A república de platão resumo

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A República de Platão

1. INTRODUÇÃO
A República de Platão é uma obra bastante longa, que deveria ser,
originariamente, dividida em várias partes, divisão esta que não foi conhecida.
A repartição em seis livros, adotada na Antiguidade, deve-se provavelmente a
Aristófanes de Bizâncio, e a em dez livros ao filósofo e gramático Trasilo,
sendo esta seguida pelos editores modernos.
Existem cinco partes principais:
1) O livro I é uma espécie de prólogo em cujo transcurso o problema da justiça
é colocado em seus termos mais simples, tal como aparece nas transações da
vida corrente. A este problema, diversas soluções são propostas: a da gente de
bem, a dos sofistas etc.; sendo fácil demonstrar suas insuficiências. O que
convém, que recorramos a um método mais exato.
2) Os livros II, III e IV tem por objeto definir a justiça, estudando-a na cidade
perfeita. Ora, como não se encontra semelhante cidade nem na história, nem
na realidade presente, cumpre funda-la completamente na imaginação.
3) Os livros V, VI e VII, estudar-se-ão a particularidade de sua organização, seu
governo, as qualidades requeridas a seus magistrados, e estabelecer-se-á,
para a formação destes últimos, um plano completo de educação.
4) Nos livros VIII - IX, vemos que as vantagens da justiça não assumirão todo o
valor se não forem opostas aos malefícios provenientes da injustiça. Depois de
descrita a cidade justa, é necessário, pois correr os olhos sobre as cidades
injustas, e estudar os males que, através de uma série de quedas, as
conduzem à ruína. Na alma humana, tais males têm as mesmas causas e
provocam as mesmas degradações.
Sendo a justiça inseparável da ciência, convém coordenar para sempre a
poesia e as artes que nos mostram, das coisas, apenas uma imagem vã e nos
enganam acerca do verdadeiro ser destas coisas.
5) No livro X, após desfrutar da felicidade que a posse da sabedoria
proporciona neste
mundo, a alma justa receberá, nos Campos Elísios, recompensas dignas de
sua natureza, e prosseguirá na via ascendente a seu imortal destino.
Neste trabalho faremos um breve resumo sobre os capítulos desta belíssima
obra. Porém, para tanto, é importante saber um pouco mais sobre quem foi
Platão.

2. SOBRE PLATÃO
Platão, cujo verdadeiro nome era Aristócles, nasceu em Atenas, em 428/427
a.C., e lá morreu em 347 a.C. Platão é um nome que, segundo alguns, derivou
de seu vigor físico e da largueza de seus ombros (platos significa largueza). Ele
era filho de uma abastada família, aparentada com famosos políticos
importantes, por isso não espanta que a primeira paixão de Platão tenha sido a
política. Inicialmente, Platão parece ter sido discípulo de Crátilo, seguidor de
Heráclito, um dos grandes filósofos pré-Socráticos. Posteriormente, Platão
entra em contato com Sócrates, tornando-se seu discípulo, com

aproximadamente vinte anos de idade e com o objetivo de se preparar melhor
para a vida política. Mas os acontecimentos acabariam por orientar sua vida
para a filosofia como a finalidade de sua vida.
Platão tinha cerca de vinte e nove anos quando Sócrates foi condenado à
beber o cálice de cicuta . Ele havia acompanhado de perto o processo de seu
mestre, e o relata na Apologia de Sócrates. O fato de Atenas, a mais iluminada
das cidades-estados gregas, ter condenado à morte "o mais sábio e o mais
justo dos homens" - como falara mediunicamente o oráculo de Apolo, em
Delfos - lhe deixou marcas profundas que determinariam as linhas mestras de
toda a sua atividade de filósofo.
Platão foi o responsável pela formulação de uma nova ciência, ou, para ser
mais exato, de uma nova maneira de pensar e perceber o mundo. Este ponto
fundamental consiste na descoberta de uma realidade causal supra-sensível,
não material, antes apenas esboçada e não muito bem delineada por alguns
filósofos, embora tenha sido um pouco mais burilada por Sócrates. Antes de
Sócrates, era comum tentar-se explicar os fenômenos naturais a partir de
causas físicas e mecânicas. Platão observa que Anaxágoras, um dos pré-
socráticos, tinha atinado para a necessidade de introduzir uma Inteligência
universal para conseguir explicar o porquê das coisas, mas não soube levar
muito adiante esta sua intuição, continuando a atribuir peso preponderante às
causas físicas.

3. LIVRO I - Sócrates
Sócrates e Glauco (filhos de Ariston), desciam ao Pireu, quando Polemarco
(filhos de Céfalo) mandou um escravo abordá-los e pediu que esperassem por
Polemarco, que chegou acompanhado de Adimanto (irmão de Glauco), de
Nicerato (filho de Nícias) e de alguns outros. Percebendo que Sócrates estava
indo embora da cidade o convencem a ficar.
Foram todos para a casa de Polemarco encontrando seu pai Céfalo, Lísias e
Eutidemo, seus irmãos, Transímaco e Clitofon.
Céfalo já é um homem muito velho que gosta muito de conversar. Sócrates fala
sobre a velhice e a sabedoria, querendo conversar mais com Céfalo. Céfalo
começa então a contar que quando se reúne com pessoas da mesma idade
alguns lastimam com saudade da juventude; outros se queixam dos ultrajes
que a idade os expõem; porém Céfalo acha que a velhice traz paz e liberdade.
Sócrates diz que a maioria dos que ouvem Céfaloacreditam que ele suporta a
velhice não graças ao caráter, mas as riquezas.
Continuam falando sobre riquezas, considerando então " a posse de riquezas
como muito preciosa, não para todo homem, mas para o sábio e o sensato."
Então surge o tema justiça, indagando Sócrates: - Consiste em dizer a verdade
e em devolver o que se recebeu de alguém, ou que agir deste modo é às vezes
justo e outras vezes injusto?
Céfalo abandona a discussão intervindoPolemarco, que diz entender como
justiça é fazer bem aos amigos e o mal aos inimigos.
Sócrates diz a Polemarco que parece que a justiça no modo seu modo de
pensar, é uma arte de roubar, em favor, todavia dos amigos e em detrimento
dos inimigos. Polemarco diz que não é isso que pensa. Então Sócrates indaga:

