e os efeitos que ela causou na antropologia, uma vez que, agora, a disciplina
necessitava mais do que nunca entender os processos culturais de perto.
Foi aí que a antropologia, que até então tinha seu foco estritamente no
estudo das sociedades primitivas, voltou-se às sociedades mais complexas
e às nações-Estado. Isso resultou em inovações no texto etnográfico e na
forma como a diversidade cultural passou a ser pensada e tratada. Assim,
as mudanças consideradas contemporâneas na etnografia consistem em
aplicar uma metodologia que seja capaz de ter uma função estratégica nesse
contexto; detalhadamente, elas abrangem repensar a figura do antropólogo/
autor, a produção de conhecimento textual, o objeto, o leitor, a legibilidade
e a legitimidade do texto. Isso ocorre principalmente por se considerar
o processo de autocrítica antropológica (atual na disciplina), assim como
outros aspectos da prática metodológica, o que recentemente vem sendo
questionado e descontruído das mais diversas formas.
Conclui-se que a mudança gradual no campo metodológico da antropo-
logia acabou, na contemporaneidade, por colocar paralelamente o nativo e
os cidadãos, ao passo que os nativos revelam a diversidade irredutível entre
ambos. Por outro lado, ao contrário da antropologia moderna, que recons-
truía o todo para dar sentido à heterogeneidade cultural, a antropologia
contemporânea coloca para si a tarefa de considerar o ponto de vista dos
nativos e as suas experiências, a fim de o antropólogo poder representá-los.
É nesse ponto que os modos de vida trocam influências, encontram suas
semelhanças e também as criam, lutam por superioridade, por dominação,
traduzem-se e subvertem-se.
Referências
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Antropólogos clássicos 13