A Verdadeira Educação
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dores percorrendo pacientemente a rotina de
suas tarefas diárias, inconscientes das faculdades
latentes que, despertadas à ação, colocá-los-iam
entre os grandes dirigentes do mundo. Tais
foram os homens chamados pelo Salvador para
serem Seus coobreiros. Tiveram eles as vantagens
de três anos de ensino pelo maior Educador que
este mundo já conheceu.
Nestes primeiros discípulos notava-se uma
assinalada diversidade. Deviam ser os ensina-
dores do mundo, e representavam amplamente
vários tipos de caráter. Havia Levi Mateus, o pu-
blicano, chamado de uma vida de atividade em
negócios e submissão a Roma; Simão, o zelador,
o intransigente adversário da autoridade impe-
rial; o impetuoso, presunçoso e ardoroso Pedro,
com André, seu irmão; Judas, o judeu, polido,
capaz e de impulsos medíocres; Filipe e Tomé,
fiéis e fervorosos, conquanto tardios de coração
para crer; Tiago, jovem, e Judas, de menos
preeminência entre os irmãos, mas homens de
energia, positivos tanto em suas faltas como em
suas virtudes; Natanael, filho da sinceridade e
da confiança; e os ambiciosos e amoráveis filhos
de Zebedeu.
A fim de levarem avante, com êxito, a obra a
que foram chamados, estes discípulos, diferindo
tão grandemente em suas características naturais,
em preparo e hábitos de vida, necessitavam che-
gar à unidade de sentimento, pensamento e ação.
Era o objetivo de Cristo conseguir esta unidade.
Para tal fim, procurou Ele trazê-los à unidade
consigo. A grave preocupação em Seu trabalho
por eles exprime-se em Sua oração ao Pai - “para
que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em
Mim, e Eu, em Ti; que também eles sejam um
em Nós. ... Para que o mundo conheça que Tu
Me enviaste a Mim e que tens amado a eles como
Me tens amado a Mim”. João 17:21 e 23.
O Poder Transformador de Cristo
Dos doze discípulos, quatro deviam
desempenhar papel saliente, cada um em um
ramo distinto. Na preparação para tal, Cristo
os ensinou, prevendo tudo. Tiago, destinado a
próxima morte à espada; João, o que dentre os
irmãos por mais tempo devia seguir seu Mestre
nos trabalhos e perseguições; Pedro, o pioneiro
em transpor as barreiras dos séculos e ensinar
ao mundo gentio; e Judas, capaz de ascendência
sobre seus irmãos, no serviço, e não obstante
alimentando em seu coração propósitos cujos
frutos ele mal sonhava - eram todos estes o objeto
da maior solicitude de Cristo, e os que recebiam
as Suas mais freqüentes e cuidadosas instruções.
Pedro, Tiago e João procuravam toda
oportunidade de entrar em íntimo contato com
seu Mestre, e seu desejo era satisfeito. Dentre os
doze, sua relação para com Ele era mais íntima.
João poderia satisfazer-se apenas com uma inti-
midade ainda maior, e isto ele obteve. Naquela
primeira conversa ao lado do Jordão, quando
André, tendo ouvido a Jesus, correu a chamar seu
irmão, João estava sentado em silêncio, extasiado
na meditação de maravilhosos assuntos. Seguiu
o Salvador, sempre como um ouvinte ávido e
embevecido. Entretanto, o caráter de João não
era irrepreensível. Ele não era um entusiasta gen-
til, sonhador. Ele e seu irmão foram chamados
“Filhos do trovão”. Mar. 3:17. João era orgulhoso,
ambicioso e de espírito combativo; mas por sob
tudo isto o divino Mestre divisou o coração
ardente, sincero e amante. Jesus censurou-lhe o
egoísmo, frustrou-lhe as ambições, provou-lhe a
fé. Revelou-lhe, porém, aquilo por que sua alma
anelava - a beleza da santidade, Seu amor trans-
formador. Disse Ele: “Manifestei o Teu nome aos
homens que do mundo Me deste.” João 17:6.
A natureza de João anelava amor, simpatia
e companhia. Ele se achegava a Jesus, sentava-se
a Seu lado, recostava-se-Lhe ao peito. Assim
como a flor sorve o orvalho e a luz, bebia ele da
luz e vida divinas. Contemplou o Salvador em
adoração e amor, até que a semelhança de Cristo
e comunhão com Ele se tornaram seu único
desejo, e em seu caráter se refletiu o caráter do
Mestre.
“Vede”, disse ele, “quão grande amor nos
tem concedido o Pai, a ponto de sermos chama-
dos filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de
Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece,
porquanto não O conheceu a Ele mesmo. Ama-
dos, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se
manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que,
quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes
a Ele, porque haveremos de vê-Lo como Ele é. E
a si mesmo se purifica todo o que nEle tem esta
esperança, assim como Ele é puro.” I João 3:1-3.
Da Fraqueza Para a Força
A história de nenhum dos discípulos
ilustra melhor o método de ensino de Cristo do
que a de Pedro. Ousado, agressivo, confiante em