Aventura da escrita lia zatz

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About This Presentation

Linda história para se trabalhar a história da escrita. Uma excelente opção para professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Pode ser usada como leitura para deleite ou para desenvolver um trabalho mais aprofundado, por meio de sequência didática.


Slide Content

VieamunoO 27edicio

Aventuna ©

da wenita

História do desenho que virou letra
LIA ZATZ

oR

Aventura
da escnita

Historia do desenho que viron letra

Vocé já imaginou o trabalho que o
homem teve para chegar à escrita tal
como a conhecemos hoje? E o tempo
que isso levou?

Pois bem, este livro conta como
tudo acontecen, desde o tempo em
que a escrita nao existia.

Vamos saber para que serviam as
pinturas e os desenhos criados pelos
homens das cavernas. Vamos
conhecer como esses e outros
desenhos foram se transformando
em sinais que deram origem ás
diferentes formas de escrita.

Finalmente, vamos compreender a
importancia de se conhecer a escrita,
como se tem acesso a ela e a
necessidade de se entender aquilo
que está escrito.

Numa linguagem clara e acessivel,
Lia Zatz, escritora, estimula a
criatividade e procura relacionar o
caminho da aprendizagem da crianga
com o caminho percorrido pela
humanidade até chegar à escrita
alfabética.

a
_ ASHOKA - Agentes Inovadores do Bem-Estar Social
Maria da Graga Mendes Abreu, mestra

Telma Weiss

Condena etal: Jo Cis de Castro

Prepare de origina: Lis Vent Vita ho (coordenada),

= Dela Rocha de Frets Meni (reparadora)
Pesqualonogréfs Tas Helens F. Botello

Reno: Lisabeth Bani Gite coordenador)

Artes: Sic Mousa (cooréenado), Mauricio Barto da Sila (dagramador)
Capa Kusagder: Puso Manz

Compos: Types: Desenvolvimento Editorial

0 na Pablicacio (CIP) Internacional
Ira do Livro, SP, Bri)

Indices para catálogo sistemático:

2: Literature Anfanto-juenil 028.5

ISBN. 85-16-00459-7

FOITORA MODERNA LTDA.

LIA ZATZ

Licenciada em Filosofia pela Universidade de Paris X — Nanterre, Franga.
Escritora e membro do grupo Pastel, que vem desenvolvendo projetos na área de
literatura infanto-juvenil e de treinamento de educadores.

Aventura
da escrito -

História do desenho que virou letra

Colegáo Viramundo

Apresentacáo

A gente vive num mundo rodeado de coisas escritas. Basta sair
à rua e olhar: é o jornaleiro cheio de revistas, jornais e livros; é a
placa da rua, do dnibus, da loja; sio os cartazes de propaganda,
as embalagens dos produtos.

E a gente consegue ler e entender tudo. Náo é maravilhoso?

Eu nao consigo me lembrar do tempo em que nao sabia ler
e escrever. Mas posso imaginar, e acho que as escritas deviam pare-
cer mais ou menos com isto:

Vocé nao tem a mesma impressäo?

E neste mundo cheio de escrita, como 0 nosso, vocé consegue
imaginar um tempo completamente diferente? Um tempo em que
a escrita náo existia? Pois isso aconteceu e foram necessärios mi-
Ihares de anos para que ela se desenvolvesse e ficasse como nos a
conhecemos hoje.

É uma história bonita. E é porque ela existe que vou poder
contá-la, por escrito, para voce.

2

1. Imagine um mundo sem a escrita

Vamos fazer de conta que a escrita náo existe e pensar num
mundo sem ela.

O que fazemos quando queremos mostrar a uma pessoa o que
estamos pensando ou sentindo? É fácil: falamos. E ninguém preci-
sa da escrita para falar, náo é verdade? Todo povo tem uma lingua-
gem, seja ele brasileiro, angolano, japonés, americano, indio, rus-
so ou esquimó.

Mas será que € só por meio da fala que
sos sentimentos e pensamento:

“conversar” com outro, como faz? E voce,
de uma pega de teatro que Ihe agradou, e
E duas pessoas que se gostam muito €
muito tempo sem se ver?
Além da fala, muitas outras atitudes,
o gesto ou a mímica, o aplauso, 0 abraço,
que sentimos e pensamos.

podemos mostrar nos-

O que faz um bebé que ainda náo sabe falar, mas que quer
mostrar que está com fome, alegre ou amolado? Um mudo, para

no fim de um show ou
omo se comporta?
se encontram depois de

como o choro, 0 riso,
servem para mostrar ©

Mas, muitas vezes, queremos que uma idéia ou sentimento que
temos dure mais do que o tempo de um abrago, de um gesto ou
de uma fala. Ou, ainda, que essa idéia ou sentimento possam ser
conhecidos nao só pelos que estáo próximos, mas também pelos
que esto longe de nds. Para isso, foi necessário encontrar outras
formas para mostrar o que estamos pensando e sentindo.

