do mundo, ou reforçando neles o sentimento dos valores sociais” (CANDIDO, página 30). Um método de pesquisa
mais apropriado investir-se-ia na análise das influências reais exercidas pelos fatores socioculturais. Vários
aspectos podem ser considerados neste processo, como por exemplo:
a posição social do artista, a configuração dos grupos receptores, a forma e conteúdo da obra, a fatura da mesma
e sua transmissão, entre outros. Antônio Candido aponta para “quatro momentos da produção, pois: a) o artista,
sob o impulso de uma necessidade interior, orienta-se segundo os padrões da sua época, b)escolhe certos temas,
c) usa certas formas e d) a síntese resultante age sobre o meio” (CANDIDO, página 31).A arte pressupõe algo
mais amplo que as vivências do artista, apesar dele se equipar com um arsenal oriundo da própria civilização para
tematizar e formar sua obra, moldando-a sempre a um público alvo. O autor faz uma distinção categórica entre
arte de agregação e arte de segregação. “A primeira se inspira principalmente na experiência coletiva e visa os
meios comunicativos acessíveis. Procura, neste sentido, incorporar-se a um sistema simbólico vigente, utilizando o
que já está estabelecido como forma de expressão de determinada sociedade. A segunda se pr eocupa em renovar
o sistema simbólico, criar novos recursos expressivos e, para isto, dirige-se a um número ao menos inicialmente
reduzido de receptores, que se destacam, enquanto tais, da sociedade” (CANDIDO, página 33). Tomando o autor,
a obra e o público como os três principais elementos que fundamentam e possibilitam a comunicação artística,
Antônio Cândido analisa como a sociedade define a posição e o papel do artista, como a obra depende de recursos
técnicos para expor os valores propostos e, de que maneira se configuram os públicos. O link entre sociedade e
arte não ocorre de maneira tão simples, trata-se sim de um viés de mão dupla. “A atividade do artista estimula a
diferenciação de grupos; a criação de obras modifica os recursos de comunicação expressiva; as obras delimitam e
organizam o público. Vendo os problemas sob esta dupla perspectiva, percebe-se o movimento dialético que
engloba a arte e a sociedade num vasto sistema solidário de influências recíprocas” (CANDIDO, página 34).
1) A posição do artista
Averigua-se de que modo a posição social atribui um papel específico ao criador de arte. Isto envolve não apenas
o artista individualmente, mas a formação de grupos de artistas. Há tempos que o caráter da criação rumava para
uma imagem coletiva, concebendo ao povo, no conjunto, o verdadeiro criador da arte. “Hoje, está superada esta
noção de cunho acentuadamente romântico, e sabemos que a obra exige necessariamente a presença do artista
criador. O que chamamos arte coletiva é a arte criada pelo indivíduo a tal ponto identificado às aspirações e
valores do seu tempo, que parece dissolver-se nele” (CANDIDO, página 34-35). Forças sociais condicionam a
produção do artista, isto é fato, e “os elementos individuais adquirem significado social na medida em que as
pessoas correspondem a necessidades coletivas. As relações entre o artista e o grupo resumem-se a um esquema
simples: “em primeiro lugar, há necessidade de um agente individual que tome a si a tarefa de criar ou apresentar
a obra; em segundo lugar, ele é ou não reconhecido como criador ou intérprete pela sociedade, e o destino da
obra está ligada a esta circunstância; em terceiro lugar, ele utiliza a obra, assim marcada pela sociedade, como
veículo de suas aspirações individuais mais profundas” (CANDIDO, página 35). A obra nasce da confluência da
iniciativa individual com as condições sociais, o que levanta a questão de quais são os limites da autonomia
criadora do artista, repensando assim sua função em meio a sociedade.
2) A configuração da obra
Uma obra só é realizada quando é configurada pelo artista e pelas condições sociais que determinam a sua
posição. Valores sociais, ideologias e sistemas de comunicação transmudam-se na obra através do impulso de seu
criador. “Os valores e ideologias contribuem principalmente para o conteúdo, enquanto as modalidades de
comunicação influem mais na forma” (CANDIDO, página 40). Algo se transforma em elemento usufruído pela arte
quando representa para um determinado grupo social algo singularmente prezado, o qu e garantiria assim certo
impacto emocional. Um exemplo vem da fase bolchevista que, quando em ascendência, criou um tipo de romance
coletivista, onde os protagonistas são substituídos pelo esforço anônimo das massas. Além dos valores, as
técnicas de comunicação de que a sociedade dispõe influem na obra, em sua forma, e nas suas possibilidades de
atuação no meio. A partir do momento em que a escrita triunfa como meio de comunicação, o panorama artístico
se modifica drasticamente. “A poesia pura do nosso tempo esqueceu o auditor e visa principalmente a um leitor
atento e reflexivo, capaz de viver no silêncio e na meditação o sentido do seu canto mudo” (CANDIDO, página 43).
Além disso, deve-se destacar a influência decisiva do jornal sobre a literatura, criando gêneros novos (crônicas) ou
modificando outros já existentes (como o romance, por exemplo).
3) O público
Considerado pelo autor Antônio Candido como o alvo receptor da arte. Em sociedades primitivas era menos nítida
a separação entre o artista e seu público. “O pequeno número de componentes da comunidade e o entrosamento
íntimo das manifestações artísticas com os demais aspectos da vida social dão lugar seja a uma participação de
todos na execução de um canto ou dança, seja à intervenção dum número maior de artistas, seja a uma tal
conformidade do artista aos padrões e expectativas, que mal chega a se distinguir” (CANDIDO, página 44). Com o
desenvolvimento das sociedades, artistas se distanciam de seu público, formando assim categorias diferentes,
mas não menos conectadas quanto antes (só então pode-se falar em um público diferenciado, no sentido
moderno). O artista direciona sua produção a um público, ao qual ele não conhece, mas que imagina, a uma
“massa abstrata, ou virtual” (CANDIDO, página 45). Tal grupo exerce uma influência enorme sobre a produção
que se vai originar por via do artista. Um exemplo são os autores que se ajustam às normas do romance
comercial, tamanhos são seus desejos por fama e bens materiais (influência da indústria literária). A técnica da
escrita, também, fez com que um novo tipo de público se formasse, possuindo características próprias. Abre-se
uma era onde predominam os públicos indiretos, de contatos secundários. “Mesmo quando pensamos ser nós
mesmos, somos público, pertencemos a uma massa cujas reações obedecem a condicionantes do momento e do
meio” (CANDIDO, página 46). A necessidade, insuspeitada por muitos, de aderir ao que nos parece distintivo de