"- a quem tratas de amigos: aos que se nos parecem honestos ou àqueles que
o são, embora não o pareçam, e assim quanto aos inimigos?"
Continuam divagando sobre o tema do justo, injusto, amigo inimigo, até que
Sócrates diz: "- Não é próprio do justo prejudicar a um amigo ou a pessoa
alguma, mas do seu contrário, do injusto. Sendo que se alguém afirma que a
justiça consiste em devolver a cada um o que lhe deve, e se entende por isso
que o homem justo deve prejuízo a seus inimigos e serviço aos amigos, não é
sábio quem prefere tais palavras. Pois não diz a verdade: em nenhum caso,
com efeito, e a ninguém nos pareceu justo fazer o mal."
O texto diz que Trasímaco estava tentando tomar parte na conversa, embora
fosse impedido por seus vizinhos. Mas não se conteve, elevando a voz no meio
do auditório se dirigindo à Sócrates: "- Se queres mesmo saber o que é o justo,
não te limites a interrogar, e não empenhes o brio em refutar quem responde,
mas, após reconheceres que é mais fácil inquirir do que responder, responde tu
mesmo e dize como defines a justiça..."
Sócrates surpreso responde com ironia, reconhecida por Trasímaco. A
conversa continua, e Trasímaco define a justiça como "a vantagem do mais
forte".
Continua dizendo que em cada governo estabelece as leis para a sua própria
vantagem: a democracia leis democráticas...; estabelecidas estas leis,
declaram justa, para os governados, esta vantagem própria e punem quem a
transgride como violador da lei e culpado de injustiça. Afirmando que: em todas
as cidades o justo é uma mesma coisa: o vantajoso ao governo constituído;
ora, este é o mais forte, donde segue, para todo homem que raciocina
corretamente, que em toda parte o justo é uma e mesma coisa: o vantajoso ao
mais forte.
Sócrates, examinando o que o outro falou, diz: "é justo obedecer aos
governantes, mas como são eles suscetíveis de se enganar, elaborando boas e
más leis, sendo as boas as que instituem o que lhes é vantajoso e as más o
que lhes é desvantajoso. E como foram os governantes que instituíram devem
os governados cumprir, concluindo pergunta: nisso consiste a justiça, não é?
Trasímaco concorda. Então Sócrates finaliza: " - Logo, não só é justo, na tua
opinião, fazer o que é vantajoso ao mais forte, mais ainda o contrário, o que lhe
é desvantajoso.
Polemarco e Clitofon participam da discussão. . Clitofon pretende que
Trasímaco quis dizer que a justiça é o que o mais forte julga ser de seu
interesse, e não este interesse mesmo. Já Polemarco, pensa que Trasímaco
apenas identificou a justiça com a obediência aos governantes.
Sócrates vai perguntando e Trasímaco concordando com dificuldade.
Sócrates diz: "- Portanto, nenhuma ciência visa ou prescreve a vantagem do
mais forte, porém a do mais fraco, do objeto governado por ela."
Trasímaco levantou a questão do destino reservado ao justo e ao injusto. E
antes de tudo, será o primeiro mais sábio que o segundo?
Após o seu discurso pretendia Trasímaco se retirar, mas foi forçado a
permanecer.

O debate continuou, até que Trasímaco concordasse com tudo que Sócrates
dizia, meio a contragosto, porém concluindo que a justiça é virtude e sabedoria
e a injustiça, vício e ignorância.
Sócrates termina, dizendo : "O resultado da palestra é que nada sei; pois, não
sabendo o que é a justiça, sei menos ainda, se é virtude ou não, e se aquele
que a possui é feliz ou infeliz."

4. LIVRO II, III e IV
Iremos resumir estes três livros em conjunto, devido ao fato de os três livros
terem como objeto principal: definir a justiça, estudando-a na cidade perfeita.
No princípio do Livro II, se insiste em querer saber a natureza da justiça e da
injustiça. Os dois irmãos de Platão querem, portanto, a demonstração de que a
justiça é instrinsecamente. Para tanto, Sócrates propõe-se apreciar os fatos em
grande escala, o que lhe facilitará a tarefa. Por conseguinte, transfere a sua
análise do indivíduo para a cidade.
Glauco introduz uma distinção entre a natureza e a lei que não constava no
discurso de Trasímaco: a natureza só conhece a injustiça; a lei que assegura a
justiça, constitui-se ao mesmo tempo que a sociedade.
Sócrates diz: " cumpre conceder ao homem perfeitamente injusto a perfeita
injustiça, sem excluir nada, e admitir que, cometendo os atos mais injustos, daí
retira a maior reputação de justiça que, se se equivoca em algo, é capaz de
reparar o erro...Com efeito, se parecer justo, contará, a este título, honras e
recompensas; não se saberá então se ele é assim pela justiça ou pelas honras
e pelas recompensas. Por isso, é mister despoja-lo de tudo, salvo da justiça, e
torna-lo o oposto de precedente. Sem cometer o ato injusto, que tenha a maior
reputação de injustiça, a fim de que seja posto à prova em sua virtude, não se
deixando amolentar pela má fama e por suas conseqüências; que permaneça
inabalável até a morte, parecendo injusto a vida inteira, mas sendo justo, a fim
de que, chegando ambos aos extremos, um da justiça e outro da injustiça,
possamos julgar qual é o mais feliz."
Começam a discutir sobre se a justiça é um atributo não só do indivíduo, mas
também da cidade inteira, descrevem-se então as transformações de uma
cidade, que, de primitiva, se torna luxuosa, motivo por que começa a precisar
de uma especialização de tarefas cada vez maior. Essa cidade carece de
soldados que a defendam e preservem - de guardiões com um treino próprio.
Começam a falar sobre a educação que deve ser dada pela musica e pela
ginástica, à maneira tradicional grega.
Declara-se abertamente que os poetas não servem para instruir a juventude: "
quando um poeta falar assim dos deuses, haveremos de irritar-nos, não lhe
faremos coro e não permitiremos que os mestres se utilizem de suas fábulas
na educação da juventude, se é que desejamos que nossos guardiães sejam
piedosos e divinos na maior medida em que mortais o possam ser.
No livro III prossegue a discussão acusatória, sendo que, depois de mandar
embora os que imitam o mal, retoma o tema educação pela música e pela
ginástica.
Sócrates diz que " um deus deu aos homens duas artes, a música e a
ginástica; ele não as deu para a alma e o corpo, a não ser acidentalmente, mas