Muitos povos, por exemplo, utilizaram, e ainda utilizam,
objetos para se comunicar. E nós ndo continuamos fazendo isso
até hoje?

Outro dia, minha amiga Diana, que € uma menina de 5 anos,
me levou para conhecer sua classe. Ela entrou e foi logo penduran-
do sua lancheira num preguinho. Mas náo em qualquer um. Ela
andou até o fim da fileira e usou um dos últimos pregos. Reparei
que, acima de cada um, havia alguma coisa colada. Sobre o prego
da Diana era um lago de fita. Sobre o prego do lado, uma máscara
de Batman. Do outro lado, um vestido de boneca. E assim por dian-
te, E cada criança que entrava ia direto colocar a lancheira no seu
preguinho.

Percebi entäo que, como as crianças ainda nao sabiam ler e
escrever, usavam objetos que elas mesmas tinham escolhido para
marcar o seu prego. E, assim, todas sabiam qual era o seu prego
€ também o de cada um dos colegas.

Outro exemplo € o de como alguns indios, quando viajam, in-
dicam para outros que passam pelo mesmo caminho qual a dire-
cdo que seguiram. Usam galhos de árvores. assim:

Quando, além da diregáo, querem mostrar também que foram
para longe, fazem assim:

E se querem explicar mais ainda, indicando quantos dias väo
caminhar, fazem como no desenho abaixo, onde o viajante indica
que sua viagem vai durar cinco dias:

Os escoteiros ás vezes usam esse recurso inventado pelos indios.

Mas, em vez de usar objetos, podemos também fazer marcas,
gravando ou desenhando.

Veja o que aconteceu no pendurador de lancheiras da classe
da Diana. Em vez de usar lagos, máscaras e outras coisas, cada crian-
ça desenhou seu retrato acima do seu preguinho.

suas

N
N

| id
! de

E no caminho do viajante? Em vez de usar galhos para mos-
trar o seu caminho, ele foi marcando as árvores pelas quais passava.

Foi usando marcas, desenhos e sinais desse tipo que o homem
começou a construir a história da escrita.

2. O que é a escrita? Para que serve?

O que aconteceu com o auto-retrato da Diana? Ele continua
mostrando qual é o prego dela? Náo. Ele agora está enfeitando a
parede.

E se Diana e um de seus colegas desenharem seu próprio re-
trato numa folha de papel e colarem cada um numa porta de ba-
nheiro de sua escola?

Eles seráo apenas dois desenhos bonitos, gostosos de ver? Nao.

Eles ganharáo outra funcáo: mostrar que onde está o desenho da
Diana é o banheiro das meninas e onde está o desenho do seu cole-

ga é o banheiro dos meninos.
10

gone um motofista sabe se uma rua dá ou nao dá mao, se
pc ou nao estacionar num local, se deve ou náo diminuir a velo-
cidade? Ele é orientado pelos sinais de tránsito, escritos de tal for-
ma que possam ser vistos e comprendidos rapidamente e a distáncia.

> ee. | und

Vocé já imaginou como seria fazer contas por escrito, sem os

incio coe nai? Depois, vamos combiná-los:

À

Quem näo conhece o nosso código vai pensar que säo simples
desenhos. Poderá até dizer que está vendo um círculo, dois qua-
drados e um triángulo. Mas, para nés, esses desenhos, nessa ordem,
querem também dizer a palavra MALA.

Combinando de diversas formas os trés sinais do nosso códi-
go, conseguimos formar muitas palavras:

Desenhos nas portas de banheiros, sinais de tránsito e núme- |
ros säo feitos e escritos do mesmo jeito em muitos países do mun-

do. Assim, se voc’ estiver num desses países, entenderá o que esses
sinais querem dizer, mesmo que nao conhega a sua lingua.

E se agora a gente inventar um código secreto? Primeiro,
os sinais: FE

Os exemplos que vimos säo formas de escrever, assim como

a forma que estou usando para escrever este livro que vocé está lendo.

Para que escrevemos? Para mostrar o que pensamos e senti-

mos; para dar avisos; fazer contas; de tal forma que nossos pensa-
mentos, sentimentos, informagöes e dados possam durar.

