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estava além do conhecimento discursivo, de definições e de palavras. É a esta
experiência direta da realidade que aspira o Zen.
Mahakashyapa, de quem Bodhidharma era herdeiro espiritual e sucessor, havia ele
mesmo tido essa experiência, e se iluminado. Segundos os sutras, Mahakashyapa foi o
único discípulo de Buda a compreender seu Discurso do Lótus, em que Buda, sem dizer
nada, apenas levantou uma flor. Era a realidade imediata, além das palavras.
Depois de treinar seus discípulos por muitos anos, Bodhidharma morreu, deixando
seu aluno Huike (em japonês, Daiso Eka) como sucessor. Huike foi o Segundo
Patriarca do Zen, e também deixou uma linha de sucessão da qual pouco se sabe, até
chegar a Huineng (em japonês, Daikan Eno, 638-713), o Sexto e último Patriarca.
Huineng, um dos maiores mestres da história do Zen, participou de uma famosa
disputa quando sucedeu seu mestre: um grupo de monges recusava-se a aceitá-lo
como patriarca, e propunha outro praticante, Shenxiu, em seu lugar. Sob ameaças,
Huineng foi obrigado a fugir para um templo no sul da China; no final, apoiado pela
maioria dos monges, foi reconhecido como patriarca.
Algumas décadas depois, porém, a contenda foi ressucitada. Um grupo de monges,
dizendo-se sucessor de Shenxiu, enfrentou um outro grupo, a Escola do Sul, que se
apresentava como sucessora de Huineng. Depois de debates acalorados, a Escola do
Sul acabou prevalecendo, e seus rivais desapareceram. Os registros dessa disputa são
os mais antigos documentos históricos fiéis sobre a escola Zen de que dispomos hoje.
Mais tarde, monges coreanos foram à China para estudar as práticas da escola de
Bodhidharma. Quando chegaram, o que encontraram foi uma escola que já havia
desenvolvido identidade própria, com fortes influências do Taoísmo, e que já era
conhecida pelo nome Chan. Com o tempo, o Chan acabou se estabelecendo na Coréia,
onde recebeu o nome Seon.
Da mesma forma, monges chegavam de outros países da Ásia para estudar o Chan, e a
escola foi se espalhando pelos países vizinhos. No Vietnã, recebeu o nome Thien, e, no
Japão, ficou conhecida como Zen. Através da história, essas escolas cresceram de
maneira independente, tendo desenvolvido identidades próprias e características
bastante diferentes umas das outras.