(“Sim, as pessoas ainda leem, mas agora socialmente”), publicado no ano passado. Para
Johnson, não é coincidência que as principais inovações científicas e tecnológicas tenham
surgido nos centros urbanos, superpopulosos e dispersivos. Elas dependeriam mais do
intercâmbio de ideias que da leitura solitária e concentrada.
Talvez essa seja uma das razões pelas quais, depois de um ano treinando, Joshua Foer quase
não use, em seu dia a dia, as técnicas que aprendeu. Uma de suas poucas aplicações é
memorizar as falas das palestras que começou a fazer depois do sucesso de seu livro. Mas,
numa festa, prefere anotar no celular os números de telefone novos, como praticamente todos
fazemos. Apesar disso, Foer diz que o treinamento não foi em vão. Ele afirma que as técnicas
são divertidas e estimulam a criatividade, porque envolvem criar associações – na maioria das
vezes engraçadas – entre elementos que nada têm a ver entre si. Por isso, Foer diz que as
escolas não fariam mal se dedicassem, talvez, duas horas para ensiná-las aos alunos. O
principal benefício da experiência, segundo ele, foi tomar consciência da importância de prestar
atenção. “Aprendi a ser mais atencioso, a notar o mundo a minha volta”, escreve Foer.
“Lembrar só é possível quando decidimos prestar atenção.”
É uma regra que não vale só para sequências de números e cartas de baralho, mas para a
vida. Se passamos pelos fatos sem prestar atenção, eles não ficam registrados em nossa
memória. Temos a impressão de que todos os dias são iguais e de que o tempo está voando.
Se, por outro lado, fazemos um esforço para notar os fatos, podemos conseguir resgatá-los da
memória. E, quanto mais lembranças temos, maior a sensação de que o tempo demorou a
passar. Para valer a pena, segundo Sócrates, uma vida precisa ser memorável. Isso não
mudou com o tempo nem com a tecnologia.
"Memória tem mais a ver com criatividade", diz Joshua Foer 08/10/2011 - 12h00 | da Folha.com
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Comente DE SÃO PAULO No crachá lia-se "Joshua Foer, Atleta Mental". Era uma manhã de
2006 e Foer, então com 24 anos, disputava a final do Campeonato Americano de Memória. Se
sagraria campeão após decorar a ordem de 52 cartas, 87 dígitos e 107 nomes. Para um
virtuose da mnemônica, seria feito notável. Para o novato Foer -um jornalista de ciência-,
beirava o milagroso. Até então, era um especialista em esquecer onde deixara o carro, por que
abrira a geladeira e -pecado mortal- o aniversário da namorada. Irmão do autor Jonathan
Safran Foer, Joshua publicou "A Arte e a Ciência de Memorizar Tudo" (Nova Fronteira). Além
de explicar típicas falhas de memória ("por que me lembro da música de Britney Spears,
embora esqueça o nome do autor que admiro?"), o livro, recém-traduzido, conta como Foer se
tornou um especialista em decorar informações absurdas. O autor remonta, primeiro, a 1928
para explicar o caso real de "S" (na literatura médica, nomes de pacientes jamais são citados).
Dotado de uma memória extraordinária, "S" costumava, também, atribuir cor, textura e sabor
aos sons que ouvia. Assim, a voz de um psicólogo lhe era "fragilmente amarela"; a do cineasta
Sergei Eisenstein se assemelhava a "uma chama". Divulgação O escritor Joshua Foer "S"
sofria de sinestesia, desordem neurológica em que sentidos como olfato e audição se
entrelaçam. Para se tornar um especialista em memória, coube a Foer "forjar" uma sinestesia