Avaliacao da Aprendizagem Escolar um ato amoroso.pdf

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Luckesi (1999) define avaliação da aprendizagem como um ato amoroso no sentido de que a avaliação por si só deve ser um ato acolhedor e inclusivo, que integra, diferentemente do julgamento puro e simples, que não dá oportunidades, distingue apenas o certo do errado partindo de padrões predet...


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CAPÍTULO IX
AvaliaçãodaAprendizagemEscolar:
umatoamoroso
Durantemuitosanosdetrabalhocomaavaliação da
aprendizagemescolar,dediquei-meadesvendarastramasnas
quaisessapráticaseconstituievemsendoexercitadaem
nossasescolas:umapráticaameaçadora,autoritáriaeseletiva.
Portanto,aolongodessetempo,vimdenunciandooprocesso
deexclusãoqueapráticadaavaliaçãodaaprendizagemescolar
exercita,melhordizendo,temexercitadoemrelaçãoaosedu-
candos,nopassadoenopresente. .
Aindaqueemtodasasminhasfalaseescritostenhame
preocupadotantocomadenúnciadasituaçãoescolarconcreta
quantocomoanúnciodepossibilidadesdeação,pareceque
tenhoressaltadomaisoaspectonegativodaavaliaçãoda
aprendizagemescolar. Desejo,nestaoportunidade,essencial-
mente,abordarosseusaspectospositivos.Queroclarificar
comooatodeavaliaraaprendizagem,porsi,éumato
amoroso. Entendoqueoatodeavaliaré,constitutivamente,
amoroso.Convidooleitoraviajarcomigonestameditação.
Provas/exameseavaliaçãodaaprendizagemescolar
Apráticaescolarusualmentedenominadadeavaliaçãoda
aprendizagempoucotemavercomavaliação.Elaconstitui-se
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muitomaisdeprovas/exames doquedeavaliação.Provas/exa-
mestêmporfinalidade,nocasodaaprendizagemescolar,
verificaroníveldedesempenhodoeducandoemdeterminado
conteúdo(entendendoporconteúdooconjuntodeinformações,
habilidades motoras,habilidades mentais,convicções,criativi-
dadeetc.)eclassificá-Io emtermosdeaprovação/reprovação
(paratanto,podendoutilizar-se deníveisvariados,taiscomo:
superior,médio-superior, médio,médio-inferior,inferior,sem-
rendimento; ounotasquevariamdeOa10,oucoisasemelhante).
Dessemodo,provas/exames separam0S"eleitos"dos"não-
eleitos". Assimsendo,essapráticaexcluiumapartedosalunos
eadmite,como"aceitos",umaoutra.Manifesta-se,pois,como
umapráticaseletiva.
Essacaracterística dasprovas/exames nãoégraciosa.Ela
estácomprometida,comotenhodenunciadoemtextosefalas,
com Omodelo depráticaeducativae,conseqüentemente,com
omodelo desociedade, aoqualserve. Apráticadeprovas/exa-
mesescolaresqueconhecemostemsuaorigemnaescola
moderna, quesesistematizouapartirdosséculosXVIeX~II,
comacristalizaçãodasociedadeburguesa. Aspedagogias
jesuítíca (séc.XVI),comeniana(séc.XVII),lassalista(finsdo
séculoXVIIeiníciosdoXVIII)sãoexpressõesdasexperiências
pedagógicasdesseperíodoesistematizadorasdomod~deagir
comprovas/exames. Apráticaqueconhecemoséherdeira.dessa
época,domomentohistóricodacristalização?a~oci~dade
burguesa,queseconstituipelaexclusãoemargmahzaçaode
grandepartedoselementosdasociedade. Asocie~ade.bur~uesa
éurnasociedademarcadapelaexclusãoemargmahzaçaode
grandepartedeseusmembros. Elanãoseconstituinum
modeloamorosodesociedade. Seriasuanegação. Bastaobservar
queosslogansdaRevolução Francesa(revoluçãoburguesa
porexcelência),porsi,eramamorosos,masnenhumdeles
podesertraduzidoempráticahistóricaconcretadentrodessa
sociedade.Aliberdadeeaigualdadeforamdefinidasnolimite
dalei;evidentemente,nolimitedaleiburguesa.Eafraternidade
pernaneceucomopalavraqueoventolevou.Praticarafra-
ternidadeserianegaraspossibilidades dasociedadeburguesa,
quetemporbaseaexploraçãodooutropelaapropriaçãodo
excedentedoseutrabalho, ouseja,pelaapropriaçãodaparte
169

não-paga dotrabalhoalheio'. Nestecontex:to, oatopedagógico
e,aindamenos, oatodasprovas/exames poderiam serumato
amoroso. Paraseremamorosos esses atosopor-se-iam ao
modelodesociedadedoqualemergemenoqualsesustentam.
