio dos
mortos num corpo espiritual, e quanto a doutrina da vida eternaº.
Palas Atena a deusa grega da sabedoria que, segundo o mito, emergiu totalmente
armada do crebro de seu poderoso pai, Zeus. Urano, o deus dos cus estrelados, poderia
tambm ser colocado nessa mesma categoria com Thoth e Atena, pois deve ser

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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mencionado que tradicionalmente Chokmah tambm chamada de a esfera das estrelas
fixas.
sis, correspondendo a Binah, era considerada a fonte do universo, a primeira
prognie das eras, governante do cu, do mar, e de todas as coisas na Terra, e era a Me
superior que o conjunto do mundo antigo venerava sob diversos nomes. Foi to vinculada
rainha do cu como a compassiva e onipotente senhora de ambos os mundos, que ela
atraiu para si uma grande multido de devotos e sinceros adeptos. Resumindo
concisamente Budge no que concerne a sis, podemos afirmar que ela era considerada a
grandiosa e benevolente Me cuja influncia e amor dominavam a totalidade do cu, da
Terra e a morada dos mortos, sendo ela a personificao do grande poder reprodutivo
passivo que concebia imaculadamente e gerava toda criatura e coisa vivas. O que gerava
ela protegia, cuidava, alimentava e nutria; empregava sua prpria vida usando seu poder
de modo amvel e bem-sucedido, no apenas criando coisas novas como tambm
restaurando aquelas que estavam mortas. Ela era, alm de todas essas coisas, o tipo mais
elevado de esposa e me fiel e amorosa. Era nessa qualificao e capacidade que os
egpcios a honravam e veneravam mais. Conforme a lenda, agora familiar, Osris, seu
marido, foi assassinado graas ast cia de seu irmo Tfon ou Set (emblemtico do
aspecto destrutivo da natureza) e seu corpo forado para dentro de uma caixa que, aps
ter sido lanada ao Nilo, foi conduzida ao mar. Depois de uma longa e cansativa busca,
sis a encontrou e a escondeu num stio que julgava seguro, onde, contudo, foi descoberta
por Tfon, o qual malignamente esquartejou o cadver. Os incidentes da busca que ela
empreendeu do corpo mutilado e a concepo e nascimento de seu filho Hrus,
impressionavam vigorosamente a imaginao dos egpcios, de modo particular quando a
lenda narra a ajuda na busca dada por Thoth, o deus da sabedoria e da magia, o qual
graas sua habilidade nas artes te rgicas foi capaz de comunicar a ela os processos e
palavras de poder que temporariamente ressuscitaram Osris e o capacitaram a gerar nela
o filho-deus Hrus.
Alm do acima exposto h a lenda obscura relativa parte da ajuda segundo a
qual sis paradoxalmente fez concesses a Tfon na batalha travada por Hrus que,
enraivecido pela aparente traio de sua me, matou-a e a decapitou. Entretanto,
imediatamente Thoth transformou a cabea de sis na de uma vaca, a qual ele prendeu ao
corpo dela. De maneira prpria, essa lenda indica a relao que existe entre sis, a Me e a
deusa-vaca Hathor, muitos dos atributos desta parecendo coincidir em muitos aspectos
significativos com os atributos de sis. A rvore da Vida, prenunciando
diagramaticamente o processo de evoluo, deve ser de algum auxlio para a compreenso
da idia subjacente a esta lenda, como deve ser tambm a lenda grega referente a Cronos,
que tambm uma atribuio de Binah. Nessa lenda descreve-se Cronos destituindo seu
pai Urano do governo do mundo, do qual Cronos destitudo, por sua vez, pelo seu
prprio filho, Zeus. Blavatsky d uma explicao sugestiva dessa parbola em A doutrina
secreta. Grosso modo, sugere que Cronos significa durao eterna, sem princpio e sem
fim, alm do tempo e espao divididos. Diz-se alegoricamente que esses deuses que
nasceram para atuar no espao e no tempo, ou seja, atravessar o crculo do domnio
espiritual para o plano terrestre, se rebelaram contra Cronos e combateram o (ento) nico
deus vivo e supremo. Por sua vez, quando Cronos representado mutilando seu pai, o
significado da mutilao simples. O tempo absoluto feito para se tornar o finito e a

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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condio; uma poro furtada do todo, mostrando assim que Cronos, o pai dos deuses,
foi transformado da durao eterna para um perodo limitado de tempo. A mesma
interpretao pode, igualmente, ser aplicada decapitao de sis, resultando na transio
dela como uma deusa criadora superior a um plano terrestre inferior.
Maat, a deusa atribuda esfera de Chesed, no antigo sistema egpcio
estreitamente aliada a Thoth, to estreitamente, de fato, a ponto de poder ser quase
considerada como sua contraparte feminina. O tipo de smbolo dessa deusa a pena de
avestruz, simples ou dupla, que est sempre presa sua cobertura de cabea ou segura em
sua mo. Primordialmente indicando ªaquilo que retoº, a palavra maat era usada num
sentido fsico e moral, de maneira que finalmente passou a significar ªcorreto, verdadeiro,
probo, justoº. Essa deusa incorpora ento as idias de lei fsica e moral, ordem, verdade e
regularidade csmica. Pode-se observar que muitos desses atributos de Maat so, de
forma semelhante, significados atribudos pelos astrlogos ao planeta Jpiter, que
constitui uma das correspond ncias da mesma Sephira a que Maat atribuda. Como um
poder moral, admitiu-se ser Maat a maior das deusas, e ela chegou a ser a senhora do
salo do juzo no Tuat ou mundo inferior, onde a pesagem do corao ocorria na presena
de Osris. Geralmente representada como uma mulher sentada ou de p, ela segura numa
das mos o cetro da soberania e na outra o ankh, o smbolo da vida. Algumas figuras a
mostram munida de um par de asas, cada uma presa a um brao, e em alguns poucos
casos ela retratada portando a pena da verdade sobre sua cabea, ereta, sem qualquer
cobertura de cabea.
O Jpiter romano era originalmente uma divindade elementar, sendo venerada
como o deus da chuva, tempestade, trovo e relmpago. O senhor do cu e o prncipe da
luz, ele era o deus que previa o futuro, e os acontecimentos que previa ocorriam como
resultado de sua vontade. Zeus seu equivalente grego e ambos so atribudos a Chesed.
A traduo da quinta Sephira, Geburah como “fora” associada sua
correspond ncia astrolgica de Marte, de maneira sumamente apropriada resume a
caracterstica de Hrus. Ele o deus egpcio da fora detentor de muitas formas, das
quais duas so as mais importantes: Hoor-paar-Kraat e Heru-Khuti. Como o primeiro, o
grego Harpcrates, ele representado usando uma mecha de cabelo, o smbolo da
juventude radiante, do lado direito de sua cabea; s vezes, tambm, ele usa a coroa tripla
com plumas e discos como cobertura de cabea, e ocasionalmente o disco apenas com
plumas. Na maioria dos casos ele retratado com seu dedo indicador erguido at seus
lbios em sinal de sil ncio. Como Heru-Khuti, ªHrus dos dois horizontesº, usualmente
representado como um falco, usando um disco solar envolvido por uma serpente Uraeus,
ou uma coroa tripla ou ateph. Era estreitamente vinculado ao deus-Sol e representava o
disco solar em seu percurso dirio atravs dos cus do nascer ao pr-do-sol. Mas como
Hrus, o filho de sis e Osris, que ele se liga a Geburah, em seu aspecto do vingador do
assassinato e da violao dos restos mortais de seu pai. Representado como um falco, era
capaz, das alturas do cu, de ver os inimigos de seu pai, que ele perseguia, assim diz a
lenda, sob a forma de um grande disco alado. Com tal fria e vigor atacava esses inimigos
que todos estes perdiam seus sentidos, no podendo nem ver com seus olhos nem ouvir
com seus ouvidos. As assertivas relativas a Hrus contidas no prospecto do Museu
Britnico so to interessantes nesse sentido que as transcrevemos a seguir:

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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ªQuando Hrus atingiu a maturidade ele se ps a caminho para achar Set e travar
guerra contra o assassino de seu pai. Finalmente eles se encontraram e uma luta brutal se
seguiu. Embora Set fosse derrotado, antes de ser por fim arremessado ao solo, conseguiu
arrancar o olho direito de Hrus e guard-lo. Mesmo aps essa luta, Set pde perseguir
sis, estando Hrus impotente para impedi-lo at que Thoth fez Set entregar-lhe o olho
direito de Hrus que ele arrebatara. Thoth ento levou o olho a Hrus e o recolocou em
sua face, devolvendo-lhe a viso cuspindo sobre ele. Hrus, a seguir, procurou o corpo de
Osris a fim de restituir-lhe a vida, e quando o achou desatou as bandagens para que
Osris pudesse mover seus membros e ressuscitar. Sob a direo de Thoth, Hrus recitou
uma srie de frmulas medida que apresentava oferendas a Osris ...Abraou Osris e
assim transferiu a ele seu ka, isto , sua prpria personalidade e virilidade vivas, e lhe deu
seu olho, aquele que Thoth resgatara de Set e recolocara em sua face. Logo que Osris
comeu o olho de Hrus... recuperou com isso o completo uso de todas as suas faculdades
mentais que a morte suspendera. Prontamente ergueu-se de seu esquife e se tornou o
Senhor dos Mortos e Rei do mundo inferior.º
Marte e Ares so os equivalentes grego e romano, sendo venerados como os
deuses da guerra e das batalhas, prosseguindo com a idia essencial de Geburah, fora,
vigor e energia.
relativamente a Tiphareth e aos deuses a ela associados que desejo me alongar
um pouco mais porquanto so eles que mais do que quaisquer outros concernem
aspirao do mago. Como Tiphareth a esfera da beleza e da harmonia, bem como a
ªcasa da almaº, os deuses tradicionalmente associados a essa Sephira so, de modo
peculiar, simbolizadores e representativos da alma glorificada, ou o Santo Anjo Guardio.
Dionsio, Osris, Mitra e muitos outros so todos tipos de imortalidade, beleza e
equilbrio. Maurice Maeterlinck sintetizou esplendidamente toda a posio filosfica a
este respeito. ªDionsioº diz ele, ª... Osris, Krishna, Buda; ele todas as encarnaes
divinas; o deus que desce ao homem, ou melhor, manifesta a si mesmo no homem; ele
morte, temporria e ilusria, e renascimento, real e imortal; a unio temporria com o
divino que no seno o preldio da unio final, o ciclo infindvel do eterno tornar-se.º
As divindades tpicas de Tiphareth, por conseguinte, representam a alma iluminada,
exaltada mediante o sofrimento, aprimorada mediante a provao e ressurgida em glria
e triunfo. Pode-se supor que Osris seja distintamente representante dessas divindades
rejuvenescentes, e h evidncias favorveis ao fato de desde o incio Osris ter sido para
os egpcios o homem-deus que sofreu e morreu, e ressuscitou para ser rei do domnio
espiritual. Os egpcios acreditavam que podiam herdar a vida eterna como ele fizera visto
que o que fora feito pelos deuses para ele, fora feito para eles, o que supria a base racional
para a execuo do chamado ritual dramtico. Celebravam rituais de maneira a poderem
compelir ou persuadir Osris e os deuses que haviam produzido sua ressurreio (a saber,
Thoth, ªo senhor das palavras divinas, o escriba dos deusesº, sis, que empregava as
palavras mgicas que Thoth lhe concedera e Hrus e os demais deuses que realizaram os
ritos que produziram a ressurreio de Osris) a atuar a seu favor tal como tinham atuado
a favor do deus.
A venerao de Mitra e Dionsio emerge da mesma raiz bsica. Liga-se, tambm,
ao triunfo espiritual do homem-deus e o retorno do deus-Sol que, como um smbolo da
alma aperfeioada, entrou na conscincia humana do ser humano, e tendo iluminado a

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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mente e redimido as trevas de sua vida, torna o esprito aprisionado leve e jubiloso.
Krishna, igualmente, um smbolo do homem-deus, pois nele esprito e matria foram
equilibrados, e se convertendo num avatar, a morada terrestre do esprito universal, ele
resumiu numa personalidade humana as qualidades duplas de um deus, imortal e esttico,
juntamente com todas as caractersticas tpicas da espcie humana.
O Sol tambm atribudo a Tiphareth. Assim, Ra ± incluindo Tum e Kephra, o
sol poente e da meia-noite ± pertence a essa srie de deuses. A concepo do sol era to
santa para o egpcios que eles concederam a Ra os atributos de luz e vida divinas; ele era
a personificao do correto, da verdade, bondade e, conseqentemente, o destruidor das
trevas, da noite, da perversidade e do mal. Suas relaes com Osris, que era parte deus,
parte homem e a causa e tipo de imortalidade para a humanidade, eram de imediato
aquelas de um deus, um pai e um igual. Era em Ra que algumas das mais nobres
concepes religiosas dos egpcios se concentravam e de deus solar, o doador do sustento
e da vitalidade, tanto fsicos quanto espirituais, aos habitantes da Terra, ele se tornou
identificado a Amon, o poder criador oculto que dera origem a todo o universo manifesto.
A natureza de Osris bem conhecida nas lendas. Ele ensinou como usar o cereal
e a cultivar a uva aos homens, sendo que nessa ltima fase claramente identificado com
Dionsio-Baco, o deus da vitalidade transbordante e dos xtases para os gregos. Com o
tempo Osris passou a ser considerado o rei dos mortos e o guia das almas saindo das
trevas da terra para o domnio venturoso onde, conforme sua teologia, as almas gozariam
da viso plena da divindade, sem restries. Aquele que partiu desta vida, se a vida fora
bem vivida, de uma maneira mstica identificado com Osris. Na vida do deus ele
tambm no desempenha papel sem significao. Dionsio era venerado na Grcia como
o poder que produzia folhas, flores e frutos nas rvores. A vinha, com seus cachos de
uvas das quais procedia o vinho que alegrava os coraes dos homens, era seu maior
encargo, mas de modo algum o nico. Como deus das rvores e da vinha, ele uma
divindade afvel e gentil, enobrecendo a humanidade e a vida dessa, comprazendo-se na
paz e na fartura, proporcionando riqueza e exuber ncia aos seus adoradores. Embora na
lenda fustigado pela tempestade, torturado e dilacerado por seus perseguidores, o deus
portador do tirso foge dos inimigos que o perseguem e se ergue mais uma vez para vida
nova e atividade renovada. Com o nome de Iacos, o irmo ou noivo de Persfone, teve
sua participao com ela e Demter nos ritos de Elusis. Pode ser interessante salientar de
passagem que Persfone uma atribuio do Reino, denominado no Zohar a Virgem, a
Noiva do Filho que est em Tiphareth. Foi esse benevolente jovem Dionsio, a divindade
sofredora e transformada, de imediato evanescente e perptuo, morrendo e irrompendo
novamente para uma nova vida espiritual que foi a principal divindade dos poetas e
msticos da seita chamada rfica, em cujos mistrios a alma e seu destino quando
libertada do corpo se tornou o objeto preponderante.
((ilustr. HATHOR, a Afrodite egpcia))
Um deus similar, expressando a mesma idia de equilbrio espiritual e
transformao, um deus que possui caractersticas quase idnticas s de Dionsio, era
Mitra, o deus persa da luz, a luz do corpo e a luz da alma. Tipificava a fora brilhante do
Sol que, infalivelmente, conquista dia aps dia e ano aps ano os poderes das trevas e
seus terrores. Mitra, comumente venerado numa caverna que, originalmente talvez
representando o recesso sob a terra onde se supunha que o sol noite se ocultava, passou

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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a significar para os adoradores devotos o abismo da encarnao dentro do qual a alma
necessita descer. E ento, como o prprio deus, eles poderiam ascender, purificados por
muitas provas e sofrimentos com glria e exaltao.
A deusa Hathor, bem como Afrodite e Demter, esto associadas Sephira
Netzach, Vitria. Nos remotos tempos do Egito, Hathor era tida como uma deusa csmica
e acreditava-se terem elas sido, como a deusa-vaca, a personificao do poder gerador da
natureza que se mantinha perpetuamente concebendo e criando, produzindo e
conservando todas as coisas. Ela era a ªme de seu pai e a filha de seu filhoº, o que de
chofre recorda a frmula tradicional do Tetragrammaton. Parece ter havido muita
conexo entre ela e sis e Nuit, a rainha e personificao do espao. J mencionamos a
lenda segundo a qual Hrus matava sis cuja cabea transformada por Thoth na cabea
de uma vaca, a cabea de Hathor. Isso era sugerido para inferir a transformao
evolucionria das energias geradoras csmicas de sis de acima do Abismo para uma
esfera mais mundana de manifestao. H vrias formas que a retratam, a mais freqente
sendo a de uma vaca. Às vezes, Hathor representada como uma mulher com um par de
cornos dentro dos quais repousa o disco solar, outras com uma tiara de abutre frente da
qual est a serpente Uraeus encimada por cinco outras Uraei. Na parte posterior de seu
pescoo usualmente encontrado um smbolo que significa alegria e prazer, e s suas
costas existe tambm uma espcie de xairel com um desenho linear, e o conjunto de seu
corpo por vezes marcado por cruzes, o que pretende provavelmente representar estrelas.
Nessa ltima retratao, ela indubitavelmente representa Nuit de cujos seios, se diz, o
leite das estrelas flui. Ela representava, como Hathor, no apenas o que era verdadeiro
como tambm o que era bom, e tudo o que mais excelente na mulher como esposa, me
e filha. Era tambm a deusa patrona de todos os cantores, danarinos e folies de todos os
tipos, das mulheres belas e do amor, dos artistas e das obras de arte. nessa associao
que ela comparvel com Afrodite, a dama do amor. Como equivalente a Demter, ela
significa a fecundidade aparentemente inesgotvel, a gerao de plantas e animais
sucedendo-se entre si na terra, terra tendo que retornar. Era sem d vida como a deusa
frtil da vegetao e agricultura que ela era venerada, particularmente porque os antigos
consideravam o cultivo e o desenvolvimento como um ato de amor.
Hermes e An bis correspondem a Hod, a Glria. Hermes um deus intelectual e
representa num grau muito inferior as qualidades de Thoth. Enquanto esse ltimo uma
divindade csmica e transcendental, Hermes um deus terrestre, descrito como inventor
da astrologia e da geometria, da medicina e da botnica, organizador do governo e
instaurador da venerao dos deuses; inventou algarismos e as letra do alfabeto e as artes
da leitura, escrita e oratria em todos seus ramos. Era tambm encarregado de conduzir as
sombras dos mortos do mundo superior para o inferior. Aqui ele associado na idia
com An bis ou Anpu, o deus de cabea de chacal dos egpcios, havendo tambm a
combinao grega desses dois nomes em Hermanbis. A cabea que constituiu o tipo e
smbolo de An bis foi a de chacal. Isso parece provar, de acordo com Budge, que nos
tempos primitivos An bis era meramente o deus-chacal associado aos mortos,
simplesmente porque o chacal era geralmente visto rondando pelos t mulos. Mas ele
pode ser, adicionalmente, concebido como o deus cinocfalo. O co vigia e guardio,
funo na qual An bis retratado no Tuat. Por analogia, representa a razo no homem,
que tambm a guardi da conscincia humana, vigiando impresses e reaes

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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relativamente ao mundo exterior. Segundo a tradio, Anbis foi o deus que embalsamou
o corpo de Osris e que o envolveu com as faixas de linho feitas por sis. Com base na
leitura das vrias passagens de O livro dos mortos, fica evidente que Anbis era um
grande deus no mundo inferior, sendo que sua posio e importncia parecem ter sido to
grandes quanto as de Osris. No cena do julgamento no Tuat, Anbis, o vigia, parece
atuar para Osris, com o qual est intimamente vinculado, pois compete a ele a tarefa de
examinar o fiel da grande balana e zelar para que o eixo esteja exatamente horizontal.
A deusa Bast ou Pasht, que a divindade que corresponde a Yesod, o Fundamento,
geralmente representada sob a forma de uma mulher com cabea de gato. Por vezes, tem
tambm a cabea de uma leoa encimada por uma serpente, segurando na mo direita um
sistro e na esquerda uma gide encimada pela cabea ou de um gato ou de uma leoa. Ela
era uma personificao da lua, especialmente na medida em que Khensu, seu filho, era
tambm um deus lunar. Com a cabea de uma leoa, usualmente pintada de verde,
simbolizava a luz do sol, mas quando representada com cabea de gato, sua ligao com a
lua indiscutvel. Vinculada esfera do Fundamento*, expressando o aspecto duplo da
luz astral, no era apenas Bast, mas Shu. Mudana e estabilidade so as duas
caractersticas paradoxais daquela luz, Bast exprimindo o aspecto lunar de mudana e
fluxo perptuo, a idia de estabilidade e de firme fundamento das coisas sendo expressa
sob a forma de Shu. Às vezes ele visto agarrando um escorpio, uma serpente ou um
cetro cuja extremidade superior a cabea de um falco, e era adorado como o deus do
espao que existia entre a Terra e o cu. Era ele quem sustentava o cu com suas mos,
uma o suportando no lugar do nascer do sol, a outra no lugar do p r-do-sol. Foi
identificado com o princpio vital das coisas, que est de acordo com a teoria implcita da
luz astra,l que o veculo direto dos cinco pranas ou correntes vitais. Em sua capacidade
de sustentador do cu h um mito interessante. Quando o grande deus Ra governava os
deuses e os homens, a humanidade na Terra comeou a proferir palavras de sedio
contra ele, fazendo com que ele se determinasse a destru-la. Convocando vrios deuses
conferncia, por sugesto de Nuit ele incumbiu Hathor da execuo da destruio
universal dos homens. Logo depois disso, ele se aborreceu da prpria Terra, e tendo Nuit
assumido a forma de uma vaca, Ra sentou-se sobre seu dorso. No demorou para que a
vaca principiasse a cambalear e tremer devido elevao acima da Terra, e assim foi
ordenado que Shu a sustentasse e a erguesse no cu. Quando Shu tomou sua posio sob a
vaca e sustinha seu corpo, os cus acima e a Terra abaixo vieram a ser e as quatro pernas
da vaca se tornaram os quatro suportes dos cus, os quatro pontos cardeais. E assim teve
o deus Seb existncia independente.
* Isto , Yesod. (N. T.)
Seb era o deus da terra e a terra formava seu corpo e era chamada de Casa de Seb,
tal como o ar era chamado de Casa de Shu e os cus de Casa de Ra. Seb representado
como um homem que usa a coroa Ateph e s vezes a forma de um ganso acrescida.
Correspondendo a Malkuth, o Reino, Seb representa a fertilidade da superfcie da terra e
na mitologia do mundo inferior ele desempenhava um papel proeminente, retendo aqueles
entre os mortos que no eram capazes de passar a Tuat. A deusa grega da terra similar ao
egpcio Seb era Persfone, conhecida entre os romanos pelo nome de Prosrpina.
A histria de sua violao por Hades e seu aprisionamento forado sob a terra
demasiado conhecida para que precisemos mencion-la aqui. Alguns autores a

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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interpretam como a extino no corpo e o subseqente renascimento na alma, enquanto
que outros vem em Prosrpina um simples mito do culto vegetao, a deusa sendo o
gro empregado como semente que permanece oculto no solo parte do ano, e quando ele
retorna sua me Demter, como o cereal nascendo da terra, o sustento e alimento do
homem e dos animais.
Embora com isso devamos concluir o exame dos deuses, na medida em que
possvel abordar esse assunto aqui, nunca demais repetir que essa matria sumamente
complexa deve ser muito bem estudada em seus vrios aspectos e vinculaes filos ficas
antes de se empreender o trabalho prtico de invocao. Antes que possa haver qualquer
grau de sucesso efetivo na invocao e ao estabelecer firmemente uma unio e comunho
com os deuses, dever o teurgo estar bem familiarizado, ao menos teoricamente, com a
natureza dos deuses, que princpios ou funes eles desempenham na economia natural e
universal e o que eles so realmente. Todas as lendas e mitos dos povos antigos
vinculadas aos deuses revelam um relato valioso a respeito da verdadeira natureza deles,
se os examinarmos com um pouco de discernimento acompanhado de uma compreenso
dos fundamentos que formam a base da Cabala. O teurgo deve se esforar para
compreender na medida do possvel porque se adotam as formas de animais como
mscaras dos deuses, e visto que existem muitas interpretaes a respeito, dever ser feita
uma sntese daquelas que parecem as mais provveis e mais sensatas. E devo acrescentar
a ttulo de sugesto que um estudo das representaes pict ricas dos deuses se mostrar
bastante recompensador. aconselhvel que o aprendizinteressado no deixe de visitar as
galerias de egiptologia do Museu Britnico ou qualquer outro museu, familiarizando-se
inteiramente com as formas artsticas convencionais pelas quais os deuses so
representados.

SEGUNDA PARTE
“SENTADO EM SUA CADEIRA VOCÊ PODE VIAJAR MAIS DO QUE
COLOMBO JAMAIS O FEZ E PARA MUNDOS MAIS NOBRES DO QUE AQUELES
QUE OS OLHOS DELE CONTEMPLARAM. NÃO ESTÁ CANSADO DE
SUPERFÍCIES? VENHA COMIGO E NOS BANHAREMOS NA FONTE DA
JUVENTUDE. POSSO INDICAR-LHE O CAMINHO PARA O ELDORADO.”
Candle of Vision - A. E.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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CAPTULO VI
O propsito e a funo da magia devem agora estar absolutamente claros. Trata-se
de uma cincia espiritual. um sistema tcnico de treinamento que tem um objetivo mais
divino do que mundano e terrestre. Se alguns observadores casuais pensam que o teurgo
se ocupa exclusivamente de coisas objetivas, isso ocorre apenas porque atravs delas e
dos numenos que simbolizam que ele capaz de alcanar seus fins. O equipamento
utilizado pelo mago no o nico recurso empregado por ele e nem o nico instrumento
para os seus fins, embora o aspecto invis vel de suas operaes no pudesse jamais ser
compreendido pelo profano sem elucidao. Todas as coisas, f sicas e mentais, tinham
necessariamente que entrar em seu trabalho, e no foi com a finalidade de ludibriar seja a
si mesmo seja aos seus adeptos que o mago se cercou com o que pode ser considerado um
ªaparato de palcoº extremamente impressionante de bastes, taas, incensos, perfumes,
sinais e s mbolos estranhos, sinos e sonoras invocaes brbaras. Foi se referindo aos
s mbolos e sigillae que Jmblico escreveu que ª...eles (teurgos), imitando a natureza do
universo e a energia produtiva dos deuses, exibem certas imagens mediante s mbolos de
inteleces m sticas, ocultas e invis veis, tal como a natureza... expressa razes invis veis
atravs de formas invis veis. ...Conseqentemente, os eg pcios, percebendo que todas as
naturezas superiores se regozijam com a imitao dos seres inferiores em relao a eles, e
assim desejando acumular de bem os seres inferiores atravs da maior imitao poss vel
das naturezas superiores, muito apropriadamente demonstram um tipo de teologizao
adaptado doutrina m stica ocultada nos s mbolosº. Isso, entretanto, no consegue de
modo algum responder adequada e satisfatoriamente pergunta ordinria, a saber, por
que o mago equipado de tais ªadereosº como o manto, o sino e o c rculo, todos eles
inteiramente incompreens veis para o indiv duo mdio, um tanto inconsistentes e com
grande ressaibo de charlatanismo? Esse parecer , claro est, completamente incorreto.
Com efeito, seria to errneo e to injustificvel quanto acusar um f sico de charlatanice
porque em seu laboratrio possui diversos microscpios de diferentes capacidades,
providos de mecanismos, tubos e lminas, e porque tem sobre sua escrivaninha um monte
de papis contendo frmulas f sicas e matemticas incompreens veis. Estes so apenas
meios pelos quais o f sico passa a compreender germes, bacilos, organismos
microscpicos e assim por diante no estudo do qual se ocupou. Os instrumentos mgicos
so, do mesmo modo, os meios ± igualmente incompreens veis para o leigo ± pelos quais
o mago se capacita a compreender a si mesmo e comungar com as partes invis veis da
natureza, nem por isso menos reais. J definimos a magia como a cincia que tem como
objetivo prprio o treinamento e fortalecimento da vontade e da imaginao. Mais do
que qualquer outra coisa, o pensamento e vontade o que realmente conta na magia, e a
hiptese mgica que seja pelo uso dos instrumentos da arte e os sigillae com os quais o
teurgo se cerca em seu trabalho cerimonial que essa ampliao das faculdades criativas
obtida. liphas Lvi muito preciso quanto a esse ponto e observa que ª...cerimnias,
vestes, perfumes, caracteres e figuras sendo necessrios como dissemos para empregar a
imaginao na educao da vontade, o sucesso das operaes mgicas depende da fiel
observncia de todo ritoº. E tambm, poder-se-ia acrescentar, da presena e uso preciso
de todos os sigillae corretos. Hierticos, sugestivos e bastante impressivos, o importante
acerca desses instrumentos e vestes, sinais e s mbolos, que se trata de s mbolos que
representam ou uma fora oculta inerente ao homem, ou uma essncia ou princ pio que

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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se obtm como uma fora mvel inteligente no universo. Sua inteno primria
promover uma corrente automtica de pensamento harmonioso ou um mpeto irresistvel
na imaginao que exaltaro o ser do mago na direo disposta pelo carter da cerimnia
e pela natureza individual dos smbolos.
Em sntese, o ritual mgico um processo mnemnico arranjado de modo a
resultar no deliberado regozijo da vontade e na exaltao da imaginao, sendo sua
finalidade a purificao da personalidade e o atingimento de um estado espiritual de
conscincia no qual o ego se une ou com seu prprio eu superior ou com um deus. Esse
objetivo nico de qualquer cerimnia particular constantemente indicado por cada ato,
palavra e pensamento. Mesmo os sigillae so diferentes para cada cerimnia de sorte a
indicar seu propsito nico, e um tipo de smbolo aplicvel somente invocao de
uma espcie de essncia universal. ªNo h nada...º, acreditava Jmblico ªque no mais
nfimo grau esteja adaptado aos deuses para o qual os deuses no estejam imediatamente
presentes e com o que no estejam conjugados.º Para o assalto da Cidade Santa todo
sentido e toda faculdade so deliberadamente mobilizados e toda a alma individual do
operador tem de tomar parte na ao. Cada uma das vrias fumigaes, cada mnimo
detalhe do banimento, invocao e circumpercurso , de fato, para servir de lembrete do
propsito nico que exclusivamente existe para o mago, um meio tanto de concentrao
de seus poderes como de exaltao. Quando smbolo aps smbolo afetaram sua
conscincia, quando emoo aps emoo foram despertadas para estimular a imaginao
do mago, ento advm o supremo momento orgistico. Todo nervo do corpo, todo canal
de fora da mente e da alma so estirados num avassalador espasmo de felicidade, um
transbordamento esttico da vontade e a totalidade do ser na direo predeterminada.
Toda impresso, por meio do mtodo cabalstico de associao de idias,
tornada o ponto de partida de uma srie de pensamentos conectados resultando na
suprema idia da invocao. Quando, durante uma cerimnia, o teurgo permanece no
interior de um octgono, os nomes em torno do crculo, as oito velas ardendo vivamente
fora, a predominncia da cor laranja, a elevao do incenso estoraque numa coluna
delgada de nvoa a partir do incensrio, tudo sugerir o significado de Mercrio e Hermes
sua mente. O misticismo de ordinrio considera os sentidos como barreiras luz da
alma e que a presena da luz tem sua manifestao impedida devido influncia sedutora
e turbulncia dos sentidos e da mente. Na magia, contudo, considera-se que os sentidos,
quando controlados, so os portais dourados atravs dos quais o Rei da Glria pode
entrar. Na operao invocatria, todo sentido e toda faculdade tm que participar. ªO
entendimento precisa ser formulado por sinais e resumido por caracteres ou pentculos. A
vontade tem que ser determinada por palavras e estas por atos. A idia mgica tem que
ser traduzida em luz para os olhos, harmonia para os ouvidos, perfumes para o olfato,
sabores para a boca e formas para o tato.º Essa citao de liphas Lvi exprime
adequadamente de que maneira o homem integral tem que participar dos ritos tergicos.
Visto que o ritualista egpcio proferia que no h nenhuma parte dele que no seja dos
deuses, a utilizao dos sentidos e poderes da mente num ritual bem ordenado constitui o
mtodo ideal de invocao dos deuses. Toda parte individual do homem, cada sentido e
poder precisam ser trazidos esfera do rito em que tomam parte. nossa preocupao,
normalmente, com as perptuas exigncias independentes do corpo, da mente e das
emoes que nos cegam para a presena desse princpio interior, a nica realidade da vida

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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interior. Da um dos requisitos do ritual ser ele ou ocupar plenamente ou tranqilizar
essas pores particulares do ser de algum, de sorte que a unio transcendental com o
daimon no sofra interferncia. O sistema elaborado de formas de divindade, vibrao de
nomes divinos, gestos e sinais, assinaturas de espritos, a preeminncia de smbolos
geomtricos e perfumes penetrantes, alm de seu propsito ostensivo de invocar a idia
desejada manifestao, fornecem esse motivo auxiliar. Ocupar plenamente a ateno de
cada um dos princpios inferiores ou vivific -los uma das funes do ritual, deixando a
alma livre para ser exaltada e fazer seu caminho voando at o fogo celestial, onde
finalmente consumida por completo para renascer em felicidade e espiritualidade. Num
certo sentido, o efeito do ritual e da cerimnia manter os sentidos e veculos
comprometidos cada um com sua tarefa especfica, sem distrair a concentrao superior
do mago. E, ademais, ele os separa ao atribuir uma tarefa definida a cada um. Assim,
quando o momento da exaltao chega, quando o casamento mstico consumado, o ego
despido, despojado inteiramente de todos os seus invlucros, deixado livre para virar-se
para a direo que lhe aprouver. Ao mesmo tempo, a mais importante funo da
cerimnia realizada, tendo sido promovida no corao do operador uma intoxicao to
intensa a ponto de servir como o ponto preliminar para o xtase da unio com o deus ou
anjo.
De um outro ponto de vista, o efeito do ritual e do aparato criar de maneira plena
na imaginao do mago atravs dos canais dos sentidos uma idia que ± em virtude de sua
realidade, iluminao e poder supremos quando evocada ± tenha sido chamada de deus ou
esprito. Essa a posio subjetiva que, por antecipao, foi esboada numa p gina
anterior. ªTodos os espritos e, por assim dizer, as essncias de todas as coisas, jazem
ocultos em ns e nascem e so gerados somente pela atuao, poder (vontade) e fantasia*
(imaginao) do microcosmo**.º Barrett, nessa sentena citada, argumenta que se pode
razoavelmente supor que os deuses e as hierarquias de espritos sejam simplesmente
facetas previamente desconhecidas de nossa prpria conscincia. A
sua evocao ou invocao pelo mago no so certamente incompar veis a um estmulo
de alguma parte da mente ou imaginao, resultando em xtase, inspirao e expanso da
conscincia. A observao e experincia de teurgos, levadas a cabo num longo perodo de
tempo, mostraram mais ou menos que entre certas palavras, nmeros, gestos, perfumes e
formatos que em si no so particularmente significativos, ocorre uma relao natural
peculiar. A imaginao um agente criador poderoso, e quando estimulada de v rias
maneiras suas criaes assumem uma aparncia da mais elevada realidade. Qualquer idia
ou pensamento rudimentar ou latente na imaginao ± ou como os teurgos preferem,
esprito ± pode ser convocada ou criada dentro da conscincia individual pelo uso e
combinao daquelas coisas que lhe so harmoniosas, expressando fases particulares de
sua natureza ou simpatias com sua natureza. Pouco importa se para descrev-lo
empreguemos os arcasmos dos filsofos medievais, a linguagem de laboratrio do
psicanalista ou o mundo de sonho e fantasia do poeta. Podemos cham -lo de liberao do
inconsciente, de restaurao do crepsculo da memria da raa, ou podemos ousar ser
suficientemente corajosos para usar a retumbante palavra antiquada ªinvocaoº ou
inspirao. As palavras no so nada, o fato tudo. Tal como as letras ªc, , oº, que em si
mesmas e isoladas umas das outras carecem de qualquer importncia em particular,
quando combinadas exprimem a idia de co, do mesmo modo palavras m gicas,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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incensos, pentculos e o estmulo da vontade podem produzir dentro da imaginao uma
idia de grande poder. Na verdade, to poderosa essa criao pode se revelar que
possvel que confira inspirao, iluminao e reaja para grande proveito para a mente
humana.
* fantasia, imaginao em grego. (N. T.)
** Magus, de Francis Barrett.
Quero agora considerar os vrios acessrios usados. Perfumes e incensos sempre
foram utilizados nos ritos mgicos e os antigos taumaturgos fizeram um estudo especial
da reao fsica e moral causada pelos distintos odores. Seu emprego no cerimonial tem
tripla finalidade. Em algumas operaes por vezes necessrio suprir um veculo ou base
materiais ao esprito que se manifesta. Quantidades dos incensos apropriados so
queimadas, de modo que a partir das densas partculas que flutuam como uma pesada
nuvem esfumaada na atmosfera uma base ou corpo fsicos possam ser construdos pelo
esprito evocado para serem usados como veculo temporrio. Ademais, perfumes so
oferecidos como oferendas aromticas ou sacrifcio ao prprio esprito ou anjo, variando
o incenso em funo de cada classe de inteligncia. Benjoim e sndalo so empregados
para espritos venusianos, flor de noz-moscada e estoraque para os mercurianos, enxofre
para os saturnianos, glbano e canela para as foras solares, e assim por diante. Em
terceiro lugar, h o bastante importante efeito intoxicante dos incensos potentes e
penetrantes na prpria conscincia, um incenso em separado sendo indicado para
acompanhar a invocao de cada divindade. Existe ainda uma outra interpretao do uso
dos incensos. Cada letra do alfabeto hebraico lhe atribuiu um grande n mero de
correspondncias, envolvendo espritos, inteligncias, cores, gemas, idias e os prprios
incensos. Tomando-se as letras no nome de um esprito e consultando-se as autoridades
adequadas, um composto de incensos poder ser confeccionado, o qual exprimir atravs
do sentido do olfato o nome do esprito. To-somente a partir desse composto de
perfumes poder o esprito apropriado ser sugerido na imaginao e convocado pelos ritos
adequados. Resta pouca d vida a respeito da sugesto essencial desses perfumes, visto
que mesmo para indivduos comuns alguns incensos so decididamente sedutores e
excitantes, como o caso do almscar e do patchuli, havendo ainda outros sobremaneira
fragrantes e generosos, e outros que possuem efeito sedativo e tranqilizante.
Quanto ao som, seu poder formativo mais ou menos bem conhecido e ser
abordado um pouco mais detalhadamente numa pgina posterior em conexo com os
chamados ªnomes brbaros de evocaoº. De momento basta dizer que o som est
vinculado lei da vibrao, cujas foras so suficientemente poderosas para desintegrar
ou construir novamente qualquer forma para a qual se dirija a vibrao. O egiptlogo Sir
E. A. Wallis Budge observou que os sacerdotes egpcios conferiam a maior importncia
s palavras pronunciadas sob certas condies. Na verdade, toda a eficcia das invocaes
te rgicas parece ter dependido da maneira e do tom de voz nos quais as palavras eram
proferidas. Invocao, diz Jmblico, ª a chave divina que abre aos homens o santurio
dos deuses; nos acostuma aos rios esplndidos de luz superior; e num curto perodo os
dispe ao abrao e contato inefveis dos deuses; e no desiste at que nos erga ao topo de
tudo*.º
* Os Mistrios, Jmblico.

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O sacramento do sentido do paladar constitui um problema mais complexo. Sua
base racional como eucaristia corresponde simplesmente a isso. Uma substncia
cerimonialmente consagrada e nomeada segundo um princpio espiritual que mantm com
ela uma especial afinidade. Uma hstia de trigo teria estreita afinidade com Ceres ou
Persfone; o vinho com Baco e Dionsio. Algumas substncias se harmonizaro mais com
inteligncias jupiterianas ou mercurianas do que outras. O estudo do alfabeto mgico
capacitar o aprendiza certificar-se do que deve ser usado. Assim nomeada, a substncia
carregada mediante a invocao daquela presena divina, e sendo consumida se prev que
atravs da assimilao dos elementos o deus ou a essncia divina invocada
invariavelmente encarna no ser do mago por meio da substncia consagrada. Esta
encarnao uma outra forma da unio do teurgo com o deus, unio que segundo a
definio das autoridades antigas um dos aspectos mais importantes da magia. Essa
espcie particular de unio, se continuada por um certo perodo de tempo, auxilia a
comunho com as essncias divinas, medida que os veculos se tornam mais refinado e
mais altamente sensveis presena do deus.
No que concerne ao sentido da viso, ser necessrio abordar mais
minuciosamente os diferentes smbolos usados. Alguns desses smbolos so,
naturalmente, comuns a toda cerim nia, enquanto que outros dizem respeito estritamente
a uma cerim nia particular. Por exemplo, a espada uma arma marcial qual se atribui
um papel numa operao devotada invocao de Hrus e Marte. Numa cerim nia
preparada, digamos, para a invocao de Afrodite ou sis, a espada nada teria com comum
e estaria em total desarmonia com a natureza dessas deusas, de modo que todo o
procedimento daria em nada. Um acessrio como a rosa, que expressa amor e a
declarao da natureza de ser como graa a filha de Deus, seria sumamente apropriado
numa cerim nia em que o teurgo deseja desenvolver suas emoes mais elevadas. Mas na
operao para invocar a Senhora Maat, a rainha da verdade, a rosa no teria lugar
algum.
O principal smbolo comum a toda operao o crculo mgico. Por definio,
essa figura encerra um espao confinante, uma limitao, separando aquilo que est
dentro daquilo que est fora. Pelo uso do crculo, o mago afirma que no interior dessa
limitao auto-imposta ele confina seus esforos; que ele se limita consecuo de um
fim especfico e que no est mais num labirinto de iluso e mudana perptua como um
viandante cego sem meta, objetivo ou aspirao. O crculo, alm de ser, como evidente,
o smbolo do infinito, tipifica tambm a esfera astral do mago que, num certo sentido, a
conscincia individual, seu universo, fora do qual nada pode existir. Nesse sentido, a
ttulo de recurso de explicao, a teoria do idealismo subjetivo se mostra novamente
conveniente. O crculo no qual o mago est encerrado representa seu cosmos particular; a
conquista auto-inaugurada desse universo faz parte do processo de consecuo de
completa autoconscincia. J que o cosmos uma criao do ego transcendental,
medida que um mago amplia o alcance de seu universo, familiarizando-se com sua
estrutura e diversidade, muito mais se aproximar ele da auto-realizao. De um outro
ponto de vista, o crculo pode ser considerado o Ain-Sof e o ponto central do crculo o eu,
cuja funo expandir a si mesmo para incluir a circunferncia e se tornar, tambm, o
infinito.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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Em torno desse crculo so inscritos nomes divinos. Muitos deles sero diferentes
em funo da natureza de cada cerimnia e com o poder e influncia ingnitos inerentes
aos nomes que o mago conta como uma proteo contra os viciosos demnios externos ±
os pensamentos hostis de seu prprio ego. A meno dos nomes de guarda em torno do
crculo levanta a questo do processo de proteo do crculo astral interno, o universo da
conscincia, e como uma proteo adequada para a esfera astral bem como para o crculo
externo pode ser obtida. No basta para o mago que pinte os nomes divinos na
circunferncia do crculo sobre o cho de seu templo; isto no passa de uma parte do
processo efetivo e um signo visvel externo de uma graa espiritual interior. Para que se
produza um crculo astral que ser to inexpugnvel quanto uma fortaleza de ao da qual
o crculo pintado ser um digno smbolo, banimentos devero ser executados durante
meses vrias vezes por dia. A consagrao e invocao implcitas no ritual de banimento
devem ser insistentemente realizadas dias aps dia, e uma sutil substncia espiritual
proveniente de planos mais elevados infundida na esfera astral, tornando-a elstica e
rutilante com corusca es de luz. Essa aura agudamente resplandecente constitui o crculo
mgico real do qual o crculo visvel no cho do templo apenas um smbolo terreno.
No seria inoportuno tecer mais algumas observa es sobre o crculo mgico com
o fito de esclarecer a posio real da magia contra o oprbrio lanado por William Q.
Judge ± um dos fundadores da Sociedade Teosfica com Madame Blavatsky em 1875 ±
em suas Notas acerca do Bhagavad Gita. William Q. Judge acalenta a iluso nesse
trabalho, como o fazem tantos outros escritores alhures, de que todas as opera es
mgicas so exclusivamente devotadas evocao de elementais. Que essa uma
hiptese errnea me esforarei neste livro para mostrar. No em absoluto incogitvel,
entretanto, que Judge tenha dado essa interpretao com a finalidade de conter os irmos
mais fracos, afast-los do perigo e da intromisso em coisas que esto alm deles. Judge
exprime a crena de que o uso do crculo como um dispositivo de proteo para impedir o
ingresso de demnios e outras entidades astrais se deve ao medo deles, e ele conclui
acertadamente que o medo o produto da ignorncia, que muito corretamente ele deplora.
Teoricamente, essas observa es so todas excelentes e plausveis. A ignorncia d
origem, de fato, ao medo e se encontra na raiz do fracasso e de uma larga quantidade de
problemas. Na vida do dia-a-dia, contudo, censuramos e proibimos o uso da profilaxia
cirrgica e dos dispositivos de desinfeco alegando como razo que eles tm suas
razes no medo da infeco? Devem as caladas e os passeios serem abolidos e
eliminados de nossas ruas porque so eloqentes lembretes e express es de nosso pavor
com relao aos acidentes automobilsticos? Na realidade, todo o argumento nesse
sentido um absurdo. Num caso ou noutro, ele encerra uma total falta de compreenso da
natureza, propsito e funo do crculo. Quando se prev o perigo a partir de qualquer
fonte, naturalmente tomam-se medidas que se acha que o evitaro, estando alm da
questo todas as idias de medo e ignorncia, o que constitui a razo da existncia da
humanidade sobre a Terra atualmente. Se, por exemplo, estou envolvido numa cerimnia
que tem por objeto a invocao de meu Santo Anjo Guardio, deverei eu permanecer
satisfeito por ter minha mente, minha alma e a esfera de operao em geral invadida por
uma hoste de entidades abjetas, os mais baixos habitantes do plano astral que, sem
dvida, seriam atrados pelas influncias magnticas que emanam de meu crculo? Agir
assim arruinaria todos os meus esforos, condenando de antemo a operao, se

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executada cerimonialmente, a um fracasso sinistro. E como se no bastasse, a obsesso
poderia ser o resultado, estando-se muito distante do propsito original do trabalho. A
funo do crculo simplesmente estabelecer um limite espacial dentro do qual o trabalho
espiritual possa proceder sem interferncias e sem o medo da intruso de foras
demonacas e estranhas. De qualquer modo, ingressar numa carreira de mago com medo
covarde no corao simplesmente atrair problemas. E h geralmente problemas
suficientes ao longo de nossa vida normal sem que tenhamos que assumir o herosmo de
pedir mais.
((ilustr. UM CRCULO MGICO))
Indicando a natureza do trabalho, dentro do crculo geralmente inscrita uma
outra figura geomtrica, como um quadrado, um octgono, uma cruz-tao ou um tri ngulo.
Um figura de cinco pontas denotar uma operao marcial e representa o imprio da
vontade sobre os elementos. Um octgono indicar trabalho cerimonial de uma natureza
mercuriana, j que o oito o nmero de Hod, a Sephira qual Mercrio atribudo.
Erigido no interior dessa figura, como o fundamento de todo o trabalho do mago, o
smbolo da vontade inferior, est o altar sobre o qual esto arrumados os instrumentos
mgicos a serem empregados. o centro fundamental do trabalho do mago, o piv ao
qual ele retorna repetidamente depois do circumpercurso. Esse altar deve ser construdo
de tal maneira que sua forma e tamanho e os prprios materiais de que construdo
estejam todos de acordo com os princpios fundamentais da Cabala, servindo assim para
lembrar o mago do trabalho em pauta. O cedro, por exemplo, se empregado na construo
do altar, produziria uma associao imaginativa com Jpiter, enquanto que o carvalho
uma atribuio de Marte. A madeira do loureiro ou a accia, ambas atribudas a
Tiphareth, se harmonizariam, entretanto, com qualquer tipo de operao na medida em
que Tiphareth e suas correspondncias simbolizam harmonia e equilbrio. Este altar deve
ser feito de tal maneira que possa atuar como um armrio no interior do qual todos os
instrumentos possam ser conservados e guardados com segurana. Relativamente a esta
regra geral, h, contudo, uma exceo. A l mpada tem sempre que estar suspensa sobre a
cabea do teurgo, no devendo jamais ser mantida dentro do armrio do altar. Em todo
sistema ela simboliza o brilho no ofuscado do Eu superior, o Santo Anjo Guardio a
cujo conhecimento e conversao o teurgo aspira to ardentemente. Sempre que essa
l mpada estiver brilhando, iluminando o trabalho mgico, a operao manter o selo
imortal da legitimidade e a permanente sano e aprovao, por assim dizer, do Esprito
Santo. Ademais, o azeite consumido por essa l mpada azeite de oliva, sagrado a
Minerva, a deusa da sabedoria.
Essas armas, as chamadas armas elementares, so arrumadas no topo do altar antes
da operao. Consistem do basto, da espada ou adaga, da taa e do pantculo,
representando as letras do Tetragrammaton e os quatro elementos dos quais toda a gama
de heterogeneidade do cosmos foi constituda. O basto atribudo ao elemento fogo; a
taa gua, enquanto que a espada atribuda ao ar, o pantculo simbolizando a fixidez e
a inrcia da terra. No h arma para representao do quinto elemento de coroamento, que
o Esprito ou Akasha, pois esse invisvel e sua cor ttvica negro ou ndigo.
H uma srie de correspondncias que podem se revelar interessantes para o
mago. Cada um dos deuses caracterizado por alguma arma ou smbolo particular que
expressa mais clara e perfeitamente do que qualquer outra coisa sua natureza essencial.

