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contestam, rejeitam e querem mudar; os que fogem, os que lutam, os que assistem, os que atuam...
enfim, existem inúmeras escolhas."(BECKER, 1985, p. 13).
Quanto ao curso das relações sociais durante a adolescência, ele está vinculado a vários fatores,
principalmente ao desenvolvimento da personalidade. Importantes elementos evolutivos da identidade
pessoal possuem componentes de relações sociais que, por sua vez, desempenham um papel
importante na gênese dessa mesma identidade. (FIERRO, 1995)
A adolescência, assim, é uma etapa de aquisições, por exemplo, das operações formais, da
internalização da moralidade, de um novo modo de consciência; e também de profundas e
significativas mudanças: físicas, emocionais, sociais, culturais.
Mudanças físicas repentinas, determinadas pela ação dos hormônios, que muitas vezes incomodam a
auto-imagem do adolescente; expectativas próprias, da família e da sociedade quanto a buscar um
novo espaço social, a busca da independência e o temor do fracasso, valores aprendidos na família
contrastados com o do grupo de companheiros, a necessidade de adotar ou não as normas desse
grupo para ser aceito, o desenvolvimento da auto-estima, o despertar para a sexualidade e para a
paixão é alguns dos elementos conflitantes do mundo adolescente.
Mas essas contradições não são apenas relativas ao mundo interno. Dada sua capacidade agora de
abstração, o adolescente percebe também que o mundo exterior é contraditório. Isso se agrava
quando o ambiente familiar do adolescente é desorganizado no sentido das relações ali estabelecidas,
em função de problemas psicológicos e sociais que individualmente os pais vivem e que influenciam a
relação conjugal e conseqüentemente as relações com os filhos. Uma amostra, em forma de romance,
dessa situação familiar, que por vezes chega a ser caótica em termos de convívio grupal primário,
pode ser constatada no texto Uma Leve Esperança de L. Dorin (DORIN, 1985).
É em meio a essas contradições que o adolescente ora se mostra altruísta e cooperante, ora se
mostra egoísta e transgressor de normas; ora idealista e reformador, ora sem iniciativa de cuidar de
seus pertences; ora onipotente e inatingível, ora fragilizado e com baixo limiar à frustração. O
adolescente se percebe despojado de sua infância e, ao mesmo tempo, frente a caminhos incertos.
Então, com grande carga de angústia, o adolescente busca elaborar uma síntese dessas contradições:
encontrar um novo sentido para si mesmo e como ser-no-mundo. Tudo isso caracteriza a crise de
identidade que permeia essa etapa da vida, cuja elaboração é de fundamental importância para a
personalidade.
A instalação da descontinuidade ou da crise de identidade resulta quando ocorre um número muito
grande de eventos numa unidade de tempo. Problemas com a identidade pessoal pode ocorrer então
não apenas na adolescência, mas em qualquer época da vida, porque a crise de identidade está
associada com mudanças que ocorrem ao mesmo tempo e rapidamente com o indivíduo ou quando o
contexto é alterado de forma repentina. Um senso de nós mesmos, isto é, de identidade, necessita de
uma história, de continuidade, gradualismo. Na crise de identidade há o temor de perder a
continuidade da história. Se as tábuas de um barco de madeira são substituídas à medida que
apodrecem, após 50 anos não é o barco original, mas continua sendo o mesmo barco. Ou seja, o fato
das tábuas serem substituídas gradualmente não alterou a "identidade"do barco. Entretanto, se as
tábuas são trocadas ao mesmo tempo, a "identidade"do barco não pode ser mantida (LEWIS, 1999).
Assim, a adolescência, caracterizada por mudanças rápidas no físico, no psicológico e no social,
implica na crise de identidade. Metaforicamente o adolescente é como um barco cujas tábuas devem
ser quase todas substituídas ao mesmo tempo.
Por isso que a adolescência é o período por excelência de risco para o ingresso no uso de substâncias
psicoativas. Não só pelo fato de querer experienciar o novo, buscar novas emoções e desafios, mas
também encontrar nessas novas buscas "respostas"para o seu viver. A sociedade, em seus diversos
segmentos e o poder midiático influenciando o comportamento social, na maioria das vezes, apontam