Há ainda uma difícil barreira de sentido a superar: para
que um/a jovem possa vir a se reconhecer como
homossexual, será preciso que ele/ela consiga
desvincular gay e lésbica dos significados a que
aprendeu a associá-los, ou seja, será preciso deixar de
percebê-los como desvios, patologia, formas não-
naturais e ilegais de sexualidade. Como se reconhecer
em algo que se aprendeu a rejeitar e a desprezar?
Como, estando imerso/a nesses discursos
normatizadores, é possível articular sua
homossexualidade com prazer, com erotismo, com algo
que pode ser exercido sem culpa?
Louro, Gênero, Sexualidade e Educação.
narrativa...
Intro 2
http://www.youtube.com/watch?v=cq-CzW5Q8p8
Kid´s reaction to a gay couple
http://www.youtube.com/watch?v=ci1vMKOZlnI
Fátima Bernardes
http://www.youtube.com/watch?v=8TJxnYgP6D8
Kid´s reaction to gay marriage
2 assertivas iniciais…
A presença de comentários, conversas, imagens, piadas
sobre sexo, sobre a sexualidade das pessoas e suas
escolhas ( ou tomadas como escolhas no caso dos primos
homens héteros tomados como gay)
Esses comentários, imagens e comentários + imagens
são colocados em forma de brincadeira, piada, ironia,
sempre produzindo uma injúria que atingem o injuriado
diretamente, escamoteiam e perpetuam níveis (talvez
iniciais) de homofobia.
locais de enunciação:
de onde falo
For many, the world (Modern society) has
changed...fastly
Desafios
Um dos grandes desafios que se coloca à área de
educação em/de línguas estrangeiras no país é
contemporaneamente discutir e lidar com as
multiciplicidades de filosofias, teorias, propostas e
práticas pedagógicas. Nas OCEM-LE (MEC, 2006), por
exemplo, propõe-se a possibilidade de se conciliar as
práticas pedagógicas vigentes (ensino de línguas
focalizado na aprendizagem linguística) com práticas
sócio-culturais e críticas que levam em consideração as
questões globais, locais, culturais e cidadãs.
Desafios
Critical language education
OCEM (2006)
CLE CAL (PENNYCOOK)
EELT (FERRAZ, 2010)
Exemplo - Questão cidadania: talvez seja por onde podemos iniciar os debates
sobre o encontro sexualidade e educação de ´LE.
Como pensar as práticas em nossas aulas cotidianas, em que se
pesem as novas propostas educacionais para as línguas estrangeiras?
Neste sentido, haveria espaço para criticidade, discussão sobre
sociedade, cidadania nas aulas da disciplina de escrita acadêmica
em inglês? Além disso, seria possível conectar e discutir temas, tais
como a escrita acadêmica, sexualidade, homossexualidade e
homofobia?
Considerando que as conexões acima são possíveis, os estudantes
(os quais muitos deles já são professores) estão preparados para
discutir tais temas em suas aulas (uma vez que os temas podem
trazidos pelos alunos)?
Momento 1: pré-análise da atividade
Em pares, analisar inicialmente a atividade sem contextualização.
Análise da atividade
Foram dois grupos investigados (UFES)
16 alunos do terceiro período participaram e na segunda, 15
alunos.
fluentes na língua inglesa e as aulas são conduzidas em inglês
praticamente em toda aula.
Além disso, ambas as turmas possuem homens e mulheres e, em
uma delas (turma B), um aluno homossexual assumido e na
outra (turma A) há uma aluna bissexual.
Academic Writing,
Objetivos: a discussão da importância da comunicação escrita, o
estudo dos diversos gêneros textuais acadêmicos, bem como o
desenvolvimento de um artigo acadêmico (que é desenvolvido ao
longo do semestre).
As aulas aqui analisadas se referem às aulas de preparo e
desenvolvimento do capítulo de metodologias e métodos de pesquisa.
