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â(...) Qual Ă© o teu nome?â
(Marcos 5:9a)
E o espĂrito Lhe responde:
â(...) LegiĂŁo Ă© o meu nome, porque somos muitos.â
(Marcos 5:9b)
EntĂŁo, ao serem ordenados que saĂssem daquele homem, os espĂritos Lhe rogaram
âencarecidamente que nĂŁo os mandasse para fora do paĂs.â (Marcos 5:10).
Mas, por que os demĂŽnios suplicaram a Jesus que nĂŁo os mandasse para fora daquele
paĂs? Porque haviam se especializado em infernizar gadarenos, conhecendo sua antropologia,
sua histĂłria, sua cultura.
Os demĂŽnios, entĂŁo, pediram-Lhe que os deixasse entrar nos porcos que pastavam por
ali. Jesus o permitiu.
E, saindo do corpo daquele homem, os demĂŽnios dirigiram-se a uma manada de porcos,
que, conforme a BĂblia, era constituĂda de aproximadamente dois mil porcos (Marcos 5:13),
os quais, infestados de espĂritos malignos, precipitaram-se âdespenhadeiro abaixo, para
dentro do mar, onde se afogaram.â (Marcos 5:13).
Os porqueiros, ao verem o que acontecia, entram em pĂąnico. Uma âlei econĂŽmicaâ que
Jesus estabelece é que a propriedade privada precisa ser respeitada até o ponto em que a sua
manutenção não esteja destruindo a vida humana. Quando se chega a tal ponto, a propriedade
privada tem de ser usada para salvar vidas.
Os porcos se precipitam no mar, morrendo afogados. Os porqueiros ficam apavorados,
porque do ponto de vista econĂŽmico, eles sofreram uma grande perda.
Indo ao encontro de Jesus, os porqueiros âviram o endemoninhado, o que tivera a
legiĂŁo, assentado, vestido, em perfeito juĂzo; e temeram.â (Marcos 5:15).
E, vendo isso, pedem a Jesus que Se retire daquela cidade (Marcos 5:17), porque eles
nĂŁo conseguiam viver com a lucidez.
O que Ă© que se pode aprender com essa histĂłria, que, embora sendo a histĂłria de um
homem, ela Ă© mais do que isso: ela Ă© a histĂłria de uma cultura, de uma sociedade.
A primeira Ă© que as dez cidades - DecĂĄpolis dentre as quais Gadara (ou Gerasa) -
haviam sido fundadas por Alexandre, o Grande, daĂ sua origem grega (DecĂĄpolis), as quais
foram ampliadas pelos seus sucessores, ficando no meio dos reinos que sucederam o reino de
Alexandre (acerca dos quais jĂĄ se falou no capĂtulo anterior), ou seja, ao norte a SĂria, onde
ficava o reino dos SelĂȘucidas, e o outro ao Sul, no Egito, onde era o reino dos Ptolomeus.
DecĂĄpolis ficava entre esses dois reinos, portanto, Gadara tambĂ©m. DaĂ, quando houve
desentendimento entre os selĂȘucidas e os ptolomeus, Gadara tambĂ©m se tornou campo de
batalha. Ora esta cidade ficava sob o domĂnio dos selĂȘucidas, ora sob o domĂnio dos
ptolomeus. E, depois de estar alternadamente sob o jugo selĂȘucida e sob o jugo ptolomaico,
ocorre a Revolta dos Macabeus, ficando agora Gadara sob o jugo judaico. Depois desse
perĂodo de domĂnio judaico, apoderam-se de DecĂĄpolis os romanos, que impĂ”em sua lĂngua,
seu regime de governo, suas manifestaçÔes religiosas, suas leis, enfim, uma nova cultura.
Nesse perĂodo de domĂnio romano, dĂĄ-se uma nova revolta dos judeus, a qual Ă© sufocada, e o
governo daquelas dez cidades Ă© dado a Herodes, que começa a fazer obras âfaraĂŽnicasâ em
todas elas. Depois desse perĂodo de governo de Herodes, o prĂłprio CĂ©sar, o Augusto, toma o
poder.
O Novo Testamento alterna o nome da cidade do âgadarenoâ, ora chamando-a de
Gadara, ora chamando-a de Gerasa. Mas Ă© esta Ășltima que nos ajuda a entender a mensagem
do texto em questĂŁo. Trata-se de uma curiosidade interessante sobre o nome Gerasa. Ele vem
do hebraico âGersâ, que significa expulsar, tirar de dentro, expelir. Isso reflete toda a