Cantigas de escárnio e maldizer

205,261 views 19 slides Sep 10, 2011
Slide 1
Slide 1 of 19
Slide 1
1
Slide 2
2
Slide 3
3
Slide 4
4
Slide 5
5
Slide 6
6
Slide 7
7
Slide 8
8
Slide 9
9
Slide 10
10
Slide 11
11
Slide 12
12
Slide 13
13
Slide 14
14
Slide 15
15
Slide 16
16
Slide 17
17
Slide 18
18
Slide 19
19

About This Presentation

No description available for this slideshow.


Slide Content

SÁTIRA TROVADORESCA SÁTIRA TROVADORESCA

Cantigas de Escárnio e de Maldizer A par das cantigas de amigo e das cantigas de amor, as cantigas de escárnio e maldizer constituem um dos três grandes géneros em que se divide a lírica galego-portuguesa. Cantigas de Maldizer son aquelas que fazê os trobadores mais descubertamente ; en elas entrã palavras que queren dizer mal e nõ aueran outro entendimento senõ aquel que queren dizer chaãmente e cantigas descarneo son aquelas que os trobadores fazê querendo dizer mal dalguen en elas e dizem-lho per palavras cubertas que aiam dous entendymentos para lhe lo non entenderen ... ligeyramente (CBN, Arte de Trovar , Tit . III, C.VI).

Cantigas de Escárnio e de Maldizer A alusão mais ou menos directa ao destinatário do ataque constitui, pois, o elemento que diferencia os dois tipos de cantiga. A intenção destas cantigas é satirizar certos aspectos da vida da corte, visando com frequência certas personagens como jograis, soldadeiras, clérigos, fidalgos, plebeus nobilitados. Ao mesmo tempo, as cantigas de escárnio e maldizer recriam situações anedóticas e picarescas e apresentam uma ridicularização do amor cortês. O repertório linguístico da sátira pessoal, social, moral, religiosa e política, surpreende pela sua amplitude e recorrente obscenidade, transmitindo involuntariamente informações ímpares sobre a mentalidade e cultura laica medievais.

São mais antigas do que a própria nacionalidade e ter-se-iam desenvolvido paralelamente com as cantigas de amigo. Mais tarde foram influenciadas pela literatura provençal. As composições satíricas da Provença tinham o nome de sirventês . (imitação servil do tema ou da forma ou ainda por terem o propósito de servir um senhor) sirventês moral sirventês político sirventês pessoal

A Arte de Trovar distingue duas modalidades de sátira: Cantigas de Escárnio (ridiculariza-se alguém com palavras simuladas; o processo estilístico é basicamente a ironia) Cantigas de Maldizer (ridiculariza-se alguém com palavras claras e directamente ofensivas) cf . Arte de Trovar

É concreta e particular; fundamentalmente de carácter social; é, por vezes muito obscena. A poesia satírica galego-portuguesa oferece-nos um precioso testemunho sobre a Idade Média portuguesa e peninsular na medida em que documenta os seus costumes, sem a idealização da cantiga de amor, e nos informa sobre os factos históricos e sociais mais relevantes. Características da sátira trovadoresca

a cruzada da Balteira ; o escândalo das amas e tecedeiras; a decadência e a sovinice dos infanções; a deposição de D. Sancho II e a entrega dos castelos ao Conde de Bolonha, futuro D. Afonso III; as disputas entre jograis; a traição dos fidalgos na guerra de Granada; o desconcerto do mundo; a vida duvidosa das soldadeiras; amores entre fidalgos e plebeias; as mentiras do amor. Temas da sátira trovadoresca

A Sátira Trovadoresca visa ainda outras entidades, como: - os fidalgos prepotentes; os reis e outros nobres que viajam muito; os peregrinos e as suas gabarolices de aventura; os fidalgos pelintras; os membros do clero, as abadessas e freiras e os cavaleiros das ordens militares; os trovadores e os jograis; os médicos, os juízes e os juristas; os ladrões, os linguareiros, os avarentos… Assim, na sátira do primeiro período medieval podemos ver duas espécies de crítica: A social (religiosa, política e moral) A individual (jogralesca) – de muito mais largas proporções

ESCÁRNIO MALDIZER Crítica indirecta: a pessoa satirizada não é identificada Crítica directa: a pessoa satirizada é identificada; Citação nominal Ironia Zombaria, Difamação Comicidade Comicidade Linguagem trabalhada, com subtilezas, trocadilhos Linguagem agressiva Ambiguidade – vocabulário de duplo sentidos Uso de palavras obscenas ou de conteúdo erótico.

Cantigas de Escárnio Apresentam críticas subtis e bem-humoradas sobre uma pessoa que, sem ter nome citado, é facilmente reconhecível pelos demais elementos da sociedade. Ai, dona fea, fostes-vos queixar / que vos nunca louv' en [o] meu cantar; / mais ora quero fazer um cantar / en que vos loarei toda via; / e vedes como vos quero loar; / dona fea, velha e sandia!

