Infecções de Pele e Partes Moles (IPPM) Clínica Médica
PELE Basicamente, é formada por três principais camadas de tecido: a camada externa, chamada epiderme; a camada do meio, conhecida como derme; e a camada mais profunda, a hipoderme ou tecido celular subcutâneo.
Impetigo O impetigo é uma infecção altamente contagiosa da epiderme que afeta principalmente crianças entre dois e cinco anos, embora possa ocorrer em qualquer faixa etária. Geralmente, o impetigo aparece em áreas expostas do corpo, como o rosto e os membros. A infecção é causada por Streptococcus β- hemolítico e/ou Staphylococcus aureus . No impetigo estreptocócico, o microrganismo responsável inicialmente coloniza uma pele previamente lesionada, resultando na lesão impetiginosa após cerca de 10 dias. Já no impetigo estafilocócico , o agente está presente nas fossas nasais e posteriormente provoca a lesão na pele.
Impetigo: Não Bolhoso x Bolhoso Impetigo Não Bolhoso Início: mácula/pápula → vesícula → crosta amarelada. Causa: Staphylococcus aureus (isolado ou + Streptococcus do grupo A). Autoinoculação → disseminação (face e extremidades). Cura espontânea em semanas, sem cicatriz. Impetigo comum (secundário): associado a doenças sistêmicas (diabetes, HIV) ou lesões de pele (picadas, varicela, herpes). Impetigo Bolhoso Mais comum em neonatos , mas pode ocorrer em qualquer idade. Causa: toxinas do Staphylococcus aureus . Vesículas → bolhas frágeis → crosta amarelada. Localização: áreas de fralda, axilas, pescoço. Sintomas sistêmicos raros (astenia, febre, diarreia). Autolimitado; menos contagioso que o não bolhoso.
Impetigo: Não Bolhoso x Bolhoso
História Clínica: Criança, 5 anos, previamente hígida, com lesões em face há 1 semana. 👨⚕️ Exame Físico: Placas eritematosas com pústulas e crostas melicéricas (cor de mel) , sem febre. 📌 Hipótese Diagnóstica: Impetigo não-bolhoso. 🩺 Conduta: Antibiótico tópico ( mupirocina ). Orientar higiene, cortar unhas. Antibiótico sistêmico (cefalexina) se lesões extensas.
Diagnóstico Clínico (cultura não diferencia infecção de colonização). Diferenciais: Não bolhoso: dermatite atópica, candidíase, contato, dermatofitoses , ectima , herpes, escabiose, varicela, picadas, pênfigo foliáceo. Bolhoso: eritema multiforme bolhoso, pênfigo bolhoso/vulgar, varicela, TEN, picadas de inseto. Tratamento Alvo: Staphylococcus aureus + Streptococcus . 1ª escolha oral: penicilinas + inibidor de β- lactamase , cefalosporinas 1ª geração. Menos eficazes: penicilina V, amoxicilina simples, bacitracina/neomicina. Tópico (doença limitada): mupirocina ou ácido fusídico (eficácia equivalente; mupirocina com menor risco de resistência). Prevenção de recorrência: descolonização ( mupirocina / ác . fusídico em fossas nasais, axilas, umbigo, genitais + sabonetes antissépticos).
Celulite Bacteriana Infecção da derme profunda e tecido subcutâneo . Porta de entrada: traumas, úlceras, micoses, cirurgias, picadas. Principais agentes: Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus . Disseminação rápida através da linfa e vasos sanguíneos .
Fatores Predisponentes Obesidade, edema venoso ou linfático. Ruptura da barreira cutânea causada por trauma, cirurgias, picadas, mordidas, impetigo, úlceras, fissuras, infecções fúngicas e dermatites. Pode ocorrer mesmo em pele intacta (bacteremia). Procedimentos cirúrgicos que comprometem a drenagem linfática, como mastectomia, venectomia e radioterapia. Áreas mais frequentes: MMII (40%) , face, MMSS, tronco, pescoço e nádegas.
Quadro Clínico Lesão cutânea típica: Área eritematosa (vermelha) Edema (inchaço) Calor local Dor ou sensibilidade à palpação Contornos pouco definidos Evolução rápida Achados adicionais: Linfangite (estrias avermelhadas) Adenopatia regional (linfonodos aumentados) Bolhas, petéquias ou equimoses → formas graves Abscesso subjacente pode estar presente Sinais sistêmicos (em casos mais graves): Febre, calafrios Mal-estar, fadiga Náuseas, vômitos Toxemia em infecção disseminada
DIAGNÓSTICO CLÍNICO (lesão típica + sintomas). Exames complementares: apenas em casos graves (hemograma, hemocultura). Cultura de secreção cutânea pouco útil.
TRATAMENTO Casos leves: antibióticos orais (cefalexina, amoxicilina-clavulanato). Casos graves/sistêmicos: antibióticos IV ( cefazolina , oxacilina , clindamicina). Medidas de suporte: repouso, elevação do membro, analgesia. Prevenção de recorrência: tratar porta de entrada (micose, úlceras, fissuras).