para aqueles dois elementos, a fim de que se harmonizem entre si, quando
tendidos ou afrouxados até o ponto conveniente...Aquele que mistura com mais
beleza a ginástica à música e as aplica na melhor medida à própria alma,
aquele, diremos nós mui justamente, é perfeito músico e perfeito harmonista,
muito mais do que aquele que regula entre si as cordas de um instrumento".
É interessante quando Sócrates diz que o bom juiz não poderia ser jovem, mais
velho, pois é preciso que tenha aprendido tarde o que é a injustiça, que a tenha
conhecido sem aloja-la na alma, mas estudando-a por muito tempo, como uma
estranha, na alma dos outros, e que a ciência, e não a experiência própria, o
façam sentir nitidamente que mal ela constitui.
Já no Livro IV, são regulamentados outros aspectos da vida da comunidade,
declarando Sócrates que fundada a cidade, estão agora aptos a procurar onde
poderia estar a justiça e a injustiça. Pois, se a cidade é perfeita, terá de possuir
as quatro virtudes: sabedoria, coragem, temperança e justiça. Sendo que a
primeira se encontra nos guardiões, a segunda nos guerreiros e a terceira na
harmonia geral de todas as classes. A justiça será que cada um exerça uma só
função na sociedade, aquela para a qual, por natureza, foi mais dotado.
Sócrates diz que a força que contém cada cidadão nos limites de sua própria
tarefa, concorre, para a virtude de uma cidade, juntamente com a sabedoria, a
temperança e a coragem desta cidade.
Portanto, a sociedade tinha três classes: os guardiões, os militares e os
artífices. Sendo que também a alma do indivíduo tem três elementos: apetitivo,
espiritual e racional. Aos apetites cabe obedecer, às emoções assistir, à razão
governar.
Portanto, o equilíbrio ou desequilíbrio conduzem à justiça ou à injustiça.

5. LIVRO V
A discussão é interrompida no começo deste livro, e voltamos a ver o
agrupamento de figuras, e a mesma arte de as movimentar.
Polemarco combina com Adimanto interromper Sócrates, para o forçar a
explicar-se melhor sobre a comunidade de mulheres e filhos, que foi anunciada
no livro IV.
Sócrates diz: "...talvez seja bom que, depois de determinar perfeitamente o
papel dos homens, determinemos o das mulheres, tanto mais que assim o
queres. Para homens, por natureza e por educação tais como os descrevemos,
não há na minha opinião posse e uso legítimo dos filhos e das mulheres,
exceto pelo caminho em que os pusemos no começo. Ora, tentamos converte-
los, de alguma forma, nos guardiães de um rebanho".
Portanto, neste livro, é este ponto que será esclarecido, com grandes rodeios e
precauções, expressas em metáforas. Primeiro se propõe que as mulheres,
podendo ter a mesma capacidade dos homens, devem tomar parte nos cargos
diretivos da cidade. Segundo eles explicam o complicado sistema de realização
de casamentos e a procriação na classe dos guardiões, de molde a obter o
mais alto grau de eugenia. " É preciso, segundo os nossos princípios, tornar
muito freqüentes as relações entre os homens e as mulheres de escol e, ao
contrário, muito raras entre os indivíduos inferiores de um e de outro sexo;
ademais, é preciso criar os filhos dos primeiros e não os dos segundos, se

quisermos que o rebanho atinja a mais alta perfeição; e todas essa medidas
devem permanecer ocultas... instruiremos festa, em que reuniremos noivos e
noivas, com acompanhamento de sacrifícios e hinos que nossos poetas
comporão em honra às bodas celebradas. No que diz respeito ao número de
casamentos, deixaremos aos magistrados o cuidado de regulamenta-lo, de tal
modo que mantenham a mesma quantidade de homens - tendo em vista as
perdas causadas pela guerra, moléstias e outros acidentes - e que nossa
cidade, dentro do possível, não aumente nem diminua."
Por fim, proclamam a condição necessária para que tal Estado se torne
realizável: que seja governado por filósofos.

6. LIVRO VI
O livro VI e VII se preocupam com a preparação do filósofo, enumerando as
qualidades que o recomendam para ocupar os lugares de chefia e analisando
as causas do desfavor em que geralmente é tido.
Sócrates indaga: "Visto serem filósofos os que podem alcançar o conhecimento
do imutável, enquanto os que não podem fazê-lo, errando na multiplicidade dos
objetos cambiantes, não são filósofos, quais devem ser tomados por chefes da
cidade? - A resposta é: " os que parecerem capazes de velar pelas leis e
instituições da cidade são os que devem estabelecer como guardiães."
É feito, portanto, um esboço sobre a maneira de se formar guardiões, a fim de
que eles procurem alcançar o saber mais elevado, cujo objeto é a idéia do
bem, a idéia suprema que torna inteligível o mundo.
Para Platão o bem é em primeiro lugar a finalidade ou alvo da vida, o objeto
supremo de todo o desígnio e toda aspiração. Em segundo lugar é a condição
do conhecimento, o que torna o mundo inteligível e o espírito inteligente. E em
terceiro, e mais importante, é a causa criadora que sustenta todo o mundo e
tudo o que ele contém, aquilo que dá a tudo o mais a sua própria existência.

7. LIVRO VII - O Mito da Caverna
Antes de iniciar a alegoria da Caverna, no começo deste livro, Platão disse que
tratava de dar a conhecer o comportamento da natureza humana, conforme ela
é ou não submetida a educação.
Platão, através da boca de Sócrates diz: Imaginemos homens que vivam numa
caverna cuja entrada se abre para a luz em toda a sua largura, com um amplo
saguão de acesso. Imaginemos que esta caverna seja habitada, e seus
habitantes ali se encontram desde a infância, com as pernas e o pescoço
acorrentados, de tal sorte que não possam mudar de posição e tenham de
olhar apenas para o fundo da caverna, onde há uma parede. Imaginemos ainda
que, bem em frente da entrada da caverna, exista um pequeno muro da altura
de um homem e que, por trás desse muro, se movam homens carregando
sobre os ombros estátuas trabalhadas em pedra e madeira, representando os
mais diversos tipos de coisas. Imaginemos também que, por lá, no alto, brilhe o
sol. Finalmente, imaginemos que a caverna produza ecos e que os homens
que passam por trás do muro estejam falando de modo que suas vozes ecoem
no fundo da caverna.