Paraserviràsociedadeburguesa, comoservem,deveriamser,
comotêmsido,atosantagônicos,autoritários, seletivos; e,por
vezes, rancorosos-.
Adenominaçãoavaliação daaprendizagem érecente. Ela
éatribuídaaRalphTyler',queacunhouem1930. OZZ\io
Tylerreivindica parasiessaautoriaemtextorecentemente
publicadoeospesquisadoresnorte-americanos daáreade
avaliaçãodaaprendizagemreconhecemaTylerodireitodessa
paternidade,definindooperíodo de1930a1945como o
período"tyleriano" daavaliaçãodaaprendizagem.
Mudou-se adenominação, masaprática continuousendo
amesma, deprovas eexames. Tyler inventou adenominação
deavaliaçãodaaprendizagememilitounaprática educativa
defendendoaidéiadequeaavaliaçãopoderia edeveria
subsidiar ummodoeficientedefazeroensino. Outros, no
mundotodo,aoseuladoouumpoucodepois, militaramna
mesma perspectiva. Porém,nogeral, aprática escolarde
acompanhamento doprocesso decrescimento doeducando
continuou sendodeprovas eexames. Libâneo, emseuestudo
sobre aprática pedagógica dosprofessores dasescolas públicas
I.AobradeMarxéumaprofunda análisedasociedade capitalista eno
primeiro livrodeOcapital osestudos sobre amais-valiaabsolutaerelativa não
deixam dúvidas sobre osfundamentos daconstituiçãodasociedade burguesa; a
mais-valia nada mais representa doqueaexploração dohomem pelohomem
paragarantirocapital, queéabasedasociedade burguesa.
2.Aexperiênciaeducacional escolar,genericamente falando, dá-se comose
oprofessor tivesse todososalunoscomoseusinimigos eosalunos tivessem,
previamente, oprofessor como seuinimigo. Esseantagonismo semostra nasua
integralidade, quando otemasãoprovas eexames. Oprofessor deseja "pegar
osalunos pelopé"eosalunos desejam manobrar oprofessor. Ossujeitos
educadoreeducando nãosecolocamcomoaliados daconstrução bem-sucedida
daaprendizagem -oqueseriaoideal.
3.RalphTyleréumeducadornorte-americano, quesededicou àquestão
deumensino quefosse eficiente. NoBrasil,eleéconhecido peloseulivro
Princípios básicosdecurrículo eensino, traduzido epublicado pelaeditora
Globo, Porto Alegre,1974.
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deSãoPaulo, reconhece queaavaliação daaprendizagemé
oâmbito daaçãopedagógica emqueosprofessores sãomais
resistentes àmudança".