13

Mas para entender tudo isso é preciso saber ler, E, para ler,
€ preciso compreender o que os sinais representam e as regras para
combiná-los. Num jogo, se náo conhecemos as regras, náo conse-
guimos entrar na brincadeira. Com a escrita acontece a mesma coisa.

Na escrita alfabética, que é esta que estou usando para escre-
ver este livro, o que queremos é representar a fala. Para isso, usa-
mos letras. Para saber ler e escrever, precisamos entáo aprender quais
€ como sao as letras, que som elas tém e como combiná-las. E to-
dos temos de aprender a mesma escrita, pois, se eu inventar uma
escrita só para mim e você inventar outra só para vocé, como va-
mos nos entender?

Aprender a ler e escrever é como aprender um jogo: é preciso
conhecer as combinaçôes, as regras, ter vontade e treinar bastante.
Mas vale a pena, náo vale? Aprendendo o jogo da escrita, é possí-
vel conhecer e escrever histórias, poesias, cartas, bilhetes, reporta-
gens, pesquisas, tomar o ônibus certo, chegar à rua que estamos
procurando, saber para que serve um remédio e como devemos tomá-
lo, e um mundo de outras coisas mais.

Nao podemos fazer tudo isso usando apenas sinais como os
de tránsito ou os números, Mas podemos fazé-lo usando palavras.
E vocé já pensou que para escrevé-las usamos apenas as 23 letras
do nosso alfabeto?

O cérobro elotónico faz tudo.
Faz quase tudo,

KADETT GS 90

ewes n one rs"

Bese

KAWAZAKIZX D] MP LAFER ST

JET SKIS 5p = eu o
PRONTA ENTREGA [Er 5.97 a
‘one: 815-8355 Bone

r.Ailton he, ROD pat 80 ne
ere 2.

a miséria e da ignoráncia

RECEITA DE HERO!
-Tome-se um homem feito de nada
Como nés em tamanho natural
Embeba-sethe a carne
Lentamente :
a, irracional
De uma certeza aguda, —
Ics como o oo cono
Depois perto do fim
AAgitese um pendäo
E toquese o clarim.
Serve-se mort. |
(Reinaldo Ferreira

— i

3. Pintar é escrever?

Pinturas das cavernas: registro, enfeite ou mágica?

Cidades, prédios, aviôes, foguetes, televisores, computadores,
ónibus, carros, motos, bicicletas, lojas, mercados, ruas, escolas, a
escrita, tudo, tudo o que nos rodeia hoje, e que achamos coisas muito
normais, náo existia há 10 mil anos.

Homens, mulheres e criangas viviam em cavernas, comiam os
animais que conseguiam cagar e os frutos e raízes que encontra-
vam. Vestiam-se com peles dos animais mortos e, lógico, náo assis-
tiam a novelas nem andavam de bicicleta.

Mas tinham a mesma necessidade que nós de mostrar o que
estavam pensando e sentindo. Devem ter feito isso de várias for-
mas. Uma delas foi pintando. Hoje é conhecida a existéncia, em
muitos lugares do mundo, inclusive no Brasil, de cavernas e rochas
com pinturas daquela época. O que nao se sabe, com certeza, € 0
que aqueles homens estavam querendo mostrar.

E possivel que o homem que fez esse desenho quisesse dizer:
CACAMOS DOIS ALCES

Mas poderia também ser:

HOJE VAMOS CAGAR ALCES

Ou entáo:
MEU IRMAO E MEU PAI FORAM CAGAR ALCES
Ou ainda:
EU AGORA JÁ SOU HOMEM E VOU PODER CAGAR ALCES

E muitas outras coisas,

Pode ser também que ele náo estivesse querendo dizer nada
disso e fez o desenho apenas para enfeitar sua caverna. Mas tam-
bém pode ser que seu desenho tivesse alguma coisa de mágico: co-
mo se, desenhando homens cagando animais, isso pudesse garantir
seu sucesso na caga, dar-Ihe sorte.

Seria a vontade de deixar registrado um acontecimento? Seria,
talvez, o modo de expressar o prazer e a beleza do desenho? Uma
tentativa mágica? Ou, quem sabe, tudo isso misturado?

Nao sabemos e dificilmente saberemos o que levou o homem
das cavernas a fazer essas pinturas. Mas sabemos que clas foram
© primeiro passo que o homem deu no caminho da escrita.

Pinturas que contam coisas

O homem logo aprendeu a usar a pintura para contar fatos
e acontecimentos. E essa forma, apesar do aparecimento da escri-
ta, ainda é empregada até hoje.