Desta forma, certamente os habitantes da caverna nada poderiam ver além das
sombras das pequenas estátuas projetadas no fundo da caverna e ouviriam
apenas o eco das vozes. Entretanto, por nunca terem visto outra coisa, eles
acreditariam que aquelas sombras, que eram cópias imperfeitas de objetos
reais, eram a única e verdadeira realidade e que o eco das vozes seriam o som
real das vozes emitidas pelas sombras.
Suponhamos, agora, que um daqueles habitantes consiga se soltar das
correntes que o prendem. Com muita dificuldade e sentindo-se freqüentemente
tonto, ele se voltaria para a luz e começaria a subir até a entrada da caverna.
Com muita dificuldade e sentindo-se perdido, ele começaria a se habituar à
nova visão com a qual se deparava. Habituando os olhos e os ouvidos, ele
veria as estatuetas moverem-se por sobre o muro e, após formular inúmeras
hipóteses, por fim compreenderia que elas possuem mais detalhes e são muito
mais belas que as sombras que antes via na caverna, e que agora lhes parece
algo irreal ou limitado. Suponhamos que alguém o traga para o outro lado do
muro. Primeiramente ele ficaria ofuscado e amedrontado pelo excesso de luz;
depois, habituando-se, veria as várias coisas em si mesmas; e, por último,
veria a própria luz do sol refletida em todas as coisas. Compreenderia, então,
que estas e somente estas coisas seriam a realidade e que o sol seria a causa
de todas as outras coisas. Mas ele se entristeceria se seus companheiros da
caverna ficassem ainda em sua obscura ignorância acerca das causas últimas
das coisas. Assim, ele, por amor, voltaria à caverna a fim de libertar seus
irmãos do julgo da ignorância e dos grilhões que os prendiam. Mas, quando
volta, ele é recebido como um louco que não reconhece ou não mais se adapta
à realidade que eles pensam ser a verdadeira: a realidade das sombras. E,
então, eles o desprezariam.
O significado desta alegoria é no sentido de que os homens são neste mundo
escravos de seus sentidos, ou seja, na obscuridade do mundo da matéria, em
perpétuo devir, não apreendem senão sombras ou vagos reflexos. Porém, os
modelos destas sombras, a fonte luminosa destes reflexos, permanecem a tal
ponto desconhecidos para eles que não suspeitam sequer de sua existência.
Segundo Sócrates, referente a alegoria da caverna, os homens só enxergam o
que está diante dos olhos, devido ao fato de que são acostumados, ora
forçosamente, a serem imperceptíveis a fatos alheios. Destarte, é necessário
enxergar além das coisas, e quand o realmente acontecem, poderiam
deslumbrar-se, de certa forma, deixando de ver o que real fosse.
No entanto, se enxergassem o que realmente era, poderiam voltar as sombras,
ou seja, ao que não perceptíveis, pelo fato de que, olhar para o real pode não
ser bom aos olhos, a verdade, ver as coisas como realmente são pode
machucar. Entretanto, mesmo procurando a verdade, em princípio não
conseguiria enxergar, precisaria de tempo para se acostumar com uma nova
realidade. Iria continuar desejando apenas o que já era acostumado.
Posteriormente, começariam a entender o por que das coisas, por que
acontecem e como acontecem. Eis o momento, em que, há questionamentos
do que se refere a realidade, de ver como realmente são as coisas, ou se não
era melhor continuar na ignorância, na ilusão, na imaginação.
Embora, se o homem prefira viver na ignorância, tendo este já conhecido a
realidade, as coisas como são, jamais suportaria voltar à ilusão, sendo que os

fatos, já não lhe são indiferentes, ao contrário, são totalmente perceptíveis ao
seu novo mundo.
Nos extremos limites do mundo inteligível (alma) esta a idéia do bem, a qual só
com muitos esforços se pode conhecer, mas que, conhecida, se nós impõe à
razão como a causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz e do
sol mo mundo visível (caverna), autora da inteligência e da verdade no mundo
invisível e, sobre a qual, por isso mesmo, cumpre Ter os olhos fixos para agir
com sabedoria nos negócios particulares e públicos.
Ainda, procura-se ver se a perturbação vem de passar de uma estado mais
luminoso para as trevas da ignorância, de se, passar da ignorância, para o
conhecimento. Esta análise é de uma faculdade da alma, ainda que, muitos
preferiam enxergar apenas o que lhes interessam.
Segundo Sócrates os que não recebem nenhuma educação ou que possuem
conhecimento da verdade não são capazes para governar o Estado, visto que
não há em sua conduto algo que lhe diga, como fazer, o por que fazer na vida
pública ou privada. Socrátes ainda expõe que o legislador não faz de seus
cidadãos "não os educa com liberdade para fazer o que bem entenderem, mais
sim para fazer-lhes contribuir ao bem comum da sociedade.
Portanto, refere-se ao Estado que tem interesse em manter os homens na
ignorância (na sombra), para fazer deles o que bem entender (poder Ter
autoridade sobre os homens). Há que cada um haja, faça mudança de atitude,
preferindo ficar na sombra (soberania do Estado) ou na luz ( tendo aptidão,
capacidade de lutar por seus interesses ).
Socrátes destaca que a grande riqueza do homem não é a autoridade, mais
sim a sabedoria e a virtude, sendo assim, homem felizes. Não há como Ter
bom governos, através da ambição e quando violência, rivalidade, tendo por
consequência acabar com o próprio Estado. Devendo sua autoridade somente
confiada quem não ambiciosa.
Como formar homens deste padrão, passando das trevas à luz ?( ignorância da
realidade, a assenção a sabedoria ) ?
Primeiramente, seria através da ciência dos números, do cálculo, visto que
eleva a alma a pura inteligência, pois saem da existência das coisas e
penetram em sua essência, fazendo refletir, por que o sentido não podem dar a
respeito um juizo certo. Os números movem a alma à reflexão, despertando o
entendimento. Há de se servir-se do entendimento para conhecer a verdade.
O cálculo disperta o raciocínio, adquire maior facilidade e penetração para
tudo. Outra ciência que os homens deveriam dedicar-se é a geometria, que ela
atrai a alma para a verdade, cria o espírito filosófico e facilita o estudo de
outras ciências. A astronomia, por sua vez, considera-se como uma das ciência
mais importante, visto que, enquanto a geometria refere-se a formação dos
sólidos, a astronomia refere-se a sólidos pontos em movimento. A velocidade e
lentidão reais damos movimentos aos astros, escapam a vista e só se nos
tornam acessíveis pelo pensamento e pela razão, e não pelos sentidos. As
relações do dia com a noite, dias meses são sempre as mesmas, não mudam,
mas há que se descobrir a verdade das relação, dando proveito a parte
intelectiva de nossa alma.

Através do raciocínio é que se descobre qual a relação e a conexão existente
entre as ciências.
A dialética absistem-se absoluto a uso dos sentidos, se eleva pela razão à
essência das coisas, investiga até alcançar, com o pensamento, a essência do
bem e chega ao termo da ordem inteligível e a ordem visível.
Segundo Sócrates o conhecimento razoável, baseia-se entre a obscuridade da
opinião a e evidência das ciências. Ao pensamento compete esclarecer os
termos.
O fato de buscar a razão das essencia das coisas é dialático. De nada adianta
os sentidos, a imaginação quando não conhecida ao raciocínio. É necessário
aos homens para governar não só a firmeza, virtude, nobreza de seus
costumes, mas tb a facilidade de aprender que tenham memória e disposto ao
trabalho (gostar do que faz).
O fim da educação para Platão é, como para Sócrates, a formação do
homem moral. Porém, o meio para atingir essa educação é o Estado, na
medida que represente a idéia de justiça. A idéia essencial da Pedagogia
de Platão é a formação do homem moral dentro do Estado justo.
Ressalta-se que ninguém deve aprender coisa alguma por obrigação,
forçosamente, pois as lições que não penetram na alma, logo se apagam. O
cansaço, ainda, dificulta o aprendizado, é necessário mente e corpo preparado
para o aprendizado, permitindo o estudo da dialética após os 30 anos.
O homem é preparado quando : contempla a essência do bem para se servir
refletindo em suas atitudes ; encara seu trabalho melhor como um posto e não
como uma obrigação penosa e ; repassa a seus sucessores e futuras gerações
todo os princípios e virtudes. Ei de então, Ter-se tornado grande guerreiros
vencedores.
A honra é a grande recompensa, tendo sempre como causa mais importante a
justiça, fazendo a prevalecer.