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Assim, quando o mago brande o basto, deve-se conceber que ele assume para si a
autoridade e sabedoria de Tahuti ante o conselho de deuses csmicos. Com o cetro ele
anuncia sua relao com Maat, a Senhora da Verdade e Soberania, enquanto o mangual
ou aoite denota sua autoridade e auto-sacrifcio associando-o de imediato a Osris.
O basto a vontade, representando a sabedoria e a presena espiritual do eu
criador, Chiah, devendo ser reto e poderoso, uma figura digna de sua fora divina.
Passiva e receptiva, a taa ou clice um smbolo verdadeiro do Neschamah do
mago, a intuio e compreenso que esto sempre abertas no aguardo do rocio superior
que diariamente desce, de acordo com O livro do esplendor, das regies mais elevadas
para aquele de alma pura. No cerimonial, a taa utilizada raramente, e nesse caso
somente nas invocaes mais elevadas para conter as libaes. Nas evocaes a taa no
desempenha papel algum.
A espada arma branca, dura e afiada, e perfurante como o ar que tudo permeia e
penetra, sempre num estado de fluxo e movimento perptuos. Por esse smbolo entende-
se Ruach, ou a mente, a qual, quando sem treino voltil e se acha num estado de
contnuo movimento, sem estabilidade ou fcil concentrao. Visto que se trata de um
instrumento de corte, usado para anlise e dissecao, o banimento da magia cerimonial
sua funo primordial, no devendo jamais ser empregada em trabalhos que tm como
clmax a invocao do mais elevado.
Arredondado, inerte e construdo de cera, um smbolo adequado da terra, plstico
e aguardando o cultivo pela inteligncia, o pantculo um sinal do corpo, o templo do
Esprito Santo, na iminncia de receber mediante os ritos tergicos e telsticos o influxo
do esprito divino. Um pantculo, de acordo com Lvi, um caractere sinttico que
resume o dogma mgico total em uma de suas fases especiais. assim a expresso real de
um pensamento completo e ato da vontade; a assinatura de uma mente.
O triângulo da arte no qual o esprito evocado conjurado manifestao visvel
, em si mesmo, um smbolo filosfico perfeito de manifestao. Representando as
primeiras manifestaes csmicas ou as trs Sephiroth maiores dos mundos superiores, o
tringulo a representao ideal da gerao, da manifestao em existncia coerente
tangvel daquilo que anteriormente era pensamento, invisvel e metafsico. Tal como a
primeira trade representa a primeira manifestao completa do crculo de Ain Sof, do
mesmo modo em magia o tringulo responsvel pela chamada luz do dia dos poderes
da escurido e da noite. ª H trs que do testemunho sobre a Terraº, e esses trs so as
pontas do tringulo, limitadas pelos trs grandes nomes de Deus. Do crculo da
conscincia, que o universo do mago, uma idia partitiva e especial convocada
manifestao no interior do triângulo.
O manto usado pelo teurgo representa sua glria interior ocultada. Como no
budismo, o manto amarelo usado pelo bhikku simboliza o esplendor dourado de seu corpo
solar interior, tornado glorioso por meio do despertar dos poderes superiores, o mesmo
ocorrendo com o manto em relao ao mago. A cor deste manto variar dependendo do
tipo de operao, vermelha para o trabalho marcial, azul para o trabalho jupiteriano e
amarela ou dourada para operaes solares. Os outros smbolos empregados em magia
podero agora ser facilmente desenvolvidos pelo leitor.
Com referncia ao basto, embora muitos magos, inclusive Abramelin,
aconselhem que deva ser um instrumento razoavelmente longo, liphas Lvi observa que

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no deve exceder o comprimento do brao do operador e ser feito de madeira de
amendoeira ou aveleira, uma nica fiada do melhor arame de ao atravessando seu centro
de extremidade a extremidade. Alguns magos colocam smbolos no pice desse bculo. A
cabea da bis ocasionalmente empregada se refere a Tahuti, o Senhor da Sabedoria e
patrono da magia. Um dos melhores smbolos para um basto um forcado trino de ouro
que representa a letra hebraica Shin, cuja significao aquela do Esprito Santo dos
deuses. Outro smbolo o ltus, o qual, encimando o basto, indica a regenerao e o
renascimento que o mago busca realizar. Neste caso, o eixo pintado de duas cores, a
parte inferior de preto e a superior de branco. Bastante similar no que implica ao basto
do ltus aquele coroado por uma fnix, o smbolo tambm da regenerao atravs do
fogo. Considerando-se que o basto seja o smbolo da vontade criadora, sua construo
deve ser acompanhada por um distintivo exerccio dessa vontade, residindo nesta idia a
base racional de muitas das aparentemente absurdas e artificiais prescri es apresentadas
pelos teurgos em conexo com a aquisio de convenientes armas mgicas. De maneira
superficial e primeira vista, pode parecer que o distrbio relacionado a esses
instrumentos seja grosseiro exagero e por demais pueril. Mas se essa opinio for acatada,
a idia subjacente e essencial dessas instru es ter que ser descurada. Se, por exemplo,
as orienta es de Lvi relativamente ao basto tiverem que ser seguidas, ento esse
instrumento deveria ser confeccionado de um galho perfeitamente reto da amendoeira ou
aveleira, galho este cortado da rvore sem entalhamento e sem hesitao de um s golpe
com uma faca afiada antes do nascer do sol e na estao em que a rvore estiver prestes a
florescer. O galho dever ser submetido a um meticuloso procedimento de preparao,
sendo despojado de suas folhas e brotos, a casca removida, as extremidades aparadas
cuidadosamente e os ns aplainados. Seguem-se a isto vrios outros procedimentos
significativos que podem ser confirmados pela consulta de Dogma e Ritual de Alta
Magia. O desenvolvimento da vontade est subjacente a todos esses procedimentos. O
mago que se incomodou a ponto de se levantar duas ou trs vezes meia-noite por seu
basto, negando-se repouso e sono, ter, pelo prprio fato de assim ter agido, se
beneficiado consideravelmente no que diz respeito vontade. Num tal exemplo, o basto
realmente ser um smbolo dinmico da vontade criadora, e so estes smbolos e
instrumentos que so necessrios em magia. ªO campons que cada manh se levanta s
duas ou trs horas e caminha para longe de casa para colher um ramo da mesma planta
antes do nascer do sol, pode realizar inmeros prodgios simplesmente portando essa
planta consigo, pois ela se tornar tudo que ele quer que ela seja no interesse dos desejos
dele*.º
* Dogma e ritual de Alta Magia, liphas Lvi.
Procedimentos similares aos mencionados acima no exemplo do basto devem
acompanhar a construo das outras armas elementares porquanto elas tm que ser a
corporificao visvel da prpria condio de alma e mente do mago, sem o que no
produzem efeito como smbolos taumatrgicos. Se a mente do mago, por exemplo, no
for perspicaz e analtica, e se essa qualidade no contribuir na confeco da espada, como
os espritos elementais e os demnios de face canina obedecero a suas ordens para
sarem do crculo de invocao? O clice, tambm, como o smbolo da intuio bem
como da imaginao divina, deve, do mesmo modo, ser confeccionado de tal sorte e
cercado de tais elevados pensamentos e proezas a ponto de corporificar alguma idia

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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intuicional, ou ostentando no seu exterior um desenho ou palavra de suprema
significao, ou exemplificando pelo formato da taa to-somente uma idia divina.
Compete a cada leitor decidir de que maneira os outros instrumentos portaro o selo da
faculdade ou princpio espiritual que esto destinados a representar.
± - -
Visto que ocorre freqentemente a aluso ao fato de que as duas faculdades
principalmente empregadas na magia so a vontade e a imaginao, algumas pginas
precisam ser devotadas ao exame dessas, apresentando-se os pareceres de teurgos
juntamente com algumas sugestes teis. Um dos mais elevados poderes de que
dispomos, um poder to maravilhosamente criativo que chega a ser indescritvel e
inexprimvel, a imaginao. , postula J mblico, ªsuperior toda a natureza e a
gerao, atravs dele sendo ns capazes de nos unirmos aos deuses, de transcender a
ordem mundana e de participar da vida eterna e da energia dos deuses supercelestiais.
Mediante esse princpio, portanto, somos capazes de liberar a ns mesmos do destinoº. E,
no entanto, a maioria das pessoas pensa que essa faculdade idntica fantasia e ao
devaneio, sendo que qualquer valor definido e consistente que possa possuir negado.
Dificilmente se poderia cometer erro maior. Como a prpria palavra indica, trata-se de
uma faculdade produtora de imagens, um poder criador de imagens que quando
desenvolvido pode se mostrar de mxima import ncia como auxiliar da alma em sua
jornada de avano. O filsofo ctico Hume se refere a ela como uma espcie de faculdade
mgica da alma que sempre perfeita no gnio, sendo propriamente o que chamamos de
gnio mesmo. Mesmo o metafsico Immanuel Kant, o inventor da pesada e s vezes
rangente maquinaria intelectual a priori, acreditava que se pode falar do entendimento
simplesmente como imaginao que atingiu uma conscincia de suas prprias atividades.
A magia prope um desenvolvimento acelerado da alma atravs de uma cultura intensiva
na qual a imaginao desempenha um importante papel. uma caricatura, portanto, e
bastante lamentvel considerarmos quo pouco essa faculdade utilizada, e quo
raramente a maioria das pessoas a faz atuar no desenrolar da vida cotidiana. E ainda
assim, na realidade, sem ela e os aspectos variados de maravilha e novidade que concede
a nossas atividades em todo campo de trabalho, a despeito de paralisada e tolhida pelos
sentidos e a mente, nada duradouro e efetivo poderia ser feito. No apenas o poeta, o
artista, o msico, o matemtico e o inventor testemunham continuamente e cantam a sua
grandeza, j que as realizaes de todos eles se devem ao seu mistrio permanente, como
tambm o magnata dos negcios, o administrador e o chefe de Estado necessitam utilizar
essa faculdade se quiserem que o sucesso cruze seus caminhos. Mais da metade do sabor
rico e colorido da vida est perdida para o homem sem imaginao, enquanto que aqueles
que so suficientemente felizes ou sbios para empreg-la muito ativamente colhem o
mais agudo prazer possvel ao ser humano.
O melhor exemplo de imaginao criativa aquele que constantemente desfila
eloqentemente diante de nossos olhos: a brincadeira das crianas. Alguns pedaos de
pau e cordo, algumas pedras, um pouco de lama e uma poa d’gua suprem o garoto
saudvel normal de toda a matria-prima a partir da qual ele construir em sua prpria
mente uma inspiradssima frota de couraados e belonaves somada a um magnfico porto
para eles. A boneca mais disforme geralmente a favorita e a mais bonita para a
garotinha, pois de algum modo o ªpatinho feioº parece proporcionar mais espao para a

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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imaginao da criana, enquanto que a boneca ricamente vestida de olhos mveis,
cabelos louros e bochechas rosadas realmente destri o gume penetrante da imaginao
ativa e vvida. Observando as crianas brincando percebe-se com quo poucas
propriedades elas so capazes de construir todo um drama bem como uma tragdia
comovente. E assim uma pessoa consegue ver poesia num repolho ou numa porca com
seus filhotes, enquanto outra perceber nas coisas mais excelsas apenas seu aspecto mais
baixo e rir da harmonia das esferas, e ridicularizar as mais sublimes concepes dos
filsofos. A razo de um pintor ser capaz de ver num triste mendigo o tema para uma
grande pintura , de maneira semelhante, atribuvel mesma causa: o mistrio da
imaginao. Como podemos explicar o mistrio desse poder criador individual que, por
assim dizer saltando sobre ns, se converte no mestre das imagens e das palavras?
Assumindo o controle destas a partir da mente raciocinadora, concede-lhes significados
simblicos e mais profundos at que imagens, idias e palavras se movem juntas e se
renem, tornando-se um organismo por meio de algum poder formativo transcendental
superior a toda razo. to misterioso realmente quanto o crescimento de um organismo
na natureza, no menos maravilhoso que a planta que extrai da terra por meio de algum
poder oculto as essncias que transmuta e que torna subservientes a si mesma.
Nos sculos passados, na rdua investigao intelectual visando a determinar a
raiz fundamental da existncia, os filsofos se acostumaram a formular como lei que a
existncia se funda na razo e no pensamento, quer dizer, isso quando no eram monistas
materialistas que afirmavam ser a matria a nica realidade. Diversamente, o ponto de
vista mgico, como formulado at aqui, que nem a razo nem o pensamento jazem na
raiz das coisas, pois o pensamento simplesmente um aspecto do prprio cosmos. Trata-
se sim de uma essncia espiritual inominvel que no a mente mas a causa da mente,
no o esprito mas a causa da existncia do esprito, no a matria mas a causa qual a
matria deve o seu ser. Explicar o abismo intransponvel entre a razo e o universo
concreto constituiu um exerccio severo para a mente filosfica. A principal posio
idealista era a de que tal como na lgica a concluso segue rigorosamente os passos da
premissa, do mesmo modo o universo o produto lgico da razo absoluta e seu
desenvolvimento segue a deduo de categorias racionais do pensamento. Recentemente,
entretanto, um filsofo chamado Fawcett foi presenteado com um lampejo de supremo
gnio no momento em que lhe ocorreu que o processo pelo qual o universo se
desenvolveu e veio a ser foi um processo criador imaginativo e que a imaginao, no a
razo absoluta ou mesmo uma vontade do instinto sempre impelida precipitadamente
manifestao, era a chave da soluo desse desconcertante problema filosfico. Ele define
essa imaginao como a matria-prima na qual todas as faculdades e atividades humanas
tm o seu ser. No desejo registrar aqui minha plena concordncia com todas as
concluses de Fawcett, porquanto meus prprios pontos de vista so os da Cabala,
expostos com certos detalhes alhures. Mas vale a pena observar que essa sua idia parece
em parte concordante com a dos teurgos. Eles postulavam a ideao como a primeira
manifestao, que o universo veio a ser graas s atividades dessa ideao. Contudo, est
claro que nenhum pensamento ou razo como o entendemos era sugerida, mas sim uma
faculdade criadora mais abstrata ligada de algum modo imaginao. A razo para a
imaginao o que a matria para a forma, o que o instrumento para o agente, o que o
corpo para o esprito que governa, e o que a sombra para sua substncia reflexiva.

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este poder residente no homem que Blavatsky chama de Kriyasakti, definido em A
Doutrina Secreta como ªo poder misterioso do pensamento que o capacita a produzir
resultados fenomnicos externos, perceptveis por meio da prpria energia que lhe
inerenteº, e assim sendo parece que estaria tambm estreitamente vinculado vontade.
Os rituais e as cerimnias agora considerados simplesmente uma perda de tempo
por aqueles que desconhecem como conduzi-los e condenados como incapazes de
produzir qualquer efeito real, detinham uma reao sumamente potente quando o
simbolismo de cada ao da cerimnia era inteiramente reconhecido e compreendido e
quando a imaginao era ampliada e a vontade firmemente concentrada no objetivo a ser
realizado. Estando todo o ego humano num estado de excitao tergica, o Eu superior
ou uma Essncia universal descia sobre o ego ou o elevava, o qual se tornava assim um
veculo luminoso de um poder supra-humano.
O que chamamos to casualmente de imaginao no indivduo comum , de
acordo com os teurgos de todos os tempos, a faculdade inerente alma de assimilar as
imagens e reflexos do astral divino, e liphas Lvi sugere que por ela mesma e com o
auxlio de seu difano ou a imaginao, a alma pode perceber sem a mediao dos rgos
corporais os objetos, quer sejam eles espirituais ou fsicos, que existem no universo. Em
outras palavras, a imaginao a viso da alma por meio da qual ela percebe direta e
imediatamente idias e pensamentos de toda espcie. E assim, inclusive, a clarividncia
vista como uma extenso do poder da imaginao.
Admitindo, como o fazemos, a afirmao de Lvi de que a vontade e a
imaginao so as faculdades criadoras aduzidas para sustentar as foras naturais durante
as cerimnias tergicas, as seguintes perguntas podem ocorrer ao leitor: ªO que fazer se
as faculdades de algum so apenas medianas? O que fazer se existe uma pobreza de
criatividade espiritual? Se esses poderes no so particularmente potentes e capazes de
formulao mgica, possvel que sejam desenvolvidos e fortalecidos?º A resposta
decididamente afirmativa pois indubitavelmente possvel desenvolv-los e fortalec-los.
Os sbios da Antigidade conceberam vrios exerccios cuja prtica poderia transformar
um indivduo mais ou menos comum num indivduo criativo e inspirado. Aquele que est
espiritualmente morto pode assim refazer-se e remodelar suas energias de maneira a
passar a deter uma faculdade extremamente poderosa de criatividade e gnio. Ocupar-me-
ei aqui de dois mtodos, um predominante entre os hindus e o outro praticado por alguns
cristos, tendo eu delineado e explicado o mtodo egpcio numa pgina posterior com um
outro ttulo. Embora no advogando o catolicismo com seu jesuitismo luminar, devo
mencionar a existncia de um livro notvel, indispensvel e valioso para o aprendiz, da
autoria de um mstico jesuta, Sto. Incio de Loyola. Nesse pequeno volume esboado
um sistema extraordinrio de treinamento que se refere especialmente imaginao;
extraordinrio, quero dizer, quando seguido por seu prprio mrito e divorciado de todo
dogma e da teologia catlica. , est claro, cristo na sua inteno, com smbolos que
apelam sectariamente aos catlicos. Contudo, mediante um pouco de discernimento, o
corao desse mtodo pode facilmente ser separado do resduo doutrinrio dogmtico. Foi
por meio desse mtodo experimental que Sto. Incio se tornou o homem de supremo
gnio que foi, um homem que conquistou a reputao de ser, conforme o professor
William James, um dos mais poderosos engenhos da organizao e construo humanas
j vistos sobre a face da Terra. Nesse livro que citamos, Os exerccios espirituais,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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aconselha seus discpulos a reviver na esfera da imaginao todos os eventos da vida
histrica exterior de seu mestre, Jesus Cristo. Pelo mtodo foravam suas imaginaes a
ver, tocar, cheirar e provar aquelas coisas invisveis e ensaiar aqueles incidentes h longo
tempo acontecidos e desvanecidos, os quais eram percebidos atravs dos sentidos de seu
Senhor encarnado. Sto. Incio deseja que a imaginao seja exaltada at o seu pico. Se
voc est meditando sobre um artigo de f, ele o estimularia a construir a localidade
claramente e com exatido diante da viso do olho mental, e observ-la cuidadosa e
rigorosamente, a ponto, por assim dizer, de toc-la. Caso seja o inferno, ele daria a voc
pedras ardentes para serem manuseadas; ele faz voc flutuar numa aterradora escurido
to espessa quanto piche; ele deposita enxofre lquido sobre sua lngua. Suas narinas
ficam saturadas de um fedor abominvel como o do prprio inferno e ele mostra a voc
tormentos terrveis, fazendo voc escutar gemidos lancinantes. Ele faria voc construir a
viso do calvrio com o Cristo glorificado coroado de espinhos sobre a cruz realizando a
redeno da humanidade, inspecionando os cus com olhos doloridos, chamando ao
mesmo tempo seu Pai no Cu. Ele faria voc encarar o milagre formidvel da ressurreio
e os prodgios realizados h muito na Palestina ± tudo isso Sto. Incio manda que sua
vontade crie em imaginao pelo exerccio constante.
Alguns anos atrs, Franz Hartman escreveu a respeito desse mesmo assunto que
ªos exerccios prescritos por Loyola so calculados para desenvolver os poderes da alma,
especialmente a imaginao e a vontade. O discpulo tem que concentrar sua mente nas
narrativas da Bblia do nascimento, sofrimento e morte de Jesus de Nazar, como se esses
fossem fatos histricos reais. O discpulo assim os considera, por assim dizer, como um
espectador mental, mas gradualmente trabalhando sobre sua imaginao ele se torna, dir-
se-ia, um participante; seus sentimentos e emoes so elevados a um estado de vibraes
superiores; ele se torna ele mesmo o ator da pea, vivenciando ele prprio as alegrias e
sofrimentos do Cristo, como se fosse o prprio Cristo; e essa identificao com o objeto
de sua imaginao pode ser levada a um tal ponto que at mesmo estigmas ou ferimentos
que sangram aparecero em seu prprio corpoº.
Embora o teurgo no precise explorar tal prtica a ponto de produzir os efeitos de
que fala Hartman, indiscutvel de que se trata de um mtodo infalvel para estimular
aquela faculdade criativa de que se deficiente. Perseverana e contnua aplicao
seguramente proporcionaro ao aprendiz uma vontade invencvel, uma mente capaz de
concentrao prolongada e, acima de tudo, uma imaginao que constitui a apoteose da
criatividade. Se o aprendizno aprovar a importncia religiosa que o santo atribui a esses
exerccios ± e se revelar uma profunda reprovao pelo dogma e teologia catlicos ± que
use sua prpria imaginao para construir seus prprios exerccios que sejam mais
favorveis e adequados ao seu temperamento individual. Que ele pinte para si mesmo a
imagem de que est sentado junto a uma vigorosa queda d’gua, uma Nigara, e diante de
seu olho interior que ele crie uma imagem do rio l em cima em sua nascente
murmurando e perambulando no seu calmo curso. Em seguida que ele conceba a gradual
aproximao do precipcio, torrentes selvagens de guas ensandecidas, redemoinhando
para c e para l em cascatas agitadas de espuma esbranquiada, colidindo contra as
rochas, sendo irresistivelmente arremessadas adiante sobre o abismo. Que ele imagine
tambm essas toneladas, milhares de toneladas de gua, subindo e descendo
impetuosamente sobre o precipcio sob o contnuo eco reverberante do trovo. Conceba,

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ento, o borrifo espalhando-se em todas as direes, a beleza da rebentao cor de neve
refratando a luz do sol em arcos-ris iridescentes, repletos de cores e matizes brilhantes. E
que ele oua, e ao ouvir se maravilhe, a voz profunda e trovejante produzida pelo impacto
formidando do volume das guas contra as rochas e guas mais abaixo. O aprendiz pode
ainda construir em sua imaginao mais coisas familiares: o rudo de um trem veloz, o
sabor de chocolate em sua boca, os cheiros de suaves perfumes e fragrantes incensos
penetrantes e o contato do carvo incandescente. No s deve a formulao imaginativa
do sentido ser distintiva, ou seja, o sabor de chocolate e no de caramelos doces por
exemplo devendo ser claramente imaginado, como tambm o mago deve treinar-se de
modo a suster a imagem ou impresso. Por meio desses estmulos da imaginao, seu
poder germinar e crescer, desenvolvendo-se de modo inconcebvel, e com o passar do
tempo o mago dispor de um novo poder de construo espiritual.
De maneira semelhante, os hindus prescrevem a meditao visando ao mesmo,
tendo como objeto os Tattvas ou os smbolos coloridos dos elementos, dos quais eles
sustentam cinco. As combinaes desses cinco resultam em trinta elementos e
subelementos, cujos smbolos pictricos produzem objetos notavelmente bons para o
exerccio da imaginao. Dispe-se de um tringulo equiltero vermelho, Tejas; um
crescente prateado horizontal, Apas; um crculo azul, Vayu; Prithivi um quadrado
amarelo e Akasha uma forma oval negra. As combinaes de dois smbolos quaisquer,
como um tringulo vermelho encimando um crescente prateado, ou um pequeno crculo
azul colocado no centro de um quadrado amarelo parecem de uma maneira bastante
singular se destacarem do fundo negro da viso interior e estimular todos os poderes da
imaginao. Mas pouco tempo basta para adquirir eficincia na visualizao desses
smbolos, de sorte que quando o operador se aproxima das tarefas mais importantes da
magia prtica, tais como a formulao do corpo de luz ou Mayavi-rupa e a construo
imaginativa das mscaras ou formas simblicas dos deuses, descobrir que em seu
interior h uma fora criativa poderosa que o servir bem. Todo esse treino, incluindo os
exerccios de Sto. Incio e os smbolos dos Tattvas, nunca em vo e nunca se avizinha
da futilidade, visto que tal treino proporciona o fundamento de todo trabalho te rgico,
sem o qual muito pouco de permanente e significativo pode ser concretizado.
Concordamos com as observaes do mago francs no que dizem respeito
imaginao, que ela a maior maga do universo. a essa faculdade que devemos as
criaes imortais da poesia, da m sica e de todas as artes. A Cano e suas Fontes, um
dos pouqussimos trabalhos sensveis de um poeta que lida com as origens de sua arte,
confirma isso, e constitui uma prova salutar das teorias mgicas que concernem
imaginao. A. E. se aproxima bastante da filosofia te rgica na medida em que supe
que em nossa natureza espiritual exista um ser transcendental que acorda quando
dormimos e conhecido vagamente nos estados dualistas do sonhar, quando a
conscincia parece dividida, e confere inspirao e luz atravs do mundo estelar da
imaginao. o cristalino do eu criativo, sendo este aquele poder que opera milagres,
curando os enfermos, trazendo socorro aos fracos e geralmente outorgando as revelaes
do esprito em benefcio dos homens.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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CAPTULO VIII
Em sua introduo aos Aforismos de Yoga de Patanjali, William Q. Judge afirma
que os antigos sbios hindus conheciam o segredo do desenvolvimento da vontade, e
como aumentar dez vezes tanto sua potncia quanto sua eficincia. Esse segredo das eras,
a ampliao do poder da vontade e da sabedoria jamais foi perdido. A vontade para o
aprendizda teurgia divina o fator primordial na produo de quaisquer alteraes
espirituais a que ele se proponha, e conseqentemente qualquer coisa que tenda a
aumentar esse potencial e despertar suas possibilidades latentes, transform-lo numa fora
irresistvel absoluta capaz de ser conscientemente manipulada, pertence natureza de
uma bno transcendental. A vontade no boa nem m; to-somente poder e vitaliza
todas as coisas igualmente. H vrias sugestes propostas por Lvi em seu Dogma e
ritual de Alta Magia, algumas das quais so as seguintes: ªSe ireis reinar sobre vs
mesmos e os outros, aprendei como querer... Como podemos aprender a querer?...
Observncias que so aparentemente as mais insignificantes e em si mesmas estranhas ao
fim a que se propem, conduzem, contudo, a esse fim mediante a educao e o exerccio
da vontade... O homem pode ser transformado pelo hbito, o qual, segundo o adgio,
torna-se sua segunda natureza. Por meio de exerccios atlticos persistentes e gradativos,
a energia e a agilidade do corpo so desenvolvidas ou criadas num grau espantoso. O
mesmo ocorre com os poderes da almaº. A essncia de suas sugestes, que s pode
impressionar pela sua sensatez, corresponde a isto. Por meio de um ascetismo
conscientemente imposto, negando-se a si mesmo durante o treinamento certas coisas
normalmente consideradas necessrias, para aprender em suma a arte da autoconquista e
como viver, -se livrado das vicissitudes do eterno fluxo e refluxo que a vida, e obtm-
se uma vontade altamente treinada. imperativo que as palavras ªascetismo auto-
impostoº sejam notadas e que precedam a frase ªdurante o treinamentoº; isto de
extrema importncia como a chave de abertura aos Portais da Vontade. Antes de
pronunciar esse enunciado vale refletir em como pode ser chamado de ªautonegaoº
aquilo que nega apenas o no-eu das coisas pelas quais se anseia para abrir aquelas trevas
cegas luz da vontade verdadeira, a viso interior e o eu real. Esse ltimo no negado
em absoluto. So unicamente os desejos de Ruach, essa entidade cujo egosmo muda com
o passar de cada hora, que so negados e disciplinados de modo a torn-lo um
instrumento til atravs do qual o Santo Anjo Guardio e seus pares podem trabalhar sem
restries e retardamentos inteis.
O fator digno de nota nesse sentido que o voto de ascetismo tem que ser mantido
em seu devido lugar. Esse voto deve ser assumido para uma finalidade bem definida e
claramente compreendida alm da qual no se deve jamais permitir desviar-se. Havendo
desvio, tudo estar perdido. Quando o voto realmente ultrapassa os confins da inteno
premeditada, o ascetismo como a extrema voluptuosidade um vcio desordenado,
pertencente s tendncias sutis do ego e, por conseguinte, decididamente para ser
desestimulado e suprimido. H crticos que afirmam ser o ascetismo uma forma de
egosmo e egocentrismo. Quando essas crticas severas so dirigidas apenas queles que
dele abusam, aqueles que considerariam suas negaes e seus flagelamentos
flagrantemente pblicos como supremas virtudes e que obtm muito prazer quando seu
vcio aclamado em pblico, a acusao correta. Mas no em caso diverso. Que se
entenda que o ascetismo no um vcio ou uma virtude, tal como a prpria vontade no

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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boa nem m. No possui em si mesmo mrito de espcie alguma exceto ser uma matria
de convenincia para quem quer que seja que o abrace com a finalidade de treinamento.
Tal como no treinamento de um boxeador, por exemplo, intemperanas como beber e
fumar so escrupulosamente eliminadas da lista das tolerncias em relao a ele, negaes
nas quais obviamente no se pode imputar nenhuma virtude moral, o mesmo ocorre com
o ascetismo que o teurgo assume para si mesmo. O ascetismo ao qual a magia se refere e
do qual Lvi fala algo inteiramente diferente do vcio egotstico ordinrio, j que tem
como seu objetivo precisamente o fortalecimento da vontade e a abnegao mstica desse
ego. esse falso ego ao qual o egosta e o pretenso asceta em nome apenas se prendem
to devotadamente, a despeito de ser para seu eterno detrimento, e que o mago procura
oferecer em sacrifcio de maneira que o Esprito Santo descendo sobre o altar em
penetrantes lnguas de fogo possa consumir a oferenda e nele viver para sempre.
Referindo-se aos mistrios de outrora, Lvi observa que quanto mais terrveis e
perigosos eles fossem, quanto mais severos fossem os rigores que impunham, maior seria
sua eficincia. Assim com esse ascetismo. Quanto maiores as negaes da
personalidade, quanto mais necessidades intemperantes so removidas do modo
costumeiro de vida, maior a aquisio da fora de vontade e mais fcil realmente se torna
destruir os laos eg icos. Ainda assim, o ascetismo no deve ser to terrvel a ponto de
danificar os instrumentos com os quais o mago obrigado a trabalhar. O astrnomo no
destr i seu telesc pio num acesso de ira cega. Cortar a garganta para ofender o pr prio
crebro uma insanidade e completamente estpido. Se o aspirante estiver predisposto
a ceder a disparates desse tipo, melhor ser para ele abster-se totalmente da magia e
permanecer junto ao calor e quietude da lareira de sua sala de estar.
Uma tcnica extremamente eficiente foi desenvolvida por um mago
contemporneo*, um sistema sumamente prtico isento de todas as desagradveis
implicaes e tendncias morais dos sistemas mais antigos. De acordo com esse
sistema**, a tcnica de tal modo arranjada de maneira a cobrir o campo todo da ao,
discurso e pensamento humanos, sendo, portanto, aplicvel constituio humana inteira.
Na base, est de acordo com a concepo geral do ascetismo de que uma certa ao,
palavra ou pensamento, que se tornou habitual e uma parte de Ruach, deve ser negado,
por exemplo, o voto de por um perodo provis rio de digamos uma semana abster-se de
cruzar as pernas sobre o joelho ao sentar, ou talvez tomar a deciso de no erguer a mo
esquerda at a cabea ou o rosto. A grande vantagem desse sistema que inexiste pendor
moral nessas sugestes. No virtuoso abster-se de cruzar as pernas sobre o joelho ou
no tocar o rosto com a mo esquerda. Assim o operador liberado da tendncia de fazer
de seu ascetismo uma tola virtude. necessrio observar, ademais, que no h a sugesto
de aplicar o princpio asctico nesse esquema ao que se denomina comumente mau
hbito, como fumar, beber ou blasfemar. Faz-lo seria convidar certos indivduos a
considerar sua abstinncia de fumar ou beber uma virtude, a ser grandemente louvada, em
lugar de compreender que a negao simplesmente uma questo de convenincia e
treino, uma idiossincrasia pessoal qual nenhum crdito ou culpa podem ser vinculados.
Uma postura inteiramente impessoal de imparcialidade deve ser mantida e a aplicao do
esquema necessria quelas aes, palavras e pensamentos aos quais plenamente
impossvel atribuir um valor moral. inconcebvel que o leitor inteligente faa uma
virtude do fato de abster-se de cruzar a perna sobre o joelho ou de ocasionalmente no

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tocar a cabea com sua mo esquerda. Tal postura, absolutamente essencial, deve ser
cultivada em qualquer ramo da magia.
* Aleister Crowley. (N. T.)
** Liber Jugorum, O Equincio, Londres, 1912.
((Ilustrs. a cores dos quatro smbolos dos Tattvas))
Ora, para cada transgresso do voto ou juramento de abster-se de um certo
procedimento um certo castigo deve ser infligido. nessa disciplina que a vontade
conquista seu treinamento e fora. Por exemplo, suponha-se que o operador fez um
juramento mgico de abster-se durante um perodo de quarenta e oito horas de cruzar a
perna esquerda sobre o joelho direito ao se sentar. Num momento de distrao, pode ser
que o mago cometa a ao proibida. Essa transgresso deve ser punida, de maneira a
produzir uma impresso profunda e duradoura na mente, com um corte no brao feito por
uma navalha. A ao interditada assim gravada no antebrao com um talho penetrante
para auxiliar a memria preguiosa.
Na segunda seo relativa ao discurso, alguma palavra freqentemente utilizada
no discurso dirio como ªeuº ou ªeº ou qualquer outra expresso corrente no falar usual
do mago deve ser interditada durante um perodo de vrios dias, uma semana, ou meses,
conforme o caso. No desenrolar desse perodo ou a palavra inteiramente omitida, ou
alguma outra palavra empregada em seu lugar. Um certo pensamento que seja
impessoal e isento de tendncia moral o tema da ltima seo quando se adquiriu
suficiente competncia e j se tirou proveito das duas sees anteriores. Em todo caso de
esquecimento o castigo e penalidade um corte pronunciado no brao. Essa ltima seo
tem implicaes de grande envergadura, particularmente no que diz respeito ao
treinamento da mente. Se alguns pensamentos foram proibidos de ingressar atravs dos
portais no vigiados da mente e alguma habilidade foi obtida em fazer valer essa deciso,
ser necessrio um prolongamento adicional da prtica para fechar os portais e barrar
todos os pensamentos de qualquer tipo que sejam da mente. Desse modo, alcana-se o
objetivo idntico da ioga: o esvaziamento pela vontade de todo o conte do da mente.
E agora consideremos o resultado dessa tcnica disciplinar. Acima de tudo,
nenhuma questo arbitrria de tica ou moral entra nessa tcnica de ascetismo. Trata-se
simplesmente de uma forma elaborada de treinamento atltico, por assim dizer. O corpo
no torturado com base no princpio ordinrio e conforme o costume usual de que a
alma eterna pode viver e encontrar bem-aventurana em sua libertao do corpo. Essa
postura no leva em conta que se o ascetismo um estgio na jornada da alma rumo ao
seu ideal, caso seja conduzido a extremos ao mesmo tempo uma recusa cega da nutrio
de que essa jornada necessita para ser sustentada. O princpio radical que envolve a
prtica dos faquires que dormem sobre leitos de pregos ou arame, mantendo seus braos
eretos pelo perodo inteiro de suas vidas, dilacerando carne viva de seus corpos
submetidos a longo sofrimento, tudo isto repreensvel do ponto de vista do teurgo e se
ope cabalmente em princpio ao mtodo esboado acima. O corpo no uma coisa do
mal; definimos anteriormente corporeidade e espiritualidade como graus distintos de uma
substncia divina. Todos os veculos do esprito so instrumentos atravs dos quais ele
pode atuar, obter experincia e atingir um conhecimento de si mesmo, e embora em
assuntos pertinentes comunho celestial alguns se limitem a ser um estorvo se no

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forem treinados, a observao simplesmente demonstra a necessidade de treinamento e
no de destruio cruel e sem sentido.
Mediante a tcnica de ascetismo da teurgia se decide simplesmente a lograr um
controle consciente sobre certos aspectos da organizao fsica e mental, e esse controle
tende aquisio de um enorme aumento de potencial de vontade. O corte do brao
produz um pouco de dor, verdade, embora essa dor seja til e necessria para
estabelecer certas correntes nos centros de inibio do crebro ou mente, as quais
produzem a instalao de uma curiosa vigilncia por parte da vontade, um fluxo
inconsciente livre de fora de vontade que est continuamente presente e pronto para
executar os desejos do mestre. Descobrir-se- no caso de uma deciso tomada de no
cruzar as pernas que ao ªbater papoº casualmente com um grupo de pessoas e numa
condio de completo esquecimento do juramento, qualquer tendncia automtica das
pernas de repetir instintivamente o hbito ao qual foram acostumadas h muito tempo
ser imediatamente detectada pela vontade antes que o ato proibido seja mesmo meio
completado e a tendncia ser interrompida em seu incio. Tem sido observado repetidas
vezes que precisamente quando as pernas esto na iminncia de se cruzarem, mesmo
durante o sono mais profundo quando o corpo produz movimentos espasm dicos
automticos, a vontade operando a partir dos centros inibit rios da mente faz lampejar
uma advertncia espontnea que resulta no impedimento da ao. Se adormecido, ocorre
um despertar imediato com total conscincia do ato pretendido. Ao menos, essa a base
l gica que prevalece depois de o operador ter falhado cerca de uma dzia de vezes e
quando seu antebrao se tornar belamente adornado por uma quantidade igual de cortes.
Sucede particularmente isso no caso da proibio da palavra ªeuº que se pode bem usar
como objeto da prtica. Normalmente, somos to pessoais e to apegados a todas as
coisas egoicamente que nas conversas ordinrias mantemo-nos mais interessados em falar
de n s mesmos, e as frases ªEu fiz istoº, ªEu fiz aquiloº entram mais no discurso do que
quaisquer outras. Conseqentemente, no incio, quando os benefcios do silncio
criterioso so, de maneira muito enrgica, transmitidos personalidade, o brao no sofre
pouca coisa. Pode ser at necessrio recorrer decorao de ambos os antebraos at o
ego rebelde e sua voz responderem ao treinamento, decidindo-se a obedecer incontinenti
aos ditados da vontade.
A conseqncia bvia. À medida que o tempo progride atravs dessa tcnica, o
mago realiza duas coisas separadas, ambas aspectos importantes da Grande Obra. Uma
vigilncia perptua que se avizinha de uma corrente sumamente poderosa de fora de
vontade foi gerada. Isso, desde o incio, tende a conduzir as atividades multifrias do ser
humano ao controle consciente da vontade. Se, como o Abade Constant observou, as
operao mgicas so o exerccio de um poder que embora natural superior s foras
comuns da natureza, esse poder sendo o resultado de um conhecimento e uma disciplina
que exaltam a vontade alm de seus limites normais, ento essa prtica preenche da
maneira mais concebvel todos os requisitos que at mesmo ele teria dela exigido. E a
vantagem disso para o ne fito que fez o voto a si mesmo da consecuo de nada menos
do que o Conhecimento e conversao do santo, o anjo que o guarda, no pode ser
superestimada. Em suas mos colocado um tremendo poder de vontade, de significao
espiritual e de aplicao inconcebivelmente criativa.

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O segundo aspecto da realizao que no apenas o mago se descobre a si mesmo
de posse de uma vontade ampliada como tambm o prprio Ruach, todas as faculdades
compreendidas no ego anteriormente to problemticas e carentes de concentrao
gradualmente, graas vontade dinmica e contrao proveniente da dor corprea,
colocam a si mesmas sob controle. O praticante ter sobrevivido ao horror e desagrado
iniciais de infligir esse leve castigo ao seu brao, vendo seu corpo pela primeira vez em
seu devido lugar, como um servo a ser empregado e comandado e cujas recusas rebeldes a
acatar ordens emitidas por uma fonte superior so severamente reprimidas e penalizadas.
Espera-se sinceramente que a base dessa tcnica no seja to mal compreendida a ponto
de fazer surgir observaes grosseiras com relao a Hatha Yoga ou ao masoquismo.
No h prazer algum em cortar o brao com uma navalha; desse fato unicamente o leitor
pode estar inequivocamente assegurado.
Tal vontade pode tornar-se uma fora to poderosa pela disciplina e treinamento
que nas instrues acrescidas a uma recente verso de uma invocao, o editor sugeriu
que a vontade fosse formulada no mundo criativo sob a forma de um basto mgico, seu
verdadeiro smbolo, ou um feixe luminoso brotando numa linha reta e perpendicular do
mago na direo e para dentro do infinito. Essa observao sugere que longe de ser uma
impalpabilidade metafsica intangvel, uma incoer ncia, o que geralmente o caso com o
indivduo mdio, para o mago a vontade uma definida fora espiritual controlvel, que
como todas as demais faculdades da alma, pode ser empregada por seu senhor e mestre.
H ainda um outro mtodo de treinamento da vontade. Embora pertena de direito
aos processos da ioga, sua importncia no pode ser superestimada. Trata-se daquele
ramo da ioga de oito membros que chamado de Pranayama, uma prtica que
proporciona a quem quer que a exera uma colheita tripla. Em primeiro lugar, a absoro
de grandes quantidades de oxig nio e prana tem um efeito indiscutvel nas glndulas
endcrinas. incontestvel que particularmente as glndulas intersticiais recebem um
estmulo tremendo. Conseqentemente, de um ponto de vista puramente fsico, a inteira
personalidade inundada por uma riqueza de energia criativa destinada a reagir
favoravelmente, quando preservada, sobre a mente, a vontade e todos os outros aspectos
da constituio humana. Na verdade, pode-se chegar ao ponto de afirmar que essa energia
criativa, fsica como possa parecer, colabora para formar a base da viso espiritual. Em
segundo lugar, em sua Raja Yoga, o falecido Swami Vivekananda fornece uma admirvel
explicao do efeito da respirao rtmica regulada, que fortalece e estimula a vontade
at uma concentrao formidvel de fora. Em sntese, sua teoria a de que se fazendo
todas as clulas de um ser vibrar em unssono, uma poderosa corrente eltrica de vontade
estabelecida no corpo e na mente. E o meio para estabelecer essa vibrao em unssono
uma aspirao e exalao rtmicas do alento.
Ignorando, para efeito de argumento, a teoria de que o Pranayama detm
efetivamente o efeito delineado no pargrafo anterior e suspendendo o exame de qualquer
teoria mstica, h ainda um outro resultado que no pode ser posto em dvida por
ningum. Qualquer indivduo que tenha tentado o Pranayama mesmo por apenas alguns
momentos entender imediatamente o que significa. Poder-se-ia dificilmente imaginar
algo mais tedioso, laborioso e penoso do que esse simples conjunto de exerccios, pois o
mago senta-se sossegadamente duas ou tr s horas durante o dia por um perodo de,
digamos, tr s ou quatro meses na tentativa de respirar num ritmo regular e calculado,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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simplesmente observando com cuidado a inalao e exalao do fluxo do alento, uma
das mais rduas tarefas que a imaginao pode conceber. Exige o exerccio da fora de
vontade mxima e uma resoluo inabalvel para continuar. Ao fazer isto, o indivduo
levado de maneira incisiva a encarar a inrcia e lassido do corpo, necessitando-se no
pouca austeridade, autodomnio e uma fora de vontade inflexvel para persistir na tarefa
em relao qual ele celebrou um voto. Caso o praticante no tenha obtido qualquer
resultado daqueles descritos nos livros tcnicos, tais como a desacelerao do movimento
da mente ou a ocorrncia de vrias alteraes psicofisiolgicas, ter, ao menos, ganho um
incalculvel aumento de fora de vontade e uma firmeza invencvel de propsito por ter
treinado a si mesmo na superao da indolncia das condies corporais, a inrcia mental
e a oposio ao treinamento. ªAprender o autodomnio , portanto, aprender a viver, e as
austeridades do estoicismo no eram v gabolice de liberdade... Resistir natureza e
sobrepuj-la atingir para si mesmo uma existncia pessoal e imperecvel; p r-se livre
das vicissitudes da vida e da morte*.º fato reconhecido e demonstrvel que a disciplina
e pacincia impostas pelo Pranayama, parte toda a teoria da ioga, deixaro o mago em
posio vantajosa quando tiver de enfrentar as tarefas mais complexas e difceis da magia.
* Mistrios da Magia, liphas Lvi.
H alguns indivduos sobre os quais a magia cai como sobre solo estril. Crentes
de que o desenvolvimento consciente do gnio mediante o treinamento mgico constitui
uma impossibilidade na natureza, asseveram que as faanhas mais grandiosas e as mais
excelentes obras criativas so realizadas inconscientemente e no pela vontade; que os
mais nobres exemplos da arte, literatura e msica recebem sua principal inspirao de
uma parte do homem que independente de sua vontade e conhecimento conscientes.
Esse fato, sem dvida, verdadeiro, e aqui que o mago superior ao artista comum. No
caso do artista, a inspirao automtica, independente de seus prprios desejos e
conhecimento mesmo, e nesse sentido ele um instrumento passivo, um meio. O mago,
entretanto, se prope um objetivo mais elevado, desejoso conscientemente de conhecer
aquele poder nele que o criador, o vidente, o conhecedor. Chega a isso por meio de um
ato ou uma srie gradual de atos da vontade. O objetivo ltimo a identificao da
vontade mgica com o ser todo, de modo que sua aplicao no exige maior esforo
consciente do que o movimento dos lbios e o erguer da mo, uma fora to constante e
continuamente presente como a gravitao.
A magia cerimonial, que seja entendido, como um meio de adquirir o potencial
requerido de fora de vontade, principalmente para uso do principiante. ªSendo as
cerim nias, como dissemos, mtodos artificiais para criao de um hbito de vontade, se
tornam desnecessrias uma vez esteja o hbito consolidado... Mas o procedimento tem
que ser simplificado progressivamente antes de ser completamente dispensado**.º Caso
se adote rigorosamente uma prtica programada, depois de um certo tempo o mago por
de lado completamente o cerimonial, confiando no trabalho improvisado no interior dos
limites de seu crculo mgico interno, e ainda posteriormente se aplicar quela prtica
mgica chamada de missa do Esprito Santo. A aplicao habilidosa desse engenho
mgico reverberante deve resultar no desenvolvimento de um centro de alta potncia de
vontade. Atingido isso, todas as tcnicas podero ser postas de lado por terem j servido
ao seu propsito melhorando o bem-estar do indivduo, no sendo mais os exerccios
necessrios.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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** Dogma e ritual de Alta Magia, liphas Lvi.
O princpio comparvel a um princpio reconhecido no esporte. Durante uma
partida de tnis, por exemplo, um jogador poderia executar alguns lobs e voleios
realmente maravilhosos numa nfima frao de segundo, estando a deciso consciente
absolutamente fora de questo. As melhores tacadas no bilhar, como muitos bem o
sabem, so aquelas feitas acidentalmente. Para o aspirante no tnis, ou um jogador
desejoso de melhorar, somente uma imensa quantidade de prtica deliberada produzir
aquela habilidade consumada que ir operar livremente em todas as ocasies. Assim
com o mago. Nesse caso, o verendo da arte que foi ciosamente oculto do olhar do pblico
ainda mais guardado nas profundezas de sua conscincia espiritual, de sorte que por
ningum no mundo inteiro sua existncia adivinhada. To vigorosamente poderoso
esse basto que por um ligeiro brandir do mesmo os mundos poderiam ser destrudos, e
com outro leve brandir novos mundos poderiam ser trazidos ao ser.
± - ±
Unido de maneira peculiar vontade e imaginao nas evocaes cerimoniais
est um outro poder ou uma outra fora cuja presena ou ausncia representa o sucesso ou
o fracasso da operao. O segredo de toda magia cerimonial simples, embora nem
sempre bvio. Celebrar cerimnias mgicas encaminhando cada mnimo detalhe com
cuidado, executando os banimentos, fumigaes e circumpercursos externos, vociferando
as conjuraes e gemendo os nomes brbaros de evocao no critrio para que a
invocao tenha xito em sua finalidade ostensiva, ou para que o clima esttico da
operao ªaconteaº. A incapacidade de compreender isso encontra-se no fundo de uma
boa quantidade de histrias mais ou menos humorsticas sobre magia contadas por
pessoas que, tendo se tornado intelectualmente interessadas em sua tcnica, e tendo
seguido cuidadosamente as instrues expostas nos engrimanos ordinrios de fcil
obteno, se decepcionaram com a falta de resultados. Todas as precaues apropriadas
foram tomadas. Belos mantos da melhor seda foram providenciados, candelabros de prata
e bronze, incensos compostos dispendiosamente e conjuraes primorosamente escritas.
A despeito de todo esse preparo, entretanto, nada absolutamente aconteceu. Nem as mais
leve presso foi produzida na atmosfera astral circundante, e uma mo colocada
cautelosamente fora dos limites do crculo no foi paralisada, como ocorreria segundo a
lenda, como se por um raio lanado por um esprito irado. H uma esplndida histria que
vem mente de um aprendiz entusiasta que se empenhou em ªpraticar magiaº antes de ter
atingido uma compreenso dos princpios elementares em que se apia a magia
cerimonial. Ele desejava, a ttulo de teste, invocar uma ondina, um esprito do elemento
gua, e a fim de faz-lo ocorreu-lhe que uma operao realizada nas proximidades da
gua eliminaria muitas dificuldades. Como stio de operao Eastbourne foi escolhida e o
tal aprendiz, levando consigo o equipamento da arte, embarcou para essa praia ªsolitriaº.
Uma noite, j razoavelmente tarde, quando a maioria dos cidados respeitveis da praia j
dormiam sossegadamente, ele se dirigiu para a beira do mar, a mar muito ao longe.
Traado o seu crculo, depois do altar e as luzes terem sido instalados sobre a areia, ele
iniciou suas conjuraes medida que uma nvoa se adensava. Suas vociferaes eram
altas e os sonoros gemidos, selvagens, fazendo com que os nomes brbaros tornassem
horrenda a noite, cuja tranqilidade foi arruinada; nuvens de incenso espesso se elevavam
em espirais do altar, envolvendo todo o cenrio de uma nvoa repulsiva de fumaa

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perfumada. A nica ondina que esse mago viu foi uma enraivecida criatura vestida de
azul: um policial.
Desde que o acima exposto foi escrito, perpetrou-se uma imbecilidade ainda mais
grosseira e bem menos desculpvel. Alguns membros de uma famosa sociedade de
pesquisas se convenceram de que era inadivel expor a magia em todos os seus ramos,
demonstrar que no possua qualquer realidade, e, imbudos desse nobilssimo objetivo,
tomaram providncias para realizar uma cerimnia com base nas instrues deturpadas de
um certo engrimano no alto de uma colina no continente. As conjuraes foram
devidamente recitadas em conformidade com as ditas instrues por uma virgem de
manto branco junto a um bode, o qual segundo promessa do engrimano seria
transformado num jovem da mais arrebatadora beleza. Essa transformao, claro, no
ocorreu, e muita publicidade foi feita em torno dessa cerimnia cujo fito era pr um fim
a todas as cerimnias. Hordas de pessoas curiosas afluram ao alto da montanha, a qual
durante o rito estava inflamada de luzes de arco voltaico de alta potncia! Faz-nos
lembrar de certo modo do simpl rio que depois de encher o bule e coloc-lo sobre um dos
bicos de gs do fogo se esquece, contudo, de usar um f sforo para ligar o gs; quando,
ap s uma hora, ele constata no haver nenhum sinal de um bule com gua fervente,
declara com suma indignao e no pouco desprezo que essas geringonas modernas no
servem para nada.
No acredito que essa cerimnia farsesca requeira muito comentrio. Mostra o
tipo extraordinrio de inteligncia que no capaz de distinguir entre um livro tolo de
feitiaria e a genuna magia telstica; e tambm incapaz de compreender a verdade da
injuno segundo a qual o pensamento, a vontade e a inteno que atuam de maneira
preponderante na operao mgica cerimonial, os smbolos e sigillae externos sendo
secundrios e tendo menos importncia. O Magus de Barrett, em todo caso, prope para
a considerao desses pesquisadores ªcientficosº que ªa razo de exorcismos,
sortilgios, encantamentos, etc. s vezes no atingirem o efeito desejado a mente ou
esprito no-excitado do exorcista tornar as palavras ftuas e ineficazesº.
Eis ento numa curta frase o segredo do sucesso. Os Orculos caldeus afirmam
que se deve ªinvocar com freqnciaº! Abramelin, o Mago, aconselha que se deve
ªinflamar-seº com orao. A chave est implcita nessas afirmaes concisas. Invocar
freqentemente denota um certo grau de persistncia e entusiasmo, e o princpio no qual
criam os antigos magos era que se um homem orar ou invocar o tempo suficiente com
seus lbios pode acontecer que encontrar a si mesmo um dia proferindo sua invocao de
todo corao. Sucesso implica acima de tudo entusiasmo. E o entusiasmo que o mago
deve cultivar uma espcie indescritvel de excitao ou arrebatamento, por meio dos
quais ele transportado completamente para fora de si e alm de si. Trata-se de uma
qualidade inteiramente incompreensvel e, por conseguinte, indefinvel. O mago deve
inflamar a si mesmo, o que hislahabus ou auto-intoxicao, o que os cabalistas
conceberam como sendo o prprio clice da graa e o vinho da vida. Cada nervo, cada
fibra do indivduo, fsico, astral, mental; cada tomo em seja qual for departamento da
constituio humana deve ser estimulado a um clmax febril e todas as faculdades da
alma exaltadas ao mximo. Tal como o artista ± o poeta, o danarino, o pr prio amante ±
arrastado numa loucura de paixo inflamada, um frenesi de criatividade, o mesmo deve
suceder com o mago. Deve ser impulsionado em sua cerimnia por um entusiasmo

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mntico que embora nele presente e uma parte necessria das foras que o compem, no
de modo algum aquilo que ele normalmente inclui em seu Ruach. No participa do ego
mundano do estado de viglia embora exalte esse ego numa crista de bem-aventurana, de
maneira que toda conscincia de sua existncia transcendida, sofrendo um novo
nascimento com um horizonte maior e mais amplo.
Afirma Jmblico: ª...a energia entusistica, entretanto, no o trabalho seja do
corpo seja da alma, ou de ambos conjugadosº. impossvel formular regras te ricas para
a induo desse frenesi, para a aquisio desse estmulo, para a produo desse espasmo
mntico. De povo para povo os fatores variaro para produzir o estmulo e a excitao.
Para um indivduo, poder vir atravs de invocaes prolongadas e reiteradas feitas
durante um perodo de vrias semanas ou meses. Um aprendiz pode ficar to
impressionado pelo puro mistrio e sugesto, por assim dizer, de dada cerimnia, que
possvel que o resultado seja includo. Um outro pode ser curiosamente comovido e
alegrado pelo estilo lrico no qual as invocaes esto escritas, por suas imprecaes e
comemoraes, ou mesmo pelos nomes estranhos e brbaros de evocao, no
importando quo ininteligveis possam ser para seu ego consciente. possvel que a
despeito de um excelente conhecimento intelectual da Cabala, tenha lhe escapado uma
interpretao adequada ou satisfat ria de alguma dessas palavras misteriosas; quando de
repente, durante o desenrolar de uma cerimnia, sua significao lampeja
arrebatadoramente sobre ele com um fulgor escarlate, um fulgor de jbilo, e assim
excitado ele transportado com sua descoberta na onda crescente de xtase. Talvez o
cheiro de um perfume em particular, a psicologia dos deslumbrantes mantos de seda e
coberturas de cabea, at mesmo o esgotamento fsico que a conseqncia da dana ±
essas so possveis causas daquela exaltao que o mago tem que cultivar. No que diz
respeito ao mago habilidoso, todos esses fatores estaro contribuindo para a finalidade,
produzindo assim um arrebatamento exuberante, vasto como o mais vasto dos mares e to
elevado e abrangente quanto os ventos que sopram dos p los. E ento, como brota a rosa
vermelha da terra negra,m crescer da natureza amorfa do homem da terra, sob a luz
daquela exuberncia, a flor de muitas ptalas da alma restaurada. Gradativa e lentamente
se manifestaro os poderes espirituais e as faculdades latentes como ptalas que procedem
do interior. Tal como as flores brancas como neve que florescem na accia se
desenvolvem at que toda a rvore da regenerao seja coberta e dobrada sob o peso de
muitas flores, do mesmo modo da raiz do xtase desenvolvida a viso e o perfume.
Como na lenda rosacruciana a vida dos filhotes de pelicano mantida pelo recurso de
sacrifcio da me, as foras exteriores do mago so alimentadas quando o ego sucumbe
intoxicao, tanto a partir do esprito interior quanto a partir de seu senhor feudal, os
deuses que so invocados de cima.
Que nunca se esquea que o segredo da invocao e de todo ato mgico
ªInflame-se com oraoº e ªInvoque com freqncia!º.

