- Tá. Conta até três.
- Um...Dois...Dois e meio...
Ridículo agora, porque na hora não era não. Na hora nem os apelidos secretos que vocês tinham um para o
outro, lembra?, eram ridículos. Ronron. Suzuca. Alcizanzão. Surusuzuca. Gongonha. (Gongonha!) Mamosa.
Purupupuca...
Não havia coisa melhor do que passar tardes inteiras no sofá, olho no olho, dizendo.
- As dondozeira ama os dondonzeiro?
- Ama.
- Mas os dondonzeiro ama as dondonzeira mais do que as dondonzeira ama os dondonzeiro.
- Na-na-não. As dondonzeira ama os dondonzeiro mais do que etc..
E, entremeando o diálogo, longos beijos, profundos beijos, beijos mais do que de língua, beijos de
amígdalas, beijos catetéticos. Tardes inteiras. Confesse: ridículo só porque nunca mais.
Depois do ridículo, o melhor do namoro são as brigas. Quem diz que nunca, como quem não quer nada,
arquitetou um encontro casual com a ex ou o ex só para ver se ela ou ele está com alguém, ou para fingir que
não vê, ou para ver e ignorar, ou para dar um abano amistoso querendo dizer que ela ou ele agora significa
tão pouco que podem até ser amigos, está mentindo. Ah, está mentindo.
E melhor do que as brigas são as reconciliações. Beijos ainda mais profundos, apelidos ainda mais
lamentáveis, vistos de longe. A gente brigava mesmo era para se reconciliar depois, lembra? Oito entre dez
namorados transam pela primeira vez fazendo as pazes. Não estou inventando. O IBGE tem as estatísticas.
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. Correio Braziliense. 13/06/1999.)
05. No texto, considera-se que o melhor do namoro é o ridículo associado
A) às brigas por amor. C) aos apelidos carinhosos. E) aos telefonemas intermináveis.
B) às mentiras inocentes. D) às reconciliações felizes
06. Esse texto utiliza, predominantemente, a linguagem
A) técnica. B) formal. C) literária. D) regional. E) coloquial
Leia este texto, divulgado pela internet.
06. A respeito dessa paródia do rótulo de um chocolate
conhecido, assinale a afirmativa correta.
A) O jogo de palavras desse texto aponta para uma censura à
sociedade de consumo.
B) No texto, há uma crítica alusiva à atual preocupação com o
uso de termos politicamente corretos.
C) A imagem é uma metáfora usada para identificar um tipo
especial de barra de chocolate.
(D) O texto é um desrespeito à população afrodescendente.
(E) No texto, expõe-se uma crítica à linguagem publicitária, marcada pelo jogo persuasivo.
Leia o texto abaixo.
[...] O celular destruiu um dos grandes prazeres do século passado: prosear ao telefone.
Hoje, por culpa dele somos obrigados a atender chamadas o dia todo. Viramos uma espécie de
telefonistas de nós mesmos: desviamos chamadas, pegamos e anotamos recados...
Depois de um dia inteiro bombardeado por ligações curtas, urgentes e na maioria das vezes irrelevantes,
quem vai sentir prazer numa simples conversa telefônica? O telefone, que era um momento de relax na vida
da gente, virou um objeto de trabalho. O equivalente urbano da velha enxada do trabalhador rural.
Carregamos o celular ao longo do dia como uma bola de ferro fixada ao corpo, uma prova material do
trabalho escravo.
O celular banalizou o ritual da conversa à distância. No mundo pré-celular, havia na sala uma poltrona e
uma mesinha exclusivas para a arte de telefonar. Hoje, tomados como num transe, andamos pelas ruas,
restaurantes, escritórios e até banheiros públicos berrando sem escrúpulos num pedaço de plástico colorido.
Misteriosamente, uma pessoa ao celular ignora a presença das outras. Conta segredos de alcova dentro