a soluçäo dos problemas präticos, é cla porém, a pesquisa "de
base”, a maior fiadora da possibilidade de aplicar aos fenómenos
subjetivos os modelos de inteligibilidade das ciéncias naturais e,
em conseqüéncia, de submeter aqueles fenómenos ao interesse
tecnológico, Isto ela o faz sem sujar as mios, apoiando-se just
mente no seu pretenso descompromisso com os problemas pré-
ticos'. Este esforgo de legitimagdo € tanto mais necessério porque
as práticas de dominagto e controle social estfo sujeitas a um
processo incessante de contestado cujas manifestagdes teóricas
no campo da psicologia emergem das matrizes románticas”
4. MATRIZES ROMÁNTICAS E PÓS-ROMÁNTICAS
4.1. Matriz vitaliste e naturl
ta
Tudo o que fora exeluldo pelas matrizes cientificistas &
recolhido pelo conjunto de atitudes e perspectivas intelectua
que estou denominando de vitalismo naturista: o "qualittivo",
indeterminado", o "erativo”, o "espiritual" etc. Trocam-se of
, mas permanece a divisto entre raz8o e "Vida". Os vialis
tomam partido: sdo a favor da "vida" e contra a razho. O interesse
tecnológico, com suas exigäncias de classificaglo, cálculo e
mensuragäo, deve ser aceito apenas para o trato com a matér
inerte, mas precisa ser superado no ¡rato com a vida e, particu-
larmente, com a forma de vida mais clevada, a vida espiritual do
homem; a ineligéncia conceituai, a servigo da prática de con-
role, deve ser susbstitulda pela intuicao, pela apreensäo imedi
la da natureza "naturante”” das coisas, pelo entregar-se ©
fundir-se sem intermediärios ao Muxo do dan vital. Em que pese
a indigencia dos mitos naturistas, como sio a manifestaglo
espontánea do material reprimido pela estlo sempre
aflorando nas diversas seitas psicológicas unificadas pelo anti-
racionalismo, pela mistica da vivéncia auténtica, pré-social €
pré-simbólica. É o sujeito que, por nfo se reconhecer na sua
ciéncia, na imagem que Ihe devolve o espelho científico, desiste
de obter de si uma imagem refletida. O conheeimento da vida
pela vida e do espirito pelo espirito passa a se identificar com a
propria vivéncia e com a propria experiéncia espiritual. No lugar
do interesse tecnológico domina aqui o interesse estético, con-
templativo e apaixonado, em que se anulam as diferengas entre
sujeito e objeto do conhecimento e a diferenga entre ser e
conhecer.
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Värias correntes das chamadas psicologias humanistas, a
obra da decrepitude de W. Reich e a bioenergética, a terapia
gestältica e outras técnicas corporais trazem, em diferentes
graus, as marcas desta matriz que está, por sinal, profundamente
enraizada no senso comum da prática psicológica e nas repre-
sentagdes sociais da psicología.
4.2. Matrizes compreensivas
Considerarei, em capítulos separados, très grandes linhas
compreensivas - o historicismo idiografico, o estrutural
fenomenología. Destas, apenas a primeira pode ser cl
identificada como uma matriz romantica. Os estruturalismos so
de fato reaçdes anti-románticas de indole tendencialmente cien-
tificista, enquanto a fenomenología & um dos coroamentos da
tradiçäo filosófica racionalista, iluminista e, portanto, anti-ro-
mäntica. Näo obstante, enquanto matrizes do pensamento psi-
colégico, elas se inscrevem numa problemática instaurada pelo
romantismo: a problemática da expressdo. O que as unifica é
visar - mediante os mais diversos procedimentos - a exper
humana inserida no universo cultural, estruturada e definida por
cle, manifesta simbolicamente. Diante dos fenómenos vitais de
natureza expressiva coloca-se a exigencia de compreensdo, que
se converte em interpretaçäo quando a compreensäo imediata é
bloqueada,
© conhecimento comprensivo & impulsionado pelo inte-
resse comunicativo ¢ o real, objeto deste conhecimento; sto,
efetiva ou analogicamente, formas simbólicas e/ou modos ex-
pressivos, ou seja, manifestasdes de uma subjetividade (indivi-
dual ou coletiva) atravessada pela intengdo comunicativa ¢
projetada na diregäo de uma intengäo compreensiva,
O historicismo idiográfico busca a captagäo da expetién
tal como se constitui na vivéncia imediata do sujeito, com sua
estrutura sui generis de significados e valores, irredutivel a
esquemas formais e generalizantes. A compreensio psicológica
deve individualizar o sujeito, como a compreensto histórica deve
individualizar uma época e uma cultura, e a compreensäo esté-
tica, uma obra de arte, porque somente as configur:
© peculiares ao sujeito, à época ou à obra conferem sentido a cada
um dos seus elementos e manifestagdes parciais.
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