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CAPTULO IX
H vrios aspectos do procedimento mgico no trabalho cerimonial que preciso
considerar. Que o som, por exemplo, detm um poder criativo ou formativo, isto h
muito reconhecido e conhecido pela maior parte da humanidade. O mantra dos hindus e
seus efeitos sobre o crebro bem como sobre as ramificaes nervosas do corpo tm sido
o assunto reiterado de considervel quantidade de experimentos cientficos e leigos. Uma
teoria racional referente ao mantra sagrado sustenta que sua ao no crebro pode ser
comparada de uma roda que gira celeremente e por cujos raios nenhum objeto pode
passar. Afirma-se que quando o mantra firmemente estabelecido e o crebro tenha
absorvido automaticamente sua tonalidade fluida, todos os pensamentos, at mesmo o do
mantra, so projetados para fora, e na mente esvaziada de todo conte do a experincia
mstica pode acontecer. H uma outra teoria sustentada por outras escolas de ocultismo
que afirma que a vibrao estabelecida por um mantra possui um efeito purificador sobre
toda a constituio humana; que por meio de sua ao vibratria os elementos mais
grosseiros do corpo so gradativamente expelidos, um processo de purificao que ocorre
e afeta no apenas o corpo de carne, sangue, crebro e terminais nervosos como tambm
tanto o corpo de luz quanto a completa estrutura mental dentro da esfera de sua ao. Na
admirvel biografia de Milarepa, o iogue budista, publicada pela Oxford University Press,
existe a seguinte nota de p de pgina: ªDe acordo com a escola Mantrayana est
associada a cada objeto e elemento da natureza... uma taxa particular de vibrao. Se essa
for conhecida, formulada num mantra e utilizada habilmente por um iogue aprimorada,
como era Milarepa, afirma-se ser capaz de impelir as divindades menores e elementais
apario e as divindades superiores a emitir telepaticamente sua divina influncia em
raios de graa.º
Sustenta-se em magia que a vibrao de certos nomes divinos conduz produo
de seus fenmenos psicolgicos e espirituais. ªPor qu?º pergunta Blavatsky em A
doutrina secreta. Respondendo sua prpria pergunta ela afirma: ªPorque a palavra
falada possui uma potncia desconhecida, insuspeita e desacreditada dos modernos
‘sbios’. Porque som e ritmo esto estreitamente relacionados aos quatro elementos dos
antigos, e porque certamente esta ou aquela vibrao no ar desperta poderes
correspondentes, sendo que essa unio produz bons ou maus resultados, dependendo do
casoº.
A lenda que se refere ao Tetragrammaton hebraico interessante. Aquele que
conhece a pron ncia correta de YHVH, chamado Shem ha-Mephoresh, o Nome
impronuncivel, detm o meio de destruir o universo, seu prprio universo particular e
arremessar essa conscincia individual ao samadhi. Ademais, a teoria mgica assevera
que a vibrao estabelecida pela voz humana possui o poder no s de moldar a
substncia plstica da luz astral sob vrias configuraes e formas dependendo de seu
tom e volume, como tambm de impulsionar a ateno de entidades e essncias
metafsicas para aquele molde.
O poder do som pode ser comprovado com absoluta facilidade por meio de alguns
experimentos superficiais, mas sumamente interessantes. O proferir do monosslabo Om
em voz alta e penetrante se sentir, sem d vida, vibrando de maneira notvel tanto na
garganta quanto no trax. Atravs da repetio, a capacidade de aumentar a potncia ou
freqncia das vibraes e a rea de sua detonao podem ser ampliadas de modo

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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bastante considervel. Por meio de uma certa quantidade de prtica criteriosa, sempre
acompanhada do exerccio da inteligncia, o praticante se achar capacitado a vibrar uma
nica palavra de maneira a fazer o corpo todo estremecer e tremer sob o impacto do poder
da palavra. Por outro lado, a prtica tambm capacitar o aprendiza limitar, por exerccio
de sua vontade, a vibrao a uma certa rea ou localidade de seu corpo. Desnecessrio
dizer que se deve ter sempre um enorme cuidado, pois no se requer nessa prtica que o
corpo seja fragmentado ou despedaado por vibraes catastrficas.
H famosos exemplos do poder destrutivo do som causado pela ribombar do
trovo ou a exploso de granadas. Temos a histria amide repetida, e que vale bem a
pena mencionar aqui, de um truque realizado por um grande cantor. Ele d uma
pancadinha de leve com a unha do dedo num copo de vinho de modo a faz-lo retinir; em
seguida, captando a nota com sua voz entoa a mesma nota com sua boca precisamente
acima do copo. Passado um momento, estando sua voz vibrando em unssono com a nota
emitida pelo copo, ele bruscamente substitui a nota por uma mais alta, e o copo
inesperadamente cai despedaado. Ele est brincando com a lei da vibrao, pois todas
coisas, visveis e invisveis, adentram sua esfera, e todo objeto concebvel existe num
plano definido, possuindo uma taxa de vibrao diferente. Toda massa org nica e
inorg nica composta de uma multido de centros de energia infinitamente pequenos
que, a fim de se aderirem entre si, tm que vibrar conjuntamente. A mudana desta
vibrao ou destri a forma ou produz mutaes e alteraes de forma.
E se h um aspecto destrutivo do som, conclui-se que h outro de formao e
criao a ser descoberto mediante experimentao constante e paciente. O efetivo poder
de formao pode ser demonstrado muito facilmente. Que o leitor espalhe um pouco de
areia fina sobre a caixa de som de um violino, e sem tocar a areia mova o arco levemente
sobre uma das cordas. Constatar-se- que a vibrao exerce uma influncia formativa,
visto que com o soar da nota e sua amplificao na caixa acstica a areia assume curiosas
formas geomtricas: um quadrado ocasionalmente ser formado com muita clareza, ou
um tri ngulo, uma elipse ou um desenho comparvel estrutura de um floco de neve,
cristalino e uma coisa de rara beleza. O mesmo experimento pode ser executado sobre
uma l mina de vidro, e dependendo de o arco ser movido lenta ou rapidamente de
encontro borda, levemente ou com muita presso, a areia assumir uma forma diferente.
No violino uma nota suave e profunda naturalmente produzir uma forma sonora
diferente de uma longa nota lamuriosa e lancinante; a brusquido possui um valor-forma
distinto de um vibrato lento. H em algum lugar nos escritos de Madame Blavatsky o
testemunho de que ela prpria em uma ocasio, beira da morte, foi chamada de volta
vida e curada de suas enfermidades atravs dos poderes inerentes ao som. Todas essas
coisas vo ao ponto de mostrar que o som efetivamente possui um valor criativo, devendo
ser o objetivo de todo aquele que se supe mago apurar mediante a prtica que tom de
voz mais adequado ao trabalho mgico. A experincia mostra que um sussurro
penetrante dos nomes a serem pronunciados constitui o mtodo mais satisfatrio, uma
voz que mais vibra do que pronuncia claramente sendo o que requerido.
A vibrao de nomes divinos portanto um aspecto essencial na prtica da magia
porque o conhecimento do nome de qualquer ser ± e no conhecimento est includa a
capacidade de vibr-lo e pronunci-lo corretamente, bem como uma compreenso de suas
implicaes cabalsticas ± corresponde a deter uma espcie de controle sobre ele. O

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conhecimento do nome pode ser adquirido pela aplicao de princpios cabalsticos, de
modo que no nome possvel encontrar um resumo das foras e poderes que lhe so
inerentes. Numa palavra est a magia contida, e uma palavra corretamente pronunciada
mais forte, diz Lvi, do que os poderes do cu, da terra ou do inferno. A natureza
comandada com um nome; os reinos da natureza, do mesmo modo, so conquistados e as
foras ocultas que compreendem o universo invisvel obedecem quele que pronuncia
com compreenso os nomes incomunicveis. ªPara pronunciar esses grandes nomes da
Cabala, de acordo com a cincia, temos que faz-lo com pleno entendimento, com uma
vontade por nada detida, com uma atividade que nada pode repelir.º
A vibrao de nomes divinos, ento, constitui uma das mais importantes divises
de uma invocao cerimonial. Os incensos, perfumes, cores, sigillae e luzes em torno do
crculo mgico auxiliaro na evocao da idia ou esprito desejados a partir da
imaginao, e para que se manifestem numa roupagem apropriada, coerente e tangvel ao
exorcista. No somente deve haver inteno e pensamento, como tambm a expresso
concreta do pensamento numa ao ou numa palavra a qual, para a idia, tem que ser
como um logos. À guisa de ilustrao do modo de vibrao, suponhamos que um
exorcista deseje invocar os poderes pertencentes esfera de Geburah. Apurar-se- que
seu planeta Marte, cuja qualidade essencial energia e fora csmicas resumidas na
divindade Hrus, seu arcanjo ser Kamael, seu esprito Bartsbael e a Sephira aos quais
estes so atribudos ostenta o nome divino Elohim Gibor. Quando na cerim nia mgica
que o teurgo impulsiona chega o momento de pronunciar o nome divino, que ele aspire
muito profundamente, lenta e energicamente. No instante em que o ar exterior tocar as
narinas, deve-se imaginar claramente que o nome do deus, Elohim Gibor, est sendo
aspirado com o ar. Figura-se o nome sustentado nas alturas em grandes letras de fogo e
chama e medida que o ar lentamente enche os pulmes, deve se imaginar que o nome
permeia e vibra atravs de toda a estrutura do corpo, descendo gradualmente atravs do
trax e do abd men, at as coxas e pernas atingindo, os ps. Quando parecer que a fora
toca a parte mais inferior das pernas, se expandindo e se difundindo para cada tomo e
clula do p ± e a prtica tornar essa faanha da imaginao menos difcil do que
aparenta ± o teurgo dever assumir uma das poses caractersticas do deus Hrus exibidas
nas vinhetas do Livro dos mortos do Antigo Egito. Uma delas, o sinal do ingressante,
consiste em arrojar o p esquerdo para a frente e inclinar o corpo para a frente, ambos os
braos sendo primeiramente levados cabea e atirados frente como se projetando a
fora mgica para o tringulo de evocao. À medida que este sinal est sendo assumido,
ao mesmo tempo que os pulmes esto expirando o ar carregado com o nome, dever-se-
imaginar intensamente que este se eleva rapidamente a partir dos ps, atravs das coxas e
do corpo, sendo ento arremessado energicamente com um vigoroso grito de triunfo. Se o
corpo inteiro do mago sentir-se inflamado de fora e energia, e trovejando no interior de
seus ouvidos proveniente de toda poro de espao circundante ele ouvir o eco ressonante
do nome vibrado magicamente, ele poder estar seguro que a pronncia foi corretamente
feita. O efeito da vibrao dos nomes divinos consiste em estabelecer um sinal na luz
astral superior, ao qual responder diligentemente a inteligncia evocada. Outros gestos e
outros sinais existem para cada um dos deuses e poder-se- saber o que so esses sinais
mediante o estudo das formas divinas egpcias.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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Estreitamente aliada vibrao dos nomes divinos encontra-se um outro ramo da
magia. possvel que o aprendiz tenha notado em alguns rituais muitas palavras
incompreensveis numa lngua estranha ou desconhecida, palavras conhecidas
tecnicamente como ªnomes brbaros de evocaoº, as quais os Orculos caldeus nos
aconselham a jamais alterar ªpois so nomes divinos que possuem nos ritos sagrados um
poder inefvelº. Originalmente, tudo que se entendia pelos ªnomes brbarosº era que se
tratava de palavras no dialeto dos egpcios, caldeus e assrios, considerados brbaros
pelos gregos, e G. R. S. Mead prefere traduzir a expresso para ªnomes nativosº.
Jmblico, respondendo s indagaes de Porfrio sobre esse ponto, declara: ªAqueles que
aprenderam em primeira mo os nomes dos deuses, os tendo mesclado com sua prpria
lngua, os entregaram a ns, para que pud ssemos sempre preservar inaltervel a lei
sagrada da tradio numa linguagem peculiar e a eles adaptada... Os nomes brbaros,
igualmente, detm muita nfase, grande conciso e participam de menos ambigidade,
variedade e multiplicidadeº. A experincia confirma que as mais poderosas invocaes
so aquelas em que esto presentes palavras pertencentes a uma lngua estranha, antiga ou
talvez esquecida; ou at mesmo aquelas expressas num jargo degenerado e, pode ser,
sem significao. Nesses conjuros, a qualidade que mais se destaca o fato de a lngua
empregada ser sempre muito vibrante e sonora, sendo esta sua nica virtude, pois so
caracteristicamente eficazes quando recitadas mediante entonao mgica, cada slaba
sendo cuidadosamente vibrada. Por uma razo ou outra, descobriu-se que a recitao
desses nomes conduz exaltao da conscincia, exercendo uma fascinao sutil na
mente do mago. ªA magia dos antigos sacerdotes consistia naqueles dias...º, pensava
Madame Blavatsky, ª...em se dirigir a seus deuses em sua prpria lngua... composta de
sons, no de palavras, de sons, nmeros e figuras. Aquele que sabe como conjugar os trs
invocar a resposta do poder superintendente. Assim essa lngua a dos encantamentos
ou dos mantras, como so chamados na ndia, sendo o som o mais potente e eficaz agente
mgico, e a primeira das chaves que abre a porta de comunicao entre mortais e
imortaisº.
A base racional e a explicao da exaltao no esto muitos afastadas da
experincia geral. No nica e nem se limita exclusivamente ao trabalho cerimonial ou
tergico. L-se amide de poetas que se tornam enlevados, por assim dizer, pela repetio
de versos e nomes rtmicos; de fato, muitos dos poemas de Swinburne constituem um
esplndido exemplo de tal poesia. Ouve-se falar, tamb m, de crianas precoces que so
singularmente afetadas por aquelas passagens da Bblia nas quais existem longas listas de
estranhos nomes e lugares hebreus. Thomas Burke, o eminente romancista, uma vez
informou-me que quando era jovem, os nomes das cidades e pases do continente sul-
americano atuavam para ele como fascinaes de quase encantamento, exercendo um
poder oculto. Nomes como Antofagasta, Tuerra* del Fuego, Antanonoriva e Venezuela
so efetivamente nomes brbaros para conjurao. Lembro-me, tamb m, da leitura em
certa ocasio de um poema da autoria de William J. Turner, o crtico de msica, no qual
ele conta que quando menino as palavras e nomes mexicanos exerciam um fascnio sobre
ele, tais como Popocatapetl, Quexapetl, Chimborozo e similares. Os nomes por si
mesmos nada transmitem a uma imaginao f rtil e desenvolvida; a exaltao da
conscincia se deve quase que inteiramente ao ritmo e a sua msica, a fascinao dos
nomes penetrando o domnio da imaginao, onde agarrada para despertar um frenesi

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ou excitao peculiares. Em todo caso, resta pouca dvida de que as muitas palavras
brbaras, formidveis e de aparncia quase medonha que ressoam e so vociferadas em
tantas das melhores invocaes provenientes da Antigidade, exercem um efeito
estimulante na conscincia, exaltando-a ao grau exigido pela magia. A invocao do
ªno-nascido”, cujos elementos bsicos so encontrados em alguns fragmentos greco-
egpcios e que est reimpressa no ltimo captulo deste livro, talvez o mais notvel
exemplo. Como ritual considerada por muitos como um dos melhores, sendo repleta de
palavras estranhas ricas em msica e excitaes primitivas, sonoras ao mais alto grau.
Muitos dos rituais e invocaes utilizados pelo astr logo elisabetano dr. Dee, que
trabalhava em colaborao com seu colega Sir Edward Kelly, constituem tambm
espcimes marcantemente bons dessa linguagem. Na verdade, pode-se considerar os
rituais de Dee como nicos. So escritos quase que totalmente, exceo de algumas
palavras hebraicas, numa lngua curiosa chamada anglica ou enoquiano, segundo Dee
ditada a ele pelos anjos. Independentemente de sua origem, apurou-se que as invocaes
expressas nessa lngua atuam com uma peculiaridade e uma fora constatadas em
nenhuma outra lngua.
* Ou melhor, Tierra. (N. T.)
Tpico das palavras brbaras, pode-se fazer citaes extradas de vrios rituais. A
que se segue retirada dos conjuros de Dee:
“Eca, zodocare, Iad, goho. Torzodu odo kikale qaa! Zodacare od zodameranu!
Zodorje, lape zodiredo Ol Noco Mada, das Iadapiel! Ilas! hoatahe Iaida! “
Presente no captulo CLXV da recenso Saite do Livro dos Mortos, encontra-se
uma petio a Amen-Ra, onde os mais poderosos dos nomes mgicos do deus so
recitados: ªSalve, tu Bekhennu, Bekhennu! Salve, prncipe, prncipe! Salve, Amen.
Salve, Amen! Salve Par, salve Iukasa! Salve, deus, prncipe dos deuses das partes
orientais dos cus, Amen-Nathekerethi-Amen. Salve tu cuja pele est oculta, cuja forma
secreta, tu, senhor dos dois cornos nascidos de Nut, teu nome Na-ari-k, e Kasaika teu
nome. Teu nome Arethi-kasatha-ka, e teu nome Amen-naiu-anka-entek-share ou
Thekshare-Amen Rerethi! Salve, Amen e permite-me fazer a splica a ti pois eu conheo
teu nome... Oculto teu discurso, Letasashaka, e eu fiz para ti uma pele. Teu nome
Ba-ire-qai, teu nome Marqatha, teu nome Rerei, teu nome Nasa-qebu-bu, teu nome
Thanasa-Thanasa; teu nome Sharshathakatha.º
Um outro excelente exemplo, qui um dos melhores no que diz respeito
aparente ininteligibilidade dos nomes, acha-se no Harris Magical Papyrus, do qual uma
traduo inglesa pode ser encontrada nos Fac-smiles de Papiros Hierticos do Museu
Britnico.
“Adiro-Adisana! Adirogaha-Adisana. Samoui-Matemou-Adisana!
“Samou-Akemoui-Adisana! Samo-deka! Arina-Adisana! Samou-dekabana-
adisana! Samou-tsakarouza- Adisana! Dou-Ouaro-Hasa! Kina! Hama! (Pausa) Senefta-
Bathet-Satitaoui-Anrohakatha-Sati-taoui! Nauouibairo-Rou! Haari!”
No fragmento a que j nos referimos do ritual greco-egpcio, editado por Charles
Wycliffe Goodwin para a Cambridge Antiquarian Society em meados do sculo
passado*, aparecem tambm nomes exemplares: ªEu te invoco, deus terrvel e invisvel
que habitas o stio vazio do Esprito: Arogogorobrao, Sothou, Modorio, Phalarthao, Doo,
Ap, O No-nascido.º

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* Isto , sculo XIX. (N. T.)
Entretanto, tanto do ponto de vista da pesquisa quanto da filosofia concorda-se
que o conhecimento da Cabala em todos os seus ramos constitui um suplemento
importante e considervel prtica do mago. Como o mago se aplica em tornar sua vida
compreensvel e em interpretar todo incidente que lhe inerente como uma transao de
Deus com sua alma, de maneira que todas as coisas possam tender para sua iluminao
espiritual, poderia parecer incongruente que ele contradissesse essa deciso incorporando
palavras sem significado e sem sentido em suas invocaes. Acima de tudo, a
consistncia e a coerncia interna tipificam a mente do mago. Conseqentemente
negligenciar os princpios exegticos da Cabala deixar desprotegidos os canais atravs
dos quais o caos e a incoerncia podero invadir o sanctum de cognio. Toda palavra
brbara deveria ser to cuidadosamente estudada e compreendida em termos de grau de
ateno e erudio quanto uma anlise da Crtica da Razo Pura de Kant, permitindo-se a
significao oculta penetrar abaixo do nvel de conscincia onde, durante a cerim nia,
possa auxiliar na produo da excitao requerida. E a revelao do real esprito dos
nomes brbaros no pode dispensar um bom conhecimento funcional da Cabala.
Por exemplo, consideremos a palavra ªAssalonoiº constante numa outra parte do
fragmento greco-egpcio. A primeira letra sugerir Harpcrates, o Senhor do Silncio, que
o Beb no Ltus e o Puro Louco do tar , o inocente Percival que silenciosamente se pe
em busca do Clice Sagrado. apenas ele que, devido sua loucura mundana mas
tambm sua sabedoria e inocncia divinas, pode chegar inclume ao fim. O ªsº ser
visto como se referindo carta do tar que representa o Santo Anjo Guardio que ostenta
no peito um sigillum que tem gravadas as letras do Tetragrammaton. ªAlº pode ser
interpretado como sendo a palavra hebraica para deus, bem como ªonº um nome
gnstico. Pode-se supor que o sufixo ªoiº indique o pronome possessivo meu, de sorte
que considerada em sua totalidade, a palavra , na realidade, um resumo de uma
invocao completa do Santo Anjo Guardio.
Consideremos agora ªPhalarthaoº, palavra na mesma invocao. ªPhalº
obviamente uma abreviao de falo, que de acordo com Jung o smbolo das faculdades
criativas de um ser humano. Ele o define, alis, como ªum ser que se move sem
membros, que v sem olhos e conhece o futuro; e como representante simblico do poder
criador universal, em todo lugar existente, a imortalidade est indicada nele. um
vidente, um artista e um operador de prodgiosº. Submetendo-se as duas letras ªarº ao
processo cabalstico denominado Temurah, teremos Ra, o deus-Sol, que verte sua copiosa
generosidade em luz, calor e sustento sobre todo o mundo da matria, e que proporciona
graa e iluminao espirituais vida interior. O ªthº Tes, a serpente le nica que a
essncia da vida fsica, conferindo substncia viso espiritual. ªAº o raio de Thor, as
foras mgicas do Adepto postas em movimento e o ªoº representa o bode monts e o
aspecto fecundo criativo do ser do homem.
A palavra ªAdisanaº que aparece com muita freqncia no elenco de nomes
brbaros fornecidos pelo Harris Magical Papyrus, traz mente uma aluso teosfica. As
Estncias de Dzyan apresentadas em A Doutrina Secreta mencionam a palavra snscrita
Adi-Sanat. Blavatsky explica que essa sugere equivalncia com Brahma e a Sephira da
Cabala, Kether, e significa o Criador uno. O mago pode assim supor que a palavra

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egpcia, na falta de conhecimento mais preciso e definido, , portanto, uma referncia
coroa, a mnada no homem e no cosmos.
Ainda outros mtodos podem ser concebidos para tornar inteligveis os nomes
brbaros para que nos ritos nenhuma falha possa desfigurar a integridade e consistncia
da conscincia de algum.
No que concerne ao uso prtico ± a exaltao da alma ± um mtodo esboado por
Therion* pode ser de alguma utilidade. Supondo-se que a cerimnia culmine numa
grande invocao, cujo pice inclui muitas dessas palavras especiais, possvel empregar
uma tcnica especfica, a qual, contudo, implica um pouco de treinamento da imaginao.
Essa faculdade deve ser desenvolvida de modo que qualquer imagem de qualquer objeto
possa ser formulada claramente diante do olho da mente com vvida distino e
completude; e no apenas isso, mas de maneira que a formulao possa ser sustentada por
algum tempo. Durante a invocao, o teurgo deve imaginar que a primeira dessas palavras
intoxicantes como um pilar de fogo se estendendo como uma coluna vertical e reta na
luz astral. medida que as letras do nome deixam seus lbios e so impelidas para o ter,
que ele imagine que sua pr pria conscincia no corpo de luz segue essas letras em sua
jornada pelo espao sutil e arremessado violentamente ao longo daquele eixo. A palavra
brbara seguinte deve ser concebida ocupando uma coluna talvez duas vezes mais longa
ou mais alta que a precedente, de modo que quando a ltima palavra de invocao for
atingida ± ignorando no momento a ao e poder inerentes pr pria invocao ± a
conscincia ser supremamente intoxicada e o ego ser subjugado por um sentimento de
espanto e fadiga. O eixo deve ser visto no fim para crescer em estatura diante do olho
espiritual, ascender cada vez mais alto at que a imaginao seja quase fulminada pela
grandeza e imensido assomadas que gradualmente criou. Esse sentido de temor e
maravilhamento produzido por esse viajar no eixo gneo de cada palavra brbara o
precursor certo da exaltao e xtase mgicos. E com a prtica o teurgo inventar outros
mtodos, mais adequados ao seu pr prio temperamento e para o emprego satisfat rio
dessas palavras.
* Aleister Crowley. (N. T.)
± - ±
Para o avivamento do trabalho cerimonial a dana, a msica e o toque de sinos
constituem outros acompanhamentos complementares. Os toques de sinos e sons
produzidos por percusso devero estar em harmonia no que diz respeito quantidade e
ao tipo de operao. Seu uso visa a anunciar o domnio, registrar a nota do triunfo do
mago e recuperar a ateno desviada. Quanto msica, trata-se de um assunto muito mais
complicado porquanto sua apreciao varia largamente de indivduo para indivduo. , de
preferncia, omitida em muitas invocaes visto que tende mais ou menos a distrair a
ateno do teurgo, embora como preldio possa ajudar no xtase e exaltao. Exige a
presena de um msico ou msicos e qualquer sinal de embarao ou falha tcnica deste
ou destes atrai discordncia e fracasso. O violino ou a harpa, produzindo as notas de
maior transcendncia e exaltao, podem, ocasionalmente talvez ser empregados.
O tuntum com seu selvagem e apaixonado tamborilamento pelos dedos til em
outros tipos de trabalho nos quais se requer a excitao da energia, ou at mesmo a
tranqilizao da mente. Trata-se simplesmente de forar a mente a acompanhar o
compasso rtmico do tuntum, que pode ser aumentado ou gradativamente reduzido at

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quando tiver desvanecido num silncio abrandado, seguir-se- a paz de uma mente
tranqila. A msica oriental consiste principalmente desse tipo montono, encerrando
assim um motivo religioso ou mstico. Numa apresentao de bal qual um amigo deste
escritor foi convidado em Java, havia cerca de doze danarinos que envergavam trajes e
mscaras grotescos embora deslumbrantemente coloridos, tpico do Oriente ostentatrio.
A orquestra era constituda por cinco msicos: trs tocando um instrumento parecido a
um enorme xilofone cobrindo apenas cinco notas, e dois percutindo tambores javaneses.
Num teatro externo a dana, principalmente produzida com as mos e os dedos, durou
cinco horas sem um nico interldio. Todo o tempo os aplicados membros da orquestra
nativa fizeram soar seus ritmos montonos at que pareceu aos europeus como se os
sentidos e a mente sucumbissem ao ritmo tedioso, passando finalmente ao silncio.
Uma dana ligeira, de passos curtos, digamos uma simples dana de dois passos,
pode ser til, e acompanhada por um tuntum e um mantra mental dentro de um crculo
ou cmara consagrados poder ser utilizada como elemento precursor do xtase. Essa
dana particularmente interessante ao mago visto que sua caracterstica ritmo e a
totalidade da natureza a corporificao de ritmo e graa, ambos aspectos da dana. A
dana na natureza mostrada no crescimento e movimento, pois o movimento o
elemento essencial da vida, o tema representado num palco infinito. Os xtases da
natureza e suas criaturas passaram ao uso ordinrio, reaparecendo reiteradamente na
linguagem popular. A msica das esferas e a dana das hostes dos planetas e corpos
celestes nas infinitudes do espao sempre receberam a devida ateno nas mos dos
maiores filsofos e poetas que sondaram o corao das coisas. Com freqncia, tambm,
se fala ± por meio de clichs, verdade ± das cambalhotas dos cordeiros e dos cabritos
saltando nos prados verdes; a dana flutuante das nuvens e a pronta ressaca e retirada dos
vagales do mar. Esses fenmenos, o que no so seno a participao conjunta na dana
da vida que diariamente, ano aps ano, sculo aps sculo, prosseguem imutados e
inalterados e que em sua perpetuidade tem que ser considerada como a prpria
encarnao do jbilo!
No que concerne ao emprego da dana em operaes mgicas, deveria ser
absolutamente suficiente o indcio fornecido pela dana dos dervixes islmicos. Esses
msticos maometanos so orgulhosos de uma dana que no , como alguns pensaram,
um frenesi descontrolado. No incio precisamente o contrrio. Subjacente sua
representao h um motivo altamente religioso: xtase e unio com Al. De uma posio
estacionria eles gradativamente aumentam a velocidade de sua rotao e com os braos
estendidos rodopiam com uma tal celeridade que parecem no estar se movendo em
absoluto. Em pouco tempo, esse movimento rotativo induz a uma vertigem tanto corporal
quanto mental, a qual por puro esforo da vontade, tem seu efeito adiado e expulsa da
conscincia. A dana finalmente culmina no colapso do dervixe num estado de completa
inconscincia, e no somente nisto, o que acho importante, como tambm num estado do
mais elevado xtase. Alguns, ademais, podem estar familiarizados com nomes tais como
Shri Chaitanya e seu discpulo Nityananda que vagavam pela ndia no sculo XV,
cantando e pregando, e danando alegremente a doutrina de Bhakta ou unio com Deus
por devoo. Houve tambm em anos relativamente recentes a figura do eminente mestre
religioso Shri Ramakrishna Paramahamsa, cujas freqentes canes e danas devotas
eram to carregadas de fervor e forte emoo que se diz que transformaes morais e

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espirituais foram produzidas naqueles que tiveram o privilgio de assisti-las. Muitas
dessas pessoas, afirma a reportagem, ficavam to tomadas pela emoo profunda e o
arrebatamento de bem-aventurana vista do mestre danando que caam em xtases e
desmaiavam.
No que se refere ao moderno teurgo, o principal objetivo da dana obter uma
exausto fsica e uma cessao de todo pensamento. No domnio dessa negatividade, se
tiver sido induzida dentro de uma rea adequadamente consagrada e banida, pela qual
nenhuma entidade ousar se imiscuir exceto a fora previamente tornada manifesta
mediante as invocaes, a presena espiritual invocada poder se encarnar. Essa a idia
fundamental da dana, embora alguns possam preferir omiti-la por completo de suas
cerimnias. Cada tipo de fora, pertencente s vrias Sephiroth, dispor de seu pr prio
tipo de dana, com seu pr prio passo e seu pr prio tempo.
Um movimento comum maioria das invocaes, que menos dana do que um
ligeiro movimento a passos curtos ou o rodopio, o circumpercurso. De vez em quanto,
exigido do mago que ele ande de algum dos pontos cardeais um certo nmero de vezes
em torno do crculo, o nmero especfico determinando a natureza da fora a ser
invocada. Ademais, a direo do circumpercurso, seja para o leste ou oeste, determinar
se ele est invocando ou banindo. Um movimento dextr giro, isto , horrio, invocar, e
um movimento sinistr giro, o precisamente oposto, anti-horrio, banir.
Tradicionalmente, o circumpercurso no crculo constitui um mtodo maravilhoso para
adquirir potencial e despertar o entusiasmo e fora necessrios.

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CAPTULO X
Nos captulos anteriores empenhei-me em mostrar de que maneira a teurgia
concebe a vontade e a imaginao como sendo os instrumentos da reconstruo do ser
humano. Entretanto, me proponho a prosseguir com a questo de tal emprego da
imaginao, porquanto a mais fundamental tarefa da magia a isso concerne.
Considerando-se que a substncia plstica da luz astral de modo peculiar suscetvel
manipulao de correntes imaginativas, e considerando-se que as imagens confeccionadas
nessa luz produzem alteraes perceptveis, se a vontade for suficientemente forte para
vitalizar essas imagens, o mago procurar aplicar esses fatos sua pr pria esfera.
Atentemos para o fato de que segundo todas as autoridades, a luz astral tida como de
natureza dupla. H o aspecto astral bsico, a chamada serpente enganadora, ocupado
pelos casces decadentes e os fantasmas, e o plano superior, no qual existe uma riqueza
de imagens reais, idias e sugestes espirituais. Elevar-se alm da serpente astral at o
astral superior constitui obviamente uma tarefa mgica primordial. Invocaes do Santo
Anjo Guardio e a unio telstica com os deuses e essncias universais constituem os
mtodos supremos de transcender os planos etreos mais baixos, mas essas so metas
mximas s quais todos os mtodos e tcnicas passam a servir. Visando a tornar as
difceis metas da invocao e da unio mais facilmente obtenveis e menos rduas, os
teurgos recomendam uma prtica em que o sucesso confere a capacidade de
conscientemente transcender o astral inferior e deliberadamente ascender at mesmo alm
do astral superior rumo aos fogos divinos sem forma dos domnios espirituais. Visto que
todos os planos da natureza e todas as foras que se mantm no universo esto
representados na constituio interior do homem, o plano astral em seu aspecto duplo se
acha, do mesmo modo, dentro dele. O aspecto inferior, a fase lunar, corresponde ao
princpio humano de Nephesch enquanto que se poderia supor que o plano superior
corresponde a Sephira central da rvore da Vida, Tiphareth, o corao pulsante de Ruach
e at mesmo se estende aos limites de Neschamah. Com o aspecto lunar inferior do astral,
a regio dos casces qlifticos, demnios e fantasmas em dissoluo dos mortos, o mago
tem pouco ou nada a fazer; sua aspirao dirigida quilo que est acima, nas camadas
superiores da rvore viva. ªNo te inclina para baixoº, advertem os Orculos Caldeus,
ªpara o mundo tenebrosamente esplndido, onde repousam continuamente uma
profundidade sem f e Hades envolvido por nuvens, se deliciando com imagens
ininteligveis, precipitadas, tortuosas, um abismo negro sempre rodopiante, sempre
desposando um corpo no-luminoso, amorfo e vazio... No fiques no precipcio com a
esc ria da matria pois existe um lugar para tua imagem num domnio sempre
esplndido.º o ªdomnio sempre esplndidoº que realmente diz respeito ao teurgo j
que nele esto as foras e poderes que podem se revelar sumamente prestativos a ele em
sua busca. Dentro do Nephesch duplo existe um princpio energtico substantivo e vital.
O primeiro o chamado corpo astral ou a duplicata sutil qual o corpo fsico deve sua
contnua existncia e subsistncia. Embora o desenvolvimento desse corpo de Nephesch
constitua efetivamente um certo ramo da magia, no nossa inteno tratar dele aqui j
que tem pouca conexo com a alta teurgia. Pertencente ao domnio de Tiphareth existe
um aspecto superior desse corpo astral que realmente entra de maneira muito ampla na
teurgia prtica. No realmente um corpo astral no sentido de um modelo vital que
proporciona vida ao fsico, mas sim um corpo mental ou de pensamento, o veculo direto

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das faculdades ideais e espirituais, cuja substncia aquela do astral superior ou divino.
De acordo com Blavatsky o Mayavi-rupa, o corpo de pensamento ou de sonho, o
invlucro da mente, memria e emoo, conhecido e chamado em teurgia de corpo de
luz. Ora, os teurgos sustentam que esse corpo de luz pode conscientemente ser separado e
projetado do corpo, sendo Blavatsky da opinio de que aquele que capaz de fazer isso
um Adepto! ªSeparars o leve do denso atuando com grande sagacidadeº, aconselha
Hermes Trismegistos*. Este corpo de luz, como o veculo dos princpios superiores, pode
ser empregado para investigar o mundo interior visando a apurar sua natureza real, e
assim a natureza do prprio homem, porquanto as leis do universo so as da mente e vice-
versa. O astral superior, com o qual nos tornamos familiarizados atravs da
instrumentalidade do corpo de luz usado assim como uma escada, por assim dizer, por
meio da qual o teurgo ascende ao domnio do esprito supremo, gneo, criativo e esttico.
* Trismegistos, trs vezes grande. (N. T.)
Conseqentemente constituem naturalmente um fundamento da magia prtica a
projeo desse corpo sutil, a aquisio da faculdade de nele atuar com a facilidade com
que o fazemos no corpo denso, o treinamento e a educao desse corpo de luz no sentido
de satisfazer aos desejos do teurgo. A capacidade de ter xito nessa fase particular do
trabalho depende inteiramente do fato de o mago ter treinado sua imaginao, pois essa
a alavanca mgica para a projeo proposta.
A tcnica, em resumo, a seguinte: sentado confortavelmente numa cadeira ± ou,
tanto melhor, numa postura de ioga em que se foi treinado, no que nesse caso fcil ± e
tranqilizando sua mente e emo es o mximo possvel, o mago dever tentar imaginar
de p diante dele uma exata duplicata de seu prprio corpo. Caso o mago tenha se
envolvido com muita prtica dos smbolos dos tattvas ou com os exerccios espirituais de
Sto. Incio e aqueles descritos numa seo anterior deste estudo, no se defrontar com
nenhuma grande dificuldade para formular essa imagem. O teurgo deve conceber
vividamente que um simulacro de seu prprio corpo se posta diante dele na mente; e que
est vestido como o mago est vestido, de manto mgico com basto ou espada,
dependendo do caso, e que se apresenta de p ereto, ou sentado numa cadeira, ou numa
cmoda e confortvel Asana. Caso o mago esteja sentado, a imagem igualmente dever
ser vista sentada. Mediante um supremo esforo da vontade deve-se fazer essa imagem
se mover na mente e, observada muito rigorosamente todo o tempo, erguer-se pondo-se
ereta sobre seus ps. A parte mais difcil da tarefa do mago se avizinha agora. Para o
corpo de luz ele tem que transferir sua prpria conscincia e essa transferncia que pode
se revelar um pouco difcil, pois por vezes ela simplesmente no ocorrer.
Nesse caso, exercendo cada milmetro de sua vontade e aplicando todo o poder de
sua imaginao o mximo possvel de maneira que imagine e queira estar no corpo de
pensamento, o teurgo deve faz-lo executar vrias a es. A execuo de um ritual como o
ritual do banimento do pentagrama um esplndido exerccio, visto que por seu
intermdio impele-se o corpo de luz ao movimento, a girar sobre seu prprio eixo e a
proferir palavras. Com persistncia, o mago poder constatar depois de vrias tentativas
que em vez desse corpo de luz executando o ritual como um autmato sob sua
observao, ele prprio o estar executando dentro do prprio corpo de pensamento.
Esses mtodos soltam as vigas-mestras da alma e abrem os portais fortemente trancados
da mente. Alm disso, pode acontecer que medida que o mago recita uma invocao,

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seguindo mentalmente cada um dos pontos do ritual com ateno e cuidado, ele se
descobrir quase sem sab-lo no corpo de luz. O efeito estimulante das palavras, as
sugestes que elas incorporam devem, em alguns casos, ajudar materialmente na
transferncia. ªEu piso sobre as alturas! Eu piso sobre o firmamento de Nu! Eu ergo uma
chama rutilante com o relmpago de meu olho, sempre impelindo para a frente no
esplendor do Ra glorificado diariamente, outorgando minha vida aos habitantes da terra!º
ªEu ascendo, ascendo como um falco de ouro!º As duas primeiras sentenas,
particularmente, se recitadas com entendimento e sentimento devem muito
compreensivelmente bastar no caso de alguns indivduos para produzir o resultado
desejado. Mesmo fisicamente, essas palavras foram algum a se erguer nas pontas dos
ps, como se pisando sobre o firmamento de Nu, e os veculos sutis, sem dvida,
acompanharo. O sucesso tendo sido atingido, a transferncia deveria ser praticada
reiteradamente at que finalmente o mago possa vestir sua estrutura fsica e dela despir-se
tal como um homem comum se despe de seu sobretudo. Mas uma vez realizada a
projeo efetiva, comea a verdadeira tarefa, j que o corpo de luz tem que ser treinado
para mover-se e ver no plano astral; isto embora pouco tempo seja suficiente para que
responda ao treinamento, tornando-se ento capaz de se mover e ver com a pr pria
rapidez de relmpago do pr prio pensamento.
To logo conseguiu habitar o corpo de luz, o teurgo dever empenhar-se em ver
com seus sentidos astrais. Deve tentar ver as coisas e objetos fsicos existentes no
apartamento que acabou de deixar, observando o corpo, sua habitao terrestre anterior,
os m veis, as paredes, o teto e tudo o mais. Quando descobrir que isto pode ser feito de
maneira inteiramente simples e que os sentidos astrais respondem de modo totalmente
descontrado, ento poder elevar-se diretamente rumo aos cus e observar o que de l
pode ser visto. Tudo principalmente uma questo de educao. Do corpo de luz, do
veculo solar flamejante do anjo precisa ser feito um digno instrumento, e tal como se
ensina a uma criana de um ano como falar, engatinhar e andar, deve-se treinar esse sutil
corpo de pensamento a atuar perfeitamente em seu pr prio plano.
Ser nessa prtica que o teurgo descobrir que o que eram smbolos convencionais
no mundo exterior so realidades dinmicas que vivem sua pr pria existncia nesse astral
ou mundo do pensamento. E sua meta dever ser investigar esse domnio inteiramente na
multiplicidade dos aspectos e departamentos que ele continuamente apresenta, visto que
realmente coincide com os limites de seu pr prio conhecimento consciente e
subconsciente. Com esse nico objetivo em vista, vrias tarefas abrangentes devero ser
empreendidas. Aqueles smbolos dos tattvas que foram anteriormente os objetos de
concentrao e o exerccio da imaginao podem ser utilizados como sigillae por meio
dos quais sejam produzidas vises que revelaro a natureza invisvel do smbolo. No
corpo de luz uma porta poderia ser imaginada, na qual est inscrito um tringulo
equiltero vermelho de Tejas, como um exemplo. Atravessando essa porta e observando o
tipo de paisagem, os seres anglicos que falam ao teurgo e as conversaes que se seguem
devem dar a este uma boa idia da significao e do sentido implcitos do smbolo. Ora,
parece haver uma relao absoluta entre smbolos e realidades visionrias no plano astral.
A viso do tattva deve ter provado isso de forma inquestionvel. Esto registrados
inmeros exemplos de um smbolo que dado a um skryer, smbolo com o qual ele
jamais esteve antes familiarizado e que nunca vira antes. O significado do smbolo s

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conhecido do detentor do mesmo. O resultado da viso obtida ilumina e corrobora o
conhecimento do detentor do smbolo. Este procedimento tem sido seguido repetidas
vezes e igual nmero de vezes uma viso que concerne com preciso natureza do
smbolo tem sido obtida, sendo aconselhvel que o procedimento seja utilizado
relativamente aos outros smbolos e subelementos dos tattvas. Do mesmo modo devem
ser investigados por esses meios os smbolos astrolgicos dos planetas, os signos do
zodaco bem como as imagens do tar. Isso deve descortinar um vasto campo de pesquisa
para cada mago j que em primeiro lugar uma espcie totalmente nova de conhecimento
pode assim ser adquirida. A natureza de um smbolo at ento desconhecido para ele pode
ser investigada e uma significao baseada na observao e experi ncia vinculada a ela.
Inmeros experimentos abrangentes devem ser concebidos com o propsito de
familiarizar o mago com a natureza do plano.
Quando essas vises astrais no conferem nenhum conhecimento real, devem ser
descartadas como meros exerccios tcnicos mediante os quais se obtm compet ncia. A
habilidade tendo sido conquistada, e estas vises de experi ncia vital no sendo mais
encontradas nem um novo conhecimento adquirido, desaparece o valor da prtica. Sabe-
se que algumas pessoas tolas que so capazes de viajar no astral nada mais fazem, nada
conquistando e sem nenhum benefcio. Para elas, uma viso astral no tem significao
espiritual, e a intoxicao astral a forma insidiosa de corrupo espiritual, que ento se
apodera delas, e elas vagam perdidas, degenerando em meros ªvagabundosº astrais. Que
o aprendiz registre isso no corao: o astral tem que ser empregado ou para obter
conhecimento definido ou para servir de trampolim, um degrau na escada celestial rumo a
planos ainda mais sutis; caso contrrio, s haver a estagnao contnua, dominada pela
intoxicao, emaranhada nos laos sedutores serpentinos que tentam o imprudente e o
temerrio. Trata-se de um mundo reflexivo onde se pode perder-se facilmente a menos
que a aspirao seja pura e forte. Horas, dias e at anos podem ser gastos em vises fteis
que resultam em to pouco proveito quanto permanecer horas a fio olhando-se num
espelho. ªPara aqueles aos quais em sua evoluo espiritual surgem essas aparies eu
diria: tente ser o senhor de sua viso, e busque e evoque a mais grandiosa das memrias
terrenas, no aquelas coisas que apenas satisfazem a curiosidade, mas as que
engrandecem e inspiram e nos proporcionam uma viso de nossa prpria grandeza; e a
mais nobre de todas as memrias da Terra o augusto ritual dos antigos mistrios, nos
quais o mortal, em meio a cenas de inimaginvel grandeza, era despido de sua
mortalidade e tornado membro da companhia dos deuses*.º
* The candle of vision, de A. E.
mister que se informe que existem mtodos mediante os quais possvel que o
teurgo teste a exatido de sua viso e apure se no foi grosseiramente ludibriado por
elementais ou pela natureza de sua prpria mente geradora de fantasias. Graas a esses
mtodos evita-se, inclusive, a possibilidade de perder-se no labirinto de fantasmagoria
astral. Supondo-se que o teurgo tenha obtido uma viso de Mercrio, digamos atravs dos
selos mercurianos de Cornlio Agrippa ou a Clavcula de Salomo, o Rei, ao retornar ao
seu corpo, sua primeira tarefa deveria ser anotar a experi ncia num dirio especial
mantido para essa finalidade. De passagem, deveria ser feito o pedido da vida do mago no
sentido de conservar um dirio cientificamente elaborado com o registro das vises e
experimentos mgicos, j que isso conduz ordem e ao equilbrio que a direo para a

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qual sua aspirao tende. Que se frise que essas vises devem ser registradas de uma
maneira verdadeiramente cientfica porquanto este registro elimina muitas possibilidades
de ambigidade, considerando-se, ademais, que a memria nem sempre infalvel ou
confivel aps o transcurso de um certo perodo de tempo, o procedimento que poder ser
novamente acompanhado na verificao e averiguao da viso devendo ser registrado
por escrito. Imediatamente aps cada experincia e viso dever-se- dar ateno ao dirio.
Nas colunas do Magus de Barrett ou no De occulta philosofia, no qual se baseia
muito do primeiro, no Liber 777 de Crowley e no Garden of Pomegranates de minha
autoria encontrar-se- uma ampla gama de correspondncias naturais e simblicas a cada
um dos trinta e dois caminhos da Árvore da Vida. Para a verificao de sua viso o mago
deve recorrer a essas atribuies, visto que a experincia tem revelado, como afirmei
anteriormente, uma conexo real entre os smbolos e as atribuies do alfabeto mgico e
as realidades subjetivas. Se a viso de Merc rio encerrar elementos irregulares, de cor ou
n mero, que essas colunas atribuem, digamos, a Marte ou Saturno, o aprendiz poder
estar certo de que algo radicalmente errado ocorreu, medidas devendo ser tomadas
imediatamente no sentido de repetir a viso inteira, assegurando-se de que nenhum erro
ou confuso relativamente viso ocorram novamente. medida que a experincia se
amplia, o mago retm em sua memria um amplo alfabeto de correspondncias e
medida que se torna mais familiarizado com a natureza daquele plano passa a perceber
instantaneamente se a viso procede corretamente, sua crescente intuio, inclusive,
advertindo-o quando h alguma ameaa de perigo coerncia. Nunca demais relembrar
que uma das mais importantes tarefas que cabem ao mago a verificao da viso por
referncia ao alfabeto mgico. Furtar-se a essa verificao cientfica e exame crtico da
viso resulta em acabar mais cedo ou mais tarde chafurdando no lodo viscoso de
intoxicao astral, com a perspectiva de avano e progresso desaparecendo
imperceptivelmente no ar.
necessrio, contudo, observar algumas precaues antes de projetar o corpo de
luz. Deixar o corpo fsico sozinho sem a inteligncia orientadora e o controle do eu
interior equivalente em muitos casos a estender um convite aberto a qualquer entidade
astral, maligna ou no, que esteja nas vizinhanas para dele tomar posse. No h
necessidade de alimentar qualquer apreenso quanto ao bem-estar do corpo j que
Nephesch, a sede das foras vitais e o corpo de desgnio nele permanece a fim de prover o
prosseguimento de suas funes e da vida fsica. Mas a obsesso tem que ser, a todo
custo, evitada. A possesso da estrutura humana por um demnio de face canina subverte
o objetivo e procedimento mgicos. Por conseguinte certos mtodos foram concebidos
para impedir a possibilidade de obsesso, deixando o corpo absolutamente seguro
enquanto a alma voa rumo aos fogos sagrados. Algumas autoridades acreditam que
circundar o corpo com um crculo imaginrio de luz branca constitui um dos mtodos de
proteo mais eficientes, visto que sendo o branco a cor do trono do esprito mais
elevado, nenhum esprito menor ousaria tentar desafiar sua guarda. Outros so a favor da
projeo no interior de um crculo mgico adequadamente traado, pintado em cores com
todos os nomes divinos externamente e as figuras geomtricas internamente. Nesse caso,
entretanto, o crculo tem que ser consagrado e cerimonialmente submetido ao banimento
por um ritual apropriado, um procedimento um tanto incmodo e rduo para uma prtica
to freqente. Por esse motivo assevera-se que o ritual de banimento do pentagrama por

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si s suficiente para assegurar a devida proteo, eliminando toda possibilidade de
possesso demonaca.
O retorno ao corpo aps uma viso deve ser objeto de muito cuidado e a devida
precauo deve ser tomada. Ao entrar na estrutura fsica deve-se deliberadamente respirar
profundamente algumas vezes a fim de assegurar a estreita conjuno dos dois
organismos, sugerindo-se, ademais, que se assuma fisicamente uma forma divina e se
vibre um nome. Usualmente basta a forma de Harpcrates, ou seja, postar-se em p,
ereto, o brao esquerdo frente do corpo, o dedo indicador pousado nos lbios em sinal
de silncio, acompanhando-se essa postura da pronunciao audvel do nome do deus.
No conseguir assegurar a unio das duas essncias do corpo de pensamento e o corpo
fsico pode redundar em desastrosas conseqncias.
A consulta do Livro dos mortos do Antigo Egito ser de proveito bastante
considervel para o leitor, pois a o Tuat e o Amentet, as subdivis es da luz astral, foram
objeto de rigorosa observao e classificao precisa. Na segunda parte do captulo
CXXV, o deus Osris visto sentado numa extremidade do salo de Maat, acompanhado
das deusas da lei e da verdade, juntamente com os quarenta e dois assessores que o
auxiliam. Cada um desses quarenta e dois deuses representa algum entre os nomos do
Egito e ostenta um nome mgico simblico. Nessa concepo percebe-se o imenso talento
dos sacerdotes-teurgos egpcios que criaram correspondncias entre os planos da luz
astral e os nomos ou divis es distritais do pas do alto e baixo Nilo. Mediante o cuidadoso
estudo deste e subseqentes captulos o teurgo juntar aos poucos muitas informa es
teis acerca da luz astral e dos Guardies e Mantenedores dos Pilones atravs dos quais
ele ter que passar em sua auto-iniciao. Embora o Livro dos Mortos represente esses
pilones como aqueles atravs dos quais o morto tem que passar a caminho do repouso no
Amentet, so tambm aplicveis aos portais pelos quais o Skryer na viso espiritual tem
que entrar. Esses portais guardados com seus vigias semelhantes a deuses no devem ser
consideradas fic es, pois como ser descoberto no desenrolar das investiga es, o mago
se aproximar de alguns desses portais fechados e nenhuma quantidade de artifcios
mgicos ou bajulao dos guardi es dos santurios e mans es selados lhe proporcionar
o ingresso a estes. A recusa em entrar constitui um sinal certo de indignidade e indica
acima de tudo toda a incapacidade de existir naquele condio rarefeita. Indica,
adicionalmente, que o corpo de luz necessita ser purificado, tornado incandescente e
resplandecente, iridescente e auto-reluzente, um organismo solar que emite a luz radiante
do esprito interior. somente assim que o mago pode atingir estados mais gneos e
exaltados e obter permisso dos anjos-guardi es de espadas flamejantes aos pilones
sagrados e aos portais interiores. Os meios para efetuar essa purificao so as execu es
freqentes do ritual do pentagrama, formulando dessa forma mais clara e radiantemente
o corpo de pensamento e a celebrao diria de alguma forma da eucaristia que infunde
no corpo de luz a substncia purificadora da essncia espiritual.
As vis es que sero ento obtidas sero de uma elevadssima ordem. Pode ser que
depois de algum tempo transcorrido o teurgo fique espantado por descobrir que seu papel
de observador imparcial de uma viso cessou e que, de algum modo, a viso est
ocorrendo em torno de seu prprio ser, e que ele est mergulhado numa tremenda
experincia espiritual que jamais ser apagada da memria consciente por todos os seus
dias na Terra. Inicia es no sentido real e no na implicao de uma cerimnia formal de

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sala de loja devem ser a estimuladas, o teurgo participando como um candidato aos
mistrios sagrados. Relativamente a essas iniciaes, ocioso dizer, o pedido no feito
sob nenhuma forma escrita. Elas simplesmente ocorrem. E quando ocorrem no h
dvida ou incerteza quanto ao que est ocorrendo. Como tipo de experincia realmente
comovente que a espcie mais elevada de viso astral pode assumir, cito a seguinte:
ªHavia um saguo mais vasto do que qualquer catedral, com pilares que pareciam
ter sido construdos de opala viva e trmula ou de algumas substncias estelares que
brilhavam com todas as cores, as cores do anoitecer e da aurora. Um ar dourado
incandescia nesse local e no alto entre os pilares existiam tronos que desvaneciam
gradualmente, rubor a rubor, na extremidade do vasto saguo. Neles se sentavam os reis
divinos. Eram encimados pelo fogo. Eu vi a cimeira do drago sobre um deles e havia um
outro emplumado de fogos brilhantes que se arrojavam como plumas de chama.
Mantinham-se sentados brilhando como estrelas, mudos como esttuas, mais colossais do
que imagens egpcias de seus deuses, e no extremo do saguo existia um trono mais
elevado onde se sentava algum maior do que os demais. Uma luz semelhante ao sol
fulgurava com incandescncia atrs dele. Abaixo, sobre o cho do saguo, jazia uma
figura escura como se estivesse em transe, e dois dos reis divinos executavam
movimentos com as mos ao redor da figura, sobre sua cabea e corpo. Percebi no ponto
em que suas mos oscilavam como chispas de fogo semelhantes aos lampejos de j ias
irrompiam. Daquele corpo escuro emergiu uma figura to alta, to gloriosa, to brilhante
quanto aquelas sentadas nos tronos. medida que despertou para o saguo tornou-se
ciente de sua parentela divina, erguendo as mos numa saudao. Retornara de sua
peregrinao atravs das trevas, mas era agora um iniciado, um mestre do grmio
celestial. Enquanto ele as observava, as altas figuras douradas levantaram-se de seus
tronos tambm, com as mos erguidas em saudao, e passaram por mim, e
desvaneceram rapidamente na grande gl ria atrs do trono*.º
* The candle of vision, A. E.
Ademais, a rvore da Vida da Cabala deve constituir-se como objeto de muita
pesquisa e experimentao nesse plano. O skryer deve praticar a ascenso de uma Sephira
para a outra, analisando a natureza da esfera cuidadosamente, subindo por todos os ramos
dessa rvore que brota dos cus resplandecentes acima descendo em gl ria para a terra
multicolorida abaixo. Todos os caminhos que irradiam das dez Sephiroth e que as unem
devem ser cuidadosamente explorados e registrados no dirio cientfico. desse modo
que o autoconhecimento conquistado porquanto a rvore um mapa simb lico no s
da constituio interior do pr prio homem como tambm da estrutura e foras de todo o
universo em cada uma de suas fases numerosas.
ªO universo...º, escreveu Crowley, ª... uma projeo de n s mesmos, uma
imagem to irreal quanto aquela de nossos rostos num espelho, e no entanto, como este
rosto, a necessria forma de expresso dele, no para ser alterada exceto medida que
alteramos a n s mesmos... Sob essa luz, portanto, tudo que fazemos descobrir a n s
mesmos por meio de uma seqncia de hier glifos e as mudanas que aparentemente
operamos so num sentido objetivo iluses... Capacitam-nos a nos ver e,
conseqentemente, a nos ajudar a iniciarmos a n s mesmos mostrando-nos o que estamos
fazendo.º

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Estudando esse mapa simblico no astral mediante os recursos do corpo de luz, o
mago acabar familiarizado com todos os aspectos de sua prpria conscincia e do
prprio universo. As vises que ele percebe, evocadas pelo uso dos sigilli, so outras
tantas revelaes de sua prpria conscincia em suas diferentes partes com as quais ele
nunca esteve antes familiarizado. Para descerrar as vrias camadas da mente e da alma,
juntamente com seus contedos de forma dinmica, a luz astral e sua investigao no
corpo solar gneo constitui o meio par excellence, que supera qualquer outro. Assim o
autoconhecimento granjeado. Assim tamb m a autoconscincia, no verdadeiro sentido,
atingida servindo como um preldio s harmonias sinfnicas da unio celestial.
Os resultados dessa prtica so muitos tangveis e salutares. Pr de lado a
possibilidade da projeo consciente do corpo de luz e descartar como destitudos de
importncia as experincias vitais e o autoconhecimento obtidos no astral divino
mediante a reprovao superficial de que ª tudo imaginaoº absurdo, para dizer o
mnimo. Somente a experimentao, e nada mais, demonstrar se a aventura no empreo
uma realidade suprema ou uma fantasia, mesmo admitindo-se que os passos preliminares
tenham sido dados pelos canais da imaginao. Prometeu liberto foi primeiramente
concebido na f rtil imaginao criativa de Shelley, mas quem seria suficientemente tolo a
ponto de rejeitar a beleza intrnseca desse poema ou negar sua realidade imorredoura
devido sua origem imaterial? Aplica-se aqui uma forma de considerao bastante
similar. Por meio da imaginao, o mago cria um sutil instrumento de pensamento com o
qual pode medir, investigar e explorar um plano de conscincia do universo j existente
mas at aqui desconhecido. Em todo caso, em pouco tempo poder ocorrer ao mago, por
mais c tico que ele possa e deva ser, que as entidades ang licas que encontra no
desenrolar de suas vises, suas conversaes e o tratamento que delas recebe dificilmente
so produtos de sua imaginao. Nem se perceber que se trata de criaes subjetivas,
especialmente quando, talvez para sua consternao inicialmente, as coisas ªcomecem a
zumbirº.
Mas desejo agora tratar de um dos mais importantes resultados que se desenvolve
a partir desse importante ramo da teurgia. Antes da consecuo do sucesso na projeo do
corpo de luz, a conscincia humana era inseparvel do corpo fsico. Os apetites e desejos
desse veculo tinham se identificado com o prprio Ruach. De posse da capacidade de
transferir a conscincia para o corpo de luz criado na imaginao se infere uma
significativa concluso filosfica. A alma absolutamente distinta do ser do corpo, e
atrav s dos m todos corretos pode ser separada dele e tornada independente. A princpio,
no se deve tirar a concluso precipitada de que a alma imperecvel e imortal, pois isso
no foi ainda verificado pela experincia. ainda Ruach, entretanto, o falso ego, que se
mant m na transferncia. No h mudana alguma no ser individual ou na natureza da
prpria conscincia pois a projeo do corpo de pensamento no anloga experincia
mstica que aniquila a dualidade e traz xtase e iluminao. O teurgo permanece a mesma
pessoa que era antes, e a dualidade ainda habita sua conscincia. Contudo, consumou-se
uma imensa mudana de perspectiva ou ponto de vista. Enquanto est no corpo de luz,
quando a transferncia de conscincia foi efetuada com xito, ele pode ver deitado diante
de si, embora adormecido, o corpo fsico que h apenas um momento ou pouco mais ele
deixou vago, de modo que sabe, por um ato de observao ordinria, que ele no seu
corpo, visto que aquele corpo fsico ele pode deixar vontade. Ele uma entidade

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espiritual, assoma a compreenso, a qual pode funcionar independentemente de seu
organismo corpreo. O que agora se torna imperativo o aniquilamento da dualidade. O
objetivo imediato a transcendncia de Ruach, abrir escancaradamente suas portas, de
maneira que o verdadeiro ego espiritual possa ser descoberto. Mediante essa descoberta,
quando a iluminao e o xtase invadem a esfera da mente, ocorre tambm a grande
compreenso de que a prpria alma imortal; que a mente, a emoo e o corpo no
passam de veculos dessa alma, instrumentos a serem empregados a servio de seu
prprio alto propsito. E o meio para a descoberta e a busca da senda mgica.
Invocaes, formas semelhantes aos deuses assumidas enquanto no corpo sutil e a
ascenso aos planos so estradas para a comunho com o deus interior.
Que essas prticas prossigam por mais algum tempo e o esforo persista para
incluir a purificao do envoltrio mental, este se desenvolvendo sempre de forma
gradual para uma organizao espiritualizada. O velho princpio de inrcia, indolncia e
negrume, chamado pelos hindus de Tamas, torna-se rompido e ejetado da esfera mgica.
Os ocos do crebro, outrora pesados, impenetrveis e escuros, tornam-se leves e
estranhamente luminosos. E ocorre um curioso fenmeno que traz j bilo ao corao do
mago uma vez sua significao tenha sido compreendida. Enquanto nos velhos tempos a
noite era passada no profundo esquecimento do sono, ou no mximo na fantstica
aventura do sonho, agora a conscincia retida mesmo durante o sono. No h nenhum
longo hiato de esquecimento; tudo uma contnua corrente de fluxo livre de percepo
enquanto o corpo dorme, no fragmentado durante o dia ou a noite por lapsos
inconscientes. No h como superestimar a importncia dessa realizao. Uma nova
qualidade de pureza no sentido hindu do Sattva gradualmente se manifesta; uma
qualidade de ritmo, continuidade e bem-aventurana. Com esta infiltrao da qualidade
do Sattva e a ejeo dos elementos tamsicos da esfera da personalidade, a claridade e a
luminosidade crescem no crebro, e a conscincia no de Ruach mas da alma superior
persiste a cada hora. E assim a vida conquistada, pois a alma est acima de sua vil
compreenso. A morte, o horror cinzento e pavor da humanidade, e derradeiro desespero
dos filsofos, transcendida. Somente o corpo morre. A mente e as emoes tambm
morrem. Mas permanece sempre inalterado e impassvel o anjo divino da luz sagrada,
purificado pela prova, triunfante acima das mutaes da vida e da morte ± calmo, sereno
e imperturbvel no conhecimento de sua prpria imortalidade.
Portanto, impossvel louvar no justo merecimento os resultados do skrying na
viso espiritual, pois essa prtica pode conduzir o mago s alturas mais sublimes da
rvore da Vida, onde o ar puro e o ponto de vista claro e imaculado. Existe,
naturalmente, o perigo inicial de ou perder-se nas rotas secundrias no-mapeadas
daquele plano ou ficar enlaado no abrao sedutor das formas reluzentes e vises astrais
fugazes das profundezas. Entretanto, tudo isso elementar. Se a aspirao for mantida
sem mancha e pura e se os princpios cticos da Cabala forem aplicados, haver pouco
perigo de tal coisa acontecer. E ento poder o mago tranqilamente alar seu caminho
alm de sua personalidade, alm dos fantasmas resplandecentes do astral, passando pelas
vises esplndidas e prfidas dotadas de engodo e fascnio, at o corao interior do
homem celestial, onde o Senhor de tudo est entronado.
± - ±

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Antes do incio de uma viso, ou qualquer operao mgica, aconselhvel que o
aprendizrealize um completo banimento, que tanto purificador quanto protetor. O
melhor e mais rpido mtodo de banimento atravs do Ritual de Banimento do
Pentagrama. O pentagrama expressa, de acordo com Lvi, ªo domnio da mente sobre os
elementos e por meio deste signo que ns os prendemos... o smbolo da Palavra feita
carne e, conforme a direo de seus raios, representa o bem ou o mal, a ordem ou a
desordem... Um signo que resume na significao todas as formas ocultas da natureza e
que sempre tem manifestado aos espritos elementares e outros um poder superior ao que
lhes prprio, que naturalmente os atinge com medo e respeito, forando-os obedincia
mediante o imprio do conhecimento e da vontade sobre a ignor ncia e a fraqueza.º A
fim de compreender o significado da forma geomtrica do pentagrama e entender porque
nele est encerrado o poder de banir todas as foras inferiores a partir de uma dada esfera
e porque ele a ªPalavra feita carneº, faz-se necessria uma breve recapitulao dos
aspectos da Cabala. Um dos nomes divinos pelos quais os judeus concebiam a fora
criadora universal era YHVH, o qual denominado Tetragrammaton acabou por ser
considerado como o equivalente dos quatro elementos do cosmos. Foi tambm concebido
para representar o homem no-iluminado comum no qual a luz do esprito no fizera
ainda sua apario; o no-regenerado ser de terra, ar, fogo e gua, entregue s coisas do eu
no-redimido. Por meio de magia considerava-se que nesses quatro elementos sobre os
quais a carne baseada o Esprito Santo descia em meio a fogo, glria e chamas. Em
hebraico o elemento Esprito tipificado pela letra Shin com seus trs forcados
dardejantes de fogo espiritual unidos sob a forma de um princpio. Rompendo em
pedaos o ser carnal e carregando consigo os germes de iluminao, inspirao e
revelao, o Esprito Santo forma por sua presena no corao uma nova espcie de ser, o
Adepto ou Mestre YHShVH. Essa palavra em hebraico o nome de Jesus, o smbolo do
homem-deus, uma nova espcie-tipo de ser espiritual, do qual no h nada maior em
todos os cus e planos da natureza. Devido a esse fato e s idias sintetizadas no signo do
pentagrama, o smbolo dos quatro elementos encimado pela flama coroadora e
conquistadora do Esprito Santo, ele detm sua incomparvel eficincia e poder de
subjugar toda oposio astral e expulsar subst ncia grosseira do ser do mago.
O resultado depender inteiramente da direo para e de qualquer das cinco pontas
na qual essa figura seja traada pelo mago. Procedendo da ponta mais alta e descendo
numa linha reta ponta direita inferior, os poderes do fogo so invocados. Por outro lado,
se o mago traar com seu basto a figura do canto esquerdo para o alto ele banir os
elementais da terra. Pode-se observar, ademais, que este ltimo tipo de pentagrama que
usado no ritual do pentagrama, geralmente suficiente para banir seres de quaisquer
classes. E a espada para representar a faculdade crtica afastadora de Ruach geralmente
instrumento empregado nesse sentido. O chamado Ritual do Pentagrama assumiu o
significado de ser puramente um ritual de banimento, embora na realidade seja uma
estrutura composta. Antes de abord-lo eu o cito:

1. Tocando a testa, diga Atoh (para ti).
2. Tocando o peito, diga Malkuth (o Reino).
3. Tocando o ombro direito, diga ve-Geburah (e o Poder).
4. Tocando o ombro esquerdo, diga ve-Gedulah (e a Glria).

