mesma raça e do mesmo sexo? Aquela mulher era uma mulher marginalizada, tinha uma doença, uma
hemorragia, uma menstruação contínua, quase que uma leucemia, ela ia perdendo sangue e perdendo forças.
Doze anos, doze tribos de Israel, doze apóstolos, doze meses do ano, a hora que Jesus foi crucificado. Doze é o
completo, o número daqueles que serão eleitos no reino, doze vezes doze, os cento e quarenta e quatro mil.
Aquela mulher fazia doze anos que sofria de uma doença horrível.
São Lucas diz que ela tinha gasto todos os seus bens com os médicos, já cumprindo aquela grande profecia de
Eclesiástico trinta e oito. Se você pecar você vai acabar caindo na mão do médico. Ela não tinha mais
esperança nenhuma fisicamente, uma pessoa que perde sangue todos os dias durante doze anos.
Economicamente não tinha mais nada, fisicamente miserável, afetivamente, quando a mulher estava
menstruada, não se podia chegar perto dela, tudo que ela tocasse se tornava impuro, inclusive o marido, os
filhos, ela não podia fazer comida, se fosse solteira não podia mais namorar, não podia cumprimentar um
irmão, não podia ir a um velório, não podia ir a lugar nenhum. Era pior que uma leprosa, que quando saía na
rua, todo mundo abria caminho, e é por isso que ela chegou em Jesus.
Você imagina uma pessoa afetivamente destruída desse jeito, ninguém quer chegar perto de você, uma pessoa
que fedia, imagine que na época de Jesus não tinham esses recursos de higiene que existem hoje, nem os
recursos da facilidade do banho. Uma mulher que fedia no seu pecado, que vivia na mágoa. No dia do
aniversário dela, imagine que ela ficava pensando porque ninguém ia dar um abraço nela, no natal, ou na igreja
que ninguém ia lhe dar a paz de Cristo. Ninguém chegava perto dela. Fisicamente, economicamente zerada,
afetivamente, marido, sexualmente zero, como mãe não podia chegar perto do filho, seu filho chorava e ela
não podia troca-lo porque não podia tocar na criança. Espiritualmente no fundo do poço.
A doença, um castigo de Deus, aquela doença era um castigo de Deus, ela deve ter cometido um pecado grave
demais, imagine o que os vizinhos não falavam dela: “Deve de ser bruxa, já viu o jeito de ela olhar para gente?
Ela não tem cor normal, ela é branca, tem aqueles olhos fundos, ela olha pra nós de um jeito que penetra. Eu
fiquei sabendo que uma vez a vizinha dela passou perto dela com um neném, ela olhou para o bebê e deu mau
olhado no neném, ele ficou com arca caída, ela chega a matar galinha só de olhar na franga, planta também,
minha cunhada tinha uma flor na janela e o dia que ela passou, a flor murchou”.
Já pensou a criançada, do jeito que não insultava aquela mulher? Quantos apelidos essa coitada tinha?
Coloque-se no lugar dela. Tem pessoas que reclamam da vida e acham que têm problemas, imagine você no
couro dessa mulher que estava financeiramente zero, fisicamente zero, afetivamente zero, sexualmente zero,
familiarmente zero, comunitariamente zero, espiritualmente zero.
Lá estava de longe aquela multidão em um profundo silêncio, e ela conseguia escutar aquele homem, e esse
homem falava de um jeito muito diferente. “É ele que multiplicou os pães, que tocou no filho da viúva de
Naim, é ele, eu ouvi falar que lá em Jericó ele fez dois cegos enxergarem”. Mais ela não podia chegar perto
dele, estava proibida pelo sacerdote, os leprosos tinham que se apresentar ao sacerdote quando estavam
curados, era o sacerdote que dizia se podia ou não voltar para a comunidade. Como ela iria chegar lá na frente?
Aquela mulher fez um estudo estratégico. “Por onde eu vou chegar? Eu vou chegar escondida”. Olhe só que fé
linda e maravilhosa. Foi escondida, e todos foram abrindo, porque ninguém queria chegar perto dela, ela foi e
tocou só na orla do manto, ela não tocou na mão de Jesus porque ela não queria fazê-lo impuro, ela tocou só na
parte de trás da orla do manto, porque ela não tinha coragem de se olhar, significava que ela vivia presa,
escondida, estava sempre por trás das pessoas, por trás das coisas, ela não tinha mais coragem de olhar
ninguém de frente.
É isso que o pecado faz conosco, quando a gente peca. A criança faz algo de errado e quando dizemos: “olha
pra mim”, ela abaixa a cabeça. Não é assim? Quem de nós já esteve nessa situação? Mais ela foi trás e pôs a
mão na orla do manto de Jesus, e Jesus olhou para ela, e a cena é fabulosa, uma das cenas que nós lemos e
damos risada meia hora. Jesus pára o sermão, e profeticamente fala: “Alguém me tocou”, São Pedro começou
a rir, chegou no lado e começou a dizer: “Faz favor, o Senhor está tendo uma crise de estrelismo? O Senhor
não está vendo aquela multidão que te aperta, cotovela, o povo ta pisoteando na gente e o Senhor vem
perguntar quem tocou no Senhor?” Jesus olhou para Pedro, pensou, mas não falou: “Pedro querido, estimado,
eu não estou perguntando quem foi que esbarrou em mim, disso estou cansado Pedrão, gente esbarrando em
mim tem pra todos os lados, eu estou perguntando quem foi que me tocou”. A mulher levantou o dedo, mais
ele já sabia quando ela estava indo, mas não porque ele tinha capacidade de enxergar atrás, mais pela reação
das pessoas que estavam na sua frente.
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