Decidi, dessa forma, apresentar as filosofias de pesquisa
fenomenológica e positivista, bem como as metodologias e métodos
de pesquisa a serem escolhidos pelos alunos-pesquisadores.
Interpretações
“Nas suas aulas de inglês (como aluno), seus professores
falavam sobre sexualidade, gêneros? Você se lembra de alguma
situação embaraçosa ou violenta envolvendo preconceito de
gênero (homofobia), ou bullying?”.
Eribon (2008)
a injúria não é apenas uma fala que descreve. Ela não se
contenta em anunciar o que sou. Se alguém me xinga de
“viado nojento” (ou “negro nojento” ou “judeu nojento”),
ou até, simplesmente, “viado”, “negro” ou “judeu”, ele
não procura comunicar uma informação sobre mim
mesmo. Essa consciência ferida, envergonhada de si
mesma, torna-se um elemento constitutivo da minha
personalidade.
Em Ferraz (2014a, 2014b) tenho defendido que é com dor e
coragem que jovens adultos saem dos armários e assumem
suas sexualidades e opções sexuais numa sociedade como a
nossa: extremamente preconceituosa que,
paradoxicalmente, julga o homossexual o ano inteiro mas
permite que seus homens heterossexuais se transvistam de
mulheres e drag queens na época do carnaval, como
colocado por Trevisan (TREVISAN, 2011) em Devassos no
Paraíso. Assim, essas vozes silenciadas vão, aos poucos,
acreditando que devem permanecer como tal e que o
problema são elas mesmas
2 conclusões para hoje...
Para o fim (I)...
Os professores brasileiros preferem ignorar o
fato de a escola estar povoada por indivíduos
que diferem das normas convencionais. As
escolas brasileiras não permitem uma prática
pedagógica a qual reflita sobre essas diferenças
e seus efeitos sociais e culturais (JESUS, 2012,
p. 155)
Transculturalidade: Há muitos teóricos
(MORGAN e VANDRICK, 2009) que defendem
que a aprendizagem de uma LE perpassa as
questões culturais e identitárias, pois, ao
assumir a língua do outro, estrangeira, o
educando tem a oportunidade de vivenciar
uma alteridade linguística e, certamente,
cultural. Creio que uma das grandes
contribuições das línguas estrangeiras seria
justamente focalizar a identidade cultural
e, a partir desse prisma, as identidades
sexuais e de gênero.
Dentro das várias possibilidades pedagógicas, creio, as
sexualidades, estudos de gênero, bem como o
homossexualidade e a homofobia constituem desafios a
serem discutidos nas aulas de LE, ao mesmo tempo em
que se tornam contribuições para a área, ao serem
inseridos nas mesmas.
Para o fim (II)...
E por que, então, uma certa militância
acadêmica?
No momento em que termino este prefácio, leio
nos jornais que um jovem gay foi assassinado nos
Estados Unidos, numa cidadezinha do Wyoming.
Foi torturado pelos dois agressores e abandonado,
agonizante, pendurado numa cerca de arame
farpado. Tinha 22 anos. Chamava-se Matthew
Shepard. (ERIBON)
Acredito que se mudarmos acima as palavras
Estados Unidos para Brasil, e o nome Matthew
Shepard para Lucas Fortuna, 28 anos, jornalista
de Goiânia, que também foi assassinado, deixado
com o rosto desfigurado, vemos que o texto acima
seria válido para nosso contexto.
Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), “foram
documentados 338 assassinatos de gays, travestis
e lésbicas no Brasil (...) Um aumento de 21% em
relação ao ano anterior”. Apesar de ter
consciência do tom “panfletário”, talvez common
sense, deste encerramento, não poderia deixar
de mencionar que esses fatos me amedrontam e
magoam profundamente. http://www.doistercos.com.br/ggb-
divulga-numero-de-assassinatos-de-gay-no-ano-de-2012/
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