“É PARTE DA CURA O DE SEJO DE SER CURADO.”
SÊNECA
O conceito original de Entrevista Motivacional foi
desenvolvido a partir de uma série de discussões e
observações feitas por um grupo de psicólogos
noruegueses da Clínica Hjellestad, que pediam aos
profissionais como responderiam a determinadas
situações que vinham sendo encont radas no
tratamento de pessoas com problemas com álcool.
Esse trabalho resulta em uma primeira declaração de
princípios e de estratégias da entrevista motivacional
(EM).
A EM é um meio prático de ajudar as pessoas a
reconhecer e fazer algo a respeito de seus problemas.
É particularmente útil para enfrentar relutância e
ambivalência quanto à mudança , colocando o paciente
em movimento na direção da mudança.
As estratégias procuram ser muito mais persuasivas e
encorajadoras do que argumentativas. Ela incorp ora
muito das estratégias descritos por Carl Rogers,
psicólogo norte-americano, tido o como o primeiro
teórico a pensar em uma abordagem centrada na
pessoa. Para Rogers, o núcleo da personalidade
humana tende a saúde e ao bem estar, rejeitando a
ideia de outros teóricos que todo ser humano possuía
uma neurose básica. A partir dessa concepção
primária, o processo psicoterapêutico consiste em um
trabalho de cooperação entre terapeuta e paciente ,
cujo objetivo é a liberação desse núcleo da
personalidade, obtendo-se com isso a descoberta ou
redescoberta da autoestima, da autoconfiança e do
amadurecimento emocional.
A EM baseia-se em dois conceitos iniciais: O primeiro é
o de AMBIVALÊNCIA , que, neste contexto, não
significa apenas a relutância a fazer algo , mas sim a
experiência de um conflito psicológico para decidir
entre dois caminhos diferentes. Ambivalência quanto à
mudança de comportamento é difícil de resolver
porque cada lado do conflito tem seus benefícios e
seus custos. Por ser a EM uma técnica desenvo lvida
para lidar com a dependência, tem -se como uma das
suas metas principais a constatação e a resolução da
ambivalência.
O segundo conceito é o de PRONTIDÃO para a
mudança, baseada no modelo de estágios de mudança
desenvolvido por Prochaska e DiC lemente. Tendo
como base o conceito de motivação como um estado
de prontidão ou vontade de mudar, esse modelo
acredita que a mudança se faz através de um processo
e para tal, a pessoa passa por diferentes estágios. O
trabalho com a EM encontra -se estruturado em cinco
princípios clínicos amplos, a saber:
1) EXPRESSAR EMPATIA :
O estilo terapêutico empático é característica
definidora da entrevista motivacional e é a habilidade
terapêutica que demonstrou ser indicativa do sucesso
terapêutico no tratamento de pessoas co m problemas
com álcool e outras drogas. Por intermédio da escuta
reflexiva, o terapeuta busca compreender os
sentimentos e as perspectivas do paciente sem julgar,
criticar ou culpar.
2) DESENVOLVER A DISCREPÂNCIA:
Um segundo princípio da EM é criar e ampliar na mente
do paciente uma discrepância entre o comportamento
presente e metas mais amplas. Trabalha -se esse
processo buscando a visualização pelo paciente de
onde e como ele está no momento, e onde ele quer
estar. O objetivo é fomentar o conflito entre
comportamento atual e metas pessoais importantes.
3) EVITAR A ARGUMENTAÇÃO :
Quanto mais você disser a um dependente químico
“não faça isso”, mais provavelmente ele dirá: “eu farei
sim”. Não há nenhuma razão para que um terapeuta
force um paciente a aceitar rótulos ou posições
defendidas com veemência e paixão. Quando surge
resistência, o terapeuta deve mudar de estratégia.
4) ACOMPANHAR A RESISTÊNCI A
O fato de não buscarmos confronto direto não quer
dizer que não lutamos. No processo da EM, o paciente
é compreendido como um indivíduo capaz de ter
insights e ideias importantes para a solução de seus
problemas. A tarefa do terapeuta não é gerar
soluções, e sim devolver questões para o paciente.
Essa visão permite a estratégia que é conhecida no
campo da terapia familiar como “judô psicológico”,
uma referência a uma arte marcial onde o praticante
procura utilizar a força do adversário a seu favor.