Essa práticaédifícildesermudadadevidoaofatode
queaavaliação, porsi,éumatoamorosoeasociedade na
qualestásendopraticadanãoéamorosae,daí,vencea
sociedade enãoaavaliação. Emnossa práticaescolar, hoje,
usamos adenominaçãodeavaliação epraticamos provas e
exames, umavezqueestaémaiscompatívelcomosenso
comumexigidopelasociedadeburguesa e,porisso,maisfácil
ecostumeiradeserexecutada. Provaseexamesimplicam
julgamento, comconseqüenteexclusão;avaliaçãopressupõe
acolhimento,tendoemvistaatransformação.Asfinalidadese
funções daavaliaçãodaaprendizagemsãodiversasdasfina-
lidades efunções dasprovas eexames. Enquantoasfinalidades
efunções dasprovas eexames sãocompatíveiscomasociedade
burguesa, asdaavaliaçãoaquestionam;porisso,torna-se
difícil realizar aavaliaçãonaintegral idadedoseuconceito,
noexercíciodeatividades educacionais, sejamindividuais ou
coletivas.
Avaliaçãodaaprendizagemescolarcomoumato
amoroso
Oatoamoroso éaquele queacolheasituação, nasua
verdade (como elaé).Assim, manifesta-se oatoamoroso
consigo mesmo ecomosoutros. Omandamento "amaoteu
próximo como atimesmo" implicaoatoamoroso que,em
primeiro lugar, incluiasimesmo e,nessa medida, podeincluir
osoutros. Oatoamorosoéumatoqueacolhe atos, ações,
alegrias edorescomoelessão;acolheparapermitirquecada
coisasejaoqueé,nestemomento. Poracolherasituação
como elaé,oatoamoroso temacaracterística denãojulgar.
Julgamentos aparecerão, mas,evidentemente, paradarcurso à
vida(àação)enãoparaexcluí-Ia. NapassagemdeMaria
4.JoséCarlos Libâneo, Tendências pedagógicas dosprofessores dasescolas
públicas deSãoPaulo, TesedeMestrado, PUC-SP, 1982.
171

Madalena, JesusCristoincluiu-a noseiodossereshumanos
comuns, enfrentandoosfariseuscomafrase:"Atireaprimeira
pedra,quemnãotiverpecado".Comessaexpressão,elea
acolheu; e,porqueacolhida, Madalenafoicuradanocorpoe
naalma. Oacolhimento integra,ojulgamento afasta. Todos
necessitamosdoacolhimento porpartedenósmesmos edos
outros.Sóquando acolhidos,noscuramos. Oprimeiropasso
paraacuraéaadmissãodasituaçãocomoelaé.Quando
nãonosacolhemose/ounãosomosacolhidos,gastamosnossa
energia nosdefendendoe,aolongodaexistência,nosacos-
tumamos àsnossasdefesas,transformando-asemnossomodo
permanente devive".Emsíntese,oatoamoroso éacolhedor,
integrativo, inclusivo.
Definoaavaliaçãodaaprendizagem comoumatoamoroso,
nosentido dequeaavaliação,porsi,éumatoacolhedor,
integrativo, inclusivo. Paracompreenderisso,importadistinguir
avaliaçãodejulgamento.Ojulgamentoéumatoquedistingue
ocerto doerado,incluindooprimeiroeexcluindoosegundo.
Aavaliação temporbaseacolherumasituação,para,então
(esóentão),ajuizarasuaqualidade,tendoemvistadar-lhe
suportedemudança,senecessário".Aavaliação, comoato
5.Oacolhimento écondição dacura.Nóscriamos nossosmecanismos de
defesacomoestratégias desobrevivência. Nodecorrer davida, necessitávamos
sobrevi veretivemosnosdefenderdas"intempéries". Anossadefesa,porvezes,
tornou-se crônica, perdendoaflexibilidadedeexpandir econtrair, criando, deste
modo,ummecanismodedefesacrônico(necessitamos termecanismos dedefesa
paragarantir anossasobrevivência, porémelespodemedevem serflexíveis;
nãocrônicos). Vivendoesobrevivendo nadefesa,nemnósmesmos somos mais
capazesdenosacolhermos. Então,nãohácaminho paraacura. Oponto de
partida paratodacuraéoreconhecimento acolhedor doqueexiste. Nossos
mecanismos dedefesanosprendem aopassadoe,muitas vezes,nosobrigam a
assumir atitudesregressivas(quenãosãoadultas). Oatoamoroso éumato
"adulto"; éumatodequemestáreagindo emconformidade comosdados da
realidade presenteenãoemconformidade comexperiências regressivas. Ver
Wilhelm Reich,Afunçãodoorgasmo, SãoPaulo,Brasiliense, 1984.
