distantes, como sonhos, e que a sua verdadeira realidade pairava sobre as ideias loucas da
“terra dos sonhos”, que julgava ser sua inteira e única existência.
Logo em seguida, no desenrolar da trama, Egeu introduz a figura de Berenice, sua
prima. Conta como suas vidas eram divergentes. Pois enquanto ele passaratoda a vida
enfurnado em um quarto, ou na biblioteca, ela era pura vivacidade e energia. Descreve sua
beleza, sua alegria de viver. Entretanto um infortúnio surgira, uma doença fatal atingiu-a.
Dentre os vários sintomas, os mais greves seriam crises epiléticas e de catalepsia. Nesse
momento ele confessa os sintomas de sua doença, monomania, que consta em um interesse
obsessivo por objetos triviais. Obsessão essa que é capaz de invadir o pensamento de forma
psicótica e doentia.
Nos poucos momentos em que Egeu se encontrava em ócio de sua obsessão
patológica, se empregava a pensar na situação de Berenice, fato que o incomodava,
angustiava, entristecia-o. Viu-se obrigado a pedi-la em casamento, como forma de mitigar seu
sofrimento. Antes da celebração das núpcias, Egeu conta que em uma determinada tarde de
inverno foi surpreendido com a imagem de Berenice. Ambos estavam em sua biblioteca, ele
relata o fato com muita nebulosidade, elementos que dão certa conotação de sonho à situação.
Descreve-a de forma decrépita, quando comparada à imagem jovial e tão cheia de vida de
outra hora. O único aspecto que o impressiona são seus dentes, admira sua brancura, seu
alinhamento, sua beleza. Esse deslumbre o atormenta.
Depois do acontecido, percebe que sua monomania encontra um novo objeto de
apreço, ou seja, os dentes de Berenice. Força se para manter seu desejo sob controle. Com o
passar do tempo, a doença da jovem piora significativamente. Certo dia um criado chama-o ao
quarto da moça, diz que ela morrera. Ageu teve a impressão, de maneira confusa, é claro, de
que ela estava viva. Mas por algum motivo, não mencionado, não dá atenção para essa
hipótese. Vai para biblioteca, adormece e, depois de algum tempo, percebe que Berenice já
tivera sido enterrada, olha ao seu redor e nota a presença de uma caixa de procedimentos
medicinais em cima da mesa. Pensamentos estranhos e memórias confusas insistem em sua
mente, ele não entende, sente se angustiado. Um criado entra no ambiente e relata um fato
ocorrido. Disse que o som de um tenebroso grito despertou o interesse de todos naquela
mesma noite, quando foram ver do que se tratava, encontraram um túmulo violado, um corpo
desfigurado, mas que ainda respirava. Nesse momento o criado percebe que as roupas de
Egeu estavam sujas de sangue. Egeu pega a caixa médica e depois de abri-la, percebe que os
instrumentos nela contidos estavam sujos, como se tivessem sido usados há pouco tempo,
encontra também dois alvos dentes.