Nao faz muito tempo, um acordo de paz foi feito entre os ha-
bitantes da Tasmánia, uma ilha da Australia, e os colonizadores eu-
ropeus. Observe a seguir como esse acordo foi registrado.

17

Minha amiga Diana também fez um desenho do mesmo tipo.
A professora havia pedido a cada criança para desenhar o que mais
gostava de fazer na escola.

i A

2 }

Diana desenhou uma quadra de esportes para mostrar que o
que ela mais gostava era de educagäo física. Muitas vezes, o dese-
nho, em vez de querer mostrar um acontecimento ou um fato, co-

Na primeira tira, mostram o desejo de que haja paz entre nati-
vos e europeus. Na segunda, o acordo de paz é confirmado pelos
representantes oficiais. Na terceira, declaram que, se um nativo matar

um europeu, será castigado com a forca. E, na quarta, que, se um mo esses que mostramos, quer nos fazer lembrar de alguma coisa.
europeu matar um nativo, será também castigado com a forca. 19

18



Pinturas que nos lembram pessoas e coisas Na classe da Diana, as criangas fizeram desenhos, nao para

e : Mes 1 seus nomes, mas para lembrar os dias da semana e as atividades
Se voc já viu filmes de caubéi, sabe que os indios americanos decada dig. Printz Inca um sinal para cada dia:
tém nomes do tipo Cabega-de-dguia, Raposa-que-ri e outros do mes- >

mo género. Sáo nomes fäceis de escrever por meio de de-
senhos. E é o que eles fazem para marcar seus objetos ou assinar Le > a
documentos. of = SEGUNDA-FEIRA

Veja como trés indios assinaram seus nomes:

y
oO TERCA-FEIRA

)

QUARTA-FEIRA

À

QUINTA-FEIRA

O = SEXTA-FEIRA A

Depois, um sinal para cada atividade:

N, = cHEGADA

= SALA DE AULA

Maria, José, Joana, Francisco... pena que com o tipo de no-
me que temos nao dá para fazer isso. A näo ser que a gente se chame

RECREIO

EDUCACAO ARTÍSTICA

= BRINCADEIRAS NO PÁTIO

= SAÍDA

(Si E y ES

Entáo montaram o quadro com os sinais combinados:
El

Y Y UY

7
&

O homem de antigamente também usava desenhos e foi por
meio deles que chegou mais perto da escrita.

Pois, se um desenho é feito para nos fazer lembrar de uma pes-
soa, de um dia, de uma atividade ou de um objeto, por que náo
pode ser feito para nos fazer lembrar das coisas que falamos? Pode
e foi o que o homem descobriu, passando a usar desenhos para re-
presentar as palavras que falamos. Dessa forma, começava a histó-
ria da escrita.

y

—)

El

Q [Sse

ARE Y E 0

Ses

22

4

4. História da escrita

Quando o homem comegou a plantar, criar animais, fiar, cons-
truir cidades, a escrita passou a ser um instrumento necessärio e
importante. Era preciso, por exemplo, controlar os rebanhos e, mais
tarde, os produtos que iam do campo para a cidade e da cidade pa-
ra o campo. Veja esta forma de escrever:

%

05000
0000

Pessoas que estudam as escritas antigas descobriram que:

u

o =10

om

(© = Vaca
> = BOI

E que, portanto, aquela escrita queria

zer:
54 BOIS E VACAS

Esse é um exemplo da escrita dos sumérios, um povo que vi-
veu ha cerca de 5 mil anos, na antiga regido da Mesopotamia, hoje
o deserto do Iraque.

23

3% Mesopotämicos À Egipcios ch Chineses

Sinais representando palavras

Sumérios, egipcios, chineses e outros povos, que começavam
a sentir a necessidade de registrar informagöes e contar fatos, no
comego inventaram sinais para poucas palavras. No geral, eram de-
senhos representando seres e objetos do mundo em torno deles.
Veja estes sinais:

Povo sumério Povo egípcio Povo chinés
HOMEM 5] EN
BOI [a] a
SOL ol
ÄGUA [2] [a]
24

r “e. a de

Como esses, existiam muitos outros sinais. Mas, aos poucos,
foi-se tornando necessärio escrever mais palavras e era impossivel
inventar e decorar sinais para todas elas.

Descobriu-se, entáo, que o mesmo sinal podia ser usado para
palavras que tinham significados parecidos. Assim, por exemplo,
o sinal para SOL, quer em sumério, quer em egípcio ou chinés, tanto
poderia expressar a palavra SOL como a palavra DIA.

E foi exatamente isso o que fizeram também as crianças da clas-
se da Diana, usaram o mesmo sinal para palavras com significados
parecidos:

O desenho que representa um PAO está sendo usado no qua-
dro de atividades da classe para significar a palavra RECREIO.