6,Estoufazendoumadistinçãoentrejulgamento eavaliação,nosentido de
queojulgamentodefineumasituação,dopontodevistadosimedonão,do
certoedoerado;aavaliação acolhe algumacoisa,ato,pessoaousituaçãoe,
então,reconhece-a comoé(diagnóstico), paraumatomadadedecisão sobrea
possibilidade deumamelhoria desuaqualidade;paraaavaliação nãoháuma
separaçãoentreocertoeoerado;háoqueexisteeestasituaçãoqueexiste
éacolhida,parasermodificada. Naavaliação, nãoháexclusão.
172
diagnóstico,temporobjetivoainclusãoenãoaexclusão;a
inclusãoenãoaseleção(queobrigatoriamente conduz à
exclusão).Odiagnóstico temporobjetivo aquilatar coisas, atos,
situações,pessoas,tendo emvistatomardecisõesnosentido
decriarcondiçõesparaaobtenção deumamaiorsatisfatoriedade
daquilo queseesteja buscando ouconstruindo.
Transportando essacompreensãoparaaaprendizagem,
podemosentenderaavaliaçãodaaprendizagemescolarcomo
umatoamoroso, namedidaemqueaavaliação tempor
objetivo diagnosticareincluiroeducando,pelosmaisvariados
meios,nocursodaaprendizagem satisfatória, queintegretodas
assuasexperiências devida.
Aprática deprovas eexamesexcluipartedosalunos,
porbasear-se nojulgamento, aavaliação podeincluí-los devido
aofatodeprocederpordiagnósticoe,porisso,podeoferecer-Ihes
condiçõesdeencontrar ocaminhoparaobtermelhores resultados
naaprendizagem",
Simbolicamente, podemosdizerqueaavaliação, porsi,
éacolhedora eharmônica,comoocírculoéacolhedore
harmônico. Quando chamamos alguémparadentrodonosso
círculo deamigos,estamosacolhendo-o.Avaliarumalunocom
dificuldades écriarabasedomododecomoincluí-Io dentro
docírculo daaprendizagem; odiagnóstico permiteadecisão
dedirecionar ouredirecionaraquiloouaquelequeestápreci-
sandodeajuda.
7.Talvezumexemplo ajude acompreender oqueestásendoexposto.O
exame vestibular (nãovamos entraraquinadiscussãodesuavalidade educacional
ousocial) seleciona, ouseja,dentreosmuitos demandantes, eleseleciona uma
parte.Aínóstemos seleção;alguns sãoacolhidos, outros sãoexcluídos.Osalunos
queforamacolhidos ingressam naUniversidadeevamosdizerqueumgrupo
detrinta alunos compõe umaturma; nopercursodaatividade deensino,esses
alunos nãodeveriam maisserselecionados, massimavaliados, oquesignifica
queelesdeveriam sercuidados paraqueviessemaaprendereasedesenvolver.
Assim sendo, ovestibular nãopratica avaliação educacional, comoestamos
compreendendo, massimseleção;asaladeaulanãopodepraticar seleção,mas
simavaliação, seestádefato,voltadaparaocrescimento doeducando.
173

Usoescolardaavaliaçãodaaprendizagem
Aavaliaçãodaaprendizagemnaescolatemdoisobjetivos:
auxiliaroeducandonoseudesenvolvimentopessoal,apartir
doprocessodeensino-aprendizagem,eresponderàsociedade
pelaqualidadedotrabalhoeducativorealizado.