5) PROMOVER A AUTOEFICÁCIA
Albert Bandura, investigador da Universidade de
Stanford, desenvolveu a teoria da Autoeficácia, que
pode ser definida genericamente como a crença das
pessoas sobre as suas capacidades para produzir
determinados níveis de desempenho. A forma e
intensidade com que o indivíduo pensa sobre
eficácia «determina como as pessoas sentem,
pensam, se motivam e comportam». Essas cr enças
produzem efeitos em três processos
Cognitivos
Motivacionais
Afetivos
As pessoas com forte crença nas suas capacidades
encaram as dificuldades como um desafio, em vez de
recepcioná-las como ameaças. Quanto maior é o
sentimento de autoeficácia, maior é o interesse em
empenhar-se em atividades e abraçar novos desafios,
insistindo, mesmo perante um fracasso episódico (uma
recaída, por exemplo). E mesmo que tal aconteça, a
motivação é recuperada mais rapidamente.
O forte sentido de autoeficácia promove uma atitude
positiva face às dificuldades, sendo produtora de
maior empenhamento, reduzindo os índices de stress e
depressão. Ela pode ser alcançada com nosso
paciente enfatizando a responsabilidade pessoal,
encorajando-o a fazer a mudança que ninguém mais
poderá fazer em seu lug ar. Ele também pode ser
encorajado pelo sucesso dos outros, portanto é útil ter
contatos com ex -pacientes com histórias de sucesso
em seus tratamentos.
-ABORDAGENS MOTIVACIONAIS EFICAZES -
OS OITO BLOCOS DE CONSTRUÇÃO
Quais estratégias podem ser utilizadas pelo terapeuta
para melhorar a motivação para a mudança ? Existe
uma vasta literatura disponível sobre motivação, e
nenhuma delas é definitiva. Contudo, são conhecidos
e consagrados os chamados “oito blocos de
construção”, práticas combinadas que formam o corpo
de abordagem sistêmica da EM. São oito estratégias de
A a H ( em inglês).
Tendo em vista que motivação é um estado mutável é
apropriado pensar em estratégias que aumentem a
probabilidade de mudança .
ACONSELHAR (GIVING ADVICE) : Identificar o
problema ou a área de risco, explicar porque a
mudança é necessária e recomendar uma
mudança específica.
REMOVER BARREIRAS (REMOVE BARRIERS) :
Neste caso, a abordagem deve ser m ais
cognitiva do que prática; o terapeuta bem
preparado deve auxiliar o paciente a identificar
essas barreiras e ultrapassá -las, assistindo-o na
busca de soluções práticas para o problema.
OFERECER OPÇÕES DE ESCOLHA (PROVIDING
CHOICES): A motivação é maior quando a
pessoa percebe -se capaz de decidir livremente
sem influência externa ou sem ter sido obrigada a
fazê-lo. Portanto, é essencial que o terapeuta
ajude o cliente a sentir sua liberdade (e
consequentemente responsabilidade) de escolha.
DIMINUIR A VONTADE (DECREASING
DESIRABILITY): Se um comportamento é mantido
apesar de suas más consequências, é porque este
também traz algo de bom. É função de terapeuta
identificar os aspectos positivos desse
comportamento de uso de substância do paciente,
perceber o quê o está estimulando a manter -se
nele, e daí buscar formas de diminu ir esses
incentivos.
PRATICAR EMPATIA (PRACTICING EMPATHY)
O valor da empatia já foi mencionado
anteriormente e desta consiste não a habilidade
de identificar-se com o cliente, mas sim em
entender o outro através da escuta.
DAR OPINIÃO (PROVIDING FEEDBACK): Deixar o
paciente consciente de seu estado presente é um
elemento essencial para motiva -lo à mudança.
CLAREAR OBJETIVOS (CLARIFFING GOALS) : É
importante auxiliar o cliente a estabelecer certos
objetivos e que estes sejam realistas e atingíveis .
AJUDA ATIVA (ACTIVE HELPING): O
terapeuta deve estar ativa e positivamente
interessado no processo de mudança do paciente
e isto pode ser expresso pela iniciativa do
terapeuta de ajudar e pela expressão de cuidado.