Astronomia indígena brasileira

LucasSilvaTeixeira1 201 views 3 slides Nov 22, 2021
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Astronomia Indigena


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11/21/21, 10:37 PM Astronomia Indígena Brasileira
https://www.ipen.br/biblioteca/cd/sbpc/2003/textos/Germano Afonso.htm 1/4
Anais da 55ª Reunião Anual da SBPC - Recife, Julho/2003
 
SimpósioCONTRIBUIÇÕES NA TIVAS PARA O CONHECIMENT O
CONTRIBUIÇÕES DAASTRONOMIA INDÍGENA BRASILEIRA P ARA O
CONHECIMENTO
 
Prof. Dr. Germano B. Afonso
Departamentode Física/UFPR
e-mail:[email protected] .br
 
O objetivo desta pesquisa émostrar como a Astronomia empírica dos índios brasileiros
pode contribuir parao conhecimento formal, principalmente associando a observação do céu
com oclima, a fauna e a flora de cada região.
A observação do céu estevena base do conhecimento de todas as sociedades antigas,
pois elas foramprofundamente influenciadas pela confiante precisão do desdobramento cíclico
decertos fenômenos celestes, tais como o dia-noite, as fases da Lua e as estaçõesdo ano. O
índio brasileiro também percebeu que as atividades de pesca, caça,coleta e lavoura obedecem
a flutuações sazonais. Assim, ele procurou entenderessas flutuações cíclicas e utilizou-as,
principalmente, para a suasubsistência.
A Astronomia envolvia todosos aspectos da cultura dos índios brasileiros. O caráter
prático dos seusconhecimentos astronômicos empíricos podia ser reconhecido na organização
social e nas condutas do cotidiano, servindo, por exemplo, para planejar seusrituais, para
definir códigos morais, para ordenar as atividades anuais queeram correlacionadas com os
ciclos da fauna e flora do lugar, bem como paraplanejar a época de suas plantações e
colheitas. Eles avaliavam as horas do diatendo como referencial o Sol e as da noite, a Lua e as
constelações, comprecisão suficiente para regularem suas viagens e seu cotidiano.
Freqüentemente, tendemos ajulgar a cosmologia de outras civilizações através de
nossos própriosconhecimentos, desenvolvidos predominantemente dentro de um sistema
educacionalocidental. Esse conhecimento é formal porque tende a ser suportado por
documentos escritos, regras, regulamentos e infraestrutura tecnológica.  No entanto, a visão
indígena do Universodeve ser considerada no contexto dos seus valores culturais e
conhecimentosambientais. Esse conhecimento local se refere às praticas e representações que
são mantidas e desenvolvidas por povos com longo tempo de interação com o meionatural. O
conjunto de entendimentos, interpretações e significados faz partede uma complexidade
cultural que envolve linguagem, sistemas de nomes e classificação,maneiras de usar recursos
naturais, rituais, espiritualidade e maneira de ver omundo.
É evidente que nem todas asculturas atribuem igual significado a um mesmo fenômeno
astronômico,considerando-se que cada tribo possui sua própria estratégia de sobrevivência,
que se reflete na adequação entre as atividades de subsistência e o ciclo dasestações, por
exemplo. Além disso, tendo em vista que todas as tribos nãodependem de suas moradias, da
caça, da pesca ou dos trabalhos agrícolas damesma maneira, as constelações sazonais, por
exemplo, podem ter um significadoe uma utilidade diferente para cada uma delas. Devemos
separar, também, amaneira de ver o Universo dos índios que vivem no litoral daqueles que
vivem nointerior, bem como considerar a localização geográfica de onde são feitas as
observações. Por exemplo, perto da Linha do Equador não tem muito sentidofalarmos em
estações do ano em função da temperatura do local, pois além delavariar pouco, a maior e a
menor temperaturas nem sempre correspondem aos diaspróximos do que chamamos de verão
e de inverno, respectivamente. O clima dessaregião é caracterizado, principalmente, por uma
estação seca e uma estaçãochuvosa.
Oconhecimento indígena, não-formal - em contraste com o conhecimento formal - é
transferido oralmente de geração a geração, através de mitos, músicas eorações, sendo
raramente documentado.
Em 1612, o missionáriocapuchinho francês Claude d’Abbeville passou quatro meses
com os Tupinambá doMaranhão. No seu livro “História da Missão dos Padres Capuchinhos na
Ilha doMaranhão e Terras Circunvizinhas”, publicado em Paris, em 1614, considerado umadas
mais importantes fontes da etnografia dos Tupi, ele registrou o nome decerca de 30 de estrelas
e constelações conhecidos pelos índios da ilha.  Infelizmente, ele identificou apenas algumas
delas. Um dos motivos que nos incentivou a realizar este trabalho foi verificarque o sistema
astronômico dos extintos Tupinambá do Maranhão, descrito pord’Abbeville, é muito semelhante