Deumlado,aavaliaçãodaaprendizagemtemporobjetivo
auxiliaroeducandonoseucrescimentoe,porissomesmo,
nasuaintegraçãoconsigomesmo,ajudando-onaapropriação
dosconteúdossignificativos(conhecimentos,habilidades,hábi-
tos,convicções).Aavaliação,aqui,apresenta-secomoummeio
constantedefornecersuporteaoeducandonoseuprocessode
assimilaçãodosconteúdosenoseuprocessodeconstituição
desimesmocomosujeitoexistencialecomocidadão.Diag-
nosticando,aavaliaçãopermiteatomadadedecisãomais
adequada,tendoemvistaoautodesenvolvimentoeoauxílio
externoparaesseprocessodeautodesenvolvimento.
Poroutrolado,aavaliaçãodaaprendizagemrespondea
umanecessidadesocial. Aescolarecebeomandatosocialde
educarasnovasgeraçõese,porisso,deveresponderporesse
mandato,obtendodosseuseducandosamanifestaçãodesuas
condutasaprendidasedesenvolvidas.Ohistóricoescolarde
cadaeducandoéotestemunhosocialqueaescoladáao
coletivosobreaqualidadedodesenvolvimentodoeducando.
Emfunçãodisso,educadoreeducandotêmnecessidadedese
aliaremnajornadadaconstruçãodaaprendizagem.
Essesdoisobjetivossófazemsentidosecaminharem
juntos.Sedermosatençãoexclusivamenteaosujeitoindivi-
dual,podemoscairnoespontaneísmo;casocentremosnossa
atençãoapenasnosegundo,chegaremosaolimitedoauto-
ritarismo.
Ocaminhoéodomeio,ondeocrescimentoindividual
doeducandoarticula-secomocoletivo,nãonosentidode
atrelamentoàsociedade(estaraserviçodasociedade),mas
simnosentidoderesponsabilidadequeaescolanecessitater
comoeducandoindividualecomocoletivosocial(comas
pessoasquecompõemasociedade,comsuaspreciosasvidas).
Aescolatestemunhaàspessoasaqualidadedodesenvolvimento
doseducandosecadaumdenósaceitaessetestemunho
174
acatandocertificadosediplomas escolares.Sempredesejamos
saberseoprofissionalqueutilizamoséformadoecomoé
formado. Essetestemunhoédadopelaescola.
Assimsendo,aavaliaçãodaaprendizagemescolarauxilia
oeducadoreoeducandonasuaviagemcomumdecrescimento,
eaescolanasuaresponsabilidadesocial. Educadoreeducando,
aliados, constroemaaprendizagem,testemunhando-aàescola,
eestaàsociedade.Aavaliaçãodaaprendizagemnestecontexto
éumatoamoroso,namedidaemqueincluioeducandono
seucursodeaprendizagem,cadavezcomqualidademais
satisfatória,assimcomonamedidaemqueoincluientreos
bem-sucedidos,devidoaofatodequeessesucessofoiconstruído
aolongodoprocessodeensino-aprendizagem(osucessonão
vemdegraça).Aconstrução,paraefetivamenteserconstrução,
necessitaincluir,sejadopontodevistaindividual,integrando
aaprendizagemeodesenvolvimentodoeducando,sejado
pontodevistacoletivo,integrandooeducandonumgrupode
iguais,otododasociedade.
