Comentários adicionais ao
texto dos capítulo 7 e 8:
Nestes dois últimos capítulos, nós
temos a vida conjugal ou amorosa de
dois seres que se amam e se entregam
um ao outro, descrita de forma poética
e figurada, em imagens que ficam difícil para o nosso melhor entendimento, dada a distância social,
cultural e conjuntural que nos separa daquela época e daquele povo. O amor sexual é aqui
celebrado: "Quão formosos são os teus pés... as tuas coxas... o teu umbigo... o teu ventre... os
teus seios... o teu pescoço... os teus olhos... o teu nariz... a tua cabeça, os teus cabelos..." (7.1-5).
Poderíamos mesmo afirmar que, não apenas celebrado, mas também consumado, pois toda a
descrição que faz o rei de sua amada nestes versículos acima, é complementado por um texto
que transmite o sentimento de satisfação sexual que a unidade física entre ambos deve ter-lhe
trazido: "Quão formosa, e quão aprazível és, ó amor em delícias" (7.6). O autor, tece nestes dois
capítulos uma espécie de diálogo, em que um responde ao outro. O primeiro faz declarações de
amor e de carinho ao segundo, que por sua vez lhe responde com a mesma intensidade. A
linguagem é poética e figurada, mas deseja exprimir a intensidade e a beleza do sentimento que
une o casal. Algumas comparações e alusões são feitas aos componentes da vida familiar como
instrumentos para a solidez deste amor: a mãe, o irmão, a irmã dando testemunho desta
intimidade para sempre: "Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço;
porque o amor é forte como a morte; o ciúme é cruel como o Seol; a sua chama é chama de fogo;
verdadeira labareda do Senhor". (8.6).
Uma das coisas mais belas na comunhão fraterna do ser humano é a perenidade do amor conjugal.
Pessoas que se amam e se casam e celebram bodas de prata, de ouro, de brilhante, vivendo
juntas para sempre. É um amor que não acaba nunca. Muda em seus aspectos íntimos com a
idade, com os filhos, os netos, a velhice, mas não perde a sua intensidade nem a sua integridade,
porque no plano de Deus, no dizer do escritor sacro do Cântico dos Cânticos:
"as muitas águas não podem apagar o amor, nem os rios afogá-lo” (8.7).