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5. Apertando as mos sobre o peito, diga Le-Olahm, Amen (para sempre, Amm).
6. Voltando-se para o leste, faa um pentagrama da terra com o basto ou a espada, e diga
(vibre) YHVH.
7. Voltando-se para o sul, o mesmo, mas diga ADNI.
8. Voltando-se para o oeste, o mesmo, mas diga AHIH.
9. Voltando-se para o norte, o mesmo, mas diga AGLA.
10. Estendendo os braos na forma de uma cruz, diga:
11. Diante de mim, Rafael.
12. Atrs de mim, Gabriel.
13. minha direita, Miguel.
14. minha esquerda, Auriel.
15. Pois em torno de mim flameja o pentagrama.
16. E na coluna se posta a estrela de seis raios.
17. Repita de 1 a 5, e a cruz cabalstica.
Nesse sentido pode revelar-se interessante ao leitor o fato de Aleister Crowley ter
observado que aqueles ªque encaram esse ritual como um mero instrumento para
invocao ou banimento de espritos so indignos de t-lo. Compreendido corretamente
a medicina dos metais e a pedra dos sbiosº. Em sua execuo h, como observei, um
movimento complexo. O ritual primeiramente invoca e, tendo banido pelo pentagrama
todos os elementos dos quatro pontos cardeais com a ajuda dos quatro nomes de Deus, ele
ento evoca os quatro arcanjos como guardies divinos para protegerem a esfera da
operao mgica. No encerramento, mais uma vez invoca o eu superior, de maneira que
do comeo ao fim a cerimnia inteira ocorre sob a vigil ncia do esprito. A primeira
parte, que vai do ponto 1 ao ponto 5, identifica o Santo Anjo Guardio do mago com os
aspectos mais elevados do universo sefirtico; na verdade, afirma a identidade da alma
com Ado Kadmon. Na segunda parte, do ponto 6 ao 9, o mago traa um crculo de
proteo ao mesmo tempo que sua imaginao est formulando um crculo de fogo astral
dentro do qual ele possa proceder ao seu trabalho. Ao norte, sul, leste e oeste desse
crculo pentagramas de banimento do elemento terra so traados com o basto ou a
espada. medida que esses pentagramas so formados em meio ao ar com a arma
elementar, todo esforo deve ser feito no sentido de transmitir vitalidade e realidade a
eles. A realizao cega e insensvel desse ritual, tal como se revela verdadeiro em relao
a todo aspecto da teurgia, absolutamente intil alm de ser uma perda tanto de tempo
quanto de energia. A imaginao, simultaneamente, deve ser estimulada para criar esses
pentagramas em torno do mago no plano astral em figuras incandescentes, de sorte que
atravs das linhas num jorro de luz e poder, representantes do ser espiritual nenhuma
entidade menor de qualquer espcie ousa abrir caminho. necessrio que o mago se
certifique de no abaixar a arma elementar depois de formular um pentagrama em meio
ao ar. O crculo tem que ser completo, prosseguindo numa linha ininterrupta de
pentagrama a pentagrama. A estrela fulgurante de cinco pontas como a espada
flamejante que privou Ado do den. Os quatro arcanjos, os regentes espirituais dos
quatro elementos, so ento invocados para dar legitimidade ao trabalho, e poder e
proteo espirituais tanto aos pentagramas circundantes quanto ao crculo onde o mago se
encontra encerrado. A ltima frase do ritual declara os pentagramas inflamados em torno

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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dele e invoca novamente o Santo Anjo Guardio para que a operao seja selada com o
selo da luz divina.
Um dos resultados de grande significao e importncia desse ritual, se
corretamente realizado na maneira indicada, a limpeza de toda a esfera da
personalidade. Bastar um pouco de prtica para demonstrar ao jovem teurgo se est
conseguindo atingir o efeito necessrio. extremamente difcil, lamento diz-lo,
descrever o resultado do banimento, como seguramente o caso da maioria das matrias
concernentes ao domnio subjetivo da sensao e percepo. Deve haver um claro senso,
inequvoco em sua manifestao de limpeza, mesmo de santidade e sacralidade, como se
todo o ser fora suave e integralmente purificado, e todo elemento impuro e sujo disperso e
aniquilado. Tal como um mergulho num rio de guas frescas num dia quente de vero nos
deixa abenoados com uma sensao de frescor e purificao, assim deve ser esse ritual.
A base racional de sua ao depende da purificao dos constituintes da natureza
do mago. Cada molcula, cada clula ± astral, mental e fsica ± envolvida, visto que a
base de cada princpio se funda em centros de energia e fora espiritual. Esses pontos
microscpicos ou m nadas so os minsculos pontos sensveis de conscincia espiritual,
e na realidade de sua existncia e funo esto baseados no s o sentido mais profundo
de individualidade como tambm o fundamento da prpria matria, e seus
acompanhamentos de energia e vida fsica. Essas m nadas esto na raiz da clula seja de
um mineral, seja da matria cerebral bem como da vida vegetal. O resultado da
formulao do crculo do fogo e dos pentagramas flamejantes, da vibrao dos nomes
divinos e da invocao tanto dos anjos dos pontos cardeais quanto do Santo Anjo
Guardio que gradualmente as clulas mais grosseiras ou tomos mondicos so
ejetados da esfera da conscincia. Para substitu-las, outras vidas, mais sensveis e
refinadas, de uma qualidade mais sutil de substncia espiritual, so atradas esfera do ser
e infundidas na prpria substncia da constituio fsica e invisvel. Assim uma
purificao vital ocorre, permitindo que a influncia do Santo Anjo Guardio penetre o
crebro e mente refinados para difundir atravs da personalidade sua presena e graa, um
importante passo inicial para o progresso mgico.
A histria desse ritual em particular um tanto obscura. No constatei nenhum
outro espcimen a ele semelhante que se vincule Antigidade, embora obviamente
lguma forma similar de banimento tenha sido necessariamente utilizada. Podem-se
encontrar em Lvi as primeiras referncias ao ritual em pauta. No Dogma e Ritual de Alta
Magia encontramos a seguinte afirmao:
ªO sinal da cruz adotado pelos cristos no lhes pertence com exclusividade.
tambm cabalstico e representa as oposies e o equilbrio tetrdico dos elementos.
Havia originalmente dois mtodos de faz-lo, um reservado aos sacerdotes e iniciados, o
outro separado para os nefitos e profanos. Assim, por exemplo, o iniciado, erguendo a
mo at a testa, dizia ‘Teu ...’, em seguida levava a mo ao peito, ‘...o reino’, depois a
transferia para o ombro esquerdo, ‘Justia’, e finalmente ao ombro direito, ‘e
misericrdia’; ento juntando suas mos, ele acrescentava ‘atravs das geraes’. Tibi
sunt Malkuth et Geburah et Chesed per aeonas – um sinal da cruz absoluta e
esplendidamente cabalstico e que as profanaes da Gnosis perderam inteiramente para a
igreja oficial e militante. O sinal feito dessa maneira deve preceder e encerrar a
conjurao dos quatro.º Percebe-se por certo que esse mtodo apenas uma parte do

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ritual que reproduzi anteriormente. indubitavelmente ao ritual do pentagrama que Lvi
alude. Na agora extinta Ordem da Aurora Dourada, sob a liderana do falecido S. L.
McGregor Mathers, esse ritual era usado extensivamente e, depois de sua morte e da
destruio de partes de sua Ordem, dele se apropriou Aleister Crowley, que o perpetuou
no seu peridico The Equinox. Antes dessa reimpresso no fui capaz de localizar
qualquer referncia de autoridade a qualquer coisa que seja minimamente semelhante a
esse ritual.
((ilustrao ± Sigillum do Pentagrama))
Existe evidncia, contudo, que mostra que alguma forma de proteo ou um
banimento preliminar eram reconhecidos pelos magos medievais dos quais, a julgar pelo
contedo, Francis Barrett recebeu seus mtodos. O dbito dele no menor com Cornlio
Agrippa e Pietro de Abano. Em O Mago de Barrett h a afirmao segundo a qual antes
de comear as invocaes deveria haver alguma ªorao ou salmo, ou evangelho para
nossa defesa em primeiro lugarº, e numa pgina adiante Barrett fornece uma forma de
consagrao do crculo na qual a idia da defesa distintamente formulada. Alm disso,
h o mtodo do emprego do pentagrama mencionado nas instrues mgicas da Gocia,
da Clavcula de Salomo, desenvolvidas pormenorizadamente pelo mago francs. A
figura mgica traada como um sigillum com suas palavras e s mbolos apropriados
sobre metal ou pergaminho virgem para uso durante a cerimnia. Caso haja ameaa de
perigo para o exorcista, ou ele se ache incapaz de enquadrar a inteligncia evocada em
sua vontade, o pentagrama dever ser seguro alto na mo e levado em circumpercurso aos
quatro quadrantes onde uma curta alocuo ao Senhor do Universo recitada. O
resultado realmente idntico ao traado e formulao da figura no ar com o verendo da
arte.
H, ademais, uma variao que poderia ser mencionada, embora seja uma forma
que deveria figurar em todo trabalho cerimonial. chamada de Licena para partir, e
ocorre nesses cerimoniais nos quais uma inteligncia foi conjurada apario vis vel no
tringulo da arte. Quando o operador no deseja mais que o esp rito permanea no
tringulo, a licena recitada permitindo que o esp rito desmaterialize e parta do cenrio
da operao. ªÓ tu esprito N, porque respondeste diligentemente s minhas exigncias e
estiveste muito disposto e desejoso de atender a minha chamada, eu aqui te dou licena
para partir para teu lugar adequado, sem causar mal ou perigo a homens ou animais.
Parte, pois, eu digo e esteja tu pronto para atender ao meu chamado, estando devidamente
exorcizado e conjurado pelos ritos sagrados da magia. Eu te ordeno a se afastar pac fica e
sossegadamente e que a paz de Deus continue sempre entre tu e eu. Amm!º Barrett
apresenta uma ligeira variao da licena acima da Gocia: ªEm nome do Pai, e do Filho
e do Esp rito Santo, ide em paz para os vossos lugares; que haja paz entre ns e vs;
estejai vs pronto para quando chamado.º Ele acresce posteriormente que quando o
esp rito partiu, o mago no deve sair do crculo durante alguns minutos, mas que uma
breve orao deve ser feita dando graas pelo sucesso da operao e ªorando pela futura
defesa e conservao, o que sendo ordenadamente realizado vs podereis partirº. Numa
nota de rodap, fazendo uma advertncia adicional, Barrett acrescenta que aqueles que
omitem a licena do esp rito se acham em seri ssimo perigo, pois soube-se de casos nos
quais o operador experimentou morte sbita. No se pode dizer que esses vrios mtodos
paream to cient ficos ou to confiveis quanto o Ritual do Banimento do Pentagrama

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 105 -
descrito pginas atrs. O ritual como aqui dado um dos mais singulares existentes e
no deve jamais, sob circunstncia alguma, ser omitido em qualquer operao mgica,
seja esta magia cerimonial formal, a celebrao da missa do Esprito Santo, ou skrying
na viso espiritual. A esfera da personalidade mantida pura e limpa, impedindo que
qualquer entidade estranha irrompa no interior do raio de percepo, destruindo assim a
continuidade e coerncia daquele trabalho particular.
Dois outros mtodos de banimento restam para serem descritos. Quando numa
cerimnia se faz necessria a realizao de um banimento mais completo que o
proporcionado pelo ritual do pentagrama, costuma-se empregar uma tcnica que se
assemelha um pouco a um exorcismo oficial. Algumas gotas de gua so borrifadas em
torno do crculo, uma vela ardente representando o elemento fogo deliberadamente
apagada, um leque agitado no ar e alguns gros de sal so jogados beira do crculo.
Ao mesmo tempo, devem ser pronunciadas as palavras mgicas ªExarp, Bitom, Hcoma e
Nantaº, cada uma das quais controla o esprito do ar, fogo, gua e terra. Deve-se tambm
recitar um conjuro para a partida dos elementais governados por esses nomes e, claro,
melhor que seja precedido pelo ritual do pentagrama. Vrios dos versculos dos Orculos
Caldeus podem ser empregados com grande proveito com cada uma das a es
cerimoniais mencionadas.
O outro mtodo um que era utilizado pelos sacerdotes egpcios, estando contido
num dos captulos do Harris Magical Papyrus. Trata-se de um ritual de banimento a ser
executado nos quatro pontos cardeais, formulando na imaginao um guardio sob a
forma de um co, o qual se supunha ser terrivelmente destrutivo contra qualquer fora
agressora. No tentarei descrev-lo, preferindo transcrev-lo textualmente do Harris
Magical Papyrus:
ªSurge, co do mal, para que eu possa instruir-te em tuas presentes obriga es.
Ests aprisionado. Confessa que assim . Hrus que produziu este mandamento. Que
teu rosto seja terrvel como o cu partido pela tempestade. Que tuas mandbulas se cerrem
impiedosamente... Faz teus pelos eriarem como varetas de fogo. S tu grande como
Hrus e terrvel como Set; igualmente para o sul, para o norte, para o oeste e para o
leste... Nada te obstar enquanto colocares tua face em minha defesa... enquanto tu
colocares tua face a servio da proteo de minhas sendas, opondo-te ao inimigo. Eu te
concedo o poder do banimento, de se tornar completamente silente e invisvel, pois tu s
meu guardio, corajoso e terrvel.º
Essa forma de banimento, em qualquer caso, deve ser acompanhada pelo ritual do
pentagrama. usada principalmente em difceis opera es de evocao, nas quais pode
haver algum perigo representando por uma entidade particularmente maligna atrada ao
templo e que invade um crculo ordinariamente consagrado, em detrimento do mago.
Tem sido tambm usada na invocao de Hrus, ou das inteligncias do planeta Marte,
quando se deseja particularmente que a esfera astral esteja completamente limpa e pura.
Ocioso enfatizar, estou certo, que se esse mtodo for empregado, a formulao na
imaginao do co-guardio dever ser to precisa quanto aquela dada para o pentagrama,
e o teurgo dever atribuir importncia, no que diz respeito figura no olho de sua mente,
aos dados fornecidos no prprio conjuro.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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CAPTULO XI
Um dos mais potentes auxiliares da invocao e um elemento essencial ao sucesso
de toda operao mgica o assumir astral da forma ou mscara pela qual um deus
passou a ser conhecido convencionalmente e retratado pictoricamente. O sr. Franois J.
Chabas no seu livro, agora esgotado, Le Papyrus Magique Harris, apresenta uma
informao muito significativa que dificilmente pode ser encontrada alhures sob forma
definida, a saber, que a mais poderosa frmula mgica conhecida dos sacerdotes das
castas do antigo Egito era a identificao do executante do ritual em imaginao com a
divindade que ele estava invocando. Jmblico afirma que ªo sacerdote que invoca um
homem, mas quando ele comanda o poder porque atravs de smbolos arcanos ele, num
certo aspecto, investido das formas sagradas dos deusesº. Se a frase ªnum certo
aspectoº indica a frmula na iminncia de ser considerada um problema que pode ser
deixado em aberto, embora possa bem ser o assumir da forma divina ao que ele esteja se
referindo. Esparso aqui e ali ao longo do Livro dos Mortos em alguns dos rituais e hinos
aos deuses apura-se que o escriba do livro se identifica com eles. H numerosos exemplos
de versculos em separado que confirmam essa crena. ªEu me uni aos macacos divinos
que cantam na aurora e eu sou um ser divino entre eles.º No captulo 100 o versculo ªFiz
de mim um contraparte da deusa sis e o poder dela (khu) tornou-se forteº pareceria
definitivamente apoiar essa tese, que ganha confirmao adicional a partir de outras
fontes, segundo as quais o assumir da forma divina constitui um dos mais importantes
fatores a serem observados na magia egpcia.
Recordando tudo que foi postulado relativamente natureza plstica e magntica
da luz astral, tanto em seu aspecto inferior quanto superior, e a potencialidade criativa da
imaginao treinada, bem como a observao feita por Lvi referindo-se ao corpo astral
de que ªele pode assumir todas as formas evocadas pelo pensamentoº, o aprendiz dever
dedicar-se ao estudo das formas convencionais como os deuses so retratados. Eu me
estendi um pouco num captulo anterior na descrio sumria das formas e algumas
caractersticas filosficas dos deuses mais importantes ligados rvore da Vida a fim de
simplificar as exigncias do leitor em geral. A experincia tem demonstrado aos teurgos
ocidentais que as representaes pictricas dos deuses egpcios so perfeitas para o
objetivo dessa prtica em particular ± mais do que as da ndia ± e encerram em si mesmas
um sistema de simbolismo sumamente maravilhoso e recndito. As formas desses
poderes universais e essncias inteligentes csmicas, que as castas sacerdotais do Egito
chamavam de deuses, permaneciam cada uma completa por trs de uma mscara humana
ou animal, todo atributo sendo simbolizado por algum emblema ou ornamento artstico. A
divindade de um deus era simbolizada pelo tipo e os emblemas, a cobertura de cabea
como a serpente Uraeus ou o disco do sol nascente, ou as plumas duplas da Verdade,
divina e mundana. Havia a representao de poderes pelo basto da bis, o cetro ou a
Ankh segura na mo do deus. E ainda outros smbolos portados pelo deus eram sugestivos
de sua capacidade de proporcionar ressurreio ou renascimento, autoridade e poder,
xtase ou estabilidade, ou representativos de algum modo de funo particular na
economia csmica. A forma convencional do deus resume assim de uma maneira
espantosa um vasto agregado de idias, lendas e mitos, sintetizando ao mesmo tempo
foras especiais da natureza ou, talvez, poderes inconscientes na constituio espiritual do
homem.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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guisa de exemplo do procedimento a ser seguido para a aplicao dessa
hiptese, suponhamos de momento que a tarefa que temos a invocao e a identificao
da conscincia humana com a divindade, ou aspecto da vida csmica, conhecida como Ra
± a divindade que habita o sol. Inicialmente, o mago se ocupar da incumbncia de
descobrir tudo o que for possvel sobre a natureza do deus. As lendas que se
desenvolveram em torno do carter do deus devem ser minuciosamente analisadas
porquanto notrio que nas lendas e mitos fantsticos de outrora muito conhecimento
espiritual e sabedoria esto encerrados. Alm disso, a lenda vinculada a um deus
especfico indicar aspectos da natureza e o temperamento ideal da divindade, sugerindo
tambm vrios poderes na personalidade divina sobre os quais o aprendiz jamais
suspeitara antes.
O perigo da magia, ao menos um dos mais srios, uma ocupao imprudente de
uma certa parte da tcnica tergica, uma compreenso real dos processos executados e
dos princpios filosficos da prtica. Que o aprendiz, portanto, atinja uma compreenso
mais ou menos completa, na medida do possvel, do que ele est desejoso de se tornar, de
qual fora ou poder espiritual ele deseja invocar; e ento, estando certo e mentalmente
bem informado, que prossiga. Um tal trabalho informativo como The Gods of the
Egyptians, de Sir E. A. Wallis Budge, antigo zelador das Antig idades egpcias do Museu
Britnico, ser marcantemente til. A partir das lminas em autotipia a existentes e das
lminas coloridas no livro mencionado ele dever familiarizar-se com a configurao e a
forma do deus, as posturas nas quais o deus comumente retratado, os gestos
costumeiramente empregados e as cores utilizadas na traduo artstica. Esta leitura pode
tambm ser suplementada por uma visita s galerias egpcias do Museu Britnico ou
qualquer outro. O leitor ser, posso garantir, bem recompensado.
Com todos esses fatos na memria, o aprendizproceder fase mais difcil do
trabalho, a qual consiste da aplicao da imaginao e da vontade, treinadas por suas
prvias prticas. Em seu trabalho ± no necessariamente cerimonial ± ele dever se
empenhar em construir diante do olho de sua mente uma perfeita imagem ou mscara do
deus. A forma tem que se projetar ousada e claramente na viso da imaginao,
gigantesca, resplendente e irradiando a luz do sol espiritual, do qual Ra o smbolo
esotrico convencional. Ele perceber que o deus porta um basto com cabea de bis na
mo esquerda, sendo a bis o smbolo da sabedoria e da vontade divina; na sua mo
direita sustentado o Ankh, smbolo de luz e vida as quais o sol, por dias e anos, atravs
de sculos incontveis, concede livremente a toda a espcie humana e a todas as suas
criaturas na Terra. Sobre sua cabea, fazendo as vezes de uma coroa, est um halo, uma
aurola dourada de inimitvel esplendor, confrontada por uma serpente Uraeus
insuspensa, o smbolo do fogo espiritual interior. Retratada como um falco cuja cabea
cor de laranja, a nmise do deus desce do azul escuro da coroa, quase preto, no matiz a
cor do smbolo Tattva do esprito; e a pele do deus flamejante como o fogo do sol do
meio-dia. Esses detalhes devem ento ser aplicados ao simulacro retido firmemente na
mente at que sejam vistos diante da alma viva como uma imagem dinmica de Ra, uma
imagem na qual no resida qualquer trao de imperfeio. uma tremenda tarefa de
imaginao criadora, e rdua. Mas dia aps dia tem que ser continuada com ardor e
devoo at a tarefa sagrada ser consumada e, completo e fulgurante o deus se mostra, um
deus em verdade para seu devoto. Com essa imagem mantida firmemente na luz astral, o

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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teurgo deve se empenhar para envolver sua prpria forma com o abrigo do deus e em
seguida unir-se forma que o encobre. Segundo afirmao de Lvi j citada
anteriormente, o corpo astral assumir a forma de qualquer pensamento poderoso que a
mente evocar. Essa efgie astral do deus, anteriormente apenas uma imagem externa ao
corpo do teurgo, deve agora ser organizada como uma figura divina em torno de sua
prpria forma astral at que coincidam seu prprio corpo de luz sendo alterado e
transmutado no corpo do deus. Somente quando o teurgo realmente sentir o formidvel
influxo de poder espiritual, a aquisio da fora e energia solares e iluminao espiritual,
somente quando ele souber na intuio do transe defico que a identificao foi
concretizada, estar a tarefa de criao completa. ªAs imagens dos deusesº, escreve
Jmblico, o divino teurgo, ªso repletas de luz flgida...º e ªo fogo dos deuses, realmente,
fulgura com uma luz indivisvel e inefvel, preenchendo todas as profundezas do mundoº
de uma maneira celestial empireana. Relativamente ao teurgo ou rei-sacerdote do Egito
que executara essa excelente combinao das ess ncias com a glria do deus do sol, h
uma descrio sob a forma de uma alocuo citada por G. Maspero, o egiptlogo,
mostrando o poder do esprito que se consagrou pelo voto como resultado da
identificao. A alocuo a seguinte: ªTu te assemelhas a Ra em tudo o que fazes.
Portanto os desejos de teu corao so sempre satisfeitos. Se desejares uma coisa durante
a noite, na aurora ela j estar disponvel. Se disseres `Subam s montanhas' as guas
celestiais fluiro pela tua palavra. Pois tu s Ra encarnado, e Kephra criado na carne. Tu
s a imagem viva de teu pai Temu, Senhor da cidade do sol. O deus que comanda est em
tua boca e um deus senta-se sobre teus lbios. Tuas palavras so cumpridas todas os dias
e o desejo de teu corao realiza a si mesmo como o de Ptah quando ele cria suas obrasº.
Simultaneamente ao processo de unificao com o corpo do deus se revelar
como de grande ajuda a recitao de uma invocao, um pe lrico ou ditirambo entoando
louvores ao deus, delineando a natureza e as qualidades espirituais do deus no discurso.
Se o aprendiz tiver habilidade no escrever no enfrentar grande dificuldade. Por outro
lado, uma tal litania poderia muito facilmente ser construda a partir dos hinos rficos, ou
da coletnea de textos lricos includos no Livro dos Mortos, o qual est repleto de alguns
dos melhores exemplos de rituais existentes. Em suma, a invocao do deus deve ser
expressa numa linguagem que tenda a produzir jbilo mental e xtase. A seguir
transcrevemos um exemplo, adaptado do Livro dos Mortos, de um tal ritual, embora no
seja aqui dado como exemplo para ser rgida e servilmente imitado, mas apenas como
sugesto e talvez ajuda ao aprendiz sincero.
ªHomenagem a ti, Ra, no teu formoso nascer. Tu nasces, tu brilhas na aurora. A
companhia dos imortais te louva ao nascer e ao pr-do-sol, quando medida que teu
barco matutino se encontra com teu barco do anoitecer sob ventos propcios, tu velejas
sobre as alturas do cu com um corao jubiloso. Ó tu uno, tu perfeito, tu que s
eterno, que jamais s fraco, que nenhum poder capaz de rebaixar, tu esplendor do sol
do meio-dia, sobre as coisas que pertencem tua esfera nenhum possui em absoluto
qualquer domnio. E assim a ti presto homenagem. Todos salvem Hrus! Todos salvem
Tum! Todos salvem Kephra! Tu grande falco, que por teu rosto formoso produzes o
regozijo para todos os homens, tu renovas tua juventude e com efeito pes a ti mesmo no
lugar de ontem. Ó, jovem divino, autocriado, auto-ungido, tu s o Senhor do Cu e da
terra, e criaste seres celestiais e seres terrestres. Ó tu, herdeiro da eternidade, regente

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perptuo, auto-sustentado, quando tu nasces teus raios benevolentes esto sobre todos os
rostos e moram em todos os coraes. Vive tu em mim, e eu em ti, tu, falco dourado
do sol!º
Com a recitao de cada ponto da invocao, proferido com entonao e intento
mgicos, obtm-se em pensamento uma intensa compreenso da significao das
palavras. medida que o teurgo brada ªTu brilhas na auroraº, a forma astral do deus
deve ser vista e realmente sentida com os sentidos emitindo uma refulgncia diante da
qual o mais claro brilho do sol do meio-dia pareceria trevas, uma luz to ntida e aguda, e
rica de brilho e glria dourada que sua essncia inundaria com grande sutileza o corao,
a mente e a alma. E quando o mago profere ªVive tu em mim, e eu em ti, , falco
dourado do solº, o processo da identificao com a forma astral deve ser realizado e
compreendido o mais vividamente possvel. Enquanto o mago no for capaz de efetuar
perfeitamente o trabalho criativo da imaginao, todos os esforos s podero ser
classificados simplesmente como prtica. O teurgo saber que seus esforos foram
coroados pelo xito mediante sinais infalveis dentro de sua prpria conscincia e a
acelerao de uma vida nova. Nele e em sua alma o deus buscar sua eterna morada. No
interior do corao haver um santurio e uma habitao serena de uma fora espiritual
tremenda, uma conscincia divina que nele viver duradouramente, transformando o filho
da terra em um verdadeiro filho do sol eterno. ªPois como as trevas no esto adaptadas
para a sustentao do esplendor da resplandecente luz do sol, tornando-se de s bito
totalmente invisveis, retrocedendo por completo e imediatamente desaparecendo, assim
tambm quando o poder dos deuses, que acumula todas as coisas de bem, brilha
copiosamente, nenhum lugar abandonado ao tumulto dos espritos malignos*.º
* Os Mistrios, Jmblico.
Assim ensinaram os magos da Antigidade. Os esforos modernos confirmam
reiteradamente seus ensinamentos e experimentos. Dessa maneira, expandindo a si
mesmo a uma grandeza incomensurvel unindo-se grandeza dos deuses, o teurgo salta
como o bode monts alm de todas as formas para idias e essncias que residem no
cume da manifestao, e transcendendo o tempo se torna eternidade e infinidade. Assim,
ªa partir da s plica somos em breve conduzidos ao objeto da s plica, adquirimos sua
semelhana a partir da conversao ntima e gradualmente obtemos perfeio divina, em
lugar de nossa prpria imbecilidade e imperfeio**. O teurgo se tornar mais elevado
que a altura nessa perfeio, mais profundo na fora de seu fundamento do que as
profundidades mais baixas, uma parte integral da criao universal de imediato no
gerada, jovem, velha, auto-existente e imortal. Aquilo que outrora era grosseiro se torna
despido de toda sua trivialidade sensual para assumir uma beleza fascinante,
apaixonadamente seleta, como se furtada do esprito. Dentro de si faculdades espirituais
latentes e que desabrocham sero sentidas e a dbil memria da experincia ganha ao
longo do tempo desde muito pretrita e morta, gradativamente surgir para iluminar a
mente e pulsar novamente no corao, expandindo o horizonte da conscincia. E assim
hoje seus ps pisam aquele lugar que ontem, quando contemplava a augusta natureza do
trabalho, seu olho mal podia ver. Alm dele, no invisvel, estar seu stio de repouso do
dia seguinte. E ele ser como diante do prprio Ra, um sol de luz, brilho e alimento
celestial para todos aqueles com os quais ele entra em contato cotidiano. Sobre o pequeno
bem como sobre o grande, sobre o elevado bem como sobre o baixo, no menos sobre o

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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pobre do que sobre o rico seu auxlio descer, mesmo alm dos limites extremos do
espao.
** Os Mistrios, Jmblico.

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CAPTULO XII
Como um dos pr-requisitos fundamentais do treinamento mgico, seja no ramo
da gocia, seja no ramo que diz respeito invocao do eu superior e s essncias
universais, todos os tipos de magos apontaram insistentemente ao longo das eras a pureza
de vida, a acompanhar toda prtica tergica e cerimonial. Parece ser repetido por quase
toda autoridade, dogmaticamente e com certeza por alguns, um tanto vagamente por
outros que passam adiante o que eles prprios receberam meio compreendido e meio
compilado de seus antepassados. Todos concordam, no entanto, que na busca das artes
mgicas mister que haja pureza e santidade. meu desejo investigar sobre o significado
dessa ªpurezaº. No desejo, porm, entrar numa discusso de tica e moral, pois essa me
distanciaria do assunto da magia, e eu propositadamente me contenho aqui de tocar nessa
matria controvertida que parece ter criado mais confuso e diferena de opinio do que
quase qualquer outra. No que a pureza diz respeito magia, todavia, o aprendiz pode se
assegurar quanto verdade dessa nica afirmao, atribuindo ao resto qualquer
interpretao de moral que preferir. A totalidade da vida de algum deve apontar para
uma direo e ser concentrada e devotada a um conjunto de objetivos. Quando dizemos,
por exemplo, que o leite ou a manteiga puro ou pura, o que queremos dizer com tal
afirmao? Apenas isto: ao leite ao qual nos referimos no foram acrescentados nenhuma
gua ou produtos qu micos ou quaisquer outras substncias estranhas, e a totalidade de
seu teor conforme o ingrediente principal. Bem, a pureza da vida mgica deve ser
considerada exatamente da mesma maneira. A vida do mago tem que ser acima de tudo
eka-grata, de um nico direcionamento, e a soma total de seus pensamentos, emoes e
aes, quaisquer que sejam, deve sempre ser constitu da para interpretar e dar mpeto
aspirao espiritual. Qualquer que seja a virtude que a moralidade possa deter em si
mesma, e no caso de alguns indiv duos ela prenhe de possibilidade divina, encontra-se
completamente fora da esfera do mago. No h dvida que uma pessoa que foi iniciada
num mistrio espiritual e que foi abenoada pelo influxo do eu seja provavelmente moral
simplesmente porque estar doravante em harmonia consigo mesma. Um tal ser humano,
por um impulso natural, est geralmente tambm em harmonia com os outros seres
humanos. Mas o m stico ou o mago no so necessariamente homens morais em nenhum
sentido convencional. Isso quer dizer que no devemos de maneira alguma esperar que o
mago, mesmo quando fundamentalmente em harmonia com seus semelhantes, esteja
necessariamente em harmonia com as leis morais e ticas de seu tempo. A moral, em
s ntese, nada tem a ver com a magia. Essa idia foi claramente expressa por Waite, que
em seu Studies in Mysticism sugere que ªO objeto da religio o desenvolvimento e a
perfeio da humanidade por meio de uma srie de processos espirituais e sua unio com
o que o mais elevado no universo, enquanto que a moralidade prope o melhoramento
da raa apenas com a ajuda da lei natural... Precisamos conhecer Deus para sermos bons,
mas nenhuma bondade moral pode nos conduzir ao conhecimento divino... ªNo que
concerne ao mago, s isto importante. Seja l o que esteja fazendo, comendo, bebendo
ou trabalhando, essa ao tem que ser transfigurada num s mbolo e dedicada ao servio
daquele ideal entesourado acima de toda riqueza e outros valores em seu corao. Sua
vida inteira deve ser uma cont nua concentrao, caso contrrio todo seu treinamento em
Dharana e o desenvolvimento da vontade mgica tero sido um completo desperd cio;

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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tanta energia intil jogada fora tal como num monte de poeira se ele no trouxer essa
concentrao e essa atitude sacramental premncia da vida diria.
O ideal que para o mago constitui seu maior tesouro e para o qual todo o contedo
das atividades de sua vida dirigido a recuperao do conhecimento de seu Santo Anjo
Guardio, o Augoeides, aquela parte mais nobre de sua conscincia que real,
permanente e a fonte generosa, imorredoura de inspirao e sustento espiritual. Da
existir, na realidade, um perfeito ritual em magia; uma meta que tem primazia sobre todas
as outras: a invocao do Santo Anjo Guardio, unio que deve, inclusive, preceder as
invocaes dos deuses ou das essncias universais, seguindo-se o procedimento
formulado por J mblico. A alma busca primeiramente e entrega sua vida ao governo de
seu daimon, sob cuja orientao os prprios deuses podem ser suplicados; e deles
procedendo o retorno deve ser feito para a Suprema Manso do Repouso. Mas a
invocao de Algoeides precisa ter precedncia a todas as outras. Caso se julgue
necessrio executar qualquer operao auxiliar antes desta para o Conhecimento e
Conversao do Santo Anjo Guardio, foroso que se trate de um propsito bem
definido. O motivo, espiritual claro, que tal operao constitua um passo preliminar
para a possibilidade e sucesso do ritual principal. Entretanto, nos melhores sistemas de
magia, as evocaes so sempre representadas seguindo-se consecuo maior da
invocao das grandes foras da vida csmica ou o daimon interior, o Santo Anjo
Guardio, embora essa ltima receba primazia, como foi afirmado. A unio com os
deuses e Adonai buscada por meio de amor, e a unio das essncias efetivada pelo
ceder do ego e a renncia espont nea de tudo que mesquinho, pequeno e irrelevante. A
invocao suprema implica, acima de todas as outras coisas, o sacrifcio do apego s
coisas mundanas. Do mesmo modo que algum que, ingressando no interior do dito
celestial deixa atrs de si todas as esttuas do templo externo, ou do mesmo modo que
aqueles que entram no santurio interno do Santo dos Santos purificam a si mesmos,
pondo de lado suas vestes para entrarem nus e no envergonhados, a alma dever
avizinhar-se de sua meta. Na operao de Abramelin, que brevemente descreveremos, o
procedimento a ser seguido bastante similar. Primeiramente o Anjo invocado numa
c mara especialmente consagrada e depois do atingimento o Anjo concede ao mago
instrues especiais e autoridade que dizem respeito evocao dos Quatro Grandes
Prncipes do Mal do Mundo.
O resultado da invocao do Santo Anjo Guardio no idntico para todas as
pessoas. Adonai aparece de vrias maneiras e sob diversas formas, em conformidade com
o indivduo. ªAlm disso...º, afirma tambm J mblico, ª...as ddivas provenientes das
manifestaes no so todas elas iguais, nem produzem o mesmo fruto. Porm a presena
dos deuses, realmente, concede-nos sade do corpo, virtude da alma, pureza do intelecto
e, em uma palavra, eleva tudo em ns ao seu adequado princpio*.º Seja o que for que o
homem prezou durante sua vida e qualquer que tenha sido a concepo de seu Anjo qual
aspirou, assim ser o resultado do casamento mstico. Seus rebentos sero compatveis
com seu amor. Cada estudante, medida que ascender ou ingressar no mstico Monte
Abiegnus dos Rosacrucianos, ver diante de si estirando-se adiante no longnquo
horizonte da santa terra da esperana, exatamente aquele panorama que existia
potencialmente dentro dele antes da viso faz-lo nascer, pois o monte um smbolo
daquele pico da alma quando interiorizada em si mesma aproxima-se de sua raiz divina.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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Ento memria e imaginao so penetradas e inspiradas com o formidvel fulgor de uma
natureza diversa e superior. O que for que estiver embrionrio no interior de Ruach salta
para a vida atravs da ao e fogo de Adonai. Nossa inspirao ser semelhante
aspirao e o tipo de gnio que ser manifestado ao mundo sucedendo-se unio mstica
pode ser potico, artstico, musical ou qualquer outra manifestao reconhecida. Lembro-
me de uma passagem em algum dos Upanishads que aborda esse mesmo tema. Se algum
se aproxima do eu que Brahma acreditando que ele poder e fora, esse algum se
torna poder e fora. Que se aproxime, contudo, dele vendo em sua majestade
conhecimento e sabedoria superiores e, conseqentemente, se torna repleto da sabedoria
do eu. E se aspirar a ele como o criador de uma cano, do mesmo modo se torna o
cantor. Em outras palavras, como o teurgo concebeu ser em imaginao o seu anjo,
precisamente nessa forma o anjo se manifestar, brotando da mais profunda fonte do ser
dentro do corao como revelao e inspirao. Caso haja aspirao para o anjo
exclusivamente como o smbolo do amor, da paz e da bondade, Adonai mostrar ao
mundo esse amvel e benigno aspecto. So Francisco de Assis o exemplo mais
marcante do primeiro caso, como Buda, que aspirou sabedoria que o capacitasse a
descobrir para a espcie humana a soluo de suas infelicidades e dores, o smbolo do
segundo caso. E isto supre a resposta pergunta: ªSe o misticismo e a magia dotam um
homem de gnio, como explicar que tantos msticos e magos bem-sucedidos parecem no
manifestar uma nica centelha de gnio?º porque a aspirao deles foi uma aspirao
humilde. Converter-se numa grande figura na Terra no constitua o desejo deles, nem
tampouco aspiravam a qualquer uma das formas da arte. Fizeram de suas vidas uma
sublime obra de criao artstica e aplicaram suas inspiraes marcha da vida cotidiana,
apresentando-se to-s como homens e mulheres humildes de ar e aspecto gentis. Mas
como o Eremita encapuzado e togado do tar trazem a luz do anjo dentro de si,
secretamente, de maneira que todos com os quais entram em contato dia aps dia possam
ser abenoados com o amor de Adonai e mais impressionados pela santidade do esprito e
a pureza de sua efulgncia do que com sua prpria realizao pessoal. Essa a chave,
pois quando se ora com fervor ao Santo Anjo Guardio, como a aspirao secreta da alma
ter sido, o anjo se apoderar dessa vontade no xtase de ventura que arrebata a alma para
longe a fim de comunicar sua manifestao ao mundo.
* Os Mistrios, Jmblico.
Um dos melhores sistemas tcnicos que conduz comunho com o daimon
exposto num certo livro medieval de magia que, comparado com todos os outros, como
o sol do auge do dia diante de uma dbil luz bruxuleante noite. A maioria dos velhos
engrimanos e livros de magia tais como O Pequeno Alberto, O Drago Vermelho e o
Enchiridion so propositadamente ininteligveis, ambguos, ou mais, parte de todas as
questes de simbolismo oculto, disparate pueril. Aqueles que so honestos e de regra
funcionais, contm sees indesejveis que se adequam mais s aspiraes de um
campons apaixonado e de nativos ignorantes do que s aspiraes de gente educada
animada de propsitos srios. Mas h em relao a todos esses uma extraordinria
exceo. A regra geral rompida pela existncia de O livro da Magia Sagrada de
Abramelin, o Mago*.
* Publicado no Brasil por An bis Editores Ltda., So Paulo, traduo de Norberto de
Paula Lima, Mrcio Pugliesi e Edson Bini. (N. T.)

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Escrito num estilo de exaltao, esse livro perfeitamente coerente e harmonioso;
no requer fantsticas mincias ritualsticas e nem mesmo os clculos costumeiros de dias
e horas. No h nada em absoluto que insulte a inteligncia. Pelo contrrio, a operao
proposta por esse autor de magia constitui a apoteose da simplicidade, o prprio mtodo
estando em inteiro acordo com isto. H, naturalmente, certas prescries e regras
preliminares a serem observadas, mas elas realmente no passam de recomendaes de
bom senso no sentido de acatar a decncia na execuo de uma operao to augusta.
preciso, por exemplo, dispor de uma casa onde medidas adequadas contra distrbios
possam ser tomadas; isso providenciado, restar pouco mais a fazer exceto aspirar com
crescente concentrao e ardor durante seis meses pelo Conhecimento e Conversao do
Santo Anjo Guardio.
O prprio livro um dos mais extraordinrios documentos de magia existentes
atualmente e o sistema que nele ensinado para entrar em comunho com o eu interior,
ou o Santo Anjo Guardio, entre todos os sistemas de magia talvez o mais simples.
Acima de tudo eficaz. O livro composto de trs partes, a primeira contendo conselhos
gerais relativos magia e uma descrio das viagens e experincias do autor, bem como a
indicao de obras maravilhosas que ele fora capaz de realizar por meio da tcnica em
pauta. Segue-se ento uma descrio geral e completa dos mtodos de obteno da crise
esttica da operao e o estilo do livro neste ponto difere de maneira salutar dos
captulos anteriores bem como dos subseqentes. A ltima parte trata dos mtodos de
aplicao dos poderes que so conferidos mediante a consumao da operao. O sistema
descrito por um certo Abrao, o Judeu, ao seu filho mais jovem, Lamech, e ele afirma
em primeira instncia t-lo recebido de um mago egpcio chamado Abramelin. Abrao, o
Judeu, uma figura vaga e sombria, desconhecida e reservada por trs das tremendas
complicaes da sublevao da Europa central nos seus dias, quando aquela parte do
mundo se achava mergulhada num amplo conflito. A histria de Abrao tal como contada
por ele mesmo na primeira parte do livro , na verdade, simples. O que impressiona,
entretanto, a tremenda simplicidade da f desse homem, que tem como testemunho suas
muitas e perigosas viagens por tantos anos atravs de regies inspitas e selvagens, de
difcil acesso mesmo atualmente mediante nossas facilidades de transporte. Nesta parte
do livro so relatados seus fracassos e esperanas frustradas, alm de alguns becos sem
sada pelos quais ele foi conduzido, at o clmax de suas viagens quando conheceu
Abramelin, o mago egpcio, que lhe conferiu as instrues que constituem a principal ou
segunda parte do livro. Em conformidade com os costumes de seu prprio povo, Abrao,
o Judeu, instruiu seu filho primognito na filosofia da Santa Cabala e ao seu filho mais
jovem, Lamech, transmitiu este sistema de magia. Independentemente de sua origem, de
sua data e de sua autoria, que so no presente objeto de polmica e crtica, esta obra no
deixa de ter valor para o aprendiz sincero, seja como um encorajamento para aquela
qualidade sumamente rara e necessria ± f inabalvel, ou como apresentadora de um
conjunto de instrues pelas quais se distingue os sistemas mgicos verdadeiros dos
falsos. Abrao no faz exigncias impossveis como aquelas que so percebidas em
engrimanos fraudulentos, a respeito do sangue de morcego apanhado meia-noite, a
quarta pena da asa esquerda de um galo completamente preto ou o olho recheado de um
basilisco virgem e assim por diante. Embora talvez algumas das exigncias estabelecidas
por Abrao sejam um pouco difceis de serem atendidas, h sempre uma razo excelente

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para apresent-las e no significam absolutamente testes sutis habilidade do operador.
Tivesse S. L. McGregor Mathers nada mais feito em prol da humanidade exceto a
traduo desse livro a partir de um manuscrito em francs, colocando assim seu teor
disposio dos aprendizes interessados, e j mereceria nossa gratido. Devo acrescentar, a
propsito, que sua traduo tima, coerente e capaz de expressar de maneira
harmoniosa o pensamento do escritor medieval. somente porque esse livro de suma
importncia tem estado esgotado por tantos anos, sendo sua obteno to dif cil
atualmente, que eu ouso oferecer aqui um resumo da operao proposta pelo livro.
((ilustr. ± HRUS, O Senhor da Fora e do Fogo))
No in cio Abrao adverte seu filho contra os impostores. Este mago, como muitos
de nossos coevos modernos, era injusto no sentido de considerar qualquer um que no
utilizasse seu prprio sistema um charlato, muito embora seja provvel que em sua
poca houvesse tanta necessidade de rigorosa advertncia contra charlates quanto h
hoje. Ele ento formula a regra segundo a qual a principal coisa a ser considerada ª...se
gozais de boa sade, porque o corpo estando fraco e insalubre est sujeito a variadas
enfermidades, o que acaba por resultar na impacincia e falta de poder para trabalhar e
prosseguir na operao; e um homem enfermo no pode ficar limpo, ou puro, nem gozar
de solido, e em tal caso, melhor desistir.º
O per odo verdadeiro, quer dizer, mais conveniente para o comeo desta operao,
um per odo em que todas as foras da natureza se encontram prop cias ao esforo, o
primeiro dia aps a celebrao da festa da Pscoa, precisamente no per odo do equincio
primaveril. ento que o sol inicia sua viagem rumo ao norte, trazendo consigo luz,
calor, sustento e graa e a totalidade do mundo vivo, plantas, rvores, aves e animais
respondem sua ressurreio ansiosa e jubilosamente. Trata-se assim da estao mais
apropriada para crescimento ascendente e desenvolvimento interior, bem enquadrados ao
crescimento e manifestao do esp rito. O tempo necessrio para que se conduza a
operao a uma concluso bem-sucedida seis meses lunares, de modo que se for
comeada em 22 de maro findaria em torno do equincio outonal em setembro. O
per odo total de seis meses dividido em trs per odos definidos de dois meses cada, cada
um destes sendo caracterizado pelo rigor de auto-negaes, mas principalmente pelo
acrscimo de invocaes adicionais, tornando assim a concentrao no Santo Anjo
Guardio mais intensa e fervorosa.
H muita discusso de in cio quanto natureza do cenrio da operao. Se
poss vel, deve ser realizada no campo, onde se pode obter efetiva solido. Digo ªsolido
efetivaº deliberadamente j que, como todos sabem, poss vel isolar-se no corao de
uma grande cidade do resto do mundo simplesmente pelo recolhimento. A solido que
este livro sugere um retiro f sico da vida fervilhante da cidade, mencionando-se que
Abrao, Moiss, Davi, Elias, Joo e outros homens santos se retiraram para locais ermos
at terem adquirido esta cincia santa e a magia. O melhor local, sugere Abrao, ª...onde
houver um bosque, no meio dele fareis um pequeno Altar, e cobrireis o mesmo com uma
cabana (ou teto) de pequenos galhos, de modo que a chuva no possa cair nele e extinguir
a Lmpada e o Tur buloº. Se o recurso a um sossegado bosque for imposs vel, outras
sugestes so apresentadas. Todas as obras de magia insistem que muito cuidado e
discernimento devem atender escolha de um local apropriado para se proceder a essas
operaes. Alm das instrues acima expostas, o mago dever certificar-se de que o

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teatro de magia que escolheu no est situado num lugar onde feitiaria, por exemplo, foi
praticada e que no foi empregado para sesses espritas. Deve ser absolutamente bvio
que como um dos resultados da magia tornar a constituio do mago mais sensvel, ele
no deve colocar-se numa posio na qual essa sensibilidade possa ser invadida por
influncias perturbadoras e hostis. Muitssimos indivduos inteiramente comuns so
suscetveis a atmosferas, e para o mago, em particular, o local de trabalho deve
certamente estar livre de qualquer contato deletrio, de sorte que a esfera sensvel da
conscincia no possa ser indevidamente afetada. Abrao menciona o tipo de casa
necessria se o trabalho tiver que ser realizado numa pequena cidade ou povoado, dando-
se nfase construo do Oratrio, que deve ser a c mara realmente importante
porquanto deve servir como templo mgico. Deste oratrio uma janela tem que abrir para
um balco aberto ou um Terrao, como chamado, cujo piso deve ser coberto com uma
camada de areia fina de rio. Ora, uma das coisas que mais, talvez, do que qualquer outro
item dos acessrios impressiona o principiante que l o livro de Abramelin o fato de no
se fazer a nenhuma meno a um crculo mgico de proteo para o lugar de realizao
das invocaes, a despeito de se fazer referncias e descries em termos claros de muitos
demnios e espritos malignos provavelmente danosos ao operador. Assim porque nesta
particular disposio da obra, o autor procura reduzir a totalidade da cerimnia a
princpios fundamentais com o mnimo possvel de dispositivos, e se supe que o terrao
substitua o tringulo no qual os espritos apareceriam aps a Conversao com Adonai.
Tanto o dormitrio quanto o oratrio, sendo consagrados durante um longo perodo de
tempo mediante contnuas oraes, invocaes e fumigaes ascendentes,
desempenhariam a mesma funo de um crculo, estabelecendo um natural obstculo
astral em torno dos limites do oratrio atravs de cuja santidade e segurana nenhum
demnio poderia penetrar. por esta razo que se dispensa qualquer crculo simblico
visvel, porquanto o efeito das contnuas invocaes ter exaltado tanto a constituio do
operador e elevado tanto a vibrao das molculas em seus vrios veculos que a inteira
esfera astral e espiritual ser purificada a um ponto que, como anteriormente sugerido,
servir em si mesma seguramente como o crculo mgico real.
Que se mencione aqui para o benefcio dos aprendizes do presente que possam
cogitar em se devotarem a esta Operao da Magia Sagrada que essas regras no
precisam ser escrupulosamente acatadas desde que sua essncia e esprito sejam acatados.
Com apenas um pouco de engenhosidade ser possvel estabelecer um novo conjunto
completo de circunst ncias externas favorveis execuo satisfatria desta concepo da
Grande Obra. preciso que seja compreendido com clareza, contudo, que uma vez
concebido e adotado esse conjunto de regras, embora claramente entendido como
arbitrrio, elas devero ser estritamente seguidas. Em seu poema mgico Aha, Aleister
Crowley apresenta uma bela verso de uma possvel variante do cenrio da operao:
ª . . . Escolhe com ternura
Um stio para a academia tua.
Que um santo bosque haja
De solido enramada
Junto do rio tranqüilo, sem chuva,
Sob as entrelaadas razes
De rvores majestosas que tremulam

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Nos ares sossegados; onde os brotos
Da grama delicada so verdes,
Musgo e samambaias adormecidos entre si,
Lrios na gua sobrepostos,
Raios de sol nos ramos presos
– Entardecer sem vento e eterno!
Todas as aves do cu silenciadas
Pela baixa e insistente chamada
Da continua queda d’gua.
A, para um tal cenrio s
Sua gema esculpida de divindade,
Um fogo central sem defeito, subjugado
Como a Verdade no interior de uma esmeralda.º
Dentro da loja ou oratrio consagrados deveria haver um altar construdo como
um armrio, acima do qual, suspensa do teto uma lmpada com azeite de oliva deve
queimar. Deve ser mantido sobre o altar um turbulo de lato, no devendo este nunca ser
removido do oratrio durante todo o perodo de seis meses da operao. necessrio um
manto de seda carmesim guarnecido em ouro que chegue aos joelhos; mencionada
tambm uma outra tnica de linho branco. ªQuanto a estas roupas, no h regras
particulares para elas; nem nenhuma instruo especial a ser seguida; mas quanto mais
resplandecentes, limpas e brilhantes forem, tanto melhor ser.º ªTambm tereis uma Vara
de amendoeira, lisa e reta, do comprimento de cerca de meio covado a seis ps.º No que
se refere preparao de todas essas coisas, os princpios formulados em captulos
anteriores se aplicam igualmente, mesmo considerando-se que nenhuma meno deles
seja feita por nosso autor.
Durante o primeiro perodo de dois meses aconselha-se o operador a levantar-se
toda manh precisamente um quarto de hora antes do nascer do sol, entrar no oratrio
depois de ter se lavado e se vestido com roupa branca, abrir a janela e, ajoelhando no
altar que d para a janela que comunica ao balco invocar os nomes de Deus com
vontade e mente dilatadas. ª...e confessar-Lhe inteiramente todos os vossos pecadosº.
Esta ltima prescrio, naturalmente, simplesmente para produzir a tranqilidade
mental e emocional necessrias inspirao e iluminao do anjo. dificilmente
necessrio estender-se sobre o fato de que aquele que permanece continuamente
incomodado por uma conscincia revoltada ou pela memria de uma antiga m conduta
est deste modo impedido da tranqila concentrao mental; tampouco sero suas
invocaes intensas e unidirecionadas. Uma tal pessoa seria devidamente aconselhada a
abster-se completamente at mesmo da contemplao de uma operao mgica desse tipo
pois ela estaria fadada a resultar no s no fracasso da invocao ao anjo, como tambm
em desastres do gnero mais catastrfico. Os poderes que esto presentes na operao de
Abramelin so de pouco uso para os intrometidos. Conquistadas a tranqilidade e a
serenidade, o mago deve suplicar ao Senhor do Universo ªque, chegando o tempo, possa
Ele ter piedade de vs e conceder-vos Sua graa e a bondade de vos enviar Seu Santo
Anjo, que vos servir de Guia...º
No h necessidade de enfatizar muito, suponho, que Abrao era de f judaica, e
conseqentemente afeito predominante ± isto , medieval ± concepo judaica do