8. LIVRO VIII E IX
No início do Livro VIII, Sócrates recapitula a legislação para a cidade ideal e
seus guardiões e propõe-se regressar ao caminho anterior. Recorda ainda que
Glauco estava se referindo a outras quatro espécies de governo, quando foram
interrompidos por Polemarco e Admimanto.
Eles retomam a discussão, descrevendo essas quatro espécies e a maneira
como degeneraram uma nas outras. Deste modo se traça o quadro da
timocracia, oligarquia, democracia e tirania, bem como do homem que
corresponde a cada uma.
Discutem sobre o ponto mais baixo a que chegou a degradação humana, o que
faz voltar questões iniciais como a felicidade e virtude de cada uma destas
espécies, em relação com as qualidade que predominam na cidade, com a
conclusão de que o tirano, escravo dos mais sórdidos prazeres e apetites, é o
que mais se opõe ao filósofo-rei, que tem acesso aos prazeres puros e reais, e
de que é a justiça, e não a injustiça, que traz vantagens a quem a pratica.
O Livro IX, é ocupado pelo estudo, por Sócrates, da natureza tirânica, mas
antes de descrever a gênese desta natureza, tenta especificar a distinção que

estabeleceu anteriormente, entre os desejos proveitosos e os desejos
supérfluos.
O homem democrático, não faz distinção entre os seus desejos: acolhe a
todos.
Terminando o Livro IX, Glauco reconhece que a cidade que acabam e delinear
é utópica. Mas, conforme Sócrates, fia o paradigma no céu, para quem quiser
contempla-lo e estabelecer por ele o seu teor de vida. Quer a cidade existe,
que não, é só a esse modelo que o filósofo seguirá.

9. LIVRO X
Embora nos parecesse que a discussão já havia terminado, com o contraste
entre a vida do homem justo e a do injusto, e conclusão sobre a superioridade
daquele, este livro parece um suplemento.
Sócrates reabre o diálogo, para precisar a importância das disposições sobre a
poesia, que deve observar-se na cidade fundada, retomando o tema da
condenação da poesia que consiste na imitação, esboçado nos livros II e III.
Tal condenação da poesia encontra justificação neste livro, pois anteriormente
e mediante vários exemplos, Sócrates mostrou que os poetas são, o mais das
vezes, apenas mestres enganosos. Mas ele diz aqui, que isto decorre,
sobretudo, da natureza da arte que professam. São eles, com efeito, simples
imitadores.

10. CONCLUSÃO
A República de Platão, é uma obra magnífica, que teve grande influência desde
a Antiguidade até os dias atuais.
Para um estudante de Direito faz-se fundamental o conhecimento de tal obra,
visto que além de ter uma forma de diálogos fascinante, mostrando como
filosofar pode ser interessante, discute também conceitos como: justiça e
injustiça, bem e mau, ética, formação de uma cidade, formas de governo, etc...

11. RESUMO
"É melhor ser justo que injusto?" (pág. 41)
O texto dialógico segue a respeito da justiça. A Justiça é um dos principais
termos abordados pelos sofistas, já que ela está inserida no campo das ações
humanas. Foi tratada de uma maneira convencionalista, não chegando a definir
o justo e o injusto como verdades absolutas, apenas prendendo-se às
circunstâncias.
"A opinião da maioria dos homens, que põem a justiça no nível dos bens
penosos" (pág 42-43)
Sócrates diz que a injustiça, para muitos, é melhor que a justiça, mas ele
gostaria de ouvir esta última ser elogiada.
Platão usa a estratégica da dialética como processo de construção do saber.
Neste livro II, Glauco insiste que, de maneira dialética, busquem a definição de
Justiça. Ambos não são sofistas. Sócrates propõe um desvio, uma
metodologia: como não conseguem saber o que é o homem justo, devem

ampliar o quadro e passar a analisar a cidade (num quadro maior talvez seja
mais fácil de se identificar a justiça).
"Qual a natureza e a origem da justiça" (pág. 43-44)
Sócrates afirma que os homens preferem cometer injustiça, mas não gostam
de sofrê-la. Tanto o justo quanto o injusto tem a liberdade de escolha.
"Em primeiro lugar, governa na sua cidade, graças ao seu aspecto de homem
justo." (pág. 44-63)
Sócrates alarga o campo da discussão, não relaciona a justiça com o cidadão,
mas a coloca no contexto da cidade. Entram em cena Glauco e Adimanto,
irmãos "corajosos" de Platão. Estes tentam demonstrar a bondade intrínseca
da virtude (justiça) e não só os seus efeitos. A esta altura, Sócrates estabelece
a origem da Polis a partir:
"do fato de cada um de nós não ser auto-suficiente, mas sim necessitado de
muita coisa". (pág. 54)
"O que causa o nascimento a uma cidade?" (pág. 54)
A cidade nasce, segundo a explicação de Sócrates, com as múltiplas
necessidades do ser humano.
"Neste caso, são necessários mais de quatro cidadãos para satisfazer as
necessidades a que nos referimos" (pág. 55).
Apontando os profissionais necessários para suprir todas as exigências de uma
cidade, descreve como uma cidade minúscula tornar-se-á grande e luxuosa,
com a necessidade de classes de cidadãos especializados em seus ofícios.
"Bastará prover-se de escudo para se tornar um bom guerreiro, ao passo que
um os instrumentos das outras artes nunca darão origem a um artesão nem a
um atleta e serão inúteis a quem não tiver adquirido o seu conhecimento e não
se tiver treinado suficientemente?" (pág. 60-64)
Dá-se início a um dos temas relevantes da República: a educação.
Sócrates fala primeiro do aprimoramento da educação dos soldados que se
dará através da "ginástica para o corpo e da música para a alma" (pág. 64),
iniciando pela música.
"O que deve ser condenado quando a mentira não possui beleza" (pág. 65-67)
Fala-se da mentira, condenando-a.
"Deus, dado que é bom, não é causa de tudo" (pág. 67-73)
Nesta parte, tira-se a responsabilidade dos fracassos e dificuldades dos
homens de Deus e a coloca como outra causa, os agentes externos e o próprio
homem. Deus só é capaz de fazer o bem.
Também é reafirmada a aversão à mentira, a qual causa irritação.
"Também devemos ter a verdade em grande consideração. Se há pouco
dissemos que a mentira é inútil aos deuses, porém útil aos homens." (pág. 79-
83)
Sócrates fala que a mentira pode ser usada pelos líderes da cidade (isso
porque ele não sabia que no futuro, a imensa maioria dos governantes
mentiriam em seu próprio benefício), mas apenas no interesse da própria
cidade.