Algunscuidadosnecessárioscomapráticadaavaliação
daaprendizagemescolar
Noqueserefereàsfunçõesdaavaliaçãodaaprendizagem,
importaterpresentequeelapermiteojulgamentoeaconseqüente
classificação,masessanãoéasuafunçãoconstitutiva.Éimportante
estaratentoàsuafunçãoontológica(constitutiva),queéde
diagnóstico, e,porissomesmo,aavaliaçãocriaabaseparaa
tomadadedecisão,queéomeiodeencaminharosatossubse-
qüentes,naperspectivadabuscademaiorsatisfatoriedadenos
resultados''. Articuladascomestafunçãobásicaestão:
8.Asobservaçõesqueseseguem, especialmentenoqueserefereàsfunções
daavaliação eaoselementosnecessáriosdaconstruçãodeinstrumentosde
avaliaçãodaaprendizagem, foraminspiradasnocapítulo "Testescomoauxílioà
aprendizagem",deNormanGrounlund,doseulivroElaboraçãodetestesde
aproveitamento escolar,SãoPaulo, EPU,1974.Grounlundéumtecnopedagogo,
mas,nestetexto,manifesta-sesutilesensívelàsquestõesbásicasdaavaliação
comosubsidiáriadedecisõesfundamentaisparaoensino.
175

a)afunçãodepropiciaraautocompreensão, tantodo
educandoquantodoeducador. Educandoeeducador,pormeio
dosatosdeavaliação,comoaliadosnaconstruçãoderesultados
satisfatóriosdaaprendizagem,podemseautocompreenderno
nívelenascondiçõesemqueseencontram,paradarumsalto
àfrente.Sóseautocompreendendoéqueessessujeitosdo
processoeducativopodemencontrarosuporteparaodesen-
volvimento. Emprimeirolugar,énecessárioterconsciência
deondeseestá,tendoemvistaescolherparaondeir.Por
meiodosinstrumentosdeavaliaçãodaaprendizagem,oedu-
candopoderáseautocompreendercomaajudadoprofessor,
masestetambémpoderáseautocompreendernoseupapel
pessoaldeeducador,noqueserefereaoseumododeser,
àssuashabilidadesparaaprofissão,seusmétodos,seusrecursos
didáticosetc.Comoaliadosdoprocessoensino-aprendizagem,
educadoreeducandopodemseautocompreenderapartirda
avaliaçãodaaprendizagem,oquetraráganhosparaambose
paraosistemadeensino;
b)afunçãodemotivarocrescimento.Namedidaem
queocoreoreconhecimentodolimiteedaamplitudedeonde
seestá,descortina-seumamotivaçãoparaoprosseguimento
nopercursodevidaoudeestudoqueseestejarealizando. A
avaliaçãomotivanamedidamesmoemquediagnosticaecria
odesejodeobterresultadosmaissatisfatórios. Tradicionalmente,
aavaliaçãodaaprendizagemtemsidodesmotivadora.Os
educandossesentemmalcomoscomentáriosdesabonadores
feitospeloseducadoresnomomentodedevolver-Ihesosre-
sultadosdeseustrabalhos.Muitasvezessãocomentáriosne-
gativosedesqualificadores.Assimsedesmotivam.Contudo,
avaliaçãopodeedevesermotivadoraparaoeducando,pelo
reconhecimentodeondeestáepelaconseqüentevisualização.
depossibilidades;
c)afunçãodeaprofundamentodaaprendizagem.Quando
sefazumexercícioparaqueaaprendizagemsejamanifestada,
essemesmoexercíciojáéumaoportunidadedeaprendero
conteúdodeumaformamaisaprofundada,defixá-Iodemodo
maisadequado namemória,deaplicá-Ioetc.Oexercícioda
avaliação apresenta-se, nestecaso,comoumadasmúltiplas
176
oportunidadesdeaprender. FazerumexerCICIOamais,seo
exercício ésuficientementesignificativo,éummododeaprender
mais. Aassimilaçãodosconteúdos escolaressedápelarecepção
dainformação eporsuaassimilaçãoativa,pormeiode
exercícios queorganizamaexperiênciaeformamashabilidades
eoshábitos.Asatividadesnapráticadaavaliaçãodaapren-
dizagem-têrnodestinodepossibilitaramanifestação,ao
educadoreaoZZ\TYeducando,daqualidadedesuapossível
aprendizagem,maspossibilitatambém,aomesmotempo,o
aprofundamentodaaprendizagem.Osexercíciosquesão
executados napráticadaavaliaçãopodemedevemsertomados
comoexercíciosdeaprendizagem.