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monotesmo pessoal. O tom teolgico dado a esta magia pelo adepto hebreu e que deve
ter sido acrescido por ele aps t-la recebido de Abramelin pode, portanto, ser
tranqilamente ignorado pelo leitor se este assim o desejar, j que no desempenha papel
algum na verdadeira significao da operao. Cada aprendiz pode adaptar
inteligentemente o carter das prescries de Abrao a respeito desse ponto teoria
mgica do universo aqui formulada num captulo anterior, ou s suas prprias crenas
religiosas particulares. necessrio, todavia, que eu frise que o dogma e a f religiosa
esotrica no ocupa lugar algum no interior do santurio da magia. preciso que o leitor
se convena que a magia depende de princpios experimentais rgidos to confiveis e to
exatos como os de qualquer cincia.
Antes de iniciar a operao, seria bom para o mago que formulasse um juramento
de que executar essa magia sagrada e que o registrasse claramente por escrito. A vontade
e a determinao de ter xito precisa ser expressa mediante palavras, e essas palavras por
aes, pois durante a Negra Noite da Alma, quando o olho espiritual estiver fechado e
todo discernimento tiver se afastado, quando o aclito debilitado pela tentao e pela
aflio da mente, ser apenas sendo fiel letra do juramento que o mago poder esperar
conduzir essa operao a um clmax satisfatrio. A direta expresso da vontade, em
todos os casos, o discurso, e o registro de uma determinao de vontade num juramento
escrito est de acordo com os fundamentos da filosofia mgica.
No exerccio de orao acima o ponto importante a ser observado, como o prprio
Abrao faz notar a seu filho nas palavras que se seguem, ªTambm de nada serve falar
sem devoo, sem ateno, e sem inteligncia; ...Mas absolutamente necessrio que
vossa orao saia de dentro de vosso corao, porque simplesmente estabelecendo
oraes escritas, sua audio de modo algum vos explicar como rezar realmente. ªMais
adiante, analogamente, ele aconselha seu filho Lamech: ªInflamai-vos com orao.º
Quanto a esta prescrio, necessrio que nos estendamos um pouco, j que o sucesso ou
o malogro na arte da invocao depender inteiramente do fato de essa recomendao ser
acatada ou no. Efetuar uma srie de invocaes diversas vezes ao dia durante um
perodo de seis meses, repetindo a mesma invocao, confisso e orao durante o
primeiro perodo duas vezes por dia realmente uma tarefa diante da qual o operador que
no for confirmado por hbito nesta senda da luz pode bem falhar. Detenha-se, leitor, e
reflita sobre o que isso implica! Uma simples amostra de trabalho mgico que se mantm
num perodo to longo realmente umas das tarefas mais rduas e tediosas que se pode
conceber. Somente aquele que com persistncia for capaz de ser fiel letra de seu
juramento assumido antecipadamente pode ter a expectativa do xito. E no entanto, essas
invocaes no devem ser recitadas de maneira montona e rdua, ou num tom de voz
que indique tdio, sem fervor, sinceridade ou devoo. Sem a presena destas qualidades
na invocao, um vulgar grito de feira seria to til quanto e teria mais ou menos tanto
efeito como qualquer outro. Toda faculdade do mago deve participar do trabalho de
invocao. Todo poder da alma deve ser exercido, todo grama de sinceridade, entusiasmo
e regozijo espiritual deve ser empregado na sustentao das invocaes que devem brotar
do prprio corao e alma do ser do mago.
Durante esse primeiro perodo outras prescries so indicadas que tm de ser
escrupulosamente seguidas segundo o autor. Algumas delas podem parecer um tanto
triviais ou ate ridculas, mas o julgamento final deve ficar a critrio de cada leitor. Eu

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apenas as menciono pelo cuidado de me ater ao completo. Tanto o dormitrio quanto o
oratrio mgico devem ser conservados num estado de limpeza e ordem absolutas, toda a
ateno do teurgo sendo prestada ªpureza de todas as coisasº. Todo os sbados os
lenis do leito tm que ser substitudos e a cmara totalmente perfumada e incensada,
impregnando assim mesmo esse quarto de uma carga de santidade e expandindo os
limites do crculo. Os ingredientes apontados para o incenso so um composto de
olbano, estoraque e alos, todos reduzidos a um p fino e bem misturados*. Abrao, o
Judeu incisivo, ademais, quanto a afirmar que no se deve permitir que nenhum animal
se aproxime ou tenha acesso casa na qual a operao est sendo levada a efeito. Deve
imperar a mais absoluta solido que seja humanamente possvel. ªSe sois vosso prprio
senhor, tanto quanto estiver em vosso poder, libertai-vos de todos os negcios, e deixar
toda companhia v e mundana, e conversao, levando uma vida tranq ila, solitria e
honesta... Sede sbrio ao tratar de negcios, vendendo ou comprando, sendo preciso que
nunca vos enfureceis, mas sede modesto e paciente em vossas aes.º Essas so normas
de bom senso que ningum, eu presumo, criticaria. Uma outra sugesto expressa que as
Escrituras Sagradas podem ser lidas e ser objeto de meditao durante duas horas por
dia, este tempo devendo ser especialmente programado e reservado para essa finalidade
aps o jantar, no se permitindo que nenhuma outra atividade interfira ou tenha
precedncia. Quase qualquer outro livro religioso serviria caso o aprendizno esteja
predisposto ao estudo da Bblia, particularmente um desses livros que tenha causado
profunda impresso em sua mente e que tenha servido de algum modo para despertar os
sentimentos superiores e estimular o amor e as emoes nobres. Essa meditao
produzir tambm pistas que auxiliaro na composio dos rituais supremos.
* As propores necessrias mistura so quatro partes de olbano, duas partes de
estoraque e uma parte de alos.
No que diz respeito aos hbitos da vida, Abrao sugere moderao em todas as
coisas, o comer, beber e dormir no devendo ser nem excessivos nem demasiadamente
modestos. Nenhuma das coisas nas quais o mago estar envolvido deve, por menos que
seja, conter algo de suprfluo. Quanto ao assunto que para a maioria dos aprendizes de
magia e misticismo cercado por um vu de obscuridade, aconselha, guisa de
acrscimo prescrio de moderao que ªPodeis dormir com vossa esposa na cama
quando ela estiver pura e limpa;...º e nunca em caso contrrio. A nica questo a afetar o
celibato simplesmente a da conservao da energia, e nada mais. Visto que todas as
foras do indivduo esto sendo transformadas pela operao e dirigidas a uma nobre
finalidade espiritual, qualquer desperdcio ou escoamento de fora que to importante
em matrias afastadas daquela finalidade so assim grosseiramente imorais no sentido de
que apresentam algo de loucura e autodestruio. Durante a operao, poucas pessoas
devero estar na casa com ele, ª Quanto ao que se refere famlia, quanto menos
numerosa, melhor; tambm fazei de modo que os servos sejam modestos e tranq ilos.º A
caridade sugerida e tambm o recato com respeito s roupas e o modo de vestir; toda
vaidade deve ser severamente banida.
Isso o suficiente para o primeiro perodo. As tarefas nestes dois meses so
relativamente fceis, indicando to-s uma simples vida meditativa, em relao qual se
insiste no repouso e tranq ilidade. Duas vezes ao dia, ao nascer e pr-do-sol, quando
certas foras ocultas na natureza esto em sua ascendncia e no mximo de sua pureza, as

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invocaes devero ser realizadas; cumpre que o resto do dia seja passado no
aperfeioamento variado da concentrao da mente fervorosamente dirigindo-se ao ª...
Santo Anjo que vos servir de Guia...º A programao proposta por Abrao pode
facilmente ser suplementada por outros itens de magia, em conformidade com a aspirao
principal, o que pode ser sugerido pela engenhosidade do indivduo. Durante este perodo,
o mago deve devotar todas as faculdades que adquiriu atravs da ateno que dedicou a
outras fases da tcnica ao fortalecimento da aspirao principal. Os rituais de banimento
podem ser usados proveitosamente e a ascenso aos planos pode se revelar um auxiliar
extremamente til s invocaes. A repetio contnua de um mantra sagrado, compatvel
com a concepo do mago da natureza de seu Anjo, se revelar de grande ajuda para
manter a concentrao da mente unidirecionada.
Com a chegada do segundo perodo precisamente o mesmo procedimento
seguido exceto pelo fato de o operador ser exortado a tornar suas invocaes mais
intensas e gneas, e ªDeveis prolongar vossas oraes o mximo que vossa capacidade
permitirº. As invocaes devem prosseguir de manh e no anoitecer como nos dois meses
anteriores, mas ª...antes de entrardes no Oratrio deveis lavar vossas mos e face
completamente com gua pura. E deveis prolongar vossa orao com a maior afeio
possvel, devoo, e submisso, humildemente implorando ao Senhor Deus que se digne a
ordenar a Seus Santos Anjos que vos levem pelo Verdadeiro Caminho...º fcil perceber
a idia psicolgica que Abrao gradualmente formula. As invocaes ao Santo Anjo
Guardio devem ser feitas mais freqentes, ardentes e imperiosas de sorte que quando
pelo fim do perodo de seis meses dado ao teurgo o conselho de inflamar-se com a
invocao, prtica anterior o far voar como uma flecha impelida por um arco rumo
glria do anjo e no se experimentar qualquer dificuldade para despertar o entusiasmo e
devoo requeridos que levaro a efeito a unio mstica.
Outras prescries a serem observadas no segundo perodo podem ser resumidas
com brevidade como se segue. ªO uso dos direitos do matrimnio, mas, se este uso for
feito, dever s-lo o mnimo possvel.º ªDeveis tambm lavar todo vosso corpo toda
vspera de Sabbath.º ªQuanto ao que tange o comrcio e modo de viver, j dei instruo
bastanteº, mas agora ª... absolutamente necessrio retirar-se do mundo e procurar
isolamento...º As observaes antes feitas no que se refere a comer, beber e se vestir
continuam aplicveis.
Quando o segundo perodo se encerra e com ele o quarto ms de invocao
contnua, a mente do operador dever estar gradualmente se contraindo para um nico
ponto em funo desses modos de vida serenos e calmos e do fervor crescente que deve
introduzir em suas invocaes, que ocupam agora perodos mais largos de tempo. Nessa
ocasio, igualmente, ele ter entrado naquele estado de secura do qual msticos de todos
os tempos falaram, aquele horrvel estado psicolgico no qual todos os poderes da alma
parecem mortos a viso da mente se fecha num protesto mudo, por assim dizer, contra a
disciplina cruel do juramento. Mil e uma sedues tendero a desviar o operador da
contemplao da finalidade que escolheu, e mil e um meios de quebrar o juramento em
esprito sem quebr-lo na letra sero apresentados. E parecer que a prpria mente ir
ficar fora de si, advertindo o teurgo que seria melhor para ele omitir, por exemplo, um
perodo devotado invocao e fazer algo mais, profano e prazeroso. Constantemente
procurar amedront-lo com temores desordenados relativos sade do corpo e da mente.

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Contra todas estas insanidades ± fatais se ele sucumbir a uma nica tentao ± h somente
um remdio, a saber, a disciplina do juramento feito no incio, prosseguir no labor de
invocar durante seis meses o Santo Anjo Guardio. Tudo o que se tem a fazer proceder
s cerimnias e invocaes, agora temporariamente destitudas de sentido e horrendas,
visto que a viso espiritual est negra e o olho interior fechado. Pode ser que com o
terceiro e ltimo perodo essa Noite Negra da Alma passe lenta e imperceptivelmente, e
ento surgir a suave grandeza rosa e cravo da aurora a ser sucedida pela brilhante luz
diurna do Conhecimento e Conversao, com a Viso Beatfica e o perfume to doce e
confortador aos sentidos e alma do Santo Anjo Guardio.
Com a chegada dos ltimos dois meses, aconselha-se que o homem que seu
pr prio senhor deixe todos os seus neg cios de lado, exceo, talvez, de obras de
caridade para com seus pr ximos. Contudo, dever-se- tomar cuidado mesmo em
manifestar uma virtude to elevada quanto esta pois a concentrao e a aspirao ao mais
elevado no devem ser interrompidas. ªAfastai-vos de toda sociedade, salvo a de vossa
Esposa e Servos... Toda vspera de Sabbath deveis jejuar, e lavar todo vosso corpo, e
trocar vossas roupas.º Estas regras concernem ao modo de vida e conduta. Mas as
instrues que se referem ao aspecto mgico da operao so as seguintes: ªManh e
noite deveis lavar vossas mos e face ao entrar (quer dizer, antes, claro) no Orat rio; e
primeiramente deveis confessar todos os vossos pecados; depois disto, com mui ardente
orao, deveis implorar ao Senhor que vos conceda esta particular graa, que poderdes
desfrutar e resistir presena e conversao de Seus Santos Anjos, e que Ele possa
dignar-se por intermdio deles conceder-vos a Secreta Sabedoria, de modo que possais ter
o domnio sobre os Espritos e todas as criaturas.º
Este o procedimento recomendado para os dois ltimos meses, tempo em que a
maior parte do dia ser passada, como orientam tambm os Orculos Caldeus,
ªInvocando com freqnciaº, concentrando todos os poderes da mente, do corpo e da
alma em conjunto, focalizando-os por meio de invocao de maneira que por meio disso
o anjo possa aparecer e alar o teurgo sua vida mais grandiosa e mais ampla. Concludo
o terceiro perodo de trs meses em 21 de setembro, o mago dever levantar-se na manh
seguinte muito cedo, ª...nem vos lavareis nem vos vestireis com vossas roupas comuns,
mas tomareis uma roupa de luto; entrareis no Orat rio de ps nus; ireis para o lado o
incens rio*, e tendo aberto as janelas, retornareis porta. Ali vos prostrareis com vossa
face contra o cho e ordenareis criana (que usada neste sistema como assistente e
clarividente, mas desnecessria, acho, nessa ltima funo se a operao tiver sido
cuidadosamente desenvolvida) que coloque o perfume no turbulo, ap s o que se dever
pr de joelhos diante do Altar; seguindo em tudo e minuciosamente as instrues que
dei... Humilhai-vos perante Deus e Sua Corte Celestial e comeai vossa Orao com
fervor, pois ento comeareis a vos inflamar na orao, e vereis aparecer um
extraordinrio e sobrenatural esplendor, que encher todo o apartamento, e vos circundar
com um cheiro inexprimvel, e apenas isto vos consolar e confortar o corao, de modo
que clamareis para sempre, feliz, pelo Dia do Senhor.º
* Embora o autor nem sempre faa citaes integrais, omitindo certos trechos e
advertindo o leitor desta descontinuidade mediante as reticncias (... ), aqui no h estas
reticncias, motivo pelo qual reproduzimos o trecho omitido: ªtomareis as cinzas dele e

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as colocareis sobre vossa cabea; acendereis a Lmpada; e poreis os carves quentes no
incensrioº. (N. T.)
Abrao, homem sbio e mago que era, no sobrecarrega a si mesmo, se perceber,
nem a mente de seu filho, ao qual essa tcnica mgica transmitida, com qualquer
sofisma intelectual ou qualquer investigao metafsica a respeito da natureza do anjo.
No h nenhuma discusso quanto a este ltimo possuir uma exist ncia objetiva, isto ,
independente, ou se ele subjetivamente inerente estrutura psicolgica do teurgo. Ele
mesmo, tendo passado por este treinamento e alcanado sua realizao na Viso e no
Perfume, bem conhecia a falcia da depend ncia intelectual. E pode-se presumi-lo
porque ele escolheu de prefer ncia a todas as outras expresses as prprias palavras
ªSanto Anjo Guardioº, que so to palpavelmente absurdas de um ponto de vista
racional a ponto de nenhuma pessoa sensata ousar especular acerca delas. Assim a
depend ncia intelectual e a voragem do erro so evitados. Quanto maior for a fora e o
entusiasmo desse ato de f numa entidade irracionalmente nomeada e concebida, mais
eficaz ser a crise da conjurao.
Durante sete dias, em seguida, aconselha Abrao, o operador executar as
cerimnias sem falhar na execuo correta de nenhuma delas de modo algum. No dia da
consagrao, o Santo Anjo Guardio ter aparecido ao teurgo e proporcionado graa e
esplendor a sua alma, sustento ao seu esprito e ter inundado toda a esfera da sua mente
com uma iluminao que tudo abarca, que no h palavras que possam adequadamente
descrever. Ento seguir-se-, segundo prescrio do anjo, uma convocao de trs dias na
qual os espritos bons e santos sero conjurados apar ncia visvel no terrao e
introduzidos ao domnio da vontade renovada do mago; os tr s dias sucessivos sero
dedicados evocao dos maus espritos. No segundo dia, orienta Abrao, ªdevereis
seguir os conselhos que vosso Santo Anjo Guardio vos ter dado e no terceiro renders
gratidoº. ªE ento pela primeira vez estareis capacitado a pr prova se bem
empregastes o perodo das Seis Luas, e quo bem e dignamente trabalhastes na busca da
Sabedoria do Senhor; pois vereis vosso Anjo Guardio vos aparecer em inigualvel
beleza; que tambm convosco conversar, e falar com palavras to cheias de afeto
bondade, e com tal doura que nenhuma lngua humana poderia express-las... Numa
palavra, sereis por ele recebido com tamanha afeio que esta descrio que aqui dou
dever nada parecer em comparao... Aqui neste ponto, comeo a restringir-me em meu
escrever, haja visto que pela Graa do Senhor submeti-vos e consignei a um MESTRE to
grande que nunca vos deixar em erro.º
Continuando diretamente com a descrio em versos do cenrio da operao
mgica anteriormente citada, e trabalhando-se com esmero as observaes de nosso autor
de magia, Crowley prossegue:
ª Tu ters uma barca de btula
Sobre o rio nas trevas;
E à meia-noite irs
À corrente mais suave do meio do rio,
E tocars uma campainha dourada
A chamada do esprito; ento diz as palavras de encantamento:
‘Anjo, meu Anjo, aproxima-te!’
Fazendo o Sinal de Maestria

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 123 -
Com basto de lpis-lazli.
Ento, pode ser, atravs da encoberta
Noite silenciosa vers teu anjo surgir,
Ouve o dbil sussurro de suas asas,
Contempla as doze pedras dos doze reis!
Sua fronte ser coroada
Com a dbil luz das estrelas, onde
O Olho vislumbra dominante e agudo.
E por este motivo tu desfaleces; e teu amor
Captar a voz sutil disso.
Ele informar seu amante feliz;
Minha tola tagarelice estar terminada! . . .
Mente abertamente, uma taa camalenica,
E O deixa sugar teu mel! ª
Assim finda a mais importante parte do sistema advogado por Abramelin, o mago,
que pode ter sido seguramente um dos maiores mestres de magia do Ocidente. Com
perfeita lucidez e suave simplicidade de concepo espiritual, com clareza na expresso e
na instruo e sem sobrecarga da mente com mincias e elementos secundrios, com
smbolos de pureza e de limpeza, Abrao, o Judeu, conduz o teurgo gradualmente, passo
a passo, em ascenso pela maravilhosa escada que a rvore da Vida que cresce para a
terra a partir do Ancio dos Dias, rumo ao Mestre Inefvel. Ele o Augoeides, Adonai, o
Eu superior, o Santo Anjo Guardio, chame-se-o como quiser. E a iluminao e glria
espiritual que o Anjo traz to auspiciosa e santa e uma viso to terrvel que no devoto
induzido um arrebatamento, uma adorao, um transporte de xtase que ultrapassa
qualquer concepo e discurso humano. Nenhum santo ou poeta ainda foi capaz de
sugerir mais do que um eco fugidio dessa incomparvel experincia. Esta consecuo
marca o comeo da carreira do Adeptado, e s ento, quando a alma tendo sido erguida
em excelsitude e visto coisas que no lcito revelar, que a verdadeira natureza da vida
pode ser percebida. Infiltrado por uma riqueza de sabedoria, ventura e clareza da viso
interior, poder ento o mundo ser apreciado pelo que ele . At aqui os olhos da alma
estavam cerrados, e cegos, amedrontados, e ignorantemente calados, o indivduo se
achava num redemoinho na roda continuamente mvel da vida e da dor. Mediante o
atingimento do esplendor anglico, o centro da conscincia tendo sido para sempre
exaltado alm do ego emprico, um dilvio de xtase produz a compreenso de que
apenas o Anjo que e sempre foi o Ego, o Eu real jamais conhecido antes. No mais o
Anjo o entesourar como as muralhas longnquas do abismo estrelado, mas sim Ele
queimar ardentemente no cerne do homem, vertendo atravs dos canais dos sentidos
deste uma torrente interminvel de glria e deleite resplandecentes. Os portais da mente
so destravados e oscilam sobre suas dobradias, e o domnio celestial ao qual o Anjo
introduz a alma abundante e estaticamente descerrado.
H um belo poema de autoria do poeta irlands A. E. em que o tema uma
conversao entre a criana terrestre das trevas e o santo Anjo da Luz. O primeiro diz:
ªEu te conheo, glria,
Teus olhos e tua fronte
De fogo alvo todo grisalho,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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Retorna a mim agora.
Juntos viajamos
Em eras passadas,
Nossos pensamentos à medida que pondervamos
Eram estrelas na alvorada.
Minha glria declinou;
Meu azul celeste e ouro;
E no entanto tu permaneces aceso
O fogo-sol de outrora.
Meus passos esto presos à
Urze e à pedra...º
O Anjo responde mediante palavras particularmente significativas ao aprendiz de
magia, rogando ao eu sombrio que ceda orientao do pastor celestial:
ªPor que tremer e prantear agora,
Quem as estrelas uma vez obedeceram?
Avana para o profundo agora
E no tem medo...
Um diamante arde
Nas profundezas do S,
Teu esprito retornando
Pode reivindicar seu trono.
Em ilhas orladas de chamas
Suas dores cessaro,
Absortas no silncio
E debeladas na paz.
Vem e repousa tua pobre cabea sobre
Meu corao onde ela incandescer
Com o vermelho-rubi do amor sobre
Teu corao por seus infortnios.
Meu poder eu cedo,
A ti ele devido,
Avana pois o esplendor
Espera por ti!

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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CAPTULO XIII
A unio com o Santo Anjo Guardio efetuada e a alma tendo sido assimilada
essncia interior do esplendor e glria do Anjo, o mago procede com o sistema de
Abramelin evocao dos espritos e demnios com o intento de subjug-los, e
conseq entemente com eles a totalidade da natureza, ao domnio de sua vontade
transcendental. Pode parecer primeira vista que tal parte se seguindo exaltao da
parte precedente do livro constitui um declnio a partir da sublimidade, estando, ademais,
na natureza de um anticlmax. difcil negar que o xtase e a elevada irrepreensibilidade
espiritual do livro sejam um pouco maculados pelo acrscimo dessas coisas marcante
dignidade da Operao de Abramelin. Aleister Crowley se empenhou numa
oportunidade em fornecer uma adequada explicao racional para isso. ªHº ele
argumenta, ª...uma razo. Qualquer um que d ensinamento de um novo mundo tem que
se conformar com todas as condies dele. verdade, est claro, que a hierarquia do mal
se afigura um tanto repugnante cincia. , com efeito, muito difcil esclarecer o que
queremos dizer dizendo que invocamos Paimon, mas, se pensarmos com um pouco mais
de profundidade, veremos que o mesmo se aplica ao Sr. Smith ao lado. Desconhecemos
quem o Sr. Smith ou qual o seu lugar na natureza ou como responder por ele. No
podemos sequer estar seguros de que ele existe. E, todavia, na prtica, ns chamamos
Smith por este nome e ele atende. Atravs dos meios apropriados, somos capazes de
induzi-lo a fazer para ns aquelas coisas que se coadunam com sua natureza e poderes. A
questo toda , portanto, a questo da prtica, e se nos basearmos neste padro,
descobriremos que no h nenhuma razo em particular para nos desentendermos com a
nomenclatura convencional.º
O mtodo proposto por Abramelin para convocar os Quatro Prncipes do Mal do
Mundo constitudo por quadrados mgicos contendo, em certas formaes, vrias letras
e vrios nomes. Estes quadrados quando carregados e energizados pela vontade mgica,
estabelecem uma tenso magntica ou eltrica na luz astral qual certos seres que se
harmonizam com essa tenso reagem executando atos ordenados pelo mago.
Independentemente da evocao dos demnios no terrao h quadrados desenhados e
descritos por Abrao para a realizao de quase todos os desejos que poderiam ocorrer ao
um ser humano. No pretendemos descrever aqui este captulo final* do livro de
Abramelin que contm os quadrados e frmulas prticas de evocao, porquanto este
ltimo constitui o ramo menos importante desse sistema. Em todo caso, este assunto em
particular vincula-se a outros textos mgicos que eu desejaria descrever com brevidade.
Permitiu-se infelizmente que estes trabalhos, como A Magia Sagrada de Abramelin,
ficassem esgotados e no fossem mais publicados, sendo para todos os efeitos
praticamente impossveis de serem obtidos salvo por aqueles que tm acesso a um museu
ou uma grande biblioteca. Tenciono abord-los aqui porque dizem respeito quele ramo
da magia que colocado em oposio invocao e se refere evocao e ao controle
dos espritos planetrios e seres anglicos. Desejo advertir o leitor, contudo, chamando
sua ateno para o fato de que o procedimento exposto por Abramelin o melhor.
Primeiramente deve haver o Conhecimento e Conversao do Santo Anjo Guardio e
ento as evocaes. E s menciono esta ltima coisa para que o leitor fique ciente da
frmula inteira embora no pretenda reproduzir muitas das instrues prticas. Os livros
aos quais me refiro so A Chave de Salomo, o Rei, A Gocia ou Pequena Chave de

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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Salomo, o Rei e O Livro do Anjo Ratziel. Esta ltima obra infelizmente nunca foi
traduzida do hebraico para o ingls. Est claro, o rei Salomo, modelo atravs das eras da
mais elevada erudio e sabedoria, foi naturalmente a figura a quem os autores
desconhecidos desses trabalhos atriburam suas prprias composies a fim de que
pudessem causar mais impresso e ter maior credibilidade. No que essa fraude palpvel
faa a menor diferena pois se o sistema for funcional ento Salomo ser uma figura to
boa ou to ruim para se atribuir discursos e instrues mgicos quanto, por exemplo, um
hipottico ser inexistente como Yossel ben Mordecai. Ademais, omitir seu prprio nome
e dar o crdito a algum outro indivduo pelo prprio trabalho encerra uma certa
abnegao do ego. Os livros em si e o sistema mgico neles contido constituem a matria
de interesse; a autoria nestes casos no tem a menor import ncia.
* No se trata do captulo final, mas sim de toda a parte final, ou mais exatamente do
terceiro livro, que a parte final de O Livro da Magia Sagrada de Abramelin, o Mago.
(N. T.)
A necessidade dos ritos de evocao realmente extremamente simples. A
despeito do objeto supremo da magia ser o conhecimento do eu superior e embora para a
vontade qualquer coisa alm deste objetivo supremo ser magia negra, s vezes
necessrio redispor tanto os materiais quanto o cenrio das operaes, bem como fazer
preparaes para o aprimoramento do Ruach a ser oferecido em sacrifcio ao amado. Para
diferentes indivduos em diferentes ocasies essas preparaes devem naturalmente
variar. Considerando-se que o Ruach precisa ser renunciado e imolado na pedra sacrificial
do altar como uma oferta ao Altssimo, e considerando-se que denota uma certa
mediocridade e puerilidade de devoo sacrificar uma vtima maculada, poder ser
necessrio para alguns teurgos envolver-se com todas as espcies de prticas para o
atingimento de finalidades que para outros possam ser completamente desnecessrias.
Por exemplo, um aprendiz pode se achar embaraado com uma m lembrana que pode
obstruir a sagrada recordao da viso e do perfume; possvel que um outro seja
incapaz de reagir a certos estmulos emocionais, e um terceiro possa se achar sob o fardo
de uma perspectiva estultificada da vida, cuja pobreza se ope inteiramente intensa
generosidade e fecunda liberalidade que so inerentes natureza. A tarefa mgica
imediata em tais casos aperfeioar o veculo imediato atravs do qual o Santo Anjo
Guardio deve se manifestar. em vo que so vertidos o elixir da vida e o vinho
ambrosial num recipiente quebrado ou sujo e preciso procurar um remdio adequado
para essas deficincias. Em ltima inst ncia, quando ocorre a rendio final do Ego no
casamento mstico com o amado, e o Ego imolado no altar, nenhum complexo disforme
macular o arrebatamento do xtase espiritual da unio, nem ser a vtima sacrificial
deficiente em qualquer coisa que seja agradvel aos deuses, ou carente de qualquer
faculdade que se revele uma vantagem para o crescimento ou a vida suplementar da flor
dourada no interior de sua alma. Assim pode-se julgar imperativo adiar por enquanto a
Operao do Santo Anjo Guardio a fim de suprir instruo conveniente para a Noiva em
suas obrigaes para com o Filho do Rei; devotar-se no comeo no magia da luz mas
s evocaes da gocia. Vrias partes da mente e da alma podem ser to falhas a ponto de
exigir um esforo mgico especial para seu estmulo e reparo, quer dizer, quando mtodos
seculares ordinrios se revelaram ineficazes. Em tais casos permissvel e legtimo
dedicar-se preliminarmente aos ritos de evocao, de modo que por intermdio de seus

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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recursos toda faculdade do indivduo possa reassumir o funcionamento pleno e normal.
Pode ser necessrio evocar algumas das entidades, por exemplo, elencadas entre as
Setenta e duas Hierarquias de A Pequena Chave de Salomo, o Rei visando intensificar
as faculdades emocionais, beneficiar a lgica, a razo, a memria e algum outro
departamento do pensamento e da mente. Assim, quando a gocia instrui que o esprito
chamado ªForasº ensina ªas artes da lgica e da ticaº significa que atravs do estmulo
de um certo aspecto da mente resultante de um tipo particular de operao mgica as
faculdades mgicas so melhoradas e estimuladas.
Gostaria de chamar a ateno para uma hiptese mgica que legitima o uso
contnuo da evocao de seres anglicos e planetrios antecedendo ao Conhecimento e
Conversao do Santo Anjo Guardio. Ela defende que a busca das artes da evocao
pode ser com a finalidade de preencher as lacunas da escada pela qual a alma pode
ascender s alturas do cu. por meio deste mtodo que o teurgo adquire uma slida base
quadrangular para sua pirmide de realizao. in til, argumentam os proponentes deste
sistema, contemplar um edifcio to exaltado como o pice de uma pirmide elevando-se
pelas nuvens a menos que a fundao esteja muito firmemente estabelecida sob o solo a
fim de servir de base e suporte seguros e inabalveis ao esprito que aspira. Enquanto a
aspirao da alma for pura, de motivos honestos e isenta do mero desejo egosta do poder,
pouco dano poder advir ao mago na sua atividade com a tcnica da evocao, contanto,
claro, que as precaues ordinrias de completos banimento e consagrao do crculo e
do tringulo sejam tomadas. Mas, diz-se, que atravs deste mtodo o mago imita a
operao e progresso da totalidade da natureza. Nela, sua grande guia e modelo, ele v
que nenhum passo rumo ao crescimento tomado subitamente sem longas medidas
preliminares ou preparo de alguma espcie; tudo procede ordenada, harmoniosa e
gradualmente, passo a passo, com devido cuidado, seqncia e escalonamento. esta
harmonia e ordem que ele procura trazer ao seu prprio trabalho. preciso que comece
seu trabalho na base da superestrutura, assentando cada tijolo a ser incorporado a essa
grande pirmide com o mais extremo cuidado, zelo e devoo, dispondo camada sobre
camada, no negligenciando um nico estgio sobre o qual a torre dever sempre se
elevar. Gradativamente, medida que esta ampla base piramidal de realizao se
desdobra, alteando-se tanto dentro quanto acima sobre uma fundao firme, tornada
segura pelas evocaes e sustentada pela aspirao do mago, este tende a descartar as
coisas menores na medida em que a necessidade destas se torna menos bvia, e ele se
torna mais unidirecionado e devoto at que o coroamento de seus esforos transborda na
consecuo suprema. Neste caso, a consecuo se alicera numa base slida, no uma
base construda sobre areias movedias que o mero sopro do vento poderia derrubar; o
Conhecimento e Conversao est enraizado no prprio esprito e corpo do ser integral, e
a no existe nenhum perigo em absoluto de uma iluminao que leve o mago a uma
obsesso de uma idia fantica, ou destruio do equilbrio de sua mente.
A base racional dos poderes conferidos pela evocao e a realidade dos espritos
no se encontram muito distantes para nossa busca se considerarmos a psicologia
patolgica por um momento. O fenmeno da evocao pode ser comparado a uma
neurose ou complexo sutis presentes em nossas mentes, os quais nos achamos incapazes
de eliminar ou descartar a no ser por algum meio que nos capacite a defini-los
claramente e determinar sua causa. Este conhecimento lhes outorga uma forma consciente

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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e racional precisa, que pode, ento, ser francamente encarada e banida para sempre da
mente como um impulso perseguidor e perturbador. O psicanalista incapaz de ajudar
um paciente neurtico particularmente ruim que sofre de uma neurose grave at que ele
lide com o inconsciente por meio de sua tcnica e descubra a causa da existncia dos
conflitos tipificados por essas neuroses. Este exame do contedo da mente, ou de alguma
poro da mente e da memria, transmite clareza e coerncia causa neurtica
subjacente, e o paciente percebendo claramente a forma e a causa da psicose evocada, se
capacita a dissip-la e bani-la. Enquanto o complexo for um impulso subconsciente
oculto, espreitando destitudo de configurao ou forma no inconsciente do paciente,
ainda possuindo fora suficiente para romper a unidade consciente, no pode ser
adequadamente confrontado e controlado. A mesma base racional subjetiva extensiva ao
aspecto gotico da magia, a evocao dos espritos. Enquanto no interior da constituio
do mago jazem ocultos, descontrolados e desconhecidos esses poderes subconscientes ou
espritos que conferem a perfeio de qualquer faculdade consciente, o mago incapaz de
confront-los o mais proveitosamente possvel, examin-los ou desenvolv-los visando
modificar um e banir o outro do total campo da conscincia. Eles tm que assumir forma
antes que possam ser usados. Mediante um programa de evocao, entretanto, os espritos
ou poderes subconscientes so convocados das profundezas e lhes sendo atribuda forma
visvel no tringulo de manifestao, podem ser controlados por meio do sistema
mnem nico de smbolos transcendentais e conduzidos ao mbito da vontade
espiritualizada do teurgo. Enquanto estiverem intangveis e amorfos no se pode trat-los
adequadamente. Somente dando-lhes uma aparncia visvel por meio das partculas de
incenso e os evocando ao interior do tringulo mgico que o mago capaz de domin-
los e com eles agir como quiser. A teoria subjetiva aqui empregada sumamente
conveniente para suprir uma explicao de fcil compreenso desse fen meno da
evocao, pois perfeitamente possvel comparar os espritos ao contedo-idia ou
contedo-pensamento-subconsciente da mente que atua invisvel, silencioso e amorfo nos
negros abismos da mente. A atribuio a eles de uma forma tangvel por uma imaginao
propelida a uma atividade prodigiosa pelo processo de evocao, capacita o mago a
subjugar a horda incipiente de pensamentos, paixes e memrias indisciplinados que eles
so, atribuindo assim forma e ordem hierarquia dos espritos, e subordinando a riqueza
de seu conhecimento e energia particulares a sua vontade. Isto por si s constitui a razo
e necessidade do empreendimento de evocaes antes de se ter atingido o Conhecimento
e Conversao do Santo Anjo Guardio, que o ritual mgico supremo e maior.
De imediato, essa base racional proporciona uma definio das duas principais
divises da magia bem como uma distinta classificao das entidades espirituais
hierrquicas. A invocao implica acima de tudo o mais a convocao para dentro do
crculo da esfera humana de conscincia, que a definio do crculo mgico, de um deus
ou do Santo Anjo Guardio. Nesta forma mais elevada de magia no h necessidade de
tringulo exterior, pois o mago, tanto crculo como tringulo em um ser, est desejoso de
mesclar sua prpria vida com a vida maior de um deus e ceder seu prprio ser vida
maior de um deus. O tringulo implica manifestao e dualidade, a separao de um ser
menor do teurgo. Na invocao a dualidade uma maldio rematada, o propsito desse
aspecto da teurgia sendo eliminar a dualidade. A evocao, por outro lado, a deliberada
conjurao ou o fazer surgir de uma entidade incompleta ou menor para dentro do

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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tringulo de manifestao que colocado longe da circunferncia do crculo. As
definies das duas figuras principais so muito importantes e teis e devem, acho, ser
sempre lembradas. O crculo a esfera da conscincia, una, integral e completa. O
tringulo representa manifestao e separao, e nesse ponto que um ser das trevas
trazido luz dos limites ocultos do crculo interior. Pode-se presumir que um deus seja
uma idia completa e harmoniosa, coerente e absoluta dentro de sua pr pria esfera, um
macrocosmo que tudo abarca ao qual o mago, que um microcosmo, une a si mesmo
dentro dos limites protegidos do crculo. Por outro lado, um esprito ou uma inteligncia
um ser menor e embora por definio seja uma fora semi-inteligente da natureza, uma
idia que no nem completa nem bem desenvolvida e compreende apenas uma
conscincia limitada e partitiva. No caso da evocao, o esprito evocado para dentro de
um tringulo limitado e protegido por nomes divinos, colocados no exterior do crculo
sagrado e o mago dentro do crculo se posta em relao ao esprito como um
macrocosmo e um ser superior. Tal como a invocao de um deus inunda a conscincia
humana com uma onda esttica da luz e vida divinas, o teurgo se posta como um deus e
energizador do esprito. A finalidade da evocao , em sntese, fazer intencionalmente
salientar, por assim dizer, alguma poro da alma humana que deficiente numa
qualidade mais ou menos importante. Recebendo corpo e forma pelo poder da imaginao
e da vontade, ela , para usar uma metfora, especialmente nutrida pelo calor e sustento
do sol, e recebendo gua e alimento pode crescer e florescer. A tcnica a assimilao de
um esprito particular na conscincia do teurgo, no por amor e rendio como o caso
na invocao de um deus, mas sim por comando superior e o gesto imperioso da vontade.
Atravs desta assimilao, a ferida de Amfortas curada, a deficincia remediada e a
alma do teurgo estimulada de uma maneira especial, de acordo com a natureza do
esprito.
O primeiro dos trs livros relativos evocao dos quais me proponho a falar aqui
A Chave de Salomo, o Rei. Este livro, de longe o mais not rio de todos os livros de
instruo mgica, foi traduzido em 1889 por S. L. McGregor Mathers para o ingls a
partir de textos em latim e em francs. Ele pr prio, estou informado, foi sumamente
conhecedor do mtodo e obteve sucesso no seu uso, tendo adaptado para o uso de seus
pr prios aprendizesum resumo cientfico abordando o processo de evocao em todas
suas ramificaes. Na opinio do tradutor, essa obra encerrava a fonte-matriz e o dep sito
central da magia cabalstica. Nela preciso que se busque a origem de muito da magia
cerimonial da poca medieval quando A Chave era estimada pelos melhores escritores do
oculto e praticantes da magia como um trabalho da mais alta autoridade. Que serviu de
instruo a liphas Lvi e lhe forneceu os dados nos quais foi baseado o Dogma e Ritual
de Alta Magia mais que provvel pois deve ser evidente para quem quer que tenha
efetivamente estudado Lvi com cuidado que a Chave de Salomo foi seu principal texto
para estudo e prtica. Embora ele no expresse franco reconhecimento como devedor por
meio de muitas palavras, a essa obra que ele se refere em suas vistosas observaes
relativas s Clavculas do Rei Salomo. No seu Ritual de Alta Magia ele cita uma
invocao que atribui a Salomo, apresentando este ritual uma certa, embora no exata,
semelhana em sua construo e teor, primeira conjurao da Chave, reproduzida no
ltimo captulo de seu trabalho. A Chave, como um todo, com a exceo de vrios
captulos inteiramente desprezveis que lisonjeiam os apetites animais de ignorantes

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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depravados, e que provavelmente so interpolaes posteriores feitas no texto, um dos
mais prticos sistemas de tcnica mgica existentes. Seu interesse capital est na
evocao dos espritos ou regentes planetrios.
A questo obscura da efetiva existncia de um original hebraico foi levantada em
diversas ocasies, e tanto P. Christian em sua Histoire de la Magie quanto S. L.
MacGregor Mathers eram da opinio de que se tivesse havido um documento hebraico a
partir do qual tenham sido feitas as tradues latina e francesa, este ter-se-ia perdido
desde ento. Waite mais ou menos se inclina para a dvida de que tenha havido um texto
hebraico, e outros escritores cticos acreditam que se trata simplesmente de uma
falsificao medieval, meno de Salomo e de um autor hebreu sendo feita meramente
para apresentar diante das mentes crdulas uma autoridade adicional por qualquer mrito
e validade que o livro possusse. Recentemente, entretanto, um manuscrito hebraico foi
descoberto pelo dr. Herman Gollancsz e um impresso em fac-smile foi publicado pela
Oxford University Press em 1914. Aps um exame deste trabalho publicado sob o ttulo
de Sepher Maphteah Shelomo, que corresponde a O Livro da Chave de Salomo, em
hebraico, no posso admitir que a despeito da obra traduzida para o ingls ter o mesmo
ttulo haja uma necessria conexo entre as duas. Seus contedos so completamente
diferentes.
O sistema de magia exposto em A Chave de Salomo, o Rei extremamente
objetivo, estando enraizado na existncia, independente de nossa prpria conscincia, dos
deuses ou anjos que habitam os planetas. Sua raison d’tre o postulado de que a
invocao deles pelo homem uma possibilidade distinta, e que eles podem ser
submetidos vontade soberana do homem. A filosofia mgica postula a existncia de
uma entidade espiritual que a alma ou numenon por trs da casca visvel de cada
planeta. o regente ou guardio da mesmssima maneira que a alma no homem a
realidade metafsica oculta funcionando nas profundezas de seu ser. Esta , por certo, a
viso objetiva, e ao desenvolver esta teoria, os antigos sistemas atribuam aos deuses dos
planetas hierarquias de espritos e inteligncias menores bem como elementais, os
administradores do movimento e atividade celestiais. Um diagrama de classificao
dessas entidades apresentado numa pgina anterior. conhecimento ordinrio que os
dias da semana possuem um significado astronmico e que o domingo* o dia do sol, a
segunda-feira* o dia da lua, o sbado* o dia de Saturno, e assim por diante. Por este
arranjo, como tem sido ensinado pela astrologia, em algum dia em particular a influncia
de um dado planeta e seu regente predomina e existe de uma forma mais poderosa do
que em qualquer outro dia. Esta classificao levada ainda mais longe em A Chave, e os
magos medievais concebiam sistematicamente que certas horas do dia poderiam estar
tambm sob a direta influncia dos planetas. Por conseguinte, h em A Chave uma ampla
lista das horas planetrias, indicando quais as horas especficas nos sete dias da semana
so atribudas a quais planetas e os nomes dos anjos que so regentes durante o desenrolar
da hora. Assim, para tornar eficiente a evocao de um regente planetrio, ou seu esprito
e inteligncia, uma cerimnia deve ser realizada no apenas do dia correto da semana,
como quarta-feira ** para Mercrio, como tambm durante a hora correta. Visto que
Mercrio atribudo oitava Sephira na rvore da Vida, sua significao numrica
oito. Sua hora apropriada seria conseqentemente a oitava hora que, de acordo com a
tabela, denominada Tafrac e seria suscetvel de maneira peculiar s coisas mercurianas.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 131 -
Na oitava hora do dia de Mercrio, que quarta-feira, empregando as ervas, incensos,
cores, selos, luzes, formas e nomes divinos que se harmonizam e so coerentes com a
natureza tradicional de Mercrio, o mago mais facilmente capacitado a estimular a
criatividade da imaginao e evocar ou a partir de sua prpria mente ou a partir da luz
astral a idia ou esprito pertencente categoria ou hierarquia denominada Mercrio.
Tendo escrito as conjuraes apropriadas, a cerimnia executada. O mago, envolvendo
a si mesmo astralmente com a forma do deus que atribudo mesma Sephira da qual
Mercrio uma correspond ncia ± mas no se unindo forma no caso de somente um
esprito ou intelig ncia serem requeridos ± e forosamente dirigindo um poderoso fluxo
de fora de vontade sobre o sigillum do esprito, invoca o deus, suplica ao arcanjo e
conjura o anjo que a entidade espiritual apropriada possa ser constrangida a se manifestar
fora do crculo no consagrado tringulo da arte, de acordo com os selos e os elementos
coerentes e harmoniosos empregados. Embora esta tcnica no esteja plenamente
explcita em A Chave ± j que o rudimentar mtodo a descrito seria comparvel a um
menininho pedindo ao seu pai para lhe dar alguns trocados ± a experi ncia e a tradio
t m demonstrado que os mtodos egpcios se harmonizam muito bem com o mtodo
cabalstico de A Chave, e so mais conduzentes produo dos resultados desejados.
* Em ingl s precisamente Sunday, Monday e Saturday respectivamente. (N. T.)
** Em ingl s Wednesday, derivado de Woden’s day, dia de Woden, o nome saxo de
Odin. (N. T.)
H captulos do livro que tratam cuidadosamente das qualidades essenciais dos
planetas e da variedade de diferentes operaes que pertencem mais distintamente a um
do que a outro, embora todas essas instrues sejam suplementadas pelo conselho
principal de executar toda operao quando a lua estiver na crescente nos dias entre seu
nascer e sua plenitude. Assim a evocao das foras de Marte nos dias e horas de Marte
confere coragem, energia e fora de vontade, enquanto que os perodos prprios do Sol,
de V nus e Jpiter se adaptam bem a quaisquer operaes de amor, de benevol ncia e de
invisibilidade. Operaes para a aquisio de uma abundncia de eloq ncia,
conhecimento cientfico, profecia e a capacidade da adivinhao surgiriam na esfera de
Mercrio e assim por diante tal como foi formulado na astrologia. O Mago enumera os
anjos relativos aos doze signos zodiacais e os perodos mais propcios para a evocao
deles seriam no dia e hora do planeta regente e exaltado naquele signo. O mtodo exato
de construir o crculo mgico dado com certos detalhes, bem como a maneira pela qual
deve ser especialmente consagrado. Poderia acrescentar que embora A Chave afirme que
o crculo deveria ser traado na terra com a faca ou espada mgicas, o moderno teurgo
pode traar o crculo com suas cores apropriadas sobre um pedao virgem de tela ou
sobre o cho de seu templo, seja este de cermica, taco ou linleo, traando-o
posteriormente no ar com a espada ou o basto.
Um fato que faz de A Chave um dos nicos e mais importantes dos trabalhos
mgicos disponveis ela fornecer excelentes ilustraes dos pantculos e selos
apropriados aos sete planetas, necessrios para o uso como lamen e sigillae durante as
cerimnias, mostrando tambm como deveriam ser construdos. Quando a lua estiver num
signo do ar ou da terra, durante os dias e horas de Mercrio, ser o mais propcio perodo
para a confeco dos pantculos e selos. O mago deve dispor tambm de uma cmara
especial, se possvel, independente com a devida privacidade onde, aps a correta

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 132 -
consagrao e fumigao ascendente, possvel construir os pantculos seja sobre metal,
seja sobre papel limpo virgem. ªEstes pantculos so geralmente feitos do metal que mais
se adequa natureza do planeta... Saturno rege o chumbo, Jpiter o estanho, Marte o
ferro, o Sol o ouro, Vnus o cobre, Mercrio a mescla dos metais e a Lua, a prata. Podem
tambm ser feitos com papel virgem exorcizado, escrevendo-se sobre ele com as cores
adotadas para cada planeta, referindo-se s regras j indicadas nos devidos captulos, e de
acordo com o planeta com o qual o pantculo se harmoniza; por este motivo a cor
apropriada de Saturno o preto, Jpiter rege o azul celeste, Marte o vermelho, o Sol o
dourado ou o amarelo ou citrino, Vnus o verde, Mercrio as cores mistas (via de regra o
laranja, conforme as melhores tradies cabalsticas), a Lua o prateado ou a cor da terra
argentina.º
fornecida uma srie similar de regras relativas aos mantos e vestes a serem
usados cerimonialmente pelo Mestre da Arte e seus assistentes. Cada instrumento
particular a ser empregado, basto, espada, adaga, etc., e todos esses acessrios tais como
incenso, pergaminho para os selos, cera para os pantculos ou talisms, e as coberturas de
seda para os sigillae – devem ser cuidadosamente exorcizados para se tornarem puros,
depois do que devem ser consagrados obra em pauta. O sistema, em sntese, um
mtodo completo, apresentando vrias invocaes e conjuraes que resultam na
evocao para apario visvel do esprito desejado, e com um pouco de engenhosidade o
mago pode utilizar o esquema do sistema para quase qualquer finalidade. O procedimento
efetivo, em breves palavras, da operao pode ser resumido como se segue:
primeiramente, deve haver a consagrao e preparao das armas, instrumentos e a
construo do crculo. Aps um banimento completo, que o mago profira uma orao ou
invocao geral ao Senhor do Universo ou ao seu prprio Eu superior para dar
legitimidade operao. Exemplos de um tal salmo so fornecidos no captulo final deste
livro. Isso concludo, a forma do deus apropriado deve ser assumida astralmente de
maneira que a mscara encubra completamente o mago em imaginao, embora esta
necessidade no deva ser levada ao ponto da identificao. Uma conjurao geral deve se
seguir recitando a autoridade mediante a qual o mago atua, e enumerando os poderes que
no passado produziram grandes resultados por meio de outros magos. Nesse ponto, a
conscincia do mago deve ter comeado a se exaltar devido queima do incenso,
psicologia dos mantos, ao lirismo e ao valor intoxicante da invocao com sua longa lista
reverberante de nomes brbaros e a enumerao de prodgios, comandos e imprecaes,
alm do efeito desconcertante, por assim dizer, das luzes, figuras e selos. O clmax da
operao, a manifestao do esprito, ocorre ento quase automaticamente. A Chave de
Salomo fornece em seguida mais ou menos o correto procedimento at que, quando o
esprito apareceu sob forma visvel e obedeceu ao mago, a Licena para Partir e o ritual
de banimento devam uma vez mais ser recitados a fim de encerrar a cerimnia inteira.
________________________________________________________________________
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Núm. Cores Plantas Pedras preciosas Perfumes Metais
Nomes divinos
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A Arvore da Vida - Israel Regardie
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1 Branco Amendoeiro em flor Diamante Âmbar cinzento ±
Eheieh
2 Cinza Amaranto Rubi-estrela; turquesa Almscar
±
3 Preto Cipreste; papoula Safira-estrela; p- Mirra; alglia
Chumbo Jehovah Elohim
rola
4 Azul Oliveira; trevo Ametista; safira Cedro
Estanho El
5 Vermelho Carvalho; noguei- Rubi Tabaco
Ferro Elohim Gibor
ra-vmica; urtiga
6 Amarelo Accia; loureiro; Topzio; diamante Olbano
Ouro Jehovah Eloh
vinha amarelo
ve Daäs
7 Verde Roseira Esmeralda Benjoim; rosa;
Cobre Jehovah
sndalo v ermelho
Tsavoös
8 Laranja Mli; Anhal. Opala; esp. opala Estoraque
Mercrio Elohim
Lewinii gnea
Tsavoös
9 Prpura Manyan; da- Quartzo Jasmim; ginseng Prata
Shaddai
miana; yohimba
l Chai
10 Mescla Salgueiro; lrio; Cristal de rocha Ditania de Creta ±
Adonai
hera
Melech
________________________________________________________________________
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H uma pgina ou duas escritas por Francis Barrett em seu livro The Magus (que
se descobriu terem sido citadas quase que ao p da letra a partir de H. C. Agrippa) que
podem ser muito teis ao mago porquanto explicam o processo de consagrao e
preparao; e no apenas isto como tambm esboa um dos segredos da composio dos
rituais, o da comemorao. Ele escreve:
ªPortanto, quando voc fosse consagrar qualquer lugar ou crculo, deveria tomar
a orao de Salomo usada na dedicao e consagrao do templo; teria, do mesmo
modo, que abenoar o lugar aspergindo-o com gua benta e tratando-o com fumigaes
ascendentes, e comemore nos santos mistrios da b no; tais como estes, a santificao
do trono de Deus, do Monte Sinai, do tabernculo da promessa divina, do santo dos
santos, do templo de Jerusalm; tambm a santificao do Monte Glgota pela

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 134 -
crucificao de Cristo; a santificao do templo de Cristo; do Monte Tabor pela
transfigurao e ascenso de Cristo, etc. E invocando-se todos os nomes divinos que so
significativos em relao a isso, tais como o lugar de Deus, o trono de Deus, a cadeira de
Deus, o tabernculo de Deus, o altar de Deus, a habitao de Deus, e os nomes divinos
similares desta espcie, que devem ser escritos em torno do crculo ou do lugar a ser
consagrado.
ªE na consagrao dos instrumentos e toda outra coisa que usada nesta arte, voc
deve proceder de maneira idntica, borrifando com gua benta do mesmo modo, por
fumigao, untando com azeite sagrado, selando-o com algum selo santo e abenoando-o
com orao, e comemorando coisas santas pelas Santas Escrituras, coletando nomes
divinos que so agradveis s coisas a serem consagradas, como por exemplo, na
consagrao da espada preciso que lembremos pelo evangelho `aquele que tem duas
capas' etc., e que no segundo de Macabeus dito que uma espada foi divina e
miraculosamente enviada a Judas Macabeus; e se houver algo semelhante nos profetas
como `tragam para vocs espadas de dois gumes', etc. E voc dever da mesma maneira
consagrar experimentos e livros, e seja l o que for de natureza similar, como escritos,
gravuras, etc. borrifando, perfumando, untando, selando, abenoando com comemoraes
santas e chamando lembrana a santificao dos mistrios, como a tbua dos dez
mandamentos, que foram transmitidas a Moiss por Deus no Monte Sinai, a santificao
do Antigo e do Novo Testamentos, e igualmente a da lei, dos profetas e Escrituras, que
foram promulgadas pelo Esprito Santo; e mais uma vez existem para serem mencionados
aqueles nomes divinos que sejam convenientes no caso, a saber, o testamento de Deus, o
livro de Deus, o livro da vida, o conhecimento de Deus, a sabedoria de Deus e similares.
E com tal tipo de ritos como estes executada a consagrao pessoal...
ª necessrio observar que votos, oblaes e sacrifcios possuem o poder de
consagrao, tanto real quanto pessoal, e eles so, por assim dizer, certas convenes
entre aqueles nomes com os quais so feitos e n s, que os fazemos, aderindo fortemente
ao nosso desejo e efeitos desejados, como quando sacrificamos com certos nomes ou
coisas, como fumigaes, unes, anis, imagens, espelhos e algumas coisas menos
materiais, como caracteres, selos, pantculos, encantamentos, oraes, gravuras.
Escrituras, do que falamos largamente antes.º
A Pequena Chave de Salomo, o Rei ou A Gocia (palavra provavelmente
derivada de uma raiz que significa ªberrarº ou ªgemerº se referindo possivelmente
tcnica dos nomes brbaros, uma caracterstica das invocaes do livro*) trata de uma
descrio minuciosa de setenta e dois espritos ou hierarquias de espritos que a tradio
afirma eram evocados e submetidos por Salomo. Foi por meio da ao deles e por meio
deles que Salomo recebeu aquela sabedoria superlativa e aquele conhecimento espiritual
que a lenda afirma lhe terem pertencido. Ao abrir o livro h uma definio da magia a
ttulo de promio nestes termos: ªA magia o mais elevado, mais absoluto e mais divino
conhecimento da filosofia natural, avanado em sua obras e prodigiosas operaes por
uma compreenso correta da virtude interior e oculta das coisas, de sorte que agentes
verdadeiros sendo aplicados aos pacientes adequados efeitos estranhos e admirveis sero
desse modo produzidos. Da os magos serem profundos e diligentes pesquisadores da
natureza; devido sua habilidade, eles sabem como antecipar um efeito, o qual para o
vulgo se afigurar como um milagre.º

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 135 -
* do grego gohteia, fascinao, e posteriormente por extenso o significado pejorativo de
charlatanismo, impostura, fraude. O grego gohs (htos) significa originalmente mago ou
feiticeiro, e da charlato, impostor. (N. T.)
Quanto opinio de Waite de que A Gocia se refere ela mesma magia negra,
tenho de discordar. Minha prpria opinio que Waite se inclina a classificar como
magia negra qualquer mtodo tcnico que se mantm fora do dito consagrado de sua
prpria organizao. O sistema delineado por Francis Barrett na parte de seu livro
intitulada Magia Cerimonial na realidade baseado na Chave e no livro de que ora nos
ocupamos, bem como em de Occulta Philosophia, de Agrippa. Vrios dos rituais que ele
apresenta so tomados palavra por palavra, e com apenas umas poucas alteraes e
acrscimos secundrios, de A Gocia. Embora dificilmente comparvel a Abramelin em
matria de sublimidade e poder de concepo espiritual, A Gocia , entretanto, um
sistema relativamente fcil tanto de ser compreendido quanto de ser operado, pois
tambm neste caso o mago no sobrecarregado com tais exigncias impossveis e
fantsticas como sangue de morcego, caveiras de parricidas e cabritos ou cordeiros
virgens. Tudo o que o operador tem que observar a fim de alcanar o sucesso so algumas
regras mais ou menos elementares. Como pr-requisitos mgicos para as evocaes,
necessrio que disponha de um equipamento composto de basto, espada, capuz e um
manto que cubra todo o corpo ou uma longa toga de linho branco com o qual trabalhar,
bem como vrios mantos ou casulas de cores diversas, que variam dependendo da
operao e da natureza do esprito a ser conjurado. De hbito, deve haver o turbulo com
incenso especial, o azeite de uno para consagrao e o talism ou selo que o operador
queira carregar. Seguem-se instrues relativas natureza do crculo mgico e o
tringulo que o acompanha, suas dimenses, cores, inscries e os nomes divinos a serem
empregados como proteo e pintados em cores ao redor tanto do crculo quanto do
tri ngulo. Reproduzo aqui um tipo de crculo e tri ngulo recomendado por A Gocia. As
palavras hebraicas em torno do crculo so os nomes das Sephiroth com as atribuies
planetrias, os nomes divinos apropriados, arcanjos e coros anglicos.
((ilustr. ± Crculo e tringulo))
A maior parte do livro diz respeito a uma descrio rigorosa dos espritos e suas
hierarquias. Os setenta e dois hierarcas so classificados em vrias categorias: reis,
duques, prncipes, marqueses e assim por diante, compreendendo naturezas boas, ms e
indiferentes. Na economia da natureza eles tm sua prpria funo particular, uma tarefa
especfica para executar e quando evocados e controlados pelo invocador e seus smbolos
conferem uma certa faculdade, poder ou tipo de conhecimento como foi explicado
anteriormente. Diversos mtodos podem ser aplicados em sua classificao j que
possvel distribuir o nmero deles entre os quatro elementos ou referi-los aos sete
planetas, ou aos doze signos do zodaco. Os selos de aparncia estranha fornecidos em A
Gocia como representativos das assinaturas dos espritos devem ser usados no peito do
mago, no reverso do pentagrama gravado sobre um lamen de metal de acordo com a
posio, dignidade e carter do esprito a ser convocado apario visvel. Assim, o
sigillum de um rei dos espritos deve ser gravado sobre um lamen de ouro, enquanto que
o de um duque deve s-lo sobre cobre, o de um prncipe sobre estanho enquanto que a
prata deve ser o material do lamen para a evocao de um marqus. Por meio deste
mtodo, os caracteres dos espritos so mostrados pelos metais empregados na construo