Outro jeito de conseguir escrever mais palavras com os sinais
Já conhecidos era juntando dois ou mais sinais. Assim, por exem-
plo, em sumério, o sinal

[ = MANTO

mais o sinal

x / = MULHER

davam uma terceira palavra:

ae = PRINCESA

25

=

Olhem só que engracadinhos os chineses. Usavam o sinal

— = MULHER

para formar as palavras

He x = BRIGA
x > Se = FALSIDADE

Por que será que náo inventaram palavras desse tipo com o
sinal para a palavra HOMEM?

As criangas da classe da Diana, no seu quadro semanal de ati-
vidades, também combinaram dois sinais já conhecidos para repre-

sentar uma terceira palavra. Juntaram
a CADERNO

y = LÁPIS €

formando 7) = SALA DE AULA

Com essas novas possibilidades, ficou mais facil escrever. Mas,
mesmo assim, ainda nao se conseguia escrever todas as palavras que
existem numa lingua. Algumas eram especialmente dificeis, como
nomes de pessoas, nomes de lugares, palavras como vida, morte,
alegria, tristeza.

Sinais representando o som das palavras

Entáo, há mais ou menos 4 mil anos, foi feita uma das desco-
bertas mais importantes para a história da escrita: os sinais podiam
representar também o som da fala,

26

Para os sumérios, tanto a palavra FLECHA como a palavra
VIDA tinham o mesmo som: TI. Para a palavra FLECHA, usa-

vam o sinal

Eles passaram entäo a usar o mesmo sinal também para a pala-
vra VIDA.

Para os egípcios, tanto a palavra PATO como a palavra
FILHO tinham o mesmo som: SA. Para a palavra PATO, usa-
vam o sinal

Desse modo passaram a usar esse mesmo sinal também para a pa-
lavra FILHO.

Voc? percebeu o que aconteceu? O mesmo sinal podia ser usa-
do para representar palavras de som igual, mas que queriam dizer
coisas completamente diferentes.

Fica mais fácil entender usando um exemplo em portugués. Va-
mos imaginar que a gente escrevesse com desenhos e náo com le-
tras. Dessa forma, a frase GALINHA BOTA OVO poderia ser es-
crita assim:

io

27

A palavra BOTA, de calgar,
tem o mesmo som que a palavra
BOTA, do verbo botar. Assim,
o mesmo sinal serviria para as
duas palavras.

Sinais representando o som de pedaços das palavras

Essa descoberta, de usar o mesmo sinal para palavras que ti-
nham o mesmo som, mas queriam dizer coisas completamente di-
ferentes, levou a um outro avango: os sinais náo precisavam mais
ser usados só para palavras inteiras, mas podiam também ser usa-

lagos de palavras.
escrever, como os homens de antigamente, náo seria dificil desco-
brir alguns exemplos em portugués. Veja:

Ne >
EX

SOLDADO

= CAMALEAO

= RODAPÉ

= CASACAO

PAPAO

28

Porém, como poderfamos escrever, por exemplo, uma palavra.
como RODADA? Bastaria a gente escrever

DA

Mas estaríamos esquecendo que os homens daquele tempo fa-
lavam o som DA, embora nao o escrevessem, como fazemos hoje.
Começaram entáo a inventar sinais para certos sons, como este

>

que inventamos para o som DA, ou este

ZA

Assim, para escrever uma palavra como RODADA, podería-
mos desenhar o sinal

para o som TA.

€ combiná-lo com o sinal inventado para o som DA:

© y

RODA DA

Na lingua chinesa, até hoje, se escreve assim. Existem sinais
para palavras, como, por exemplo, o sinal

que representa a palavra NU, que quer dizer MULHER.
29

3

a o: 1
| Ecxistemsinais para sons de sílabas, como, por exemplo, o sinal

r

“que representa o som da sílaba PU.

Contudo, muitos outros povos foram, aos poucos, abandonan-

do os sinais para representar palavras inteiras e usando só sinais

para representar os sons das sílabas. É como se, para eserever a pa-

lavra RODADA, inventassemos um sinal para o som RO, que po-
deria ser

RO

u

e escrevéssemos

Na lingua japonesa, até hoje os sinais representam sons, tais

como:
MA NI

“Sy =

Estaria ficando mais fácil escrever, mas ainda haveria muitos

sinais para se aprender.

Se nds escrevéssemos assim, imagine só quantos sinais teria-
mos de inventar e decorar, por exemplo, para os diversos sons das

palavras

BOLO BALA LEME BICA

30

LO = f
BA = <a,
LA = Ce
Ss
?

