Malazarte encontrou uma ruma
de excremento ainda fresca, no
meio da estrada. Parou curvou -
se e cobriu com seu próprio
chapéu, ficando de cócoras,
segurando as abas, como se
guardasse uma preciosidade.
Passou um homem, a cavalo, e
parou, perguntando:
- Que está guardando aí?
- O mais bonito passarinho do
mundo! Custou mas segurei -o
- E o que vai fazer?
- Esperar que passe um
conhecido para vendê -lo ou
mandar comprar uma gaiola.
- Quanto quer pelo passarinho?
- Vinte mil-réis!
- Está fechado. Tome o
dinheiro, monte neste cavalo e
vá buscar uma gaiola, ali na
vila.
Apeou-se, Malazarte meteu o
dinheiro no bolso, cavalgou o
animal, picou-o nas esporas e
desapareceu para sempre.
O dono do passarinho esperou,
esperou e, perdendo a
paciência ou cutucado pela
curiosidade, passou a mão
para segurar a mais linda ave
do mundo, ficando com ela
suja e nauseante, furioso pelo
logro e sem poder castigar o
astucioso larápio.