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 136 -
do lamen. Os reis so de uma dignidade solar; os duques so venusianos; os prncipes,
jupiterianos e os marqueses dizem respeito Lua. Devem ser observadas estaes e
ocasies para a conjurao dos espritos pois ªtu devers conhecer e observar o perodo
da lua para teu trabalho, os melhores dias sendo quando a Lua tem 2, 4, 6, 8, 10, 12 e 14
dias, como diz Salomo, nenhum outro dia sendo aproveitvelº. O texto continua
afirmando que os reis ªpodem ser submetidos das 9 at o meio-dia e das 3 da tarde at o
pr-do-sol; os marqueses podem ser submetidos das 3 da tarde at as 9 da noite e das 9 da
noite at o nascer do sol; os duques podem ser submetidos do nascer do sol ao meio-dia
com tempo lmpido sem nuvens; os prelados podem ser submetidos a qualquer hora do
dia; os cavaleiros podem ser submetidos da aurora at o nascer do sol ou das 4 horas at o
pr-do-sol; os presidentes podem ser submetidos a qualquer hora, exceto no crepsculo,
noite, a menos que o rei a que esto subordinados seja invocado; e os condes a qualquer
hora do dia, seja nos bosques, seja em quaisquer outros lugares que os homens no
freq entam, ou onde no h rudo.º
((O hexagrama de Salomo))
Includas no domnio dos Quatro Grandes Regentes ou Reis Elementais dos
Pontos Cardeais esto essas hierarquias dos setenta e dois espritos. H Amaimon no
leste, Corson no oeste, Ziminiar no norte e Gap no sul, um quadrante cardeal especfico
devendo ser encarado pelo mago, o tringulo tambm apontando na mesma direo, em
consonncia com o regente do esprito a ser evocado. No convm supor de modo algum
que esses espritos referidos em A Gocia sejam meros elementais, espritos da natureza
ou foras semi-inteligentes que arcam com a carga mecnica da natureza; pelo contrrio,
diz-se dispor a maioria deles de um grande sq ito ou sub-hierarquia de espritos
elementais subordinados que os servem. Pode-se supor que sejam os assim chamados reis
elementais, cuja funo na ordem natural das coisas apenas secundria relativamente ao
governo dos principais deuses ou anjos planetrios. Com efeito, Blavatsky sugere em A
Doutrina Secreta que de forma alguma devem os reis ou deuses dos elementais ser
confundidos com os prprios cegos e brutais espritos elementais. Esses ltimos, no
mximo, so simplesmente usados pelos brilhantes deuses elementais como veculos e
materiais luminosos com os quais se vestem.
A descrio de Paimon, por exemplo, que ele ensina todas as artes e cincias e
outras coisas secretas. ªEle capaz de descobrir para ti o que a Terra , e o que ela
encerra nas guas; e o que a Mente , ou onde ela est; ou quaisquer outras coisas que
possas desejar saber. Ele proporciona dignidade e confirma a mesma. Ele para ser
observado rumo oeste. Ele da Ordem dos Domnios. Possui sob seu comando duzentas
legies de espritos e parte deles pertence Ordem dos Anjos e a outra parte dos
Potentados.º A Gocia tambm empreende a descrio da maneira pela qual ele faz sua
apario no tringulo da arte em que evocado. Acompanhando-o em sua manifestao
visvel ªapresenta-se ante ele tambm uma hoste de espritos, como homens com
trombetas e pratos bem sonoros e todos os outros tipos de instrumentos musicais.º Uma
outra entidade menor Btis, que tanto um presidente quanto um conde dos espritos e
quando evocado ª...narra todas as coisas passadas e futuras, e reconcilia amigos e
inimigos. Comanda sessenta legies de espritosº. Para mencionar mais um hierarca,
temos Bifrons, chamado de conde, e cuja funo familiarizar a pessoa com a astrologia,
geometria e outras artes e cincias, e nele tambm est contido o conhecimento das

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 137 -
virtudes das pedras preciosas e madeiras, estando sob seu comando sessenta legies de
espritos.
Entre os numerosos selos presentes neste livro de instruo mgica, h tambm
um pentagrama a ser usado como um sigillum durante qualquer operao mgica, com o
propsito de proteger o operador dos espritos perigosos, e tambm para restaurar sua
confiana no poder da vontade. A ilustrao da pgina ... (Sigillum do Pentagrama)
apresenta o desenho dessa figura. para ser usado sobre o peito do mago como um
lamen, o lado inverso tendo o selo do esprito particular a ser evocado. Em vrios estgios
de uma cerimnia esse sigillum dever ser levado erguido na mo aos pontos cardinais,
onde o mago recitar uma exig ncia aos espritos para que rendam obedi ncia aos sigilli
inscritos dentro do pentagrama. Outrossim, A Gocia ilustra um hexagrama que deve ser
pintado sobre pergaminho de pele de bezerro a ser usado na borda do manto ou toga
curta. As instrues que acompanham o desenho t m o propsito de indicar que essa
figura deve ser coberta com um tecido de linho fino, branco e puro, e ª... para ser
mostrada aos espritos quando estes aparecerem, de maneira que sejam obrigados a
assumir forma humana e prestarem obedi ncia.º Esse tipo de hexagrama reproduzido
em cores na pgina ...
Pouco conhecido dos aprendizesde magia da atualidade, j que jamais foi
traduzido para o ingl s, um livro intitulado O Livro do Anjo Ratziel. Durante os ltimos
duzentos anos foi considerado pelos judeus como um depsito sagrado e mesmo hoje,
entre os membros de uma seita corrompida quase-mstica chamada de Chassidim ± que
incorporava outrora ensino e aspirao espirituais de grande excel ncia ± esse livro
bastante venerado. Um dos seus rabinos informou ao presente autor que quando um
membro de sua congregao est doente, uma cpia desse trabalho de magia
imediatamente levada ao leito do doente de maneira que possa ser colocada sob o
travesseiro. uma coletnea de escritos e vises de magia que no causam particular
impresso, a maior parte distintamente rudimentar, que pretendem datar do paraso
admico, embora haja suficiente evid ncia interna a nos assegurar que ao menos tr s
diferentes escritores em data no muito antiga contriburam individualmente para o seu
contedo, o conjunto tendo sido sintetizado por uma mo habilidosa. Houve uma poca
na qual era fcil obter tal obra. Atualmente, entretanto, esta obteno rara.
Como todos os nomes anglicos hebraicos, a palavra Ratziel uma palavra
composta, que produz quando analisada a frase ªO Anjo do Mistrioº, que se concebe que
seja o autor divino dos mistrios mgicos comunicados a Ado, o primeiro ser a receber
esse conhecimento. Sua tradio segue quase exatamente aquela da lenda da ortodoxia
cabalstica, segundo a qual expulso do paraso que lhe estava barrado por um anjo que
portava uma espada flamejante, Ado no exlio transmitiu o livro ao seu filho, que o
revelou a Enoque. Enoque o passou s geraes sucessivas de patriarcas at que,
finalmente, culminou, como o leitor pode ter antecipado, na comunicao de seu mistrio
ao Rei Salomo que, por intermdio deste mistrio, conquistou todo o conhecimento,
sabedoria e riqueza.
A obra como um todo est dividida em tr s partes principais, embora haja
suplementos mais curtos que fornecem ao leitor frmulas complexas, embora ambguas,
de amuletos e alguns talisms e encantamentos de aspecto um tanto divertido, com
instrues altamente elaboradas para seu uso e emprego correto. Muito espao

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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reservado ao estudo da angelologia, fonte da qual um grande nmero de autores
posteriores bebeu, e no comeo h conselhos referentes evocao desse anjos apario
visvel, as instrues variando de acordo com dia, hora, ms e estao. A caminho do
desfecho do livro h uma longa orao ou invocao, apostrofando Deus numa maneira
hebraica exemplar como o Rei, percorrendo o alfabeto inteiro diversas vezes a fim de
descrever Seus atributos distintivos, todos os quais so fases de alguma fora e funo
particulares do universo. Como sistema de tcnica mgica muito desfavoravelmente
comparvel com os dois livros previamente mencionados no que diz respeito ao efetivo
modus operandi e o teor filos fico.
A primeira parte do livro, a nica que consideraremos nestas pginas visto que
suas duas ltimas partes so comparveis Gocia e Chave j descritas, singular pela
razo a seguir. Procura descrever a completa organizao do cu, ou as vrias camadas ou
planos da luz astral. A essncia da viso uma descrio do cu ao qual No foi
carregado por dois anjos de aspecto gneo, embora muito pouco disto tenha importncia
acrescentando algum conhecimento ou provendo alguma nova informao elucidativa
daquilo que j detemos. Um cu, o terceiro, caracterizado pelo vidente como sendo o
lar, por assim dizer, das almas ou deuses interiores do sol e das estrelas, o primeiro sendo
atendido por inmeras fnixes, as quais simbolizam regenerao e imortalidade. No era
atendido por quatrocentos anjos que toda noite removiam sua coroa para lev-la ao
Senhor do Cu e a devolviam toda manh quando eles pr prios o coroavam. Hostes de
anjos, armados com espadas resplandecentes para o julgamento da humanidade e os
mensageiros das decises do Altssimo eram vistos no quarto cu, e simultaneamente
esses espritos armados cantavam e danavam diante de Deus com o acompanhamento de
pratos. Sua viso estendendo-se ao quinto cu revelava a No quatro diferentes ordens de
sentinelas, os quais, ao mesmo tempo que lamentavam seus anjos camaradas uma vez
decados, estavam ainda cantando e fazendo soar continuamente quatro espcies
diferentes de trombetas em louvor de Deus. No sexto cu havia legies resplandecentes
de anjos, mais resplandecentes e esplndidos que o sol quando brilha na plenitude de sua
fora. Havia arcanjos, tambm, e neste cu No viu como todas as coisas eram ordenadas
e planejadas, com os prot tipos de todas as coisas vivas e almas de toda a humanidade.
No meio da viso gloriosa, ele viu sete criaturas arcanglicas, cada uma com seis asas,
cantando num unssono absoluto. O cu mais elevado foi visto como uma luz gnea,
povoada por arcanjos e seres e poderes incorp reos, havendo tambm o rosto de Deus
fulgurante de luz celestial, emitindo chispas do mais puro fogo e chama.
Muito da confuso que caracteriza as vises e tentativas em magia dos amadores
pode ser largamente atribudo, acho, omisso de alguns desses dispositivos preliminares
como o Ritual de Banimento do Pentagrama, com a conseqncia de que a despeito da
pureza e elevada disposio do vidente, a esfera de percepo invadida por quaisquer
entidades que possam estar nas vizinhanas astrais. Nem sempre a obsesso ou a
possesso elementar o clmax da omisso do adequado banimento, mas pelo fato de
entidades indesejveis passarem sem barreira diante da viso interior, no haver
qualquer continuidade ou consistncia na viso. Conseqentemente, ao registr-las, o
vidente, mais ou menos temeroso de confiar em seu pr prio discernimento nesses
elevados assuntos, relata a viso inteira juntamente com os pontos no-essenciais. Isto
ocorre em vrios exemplos, e apenas quando a esfera astral extraordinariamente

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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vigorosa e radiante, possuindo uma luz espiritual atravs da qual nenhuma entidade astral
ousa invadir, a menos que o faa com permisso do vidente, que as vises podem ser
empreendidas com segurana sem o banimento de proteo preliminar.
H uma outra matria de carter preventivo que deve ser mencionada caso o leitor
deseje testar essas coisas. Ao fazer uso dos selos e sigilli exibidos em tais obras como O
Livro do Anjo Ratziel e The Magus, corre-se muito perigo, principalmente devido aos
grosseiros erros e falhas de impresso do hebraico que foram perpetuados. difcil dizer
se foram acidentais ou causados inteiramente pela ignorncia dos escribas. No difcil,
contudo, compreender que se o objetivo do selo estabelecer uma marca na luz astral
qual uma entidade correspondente se apresse em responder, um erro na inscrio textual
provocar um erro similar no tipo de marca astral. O resultado disto que o efeito ser
bastante diferente daquele que se espera, e mesmo prejudicial e perigoso. E isto exige,
acima de tudo, conhecimento e capacidade para apurar a exist ncia dos erros e corrigi-los.
Sob o risco de tornar a prescrio desagradvel para o leitor, imperioso que se reitere
que indispensvel um conhecimento da Cabala ao praticante da magia. Deve haver uma
familiarizao com a Gematria, o Notariqon e a Temurah ± os tr s mtodos envolvendo o
uso esotrico do nmero; do mesmo modo, com aquele aspecto da filosofia que trata do
simbolismo das letras hebraicas, do alfabeto mgico dos smbolos, nomes, nmeros e
idias que se prende aos Trinta e Dois Caminhos da Sabedoria. Embora haja uma grande
quantidade de erros crassos aparentes nos sigillae e texto impresso em hebraico mostrado
por Barrett, o texto impresso oferecido em ingl s, todavia, absolutamente preciso e til,
podendo ser consultado pelo leitor srio muito proveitosamente. A Secret Doctrine in
Israel (Doutrina Secreta em Israel) de Waite e sua Holy Kabalah (Santa Cabala) sejam
talvez as melhores obras possveis de serem obtidas que oferecem um esboo
inteiramente bom do teor doutrinrio da Cabala. Os trabalhos de magia de Cornlio
Agrippa, o Liber 777 e Sepher Sephiroth de Aleister Crowley e o meu Garden of
Pomegranates (Jardim de Roms) sero de grande valia ao fornecerem o alfabeto
fundamental com as atribuies corretas necessrias compreenso dos selos e smbolos.
Por outro lado, desejo abordar uma importante analogia existente entre os
processos da magia e da ioga. Esta analogia efetivamente digna de considerao na
medida em que argumentamos aqui que a ioga no deve ser colocada em oposio
magia e em superioridade a esta, estes dois sistemas constituindo, ao contrrio,
conjuntamente o que pode ser chamado de misticismo. Se supormos que nossas
correspond ncias com as hierarquias mgicas representam fatos da natureza ± no
podendo haver por um nico momento qualquer dvida real ± a base lgica filosfica que
se pode vincular magia como aqui a descrevi no estar muito distanciada daquela do
Caminho da Unio Real tal como descrito por uma autoridade como Swami
Vivekananda.
Discorremos pormenorizadamente aqui a respeito de vrios deuses csmicos
serem atribudos s Sephiroth da rvore da Vida, seres excelsos que so os regentes
inteligentes e guias dos processos evolutivos; a cada deus uma hierarquia apropriada est
subordinada, os mensageiros imediatos que so anjos, arcanjos, espritos e inteligncias.
Este sistema de classificao no se aplica somente ao macroscosmo, como tambm ao
microcosmo. A base da rvore da Vida foi de tal modo elaborada que se refere no s aos
desenvolvimentos csmicos como tambm s vrias partes ± psquica, mental e espiritual

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 140 -
± do prprio homem, focalizando assim o campo inteiro de atividade universal no interior
do prprio organismo do homem. Os doze signos do zodaco e os sete planetas so
atribudos rvore como um todo. Considerando-se o ser humano como um
microcosmo do grande universo estelar e csmico, todos os planetas, elementos e foras
nele tm curso, e mesmo os signos do zodaco esto claramente representados em sua
natureza. A energia do Carneiro* est em sua cabea; o Touro concede resistncia
laboriosa e fora aos seus ombros; o Leo representa a coragem de seu corao e o fogo
selvagem de sua tmpera, enquanto os joelhos, ajudando-o a saltar, esto sob o signo do
Bode. ** Isto, a ttulo de exemplo, supre a base para uma teoria subjetiva tanto ontolgica
quanto epistemolgica: o universo existe somente dentro da conscincia do homem,
contrmino a esta conscincia e suas leis so as leis da mente.
* ries. (N. T.)
** Ou melhor, Capricrnio. (N. T.)
No meu trabalho anterior, Garden of Pomegranates [Jardim de Roms] foi traada
uma correspondncia diagramtica entre as Sephiroth csmicas, as vrias partes do ser
humano e os chakras ou os centros nervosos centrais que existem no departamento psico-
espiritual da constituio humana. Outras atribui es luz das especula es precedentes
de imediato se revelam. As seguintes podem ser indicadas guisa de exemplo,
descrevendo para onde tendem minhas especula es. O chakra Anahata, que o centro
localizado no ou prximo do corao fsico, sendo uma correspondncia da sexta Sephira
da harmonia e do equilbrio, est assim em direta correspondncia com essncias
sagradas como Osris, Hlios, Mitra e o auto-resplandecente Augoeides. Thoth e todos os
seus divinos atributos de vontade e sabedoria entram numa perfeita correspondncia com
o chakra Ajna situado no centro da testa acima dos olhos, enquanto que o mais elevado de
todos os chakras, o resplendente ltus de mil ptalas, o chakra Sahasrara, localizado na
coroa, onde Adonai se regozija, alinha-se completamente com Ptah e Amon, a essncia
csmica oculta, o centro criativo secreto tanto do macrocosmo quanto do microcosmo. A
adoo da teoria subjetiva traz consigo conclus es de largo alcance, e um verdadeiro
entendimento deste ponto de vista far com que se compreenda conscientemente a
afirmao freqentemente proferida com loquacidade de que dentro do ser humano
existe o inteiro universo e o vasto concurso das foras universais. Minha teoria que
invocar Ártemis e Chomse e ter cooperado para se unir essncia que esses nomes
representam, por exemplo, ter realizado uma tarefa de suprema importncia que
idntica, devido a nossas correspondncias, ao despertar das foras do chakra Muladhara,
pondo assim em movimento a serpente Kundalini em sua ascenso da rvore da Vida at
a Coroa. Enquanto um sistema atingia seus resultados atravs de ritual e invoca es, o
outro atingia o sucesso atravs de concentrao e meditao. Ter atingido mediante a
invocao mgica uma identidade indissolvel com a sabedoria suprema de Tahuti ter
conquistado o poder claramente de ver atravs do olho interior da sabedoria verdadeira,
porquanto equivalente a um estmulo por meio de meditao do chakra Ajna, o rgo de
clarividncia espiritual e da vontade criadora. Ademais, ter unido a conscincia
individual atravs dos ritos da teurgia com Asar-Un-Nefer, e ter sido assimilado a sua
glria e inefabilidade, comparvel a ter guiado a Kundalini para Sushumna at o
crebro, e despertado as foras potenciais no chakra Sahasrara.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 141 -
Na prpria ioga, como pode claramente ser percebido num trabalho como Raja
Yoga de Vivekananda, ou na adaptao aproximadamente europia de seus fundamentos,
The Way of Initiation [O Caminho da Iniciao], de Rudolf Steiner, os resultados desse
sistema ± na medida em que diz respeito formulao e vivificao dos chakras ± so
produzidos quase que inteiramente pelo exerccio da vontade e da imaginao. Com
freqncia estes e outros autores escrevem: ªImagine uma chama ou um tringulo branco
no coraoº ou ªum ltus acima da cabea, ª e assim por diante. O despertar do esplendor
enrodilhado da Kundalini nas cmaras espinhais do chakra Muladhara cercado de
intensa concentrao e o imaginar de um novo tipo de atividade espiritual naquela regio,
fazendo a deusa-serpente adormecida endireitar suas espirais e projetar-se com mpeto
por Sushumna ao assento de seu Senhor interior. A magia, embora empregando uma
tcnica t tica diferente daquela da ioga, est semelhantemente fundamentada, como me
empenhei em demonstrar com certos detalhes, no uso da vontade e da imaginao com
dispositivos para estmulo dessas duas faculdades numa cerimnia bem ordenada visando
ao atingimento dos mais elevados resultados espirituais. E as advertncias da ioga no so
menos rigorosas ou verdadeiras do que aquelas que gozam de reconhecimento na magia.
Por meio da vitalizao dos chakras bem como por meio da invocao dos deuses
seguida pela evocao dos espritos administrativos, v rios poderes de fora e potncia
tremendas podem ser conferidos ao praticante. Aqueles que A Gocia atribui aos espritos
incluem um desenvolvimento espontneo de um conhecimento at ento latente da
cincia, filosofia e artes em suas conotaes mais latas e um enriquecimento das mais
excelentes faculdades emocionais que atrairo todos os homens para o fogo central de
cada um. Os poderes descritos por Patanjali nos Yoga Sutras como sendo conferidos por
Samyama em algum chakra ou idia so quase idnticos aos concedidos ao mago como
resultado das evocaes de A Gocia.
Desgraado aquele, contudo, que atuar na cobia dos poderes, pois para ele os
deuses permanecero silenciosos e no haver resposta! Os espritos se voltaro
maliciosamente para ele e o despedaaro da cabea aos ps. Se poderes so outorgados
ao mago, devero ser dedicados ao Santo Anjo Guardio. Ademais, a serpente do Ruach
deve ser incapacitada a ponto de no se recuperar mais, tendo que ser morta de modo que
no possa haver restrio presena do Anjo. Ento podero os poderes ser assumidos e
sendo assumidos ser usados como o Anjo julgar adequado. Tanto na ioga quanto na magia
o aspecto de conscincia da meditao e as invocaes ao deus o mais importante do
trabalho. Se ocorrer que o praticante seja contemplado com poderes, timo... mas a meta
primordial e sagrada nos dois sistemas a expanso da conscincia individual a uma
extenso infinita e a descoberta do centro real da vida. Correta e honestamente exercida,
com aspirao pura e nica, a magia capaz de conduzir a alma s alturas m ximas da
rvore onde ela recebe, de acordo com Jmblico, ª...uma libertao das paixes, uma
perfeio transcendente e uma energia plenamente mais excelente, participando do amor
divino e de um jbilo imenso.º E adicionalmente a expanso da conscincia confere ª...
verdade e poder, retido das obras e d divas dos maiores deuses.º

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 142 -
CAPTULO XIV
Onde uma certa quantidade de indivduos deseja participar de uma cerimnia
mgica composta na qual todos possam desempenhar um papel ativo, h uma forma de
ritual de grupo concebida para essa finalidade particular chamada de ritual dramtico.
Assim, cada pessoa que participa contribui com fora de vontade e energia a favor da
criao de uma manifestao espiritual. Quase todos os Mistrios da Antigidade
assumiam essa forma, e os ritos de Iniciao das fraternidades secretas de todas as pocas
eram conduzidos em conformidade com esse princpio. fato extremamente bem
conhecido os rituais serem particularmente teis em matria de iniciao. igualmente
corroborado que tais cerimnias desempenhavam um papel preponderante nos mistrios
mgicos do Tibete, onde a aceitao de um lanoo era celebrada por um rito consagrando o
discpulo execuo da Grande Obra. A histria do ioga budista Milarepa perfeitamente
clara quanto ao importante ponto de nas mos de seu guru ele ter recebido diversas
iniciaes cerimoniais, quando vrias divindades e poderes espirituais foram invocados
para dentro de um crculo, ou mandala, onde ele permanecia. Alm disso,
conhecimento comum o fato de o candidato iniciao bramnica testemunhar um ritual
de purificao e consagrao. Que havia rituais de iniciao no antigo Egito tambm
demasiado notrio para exigir especial nfase e o rumor de cerimnias mgicas no Egito
nos alcanou enriquecido de muitos detalhes sugestivos e significativos itens de
informao. Com efeito, se o princpio subjacente do ritual dramtico de grupo, inicitico
ou mgico, a consagrao da Grande Obra e a exaltao da conscincia, ento dispomos
de incontestvel evidncia de que cerimnias concebidas similarmente foram
representadas ao longo da Antigidade.
O princpio bsico idntico ao de todo ritual mgico, a invocao num sentido
ou outro de um deus. Mas no caso do ritual dramtico, o mtodo procede atravs de um
apelo esttico imaginao, retratando sob forma dramtica a corrente dos eventos
maiores na histria da vida de um deus, e ocasionalmente o ciclo terrestre de um homem
ideal ou homem-deus, tal como Dionsio, Krishna, Baco, Osris, etc., algum que atingiu
aquela sabedoria e plenitude espiritual pelas quais o teurgo tambm est em busca. Viver
na atmosfera de criao nova e repetir as faanhas realizadas pelo deus constitui um
mtodo sumamente excelente para a exaltao da alma. Essa idia chamada de princpio
da comemorao e um constituinte integral de toda cerimnia mgica. Da observao
de de Occulta Philosophia fica bastante evidente que H. C. Agrippa e aqueles dos quais
recebeu seu conhecimento entendiam perfeitamente o princpio terico envolvido nessa
forma de magia, o qual exige o ensaio do personagem do deus a ser invocado, ou uma
repetio dos acontecimentos que ocorreram no ciclo de vida de seu emissrio mundano.
No apenas deve este princpio fazer parte do ritual dramtico aprovado, como tambm
todo e qualquer aspecto da cerimnia mgica, seja realizado por um indivduo ou um
grupo, deve ser marcado pela entusistica repetio de uma srie de incidentes altamente
significativos da histria do deus, o ensaio servindo assim para dar autoridade e nfase
suplementares ao processo duplo de consagrao e invocao. Mesmo num aspecto
relativamente to trivial como a preparao preliminar das armas e instrumentos, Agrippa
corretamente recomenda a repetio das faanhas sagradas; e como um exemplo do
princpio comemorativo que ele advoga, podemos citar com proveito o procedimento
proveniente de The Fourth Book of Occult Philosophy (O Quarto Livro da Filosofia

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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Oculta) para a consagrao da gua: ªAssim, na consagrao da gua, devemos
comemorar como Deus colocou o firmamento no meio das guas, e de que maneira Deus
colocou a fonte das guas no paraso terreno... e tambm como Cristo foi batizado no
Jordo, tendo da santificado e limpo as guas. Ademais, certos nomes divinos tm que
ser invocados, que com isto esto em conformidade; como que Deus uma fonte viva,
gua viva, a fonte da misericrdia, e os nomes de tipo similarº.
O leitor poder, tambm, observar a forma comemorativa do ritual de A Gocia,
que citado no ltimo captulo deste livro. A invocao tenta descobrir as palavras de
autoridade que foram empregadas nas Escrituras para a execuo de certas proezas. No
constitui, entretanto, um exemplo especialmente bom desse tipo de ritual. As Bacantes de
Eurpides um exemplo de primeira categoria de qual forma deveria assumir um ritual
dramtico completo. O ritual deve ser construdo de tal modo que cada celebrante
desempenhe um papel, sem, ao mesmo tempo, tornar a ao do drama dispersa e
incoerente. As regras da arte teatral e do drama se aplicam perfeitamente construo
desses rituais.
A evidncia histrica a nossa disposio demonstra claramente que a ªpea de
paixoº da vida do grande deus Osris, rei do Tuat, era realmente um complexo ritual
dramtico que o invocava, uma cerim nia comemorativa envolvendo a repetio de quase
todos os atos que ocorreram a Osris no curso de sua vida lendria na Terra entre os
homens. Na base desta celebrao e de todos os outros tipos similares, temos a invocao
de um deus, ou do avatar em quem ele habita, e por meio desse ensaio dramtico o teurgo
procura exaltar sua imaginao e conscincia de sorte que possa culminar na crise esttica
da unio divina. Para o indivduo cujo senso esttico e potico altamente desenvolvido,
essa espcie de cerim nia , de longe, a mais eficiente. perfeitamente evidente que uma
representao simblica do que era antes um efetivo processo espiritual numa
personalidade altamente reverenciada s pode auxiliar na reproduo da unio colocando
o teurgo em relao de simpatia e harmonia mgica ± mediante o efeito em sua
imaginao ± com a tendncia ascendente da pea para a meta suprema. Em suma, o
teurgo imagina a si mesmo no drama sendo o deus que sofreu, ele prprio, experincias
similares, as vrias partes da pea e os rituais recitados servindo apenas para tornar a
identificao mais completa. este fato que levou certas geraes de magos
precariamente iniciados a adotar para o uso cerimonial mscaras de verdade, itens
grotescos e legtimos artifcios teatrais. Estaremos diante do tema central do ritual
dramtico quer escolhamos como exemplo a missa da Igreja Catlica Romana, a
realizao do ritual do Adeptus Minor da Ordem Hermtica da Golden Dawn, o Terceiro
Grau da Francomaonaria, ou a celebrao das orgias dionisacas tal como esboadas em
As Bacantes. Em cada caso a vida de um Adepto iluminado ensaiada sob plena forma
cerimonial, isto , a histria de um ser cuja conscincia foi tornada divina magicamente
celebrada. O mtodo de representao retrata um homem que morre real ou misticamente
e que realiza sua prpria ressurreio como um deus, irradiando sabedoria e poder
divinos. Visto que Osris era para os egpcios o melhor exemplo de algum que superou
sua humanidade e atingiu a unio divina, assim passando para a posteridade como o tipo e
smbolo de regenerao, vrios captulos e versculos do Livro dos Mortos representam o
morto identificando a si mesmo como aquele deus dirigindo-se aos assessores no salo do
julgamento. O ritual dramtico que os egpcios realizavam para a invocao de Osris em

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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bidos era uma pea que parece ter consistido de oito atos. ªO primeiro era uma
procisso na qual o antigo deus da morte, Upwawet, tornava reto o caminho para Osris.
No segundo a prpria grande divindade aparecia na barca sagrada, que era tambm
colocada disposio de um nmero limitado dos mais ilustres dos visitantes peregrinos.
A viagem da embarcao era retardada por atores vestidos como os inimigos de Osris,
Set e sua companhia... Seguia-se um combate no qual ferimentos reais parecem ter sido
dados e recebidos... Este evento parece ter ocorrido durante o terceiro ato, que era uma
alegoria dos triunfos de Osris. O quarto ato retratava a sada de Thoth, provavelmente em
busca do corpo da vtima divina. Seguiam-se as cerimnias de preparo para o funeral de
Osris e a marcha do populacho ao santu rio do deserto alm de bidos para inumar o
deus em seu tmulo. Em seguida era representada uma grande batalha entre o vingador
Hrus e Set, e no ato final Osris reaparecia, sua vida recuperada, e adentrava o templo de
bidos numa procisso triunfal*.º
* Os Mistrios do Egito, Lewis Spence.
No apenas havia os Mistrios de Osris, no tempo em que os mitos ligados ao
deus eram ensaiados, como tambm rituais de grupo para a invocao de sis, Hathor,
Amon e Pasht e outros deuses eram celebrados sem referncia a qualquer indivduo
humano cuja relao com eles fosse aquela de um avatar. Na missa catlica a vida e o
ministrio divinos do Filho do Deus cristo so celebrados, em seguida a crucificao de
seu salvador, e sua ressurreio final em glria seguida da assuno aos cus. Em pocas
mais antigas, esta celebrao da missa era acompanhada por procisses deslumbrantes e
cortejos dos mistrios cheios de suntuosidade, esplendor e pompa, embora se deva
confessar que na ausncia da tcnica m gica toda essa ostentao externa contava muito
pouco. O Terceiro Grau dos maons dramatiza o assassinato do Mestre, Hiram Abiff, e
sua ressurreio se segue posteriormente por um ato m gico, o soar da palavra m gica
perdida devolvendo H. A. vida.
Os eventos, ricos em movimento, realizao e organizao na vida do lend rio
fundador da Ordem Rosacruz, Christian Rosenkreutz, tambm o smbolo de Jesus, o
Filho de Deus, so totalmente dramatizados com grande beleza no ritual de Adeptus
Minor da Ordem da Golden Dawn. Sua finalidade, tambm, que atravs da simpatia
atuando sobre uma imaginao refinada, o teurgo possa identificar a si mesmo com a
conscincia exemplar da qual Rosenkreutz era o smbolo, e cuja histria est sendo
repetida ante ele. Numa cena, a mais importante e eloqente desse ritual, o principal
oficiante hierofntico visto deitado como se estivesse morto no pastos ou tmulo
mstico. Por meio de oraes e invocaes, o Adepto simbolicamente ressuscitado da
tumba em cumprimento da profecia da grande fundador. Na hora solene da ressurreio,
quando a cerimnia revela a ressurreio do Adepto como Christian Rosenkreutz do
pastos onde ele estava enterrado, o Adepto Maior profere triunfalmente: ªPois sei que
meu redentor vive e que ele se postar no derradeiro dia sobre a Terra. Eu sou o caminho,
a verdade e a vida; ningum vir ao Pai a no ser por mim. Eu sou o purificado; eu
atravessei os Portais das Trevas para a Luz; lutei sobre a Terra pelo bem; findei minha
obra; eu adentrei o invisvel. Eu sou o Sol no seu nascer. Eu passei atravs da hora
nublada e noturna. Eu sou Amon, o Oculto, aquele que abre o dia. Eu sou Osris
Onnophris, o Justificado. Eu sou o Senhor da Vida que triunfa sobre a Morte; no h
nenhuma parte de mim que no pertena aos deuses. Eu sou o preparador da senda e

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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aquele que resgata para o interior da Luz. Que aquela Luz surja das Trevas! Antes eu era
cego, mas agora vejo. Eu sou o reconciliador com o inefvel. Eu sou o habitante do
invisvel. Que o brilho alvo do Esprito divino desa!
Essa pe de xtase no para ser interpretada como um mero discurso de palavras
grandiloqentes. Se o Adepto realizou adequadamente sua obra mgica, e se encobriu
perfeitamente com a forma mgica apropriada, e se identificou com a conscincia do
deus, os outros participantes da cerimnia experimentaro uma exaltao paralela ao
discurso de triunfo.
As formas mais usuais do ritual dramtico tais como aplicadas s inicia es
funcionam aproximadamente mais ou menos da maneira que se segue. Aps sua entrada
nas cmaras externas do Templo de Iniciao, onde ele imediatamente vendado, vestido
com um toga preta e circundado trs vezes pela cintura com um cordel, o nefito
conduzido pelo guardio s esta es onde esto presidindo oficiantes nos pontos
cardeais. O objetivo da venda representar a cegueira da ilusria vida mundana e a
ignorncia nas quais o ser humano incorrigvel se debate, vtima involuntria da tragdia
perpetuamente representada de nascimento, decadncia e morte dolorosos. O cordel
triplo para representar os trs elementos maiores: fogo, ar e gua; a toga preta para
representar tambm o negrume da vida e Saturno, que morte, o grande ceifador de tudo.
O nefito circumpercorre o templo diversas vezes, e durante seu circumpercurso os
oficiantes, que devero ser no futuro seus instrutores mgicos e que igualmente
representam os deuses sumamente benfazejos, exigem do nefito as afirma es de seus
objetivos e aspira es. Este procedimento automaticamente chama nossa ateno para o
Livro dos Mortos, onde no captulo CXLVI e naqueles que se seguem a este, os anjos e os
deuses encarregados dos pilones sagrados ou as grandes esta es a serem ultrapassadas
pelos mortos a caminho do Amentet, indagam destes ltimos seus negcios. Como reao
sua resposta de que o nome do guardio conhecido ± com cujo conhecimento o nome
no seno um smbolo ± e que ele vem para responder a Thoth, conseqentemente em
busca da sabedoria superior, cada um deles lhes do permisso para prosseguir. ªPassa,
diz a sentinela do pilone. Tu s puro!º
possvel ver no Museu Britnico um excelente ritual de iniciao intitulado ªO
Mistrio do Julgamento da Almaº, reconstrudo por M. W. Blackden a partir dos
captulos de O Livro dos Mortos que tratam da ascenso do morto ao salo do
julgamento, e sua beatificao na ilha da verdade. Demonstra de uma maneira
extremamente boa que pode muito bem ter sido que os textos que chegaram a ns sob o
ttulo de O Livro dos Mortos eram fragmentos de um ritual de iniciao usado na poca
em que o Egito florescia com os Sacerdotes-Reis-Adeptos o dirigindo. O ritual do nefito
da Golden Dawn, de modo semelhante, incorporou em si elementos egpcios muito
similares. Neste ritual vrios oficiantes, representando os deuses csmicos, retardam o
progresso do nefito em seu circumpercurso das esta es do templo. ªTu no podes
passar por mim, diz o Guardio do Oeste, a menos que possas dizer meu nome.º E a
resposta em nome do candidato dada: ªEscurido o Teu Nome! Tu s o Grandioso da
Caminho das Sombras.º Diante disto profere-se a prescrio: ªFilho da Terra, medo
fracasso. S tu, portanto, destemido, pois no corao do covarde a virtude no habita! Tu
me conheceste, assim segue em frente! ª medida que o ritual prossegue com muitos
desafios e respostas semelhantes vrios pontos de instruo mgica so apresentados,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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acompanhados por consagraes pelo fogo e a gua, purificando assim o nefito para a
jornada posterior. Estas consagraes efetuadas pelos representantes dos deuses no
templo nos pontos cardeais constituem a preparao para a realizao da Grande Obra.
Por meio de invocaes as foras celestiais do alm so infundidas no ser do nefito,
dotando-o de coragem e vontade que o capacitam a perseverar resolutamente at o fim.
Ento a venda, o cordel e a veste negra so removidos, dando lugar a um manto ou faixa
atirados aos ombros para simbolizar a pureza da vida e a grandeza da aspirao que
atingiu o candidato. Terminadas as consagraes e concludas as invocaes das
essncias, um certo conhecimento fundamental de magia e o alfabeto filosfico
comunicado sob um voto de segredo. Isto, como um todo, omitindo-se um grande nmero
de pontos secundrios e variaes triviais, constitui a base do ritual de iniciao do
nefito.
Se no houver, todavia, o prosseguimento do trabalho mgico prtico em seu
prprio interesse, essas iniciaes e rituais no tero qualquer proveito para o nefito.
Que servem efetivamente de preparao verdadeiro, e tambm transmitem uma certa
consagrao e sacramentalizao tornando a tarefa do nefito mais compreensvel e
talvez menos perigosa devido a virtude deles. A ttulo de confirmao, lembraremos que
Milarepa depois de suas iniciaes foi imediatamente aconselhado por Marpa a iniciar o
trabalho prtico, que em seu caso era meditao e concentrao. Ao aprendizpreparado
seja por meio de treino seja por meio de alguma peculiaridade de nascimento ± o qual, em
qualquer caso devido reencarnao implica numa ateno anterior a estas coisas ± a
iniciao cerimonial tem um efeito distinto ao conceder ao aprendizuma viso ef mera,
porm resplendente da meta espiritual buscada por ele e que ele agora indistintamente
encara. E de fato assim se os oficiantes do templo forem hierofantes no apenas no
nome mas em realidade, devidamente versados de um ponto de vista prtico na rotina e
tcnica mgicas, pois quando um oficiante do templo representa o papel de um deus, se
ele estiver familiarizado com os mtodos da tcnica mgica, assumir a forma daquele
deus to perfeitamente que as emanaes magnticas provenientes do deus nele fluiro
para a alma interior do nefito. Esse assumir de formas divinas tal como anteriormente
descrito, pode ser levado bastante longe, mesmo ao ponto da efetiva transformao, e h
registro de exemplos aut nticos nos quais o nefito, se suficientemente sensitivo, v
distncia no salo no simplesmente um ser humano atuando arbitrariamente como
hierofante, mas sim uma gigantesca figura divina, fulgurante e espantosa, do deus que o
homem representa cerimonialmente. Quando, como afirmei, os hierofantes so magos
treinados, como eram na poca do antigo Egito, a iniciao dos nefitos no se limitar a
ser um servio formal sem significado, mas uma cerimnia de extrema realidade e
poder.
Isto concerne aos rituais de iniciao. O ritual dramtico que no envolve
nenhuma questo de iniciao bastante similar do prisma da concepo e execuo.
Diversos indivduos ensaiam em concerto para seu prprio mtuo benefcio a vida de um
deus, e por meio de repetidas invocaes, comemorando mediante o discurso e a ao
incidentes e acontecimentos da histria daquele deus, e t m xito em fazer aparecer o
deus numa rea consagrada. Acatando a tcnica mgica e exaltando a si mesmos
suficientemente alm do plano dualstico normal de consci ncia ocorrer uma unio
duradoura entre os participantes e a divindade. As Bacantes um exemplo notvel de um

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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ritual dramtico grego. Na verdade, de um ponto de vista cerimonial, tudo que um ritual
dramtico deve ser quanto forma. E to excelente que aqueles que nele tm interesse
hoje o fazem devido ao seu sentimento de que se trata de uma esplndida tragdia teatral.
No caso de uma companhia de indivduos iniciados que esto bem familiarizados com a
invocao, trabalhando simpaticamente entre si, e exercendo a vontade e a imaginao na
forma mgica prescrita, a pea pode ser transformada numa poderosssima invocao
dramtica de Dionsio. A traduo em versos rimados do Professor Gilbert Murray mais
uma obra-prima clssica de poesia recriativa do que uma traduo literal do grego,
transmitindo com suma fidelidade a atmosfera religiosa e o esprito ditirmbico da
venerao a Baco. H nesta pea uma suplicao ao deus no estilo exaltado to tpico de
todas as invocaes:
ªAparece, aparece, qualquer que seja tua forma ou nome
Touro da Montanha, Serpente de Cem Cabeas,
Leo de Flama ardente!
Deus, Besta, Mistrio, vem! ... ª
Abordando o mesmo tema mgico, h um esplndido hino a Dionsio proveniente
dos Hinos msticos de Orfeu, traduzido por Thomas Taylor:
ªVem, abenoado Dionsio, o variamente nomeado,
De face taurina, gerado do trovo, Baco afamado.
Deus bassariano, de universal poder,
De quem espadas, sangue e ira sagrada causam prazer:

No cu regozijando, louco, Deus de alto som,
Furioso inspirador, da vara o portador:
Pelos Deuses reverenciado, que com a humanidade est presente,
Propcio vem, com mui regozijadora mente.º
Muita prtica e ensaio se fazem necessrios para dar eficcia a esses rituais
dramticos, alm do trabalho mgico que se segue, como foi salientado. Sem este ltimo
absolutamente nada pode ser efetuado. A tcnica astral de ascenso nos planos,
investigando-se os smbolos pela viso, a formulao das formas ou mscaras dos deuses
e a vibrao dos nomes bem como as celebraes de alguma forma de eucaristia
representam necessidades no caminho da magia. verdade que se exige uma enorme
quantidade de pacincia, mas isto se verifica verdadeiro em relao a todas as coisas que
valem a pena de uma maneira ou de outra. O teurgo dever prosseguir diariamente com
essas prticas invocatrias e rituais at atingir o estgio em que se sinta que detm o
poder sob seu controle. Na verdade, o que h de mais essencial para o sucesso em todas
as formas de magia ± seja o ritual dramtico ou qualquer outra coisa ± a perseverana.
No importa o que mais seja feito, o mago deve cultivar a pacincia. mister que ele se
prenda com firmeza e sem desnimo a um programa pr-organizado de trabalho mgico.
O curso que ele formulou e jurou executar representa o logos de sua vontade, do qual ele
no ousa se desviar uma nica polegada ou mesmo uma frao de polegada. Temores e
dvidas igualmente o assaltaro por certo. Amigos e inimigos igualmente ameaaro a
paz de sua mente e a serenidade de sua alma, e tentaro maximamente perturbar seu
equilbrio espiritual com tagarelice ociosa a respeito do perigo da magia e a incerteza de
seus resultados. A hoste inteira do cu, para mencionar s de passagem as mirades de

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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legies do inferno, conspiraro e estaro soltas contra ele. Mas somente se ele desistir,
desprezando seu voto e rejeitando sua aspirao, estar o mago irreversivelmente perdido.
O desastre horrendo estar espreita frente! Uma vez tenha o voto mgico sido
assumido voltado para o sucesso, ele ter que perseverar resolutamente sem se preocupar
com seja l o que for que acontea. Se for colhido pela morte no desenrolar de seu
trabalho, que prossiga, mesmo assim, adiante, de uma vida para outra, com a alma bem
concentrada e o olhar espiritual fixado firmemente nas alturas, fazendo um vigoroso
juramento de que dar continuidade a esse labor. Lvi uma vez observou que o mago tem
que trabalhar como se fosse detentor da onipotncia e como se a eternidade estivesse a
sua disposio. Ocorre-me uma lenda singela, porm bela, na qual esse tema est
presente, incitando o mago a seguir frente para a Casa do Repouso sem interromper seu
empenho, isento de dvida e medo, trabalhando por aquela meta que ele primeiramente
criou e que agora considera nebulosamente na distncia long nqua da aurora dourada na
Terra Sagrada. Mal conhecida atualmente e esporadicamente objeto de referncia,
aparece num pequeno livro intitulado The Book of the Heart Girt with the Serpent (O
Livro do Corao Cintado pela Serpente), de Aleister Crowley. Embora eu no advogue
em nome deste poeta, considero, contudo, essa pequena obra uma das mais profundas e
primorosas jamais escritas. A citao abaixo serve como exemplo tanto de sua prosa
quanto de suas idias relativamente questo que agora abordamos.
ªHouve tambm um colibri que falou a Cerastes e lhe implorou veneno. E a
grande cobra de Khem, o Sagrado, a serpente Uraeus real, respondeu-lhe e disse: Eu
velejei sobre o cu de Nu no carro chamado Milhes de Anos e no vi qualquer criatura
acima de Seb que fosse igual a mim. O veneno de minha presa a herana de meu pai, e
do pai de meu pai... Como d-lo a ti? Vive tu e teus filhos como eu e meus pais vivemos,
mesmo at cem milhes de geraes, e pode ser que a misericrdia dos Poderosos
conceda aos teus filhos uma gota do veneno da Antigidade.
ªEnto o colibri afligiu-se em seu esp rito e voou para as flores, e foi como se
nada tivesse sido conversado entre eles. Entretanto, pouco depois, uma serpente o feriu e
ele morreu.
ªMas uma bis que meditava s margens do Nilo, o belo deus, ouviu e atendeu. E
ps de lado seus modos de bis e se tornou como uma serpente, dizendo: Talvez numa
centena de milhes de milhes de geraes de meus filhos eles obtenham uma gota do
veneno da presa da Exaltada. E vede: antes que a lua crescesse trs vezes ele se
transformou numa serpente Uraeus e o veneno da presa foi nele e em sua semente
estabelecido por todo o sempre.º
Para o mago esse esp rito sublime de vontade e determinao indomveis que
nada pode vencer que indispensvel. o poder da vontade que de facto constitui o
mago e na ausncia deste poder nada de qualquer monta pode ser feito. A realizao no
atingida em quatro e vinte horas, nem mesmo em vrios pores-do-sol; a viso
resplandecente e o perfume que consome a prpria substncia da alma podem estar
muitos anos no futuro ± mesmo muitas encarnaes nas vagas trevas do porvir. Qui
para alguns a concretizao do desejo mais ntimo e da aspirao por Adonai seja uma
meta que pertence a um outro mundo, um outro eon e exista na natureza de um sonho.
Outros indiv duos podem julgar este um objetivo cujo doce fruto se torna rapidamente
dispon vel mo com escasso dispndio de trabalho para ser colhido. Num caso ou no

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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outro nenhum aprendiz est na posio de afirmar no princpio em que momento a meta
poder ser alcanada. Tampouco se trata de um problema que merea preocupao pois a
alma cresce e progride medida que a compreenso e a intuio se expandem atravs de
atos sucessivos do esprito na estrada da magia da luz. As asas se tornam ento mais
vigorosas, o prprio vo se tornando mais longo, e a lmpada interior alimentada com o
azeite da sabedoria permanece continuamente acesa. Ao mago imperioso considerar
sempre esta luz interior e lev-la pacientemente consigo pelos desvios e estradas dos
homens, at que ele se transforme nessa luz. Acima de tudo o que exigido aquela
imperturbvel aspirao e vontade indomvel ... da ao trabalho! Que a aspirao do
mago seja como a da sbia bis de Khem. Dispa-se de seus modos humanos e vista-se
daqueles do deus! O Conhecimento e a Conversao podem ser uma ddiva que no lhe
seja concedida por centenas e milhares de anos, mas quem sabe para onde o esprito se
inclina? Pode ser que por inflexvel determinao, como aquela da bis, para lograr a
meta, no importa quanto tempo possa levar, floresa a flor dourada da vida de Adonai no
interior do corao mais celeremente do que de outra forma poderia ter sido o caso.
Enquanto isto, deve-se dar prosseguimento ao trabalho mgico. Ao teurgo
compete diariamente ascender nos planos num esforo de elevar-se mais e mais, e lutar
por seu caminho para as esferas translucentes da luz lmpida do fogo. A passagem de cada
estao ver sua aspirao cada vez mais forte, transmitindo-lhe a fora para desimcumbir
sua tarefa de conquista e unio mgicas. Todas as coisas t m que ser trazidas para dentro
da esfera de sua vontade, tanto os cus excelsos quanto os infernos mais inferiores. Essa
vontade tem que ser imposta aos mais vis habitantes do astral e estes tero que se curvar
diante de todo desejo seu e todo seu domnio. bvio que sobre os ombros do mago pesa
uma tremenda responsabilidade, a qual cresce a cada passo frente que ele d, e medida
que transcorre cada hora de sua carreira. ªA natureza nos ensina, e os orculos tambm
afirmam, que mesmo os germes nocivos da matria podem igualmente ser tornados teis
e bons*.º Conseqentemente, a responsabilidade que cabe ao mago como um penhor
sagrado esta: a ele e somente a ele compete a tarefa de transformar o universo e de
transmutar os elementos grosseiros da matria na substncia do esprito verdadeiro. Toda
sua vida ter que se transformar numa constante operao alqumica e durante esta vida
ele distilar no alambique de seu corao a grosseria do mundo para que se converta na
ess ncia dos cus sem nuvens. Sua cabea, tambm, tem que se elevar alm das nuvens
medida que ele, de p e ereto, ter seus ps firmemente sobre a terra multicolorida.
Somente tenacidade e persist ncia facultaro essa retido do esprito e esse poder
adamantino da vontade. E estes so os plos g meos que proporcionam resist ncia e
extenso ao bculo do mago. Todos os ramos da teurgia devem ser objeto de persist ncia
ao longo dos anos, no maculados pela cobia pelos frutos das aes do mago. Em todos
os casos, como todos podem ver, a arte divina constri carter e vontade e no devido
tempo um karma favorvel ser criado em cujo senda nenhum obstculo ousar se
interpor, quando o Anjo se apressar em elevar a alma ± sua amada h tanto tempo, e
consumar as npcias msticas prolongadas para tantos numa idade exaustiva. ªNesse dia o
Senhor ser Um, e Seu Nome ser Um.º
* Os Orculos Caldeus, trad. de W. W. Westcott.
E mesmo que no atinjamos a unidade com Adonai, h na magia um grande ganho
visto que por meio dela buscamos transmutar o grosseiro no sutil e no puro. E esta a

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 150 -
redeno do mundo. Muito brevemente todo o nosso ser circundar um sol invisvel de
esplendor e seremos mais e mais atrados para ele, como o ao atrado para o magneto.
Embora possam ser necessrios eons para que finalmente cheguemos perto, ainda assim
nos sentimos talvez como Ado deveria ter sentido se tivesse visto tremeluzindo atravs
das trevas do exlio em que lutava o brilho do paraso celeste e soubesse que este no
estava realmente perdido, mas que aps a purificao dele, Ado, lhe seria concedido um
pouco dele em que entrasse e caminhasse. Dispor desta certeza no pouca coisa. Trata-
se de uma viso que no deve ser encarada com trivialidade. Embora inevitavelmente
tenhamos que falhar e cair reiteradas vezes, h horas e minutos de prazer e alegria quando
os anjos das alturas trajam novamente ante nossa vista seus antigos aspectos de glria, e
ns somos fundidos no calor e fogo do xtase e contentamento, cientes de que ns, os
mortos por sculos e longas eras, podemos ainda ressuscitar de novo.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 151 -
CAPTULO XV
A relao terica que o moderno espiritismo celebra com magia passvel, numa
oportunidade ou noutra, de ser questionada. Por conseguinte, preciso fornecermos aqui
alguma resposta. Limitar-nos-emos a uma discusso sumria deste assunto j que parece a
este autor no se tratar de algo de grande importncia. Algumas palavras apenas sero
suficientes para demonstrar de que forma tal relao existe.
Embora alguns autores tenham anteriormente pensado diferentemente, no h uma
conexo real entre os fenmenos do espiritismo e os fenmenos que ocorrem na magia.
Uma palavra separa uma classe de fenmenos da outra. Uma palavra que, entretanto,
representa um grande abismo estabelecido entre as duas classes: vontade! Todos os
fenmenos espritas de transe e materializao so passivos. Esto totalmente alm do
controle consciente do mdium que, de maneira alguma, capaz de modificar, alterar ou
mesmo fixar o tempo desses fenmenos que ocorrem a ela (por fora de hbito diz-se ela;
concebe-se automaticamente que um mdium seja uma mulher, embora haja exce es,
claro). O mago, por outro lado, se empenha em treinar sua vontade de modo que nada
acontea em suas operaes de luz sem sua utilizao. Seja o que for que faa, realizado
de modo consciente, deliberado e com inteno plena. A nica exceo importante em
relao a isto ocorre quando a vontade se transformou num tal poderoso engenho
taumatrgico que toda a organizao do mago se tornou inteiramente identificada com
essa vontade, e todos os fenmenos de forma e conscincia ocorrem automaticamente
incluindo a extenso da vontade. Sua atuao pode ser comparada ao movimento de
qualquer membro ou msculo que, embora ocorrendo fora da volio consciente,
todavia executado pela fora da vontade. Mesmo relativamente ao que diz respeito ao
que chamado vulgarmente de ªmaterializaoº, o mago controla a apario de um
esprito. E no apenas isto pois possvel para ele fazer esse esprito aparecer mediante
suas conjura es e limitar as atividades do esprito a uma certa rea prescrita atravs do
poder de sua vontade. A forma visvel do esprito composta das grosseiras partculas de
fumaa de incenso, deliberadamente queimado com essa finalidade. Ademais, o mago
detm o poder de fazer o esprito responder inteligentemente s perguntas e de bani-lo
quando sua presena deixar de ser necessria. Isto se aplica, que fique reiterado, somente
ao que concerne ao aspecto inferior do trabalho visto que evoca es so universalmente
reconhecidas como pertencentes aos graus mais baixos da tcnica. E quanto magia da
luz ? Esta tambm est de acordo com a vontade mgica. Quando advm aquela suprema
crise na invocao na qual o ego tornado passivo para o advento do noivo e, com temor
e tremor ele cede seu prprio ser, essa renncia conforme uma determinao consciente
e sob vontade. Estas poucas observa es devem bastar para mostrar de maneira
conclusiva que as duas ordens de fenmenos residem totalmente em planos diferentes e
que no existe nenhuma conexo entre as duas. O espiritismo parece se referir quase que
inteiramente produo de fenmenos fsicos, eles mesmos a finalidade desta produo,
sendo que em qualquer caso esses fenmenos dificilmente conduzem a qualquer espcie
de prova da sobrevivncia e continuao da existncia da alma. O outro sistema, a
teurgia, diz respeito a um domnio nobre e ao desenvolvimento de grandes poderes no ser
humano. O mago procura unir sua essncia a uma realidade profunda, duradoura, na
aspirao de um conhecimento espiritual, de modo que seja possvel para ele apreender
com sabedoria e intuio sua suprema imortalidade, incorruptibilidade e eternidade.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 152 -
A fim de discutir o espiritismo inteligentemente necessrio voltar aos princpios
fundamentais formulados em pginas anteriores. A teurgia concebe a remoo dos
invlucros da alma aps a morte do corpo fsico de maneira idntica teosofia de
Madame Blavatsky. Seguindo-se morte do corpo, que o veculo visvel dos princpios
superiores, o ser humano real, perfeitamente intacto embora subtrado do corpo fsico,
impelido para o plano astral. Gradualmente ele ascende aos diversos palcios que foram
autocriados pelo tipo de vida que acabou de ser vivida; nestes palcios ele repousa ante o
Ancio dos Dias, assimilando sua experincia terrestre e transformando-os em recursos
para uma nova encarnao. A magia, acompanhando a Cabala, abraa a idia filosfica da
reencarnao ou Gilgolem das almas. Realmente, na medida em que os magos vo em
direo desta teoria filosfica sustentam que em certos estgios de desenvolvimento,
quando o organismo humano se torna luminoso, refinado e sensitivo por meio de
reiteradas consagraes e invocaes, as lembranas de Neschamah com suas emoes e
poderes mais elevados se infiltram em Ruach, trazendo consigo a clara lembrana de
existncias passadas.
Aps a morte fsica, a trindade de princpios que o ser humano verdadeiro
permanece no astral encerrada no Ruach e seu Nephesch. A desintegrao, j tendo sido
desencadeada pela ocorrncia da morte fsica, prossegue ainda. Nephesch, que o veculo
das paixes, emoes e processos instintivos, ento descartado da constituio.
Permanece, contudo, como uma entidade nesse plano, animado at um certo ponto pelas
foras e energias cegas com as quais ele entra em contato. Lenta mas continuamente ele
se desintegra se deixado s, de modo que tal como o corpo fsico dissolvido
reintegrando o p da terra, Nephesch dissolvido para os elementos do plano astral. Por
esta razo, os teurgos probem vises e experincias nesse domnio astral inferior. A
nada pode ser encontrado que possua valor espiritual visto que se trata do mundo da
matria em decomposio de Nephesch e da desintegrao. Nephesh descartado, o ser
humano interior encerrado em Ruach ªascendeº s camadas intermedirias do astral,
onde lentamente a essncia dos pensamentos mais refinados, as experincias e emoes
mais nobres so destiladas das partes mais grosseiras, sendo assumidas na prpria
natureza de Neschamah. Esta separao de afinidades concluda, so assimiladas e
expandidas no astral divino, Amentet. Neste momento necessrio mencionar o emprego
do verbo ªascenderº e outros verbos utilizados num sentido similar. Desnecessrio
salientar que um sentido metafsico sugerido porquanto os planos subjetivos dos
mundos invisveis no esto dispostos um sobre o outro como os andares de um arranha-
cu, nem se envolvem como as camadas de, por exemplo, uma cebola. Sendo metafsicos,
todos os mundos se interpenetram e se fundem, o mundo fsico ou mais externo sendo
penetrado pelo mais interno e as esferas mais sutis. Ascender no astral, portanto, apesar
de ser uma expresso literalmente enganosa, tem a finalidade de expressar o fato da
partida de uma plano mais grosseiro efetuando-se uma subida a um mundo mais rarefeito
e menos denso.
Ao considerar o espiritismo, a tradio mgica afirma que com os cadveres
astrais ou Qliphoth, como so denominados, que os espritas principalmente se ocupam.
Atravs do transe passivo e negativo, os princpios mais elevados so forados a
recuarem, no deixando nenhum vnculo com os veculos inferiores do mdium ou
proteo para estes. A porta franqueada admisso de quaisquer entidades que se