d)afunçãodeauxiliaraaprendizagem.Creioque,se
tivermosemnossafrenteacompreensãodequeaavaliação
auxiliaaaprendizagem,eocoraçãoabertoparapraticarmos
esteprincípio,semprefaremosbemaavaliaçãodaaprendizagem,
umavezqueestaremosatentosàsnecessidadesdosnossos
educandos,naperspectivadoseucrescimento.Então,estaremos
fazendoomelhorparaqueelesaprendamesedesenvolvam.
Paracumprirasfunçõesacimaespecificadasdaavaliação
daaprendizagem,importaestarmosatentosaalgunscuidados
comosinstrumentosutilizadosparaoperacionalizá-Ia:
1.terciênciadeque,pormeiodosinstrumentosde
avaliaçãodaaprendizagem,estamossolicitandoaoeducando
quemanifesteasuaintimidade(seumododeaprender,sua
aprendizagem,suacapacidadederaciocinar,depoetizar,de
criarestórias,seumododeentenderedeviveretc.) Não
podemos,pois,aproveitaressasuamanifestaçãopara"tomar
posse"dele.Temosderespeitaressasuaintimidadeecuidar
delacomcarinho,utilizando-acomosuportedediagnóstico,
datrocadialógicaedapossívelreorientaçãodaaprendizagem
tendoemvistaodesenvolvimentodoeducando";
2.construirosinstrumentosdecoletadedadosparaa
avaliação(sejamelesquaisforem),comatençãoaosseguintes
pontos:
9.ÉinteressanteverasobservaçõesdeMichelFoucault, emVigiarepunir,
Petpolis,Vozes, 1979,naparterelativaàdisciplinanaescola,emquediscute
aquestãodosignificadodosexamesnumasociedademarcadapeladisciplina.
177

•articularoinstrumentocomosconteúdosplanejados,
ensinadoseaprendidospeloseducandos,nodecorerdoperíodo
escolarquesetomaparaavaliar. Nãosepodequererqueo
educandomanifesteumaaprendizagemquenãofoiproposta
nemrealizada;
•cobrirumaamostrasignificativadetodososconteúdos
ensinadoseaprendidosdefato.Casoosconteúdossejam
essenciais,todosdevemseravaliados;conteúdosquenãosão
essenciaisnãodevemnemmesmoirparaoplanejamento,
quantomaisparaoensinoe,menosainda,paraaavaliação.
•compatibilizarashabilidades(motoras,mentais,imagi-
nativas...)doinstrumentodeavaliaçãocomashabilidades
trabalhadasedesenvolvidasnapráticadoensino-aprendizagem.
Nãosepodeadmitirquecertashabilidadessejamutilizadas
nosinstrumentosdeavaliaçãocasonãotenhamsidopraticadas
noensmo;
•compatibilizarosníveisdedificuldadedoqueestá
sendoavaliadocomosníveisdedificuldade doquefoiensinado
eaprendido.Uminstrumentodeavaliaçãodaaprendizagem
nãotemquesernemmaisfácilnemmaisdifícildoqueaquilo
quefoiensinadoeaprendido.Oinstrumentodeavaliaçãodeve
sercompatível,emtermosdedificuldade,comoensinado;
•usarumalinguagemclaraecompreensível,parasalientar
oquesedesejapedir. Semconfundiracompreensãodo
educandonoinstrumentodeavaliação.Pararesponderaoque
pedimos,oeducandonecessitasabercomclarezaoqueestamos
solicitando.Ninguémrespondeumapergunta,casonãoacom-
preenda;
•porúltimo,construirinstrumentosqueauxiliemaapren-
dizagemdoseducandos,sejapelademonstraçãodaessencia-
lidadedosconteúdos,sejapelosexercíciosinteligentes,ou
pelosaprofundamentoscognitivospropostos.