As

BALA

LEME

BICA = Gy

cop dos POUGOS, alguns povos passaram a usar um só sina para
representa vrios sons. É como se no exempl que demos, em ez
os um sinal para o som BO, out x
+ , ro para o som BA e outre
para o BI, inventássemos um só para os trés, que poderia ser |

=

CA =

E em verde ermos umsinal para osom LO, outro parao LA eoutro
© LE, inventéssemos um só para os trés, por exemplo:

pe \

31

Se antes tinhamos oito sinais para as palavras que usamos co-
mo exemplo, agora teriamos só quatro:

© = BO - BA - BI

DN =10-LA-LE

Ÿ = ME
Ao ming

De fato, seriam bem menos sinais para aprender, mas nem sem-
pre seria facil entender o que estava escrito. Olhe:

oa

Será que escrevemos BOLO, BOLA, BOLE, BALA ou BALE?
Pelo tipo de assunto que estava sendo tratado, ás vezes dava
para descobrir o que estava escrito. Mas nem sempre.

O alfabeto

Por causa disso, alguns povos, para facilitar a leitura, ás vezes
usavam ainda outros sinais para sons que, para nds, hoje, säo as
vogais

AEIOU

Vamos inventar sinais para duas delas:

=0 A

32

Agora, se a gente tivesse

saberia que está escrito BOLA, porque

AB
re
entáo © ¿BO
éntáo [AN =LA

Ou seja:

Ei

Ho. (u, Sr

… Os gregos, hä uns 2.500 anos, comegaram a usar sempre a in-
dicaçäo do som da vogal. Com o tempo e com o uso, percebeu-se
que näo era vantagem nenhuma escrever BO-O-LA-A para a pala-
vra BOLA. E isso aconteceu com todas as outras palavras. Bastava
que o sinal para os sons
BO BA BI
passasse a representar somente o som B; que o sinal para os sons
LO LA LE
passasse a representar somente 0 som L. E assim por diante.
Desse modo, chegou-se ao alfabeto.

33

O nosso alfabeto nasceu do alfabeto grego. Veja só como sáo
parecidos:

Alfabeto grego

A B Tr A E VA H O “I
alfa beta gama delta épsilon dzeta eta teta iota

K A on à 0 np. oY 7
capa lambda mu nu xi Omicron pi rô sigma tau

%.8.xX % 0
hipsilo fi qui psi ómega

Nosso alfabeto.

ABCDEFGHIJLMNOPQRSTUVXZ

Todos os países de lingua portuguesa, espanola, italiana, in-
glesa, francesa, alemá e outras usam o mesmo alfabeto que nés.
Mas existem ainda muitos outros tipos de escrita:

Escrita russa

MMP Y GPATCTBO MEMAY BCEMM
Escrita japonesa
BHELT
ANTI
Escrita árabe
Rn. a Ya)
+ u]
Viram quanta histöria e quanto trabalho existem por träs das
23 letras do alfabeto? Vocés nado acham fantástico?

34

5. Mudancas nos desenhos e nos
materiais da escrita

A gente poderia perguntar quem foi que resolveu que o sinal
para o som A seria desenhado desse modo, e nao assim: V ou $.

Na verdade, náo houve uma pessoa que, um belo dia, decidiu
inventar o desenho das letras do nosso alfabeto.

Os desenhos da escrita foram simplificados ao longo da histó-
ría, permitindo escrever cada vez mais fácil e rapidamente. O mes-
mo aconteceu com os materiais ou objetos em que eram feitos os
desenhos.

Vamos ver, primeiro, como isso aconteceu com duas escritas
antigas, a suméria e a egipcia, que hoje já náo säo mais usadas.

Na época em que o papel ainda náo existia, os sumérios escre-
viam em pranchas de argila úmida. É difícil desenhar na argila. Por
isso, aos poucos, os sinais da escrita suméria foram tomando uma
forma menos arredondada, mais reta. Veja a mudanga de alguns.
sinais:

SOL |

35

Escrita conhecida como “cuneiforme” uma vez que os sinais tinham a forma de cunhas.

Os novos sinais foram, mais tarde, usados também em outros

materiais, como pedra e metal.

Já os egipcios, no inicio, usavam a pedra para escrever. Enela

faziam uma escrita com desenhos muito bonitos:

RE RE 3:
B

or

Com o passar do tempo, eles descobriram que o papiro tam-
bém podia ser usado para escrever. O papiro é uma planta cuja
haste era cortada em tiras finas, estendidas sobre uma pedra plana
© batidas com uma espécie de martelo até que formassem uma
única folha.

