CENTRO DE EXCELÊNCIA ARQUIBALDO MENDONÇA
PVA II UNIDADE 2017 Língua Portuguesa
Prof. Val Valença
NOME: DATA:
1)(ENEM/2015)
Aquarela
O corpo no cavalete
é um pássaro que agoniza
exausto do próprio grito.
As vísceras vasculhadas
principiam a contagem
regressiva.
No assoalho o sangue
se decompõe em matizes
que a brisa beija e balança:
o verde - de nossas matas
o amarelo - de nosso ouro
o azul - de nosso céu
o branco o negro o negro
CACASO. In: HOLLANDA, H. B (Org.). 26 poetas hoje. Rio de Janeiro:
Aeroplano, 2007.
Situado na vigência do Regime Militar que governou o Brasil,
na década de 1970, o poema de Cacaso edifica uma forma de
resistência e protesto a esse período, metaforizando:
A) as artes plásticas, deturpadas pela repressão e censura.
B) a natureza brasileira, agonizante como um pássaro
enjaulado.
C) o nacionalismo romântico, silenciado pela perplexidade com
a Ditadura.
D) o emblema nacional, transfigurado pelas marcas do medo e
da violência.
E) as riquezas da terra, espoliadas durante o aparelhamento
do poder armado.
2)
(ENEM -2015)
Essa pequena
Meu tempo é curto, o tempo dela sobra
Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora
Temo que não dure muito a nossa novela, mas
Eu sou tão feliz com ela
Meu dia voa e ela não acorda
Vou até a esquina, ela quer ir para a Flórida
Acho que nem sei direito o que é que ela fala, mas
Não canso de contemplá-la
Feito avarento, conto os meus minutos
Cada segundo que se esvai
Cuidando dela, que anda noutro mundo
Ela que esbanja suas horas ao vento, ai
Às vezes ela pinta a boca e sai
Fique à vontade, eu digo, take your time
Sinto que ainda vou penar com essa pequena, mas
O blues já valeu a pena
CHICO BUARQUE. Disponível em: www.chicobuarque.com.br. Acesso
em: 31 jun. 2012
O texto “Essa pequena” registra a expressão subjetiva do
enunciador, trabalhada em uma linguagem informal, comum na
música popular. Observa-se, como marca da variedade
coloquial da linguagem presente no texto, o uso de
a) palavras emprestadas de língua estrangeira, de uso
inusitado no português.
b) expressões populares, que reforçam a proximidade entre o
autor e o leitor.
c) palavras polissêmicas, que geram ambiguidade.
d) formas pronominais em primeira pessoa.
e) repetições sonoras no final dos versos.
3)(ENEM/2012)
Aquele bêbado
— Juro nunca mais beber — e fez o sinal da cruz com
os indicadores. Acrescentou: — Álcool. O mais ele achou que
podia beber. Bebia paisagens, músicas de Tom Jobim, versos
de Mário Quintana. Tomou um pileque de Segall. Nos fins de
semana, embebedava-se de Índia Reclinada, de Celso
Antônio.
— Curou-se 100% do vício — comentavam os amigos.
Só ele sabia que andava mais bêbado que um gambá. Morreu
de etilismo abstrato, no meio de uma carraspana de pôr do sol
no Leblon, e seu féretro ostentava inúmeras coroas de ex-
alcoólatras anônimos.
ANDRADE, C. D. Contos plausíveis. Rio de Janeiro: Record, 1991.
A causa mortis do personagem, expressa no último
parágrafo, adquire um efeito irônico no texto porque, ao longo
da narrativa, ocorre uma:
a) metaforização do sentido literal do verbo “beber”.
b) aproximação exagerada da estética abstracionista.
c) apresentação gradativa da coloquialidade da linguagem.
d) exploração hiperbólica da expressão “inúmeras coroas”.
e) citação aleatória de nomes de diferentes artistas.
4)(ENEM 2008)
São Paulo vai se recensear. O governo quer saber
quantas pessoas governa. A indagação atingirá a fauna e a
flora domesticadas. Bois, mulheres e algodoeiros serão
reduzidos a números e invertidos em estatísticas. O homem do
censo entrará pelos bangalôs, pelas pensões, pelas casas de
barro e de cimento armado, pelo sobradinho e pelo
apartamento, pelo cortiço e pelo hotel, perguntando:
— Quantos são aqui?
Pergunta triste, de resto. Um homem dirá:
— Aqui havia mulheres e criancinhas. Agora, felizmente,
só há pulgas e ratos.
E outro:
— Amigo, tenho aqui esta mulher, este papagaio, esta
sogra e algumas baratas. Tome nota dos seus nomes, se
quiser. Querendo levar todos, é favor… (…)
E outro:
— Dois, cidadão, somos dois. Naturalmente o sr. não a
vê. Mas ela está aqui, está, está! A sua saudade jamais sairá
de meu quarto e de meu peito!
Rubem Braga. Para gostar de ler. v. 3 São Paulo: Ática, 1998, p. 32-3
(fragmento).
O fragmento acima, em que há referência a um fato sócio
histórico — o recenseamento —, apresenta característica
marcante do gênero crônica ao
A) expressar o tema de forma abstrata, evocando imagens e
buscando apresentar a ideia de uma coisa por meio de outra.
B) manter-se fiel aos acontecimentos, retratando os
personagens em um só tempo e um só espaço.
C) contar história centrada na solução de um enigma,
construindo os personagens psicologicamente e revelando-os
pouco a pouco.
D) evocar, de maneira satírica, a vida na cidade, visando
transmitir ensinamentos práticos do cotidiano, para manter as
pessoas informadas.
E) valer-se de tema do cotidiano como ponto de partida para a
construção do texto que recebe tratamento estético.