O livro III leva em conta os fundamentos e investigações de caráter histórico
como princípios norteadores no processo de fundação de um novo projeto de
cidade, frente á consciência e análise da crise da polis, no IV séc. A. C.
Segundo os "diálogos" platônicos, com base num desenvolvimento dramático
das cenas e personagens a fundação da cidade, inicia-se com a República.
"Precisamos ser vigilantes também a respeito daqueles que contam essas
histórias e pedir-lhes que não lancem calúnias". (pág.79-83)
Através de censura, deve-se peneirar as letras das músicas (poesia, fábulas)
porque estas contêm somente parte da verdade e com isso deturpam a alma;
portanto, devem sofrer uma censura constante, inclusive a Ilíada), onde atribui-
se aos deuses tanto o bem quanto o mal. Este tipo de poesia deverá ser banida
da educação dos futuros guardiões. Não só a poesia/música, mas todas as
demais artes deverão ser vigiadas.
"Contudo, se o poeta jamais se ocultasse, seus versos e suas narrativas seriam
criados sem imitações" (pág. 83-90)
Sócrates condena a imitação e exalta a criação.
"O bom discurso, a boa harmonia, a graça e a euritimia dependem da
simplicidade do caráter, simplicidade autêntica de um espírito que alie a
bondade à beleza". (pág. 94-107)
A beleza é irmã gêmea da virtude. Tratando a respeito da música, harmonia,
discurso, pintura e artes, no diálogo sobre a República, Platão assevera que a
graça e a harmonia são irmãs gêmeas da bondade e da virtude, e sua fiel
imagem, e que há uma ligação íntima entre a falta de graça, de ritmo, de
harmonia e a maldade em palavras e modos de ser.
Mais ainda, ele admite que a harmonia musical e a "música da alma", isto é, a
virtude, se atraem, se amam e se influenciam reciprocamente. Se o semelhante
agrada ao semelhante, é evidente que a alma entregue aos vícios sentirá
atração pelo que é feio.
Segundo Platão, há sempre uma interação entre a música e a alma; ou,
utilizando termos medievais, a música humana e a música exterior, qualquer
que seja ela, se influenciam mutuamente. É natural que uma pessoa alegre
componha cânticos jucundos e se rejubile ainda mais quando ouça canções
alegres. Por sua vez, uma alma impura, se deleita com melodias lascivas, que
aumentam ainda mais sua lascívia.
Tais princípios valem, segundo Platão, quer para os indivíduos quer para os
povos. Uma nação belicosa ama e produz marchas militares heróicas que
excitam e aumentam sua tendência à bravura. Um povo decadente entregar-
se-á a músicas e canções lânguidas, que aumentarão sua moleza.
Tendo em vista isso, Platão pergunta qual deve ser o papel da música na
educação, e qual o papel do Estado em face à preservação dos bons costumes
do povo.
"Tal é o nosso plano geral de educação e disciplina da juventude" (pág. 107-
113).
Para ele, a educação musical era a mais poderosa, porque permitia introduzir
na alma da criança, desde a mais tenra infância, a graça e o amor à beleza e à
virtude. A pessoa assim educada seria a que mais facilmente perceberia a

beleza e a harmonia. E como não há amor sem ódio, tal pessoa seria também
a que mais odiaria o feio e o mal, a que seria mais suscetível a qualquer coisa
que ferisse a harmonia, a que mais fortemente reagiria contra as deformidades.
E pergunta Platão:
"Não saberá (tal pessoa) louvar o que há de bom, recebê-lo com deleite e,
acolhendo-o em sua alma, nutrir-se dele e fazer-se um homem de bem, ao
mesmo tempo em que, detesta e repele o feio desde criança, mesmo antes de
poder raciocinar? E assim, quando chegar a razão, a pessoa educada dessa
forma a reconhecerá e acolherá com maior alegria, como uma velha amiga".
Educados musicalmente "os jovens crescerão numa terra salubre, sem perder
um só dos eflúvios de beleza que cheguem aos seus olhos e ouvidos,
procedentes de todas as partes, como se uma aura vivificadora os trouxesse
de regiões mais puras, induzindo nossos cidadãos desde a infância a imitar a
idéia do belo, a amá-la e a sintonizar com ela".
Conseqüentemente, o filósofo grego afirmava que não se deveria permitir que
os artistas exibissem "as formas do vício, da intemperança, da vileza ou da
indecência na escultura, na edificação e nas outras artes criadoras..."
Diz ele: "não admitiremos que nossos guardiões cresçam rodeados de imagens
de depravação moral, alimentando-se, por assim dizer, de uma erva má que
houvesse nascido aqui e ali, em pequenas quantidades, mas dia após dia, de
modo a introduzirem, sem se aperceber disso, uma enorme fonte de corrupção
em suas almas".
Evidentemente, esta afirmação de Platão merece reparos, por que pode dar
origem a um Estado totalitário.
Se ela for entendida - como Platão parece querer dizer - que cabe ao estado
controlar a arte, dela nascerá, certamente. um governo de caráter totalitário. É
à Igreja que compete dar a última palavra sobre a moral na arte. Não
pretendendo ela assumir as funções próprias do Estado, este controle da arte
pela Igreja, evita os abusos de um estado super controlador.
Seguindo o pensamento de Platão, a música é a arte que maior influência pode
ter numa pessoa ou num povo, pois que:
"Para a alma nenhum caminho é mais acessível às disciplinas do que o dos
ouvidos. Como, portanto, por eles os ritmos e modos descem até a alma, não
se pode duvidar que do mesmo modo que eles são, afetam e conformam as
mentes. Isto também pode ser entendido para os povos..."
E aqui deve ser muito retido que, como que por pequeníssimas mudanças algo
acaba sendo mudado, não se percebendo nada, de momento, mas dando-se
depois uma grande mudança, e isto chegando até a alma pelos ouvidos. De
onde Platão julga que é uma grande guarda para a república uma música bem
constituída e modestamente equilibrada, de tal maneira que seja modesta,
simples e varonil, e não efeminada, feroz ou complicada.
Platão demonstra que é fácil deformar a alma de um povo e destruir um Estado
por meio da música, "pois é aí que a ilegalidade se insinua mais facilmente,
sem ser percebida... sob forma de recreação, primeira vista inofensiva".
Nem a princípio causa dano algum. Mas esse espírito de licença, depois de
encontrar um abrigo, vai-se introduzindo imperceptivelmente nos usos e
costumes; e dali passa, já fortalecido, para os contratos entre os cidadãos, e

