A História Social da Infância e a Clínica com Crianças Prof. Ms . Ana Carolina P. Soar es
A infância é uma invenção da Modernidade, sendo que sua possibilidade de emergência, relaciona-se ao desenvolvimento da escrita e da escola,além de outros fatores como: o decréscimo da mortalidade infantil, a influência do cristianismo e as novas formas de vida familiar ( Aríes , 1981)
As crianças estavam misturadas no mundo do adulto/imprecisão das idades. Na Idade Média: as crianças participavam de tudo: do trabalho, das festas, dos jogos.
Significado de Infância Sentido Etimológico: Derivação do Latim In (sufixo de negação) fans ou fantis (Particípio presente do verbo Falar) Infans ou Infantis: Atribui-se àquele que não fala, que tem pouca idade ou que ainda é criança. Sentido Comum: Entende-se criança por oposição ao adulto: posição estabelecida pela falta de idade ou de maturidade e de adequada integração social. Sentido Histórico: (ARIÈS, 1973) História Social da Criança e da Família. O estudo de Ariès possui dois fios condutores : A ausência do sentido de infância, tal como um estágio específico do desenvolvimento do ser humano, até o fim da Idade Média, abre as portas para uma interpretação das chamadas sociedades tradicionais ocidentais. Processo de definição da infância como um período distinto da vida adulta também abre as portas para uma análise do novo lugar assumido pela criança e pela família nas sociedades modernas.
Sobre o conceito de infância Não há um único conceito de criança e infância; Existem características universais de ser criança – fragilidade, necessidade de atenção e cuidados especiais, como alimentação e cuidados físicos, requerendo esses cuidados durante muito tempo. Não existe um modelo padrão de infância, depende da forma de organização da classe social em que a criança vive. (Kramer, 1982)
O sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças, corresponde à consciência da particularidade infantil , que distingue essencialmente a criança do adulto.
Sendo que as classes da sociedade capitalista são categorias de um processo histórico em movimento, também a categoria “criança” muda de sentido de acordo com o tipo de sociedade em discussão, sua organização, seu modo de produção. (Victor Vicent Valla ).
História Social da Infância Antigamente, Crianças = adultos em miniatura: A ideia moderna de infância surge no Renascimento (séc. XV) e consolida-se no Século das Luzes (XVIII), com o Iluminismo. Até o século XVI, as crianças eram vistas como “adultos em miniatura”, não há um espaço separado para o “mundo adulto” e o “mundo infantil ”. No século XVII, somente crianças nobres tinham tratamento diferenciado e recebiam educação formal . A partir do século XVII, na França, a criança passa a ser associada à fragilidade, dependência e inocência. Emerge um “sentimento de infância” e o governo dos infantis, ou seja, impedir a morte e promover a vida
Só a partir do século XVIII, as mães passam a ser vistas como “cuidadoras” dos filhos, surge a noção de “amor materno”. As amas de leite são substituídas pelas mães no cuidado das crianças, e as primeiras acusadas de promulgar os maus-hábitos e falta de saúde nas crianças. A noção de higiene e cuidados com as crianças passa a ser central. A criança como o centro das atenções maternas e familiares Paparicação e educação: o bom selvagem. Sentimento de paparicação e compreensão das crianças como dependentes dos adultos. A criança vista como “bom selvagem” ( Rosseau ), doce e dependente, é necessário educá-la para civilizá-la. A criança como o começo e a origem do adulto, ou seja, a vida adulta é o objetivo final. Família moderna: A família moderna impõe-se como instituição social no Século das Luzes, por volta de 1750, como instrumento privilegiado de controle das populações. Dispositivos de controle da sexualidade e da higiene, a “mãe higiênica” e o médico da família sabem o que faz bem à criação das crianças burguesas. A educação primava por tirar as crianças da irracionalidade, levando-as à racionalidade. Nas classes pobres, o estado encarregava-se das crianças através dos Orfanatos
R ESUMO SÉCULO XVI : Relação entre pais e filhos é formal, crianças são consideradas inferiores; Não existe consciência de infância. SÉCULO XVII : As crianças são percebidas como “criaturinhas” de Deus; São consideradas seres frágeis; Necessidade de preservar sua inocência; Precisa ser educada. SÉCULOS XVIII E XIX: Séc . XVIII – permanece a criança frágil e inocente; Séc. XVIII e XIX – é considerada importante componente familiar e social ; Séc. XVIII e XIX – preocupação em relação ao seu futuro ;
No século XIX: A escolarização universaliza a infância: todas as crianças deveriam ser iguais, independente de suas realidades. O governo dos cidadãos se dá pela escolarização. Conhece-se e estuda-se as crianças, normatiza-se e governa-se as através da captura e disciplinamento das instituições escolares e seus currículos . Séculos XIX e XX: direitos universais das crianças e nova adultização da infância. Diferentes modos de se vivenciar a infância: criança trabalhadora, criança super-protegida, criança-adulto , entre outros.
