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© José Rodrigues de Farias Filho, D. Sc. 10 jan. 11
Oficina de Estratégia
Tilkian ter se reservado o direito de
anunciar a compra de 85,15% da
Estrela sem, até agora, dar grandes
explicações. De quanto é a sua dívida?
Como saldará seus compromissos?
Dias antes do anúncio da aquisição, as
ações da Estrela na bolsa subiram. O
mercado esperava por uma associação
com fabricantes internacionais como a
Mattel ou a Hasbro. Após a posse de
Tilkian, os papéis voltaram ao patamar
anterior. No dia 8 de abril, o lote de 1
000 ações preferenciais da Estrela
estava cotado em apenas 46 centavos
de real. Isso equivale a 33% do seu
valor patrimonial (veja quadro na pág.
47).
ESPIRITUALIDADE - As mais
mirabolantes versões foram ventiladas
para explicar o negócio. Falou-se em
bancos e fabricantes internacionais
agindo na retaguarda de Tilkian, um
administrador de empresas de 42 anos.
Especulou-se a hipótese de uma
concordata branca, já que a situação da
empresa, definitivamente, não é das
melhores. Tilkian, carismático e com
bons contatos no mercado, seria o
homem de linha de frente dos credores
da Estrela. "Isso é um absurdo", diz
Adler. "Tenho um nome a zelar." A
teoria da concordata enfraquece
quando se passa os olhos pela evolução
da dívida da empresa. Ela chegou a
47,9 milhões de reais em setembro de
1995. Fechou o ano em 25 milhões e foi
reduzida a menos de 10 milhões de
reais no final do primeiro trimestre
deste ano. Outro rumor ventilado à
época do negócio: a colônia armênia,
da qual a família de Tilkian faz parte,
teria se cotizado para ajudar o
executivo a comprar a Estrela. "Não há
nenhum grupo envolvido com o
negócio. Estou sozinho", diz Tilkian.
"Os recursos foram disponibilizados
por mim e por minha família, que é
rica em espiritualidade." Espírito
elevado, até que se prove o contrário,
não compra empresas. Mas o valor da
Estrela, hoje, também não chega a ser
algo exorbitante. Caso a avaliação seja
feita com base nas últimas cotações de
bolsa, Tilkian teria de desembolsar
pouco mais de 1,8 milhão de reais pelos
4,5 bilhões de ações ordinárias
(equivalentes a 85% do capital com
direito a voto) que lhe deram o
controle da companhia. Isso, porém,
diz pouco. Mesmo anêmica, a Estrela
mantém um dos logotipos mais
reconhecidos do mercado brasileiro.
"Foi por acreditar na marca que resolvi
investir na empresa", diz Tilkian. "Ela é
um dos maiores bens da Estrela."
Tirando-se o logotipo vermelho e azul,
pouco sobrou da Estrela de outrora.
Em apenas um ano, o patrimônio caiu
de 100 milhões para 30 milhões de
reais. A expressão "manufatura de
brinquedos", parte de seu nome de
batismo, hoje faz pouco sentido. No
ano passado, 30% do faturamento da
companhia vieram da venda de
brinquedos importados da China. Em
1996, esse percentual deve atingir os
50%. A boneca Barbie, carro-chefe da
Estrela, já não é mais produzida no
Brasil. Vem da Malásia, onde a
americana Mattel, dona da licença do
brinquedo, mantém uma unidade. A
Mattel, aliás, estaria com um pé no
Brasil. No início deste ano, a empresa
teria contratado a executiva Ivete
Mattos, uma ex-funcionária da Estrela,
para cuidar do marketing de seus
produtos por aqui. Nesse caso, a
parceria entre a Mattel e a Estrela
poderia estar na berlinda. Diante desse
cenário, a pergunta que fica é: o que
levou a Estrela a perder seu brilho? As
razões são muitas.
CHACINA - Líder histórica no mercado
brasileiro de brinquedos, a Estrela,
acostumada aos dias de mercado
cerrado, não escapou ao arrastão
chinês. Há alguns meses, podia-se ver
camelôs vendendo brinquedos
asiáticos contrabandeados em frente à