após os contratos, invade as leis e constituições, com a maior imprudência, até
que, ó Sócrates, transforma toda a vida privada e pública".
Daí a tese de Platão de que "toda inovação musical é prenhe de perigos para a
cidade inteira" e que não se pode alterar os modos musicais sem alterar ao
mesmo tempo as leis fundamentais do Estado".
A música, pois, atuando lenta e imperceptivelmente nas tendências mais
profundas das almas pode provocar verdadeiras revoluções.
Sócrates propõe que se analise uma cidade idealizada, construída em idéia. A
maior parte do diálogo se propõe a construir em idéia a cidade. Para Platão, a
essência do homem e a essência da cidade é a mesma.
A cidade vai ganhando complexidade e em um dado momento possui três
classes. É uma cidade autárquica (auto-suficiente - não precisa de nada além
dela):
artesãos/comerciantes: sustentação econômica. Alma de bronze.
guerreiro/exército: defesa e proteção. Alma de prata.
guardiões: administrar e guerrear - SABER - Filosofia. Alma de ouro.
É na formação (educação das crianças) que vai ser decidido a que classe cada
um pertence. O processo pedagógico é igual para todos e vai revelar que alma
cada um possui. Quem tem alma de ouro vai receber educação filosófica.
A cidade ideal, para Platão, é aquela em que os filósofos são reis. Deve
governar somente quem tem saber. Para ele, o saber não está no mundo que
conhecemos (SENSÍVEL). O verdadeiro saber está no mundo INTELIGÍVEL.
No mundo inteligível residem as idéias (ex.: idéia de JUSTIÇA).
Só os filósofos podem ascender ao mundo inteligível.
Para ele, a cidade perfeita é a cidade justa, aquela na qual cada um executa a
sua função de acordo com a sua natureza. Impera a ordem e a harmonia. O
fundamento da Justiça é a natureza, quando é velada, e não a convenção. A
cidade injusta é a que não respeita a ordem natural.
Da mesma maneira que a cidade tem três classes, a alma humana tem três
partes: concupiscente: sentidos, prazer; irascível: vontade; racional:
inteligência.
O homem justo será aquele que tem uma alma harmônica, ou seja, respeita a
ordem natural das coisas. A natureza "quer" que o homem seja orientado pela
razão.
O homem injusto se deixa governar somente pela sua parte concupiscente e
irascível.
Para Platão, a Justiça é a mesma no homem ou na cidade. O homem pode
definir a Justiça quando ascende ao mundo inteligível.
A idéia da existência de um Direito universal é revelado ao homem pela razão,
imbuído de um sentimento natural do justo e do injusto, eticamente superior ao
direito positivo, já vem de Sócrates.
Platão, na sua obra "A República" já defendia que uma reorganização da
sociedade em bases racionais deveria implicar na abolição da propriedade
privada - embora só entre os responsáveis pelas decisões da comunidade.

"Todo homem sensato reconhecerá que é preciso dar-lhes habitações e bens
que não os impeçam de serem guardas tão perfeitos quanto possível e não os
incitem a fazer mal aos seus concidadãos". (pág. 113)
No encerramento do Livro III de "A República", última parte do diálogo de
Sócrates com Glauco, quanto ao "comunismo" aristocrático, Platão imaginou
ainda que entre esses guardiões da comunidade, haveria igualdade de
educação e de oportunidades intelectuais entre meninos e meninas, ausência
de barreiras sexuais, comunidade de bens, de mulheres, de pais e de filhos.
"Ora, estabelecemos, e repetimos muitas vezes, se bem te recordas, que cada
um deve ocupar-se na cidade de uma única tarefa, aquela para a qual é melhor
dotado por natureza" (Pág. 123)
Desde o início do diálogo, Platão havia assentado que cada um deve ocupar
uma, e apenas uma função na cidade: aquela pela qual é sua natureza é
melhor inclinada. Este foi o motivo de se fazer um exército com a função
exclusiva de guardar a cidade, ao invés de se formar o exército com o corpo de
cidadãos quando se faz necessário. Platão acredita que cada pessoa é capaz
de exercer bem somente uma profissão de cada vez. Evitar que cada um
detenha os bens alheios, e executar sua tarefa adequada, sem se meter na
tarefa dos outros, é a justiça. Mas esta divisão severa de tarefas é válida
somente enquanto preserva as castas. Ou seja, um carpinteiro, se revelar
aptidão, pode perfeitamente fazer o trabalho de um sapateiro, mas se
conseguir juntar dinheiro exercendo ambos os ofícios, e por causa disso
conseguir ascender de classe, passando para a dos guerreiros, mesmo sendo
indigno de tal, isto será uma injustiça, e causa da ruína da cidade.
O livro IV apresenta três partes da alma, a parte concupiscível, a parte
irascível, e a parte racional. A parte dos apetites é o que faz o homem
obedecer, é mesmo o maior elemento da alma humana. É ela que obriga a
pessoa a beber, se tem sede, comer, se tem fome, desesperar-se, se tem
medo. A parte racional é a parte superior da alma, que deve ser responsável
pelo comando e pelo cálculo, e pelo homem agüentar firme a imposição das
paixões, desejos e apetites.
"Muitos não chegam a alcançar a razão, e outros só o fazem em idade
avançada". A parte irascível, se não foi corrompida por uma má educação,
pode ajudar a razão a governar, e assisti-la. A ira é inicialmente posta por
Glauco no meio da parte concupiscível, mas Sócrates observa que muitas
vezes ela vai contra os desejos, como quando uma pessoa suporta a fome e o
sede, pois se sente vítima da injustiça. As paixões são contrárias à razão, e
muitas vezes quando elas nos forçam a fazer algo contra a razão, o homem
censura a si mesmo, se irritando e lutando contra aquilo. Assim sendo, o
elemento irascível pode ser positivo se aliado à razão, como um Pastor e seu
cão. Platão observa que as crianças já nascem cheias de irascibilidade, mas se
a razão conduz e controla, a cólera é legítima. A educação pela música e a
ginástica harmoniza estas partes.
As três partes da alma estariam presentes nos indivíduos e na cidade. A cólera
e a razão, unidas, devem dominar o elemento concupiscível, que geralmente, é
a maior parte da alma. O elemento concupiscível é o responsável pela
insaciabilidade de riquezas e prazeres corporais. Quando ele está dominando o
indivíduo, diz-se que a pessoa é escrava de si. Quando o elemento racional,