Corte das tiras

a casca <

/ Pedra plana

Hastes de papiro

Pedra de polimento( _ >

Macete para bater

A descoberta do papiro, no qual era possivel escrever muito
mais rapidamente do que na pedra, levou os egipcios a simplificar
os sinais da sua escrita.

Veja como o sinal para a palavra VASO era escrito na pedra
e como foi sendo simplificado para a escrita em papiro:

AAA o

37

ES

„SO aconteceu com todos os sinais da escrita egipeia, obtendo-se
¿sim um tipo de escrita bem mais simples e bastante diferente da
Que era feita em pedra. Observe:

E ay 7 ETES

NRA ETS
AEDT SSMS AND DRE CU
alo MZA RA DN
SANA Ia med
Ra tr sti.
EE banjo ci?
MB LA E Bec Si
SANS alas o le tula
LA AZ aa IN RA

O tipo de escrita feita na pedra continuou sendo usado, por
exemplo, para inscriedes em templos e em túmulos. Já a escrita mare
rápida, feita em papiro, era empregada para o uso do diaa din.

Essas escritas já náo se usam mais, mas foram elas que influer.
ciaram o surgimento de outras que, com o passar dos tempos, leva.
Tam ao nosso alfabeto, Nele, cada letra também tem a sua História
Como nao daria, neste livro, para falar de cada uma delas, vou con
Jar 50 0 que aconteceu com o À € 0 N. ;

Em algumas linguas faladas por povos de antigamente (hebreus,
assirios, aramaicos, fenicios e árabes), a palavra ALEF significava
BOL e se escrevia, no comego, assim:

Aos poucos, esse desenho foi mudando:

OLD

Os gregos passaram a usá-lo náo para a palavra ALEF com
significado de BOI, mas para o som A. E o sinal para esse som
sofreu, com o tempo, novas transformaçôes:

pb A À À.

A mesma coisa aconteceu com o N. A palavra NUM queria
dizer SERPENTE e se escrevia assim:

Com 0 tempo, esse sinal sofreu as seguintes transformagöes:

wer

Para os gregos, o símbolo de NUM deixou de representar a pa-
lavra SERPENTE e passou a significar apenas o som N. E o sinal
foi mudando:

| UNN

O mesmo aconteceu também com as outras letras.
39

the

6. Direcäo da escrita

Assim como nunca existiu uma pessoa que, de repente, tivesse
inventado o alfabeto, também jamais alguém afirmou que temos
de escrever da esquerda para a direita ou da direita para a esquer-
da, em linhas horizontais ou em linhas verticais. Essas regras fo-
ram sendo estabelecidas aos poucos e de formas diferentes para as
diversas línguas. O objetivo de estabelecer regras foi sempre o de
facilitar a tarefa de escrever e de ler.

Os egipcios antigos conseguiam escrever a mesma coisa em vä-
rias diregdes:

Os gregos também escreviam em varias diregóes. Mas, com o
tempo, estabeleceram a regra de escrever e ler em linhas horizon-
tais, de cima para baixo e da esquerda para a direita, que é como
nés escrevemos e lemos:

ADORO COMER
BANANA COM MEL
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Já na lingua japonesa, se escreve e se 1é em linhas verticais,
de cima para baixo e da direita para a esquerda. A frase anterior

ficaria assim:

ZOO >zZ>zZ>w
PMZON oxwou»

cme

No hebraico e no árabe, que sáo escritos e lidos em linhas ho-
rizontais como a nossa, mas da direita para a esquerda, teríamos:

REMOC ORODA
LEM MOC ANANAB

41

+

7. Dando asas à imaginacao

Quando vocé comegou a ler este livro, provavelmente nem ima-
ginava quanto tempo e quanto trabalho o homem teve para chegar
à escrita tal qual a conhecemos hoje. E foi graças a esse tempo e
trabalho, empregados ao longo de milhares de anos, que ler e es-
crever passou a ser uma coisa simples, possivel de aprender e de
executar muito mais rapidaments

As invençôes tecnológicas, tais como as máquinas de escrever,
a tipografia e a informática, também contribuiram muito para is-
so. Hoje em dia, é quase inacreditável imaginarmos um tempo em
que os livros eram todos escritos a mao e que, para tanto, existiam
profissionais especializados: os chamados “escribas”, No passado,
muitos reis eram analfabetos e, para poder governar, contratavam
esses profissionais. Assim, quem conseguia se tornar um escriba
tinha a possibilidade de adquirir grande importáncia e poder na
sociedade.

