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c) Ancylostoma duodenale (Dubini, 1843) e Necator americanus (Stiles, 1092)
Esses helmintos são responsáveis pela ancilostomose, o popular amarelão. Há cerca de
900 milhões de pessoas infectadas no mundo. No Brasil, a ancilostomose é mais freqüente
por N. americanus e sempre foi motivo de muita preocupação, até mesmo por Monteiro
Lobato, quando em 1919, referindo-se aos 2/3 da população brasileira, mencionou: “17
milhões são caricaturas derreadas no físico e no moral pela ancilostomíase, a inteligência do
amarelado atrofia-se e a triste criatura vive em soturno urupê humano, incapaz de ação,
incapaz de vontade, incapaz de progresso; os escravos dos vermes…”
Esses helmintos são parasitas do intestino delgado do homem e, como muitos
nematódeos parasitas, apresentam um ciclo biológico direto, não necessitando de
hospedeiros intermediários. Há duas fases bem definidas: a 1
a
de vida livre e a 2
a
, que se
desenvolve no hospedeiro definitivo.
Ciclo de vida:
As fêmeas, após a cópula, depositam os ovos no intestino delgado do hospedeiro,
permitindo que sejam liberados juntamente com as fezes. No meio externo, se os ovos
encontrarem condições adequadas (temperatura e umidade altas, boa oxigenação), haverá o
desenvolvimento de uma larva que se libertará do ovo. Essa larva, que se alimenta de
matéria orgânica e microrganismos, sofre várias mudas até que se torne uma larva infectante.
A infecção por essa larva se dá por penetração ativa através da pele ou por ingestão da
larva. Se ocorrer a penetração através da pele, após cerca de 30 minutos as larvas atingem a
circulação sangüínea e/ou linfática migrando para o coração e pulmão. A partir dos
brônquios pulmonares atingem a traquéia, faringe, laringe, sendo ingeridas (deglutidas) para
alcançarem o intestino delgado, seu habitat final. Quando adultos, os vermes fixam-se na
mucosa intestinal por meio de “dentes” (placas cortantes), causando pequenas hemorragias,
e aí se reproduzem.
Se a ingestão é a forma de contágio, o ciclo se reduz à migração das larvas do estômago para
células da mucosa intestinal, onde sofrem as mudas necessárias e, entã o, retornam a luz do
intestino para fixação, término do desenvolvimento e posterior reprodução (figura 35).
Há muitos casos assintomáticos, sendo a patogenia da enfermidade diretamente
proporcional ao número de parasitas presentes no intestino. A ancilostomose pode causar:
perturbações gastrointestinais; depressão física (fraqueza, emagrecimento); hemorragias;
úlceras e, às vezes, pneumonia resultante da passagem das larvas (Necator americanus).
A confirmação do diagnóstico se dá pelo exame de fezes, pela presença de ovos. A
tratamento utiliza anti-helmínticos (vermífugos) de amplo espectro, capazes de matar
diferentes espécies de helmintos, que são então liberados nas fezes. O uso dos referidos
medicamentos deve ser praticado sob recomendação e orientação médica, pois os produtos
apresentam efeitos colaterais.
d) Larva migrans
Os animais domésticos possuem uma série de parasitas próprios, cujas larvas
infectantes só são capazes de completar o ciclo de vida quando alcançam seu hospedeiro
próprio. Se as larvas desses parasitas infectarem um hospedeiro que não o seu, normalmente
não serão capazes de evoluir nesse hospedeiro, podendo realizar migrações pelo tecido
subcutâneo ou visceral. Esse é o caso da síndrome conhecida como larva migrans (“Bicho-
geográfico”). Ocorre a infestação CUTÂNEA pela larva de Ancylostoma caninum ou
Ancylostoma braziliense. A larva vagueia o tecido subcutân eo na marcha de 2 a 5 cm/dia,
causando prurido, principalmente à noite, mas não atingem a maturidade sexual e acabam