que é o melhor, está dominando, diz-se que a pessoa é senhora de si. Estes
ditados grosseiros, para Platão, são vestígios da virtude na fala comum.
A parte racional deve deliberar, e a irascível obedecer às ordens com coragem.
A razão estaria presente em maior grau no guardião, a parte irascível nos
guerreiros. Lembrando que existem três castas na cidade de Platão, a dos
artífices, a dos guerreiros e a dos guardiões. Aqui é necessário fazer uma
pequena regressão para entender o tema da virtude e sua relação com cada
casta da cidade. Na República, são quatro as virtudes cardeais: sabedoria,
coragem, temperança e justiça. A cidade perfeita de Platão, para ser boa,
necessita apresentar estas quatro virtudes.
"E não crês que os ricos conhecem melhor a ciência e a prática". (Pág. 118)
Fala-se sobre a relação entre dinheiro e sabedoria.
"Logo, acredito que os nossos atletas lutarão facilmente contra homens duas
ou três vezes mais numerosos." (pág. 118-126)
O sábio é aquele que, por causa da ciência, pondera bem. Mas não é qualquer
ciência a dos sábios, como a do marceneiro, agricultor, ou carpinteiro. Na
cidade de Platão, a ciência do sábio é a da vigilância, da presidência e chefia, e
esta só se encontra na última casta, a dos guardiões. Sendo assim, a virtude
da sabedoria é algo que ocorre raramente, pois os guardiões são em número
resumidíssimo. Os guardiões são aqueles que passaram por sucessivos testes
ao longo da vida, sendo cada vez mais selecionados, só chegando a ocupar
seu posto na maturidade.
"Quanto à coragem e à parte da cidade em que se reside, parte por causa da
qual a cidade é considerada corajosa, não é difícil vê-las." (pág. 127-129)
No livro IV, Sócrates, dando por fundada a cidade, ele questiona a respeito da
justiça. Para vir à tona o lugar da justiça, enumeram-se as virtudes que
uma cidade perfeita deve possuir; estas formam uma "sinfonia". Em primeiro
está a sabedoria (Sofia), virtude dos que governam; segue-se a coragem, que
é a virtude dos guerreiros:
"É, pois, uma força desta ordem, salvação em todas as circunstâncias de
opinião reta e legítima, relativamente às coisas temíveis e às que não o são,
que eu chamo coragem e tenho nessa conta, se não tens nada a opor."
A coragem é uma virtude, para Sócrates, que se alcança através da educação.
Um animal ou bárbaro que apresente bravura numa luta não é corajoso. Pois é
por meio da educação que se conserva a coragem mesmo diante de todas as
vicissitudes, e consegue-se manter uma opinião legítima do que se deve ou
não recear, mesmo em meio aos desgostos, prazeres, desejos e temores. A
coragem se encontraria principalmente na segunda casta, a dos guerreiros.
"A temperança outra coisa não é que um domínio que se exerce sobre certos
prazeres e paixões." (Pág. 129-141)
A temperança é a virtude de toda a cidade, e não de uma classe específica;
consiste na ordenação, no domínio diante dos excessos, é "a concórdia,
harmonia entre os naturalmente piores e os naturalmente melhores, sobre a
questão de saber quem deve comandar, quer na cidade, quer num indivíduo".
A temperança é uma ordenação, o domínio dos desejos e prazeres. Estes,
existem em grande número nas crianças, mulheres e escravos, mas os

sentimentos moderados, dirigidos pelo raciocínio conjugado com o
entendimento, só existem nos de natureza superior, formados pela educação
superior. Mas a cidade de Platão, contudo, é temperante por inteira, pois nela a
melhor parte governa a pior. A temperança, ao contrário das outras virtudes,
existe harmonicamente em toda a sociedade. Ela é a harmonia, a concórdia,
entre os naturalmente melhores e os naturalmente piores, que sabem todos
quem deve comandar. A temperança existe devido à harmonia entre as partes
da alma e da cidade, que concordam que é a razão que deve governar, e não
se revoltam contra ela.
"Quando, porém, que se julga vítima de uma injustiça, não é então que se
inflama, se irrita, combate do lado que lha parece justo - mesmo que sofra
fome, frio e todas as provocações do gênero - e firme em suas convicções,
triunfa, sem se desviar desses sentimentos generosos antes de ter realizado o
seu propósito, até que se vingue ou sucumba ou que, à maneira do pastor que
acalma seu cão, a razão o acalme e sossegue?" (Pág. 141 - 147)
"Onde poderá estar a justiça, e onde a injustiça, e em que diferem uma da
outra".
Por último, Sócrates trata da justiça, e descobre que já estava tratando dela já
há algum tempo. Em Platão é recorrente o tema de uma espécie de
predestinação, do indivíduo ter uma inclinação natural por destino. Isto
aparece, por exemplo em Mênon, e em Protágoras. Lá se conclui que o
indivíduo pode perseguir a virtude, mas em última instância só alcançará a
virtude aquele que tiver recebido um bom quinhão da divindade. As moiras, ou
parcas, são as deusas responsáveis pela distribuição da parte, da cota de cada
um.
A mais importante das virtudes e causa das demais: a justiça.
"E esta consiste em que cada um realize a função para a qual a sua natureza
for mais adequada".
"Lembras-te daquele princípio original em que sempre insistíamos durante a
fundação da cidade: o de que um homem deve atender a uma coisa só, isto é,
aquilo para que a sua natureza está melhor dotada? Pois a justiça é este
princípio... Podemos presumir que, de certo modo, a justiça consiste nisso: em
fazer cada qual o que lhe compete... Esta é a causa primeira e condição de
existência de todas as outras três virtudes, e que as conserva enquanto nelas
subsiste".
A justiça diz respeito a uma atividade interna do homem, aquilo que ele
verdadeiramente é. A justiça não deve permitir que qualquer uma das partes
internas da alma se dedique a tarefas alheias nem que interfiram umas das
outras. A justiça consiste em dispor, de acordo com a natureza, os elementos
da alma, para serem dominados ou dominar uns aos outros. A injustiça é
resultado de uma ação conduzida pela ignorância, que leva à ingerência, à
sedição dos elementos da alma, fazendo os elementos da alma governar uns
aos outros não de acordo com a natureza.
Platão tentou alcançar a justiça verdadeira, uma vez que a definição da época
era meramente convencional.

BIBLIOGRAFIA

PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. 8ª ed. Lisboa:
Fundação CalousteGulbenkian, 1949.
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