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ao utilizado, atualmente, pelos Guarani do Suldo Brasil, embora separados pelas línguas (Tupi
e Guarani), pelo espaço (maisde 2.500 km, em linha reta) e pelo tempo (quase 400 anos).
Durante a pesquisa,utilizamos documentos históricos que relatam a importância da
astronomia nocotidiano da família indígena e, também, diversos mitos com conotação
astronômica. Além disso, realizamos entrevistas e observações do céu com pajésdas cinco
regiões brasileiras.
A literatura sobre os índiosbrasileiros que ainda não tinham muito contato com o homem
branco, mesmo sendoescrita por pesquisadores cujos objetivos não eram focalizados no
campo daAstronomia, demonstra que esse povo possuía um vasto e significativoconhecimento
dos astros. Ela lista um número substancial de nomes de estrelas econstelações, a maioria
localizada na Via Láctea, a faixa esbranquiçada queatravessa o céu, onde as estrelas e as
nebulosas aparecem em maior quantidade,facilmente visível à noite. Essa faixa é a parte mais
densa da nossa galáxiaque também recebe o nome de Via Láctea.
A literatura também relatadiversos mitos indígenas envolvendo conhecimentos
astronômicos. A maioria dosmitos associada às estrelas e constelações foi criada para ajudar
índio aidentificá-las e serviam como um método mnemônico para transmitir oralmente o
conhecimento do céu de geração a geração.
No trabalho de campo,observamos principalmente a utilização do Sol, da Lua e das
constelações nocotidiano dos índios brasileiros.
Eles determinam o meio-diasolar, os pontos cardeais e as estações do ano utilizando o
relógio solar quena língua tupi, por exemplo, se chamava Cuaracyraangaba.Ele é constituído
de uma haste cravada verticalmente no solo da qual se observaa sombra projetada pelo Sol,
sobre um terreno horizontal.
Segundo Claude d’Abbeville,os extintos Tupinambá do Maranhão, situados perto da
Linha do Equador, tambémobservavam o movimento do nascer e do pôr-do-sol e o seu
deslocamento na linhado horizonte, que se efetua entre os dois trópicos, limites que jamais
ultrapassam. Eles sabiam que quando o Sol vinha do lado norte trazia-lhesventos e brisas e
que, ao contrário, quando vinha do lado sul, trazia chuvas.Eles contavam perfeitamente os
anos em doze meses e isso pelo conhecimento dodeslocamento do Sol de um trópico a outro e
vice-versa. Conheciam igualmente osmeses pela época das chuvas e pela época dos ventos
ou, ainda, pelo tempo doscajus.
Os índios acordavam aonascer-do-sol e quando construíam sua moradia perto de uma
montanha escolhiam aposição em que a insolação fosse mais adequada. Atualmente,
levantamos em plenaescuridão, em alguns dias do ano, para irmos à escola ou ao trabalho e
construímos enormes prédios que projetam sombra sobre as construções vizinhas.Deixamos
de ter o nosso ritmo biológico regulado naturalmente pelos movimentosdo Sol e isso pode
acarretar enormes distúrbios em nosso rendimento intelectuale em nossa saúde.
Depois do Sol, a Lua é oastro mais observado pelos índios brasileiros. Ela é a principal
regente davida marinha.
Os índios brasileiros, emvirtude da longa prática de observação da Lua, conheciam e
utilizavam suasfases, associadas com as estações do ano, na pesca e na agricultura. Por
exemplo, o camarão é mais pescado entre fevereiro e abril, na maré alta delua-cheia enquanto
o linguado é mais pescado no inverno, nas marés dequadratura (lua-crescente e lua-
minguante). No corte de madeira, determinadasfases da Lua são mais favoráveis para que ela
se mantenha com boa qualidade.
Verificamos que etniasdiferentes de índios brasileiros possuíam um conjunto muito
semelhante deconhecimentos astronômicos que era utilizado para materializar o calendário e a
orientação. Esse conjunto comum se refere, principalmente, aos movimentosaparentes do Sol,
da Lua, de Vênus, do Cruzeiro do Sul, das Plêiades, deEscorpião, das Três Marias e da Via
Láctea. Os índios brasileiros davam maiorimportância às constelações localizadas na Via
Láctea, que podiam serconstituídas de estrelas individuais e de nebulosas, principalmente as
escuras.
Com as observações do céuque realizamos com índios de todas as regiões do Brasil
permitiram localizar amaioria das constelaçõesTupinambá, apenas relatadas por d`Abbeville e
dediversas outras famílias indígenas brasileiras.
Para divulgar o conhecimentoastronômico empírico dos índios brasileiros, construímos
um planetário e umobservatório temáticos no Parque da Ciência do Paraná.
O planetário consiste de umaesfera de seis metros de diâmetro. Através de um cilindro
de projeção, vemos asprincipais constelações que resgatamos com os índios brasileiros. Por
exemplo,as quatro constelações sazonais: a Anta (primavera), o Homem Velho (verão), o
Veado (outono) e a Ema (inverno).

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O observatório é constituídode uma haste de dois metros de altura feita de madeira,
cravada verticalmentesobre um terreno horizontal. Ela funciona como um relógio solar
(Gnômon). Ahaste fica no centro de um círculo de rochas de dez metros de diâmetro e, apartir
dela, há alinhamentos de rochas orientados para os pontos cardeais epara as direções do
nascer e do pôr-do-sol nos solstícios. Durante o diaobservamos os movimentos aparentes do
Sol e à noite as constelações indígenasno céu real.
Devido o interesse dacomunidade em geral neste trabalho, estamos construindo um
planetário-observatório itinerante, para ser utilizado principalmente porprofessores de escolas
indígenas e do ensino básico.
Verificamosque algumas das constelações dos índios brasileiros, utilizadas no cotidiano,
são as mesmas de outros índios da América do Sul e dos aborígines australianos.
A Astronomia Indígena podecontribuir para o conhecimento formal, principalmente nas
seguintes áreas:Educação Básica, Agricultura Orgânica, Pesca Artesanal e Meio -Ambiente.
Os própriosíndios nos auxiliam e apóiam em nossa pesquisa, pois eles também estão
preocupados com a preservação de sua cultura que corre o risco de desaparecerjustamente na
época em que ela se encontra mais valorizada, pela suacontribuição para o desenvolvimento
sustentável e a redução da pobreza. Acomunidade científica desconhece muito do
conhecimento indígena que pode seperder em uma ou duas gerações. Esse risco ocorre pelo
rápido processo deglobalização e pelas dificuldades em documentar, avaliar, validar, proteger e
disseminar os conhecimentos dos índios brasileiros.
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