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 153 -
encontrem nas vizinhanas astrais. J que as almas dos seres humanos e seres anglicos
ascendem ao astral divino, a maior parte dessas entidades no astral inferior so os
elementais mais grosseiros, os administradores dos fenmenos naturais e os Qliphoth em
decomposio ou casces adversos. Conseqentemente, o transe esprita negativo
fundamentalmente implica a obsesso dos resduos em decomposio e restos imundos
inerentes quele plano. Diante disso a questo que se coloca a seguinte: ªPor que, se os
espritos que se comunicam com as mdiuns so meros casces astrais, acontece de
ocasionalmente exibirem intelig ncia e razo? ª
A palavra ocasionalmente bastante gratificante. Um dos fatos mais
correntemente mencionados pelos investigadores a aus ncia de coer ncia e intelig ncia
nas mensagens obtidas do ªoutro ladoº. No caso, contudo, de se perceber um leve
lampejo de intelig ncia nos absurdos verbais geralmente transmitidos aos mdiuns, a
explicao racional dada por Lvi claramente aplicvel. Lembrar-se- que Lvi define a
luz astral como o agente mgico, e que em sua substncia esto registrados todos os
pensamentos, emoes e aes. O corpo astral, um dos aspectos de Nephesch, sendo
composto da matria sutil da luz astral, participa da definio de Lvi. Numa pgina
anterior, indiquei a conexo entre a concepo acad mica formal do inconsciente e a
concepo cabalstica de Nephesch, do qual o corpo astral um aspecto. Neste veculo,
portanto, esto registrados todos os pensamentos que um indivduo teve durante a vida,
todas as percepes e sensaes que experimentou e todas as aes que executou. Quando
aps a morte esse Nephesch descartado galvanizado para a atividade de um aparente ser
vivo, animado por intelig ncia atravs da energia deslocada tanto pelo mdium em transe
quanto pelos pensamentos dos participantes da sesso esprita, esse cadver astral pode
exibir uma rplica da intelig ncia que em vida o utilizava.
Esse amplo esboo d conta da maioria das comunicaes recebidas via fontes
espritas, embora seja necessrio afirmar com toda justeza em relao a essa, como em
relao a todas as outras generalizaes, que h excees, embora os mdiuns capazes de
penetrar os planos mais elevados do esprito sejam extremamente raros. O mdium, uma
vez tenha aberto a porta de sua organizao astral e psquica, incapaz de controlar a si
mesmo, e tampouco capaz de empregar discernimento quanto ao que ir entrar ou no
pela porta aberta e tomar posse de sua personalidade. Naturalmente, essas observaes se
referem unicamente aos casos nos quais os fenmenos so genunos. Mas visto que h
tantos casos de fraude e embuste deliberados, pode-se recorrer s afirmaes que
acabamos de fazer que igualmente se prestam a explicar tais coisas. Sendo passivo, o
mdium no exerce controle do poder de produzir fenmenos quando a corrente psquica
cortada, por assim dizer; e quando os fenmenos lhe so exigidos pelo recebimento de
dinheiro, coisa bem simples simular a possesso genuna. mais simples ainda
pronunciar um palavrrio recheado de disparates que favoravelmente comparvel s
mensagens recebidas dos ªmortosº. Alm disso, pelo fato de a entidade obsessora ser das
mais baixas e das profundas da Terra, dificilmente se pode considerar sua associao com
o mdium edificante ou enobrecedor. Limita-se a ser uma influ ncia nociva, causando a
expanso e desenvolvimento de quaisquer tend ncias ou traos existentes no mdium.
Assim, a fraude, a decad ncia moral e o desregramento no requerem grande esforo.
Pode-se antecipar aqui uma explicao dos fenmenos fsicos mais gerais, parte
representativa do espiritismo, embora considerando-se que a teoria mgica desse assunto

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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esteja em completo acordo com a de Blavatsky, h pouca necessidade de repetir tais
teorias detalhadamente. Basta observar que a maioria das demonstraes psquicas,
quando autnticas, tm sua origem no comportamento e nos poderes do corpo astral.
Definida a substncia deste veculo como plstica, magntica e de grande fora tensora,
conclui-se que vrios de seus membros, devido ao desenvolvimento anormal, podem ser
exsudados do interior do corpo fsico e estirados a alguma distncia. Essa teoria explica o
deslocamento de objetos sem contato fsico, os fenmenos do Poltergeist e muitos outros
de carter similar. Quase todos se devem perturba o do equilbrio no aspecto
substantivo de Nephesch. Obviamente n o s o espirituais e n o comprovam nenhuma das
reivindicaes feitas a seu favor pelos espritas.
No caso do mdium esclarecida que, compreendendo a verdade intrnseca das
observaes feitas aqui, deseja reverter seus poderes passivos, a tcnica mgica
recomendvel. No espiritismo inexiste tcnica de transe, como inexistem mtodos de
prote o ou sele o a serem empregados. Uma vez esteja a porta astral entreaberta a
esmo, quem quer que entre pode fazer o que bem entender sem restri o. O mdium est
t o aberto obsess o, e mesmo mais devido natureza do plano astral, quanto
inspira o divina. Com a ajuda, entretanto, de algum dispositivo como o Ritual de
Banimento do Pentagrama, essa predisposi o para a obsess o elementar poder ser
facilmente eliminada. No interior de um crculo adequadamente consagrado, protegido
com os nomes divinos formais, o mdium pode induzir o transe sem medo ou perigo. A
recita o de uma invoca o apropriada de uma fora divina e o assumir astral de uma
forma de divindade antes do transe podem garantir uma categoria totalmente diferente de
resultado, realmente pertencente a um plano muitssimo mais alto. Enquanto que
anteriormente o mdium era uma presa indefesa de qualquer presena astral que visitasse
sua esfera urea, trazendo consigo contamina o e o odor desagradvel de corrup o e
abjeta putrefa o, adotando-se mtodos mgicos, tais excrementos podem ser
eficientemente impedidos de invadir a esfera da personalidade. E n o apenas isto, como
tambm entidades de classe definida, de natureza divina e espiritual, completamente
oposta aos ordinrios ªfantasmasº espritas, poder o ser invocadas para o mximo
proveito do mdium e o crescimento de seu poder espiritual.
N o julguei adequado descrever muitos tipos diferentes de operaes mgicas
neste livro, visto que n o ocupam nenhuma posi o eterna na constru o do santurio
celeste. Tampouco dizem respeito s limitaes prprias que tm que se circunscrever em
torno do Templo da Magia Santa da Luz. A despeito de n o estarem includos
necessariamente na conota o da express o Magia Negra, tais mtodos fazem fronteira
muito prxima a esse tipo de coisa. Visto que tendem para essa dire o, s o de pouca
utilidade para o aspirante em busca de Adonai e da bem-aventurana dos deuses. Existem
inmeras operaes menores para a aquisi o de objetos que se deseja, como livros, ouro,
mulheres e similares. H operaes de destrui o e fascina o, adivinha o e
transforma o e assim por diante. Estas s o apenas algumas que recebem absolutamente
demasiada nfase e aten o s expensas de assuntos mais importantes em engrimanos e
livros de instru o inferiores. Divorciados de aspiraes mais elevadas, s o inteiramente
reprovveis.
Um ramo razoavelmente importante da magia menor, embora n o negra, o
controle dos Tattvas ou das correntes prnicas vitais que operam na natureza. Mediante o

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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emprego dos smbolos de Tattvas, acompanhados por um conhecimento das horas
especficas do dia quando essas foras adquirem preponderncia e pureza, o mago que
assim o desejar poder abrir os portais do corpo e da mente s foras vivificadoras e
reanimadoras dessas correntes ocultas. Atravs desses recursos, ele obter descanso fsico
e psquico quando estiver em mar baixa e em caso de desvitalizao das foras de seu
ser. No Livro dos Mortos so mencionadas muitas transformaes mgicas das quais o
khu ou entidade mgica no ser humano capaz, e frmulas prticas para a produo de
tais transformaes como em falco, ltus, andorinha e assim por diante podem ser a
percebidas. Como tornar algum invisvel aos olhos dos outros, mesmo em meio a uma
grande multido, atravs da formulao de um invlucro astral um outro ramo dessa
magia cinzenta que existe entre a magia da luz e a negra. No posso dizer que o aspirante
ao Augoeides tenha muita utilizao para tais realizaes e poderes d bios.
A natureza da magia negra, que parece preocupar grandemente tantos histricos,
consiste quase que inteiramente no motivo sustentado na mente do operador. Quando
Lvi aborda este assunto e o da bruxaria em seus escritos ele se lana completamente
numa tangente, e seus soberbos exageros coloridos com toda a rutilncia e retrica sua
disposio tornam a leitura divertida. Que alguns o tenham citado em funo desse
assunto para uma interpretao literal, em lugar de descart-lo como mera verbosidade,
ultrapassa minha compreenso. Suas observaes acerca do bode de Mendes e a
venerao de Bafom em conexo com os templrios so simplesmente ridculas. Que
comentrio poder-se-ia fazer em relao s instrues absurdas fornecidas por ele como
sendo os supostos passos dados por aqueles envolvidos com a arte negra, a no ser que
seriam excelente material para os atuais thrillers ? Estou ainda para descobrir em que loja
de departamentos pode-se comprar velas feitas de gordura humana. Que ser humano
poderia ser obtuso ou louco o bastante para pensar em obter incenso misturado com o
sangue de um bode, uma toupeira e um morcego? Outras necessidades horrendas so a
cabea de um gato preto recentemente morto, um morcego afogado em sangue, os chifres
de um bode virgem e a crnio de um parricida! Ainda assim em seu Book of Cerimonial
Magic, o Sr. Waite teve a preocupao de pronunciar uma advertncia medonha contra a
gocia juntamente com o desenho grotesco de Lvi do crculo gotico para emprego com
os ªadereosº mencionados acima. Preparando-se para uma ofensiva devastadora contra a
magia negra, Waite posicionou sua artilharia mais pesada quando, na realidade, um
arremessador de ervilhas teria sido muito mais eficiente contra tal inimigo. Resta pouca
d vida de que Lvi estivesse ªse divertindo s custasº de alguns leitores e que estivesse
simplesmente cedendo seu talento para ritos l gubres impossveis, os rebentos de uma
imaginao curiosa, embora exuberante.
O hipnotismo e o ato de privar uma outra pessoa de escolha ou uso da vontade
constituem de fato uma das formas mais desprezveis de magia negra. Aqueles que
realmente empregam tais mtodos deveriam ser cuidadosamente evitados pelo teurgo tal
como ele faria com uma doena asquerosa. Os feitos absurdos ordinrios relativos
confeco de filtros, poes e figuras de cera para trabalhos de fascinao ou maldade
existem inteiramente abaixo da dignidade do mago sincero. O que pode talvez constituir
verdadeira magia negra o uso de selos e talisms carregados feitos por uma pessoa que
tenha adquirido poder mgico para a depreciao e dano de seu semelhante. Operaes
cujo objetivo seja evocar a sombra de um amigo ou parente falecido manifestao

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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visvel consistem de manipulaes da substncia astral e carecem de qualquer finalidade
til visto que perturbam os tranqilos processos de assimilao e construo de
faculdades que se processam no astral superior aps a morte fsica. Somente a vaidade
insana e a curiosidade desordenada poderiam ser satisfeitas pela necromancia. Este ramo
especfico da bruxaria est aparentado ao espiritismo, embora para sermos totalmente
verazes e justos tenhamos que admitir que os motivos deste ltimo culto realmente se
colocam num plano mais elevado e mais sincero. Em ambos os casos, entretanto, o
motivo no desculpa pois eles so uma abominao diante de toda a tendncia dos
processos da natureza.
Considerando-se que neste captulo tratamos largamente do astral, desejo mais
uma vez me referir t cnica da viagem astral que procurada pelo mago. Constitui
obrigao imperiosa para o teurgo investigar por completo, como foi exposto num
captulo anterior, em seu resplandecente e iridescente corpo de luz os nveis superiores da
luz astral, aqueles que fazem fronteira com os mundos criativo e arquetpico. A ele
cumpre tamb m penetrar intrepidamente em todo santurio protegido da, se
familiarizando com a natureza essencial e os variados aspectos que esse plano apresenta,
embora jamais deva perder de vista um importante fato a estar sempre presente em sua
mente. preciso que se esforce sempre para transcender esse plano. to-s um salo
de aprendizado. Por mais necessrias que sejam suas lies, uma vez assimiladas e
aprendidas a necessidade de permanecer nesse plano cessa, e as sempre esplndidas
Manses do Fogo e da Sabedoria devem ser buscadas. O corpo de luz espiritualizado
deve ser continuamente treinado e educado e sua substncia deve ser tornada a tal ponto
sensvel e refinada que de um corpo vago, sem forma, lunar ele renasce como um corpo
solar brilhante. neste corpo que o mago pode ascender s translcidas alturas espirituais
e ao fogo amorfo que se encontra al m. possvel que medida que o aprendiz diligencia
suas investigaes sistemticas nesse plano no esforo de descobrir a natureza de sua
composio psicolgica, chegar a certos portais, defrontando-se com guardies
armados. A despeito do poder do pentagrama, dos gestos e signos mgicos, da invocao
dos quatro anjos dos quadrantes e de outros dispositivos para ascenso e ultrapassagem,
tais guardas, sob nenhuma circunstncia, lhe daro o direito do ingresso, e tampouco lhe
daro a permisso para atravessar os portais que guardam. Em The Candle of Vision
indicado o empenho de A. E. para descrever essa experincia de mstica natureza. ªEnto
eu fui novamente lanado longe num vrtice e eu era a figura mais minscula em meio
vasto ar, e diante de mim havia um portal gigantesco que parecia grandioso com os c us,
e uma figura sombria ocupava o vo da porta e barrava minha passagem. Isto tudo que
consigo lembrar... ª Alguns mencionam ter este fato tamb m sido experimentado pelo
escriba do Livro dos Mortos j que naqueles captulos que se relacionam aos nomes dos
pilones, juntamente com os nomes das sentinelas, guardies e porteiros ang licos
algumas sugestes mgicas veladas de como passar por eles so dadas.
Nesse momento oportuno, antes de ir al m neste assunto da ascenso nos planos,
necessrio familiarizar o leitor com um aspecto importantssimo da t cnica astral que
no se deve esquecer jamais. Os habitantes do plano astral reagem de duas maneiras
diferentes e absolutamente distintas em relao ao pentagrama. A experincia dos
modernos teurgos neste ponto largamente corroborada por toda a tradio mgica dos
antigos. Eles testemunham que quando em face da estrela flamejante de cinco pontas

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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formulada pela vontade mgica alguns seres astrais se contraem perceptivelmente e
parecem desvanecer. Uma outra classe de seres, contudo, cresce e se expande a ponto de
abarcar todo o horizonte com esplndida luminosidade e brilho. A experincia de todas as
geraes de magos demonstra que o ser que se encolhe de medo do pentagrama ou foge
ou um demnio de face canina ou um elemental, tendo que ser tratados de maneira
apropriada. Por outro lado, o ser cuja apario no afetada pelo pentagrama e o ritual de
banimento conveniente, uma inteligncia espiritual, um anjo, um sublime ser celestial a
ser respeitado, amado e venerado.
Uma variao do smbolo do pentagrama empregada por outras pessoas com um
certo grau de sucesso uma cruz dourada encimada por uma rosa carmesim. O
simbolismo em ambos os casos idntico, embora alguns possam considerar que a cruz
apresenta associaes teolgicas desagradveis. um sinal dos quatro elementos
estendido aos quadrantes cardeais, enquanto que os coroa a rosa, smbolo da beleza,
nobreza e vida espiritual. Na prtica, sua aplicao um pouco diferente daquela do
pentagrama porque menos simples formular a Rosacruz com o basto do que com o
primeiro smbolo; o mago interpe em imaginao este smbolo entre o outro ser e ele
prprio sem tentar tra-lo.
O fato, portanto, de um anjo trajado de fogo e glria e portando uma espada afiada
de chamas barrar sua entrada ao pilone deve fazer o teurgo se deter, e se deter para refletir
pois parece indicar que at ali ele no est suficientemente purificado e sensvel em seu
corpo de luz para ser capaz de atravessar aquele pilone especfico do qual barrado. Deve
se constituir sua obrigao solene considerar como necessidade primordial o meio pelo
qual uma purificao ulterior pode ser efetuada. Deve-se infundir no corpo de luz uma
substncia espiritual proveniente de planos mais elevados e mais celestiais. O assumir
persistente de formas divinas e a transmutao de sua prpria forma astral naquela do
deus e a identificao com o carter sublime moral e espiritual do deus se revelar um
mtodo to infalvel quanto outros. Atravs deste mtodo, a substncia do corpo de luz no
devido tempo passar a participar do esplendor e efulgncia gneos da substncia do deus.
Talvez a melhor forma divina a ser assumida com esse propsito seja a do Harpcrates
sentado no ltus, o Senhor do Silncio, que o gmeo de Hrus, Senhor da Fora e do
Fogo. A forma convencional na qual geralmente retratado aquela de um beb
inocente, com o dedo no lbio, empertigado como um embrio acima de um ltus branco
que surge do mar. Em torno dele h um azul escuro profundo semelhante ao do smbolo
do Tattva do esprito, representando a noite que tudo abarca. O ltus o smbolo perene
da ressurreio e da eterna juventude e o beb representa inocncia, espiritualidade e
supremo repouso. ªO deus `sentado acima do ltus...'º afirma Jmblico em The Mysteries
(Os Mistrios), ª...significa obscuramente uma transcendncia e fora que em absoluto
no entram em contato com o lodo, indicando tambm seu imprio intelectual e empreo,
pois percebe-se que tudo que pertence ao ltus circular, a saber, tanto a forma das folhas
quanto o fruto; e s a circulao est ligada ao movimento do intelecto, o qual energiza
com identidade invarivel numa nica ordem e de acordo com uma nica razo. Mas o
deus estabelecido sozinho, e acima de um domnio e energia desta espcie, venerveis e
santos, superexpandidos e que residem nele mesmo, o que estar ele sentado visa
significar. ª O assumir mgico desta forma, especialmente o circundamento do corpo

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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astral pelo ovo azul-escuro ou ndigo, tem poder suficiente para banir quaisquer
influncias indesejveis porquanto eleva o mago acima desse domnio.
((ilustr. ± Harpócrates acima do lótus ± O Senhor do Silncio))
Essa tcnica particular da forma divina da Harpcrates especialmente
significativa mesmo no que diz respeito vida cotidiana. Quando se assaltado por
pensamentos indesejveis e emoes de dio pode-se conseguir alvio desta presso e at
assistncia e resistncia espirituais assumindo-se a forma desse deus. Por meio deste
assumir nosso ser transmutado para a configurao do deus e a mente elevada alm da
pequenez mundana por assimilao do carter e natureza da divindade. Isto implica,
seguramente, numa fora de imaginao e vontade, mas para a maioria das pessoas mais
fcil reter na mente imagens pictricas do que uma idia abstrata, qualquer indivduo
podendo ser treinado com um pouco de prtica para visualizar uma forma to simples e
bela como o beb acima do ltus. A nica dificuldade passvel de ser encontrada a
transfigurao do corpo de luz e a subseqente identificao e unio com o deus. Quanto
a isto, naturalmente, o treinamento se mostra indispensvel.
A vibrao de nomes divinos constitui uma prtica que sob nenhuma circunstncia
deve ser omitida j que medida que se procede a este exerccio os elementos grosseiros
so forosamente expelidos da constituio total, fsica, astral e moral, outros elementos
mais refinados e sensveis sendo introduzidos para tomar o lugar daqueles. Celebraes
freqentes da eucaristia constituem tambm um meio excelente de transmutar e exaltar a
substncia do ser total. Numa pgina anterior esta operao foi resumidamente descrita e
para enfatizar recapitularei a teoria que se acha por trs. Divorciada de todo dogma, a
essncia da eucaristia a seguinte: voc toma uma substncia simples como, por
exemplo, uma hstia de trigo, batiza-a com a sua mais elevada concepo de Deus, ou,
conforme o caso, em nome de uma essncia espiritual particular, consumindo-a a seguir.
Deste modo, por meio de magia simptica, uma efetiva transubstanciao de elementos
ocorre sob a presso da vontade. Aquilo que era antes terrestre se torna celestial. Aquilo
que era da Terra, mundano, transformado numa coisa dos cus. Uma hstia de trigo e o
vinho parecem se tornar quase que diretamente assimilados ao sangue, e absorvidos pelo
prprio ego. Na realidade, isto uma espcie de magia talismnica pois com a nomeao
da substncia o mago invoca a fora espiritual em conformidade com aquele nome, e
naquele telesmata fsico de po e vinho essa fora confinada como se fosse sua
habitao terrena. O fato de tal telesmata ser consumido pelo mago introduz em seu ser
um poder espiritual que em virtude de sua energia inerente expulsa elementos impuros de
seu ser, elevando e transmutando o ser humano integral a um plano mais grandioso. Desta
maneira se procede a transformao do corpo de luz de um escuro corpo lunar para um
corpo solar, um organismo resplandecente, ntido e de forma bem definida, que fulgura
como ao brilhantemente polido, capaz de atravessar todo pilone, penetrar os santurios
mais zelosamente guardados e ingressando na lista de assistncia dos guardies anglicos.
Com este corpo solar de substncia espiritualizada, a veste deslumbrante do Banquete de
Casamento, o teurgo no experimentar qualquer dificuldade para ascender nos planos a
partir de Malkuth atravs do caminho de Saturno at a esfera do Fundamento. * Do
Fundamento possvel para ele atravs da Seta da Aspirao e do Poder da Harmonia e
da Beleza para cima ± sempre para cima alm do deserto infecundo do Abismo ** no qual
ele monta o camelo cabalstico, *** recebido jubilosa e lisonjeiramente pela Rainha no

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 159 -
Palcio do Rei, que a Coroa **** santa da rvore da Vida. Chegado Coroa, o mago
no mais. No obstante, a ainda existe aquela conscincia superior da Vida Eterna que
constitui a individualidade real do mago ± aquela parte real dele da qual, talvez, tenha
estado raramente consciente durante as suas vidas anteriores sobre a Terra ± aquele
esprito primordial e universal, que pulsa e vibra invisvel no cerne do corao de todos.
* A Sephira Yesod, a primeira acima de Malkuth. (N. T.)
** Regardie faz referncia Sephira misteriosa Daäth. (N. T.)
*** Referncia ao caminho de Gimel (camelo) na rvore da Vida. (N. T.)
**** Kether, a Sephira mais elevada da rvore da Vida. (N. T.)
Escreveu Porfrio que ªas almas ao atravessar as esferas dos planetas vestem,
como tnicas sucessivas, as qualidades desses astros.º Visto que os planetas e os signos
zodiacais foram atribudos rvore e esto includos na implicao das dez Sephiroth, o
mago por meio desse processo da ascenso nos planos assimila as qualidades e
caractersticas mais elevadas de cada planeta e cada Sephira. medida que o skryer
ascende Luz suprema da Chama imperecvel da Vida incorpora em si mesmo o poder
inato dos planos pelos quais ele passa e como as caractersticas inferiores de seu ser so
dificilmente compatveis com a gnea majestade impessoal do domnio celestial, so
removidas deixando as caractersticas superiores como os augustos guardies do campo
da conscincia. Todas as caractersticas dos mundos excelsos so sucessivamente
assumidas pelo mago, e transcendidas at que ao fim de sua jornada m gica ele fundido
ao ser do Senhor de toda Vida. A meta final de sua peregrinao espiritual o xtase de
paz no qual a personalidade, o pensamento e a autoconscincia finitos, mesmo a elevada
conscincia dos deuses supremos, declinam cabalmente e o mago se funde na unidade do
Ain-Sof , onde nenhuma sombra de diferena ingressa.
CAPTULO XVI
Ao comear esboar e escrever este livro acerca de magia era a firme inteno do
autor elucidar todos os processos m gicos to simples e inteligivelmente quanto fosse
humanamente possvel e coerente com o tratamento exegtico de um assunto sumamente
difcil e complexa. Pelo fato de ter havido no passado tanta obscuridade deliberada e
matria propositadamente enganosa, pareceu a hora exata de produzir uma declarao que
pudesse ser utilizada de uma vez por todas como uma exposio clara e definida. O autor
espera ter sido fiel a essa inteno ao longo do texto, embora quanto a este ponto o leitor
deva ser o nico juiz. Ambigidade e por vezes deliberada tentativa de ludibriar mediante
o emprego de simbolismo difcil e a citao de extensas sries de nomes de autoridades
tm caracterizado muitos livros de magia, pondo a perder qualquer valor que eles
pudessem ter. Resta delinear neste livro uma frmula secreta de magia prtica de uma
natureza to tremenda ± encoberta como sempre esteve no passado pelo deslumbramento
de smbolos recnditos e oculta por pesados vus ± que este autor est em dvida se seria
s bio ou poltico se ater a sua deciso original. Poderia, claro, ter sido omitida do
contedo geral, mas foi necess rio inclu-la sob alguma forma a fim de tornar este tratado
moderadamente completo na medida do que concerne aos principais, embora elementares
aspectos da alta magia. O mtodo do qual nos propomos a falar aqui constitui uma
frmula to poderosa da magia da luz e to passvel do abuso e uso indiscriminados na
magia negra que se uma concepo de sua tcnica e teoria realmente para ser
apresentada, a inteno original deste autor tem que ser descartada. Ser preciso valer-se

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 160 -
do meio de um simbolismo eloqente que foi utilizado durante sculos para transmitir
estas e idias similares. E ao leitor deve se assegurar que o simbolismo no foi
propositadamente desorganizado, nem foi tampouco tornado ambguo, obscuro e
destitudo de sentido. Se meticulosamente estudados, os termos empregados revelaro
uma coerncia e uma continuidade que desvendaro s pessoas certas de um modo
absolutamente preciso os processos de sua tcnica.
A Missa do Esprito Santo! Assim chamada esta tcnica especfica. nica em
toda a magia pois nela est compreendida quase toda forma conhecida de procedimento
tergico. Ao mesmo tempo, a quintessncia e a sntese de todas elas. Entre outras coisas
diz respeito magia dos talisms. Por meio desse mtodo uma for a espiritual viva
confinada numa substncia telesmtica especfica. No se trata de telesmata morto ou
inerte como acontece na costumeira evoca o talismnica cerimonial, mas sim de
imediato vibrante, dinmico e contendo em germe e potencial a possibilidade de todo
crescimento e desenvolvimento. De uma maneira muito especial, se refere, ademais,
frmula do Clice Sagrado. Um clice dourado de gra a espiritual utilizado no qual a
prpria essncia e sangue vital do teurgo tm que ser derramados para a reden o no de
sua prpria alma, mas que por intermdio disso toda a espcie humana possa ser salva. A
euraristia tambm est implcita e o clice usado como a ta a da comunho, cujo
contedo santificado ± taumatrgico e iridescente, em suma o vinho sacramental ± tem
que ser dedicado e consagrado ao servi o do Altssimo. A oblao a ser consumida com o
vinho eucarstico , em fun o dessa interpreta o, a essncia secreta tanto do mago
intoxicado quanto do supremo deus que ele invocou. Neste mtodo est presente tambm
em larga escala a tcnica alqumica, visto que concerne majoritariamente produ o do
ouro potvel, a pedra filosofal e o elixir da vida que Amrita, o rocio da imortalidade.
O leitor deve, acima de tudo, ter em mente a frmula filosfica do
Tetragrammaton, que o mtodo desta missa. Isto demonstra a necessidade de uma
familiariza o prtica com os princpios numricos da Santa Cabala, pois quanto mais
conhecimento se possui, sistematicamente classificado no sistema indicador da rvore da
Vida, mais sentido e significa o se vinculam frmula de Tetragrammaton. No captulo
em que se esbo a a teoria mgica do universo as implica es gerais do Nome sagrado
foram resumidamente explicadas relativamente a essas conexes. Estas idias devem ser
inteiramente assimiladas em rela o rvore. Munido deste entendimento, o leitor
dever aplicar seus poderes ao esquema simblico que se segue.
Ilustrando o cabe alho de um captulo no livro de Franz Hartman Secret Symbols
of the Rosicrucians (Smbolos Secretos dos Rosacruzes) vemos um desenho de uma
sereia irrompendo do mar. Suas mos esto junto aos seus seios e dali brotam duas
torrentes que retornam ao mar. Explicando esta figura Hartman escreveu que ª... a figura
representa o fundamento das coisas e sua origem. Trata-se de um princpio duplo da
natureza; seus pais so o Sol e a Lua ; produz gua e vinho, ouro e prata pela bn o de
Deus. Se torturas a guia, o leo se tornar dbil. As `lgrimas da guia' e o `sangue
vermelho do leo' tm que se encontrar e se misturar. A guia e o leo se banham,
comem e se amam. Eles ficaro como a salamandra e ficaro constantes no fogo.º Na
elabora o do que foi dito acima os seguintes princpios podem ser postulados. O Y * do
nome sagrado neste sistema chamado de leo vermelho e a primeira H ** a guia
branca. Concebe-se que estas duas letras sejam as representa es de dois princpios

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 161 -
csmicos, dois rios de sangue escarlate que brotam dos seios da sereia para dentro do
mar, duas torrentes distintas e incessantes de vida, luz e amor que procedem eternamente
da prpria Vida. Nelas reside o poder de tocar e comungar, fazendo um novo do outro,
sem nenhuma ruptura das fronteiras sutis das torrentes ou qualquer confuso de
substncia. Em sua natureza so mutuamente complementares e opostas, e no entanto
nelas est fundada a totalidade da existncia. Todas as operaes alqumicas de acordo
com as autoridades requerem dois instrumentos principais: ªum recipiente circular,
cristalino, precisamente proporcional qualidade de seu conte doº ou cucrbita e ª um
forno teosfico selado cabalisticamente ou Athanor. *** O Athanor atribudo ao Y e
a cucrbita uma atribuio da H.
* A letra Yod. (n .t.)
** A letra H. (N. T.)
*** Amphitheatrum, H. Khunrath.
Agora apesar do ouro puro que se menciona ser uma substncia homognea, una e
indivisvel, dinmica e prenhe de possibilidade infinita, duas substncias separadas so
usadas em sua produo. Estas so denominadas serpente ou o sangue do leo vermelho
e as lgrimas ou o glten da guia branca. A serpente uma atribuio da V **** do
Tetragrammaton e o glten alocado ltima H deste nome. Estas duas substncias so a
prole, por assim dizer, do leo e da guia. Os instrumentos alqumicos acima
mencionados devem ser considerados como os armazns ou geradores desses dois
princpios divinos ou torrentes de rpido fluxo de sangue, fogo e fora, o Athanor sendo
a fonte ou veculo da serpente, o glten estando alojado na cucrbita.
A fabricao do ouro alqumico que o rocio da imortalidade consiste de uma
operao peculiar que apresenta vrias fases. Pelo estmulo do calor e do fogo espiritual
para o Athanor deve haver uma transferncia, umas ascenso da serpente daquele
instrumento para dentro da cucrbita, usada como uma retorta. O casamento alqumico
ou a combinao das duas correntes de fora na retorta produz de imediato a
decomposio qumica da serpente no mnstruo do glten, sendo este a parte do solve da
frmula alqumica geral do solve et coagula. Junto decomposio da serpente e sua
morte surge a resplendente Fnix que, como um talism, deve ser carregada por meio de
uma contnua invocao do princpio espiritual compatvel com a operao em
andamento. A concluso da missa consiste ou no consumo dos elementos
transubstanciados, que a Amrita, ou no ungir e consagrao de um talism especial.
Antes de prosseguir com a anlise dos aspectos desta operao, gostaria de
apresentar ao leitor uma citao na qual essa missa repetida com certos detalhes,
empregando a usual nomenclatura da alquimia. ªEu sou uma deusa de beleza e linhagem
famosas, nascida do nosso prprio mar que rodeia a terra toda e que est sempre inquieto.
Dos meus seios verto leite e sangue, fervendo-os at que se transformem em prata e ouro.
objeto o mais excelente, do qual todas as coisas so geradas, embora primeira vista tu
sejas veneno, adornado com o nome da Águia alada . . . . Teus pais so o Sol e a Lua; em
ti h gua e vinho, ouro tambm e prata sobre a Terra, que o homem mortal possa
regozijar... Mas considera, homem, que coisas Deus te concede por este meio. Tortura a
guia at que ela pranteie e o leo esteja debilitado e sangre at morrer. O sangue deste
leo incorporado s lgrimas da guia o tesouro da terra.º Isto, sem d vida, tambm
explicativo da figura reproduzida por Franz Hartman.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 162 -
Segundo certas autoridades, estima-se em termos aproximativos que a operao
no deve levar menos de uma hora da invocao preliminar, com o aprisionamento da
fora nos elementos, at o ato de compartilhar a prpria comunho a partir do clice
consagrado. s vezes, de fato, se requer um perodo muito mais longo, especialmente se
houver a exigncia da carga do talism ser completa e perfeita. Deve-se ter grande cautela
para evitar a perda imprudente dos elementos. Existe a possibilidade de efetivo
vazamento ou um transbordamento da cucrbita, e a assimilao ou evaporao dos
elementos corrompidos no interior desse instrumento constitui tambm um acidente
bastante deplorvel. Nunca demais enfatizar que se os elementos no forem
consagrados corretamente; ou em primeiro lugar se a fora invocada no se impingir ou
ficar inseguramente confinada dentro dos elementos, toda a operao poder ser anulada.
E poder facilmente degenerar s profundezas mais inferiores, resultando na criao de
um horror qliftico que passar a existir como um vampiro atuando sobre os no-
naturalmente sensveis e aqueles inclinados para a histeria e a obsesso. Se o elixir for
adequadamente destilado, servindo como o meio do esprito invocado, ento os cus
sero franqueados, e os portais se voltaro para o teurgo, os tesouros da Terra sero
colocados aos seus ps. ªSe o descobrires, cala e o mantm sagrado. No confia em
ningum exceto em Deus.º
O problema do vnculo para ligar a operao mgica ao resultado desejado deve
ser considerado em todos seus numerosos aspectos. Se a operao for daquelas que
realmente exige um talism exterior para a produo visvel de seu efeito, um selo
apropriado dever ser construdo de metal, cera ou sobre pergaminho. Pode ser
consagrado e ungido com o elixir que foi criado atravs dos canais da Obra hermtica.
Esses selos e talisms descritos na Chave de Salomo e em The Magus so para uma
finalidade absolutamente adequada. Caso a operao proposta pelo teurgo seja pertinente
s qualidades de J piter, um pantculo apropriado deve ser preparado antes da operao.
Durante a confeco do elixir, deve-se assumir a mscara divina de Maat e recitar uma
conjurao do anjo ou inteligncia necessrios. No encerramento da missa, uma
quantidade min scula do rocio superior deve ser colocada sobre o sigillum ou talism de
J piter, carregando-o assim de uma fora insupervel para a produo dos resultados
desejados. Variaes deste procedimento provavelmente ocorrero com a prtica.
No se cogita da questo de um vnculo numa cerimnia conduzida visando uma
finalidade na qual o circulo e o tringulo, por assim dizer, ou o demnio e o exorcista,
ocupam o mesmo plano; ou seja, quando o teurgo trabalha exclusivamente sobre sua
prpria conscincia sem referncia qualquer efeito exterior. A missa do Esprito Santo,
num tal caso, tem automaticamente seu clmax pelo consumo dos elementos carregados, a
fora invocada encarnando dentro do mago como fato lgico, natural. neste tipo de
operao, acho, que a missa do Esprito Santo gera a maior quantidade de fora e atinge
o mais alto nvel de eficincia.
Mesmo para operaes ordinrias, a grande vantagem deste mtodo que
possvel dispensar o cerimonial quase que completamente. O mago pode com absoluta
facilidade executar o ritual do banimento no astral e as invocaes podem ser
silenciosamente recitadas de modo que nenhuma magia de natureza cerimonial possa ser
percebida pelo profano. No caso, contudo, de operaes em que o resultado desejado
existe num outro plano ou exterior conscincia do mago, os efeitos nem sempre

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 163 -
parecem se seguir com a mesma infalibilidade e seqncia como acontece nas operaes
subjetivas. O exame de registros privados conservados por magos que utilizaram esse
engenho mgico tendem a mostrar que seu melhor emprego para trabalhos dentro da
conscincia do mago. nestas matrias que a missa do Esprito Santo o mais poderoso
e eficaz. Para o desenvolvimento da vontade mgica, o aumento da imaginao e a
invocao tanto de Adonai quanto dos deuses universais para que habitem o templo
consagrado do Esprito Santo, dificilmente se pode conceber um mtodo melhor ou mais
adequado. No implica em nenhum gasto de energia vital visto que qualquer energia
assim utilizada na operao retorna ao fim ao mago ampliada e enriquecida com o
nascimento da Fnix dourada, o smbolo da ressurreio e do renascimento.
O poder supremo atuante nessa tcnica o amor. Por mais banal que isto possa
parecer, e por mais que esta palavra tenha se tornado vulgar, preciso reiterar que o amor
o poder motivador, uma fora de amor mantida sempre sob controle pela vontade e
controlada pela alma. O poder destrutivo da espada e tudo aquilo em que implica a
espada, o carter dispersivo da adaga ou de qualquer outra das armas elementares, aqui
no tem lugar. Este mtodo, portanto, se recomenda como sendo dos mais excelentes.
Visto que participa efetivamente do amor, pertence ao estofo e essncia da pr pria vida.
Em operao essa missa extraordinariamente simples. De fato, um mago
observou que no mais complicado do que andar de bicicleta, isto , uma vez certas
preliminares e o treinamento tenham sido concludos. Mais do que qualquer outra coisa
requer uma vontade peculiarmente potente e independente, sustentando, claro, prvia
disciplina e uma mente que tenha sido treinada em concentrao por longos perodos de
tempo. Uma das peculiaridades dessa tcnica que a menos que se seja excepcionalmente
cauteloso e alerta desde o incio coisa fcil para o mago perder o controle de seus
instrumentos alqumicos e assim arruinar a operao inteira. Alegria na mera execuo
tcnica da missa com a excluso devido trabalho mgico constitui o grande e supremo
perigo. Por outro lado, porque este elemento de prazer e alegria aqui realmente ingressa,
esta tcnica supera em excelncia todas as demais. A mente tem que ser treinada na
concentrao sob todas as circunstncias. Como uma preliminar prtica mgica deste
tipo, a tcnica da ioga se revela sumamente vantajosa. Pode-se at afirmar que para o
verdadeiro sucesso em toda a magia absolutamente essencial uma completa
fundamentao na tcnica da ioga.
Uma observao adicional no seria inoportuna. Superficialmente e primeira
vista pode parecer que entre esse tipo de operao mgica, descrito de maneira to
hesitante, e o trabalho cerimonial costumeiro h um grande hiato. verdade que a missa
do Esprito Santo constitui um avano no funcionamento lento e embaraoso do
cerimonial, isto embora este ltimo seja essencial no princpio do treino mgico. Este
mtodo consideravelmente mais direto e incisivo, e devido classe peculiar de energias
que desencadeia sobre a natureza, seus efeitos so extremamente mais poderosos e de
alcance bem maior do que os do cerimonial por si s . Entretanto, a despeito de
subsistirem como duas categorias distintas de trabalho, podem com grande proveito ser
combinadas e usadas uma em conjuno com a outra.
As autoridades alqumicas, as quais avaliaram esse mtodo, tm como consenso
geral que por mais que seja grandioso seus resultados no podem ser logrados sem a
orao. Sem a orao sincera nada permanente ou divino poderia ser realizado. Por

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 164 -
conseguinte, enquanto a operao da missa est em andamento e o fogo no Athanor se
intensifica, uma invocao entusistica, seja astral ou audvel, deve ser pronunciada.
aconselhvel que seja da natureza de um curto mantra apropriado natureza e tipo do
trabalho, de composio rtmica. A operao como um todo poderia ser precedida por
uma invocao mais geral para legitimar o trabalho. medida que o trabalho astral de
criao progride, o mantra rtmico ajudar a formular e vivificar os moldes produzidos
pela vontade e a imaginao, atraindo a fora espiritual desejada. E ento, quando a
serpente transferida do Athanor e a corrupo alqumica comea no glten da guia
branca, a cucrbita ser o receptculo de uma nova subst ncia, viva e din mica, contendo
a marca indelvel das invocaes que tero dotado sua plasticidade e potencialidade de
mpeto avassalador numa dada direo. Conclui-se que se partilhando dessa subst ncia
que o mercrio filosfico, impregnado com uma inteligncia de energia espiritual
din mica capaz de produzir dentro dos limites de sua esfera a mudana desejada, a
realizao plena e satisfatria coroar a aspirao do mago.
Conduzida dentro de um crculo adequadamente consagrado, aps um perfeito
banimento, seguida por uma poderosa conjurao da fora divina e o assumir da forma
divina apropriada, a cerimnia pode se revelar detentora de poder incomparvel para
franquear os Portais dos Cus. Utilizando-se apenas a taa e o basto como armas
elementares, em associao com o mantra ou a invocao rtmica especializada, raro
que a missa falhe ou no produza efeito. Esta unio de duas armas mgicas diferentes,
bastante divorciadas como possam ter se afigurado num primeiro momento, aumenta a
potncia de cada uma delas j que combinam numa operao nica os melhores aspectos
e as maiores vantagens de ambas.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 165 -
CAPTULO XVII
Agora os mais importantes aspectos da magia foram abordados. Antes de encerrar
este livro, entretanto, desejo apresentar alguns exemplos de vrios tipos de rituais e
invocaes que esto includos numa cerimnia completa. Diversas espcies de rituais
foram mencionados nas pginas anteriores e agora necessrio tornar tais referncias
mais explcitas. Uma operao cerimonial completa composta de muitos ciclos
menores, por assim dizer. Independentemente de todas as questes de preparo e
consagrao das armas da arte, o crculo e o tringulo e os talisms, com relao ao
mtodo que foi descrito, a cerimnia correta pode incluir at oito fases distintas, no
mencionando em absoluto do fato de que possa ser necessrio que muitas delas sejam
repetidas duas ou trs vezes para efeito de nfase. A cerimnia aberta com um completo
Ritual de Banimento, que j foi citado para tornar pura e limpa a esfera de trabalho.
Segue-se usualmente uma invocao geral ou orao ao Senhor do Universo. Na
seq ncia se procede ao trabalho preciso. Deve haver uma invocao ao deus que governa
a operao, a recitao de um apelo ao arcanjo ou anjo sucedida por uma poderosa
conjurao do esprito ou inteligncia para sua apario visvel. Sua manifestao no
tringulo saudada por boas-vindas especiais ensejo no qual se queima incenso como
uma oferenda e para lhe dar corpo. Segue-se ento a Licena para Partida e a operao
concluda por um completo banimento cerimonial. Propomos, assim, neste captulo
final, dar vrios exemplos de cada um dos ciclos mais importantes do trabalho,
reproduzindo aquelas invocaes que so consideradas exemplares pelas autoridades.
A preparao de um templo ou aposento adequado a ser empregado como o
cenrio das operaes mgicas uma das mais importantes preliminares a serem
atendidas pelo teurgo. O uso contnuo de um aposento especial no qual a preocupao
principal foi com a prtica da meditao e coisas geralmente mgicas tende
automaticamente a consagrar essa rea limitada Grande Obra, expelindo todas as
influncias indesejveis e perturbadoras. Uma simples forma de cerimnia consagrando
uma cmara especial para um propsito mgico pode ser concebida muito facilmente
incorporando-se o Ritual do Pentagrama com diversos aforismos dos Orculos Caldeus,
como por exemplo no ritual que se segue.
ªQue o mago encare o leste e segurando o basto de ltus pela parte negra, diga as
seguintes palavras:
HEKAS, HEKAS, ESTI BEBELOI!
ªEnto que se realize o Ritual Menor de Banimento do Pentagrama de maneira
que um crculo seja formado abrangendo a rea da cmara inteira, depois do que o basto
deve ser depositado sobre o altar.
ªPurifica os limites externos do crculo com gua, dizendo: ` Assim portanto
primeiro o Sacerdote que governa os trabalhos do fogo tem que borrifar a gua do mar
que alto ressoa.'
ªPurifica com fogo, dizendo: ` E quando depois de todos os fantasmas tu veres
aquele santo fogo amorfo, aquele fogo que dardeja e lampeja atravs das profundezas
ocultas do universo, escuta a voz do fogo. `
ªEnto toma novamente o basto de ltus pela extremidade branca, e repete a
adorao:
ª ‘Santo s tu Senhor do Universo.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 166 -
Santo s tu cuja natureza no formou.
Santo s tu o Vasto e Poderoso,
Senhor da Luz e das Trevas.’ ª
Imediatamente aps os banimentos iniciais terem sido realizados, e logo antes do
princpio da cerimnia, aconselha-se uma invocao do Altssimo. Tal como a vontade
inferior aspira quilo que est acima, do mesmo modo se concebe que o mais alto aspirar
unio com aquilo que est abaixo. Para equilibrar a cerimnia uma invocao da
Vontade Superior – seja esta concebida como o Augoeides ou o Senhor do Universo -
considerada parte indispensvel de qualquer operao. A orao que apresentada abaixo
aparece primeiramente em The Secret Symbols of the Rosicrucians (Os Smbolos
Secretos dos Rosacruzes), de Franz Hartman e uma das hinos mais eloqentes e
exaltadores j escritos que se enquadra ao propsito mencionado acima.
ªEterna e Universal Fonte do Amor, Sabedoria e Felicidade; a Natureza o livro
no qual Teu caracter est inscrito e ningum capaz de l -lo a no ser que tenha estado
em Tua escola. Portanto, nossos olhos esto dirigidos para Ti, como os olhos dos servos
esto dirigidos sobre as mos de seus senhores e senhoras, dos quais recebem suas
ddivas.
ª tu Senhor dos Reis, quem deixaria de louvar-Te incessantemente, e para
sempre com todo seu corao? Pois tudo no universo procede de Ti, de Teu interior,
pertence a Ti e imperioso que novamente retorne a Ti. Tudo que existe reingressar em
ltima instncia em Teu Amor ou Teu dio, Tua Luz ou Teu Fogo, e tudo, seja bom ou
mau, deve servir Tua glorificao.
ªTu somente o Senhor pois Tua Vontade a fonte de todos os poderes que
existem no universo; nada pode escapar a Ti. s o Reio do Mundo, Tua resid ncia no
Cu e no santurio do corao dos virtuosos.
ªDeus universal, Vida Una, Luz Una, Poder Uno, Tu Tudo em Tudo, alm da
expresso e alm da concepo. Natureza! Tu alguma coisa a partir de nenhuma coisa,
tu smbolo da Sabedoria! Em Mim Mesmo eu sou nada, em Ti eu sou eu. Eu vivo em Ti
eu feito de nada; vive Tu em mim, e tira-me da regio do eu para a Luz Eterna.º
Em A Magia Sagrada de Abramelin, o Mago Abrao, o Judeu cuidadosamente
insistiu em no fornecer oraes ou invocaes, sugerindo que as melhores invocaes
seria aquelas escritas por cada indivduo de maneira a atender a necessidades pessoais.
Apresenta, todavia, nas pginas de seu livro uma orao que adequada, tal como a
orao rosacruz precedente, para a formao da abertura da cerimnia colimando o
soerguimento da mente do mago e a atrao da insuflao divina para a b no do
trabalho em pauta*.
* Embora ainda assim se trate da orao pessoal que Abrao empregou em sua
consagrao. (N. T.)
ª Senhor Deus de Misericrdia; Deus, Paciente, Benignssimo e Liberal, que
concedeis Vossa Graa de mil maneiras, e por mil geraes; que esqueceis as iniqidades,
os pecados e as transgresses dos homens; em cuja Presena ningum encontrado
inocente; que visitais as transgresses dos pais para com os filhos e sobrinhos, at a
terceira e quarta geraes; conheo minha misria e no sou digno de aparecer perante
Tua Divina Majestade, nem mesmo de implorar e buscar Vossa Bondade e Merc para a
mnima Graa. Mas, Senhor dos Senhores, a Fonte de Vossa Bondade tamanha, que

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 167 -
por Si s chamou aos que esto confundidos por seus pecados e no se atrevem a se
aproximar, e convidou-os a beber de Vossa Graa. Donde, Senhor meu Deus, tende
piedade de mim e afastai de mim toda iniqidade e malcia; limpai minha alma de toda
impureza de pecado; renovai-me em meu Esprito, e confortai-o, de modo que possa se
tornar forte e apto a compreender o Mistrio de Vossa Graa, e os Tesouros de Vossa
Divina Sabedoria. Santificai-me tambm com o leo de Vossa Santificao, com que
santificastes todos os Vossos Profetas; e purificai-me com ele em tudo o que me
pertinente, de modo que possa me tornar digno da Conversao de Vossos Santos
Anjos** e de Vossa Divina Sabedoria, e concedei-me o Poder que destes a Vossos
Profetas sobre todos os Espritos Maus. Amm. Amm***.º
** O autor registra Holy Guardian Angels (Santos Anjos Guardies). Este tradutor omitiu
Guardies por no constar no original transcrito. (N. T.)
*** Tomei a liberdade de acrescentar Amm. Amm., por fidelidade ao original transcrito.
(N. T.)
Talvez um dos mais primorosos hinos conhecidos por este autor um escrito por
Aleister Crowley. Est presente numa pea mstica intitulada The Ship composta h
muitos anos atrs e isento de todas as incmodas implica es metafsicas constantes em
outras ora es, as quais tendem a melindrar sensibilidades filosficas. Como , inclusive,
em forma potica****, o efeito cumulativo, facilitando grandemente o processo de
exaltao.
**** preciso que o leitor compreenda que, como no caso de demais poesias aqui
traduzidas, a rima muitas vezes sacrificada em prol da justeza e ritmo do texto em
portugus. (N. T.)
ªTu que s eu, alm de tudo que sou,
Que no possui nenhuma natureza e nenhum nome,
Que s quando todos exceto Tu j se foram,
Tu, centro e segredo do Sol,
Tu, fonte oculta de todas as coisas conhecidas
E desconhecidas, Tu afastado, s,
Tu, o fogo verdadeiro dentro do junco
Procriando e criando, fonte e semente
De vida, amor, liberdade e luz,
Tu que transcende discurso e viso,
Tu eu invoco, meu dbil e fresco fogo
Acendendo medida que meus intentos aspiram.
Tu eu invoco, Tu que s permanente,
Tu, centro e segredo do Sol,
E aquele mistrio santssimo
Do qual eu sou o veculo.
Aparece, sumamente terrvel e sumamente brando,
Como lcito, em Tua criana.