Casooeducadortenhaodesejodeverificarseos
educandossãocapazesdesaltosmaioresdoqueaquiloque
foiensinado,poderáconstruiralgumasquestões,itensousi-
tuações-problemasqueexijamparaalémdoensinadoedo
aprendido,porémnãodeveráconsiderarodesempenhodo
178
educandonesseselementosparaefeitodeaprovação/reprovação
(casoseestejatrabalhandocomtaisparâmetros),mastão-so-
mentecomodiagnósticododesenvolvimentopossíveldosedu-
candos'".
Porúltimo,entreoscuidadosnoprocessodeavaliação
daaprendizagem,éprecisoestarmosatentosaoprocessode
coreçãoedevoluçãodosinstrumentosdeavaliaçãodaapren-
dizagemescolaraoseducandos:
a)quantoàcoreção:nãofazerumespalhafatocomcores
berantes.Nãotenhonadacontraovermelho,considero-ouma
corforte.Porissomesmoéutilizadoparachamaraatenção.
Elaécaregadadeexpressõesnegativasdocotidiano:"estou
operandonovermelho";"obtiveumanotaemvermelho","o
boletimdomeufilho,nestemês,tevetrêsnotasemvermelho"...
Pode-seusarumlápis;nãoénecessárioborarotrabalhodo
aluno,desqualificando-o.Tendoumafetopositivo,cadapro-
fessorsaberáamelhorformadecuidardacoreçãodos
trabalhosdosseuseducandosII;
b)quantoàdevoluçãodosresultados:pensoqueoprofessor
deve,pessoalmente,devolverosinstrumentosdeavaliaçãode
aprendizagemaoseducandos,comentando-os,auxiliandooedu-
candoaseautocompreenderemseuprocessopessoaldeestudo,
aprendizagemedesenvolvimento.Creioquenãodevemosman-
daralguémentregarosinstrumentosapósacoreção.Nós
recebemosdasmãosdecadaaluno;qualseriaarazãopara
nãoentregarmosdevoltaàsmãosdecadaum?Mandarentregar
éumaformadesuprimirapossibilidadedeumprocesso
dialógicoeconstrutivoentreoeducadoreoeducando.
10.NormanGrounlund,tratandodestaquestãoemseulivroElaboraçãode
testespara()ensino, SãoPaulo,Pioneira,1979sugerequeummesmoteste
trabalhecomodomínioecomodesenvolvimento; paraaavaliaçãodoprimeiro,
utiliza-seaavaliaçãoporcritério,e,paraadosegundo,aavaliaçãopornorma.
Nesteprocessosóselevariaemconsideração,paraapromoçãodoeducando,a
partedotesterelativa aodomínio. Aparterelativaànormaseriautilizadapara
diagnosticaraspossibilidadesdeavançosdoseducandosparaalémdomínimo
necessário.Nestaperspectiva,valeapenaveressetexto.
11.AdrianadeOliveiraLima,emseulivroAvaliaçãoescolar:julgamento
xconstrução,Petr6polis,Vozes,1994,oferececonsideraçõesinteressantessobre
apráticaescolardecoreçãodosinstrumentosdeavaliaçãodaaprendizagem.
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Concluindo
oatodeavaliar,porsuaconstituiçãomesma,nãose
destinaaumjulgamento"definitivo"sobrealgumacoisa,pessoa
ousituação,poisquenãoéumatoseletivo.Aavaliaçãose
destinaaodiagnósticoe,porissomesmo,àinclusão;destina-se
àmelhoriadociclodevida.Destemodo,porsi,éumato
amoroso.Infelizmente,pornossasexperiênciashistórico-sociais
epessoais,temosdificuldadesemassimcompreendê-Iae
praticá-Ia.Mas...ficaoconviteatodosnós.Éumametaa
sertrabalhada,que,comotempo,setransformaráemrealidade,
pormeiodenossaação.Somosresp~msáveisporesseprocesso.
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