Hoje, mais do que nunca, ler e escrever passou a ser uma ne-
cessidade no nosso dia-a-dia. Tanto € verdade que a lei obriga o
Estado a garantir escola a todas as crianças, no mínimo dos 7 aos
14 anos. E, sabendo ler e escrever, um mundo de possibilidades se
abre diante de nós.

Mas será que essa lei tem sido cumprida? Será que o mundo
da escrita está aberto para todos da mesma forma, com as mesmas
oportunidades? Por que, entáo, ainda existem tantos analfabetos
ein nosso país?

Analisando de uma outra forma, a escrita pode significar tam-
bém um tipo de fechamento para o mundo. Antigamente, quando
a escrita nao existia, os conhecimentos dos povos eram passados
ás criangas e aos jovens através de conversas com os mais velhos.
Os anciäos eram por isso muito respeitados e considerados pessoas
de grande sabedoria.

Muitos povos indígenas que náo usam a escrita ainda hoje man-
têm esse hábito. É um costume que foi se perdendo entre n
para dar lugar a escrita e que se perde cada vez mais para dar
lugar a televisáo.

42

Nao seria importante tentar recuperá-lo? Imagine quantas coi-
sas, histórias e experiéncias minha av6, seu avó e outras pessoas
mais velhas poderiam nos contar! A gente passa a vida ao lado de-
las e, muitas vezes, só depois que as perdemos é que nos lembra-
mos de tudo que deixamos de conversar. E o quanto poderíamos
ter registrado dessas conversas, através da escrita.

Mas pense também em vocé como leitor. Como vocé se coloca
diante do texto escrito? Como se obtém todas as informagóes pos-
siveis e que nem sempre sáo claras? Veja, por exemplo, este poema
do escritor e poeta Pedro Bandeira (Cavalgando o arco-iris\:

Azul e vermelho

Nessa rosa que eu pisei
tinha uma borboleta azul,
Eu náo vi o que fazia,
mas as duas eu matei.
Vou enterrar as duas. {{®
A rosa

ea borboleta azul.
E elas väo me perdoar.
Qualquer dia,

quando eu passar por aqui,
haverá uma rosa
com pétalas azuis
(Al e uma borboleta
KP) vermeina

Reflita sobre o trabalho que todo leitor tem para construir
os significados desse poema, E isso acontece com qualquer tipo de
texto, seja uma reportagem de jornal, um bilhete, uma placa de
ônibus.

Para ler essas mensagens precisamos ter presente nossos co-
nhecimentos, experiéncias, vivéncias, sentimentos e emogöes.

43

nar quantas brincadeiras € possivel inventar quando a gente sabe
ler e escrever? Por exemplo, brincar de inventar novas formas de

E podemos também brincar de inventar novas direçôes de
escrever as letras:

escrita:

| TENHO UMA AMIGA INVISIVEL CHAMADA
RAESSAP IOF ALE AID MU. ANA
NA FLORESTA E VIU UMA BRUXA. FICOU
UOGIL MEN AXURB A SAM. ADATSUSSA
PRA ELA. ESTAVA MUITO OCUPADA,
E ATELOBROB ED SASA ODNARUCORP
RABOS DE LAGARTIXA PARA A SOPA DA
UIDICED, ANINEM A UIV ODNAUQ. ETION
CONVIDA-LA PARA JANTAR. HOJE, AS DUAS SAO
ETA ATSE ANINEM A E SAGIMA OTIUM

PENSANDO EM VIRAR BRUXA QUANDO CRESCER.

di 45

Brincar com as letras e com as palavras, criar regras próprias E este poema do poeta e crítico Augusto de Campos:

6 0 que os artistas fazem. Olhem só que delicia estas palavras cria-
das pelo escritor e artista plástico Millôr Fernandes :

sexe LURO AUXO AND MUO SUKOAUXO

SURO SUX AUX SU LUND SuKDAUTO,

( A wo WIRD BUD AUN EURO LURO TKD
ES Luxe UNO SURDID E

vu Dur BUXO wm uur

wurd xD 292929 wm 1m

IVID MIO AUX AULDANNO YD LURO Lor

aux.
LIL MURO AUXD AUAO UND AUDE

EL KO 19)
p | N G 9 Y O q SOXD MUN AUK UNO SIND AUD LIXOAUES

Eo lobo que virou “bolo” na história O chapeuzinho amare-
lo do compositor, cantor e escritor Chico Buarque de Holanda:

LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO
LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO
LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO
LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO
LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO
LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO
LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO
LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO
LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO-LO-BO

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Que tal vocé também entrar nesta viagem maravilhosa da

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