Cantigas de Maldizer Neste tipo de cantiga é feita uma crítica pesada, com intenção de ofender a pessoa ridicularizada. Há o uso de palavras grosseiras (palavrões, inclusive) e cita-se o nome ou o cargo da pessoa sobre quem se faz a sátira: Maria Peres se mãefestou (confessou) / noutro dia, ca por pecador (pois pecadora) / se sentiu, e log' a Nostro Senhor / pormeteu, pelo mal em que andou, / que tevess' um clérig' a seu poder, (um clérigo em seu poder) / polos pecados que lhi faz fazer / o demo, com que x'ela sempr'andou. (O demónio, com quem sempre andou)

Variedades das cantigas satíricas Quanto ao fundo, são conhecidas as seguintes variedades de cantigas satíricas: — Joguete de arteiro — é a cantiga de escárnio propriamente dita. Feria com delicadeza. — Risadilha ou risabelha — é a cantiga de maldizer propriamente dita. Era obscena. Quanto à forma, podemos distinguir: — Cantigas de mestria — Cantigas de refrão — Cantigas de seguir ou paródias — chamadas assim por arremedarem outra cantiga e, segundo a Poética Fragmentária, «porque dan ao rrefran outro entendimento per aquellas palauras meesmas e tragen as palauras da cobra a concordaren con el ». Feriam com delicadeza também. — Tenções de briga — equivalentes ao jocz partitz provençais — consistiam num diálogo em verso entre dois ou mais trovadores com a particularidade da resposta de cada um dos contendores ser iniciada com as rimas do anterior.

Cantigas de Escárnio e Maldizer

Um exemplo da cantiga de maldizer: "Martim Gil, um omen vil se quer de vós querelar; que o mandaste atar cruamente a um esteo dando-lhe açoutes bem mil; aquesto , Martim Gil, parece a todos mui feo ."

Um exemplo de cantiga de escárnio bastante citado “Ai dona fea ! Foste-vos queixar porque vos nunca louv'en meu trobar mais ora quero fazer um cantar en que vos loarei todavia e vedes como vos quero loar : dona fea , velha e sandia.” Essa cantiga não fornece o nome do criticado (cantiga de escárnio), mas faz uma referência directa e sem ambiguidade ao que deseja criticar: velhice e feiura da destinatária da mensagem, por isso, não podemos classificá-la como uma cantiga de escárnio ou de maldizer.

"Tem uma dona, eu não vou dizer qual que queria ouvir a missa, pelas oitavas de natal mas veio um corvo carnaçal (que gosta de carne) e ela não pôde de casa sair. Bem que ela queria ouvir o sermão mas veio um corvo acaron (que nem ácaro, carrapato, que gruda e não larga) e ela não pôde de casa sair. Bem que ela queria ir rezar mas o corvo disse: ' Quá , vem cá!‘ e ela não pôde de casa sair. Bem que ela queria sua missa ouvir mas o corvo veio sobre si e ela não pôde de casa sair." Trata-se de uma típica cantiga de escárnio, em que além de não mencionar o nome da pessoa criticada, o poeta também é ambíguo sobre o assunto criticado. Ao que tudo indica, a indirecta do compositor sugere que certa mulher daquele tempo andou dando desculpas que teria ido à missa, mas faltou porque apareceu um corvo preto, sinal de azar, e ela ficou em casa. No entanto, ao mesmo tempo, ele vai pontuando as acções do corvo de tal maneira que chegamos à conclusão de que se trata de um padre (corvo = batina preta) que, aproveitando-se de estar outro padre ocupado com a missa, foi à casa da beata e teve com ela um caso (veio sobre si).

Ai dona fea! Foste-vos queixar Que vos nunca louv'en meu trobar Mais ora quero fazer un cantar En que vos loarei toda via; E vedes como vos quero loar: Dona fea, velha e sandia! Ai dona fea! Se Deus mi pardon! E pois havedes tan gran coraçon Que vos eu loe en esta razon, Vos quero já loar toda via; E vedes qual será a loaçon: Dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei En meu trobar, pero muito trobei; Mais ora já en bom cantar farei En que vos loarei toda via; E direi-vos como vos loarei: Dona fea, velha e sandia! Ai, dona feia, foste-vos queixar que nunca vos louvo em meu cantar; mas agora quero fazer um cantar em que vos louvares de qualquer modo; e vede como quero vos louvar dona feia, velha e maluca! Dona feia, que Deus me perdoe, pois tendes tão grande desejo de que eu vos louve, por este motivo quero vos louvar já de qualquer modo; e vede qual será a louvação: dona feia, velha e maluca! Dona feia, eu nunca vos louvei em meu trovar, embora tenha trovado muito; mas agora já farei um bom cantar; em que vos louvarei de qualquer modo; e vos direi como vos louvarei: dona feia, velha e maluca! João Garcia de Guilhade

Quen a as filha quiser dar mester 1 , con que sábia guarir 2 a Maria Doming´á-d´ir 3 , que a saberá ben mostrar; e direi-vos que lhi fará: ante dun mês lh´amostrará como sábia mui bem ambrar 4 .   Ca me lhi vej´eu ensinar ua sa filha e nodrir 5 ; e quen sas manhas ben cousir 6 aquesto pode ben jurar: que, des Paris atees acá, molher de seus dias non á que tan ben s´acorde d´ambrar. E quén d´aver ouver sabor 7 non ponha sa filh´a tecer nen a cordas nen a coser, mentr´esta meestr´aqui for 8 , que lhi mostrará tal mester, por que seja rica molher, ergo se lhi minguar lavor.   E será en mais sabedor, por estas artes aprender; de mais, quanto quiser saber sabê-lo pode mui melhor; e, pois tod´esto ben souber, guarrá assi como poder; de mais, guarrá per seu lavor. Cantiga de maldizer de Pero da Ponte 1 mester: profissão. 2 guarir: prosperar. 3 á-d´ir: há de ir. 4 ambrar: rebolar, fornicar. 5 nodrir: sustentar. 6 cousir: considerar. 7 e quén d´aver ouver sabor: e quem tem o desejo de enriquecer. 8 mentr´esta meestr´aqui for: enquanto esta mestra aqui estiver.