Pois do Pai e do Filho,
O Esprito Santo a norma;
Macho-fmea, quintessencial, uno,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 168 -
Homem-sendo velado sob forma de mulher.
Glria e venerao no mais excelso,
Tu Pomba, humanidade que deifica,
Sendo esta raa mui realmente governada,
Do brilho do sol da primavera at a borrasca do inverno.
Que Tu sejas glorificado e venerado
Seiva do freixo do mundo, rvore de prodgios!
Glria a Ti que procedes do Tmulo Dourado.
Glria a Ti que procedes do Útero que Espera.
Glria a Ti que procedes da terra no arada!
Glria a Ti que procedes da virgem que fez voto!
Glria a Ti, Unidade verdadeira
Da Trindade Eterna!
Glria a Ti, Tu genitor e genitora
E eu de Eu sou o que Eu sou!
Glria a Ti, Sol eterno,
Tu Um em Trs, Tu Trs em Um!
Que Tu sejas glorificado e venerado,
Seiva do freixo do mundo, rvore de prodgios! ª
Nos escritos do mui eminente platonista Thomas Taylor podem ser encontrados
alguns exemplos salutares de hinos e invocaes adequados ao trabalho mgico. Alis, h
uma volume traduzido por Taylor em 1787 do grego intitulado The Mystical Hymns of
Orpheus (Os Hinos Msticos de Orfeu) no qual h invocaes dirigidas a quase cada um
dos deuses principais; de sorte que para o aprendizde teurgia esse volume se destina a ser
extremamente til em seu trabalho prtico, especialmente em vista do fato de Taylor ser
da opinio de que o contedo do livro era usado nos Mistrios de Elusis. Pertencente ao
tipo de orao geral que deve preceder a uma cerim nia, transcrevemos aqui um notvel
Hino ao Cu que para seu propsito incomparvel.
ªGrande Cu, cuja poderosa estrutura no conhece repouso,
Pai de tudo de que o mundo surgiu;
Escutai, pai generoso, origem e desfecho de tudo,
Para sempre circundando esta esfera terrestre;
Moradia dos deuses, cujo poder guardio cerca
O mundo eterno dentro de limites perenes;
Cujo seio amplo e dobras envolventes
Sustentam a necessidade terrvel da natureza.
Etrea, terrestre, cuja estrutura multivariada,
Cerlea e plena de formas, nenhum poder capaz de domar.
Onividente, fonte de Saturno e do tempo,
Para sempre abenoada, divindade sublime,
Propcia sobre um novo brilho mstico,
Coroai seus desejos com uma vida divina.º
No mesmo volume h um Hino Me dos Deuses que como uma invocao pode
ser empregado exatamente da mesma maneira para preceder o trabalho cerimonial
efetivo. especialmente digno de ser citado.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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ªMe dos Deuses, grande ama-seca de todos, aproxima-te
Divinamente honrada e considera minha orao.
Entronizada num carro por lees tirado,
Por lees destruidores de touros, cleres e fortes,
Tu agitas o cetro da vara divina,
E o assento intermedirio do mundo, mui afamado, Teu.
Da a terra Tua, e mortais necessitados dividem
Seu alimento constante, a partir de Tua proteo.
De Ti o mar e todos os rios fluem.
Achamos Teu nome o melhor e fonte de riqueza
Aos homens mortais que se regozijam em ser bondosos;
Pois a cada bem a ser dado Tua alma se delicia.
Vem, poder formidvel, propcio aos nossos ritos,
Aquela que tudo doma, abenoada, Salvadora frgia, vem,
Grande rainha de Saturno, que se regozija no tambor
Donzela celestial, antiga, mantenedora da vida,
Fria inspiradora, d ao Teu suplicante ajuda;
Com aspecto jubiloso sobre o nosso incenso brilha
E satisfeita, aceita o sacrifcio divino.º
A orao apresentada a seguir um extrato de uma cerimnia invocando o Santo
Anjo Guardio levada a efeito pelo falecido Allan Bennett, um dos Adeptos da Golden
Dawn antes de ter ingressado no sangha budista e ter se tornado bhikkhu Ananda
Metteya.
ªQue Tu sejas adorado, Senhor da minha Vida, pois Tu permitiste a mim adentrar
at aqui o Santurio de Teu Inefvel Mistrio; e te dignaste a manifestar para mim algum
pequeno fragmento da Glria de Teu Ser. Ouve-me, Anjo de Deus, o Vasto; ouve-me e
admite minha orao! Concede que eu sempre sustente o Smbolo do Auto-sacrifcio; e
concede a mim a compreenso de tudo que possa me aproximar de Ti! Ensina-me,
Esprito estrelado, mais e mais de Teu Mistrio e Tua Maestria; permite que cada dia e
cada hora me deixem mais perto, mais perto de Ti! Permite-me auxiliar-Te em Teu
sofrimento de modo que possa algum dia tornar-me participante de Tua Glria, naquele
dia quando o Filho do Homem for invocado ante o Senhor dos Espritos, e Seu Nome na
presena da Ancio dos Dias!
ªE neste dia ensina-me esta nica coisa: como posso aprender de Ti os Mistrios
da Alta Magia da Luz. Como posso eu ganhar dos Habitantes dos Elementos brilhantes o
conhecimento e poder destes: e como eu posso empregar da melhor maneira esse
conhecimento para ajudar meus semelhantes.
ªE finalmente oro a Ti para que possa haver um lao de Depend ncia entre ns;
que eu possa sempre buscar, e buscando obter ajuda e conselho de Ti que s minha
prpria individualidade. E diante de Ti eu prometo e juro que pelo apoio Daquele que
senta no Trono Santo purificarei meu corao e mente de modo que um dia possa me
tornar verdadeiramente unido a Ti, que s em Verdade meu G nio Superior, meu Mestre,
meu Guia, meu Senhor e Rei! ª
Embora a forma das invocaes gnsticas tenha se tornado bastante conhecida no
meio daqueles que estudam magia e misticismo, h uma invocao particularmente boa

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 170 -
que desejo reproduzir aqui, extrada do manuscrito Bruce. Contm diversos nomes
brbaros evocatrios e foi proferida por Jesus para a purificao de seus discpulos.
ªOuve-me, meu Pai, Pai de toda Paternidade, Luz Infinita, torna este meus
discpulos dignos de receber o Batismo do Fogo, perdoa seus pecados, purifica as
iniqidades que eles cometeram consciente ou inconscientemente, aquelas que cometeram
desde sua infncia at mesmo aos dias de hoje, suas palavras impensadas, seu discurso
maligno, seus falsos testemunhos, seus furtos, suas mentiras, suas calnias enganosas,
suas fornica es, seus adultrios, sua cobia, sua avareza e todos os pecados que possam
ter cometido, apaga-os, purifica-os deles e permita que ZOROKOTHORA venha em
segredo e lhes traga a gua do Batismo do Fogo da Virgem do Tesouro.
ªOuve-me, meu Pai: eu invoco Teus Nomes Incorruptveis Ocultos nos Aeons
para sempre, AZARAKAZA AAMATHKRATITATH IOIOIO ZAMEN ZAMEN
ZAMEN IAOTH IAOTH IAOTH PHAOPH PHAOPH PHAOPH KHIOEPHOZPE
KHENOBINYTH ZARLAI LAZARLAI LAIZAI, AMEN AMEN; ZAZIZAYA
NEBEOYNISPH PHAMOY PHAMOY PHAMOY AMOYNAI AMOYNAI
AMOYNAI AMEN AMEN AMEN ZAZAZAZI ETAZAZA ZOTHAZAZAZA.
Ouve-me, meu Pai, Pai de todas as paternidades, Luz Infinita, eu invoco Teus Nomes
Incorruptveis que esto no Aeon de Luz para que ZOROKOTHORA me envie a gua do
Batismo gneo procedente da Virgem de Luz para que eu possa batizar meus discpulos.
Ouve-me novamente, meu Pai, Pai de toda Paternidade, Luz Infinita, para que a Virgem
de Luz possa vir, que ela possa batizar meus discpulos com Fogo, que ela possa perdoar
seus pecados, purificar suas iniqidades, pois eu invoco Teu Nome Incorruptvel que
ZOTHOOZA THOITHAZAZZAOTH AMEN AMEN AMEN. Ouve-me tambm
Virgem de Luz, Juza da Verdade, perdoa os pecados de meus discpulos; e se, meu
Pai, Tu apagares suas iniqidades, possam eles ser inscritos herdeiros do Reino da Luz, e
para este fim realiza um milagre sobre estes incensrios de suave perfume.º
Pouca engenhosidade da parte do novio ser exigida para efetuar as necessrias
altera es destes rituais de modo a adapt-los s suas prprias finalidades. Um pronome
aqui mais uma palavra ali e o resultado um ritual pessoal. O mesmo se revela verdadeiro
no que concerne aos rituais dos Livro dos Mortos, muitos deles sendo lricos e
panegricos. No captulo CLXXXII apresentada uma curta invocao na qual Thoth
representado em identificao com os mortos.
ªEu sou Thoth, o escriba perfeito cujas mos so puras. Eu sou o Senhor da
pureza, o destruidor do mal, o escriba do correto e da verdade, e o que abomino o
pecado*.º

* O leitor deve considerar o termo pecado aqui com certas reservas devido ao significado
e conotao que essa palavra adquiriu na teologia judaico-crist. aconselhvel prender-
se ao sentido original do vocbulo latino peccatum, a saber: falta, erro, crime. (N. T.)
ªContempla-me pois eu sou o junco de escrita do deus Neb-er-tcher, o senhor das
leis, que concede a palavra da sabedoria e do entendimento, e cujo discurso exerce
domnio sobre a terra dupla. Eu sou Thoth, o senhor do correto e da verdade, que faz o
fraco conquistar a vitria e que vinga os infelizes e os oprimidos naquele que lhes causou
dano.
ªEu dispersei as trevas!

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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ªEu afastei a tempestade, e trouxe o vento a Un-Nefer, a brisa formosa do vento
do norte, mesmo brotando do tero de sua me.
ªEu o fiz ingressar a morada oculta e ele vivificar a alma do Corao Tranqüilo,
Un-Nefer, o filho de Nuit, Hrus triunfante! ª
Ocioso dizer que no emprego da invocao acima a forma do deus Thoth
magicamente assumida e o prprio ritual enumera algumas das qualidades e poderes do
deus, a recitao do mesmo auxiliando na unio e mescla das substncias. O exemplar de
ritual dado por E. A. Wallis Budge em The Gods of the Egyptians (Os Deuses dos
Egpcios) usado como uma invocao de Osris, constitui um exemplo bem melhor. Foi
necessrio fazer uma espcie de edio dele j que era demasiado longo e disperso.
ªSalve, senhor Osris. Salve, senhor Osris. Salve, senhor Osris.
ªSalve, salve, formoso moo, vem ao teu templo prontamente pois ns no vemos
a ti. Salve, formoso moo, vem ao teu templo e te aproxima aps tua partida de ns.
ªSalve, tu que comandas ao longo da hora, que cresces exceto em sua estao. Tu
s a imagem exaltada de teu pai Tenen, tu s a essncia oculta que provm de Atmu.
tu, Senhor, tu Senhor, quo maior s tu que teu pai, tu filho primognito do tero de
tua me. Retorna a ns novamente com aquilo que a ti pertence e ns te abraaremos; no
nos deixa, rosto belo e grandemente amado, tu imagem de Tenen, tu, o viril, tu senhor
do amor. Vem em paz e permita-nos ver, nosso Senhor ... .
ªSalve, Prncipe, que provm do tero ... da matria primeva. Salve, Senhor de
multides de aspectos e formas criadas, crculo de ouro nos templos; senhor do tempo e
doador de anos. Salve, senhor da vida por toda a eternidade; senhor de milhes e
mirades, que brilha tanto no nascer quanto no pr do sol. Salve, tu senhor do terror, tu, o
poderoso do tremor.
ªSalve, senhor das multides de aspectos, tanto macho quanto fmea; tu s
coroado com a Coroa Branca, tu Senhor da Coroa Urerer. Tu Beb santo de Her-
hekennu, tu filho de Ra, que senta no Barco de Milhes de anos, tu Guia do Repouso!
Vem para os teus stios ocultos.
ªSalve, tu senhor que s auto-produzido. Salve, tu cujo corao tranqilo, vem a
tua cidade. Tu, amado dos deuses e deusas que mergulhaste a ti mesmo em Nu, vem ao
teu templo; tu ests no Tuat, vem para tuas oferendas... .
ªSalve, tu flor santa da Grande Casa. Salve, tu que trazes o cordame santo do
barco de Sekti; tu Senhor do Barco de Hennu que renovas tua juventude no stio secreto,
tu Alma perfeita... Salve, tu oculto, que s conhecido da humanidade.
ªSalve! Salve! Tu efetivamente brilhas sobre aquele que est no Tuat e
efetivamente mostras a ele o Disco, tu Senhor da Coroa Ateph. Salve, poderoso do
terror, tu que nasces em Tebas, que floresces para sempre. Salve, tu alma viva de Osris
coroado com a lua. ª
Um outro ritual proveniente de fontes egpcias o Hino a Amon-Ra, que
reproduzimos aqui a partir do famoso Harris Magical Papyrus.
ª Amon oculto no centro de seu olho, esprito que brilha no olho sagrado,
adorao para os Transformadores Santos, para aqueles que no so conhecidos!
Brilhantes so suas formas veladas num fulgor de Luz.
ªMistrio dos Mistrios, Mistrio Ocultado, Salve Tu no meio dos cus. Tu, que
s Verdade, geraste os deuses. Os signos da Verdade esto em teu misterioso santurio.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 172 -
Por ti se faz tua me Meron brilhar. Tu tornas manifestos raios que iluminam. Tu
circundas a Terra com tua luz at retornares montanha que est no Pas de Aker. Tu s
adorado nas guas. A terra frtil te adora. Quando teu cortejo passa pela montanha oculta
o animal selvagem se ergue em sua toca, os espritos do Oriente te louvam, temem a luz
de teu disco. Os espritos do Khenac te aclamam quando tua Luz brilha em seus rostos.
Tu atravessas um outro cu que no possvel ao teu inimigo atravessar. O fogo de teu
calor ataca o monstro Ha-her. O peixe Teshtu guarda as guas ao redor de tua barca. Tu
comandas a morada do monstro Oun-ti, que Nub-ti golpeia com sua espada.
ªEste o deus que se apoderou do cu e da terra em sua tempestade. Sua virtude
poderosa para destruir seu inimigo. Sua lana o instrumento de morte para o monstro
Oubn-ro. Agarrando-o subitamente ele o subjuga; ele se faz mestre dele e o fora a
reingressar em sua morada; ento ele devora seus olhos e nisto est seu triunfo; o monstro
ento devorado por uma chama ardente; da cabea aos ps todos os seus membros
queimam em seu calor. Tu trazes teus servos ao porto com um vento favorvel. Sob ti, os
ventos encontram paz. Tua barca regozija, tuas sendas so ampliadas porque tu venceste
os caminhos do autor do mal.
ªVelejai, estrelas errantes! Velejai, astros resplandecentes; vs que viajais com os
ventos! Pois tu ests repousando no seio do cu, tua mo te abraa; quando tu chegas ao
horizonte ocidental a terra abre os braos para receber-te. Tu que s venerado por todas as
coisas existentes! ª
As poucas ltimas linhas da invocao acima, pode-se notar, se acham num plano
muito mais elevado de poesia do que o corpo principal da invocao. Trata-se de uma
perorao extremamente boa. Estes rituais devem ser objeto de muito estudo e luz de
princpios da Cabala uma considervel quantidade de filosofia pode deles extrada e neles
percebida.
Um ritual que desde algum tempo se tornou geralmente conhecido como a
ªInvocao do No-nascidoº parece a este autor um dos melhores por ele conhecido. O
mais antigo registro que dele se descobriu se acha numa obra intitulada Fragment of a
Graeco-Egyptian Work upon Magic (Fragmento de uma Obra Greco-egpcia sobre
Magia), de Charles Wycliffe Goodwin, M. A., publicada em 1852 para a Cambridge
Antiquarian Society. Reimpresso no sculo passado no final da dcada de noventa por
Budge em Egyptian Magic (Magia Egpcia), esse ritual tornou-se largamente conhecido
entre os devotos da teurgia e foi cuidadosamente editado e elaborado por magos
experientes. Reproduzimos abaixo a verso aperfeioada.
ªTu eu invoco, o No-nascido.
ªTu que criaste a Terra e os Cus.
ªTu que criaste a Noite e o Dia.
ªTu que criaste as trevas e a Luz.
ªTu s Osorronophris, que nenhum homem viu em tempo algum.
ªTu s Iabas. Tu s Iapos. Tu distinguiste entre o justo e o injusto. Tu produziste a fmea
e o macho.
ªTu produziste a Semente e o Fruto. Tu formaste homens para se amarem entre si e se
odiarem entre si.
ªEu sou Mosheh* teu Profeta** ao Qual tu confiaste teus Mistrios, as cerim nias de
Israel.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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* Aqui o mago pode inserir seu prprio nome e lugar na hierarquia mgica.
** Moiss. (N. T.)
ªTu produziste o mido e o seco, e aquilo que nutre todas as coisas criadas.
ªQue tu me oua, pois eu sou o Anjo de Paphro Osorronophris; este Teu
Verdadeiro Nome, entregue aos Profetas de Israel.
ªOuve-me: Ar: Thiao: Rheibet: Atheleberseth: A ; Blatha: Abeu: Ebeue: Phi:
Thitasoe: Ib: Thiao.
ªOuve-me e faz todos os Espritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo
esprito do Firmamento e do ter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre a terra seca e na
gua, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e cada Encantamento e Flagelo de Deus
possam prestar obedincia a mim.
ªEu te invoco, o Deus Terrvel e Invisvel, que habitas o Stio Vazio do Esprito:
Arogogorobrao: Sothou: Modorio: Phalarthao: Doo: Ap: O N o-nascido.
ªOuve-me e faz todos os Espritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo
esprito do Firmamento e do ter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na gua,
do Ar que rodopia, e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam
prestar obedincia a mim.

ªOuve-me: Roubriao: Mariodam: Balbnabaoth: Assalonai: Aphnaio: I ; Thoteth:
Abrasar: Aeoou: Ischure, Poderoso e N o-nascido.
ªOuve-me e faz todos os Espritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo
esprito do Firmamento e do ter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na gua,
do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam
prestar obedincia a mim.
ªEu te invoco: Ma: Barraio: Ioel: Kotha: Athorebalo: Abraoth!
ªOuve-me e faz todos os Espritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo
esprito do Firmamento e do ter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na gua,
do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam
prestar obedincia a mim.
ªOuve-me! Aoth: Abaoth: Basum: Isak: Sabaoth: Isa !
ªEste o Senhor dos Deuses! Este o Senhor do Universo! Este Aquele que os
Ventos temem!
ªEste Aquele Que tendo feito a Voz por seu Mandamento Senhor de todas as
Coisas, Rei, Governante e Auxiliador.
ªOuve-me e faz todos os Espritos se sujeitarem a mim, de maneira que todo
esprito do Firmamento e do ter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na gua,
do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus possam
prestar obedincia a mim.
ªOuve-me: Ieou: Pur ; Iou: Pur: Iaot: Iaeo: Ioou: Abrasar: Sabrium: Do:
Uu: Adonaie: Ede: Edu: Angelos ton Theon: Anlala Lai: Gaia: Ape: Diarthana
Thorun.
ªEu sou Ele! O Esprito N o-nascido! tendo vis o nos Ps! Forte e o Fogo
Imortal!
ªEu sou Ele! A Verdade!
ªEu sou

A Arvore da Vida - Israel Regardie
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Ele! Quem odeia que o mal seja lavrado no Mundo!
ªEu sou Aquele que ilumina e troveja. Eu sou Aquele do Qual procede a
Abundncia da Vida da Terra: Eu sou Aquele cuja boca sempre flameja: Eu sou Ele: O
Gerador e o Manifestador diante da Luz.
ªEu sou Ele: A Graa do Mundo!
ª `O Corao com uma Serpente como Cinta ` o meu Nome!
ªVem e segue-me, e faz todos os Espritos se sujeitarem a mim, de maneira que
todo esprito do Firmamento e do ter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na
gua, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo Encantamento e Flagelo de Deus
possam prestar obedincia a mim.
IAO: SABAO
ª Tais so as palavras! ª
Talvez um tipo ainda melhor de invocao aos deuses o que apresentaremos a
seguir. H muitos teurgos que o preferem, como modalidade de ritual, ao precedente. A
invocao de Thoth que citarei se baseia muito largamente no Livro dos Mortos,
principalmente no captulo da Sada pelo Dia e uma seo contendo uma alocuo
sacerdotal ao fara citada por Maspero. O ritual completo, entretanto, no mostra
quaisquer sinais de colcha de retalhos, sendo perfeitamente coerente, consistente e
esttico.
ª Tu, Majestade da Divindade, Tahuti Coroado de Sabedoria, Senhor dos Portais
do Universo, a Ti, a Ti eu invoco!
ª Tu cuja cabea como uma bis, a Ti, a Ti eu invoco!
ªTu que seguras em Tua mo direita o basto mgico do Poder Duplo e que portas
em tua mo esquerda a Rosa e a Cruz da Luz e da Vida, a Ti, a Ti eu invoco!
ªTu cuja cabea como Esmeralda, e cuja nmis como o azul do cu noturno, a
Ti, a Ti eu invoco!
ªTu cuja pele de laranja flamejante como se ardesse numa fornalha: a Ti, a Ti eu
invoco!
ªV, eu sou ontem, Hoje e o irmo do Amanh! Eu naso de novo e de novo. A
mim pertence a fora invisvel da qual os deuses se originam, a qual d vida aos
habitantes das torres de vigia do Universo.
ªEu sou o auriga no Oriente, Senhor do Passado e do Futuro, o qual v por sua
pr pria luz interior. Eu sou o Senhor da Ressurreio, que assoma do crepsculo e cujo
nascimento procede da Casa da Morte. v s dois falces divinos que sobre vossos
pinculos mantm a vigilncia do Universo! V s que acompanhais o esquife a sua Casa
de Repouso, que pilotam o Barco de Ra sempre avanando s alturas do cu! Senhor do
Santurio que fica no centro da Terra!
ªV! Ele est em mim e Eu Nele! Meu o brilho com o qual Ptah flutua sobre
seu firmamento! Eu viajo pelas alturas! Eu piso o firmamento de Nu! Eu ergo uma flama
cintilante com o relmpago de meu olho, sempre investindo para a frente no esplendor do
diariamente glorificado Ra, outorgando minha vida aos habitantes da Terra. Se eu digo
Subi s montanhas as guas celestiais fluiro ante minha palavra, pois eu sou Ra
encarnado; Kephra criado na carne! Eu sou o eidolon do meu Pai Tmu, Senhor da Cidade
do Sol.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 175 -
ªO deus que comanda est em minha boca. O Deus da Sabedoria est em meu
corao. Minha lngua o santurio da Verdade; e um deus senta sobre meus lbios.
Minha palavra comprida todos os dias e o desejo de meu corao realiza a si mesmo
como aquele de Ptah quando ele cria suas obras. Visto que eu sou Eterno tudo atua de
acordo com meus desgnios, e tudo acata minhas palavras.
Portanto que Tu venhas a Mim de Tua Morada no Silncio, Sabedoria
Impronuncivel, Toda-Luz, Toda-Poder.
ªThoth, Hermes, Mercrio, Odin. Por qualquer nome que chame a Ti, Tu s ainda
i-Nomeado e Sem Nome para a Eternidade. Que tu venhas, eu digo, e ajuda-me e guarda-
me nesta obra da Arte.
ªTu estrela do Oriente que realmente conduziste os Magos. Tu ests identicamente
toda presente no Cu e no Inferno. Tu que vibras entre a Luz e as Trevas, ascendendo,
descendo, mudando para sempre, e no entanto sempre a mesma. O Sol Teu Pai! Tua
Me, a Lua! O Vento Te gerou em seu seio: E a terra sempre nutriu a Divindade Imutvel
de Tua Juventude.
ªVem, eu digo, vem e faz todos os espritos se sujeitarem a mim, de maneira que
todo esprito do Firmamento e do ter, sobre a Terra e sob a Terra, sobre terra seca e na
gua, do Ar que rodopia e do Fogo impetuoso e todo encantamento e flagelo de Deus
possam prestar obedincia a mim! ª
Poucos entre os aprendizesde magia da atualidade sabem que o grande
neoplat nico Proclo comp s vrios hinos e invocaes. A maior parte, infelizmente, se
perdeu, apenas uns poucos tendo sido preservados e nos tornado acessveis. Thomas
Taylor traduziu cinco desse hinos e os publicou em 1793 num apndice do seu livro
intitulado Sallust on the Gods and the World. Todos os cinco so sumamente bons e ser
proveitoso que o aprendizse familiarize com eles. A fim de dar uma idia do seu valor,
reproduzimos aqui o Hino ao Sol.
ªOuve Tit dourado! Rei do fogo mental,
Regente da luz; a Ti supremo pertence
A chave esplndida da fonte prolfica da vida;
E das alturas Tu vertes correntes harm nicas
Em rica abundncia nos mundos da matria.

Ouve! pois elevado nas alturas acima de plancies etreas,
E no brilhante orbe intermedirio do mundo Tu reinas
Enquanto todas as coisas por Teu soberano poder so preenchidas
Com zelo que estimula a mente, providencial.
Os fogos das estrelas circundam Teu fogo vigoroso,
E sempre numa dana infatigvel, incessante,
Sobre a terra de seios largos o rocio vvido se difunde.
Por Teu curso perptuo e reiterado
As horas e estaes em sucesso de desenrolam;
E elementos hostis cessam seus conflitos,
Logo que contemplam Teus raios tremendos, grande Rei;
De divindade inefvel e nascido secreto...

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 176 -
melhor dos deuses, dimon coroado de fogo,
Imagem de todo o bem que a natureza produz,
E o condutor da alma ao domnio da luz ±
Ouve! e purifica-me das manchas da culpa;
Recebe a splica de minhas lgrimas,
E cura minhas feridas maculadas de pernicioso sangue coagulado;
Os castigos incorridos pelo pecado perdoa,
E mitiga o olho gil, sagaz
Da justia sagrada, sem limites em seu parecer.
Por Tua lei pura, dos males horrendos constante inimiga,
Dirige meus passos, e despeja Tua luz sagrada
Em rica abundncia sobre minha alma anuviada;
Dissipa as sombras sinistras e malignas
De escurido, prenhes de aflies envenenadas,
E ao meu corpo fora adequada proporciona,
Com sade, cuja aparncia esplndidas ddivas concede.
D fama duradoura; e possa o zelo sagrado
Com o qual as musas de belos cabelos presenteiam, que outrora
Meus pios ancestrais preservaram, ser meu.
Ajunta, se a Ti agrada, onigeneroso deus,
Riquezas duradouras, a recompensa do piedoso;
Pois poder onipotente investe Teu trono,
Com fora imensa e regra universal.
E se o eixo girat rio dos destinos
Ameaar das teias de estrelas a destruio medonha,
Teus raios retumbantes com fora irresistvel sero enviados .
E vencero antes de precipitar-se a calamidade iminente. ª
Desejo apresentar mais uma invocao desta mesma categoria antes de prosseguir
fazendo citaes dos rituais usados em cerimnias de evocao. Fui obrigado,
infelizmente, a omitir grande parte do ritual abaixo, por motivos de espao, e tal como
apresentado aqui corresponde a aproximadamente metade de sua extenso correta.
Escrito por Crowley e publicado por ele em Oracles baseado em certas f rmulas
mgicas e documentos que eram usados na Ordem Hermtica da Golden Dawn. Sua
excelncia e fervor dispensam meus comentrios.
ª Eu divino! Senhor Vivo de Mim!
Flama de fulgor pr prio, gerada do alm!
Divindade imaculada! Clere lngua de fogo,
Acesa a partir daquela incomensurvel luz,
O ilimitado, o imutvel. Vem,
Meu deus, meu amante, esprito do meu corao,
Corao de minha alma, branca virgem da Aurora,
Minha Rainha de toda perfeio, vem
De Tua morada alm dos Silncios
A mim, o prisioneiro, eu, o homem mortal,
Feito santurio neste barro: vem, eu digo, a mim,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 177 -
Inicia minha alma excitada; aproxima-te
E deixa a glria de Tua Divindade brilhar
Mesmo para a Terra, Teu plinto ... .
Tu Anjo Majestoso de minha Vontade Superior,
Forma em meu esprito um fogo mais sutil
De Deus, para que eu possa compreender mais
A pureza sagrada de Tua divina
Essncia! Rainha, Deusa da minha vida,
Luz no-gerada, fasca cintilante
Do Todo-Eu! Santa, santa Esposa
De meu pensamento mais divindade semelhante, vem! Eu digo
E Te manifesta ao Teu venerador...
Meu Eu real! Vem, deslumbrante
Envolvida na glria do Stio Sagrado
De onde chamei a Ti: Vem a mim
E permeia meu ser at que meu rosto
Brilhe com Tua luz refletida, at que minhas sobrancelhas
Raiem com Teu smbolo estrelado, at que minha voz
Alcance o Inefvel; vem, eu digo,
E faz-me uno Contigo; que todos os meus caminhos
Possam resplandecer com a santa influncia
Que eu possa ser julgado digno no fim
Para sacrificar perante o Santssimo...
Ouve-me!
Eca, zodocare, Iad, goho,
Torzodu odo Kikale qaa!
Zodacare od zodameranu!
Zodorje, lape zodiredo Ol
Noco Mada, das Iadapiel!
I las! Hoatahe Iaida!
coroada com a luz das estrelas! alada com esmeraldas
Mais larga que o Cu! azul mais profundo
Do abismo das guas! Tu flama
Que cintila atravs de todas as cavernas da noite,
Lnguas saltando do incomensurvel
Subindo atravs dos resplandecentes precipcios imanifestos
Para o Inefvel! Sol Dourado!
Glria vibrante do meu Eu superior!
Eu ouvi Tua voz ressoando no Abismo:
`Eu sou o nico Ser nas profundezas
Da Escurido: deixa-me ascender e preparar-me
Para trilhar o caminho das Trevas: mesmo assim
Posso atingir a luz. Pois do Abismo
Vim antes de meu nascimento: destes sal es sombrios
E silncio de um sono primevo! E Ele,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 178 -
A Voz das Idades, respondeu-se e disse:
V! Pois eu sou Aquele que formula
Na Escurido! Filho da Terra! a luz com efeito brilha
Nas trevas, mas as trevas no entendem
Raio algum dessa luz iniciadora!
... No me deixa s,
Esprito Sagrado! Vem para confortar-me,
Atrair-me e fazer-me manifesto,
Osris ao mundo choroso; que eu
Seja erguido sobre a Cruz do Sofrimento
E do sacrifcio, para atrair toda a espcie humana
E todo germe de matria que possua vida,
Mesmo depois de mim, ao inefvel
Reino de Luz! santa, santa Rainha!
Pemite que Tuas amplas asas me abriguem!

Eu sou a Ressurreio e a Vida!
O Reconciliador da Luz e das Trevas,
Eu sou Aquele que resgata as coisas mortais,
Eu sou a Fora na Matria manifesta.
Eu sou a Divindade manifesta na carne.
Eu me posto acima, entre os Santos,
Eu sou todo purificado atravs do sofrimento.
Todo-perfeito no sacrifcio mstico,
E no conhecimento de minha Individualidade feito
Uno com os Senhores Eternos da Vida
O glorificado pelo julgamento o meu Nome.
O Resgatador da Matria meu Nome ... .
Eu vejo as Trevas se precipitarem como o raio se precipita!
Eu observo as Idades como uma agitao de torrentes
Passando por mim; e como uma veste eu me livro
Das abas pegajosas do Tempo. Meu lugar est fixo
No Abismo alm de todas as Estrelas e todos os Sis.
EU SOU a Ressurreio e a Vida.

Santo s Tu, Senhor do Universo!
Santo s Tu, Cuja Natureza no se formou!
Santo s Tu, o Vasto e Poderoso!
Senhor das Trevas e Senhor da Luz! ª
Num dos captulos anteriores foi feita alguma referncia s invocaes de Dee e
ao poder destas. Os fatos que marcam estas invoca es ou chaves como foram chamadas,
so, a grosso modo, os seguintes. Mais de uma centena de pginas preenchidas de letras
foram obtidas por Dee e seu colega Kelly de uma maneira que ningum ainda em
absoluto compreendeu. Dee teria, por exemplo, diante de si uma ou mais dessas tabelas,
via de regra de 49º X 49º, algumas cheias, algumas com letras apenas sobre quadrados

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 179 -
alternados, na superfcie de uma escrivaninha. Sir Edward Kelly sentaria junto ao que
eles chamavam de Mesa Sagrada e fitaria uma bola de cristal ou cristal no qual, depois de
algum tempo, veria um Anjo que apontaria com um basto para as letras de uma daquelas
tabelas sucessivamente. A Dee, Kelly comunicaria que o Anjo apontava, por exemplo, a
coluna 4, fileira 29 da tabela, aparentemente no mencionando a letra que Dee encontrava
na tabela diante de si e registrava. Quando Anjo terminava sua instruo, a mensagem era
reescrita de trs para diante. Teria sido ditada totalmente errada pelo Anjo por ser
considerada demasiado perigosa para ser comunicada de uma maneira direta, cada palavra
sendo uma conjurao to poderosa que sua enunciao e meno diretas teriam evocado
poderes e foras naquele momento indesejveis.
Reescritas ao inverso, essas invocaes pareciam escritas numa linguagem que os
dois magos chamavam de enoquiano. Longe de se tratar de um jargo sem significado, o
enoquiano possui gramtica e sintaxe prprias, como pode ser percebido pela consulta de
Casaubon que traduziu muitas das chaves. Muitos o julgam bem mais sonoro e expressivo
que o prprio grego e o snscrito, as tradues para o ingls, embora em alguns trechos de
difcil compreenso, contendo maravilhosas passagens detentoras de uma sustentada
sublimidade e uma potncia lrica que muitos poetas e at a Bblia no superam.
Por exemplo: ªPodem as Asas do Vento compreender vossas vozes de Prodgio?
vs o Segundo do Primeiro, quem as chamas ardentes acomodaram nas profundezas de
minhas Maxilas! Quem eu preparei como taas para um casamento ou como flores em
sua beleza para a cmara da Justia. Vossos ps so mais vigorosos do que a pedra
infrutfera: e vossas vozes mais fortes que os ventos mltiplos! Pois vs vos tornais uma
construo tal como no exceto na mente do Todo-Poderoso. ª
Existem dezenove dessas Chaves; as duas primeiras evocam o elemento chamado
Esprito, as dezesseis seguintes invocam os quatro elementos, cada uma com quatro
subdivises. A dcima nona pode ser empregada para invocar qualquer um dos chamados
Trinta Aethyrs pela mudana de uma ou duas palavras especiais. Cito abaixo mais uma
dessas chaves em enoquiano seguida de uma traduo:.
“ Ol Sonuf Vaoresaji, gohu IAD Balata, elanusaha caelazod; sobrazod ol
Roray i ta nazodapesad, Giraa ta maelpereji, das hoel ho qaa notahoa
zodimezod, od comemahe ta nobeloha zodien; soba tahil ginonupe perje aladi,
das vaurebes obolehe giresam. Casarem ohorela caba Pire: das
zodonurenusagi cab: erem Iadanahe. Pilae farezodem zodernurezoda adana
gono Iadapiel das homo-tohe; soba ipame lu ipamis: das sobolo vepe
zodomeda poamal, od bogira sai ta piapo Piamoel od Vaoan. Zodacare, eca od
zodameranu! odo cicale Qaa; zodorje, lape zodiredo Noco Mada, Hathahe
IAIDA! “
ªEu reino sobre vs, diz o Deus da Justia, em poder exaltado acima do
Firmamento da Ira, em cujas mos o Sol como uma espada e a Lua como um fogo
penetrante; quem mede vossas Vestes no meio de minhas Vestimentas e vos atou como as
palmas de minhas mos; cujos assentos eu guarneci com o Fogo da Coleta e embelezei
vossas vestes com admirao; para quem eu produzi uma lei para governar o Santssimo,
e entreguei a vs uma Vara , com a Arca do Conhecimento. Ademais, vs erguestes
vossas vozes e jurastes obedincia e f quele que vive e triunfa, cujo princpio no ,

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 180 -
nem o fim pode ser; que brilha como flama no meio de vossos palcios e reina entre vs
como o equilbrio da justia e da verdade.
ªMovei, pois, e mostrai-vos! Abri os mistrios de vossa criao. Sede amistosos
comigo pois eu sou servo do mesmo Deus que o vosso, o verdadeiro Adorador do
Altssimo.º
Embora via de regra os exemplares de rituais apresentados por liphas Lvi em
seus diversos escritos sejam de qualidade muito precria e no se prestam em absoluto ao
seu emprego prtico, h uma notvel exceo em seu Dogma e Ritual de Alta Magia. Ele
chama este ritual de Orao aos Silfos.
ªEsprito de Luz, Esprito de Sabedoria, cujo alento concede e retira a forma de
todas as coisas; Tu diante de quem a vida de todo ser uma sombra que transforma e um
vapor que desvanece; Tu que ascendes s nuvens e com efeito voas sobre as asas do
vento; Tu que expiras e as imensidades ilimitadas so povoadas; Tu que aspiras e tudo
que de Ti brotou a Ti retorna; movimento sem fim na estabilidade eterna, s Tu
abenoado para sempre!
ªNs Te louvamos, ns Te abenoamos no imprio fugaz da luz criada, das
sombras, reflex es e imagens: e ns aspiramos incessantemente ao Teu esplendor
imutvel e imperecvel. Possa o raio de Tua inteligncia e o calor de Teu amor descer
sobre ns; que aquilo que voltil ser fixo, a sombra se converter em corpo, o esprito
do ar receber uma alma e o sonho ser pensamento. No mais seremos varridos ante a
tempestade, mas teremos rdea os corcis alados da manh e guiaremos o curso dos
ventos da noite, de modo que possamos fugir para a Tua presena. Esprito dos
Espritos, Alma eterna das Almas, Imperecvel Alento da Vida, Suspirar Criativo,
Boca que com efeito expira e retrai a vida de todos os seres no fluxo e refluxo de Teu
eterno discurso, que o oceano divino de movimento e de verdade! ª
Todos os rituais seguintes tratam do ramo da magia que diz respeito evocao
dos espritos e exige poucos comentrios ou explica es alm do que j foi fornecido nos
captulos em que esse assunto abordado. A forma da Segunda Conjurao de A Gocia,
o melhor desta obra, assim:
ªEu te invoco, conjuro e ordeno, Tu esprito N., a aparecer e te mostrares
visivelmente a mim diante deste crculo, sob aspecto atraente e agradvel, destitudo de
qualquer deformidade ou tortuosidade, pelo nome e no nome IAH e VAU, que Ado
ouviu e falou; e pelo nome de Deus AGLA, que Lot ouviu e foi salvo com sua famlia; e
pelo nome IOTH que Jac ouviu do Anjo em luta com ele e foi liberto da mo de Esa,
seu irmo; e pelo nome ANAPHAXETON, que Aaro ouviu e falou e foi feito sbio; e
pelo nome ZABAOTH, que Moiss nomeou, e todos os rios foram transformados em
sangue; e pelo nome ASHER EHYEH ORISTON, que Moiss nomeou e todos os rios
produziram rs e estas entraram nas casas destruindo todas as coisas; e pelo nome
ELION, que Moiss nomeou e houve grande chuva de granizo como jamais houvera
desde o princpio do mundo; e pelo nome ADONAI, que Moiss nomeou e ali surgiram
gafanhotos que se espalharam por toda a terra, e devoraram tudo que a granizo deixara; e
pelo nome SCHEMA AMATHIA, que Josu invocou e o sol suspendeu seu curso; e pelo
nome ALPHA e OMEGA, que Daniel nomeou e destruiu Bel e matou o drago; e no
nome EMMANUEL, que as trs crianas, Shadrach, Meshach e Abednego, entoaram no
meio da fornalha gnea, e foram libertados; e pelo nome HAGIOS; e pelo Selo de

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 181 -
ADONAI; e por ISCHYROS, ATHANATOS, PARACLETOS; e por O THEOS,
ICTROS, ATHANATOS e por estes trs nomes secretos AGLA ON
TETRAGRAMMATON eu intimo e constranjo a ti. E por estes nomes, e por todos os
outros nomes do Deus VIVO e VERDADEIRO, o SENHOR TODO-PODEROSO, e
exorcizo e ordeno a ti, esprito N., mesmo por Aquele que proferiu a Palavra e foi feito,
e ao qual todas as criaturas obedecem; e pelos terrveis julgamentos de Deus; e pelo
incerto Mar de Vidro que est diante da Majestade divina, vigorosa e poderosa; pelas
quatro bestas perante o trono que tm olhos na frente e atrs; pelo fogo ao redor do trono;
pelos santos anjos do Cu; e pela poderosa sabedoria de Deus, eu com poder exorcizo a ti
para que apareas aqui diante deste crculo a fim de satisfazer minha vontade em todas as
coisas que a mim se afiguraro boas; pelo Selo de BASDATHEA BALDACHIA; e por
este nome PRIMEUMATON, que Moiss nomeou, e a terra se abriu e com efeito tragou
Kora, Dathan e Abiram. Por conseguinte, tu dars respostas fidedignas a todas as minhas
demandas, esprito N., e realizars todos os meus desejos na medida da capacidade de
tua posio. Portanto, vem, visvel, pacfica e afavelmente, agora sem demora, a fim de
manifestar aquilo que eu desejo, falando com voz clara e perfeita, inteligivelmente, e para
meu entendimento.º
Em The Magus, Barrett apresenta uma ligeira variao do ritual acima. Idntico
verso da Gocia at o trecho que menciona Kora, Dathan e Abiram, excetuando alguma
alteraes secundrias, principalmente referentes a nomes, segue-se uma seo inteira que
exclusiva ao ritual de Barrett, merecendo a citao aqui devido presena dos nomes
brbaros.
ªE no poder daquele nome PRIMEUMATON, comandando toda a hoste do cu,
ns vos amaldioamos e vos despojamos de vossa funo, alegria e posio e com efeito
vos prendemos nas profundezas do poo de fundo para que a permaneais at o dia
terrvel do juzo final; e vos prendemos ao fogo eterno, e ao lago de fogo e enxofre, a
menos que apareais incontinenti diante deste crculo para executar nossa vontade; por
conseguinte, vinde por estes nomes ADONAI, ZABAOTH, ADONAI, AMIORAM,
vinde, vinde, vinde, Adonai ordena; Sadai, o mais poderoso Rei dos Reis, cujo poder
nenhuma criatura capaz de resistir seja para vs sumamente medonho, a menos que
obedeceis, e de imediato aparecei afavelmente diante deste crculo, que a chuva do
infort nio e o fogo inextinguvel permaneam com vs; e portanto vinde em nome de
Adonai, Zabaoth, Adonai, Amioram; vinde, vinde, vinde, por que retardais? Apressa-vos!
Adonai, Sadai, o Rei dos Reis vos ordenam: El, Aty, Titcip, Azia, Hin, Hen, Miosel,
Achadan, Vay, Vaah, Eye, Exe, A, El, El, El, A, Hau Hau, Vau, Vau, Vau.º
Dos mtodos de Honrio* extra a invocao que se segue, tendo-a condensado
ligeiramente. Porquanto se trata de uma evocao do esprito Rei Amaimon, que figura
como um dos hierarcas em A Gocia, e visto que sua comemorao tem teor cristo,
reproduzida abaixo para que uma comparao possa ser efetuada com o ritual precedente,
de teor judaico.
* Papa Honrio III, pontfice de 1216 a 1227. (N. T.)
ª tu Amaimon, Rei e Imperador das partes do norte, eu te chamo, invoco,
exorcizo e conjuro pela virtude de poder do Criador, e pela virtude das virtudes, a me
enviar logo e sem demora Madael, Laaval, Bamlahe, Belem e Ramath, com todos os
outros espritos submetidos a ti, sob forma agradvel e humana! Em qualquer lugar que

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 182 -
estejas agora, aproxima-te e rende aquela honra que deves ao verdadeiro Deus vivo que
teu Criador. Eu te exorcizo, te invoco e sobre ti imponho o mais elevado mandamento
pela onipotncia do Deus sempre vivo, e do Deus verdadeiro; pela virtude do Deus santo
e o poder DELE que falou e todas as coisas foram feitas, e mesmo pelo Seu santo
mandamento os cus e a Terra foram feitos, com tudo que neles est contido! Eu intimo a
ti pelo Pai, pelo Filho e pelo Esprito Santo, mesmo pela Santa Trindade, pelo Deus ao
qual no podes resistir, sob cujo imprio compelirei a ti: eu te conjuro por Deus-Pai, pelo
Deus-Filho, pelo Deus-Esprito Santo, pela Me de Jesus Cristo, Santa Me e Perptua
Virgem, por seu sagrado corao, por seu leite abenoado que o Filho do Pai sugava, por
seu corpo e alma santssimos, por todas as partes e membros dessa Virgem, por todos os
sofrimentos, aflies, trabalhos, agonias que ela suportou durante todo o curso da vida
Dele, por todos os suspiros que ela deu, pelas santas lgrimas que ela verteu enquanto seu
querido Filho chorava antes da ocasio de Sua dolorosa Paixo e sobre o madeiro da
Cruz, por todas as coisas sagradas e santas que so ofertadas e feitas, e tambm por todas
as outras, tanto no cu como na Terra em honra de nosso Salvador Jesus Cristo, e de
Maria Abenoada, Sua Me, por tudo que seja celestial. Conjuro-te pela Santa Trindade,
pelo sinal da Cruz, pelo mais precioso sangue e gua que jorraram do flanco de Jesus,
pelo suor que escorreu de todo Seu corpo, quando Ele disse no Jardim das Oliveiras: `Pai,
se for tua vontade, afasta de mim este Clice'; por Sua morte e paixo, por Seu
sepultamento e gloriosa ressurreio, por Sua ascenso, conjuro-te tambm pela coroa de
espinhos que foi colocada sobre Sua cabea, pelo sangue que escorreu de Seus ps e
mos, pelos pregos com os quais Ele foi pregado ao madeiro da Cruz, pelas lgrimas
santas que Ele derramou, por tudo que Ele sofreu voluntariamente por grande amor a ns,
por todos os membros de nosso Senhor Jesus Cristo.
ªEu te conjuro pelo julgamento dos vivos e dos mortos, pelas palavras do
Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, pelas Suas pregaes, por seus dizeres, por
todos Seus milagres, pela criana em faixas, pela criana chorosa gerada pela me em seu
tero mais puro e virginal, pela gloriosa intercesso da Virgem Me de nosso Senhor
Jesus Cristo, e por tudo que de Deus e da Me Santssima, tanto no cu como na Terra.
Eu te conjuro, tu grande Rei Amaimon, pelos Santos Anjos e Arcanjos, e por todas as
ordens abenoadas de espritos, pelos santos patriarcas e profetas, e por todos os santos
mrtires e confessores, por todas as virgens santas e vivas inocentes, e por todos os
Santos de Deus.º
Muito similar a este ritual o que se segue, transcrito de A Chave de Salomo, o
Rei. Trata-se, entretanto, de uma invocao cabalstica, no contendo quaisquer
elementos. O principal ponto a despertar interesse que depois do promio, cada
pargrafo uma conjurao por e atravs do nome e poder de cada uma das Sephiroth da
rvore da Vida. Este ritual o primeiro ritual evocatrio da Chave, o segundo sendo
muito semelhante realmente segunda conjurao da Gocia.
ª vs Espritos, vs eu conjuro pelo Poder, Sabedoria e Virtude do Esprito de
Deus, pelo incriado Conhecimento Divino, pela extensa Misericrdia de Deus, pela Fora
de Deus, pela Grandeza de Deus, pela Unidade de Deus, e pelo Nome Santo EHEIEH,
que a raiz, tronco, fonte e origem de todos os outros nomes divinos, da extraindo todos
eles sua vida e sua virtude as quais tendo Ado invocado, adquiriu ele o conhecimento de
todas as coisas criadas.

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 183 -
ªEu vos conjuro pelo nome indivisvel IOD, que marca e expressa a Simplicidade
e a Unidade da Natureza Divina, que tendo Abel invocado mereceu escapar das mos de
Caim, seu irmo.
ªEu vos conjuro pelo nome TETRAGRAMMATON ELOHIM, que expressa e
significa a Grandeza de uma Majestade to sublime, que tendo No o pronunciado, o
salvou e protegeu a ele mesmo com toda sua casa das guas do Dilvio.
ªEu vos conjuro pelo nome do Deus EL forte e prodigioso, que denota a
Misericrdia e Bondade de Sua Majestade Divina, que tendo Abrao o invocado, foi
julgado digno de vir da ur dos caldeus.
ªEu vos conjuro pelo mais poderoso nome de ELOHIM GIBOR, que exibe a fora
de Deus, de um Deus todo-poderoso, que pune os crimes dos perversos, que busca e
castiga as iniqidades dos pais sobre os filhos at a terceira e quarta geraes; que tendo
Isaque invocado, foi julgado digno de escapar da espada de Abrao, seu pai.
ªEu vos conjuro e vos exorcizo pelo nome mais santo de ELOAH VA-DAATH,
que Jac invocou quando mergulhado em grande problema, e foi julgado digno de
ostentar o nome de Israel, que significa Vencedor de Deus, e foi libertado da fria de
Esa, seu irmo.
ªEu vos conjuro pelo nome mais potente de EL ADONAI TSABAOTH, que o
Senhor dos Exrcitos, governando nos Cus, que Jos invocou, e foi julgado digno de
escapar das mos de seus Irmos.
ªEu vos conjuro pelo nome mais potente de ELOHIM TSABAOTH, que expressa
piedade, misericrdia, esplendor e conhecimento de Deus, o qual foi invocado por
Moiss, ele foi julgado digno de libertar o povo de Israel do Egito, e da servido ao Fara.
ªEu vos conjuro pelo mais potente nome de SHADDAI, que significa fazer o bem
a todos; e que Moiss invocou e tendo golpeado o Mar, este se dividiu em duas partes ao
meio, do lado direito e do esquerdo. Eu vos conjuro pelo mais santo nome de EL CHAI,
que aquele do Deus Vivo, de cuja virtude a aliana conosco e a redeno para ns foram
feitas; e que Moiss invocou e todas as guas retornaram ao seu estado prvio e
envolveram os egpcios, de modo de nenhum deles escapou para levar as notcias terra
de Mizraim.
ªFinalmente, eu vos conjuro todos, vs Espritos rebeldes, pelo mais Santo Nome
de Deus ADONAI MELEKH, que Josu invocou e interrompeu o curso do Sol em sua
presena atravs da virtude de Methraton, sua principal Imagem; e pelas tropas de Anjos
que no cessam de chorar dia e noite, QADOSCH, QADOSCH, QADOSCH, ADONAI
ELOHIM TSABAOTH, que Santo, Santo, Santo, Senhor-Deus das Hostes, Cu e Terra
esto repletos de Tua Glria; e pelos Dez Anjos que presidem s Dez Sephiroth, pelas
quais Deus comunica e estende Sua influncia sobre coisas inferiores, as quais so
Kether, Chokmah, Binah, Gedulah,* Geburah, Tiphareth, Netsach, Hod, Yesod e
Malkuth.
* Ou Chesed. (N. T.)
ªEu vos conjuro novamente, Espritos por todos os Nomes de Deus e por todas
Suas obras maravilhosas; pelos cus; pela Terra; pelo mar; por toda a profundidade do
Abismo e por aquele firmamento que o prprio Esprito de Deus moveu; pelo sol e pelas
estrelas; pelas guas e pelos mares e tudo neles contido; pelos ventos, os remoinhos e as

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 184 -
tempestades; pelas virtudes de todas as ervas, plantas e pedras; por tudo que est nos
cus, sobre a Terra e em todos os Abismos das Sombras.
ªEu vos conjuro novamente e vos incito poderosamente, Demnios, em
qualquer parte que vs podeis estar, que sejais incapazes de permanecer no ar, fogo, gua
e terra ou em qualquer parte do universo ou em qualquer stio agradvel que possa vos
atrair, mas que vs venhais prontamente cumprir nosso desejo e todas as coisas que
exigimos de vossa obedincia.
ªEu vos conjuro novamente pelas duas Tbuas da Lei, pelos cinco livros de
Moiss, pelas Sete Lmpadas Ardentes no Castial de Deus ante a face do Trono da
Majestade de Deus, e pelos Santo dos Santos onde se permitiu a entrada apenas a
KOHEN HA-GODUL, ou seja, o Alto Sacerdote.
ªEu vos conjuro por Aquele que criou os cus e a Terra e que mediu esses cus no
oco de Sua mo e encerrou a Tera com trs de Seus dedos, que est sentado sobre o
Querubim e sobre o Serafim e junto ao Querubim, que chamado de Kerub, que Deus
constituiu e colocou para guardar a rvore da Vida, armado de uma espada flamejante,
depois que o Homem tinha sido expulso do Paraso.
ªEu vos conjuro novamente, Apstatas de Deus, por Ele que sozinho executou
grandes maravilhas, pela Jerusalm celestial; e pelo Mais Santo Nome de Deus em
Quatro Letras, e por Aquele que ilumina todas as coisas e brilha sobre todas as coisas
pelo seu Nome Venervel e Inefvel, EHEIEH ASHER AHEIEH, que vinde
imediatamente para realizar nosso desejo, qualquer que seja ele.
ªEu vos conjuro e vos ordeno em absoluto, Demnios, em qualquer parte do
Universo que podeis estar, pela virtude de todos estes Nomes Santos: ADONAI, YAH,
HOA, EL ELOHA, ELOHINU, ELOHIM, EHEIEH, MARON, KAPHU, ESCH, INNON,
AVEN, AGLA, HAZOR, EMETH YIII ARARITHA, YOVA HAKABIR MESSIACH,
IONAH MALKA, EREL KUZU, MATZPATZ, EL SHADDAI; e por todos os Nomes
Santos de Deus que foram escritos com sangue no sinal de uma eterna aliana.
ªEu vos conjuro novamente por estes outros nomes de Deus, Santssimos e
desconhecidos, por virtude dos quais vs tremeis todos os dias: BARUC, BACURABON,
PATACEL, ALCHEEGHEL AQUACHI, HOMORION, EHEIEH, ABBATON,
CHEVON, CEBON, OYZROYMAS, CHAI, EHEIEH, ALBAMACHI, ORTAGU,
NALE, ABELECH, YEZE; que vs venhais rapidamente e sem demora nossa presena
de toda regio e todo clima do mundo em que vs podeis estar, para executar tudo que
ns ordenaremos no Grande Nome de Deus. ª
A de Occulta Philosophia de Agrippa contm vrios rituais curtos para uso
dirio, sendo cada um especfico para a evocao das entidades que se conformam aos
dias. O ritual para domingo, por exemplo, :
ªEu vos conjuro e vos confirmo, vs poderosos e santos anjos de Deus, no nome
Adonai, Eye, Eye, Eya que Aquele que era e , e para vir Eye, Abray; e no nome Saday,
Cados, Cados, Cados, sentado nas alturas sobre o querubim; e pelo grande nome do
prprio Deus, forte e poderoso que exaltado acima de todos os cus; Eye, Saraye, que
criou o mundo, os cus, a terra, o mar e tudo que neles existe no primeiro dia e os selou
com seu santo nome Phaa; e pelo nome dos anjos que governam no quarto cu, e servem
diante do sumamente poderoso Salamia, um Anjo grandioso e honorvel; e pelo nome de
sua estrela, que Sol, e pelo seu signo, e pelo nome imenso do Deus Vivo e por todos os

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 185 -
nomes j ditos, eu conjuro a ti, Miguel, grande Anjo, que s o principal regente deste
dia; e pelo nome Adonai, o Deus de Israel, eu te conjuro, Miguel, para que trabalhes
para mim e satisfaz todas minhas peties de acordo com minha vontade e desejo em
minhas causas e negcios.º
Quando durante a cerimnia de evocao h sinais aparentes de que a
manifestao do esprito est ocorrendo, quando a fumaa do incenso rodopia na direo
do tringulo e assume uma forma tangvel, uma orao ou boas vindas aos espritos deve
ser recitada. A forma recomendada por Barrett :

ªBERALANENSIS, BALDACHIENSIS, PAUMACHIA e APOLOGIA SEDES,
pelos mais poderosos reis e poderes, e os mais poderosos prncipes, gnios, Liachidae,
ministros da sede tartrea, prncipe-chefe da Sede de Apologia, na nona regio, eu vos
invoco e vos invocando, vos conjuro; e estando armado de poder proveniente da suprema
Majestade, eu vos ordeno com rigor, por Aquele que falou e se fez e ao qual esto
submetidas todas as criaturas; e por este nome inefvel, Tetragrammaton Jehovah, que
sendo ouvido os elementos so derrubados, o ar agitado, o mar retrocede, o fogo
extinguido, a terra treme, e toda a hoste dos seres celestiais, terrestres e infernais de fato
tremem conjuntamente, e so transtornados e confundidos, por conseguinte, incontinenti,
e sem demora, vinde de todas as partes do mundo, e dem respostas racionais a todas as
coisas que indagarei; e vinde pacfica, visvel e afavelmente agora, sem demora,
manifestando o que desejamos, sendo conjurados pelo nome do Deus vivo e verdadeiro,
Helioren, e cumpra o que ordenamos, e persisti at o fim e em conformidade com nossas
intenes, visvel e afavelmente a ns falando com voz clara, inteligvel e sem qualquer
ambig idade.º
No mesmo livro, Francis Barrett nos apresenta uma outra breve alocuo a ser
recitada quando a manifestao da entidade necessria concluda; isto quando o
esprito fica perfeitamente claro e visvel no tringulo.
ªContemplai o pantculo de Salomo que eu trouxe a vossa presena; contemplai
a pessoa do exorcista no meio do exorcismo, que armado por Deus, sem medo, e bem
provido, que com poder vos invoca e vos chama exorcizando; vinde, portanto, com
velocidade, pela virtude destes nomes: Aye, Saraye, Aye Saraye: no retardai vossa vinda,
pelos nomes eternos do Deus vivo e verdadeiro, Eloy, Archima, Rabur e pelo pantculo
de Salomo aqui presente que poderosamente impera sobre vs; e por virtude dos
espritos celestiais, vossos senhores; e pela pessoa do exorcista no meio do exorcismo;
sendo conjurado apressai-vos e vinde e obedecei ao vosso mestre, que chamado
Octinomos. Preparai-vos para ser obedientes ao seu mestre em nome do Senhor, Bathat
ou Vachat investindo sobre Abrae, Abeor vindo sobre Aberer.º
Quando todas as questes do exorcista forem devidamente respondidas pelo
esprito evocado, e todos os desejos do mago tiverem sido to satisfeitos que no haver
mais necessidade de ret-lo no tringulo de manifestao, dever-se- dar a licena de
partida do cenrio de evocao. O procedimento costumeiro consiste em recitar uma
Licena de Partida e a forma de Licena indicada e A Chave de Salomo, o Rei a
seguinte:
ªPor virtude destes pantculos e porque vs fostes obedientes e acataram aos
mandamentos do Criador, senti e inalai este odor agradvel e depois parti para vossas

A Arvore da Vida - Israel Regardie
- 186 -
moradas e retiros; que haja paz entre ns e vs; estejai sempre prontos para vir quando
fordes citados e convocados; e que possa a bno de Deus, na medida em que sois
capazes de receb-la, estar sobre vs contanto que sejais obedientes e bem dispostos a vir
a ns sem ritos solenes e observncias de nossa parte.º
APÊNDICE - LIVROS RECOMENDADOS PARA ESTUDO
The Candle of Vision, A. E. (Macmillan & Co., 1918)
Mysteries of Magic, liphas Lvi (Londres, 1897)
The Secret Doctrine, H. P. Blavatsky
The Holy Kaballah, Arthur Edward Waite (Williams & Norgate, 1926)
Raja Yoga, Swami Vivekananda
Introduction to the Study of the Kaballah, W. W. Westcott
The Chaldaean Oracles, W. W. Westcott
Equinox, Aleister Crowley (edio privada, 1909 ± 1914)
Magick, Master Therion (Lecram Press, Paris, 1929)
The Egyptian Book of the Dead
The Sacred Magic, S. L. MacGregor Mathers (Redway, 1889)
The Key of Solomon the King (Redway, 1889)
The Ocean of Theosophy, Wm. Q. Judge
The Mysteries, Jmblico (Trad. Thomas Taylor)
The Gods of the Egyptians, E. A. W. Budge (Methuen, 1904)
Mystical Hymns of Orpheus (Trad. Thomas Taylor)
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