👨 História Clínica: Homem, 47 anos, sem comorbidades, chega com dor e inchaço em antebraço após arranhão de cachorro. Evolução há 3 dias com febre baixa. 👨⚕️ Exame Físico: Área eritematosa, mal delimitada , quente e edemaciada, sem flutuação. 🩺 Conduta: Antibiótico venoso ( oxacilina / cefazolina ). Exame de imagem (USG) para excluir abscesso. Analgesia e observação.
CLÍNICAS MÉDICA 👩🦳 História Clínica: Paciente feminina, 62 anos, diabética e hipertensa, refere início súbito de dor, vermelhidão e calor em perna direita há 2 dias, associado a febre (38,5 °C) e calafrios. 👨⚕️ Exame Físico: Edema de perna direita, eritema brilhante, bem delimitado , calor local, presença de linfangite ascendente e linfonodos inguinais dolorosos.
CONDUTA Internação para antibiótico venoso (penicilina cristalina ou cefazolina ). Analgesia, hidratação, elevação do membro. Tratar porta de entrada (micose interdigital).
DIFERENÇA ERISIPELA X CELULITE 🟠 Celulite Afeta a derme profunda e o tecido subcutâneo Causado por Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus Apresenta início mais insidioso e evolução lenta Eritema mal definido e difuso Sintomas sistêmicos geralmente menos intensos Recorrência é menos frequente 🔴 Erisipela Afeta a derme superficial e os vasos linfáticos Streptococcus pyogenes como agente causador Início abrupto com evolução rápida Eritema bem definido, com bordas elevadas Sintomas sistêmicos mais severos (febre, calafrios) Maior probabilidade de recorrência
🔎 Diagnóstico da Erisipela 🔹 Clínico (principal): História de início súbito. Lesão eritematosa, bem delimitada , bordas elevadas. Acometimento de derme superficial + linfáticos. Sintomas sistêmicos associados (febre, calafrios, mal-estar). 🔹 Exames laboratoriais (auxiliares): Leucocitose com neutrofilia. PCR elevada. 🔹 Exames de imagem: Ultrassonografia com Doppler → excluir trombose venosa profunda em membros inferiores.
Diagnóstico Diferencial
Fasciíte nécrosante A fasciíte necrosante (FN) é uma infecção bacteriana agressiva e de rápida evolução que destrói o tecido subcutâneo e a fáscia superficial, estando ligada a elevados índices de morbimortalidade.
Definição: Infecção grave e rapidamente progressiva da fáscia profunda e tecido subcutâneo , com destruição da pele e músculos adjacentes. Agentes causais: Tipo I : polimicrobiana (aeróbios + anaeróbios) → mais comum em imunocomprometidos. Tipo II: Streptococcus pyogenes (às vezes com Staphylococcus aureus ).
Fatores predisponentes
CLÍNICA
ESTÁGIOS CLÍNICOS
Diagnóstico Laboratorial e de Imagem
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Cirurgia urgente : desbridamento agressivo das áreas necróticas. Pode ser necessário mais de um procedimento. Antibioticoterapia intravenosa de amplo espectro , iniciando antes do resultado da cultura: Ex.: penicilina + clindamicina , ou carbapenêmico + clindamicina , dependendo do agente suspeito. Suporte clínico intensivo: hidratação, controle de choque séptico, suporte renal e respiratório se necessário. Monitoramento contínuo da evolução da necrose e da resposta ao tratamento. TRATAMENTO
👩 História Clínica: Mulher, 69 anos, diabética e obesa, apresenta dor intensa em coxa direita após trauma leve há 48h. Evoluiu com febre (39,5 °C), taquicardia e hipotensão. 👨⚕️ Exame Físico: Área edemaciada, pele arroxeada, presença de bolhas hemorrágicas , dor desproporcional ao achado clínico, crepitação subcutânea. 📌 Hipótese Diagnóstica: Fascite necrosante. 🩺 Conduta: Urgência cirúrgica: desbridamento imediato. Antibiótico de amplo espectro (carbapenêmico + clindamicina + vancomicina). Suporte hemodinâmico em UTI.
Um abscesso é uma coleção localizada de pus no tecido, causada por infecção bacteriana, frequentemente por Staphylococcus aureus . Pode ocorrer em pele, subcutâneo, órgãos internos ou mucosas. Abscesso
Entrada do patógeno : geralmente por pequena lesão da pele, folículo piloso ou ferida . Inflamação aguda : recrutamento de neutrófilos para o local. Formação de pus : os neutrófilos, bactérias e tecido necrosado formam uma coleção purulenta . Encapsulamento : o organismo circunda o pus com uma cápsula de tecido inflamatório , formando o abscesso.
