Charles parta sem mim!
— Ouvi muito atentamente os argumentos do capitão Saunders, Cheryl. Foram
bem aceitáveis, ainda que não tanto quanto os de miss Weldon.
Melissa corou. E o duque, dirigindo-se à sobrinha, prosseguiu:
— Imagino que você deseje conversar com seu noivo em particular.
— Posso mesmo, tio Sergius?! — exclamou Cheryl.
— Como já disse, o capitão Saunders foi muito eloqüente, e me convenceu.
— Quer dizer... quer dizer... tio Sergius, que posso me casar com Charles? —
insistiu Cheryl, custando a acreditar.
— Prefiro isso a uma fuga para a Irlanda, o que arruinaria a promissora carreira de
seu futuro marido.
— Oh, tio Sergius! — Cheryl atirou-se nos braços do tio.
Melissa, observando o duque, achou que de início ele retesara o corpo, como se
uma demonstração de carinho o incomodasse. Mas, depois, inclinou a cabeça para que
Cheryl o beijasse na face, e abraçou-a também.
— Podemos nos casar, antes que ele parta? — continuou Cheryl.
— Com a condição de ser uma cerimônia discreta — replicou o duque. — Você
está de luto, Cheryl, e de acordo com a etiqueta social, deveria esperar um ano.
— Papai sempre detestou luto. Mas, de qualquer forma, não queremos uma grande
cerimônia.
— Poderão se casar aqui no palácio.
— Não faz diferença casarmos aqui ou na lua, tio Sergius, contanto que nos
casemos. Como posso lhe agradecer? O senhor é tão bondoso, eu me sinto tão feliz! —
E, dirigindo-se a Charles: — É maravilhoso, não é, Charles?
— Estamos, na verdade, profundamente agradecidos — disse Charles ao duque.
— E agora, como espero que queiram ficar sozinhos, vão à sala azul tomar alguma
coisa — sugeriu o duque. — Falaremos sobre os arranjos do casamento, na hora do
almoço.
— Temos tanto a conversar, eu e Charles — confessou Cheryl. — Venha comigo,
Charles, vou lhe mostrar o palácio.
— Obrigado mais uma vez, Vossa Graça — disse Charles, antes de se retirar.
O duque olhou para Melissa, perguntando:
— Então, está satisfeita?
— Por que não estaria? O senhor acaba de fazer duas pessoas muito felizes.
— Foi, antes de tudo, uma maneira de lhe demonstrar minha gratidão, miss
Weldon.
— Por isso agiu assim?
— Exato. Eles se casariam da mesma forma sem minha aprovação, pois hoje, não
fosse por sua intervenção, eu seria um homem morto.
— O senhor teria acordado, quando o assassino entrasse no quarto.
— Duvido — replicou o duque. — Mas agora me conte como descobriu tudo.
— Por acaso. Abri a janela de meu quarto porque estava muito quente, e vi dois
homens no jardim.
— Suspeitou que um deles ia me matar? Como?
— Na estalagem Flying Fox, onde paramos na vinda para cá, ouvi a conversa de
dois homens sobre a necessidade de encontrarem uma pessoa capaz de subir a grande
altura, pela fachada de um prédio. Falavam de um consertador de campanários, e julguei
que quisessem executar algum serviço em igreja. Não pensei mais no assunto.
Melissa continuou relatando tudo, incluindo a conversa que ouvira entre o duque e
Gervais, e o fato de ela ter reconhecido, no empregado de Gervais, um dos homens da
estalagem.
— Quer dizer que você estava na sala ao lado, quando eu falava com meu
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