ATUALMENTE, EXISTE CONSENSO DE QUE A DINÂMICA FAMILIAR É A UNIDADE BÁSICA NA FORMAÇÃO DA ESTRUTURA DA PERSONALIDADE E NO ESTABELECIMENTO DE PADRÕES DE RELACIONAMENTO. FORMA DE ABORDAR A FAMÍLIA E O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA: DIFERENTES FORMAS E TEORIAS.
I MPORTANTE DECONSTRUIR a idéia: De criança “padrão”; De receptor passivo; De alguém que nada sabe; De mini-adulto; De sujeito em-falta (privação cultural).
REFLEXÃO Fim da infância? Segundo Neil Postman , autor de O fim da infância , com o advento dos meios de comunicação de massa (televisão, telefone, etc ), as crianças passam novamente a partilhar o mundo dos adultos na segunda metade do século XX. Hoje, muitas crianças cumprem obrigações e compromissos iguais aos adultos, tanto nas classes baixas como nas classes favorecidas economicamente . Criança-adulto ?
BREVE HISTÓRICO DA PSICOTERAPIA INFANTIL Inicio , final do século XIX. A sociedade capitalista passou a enxergar a criança como a futura força de trabalho. FREUD – Caso Hans – Etiologia das neuroses estava na infância – Principio do Prazer - uso do brinquedo na comunicação com a criança. O brincar como possibilidade de expressão e elaboração de frustrações e conflitos.
ANNA FREUD – Estudo não sistematizado da psicoterapia infantil. A sua contribuição foi o uso do brinquedo na construção de uma relação positiva entre a criança e o adulto. MELANI KLEIN – Sistematização do trabalho terapêutico com a criança. - Brinquedo como substituto direto da verbalização. -A importância crucial do primeiro ano de vida no desenvolvimento da personalidade. - Importância da integração das polaridades Amor e Ódio.
RONALD WINNICOTT – Enfatizou a importância das primeiras relações no desenvolvimento da personalidade. - Maternagem – a importância do acolhimento materno para um desenvolvimento integrado da criança. - Introduziu o olhar cuidadoso e interessado para os pais na análise da criança. - Introduziu a noção de espaço transicional, fundamental para entender o processo de diferenciação da criança com relação ao adulto.O objeto transicional (o brinquedo) como o recurso que a criança utiliza para a diferenciação Eu/ não Eu. - Sugere encontrar a criança no seu brincar.
M. MANNONI – Escola Francesa. - A noção de que:”a criança não é a doente”. Começa a interessar pelo que está sendo pedido quando se traz a criança para o tratamento, e de quem é o pedido. Percebe-se aqui a importância da família no processo terapêutico. -Questiona a função pai e mãe biológico nas primeiras relações. Introduz o papel de cuidador. Função materna de acolhimento e cuidado. Função paterna como limite e separação .
A perspectiva humanista existencial fenomenológica surgiu pós-guerra: Mudança de paradigma,Saiu da livre associação e interpretação para a busca do sentimento através da Reflexão de Sentimentos. Processo terapêutico centrado na criança: - Aceitação da criança como ela se apresenta. - Intervenções descritivas - Postura não diretiva - Respeito pelo seu tempo. - Reflexão de sentimentos. TERCEIRA FORÇA DA PSICOLOGIA
1980 – VIOLET OAKLANDER – Permaneceram os pressupostos vinculados à visão de homem na referência humanista, existencial fenomenológica. Mudança na metodologia. - Terapeuta não diretivo - Introdução das técnicas - Priorização das técnicas em detrimento da postura fenomenológica.
A DEFINIÇÃO COMPORTAMENTAL DE DISTÚRBIO PSICOLÓGICO INFANTIL Ocorre quando uma criança se comporta de forma diferente da norma social, com uma freqüência ou intensidade que os adultos significativos de seu meio julgam ser muito alta ou muito baixa (Ross, 1974). Se reconhece a influência de diversos fatores na determinação dos distúrbios infantis e devem ser avaliados. Se a família e/ou escola apoiarem o trabalho do psicólogo, a intervenção será mais eficaz, alcançando mudanças mais duradouras.