Dor localizada intensa, piora à palpação. Edema e rubor na área afetada. Calor local devido à inflamação. Flutuação : presença de líquido sob a pele pode ser percebida à palpação. Febre e mal-estar podem ocorrer, especialmente em abscessos grandes ou sistêmicos. Clínica Médica
Clínico : história de início rápido, dor, calor, rubor e flutuação. Laboratorial : leucocitose em alguns casos; hemoculturas se houver febre ou suspeita sistêmica. Imagem (quando necessário): Ultrassonografia : identifica coleções líquidas. Tomografia ou RM : em abscessos profundos ou complicados. Diagnóstico
Celulite : difusa, sem flutuação. Furúnculo : abscesso menor envolvendo folículo piloso. Hematoma : acumulação de sangue, não purulenta. Quistos (epidérmicos ou sebáceos): podem inflamar, mas geralmente sem sinais sistêmicos. Fascite necrosante : mais grave, dor intensa desproporcional, progressão rápida, necrose cutânea. Diagnóstico Diferencial
Drenagem cirúrgica ou punção : principal medida, especialmente para abscessos grandes. Antibioticoterapia : indicada quando há sinais de infecção sistêmica, múltiplos abscessos ou imunossupressão. Ex.: dicloxacilina , clindamicina ou vancomicina se MRSA for suspeito. Cuidados locais : limpeza da ferida e curativos. Analgesia : controle da dor local. TRATAMENTO
👨 História Clínica: Homem, 33 anos, usuário de drogas injetáveis, apresenta dor intensa em glúteo há 1 semana, febre (38,7 °C) e calafrios. 👨⚕️ Exame Físico: Tumoração endurecida, eritematosa, com flutuação e calor local. 📌 Hipótese Diagnóstica: Abscesso glúteo. 🩺 Conduta: Incisão e drenagem imediata. Antibiótico ( oxacilina /vancomicina se suspeita de MRSA). Cultura do pus.
Infecção aguada do folículo piloso e do tecido subcutâneo próximo. Normalmente provocada por Staphylococcus aureus . Manifesta-se como um nódulo doloroso, avermelhado e quente, que progride para uma pústula central . Furúnculo
Nódulo subcutâneo, eritematoso e doloroso. Evolução: pápula → pústula → abscesso com necrose central . Pode drenar pus espontaneamente. Febre é incomum , exceto em múltiplos furúnculos ou pacientes imunocomprometidos . CLÍNICA
Clínico: baseado na localização, dor, eritema e evolução do nódulo . Hemograma geralmente normal; cultura do pus se necessário. DIAGNOSTICO Diagnóstico Diferencial Abscesso profundo Foliculite múltipla Quisto sebáceo inflamado Hidradenite supurativa (lesões recorrentes em regiões axilares/inguinais)
Furúnculos pequenos: calor local e higiene . Furúnculos maiores ou complicados: drenagem cirúrgica . Uso de antibióticos sistêmicos (ex.: dicloxacilina ou cefalexina) se: .Febre .Lesões múltiplas .Paciente imunocomprometido .Evitar manipulação antes da maturação TRATAMENTO
👨 História Clínica: Homem, 22 anos, saudável, refere lesão dolorosa em axila direita há 4 dias, sem febre. 👨⚕️ Exame Físico: Nódulo eritematoso, endurecido, com necrose central e discreta flutuação. 📌 Hipótese Diagnóstica: Furúnculo. 🩺 Conduta: Compressas mornas, higiene local. Drenagem se coleções maiores. Antibiótico apenas se múltiplos furúnculos ou imunossupressão.
Infecção de múltiplos folículos pilosos adjacentes. Inflamação intensa e necrose do tecido subcutâneo. Formação de coalescência de abcessos , podendo formar fístulas de drenagem múltipla . Geralmente ocorre em regiões de pele com mais tecido subcutâneo (pescoço, dorso). Causado por S. aureus , pode ser mais virulento em diabéticos ou imunossuprimidos. Carbúnculo
Nódulo doloroso, eritematoso, quente, com várias aberturas drenando pus . Febre, mal-estar, linfadenopatia regional. Evolução mais lenta e extensa que furúnculo. Cicatrizes podem permanecer. CLÍNICA MÉDICA
Diagnóstico Clínico: extensão, múltiplos pontos de drenagem, sinais sistêmicos. Hemograma: leucocitose. Cultura do pus: para orientar antibiótico. Diagnóstico Diferencial Abscessos profundos múltiplos Hidradenite supurativa Celulite extensa
Drenagem cirúrgica ampla . Antibióticos sistêmicos obrigatórios (ex.: dicloxacilina , cefalexina ou vancomicina se MRSA). Higiene e cuidado local para prevenir reinfecção. Monitorar complicações sistêmicas: septicemia, endocardite (raro). TRATAMENTO
👨 História Clínica: Homem, 59 anos, diabético mal controlado, apresenta dor intensa em região de nuca há 10 dias. Refere febre (38,9 °C). 👨⚕️ Exame Físico: Grande placa endurecida e dolorosa, com múltiplos pontos de drenagem purulenta . 📌 Hipótese Diagnóstica: Carbúnculo. 🩺 Conduta: Drenagem cirúrgica ampla. Antibióticos sistêmicos ( oxacilina ou vancomicina se MRSA). Controle glicêmico rigoroso.