Nicolau Lanckman de Valckenstein, capelão imperial e embaixador alemão
em Portugal, escreveu um relato muito pormenorizado dos vários festejos
que antecederam a partida da princesa Leonor; apresenta-se aqui um
pequeno excerto ilustrativo da sua obra:
"No dia 14 do mês de Outubro (...). Depois, prosseguindo, em quarto lugar,
em frente da igreja metropolitana onde repousa o corpo de S. Vicente, estava
o reverendíssimo senhor arcebispo, com os seus cónegos e outros muitos
clérigos, paramentados, aclamando a senhora desposada, a imperatriz, Dona
Leonor, que tinha chegado à sua frente, com os irmãos, as irmãs e os
embaixadores, a cavalo com muito povo. A todos eles o dito senhor arcebispo
deu-lhes a bênção. (...) Entretanto, uma criança, vestida de anjo, descia da
torre alta da igreja, por um engenho de homens, trazendo uma coroa de ouro
à senhora imperatriz, e cantando suspensa no ar (...). Havia sido armado aí
um local à maneira de Paraíso e dele uma criança angelical, descia pelo ar das
alturas, de certa janela da torre, trazendo rosas numa bacia dourada (...).
(...) estava reunido muito povo, quase vinte mil pessoas de ambos os sexos, e
foi pronunciado perante toda a multidão um discurso por um notável doutor,
durante quase meia hora, em honra e louvor do sereníssimo senhor
imperador, o esposo, e da sua dilecta esposa Dona Leonor (...)."
Aires Augusto Nascimento (trad.), Leonor de Portugal, Imperatriz da
Alemanha, Lisboa, Edições Cosmos, 1986.
- Aqui estiveram presentes embaixadores que representavam os reis de toda a
Europa.
- Tipos de festejos: durante dias e noites realizam-se, em privado ou perante
a população lisboeta: banquetes, danças, jogos, cortejos, touradas e matança
de touros, cuja carne era distribuída pelo povo, exibição de animais e homens
exóticos que haviam sido trazidos de África, torneios, justas, duelos e
caçadas, representações teatrais, declamações de discursos de homenagem à
princesa tornada imperatriz, cerimónias religiosas, festas populares e
folguedos vários.