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1.2.3 Visão Geral dos Conceitos
Desses conceitos emana a característica de apresentar-se a ciência
como um pensamento racional, objetivo, lógico e confiável, ter como par-
ticularidade o ser sistemático, exato e falível, ou seja, não final e definiti-
vo, pois deve ser verificável, isto é, submetido à experimentação para a
comprovação de seus enunciados e hipóteses, procurando-se as relações
causais; destaca-se, também, a importância da metodologia que, em últi-
ma análise, determinará a própria possibilidade de experimentação.
É dessa maneira que podemos compreender as preocupações de
Ogburn e Nimkoff (1971:20-1), assim como de Caplow (1975:4-5), ao dis-
cutirem até que ponto a Sociologia, como ciência, inserida no universo
mais amplo das Ciências Sociais ou Humanas, aproxima-se das Físicas e
Biológicas, em geral, também denominadas de Exatas. Os primeiros dois
autores, sem conceituar expressamente o que é uma ciência, afirmam
que ela é reconhecida por três critérios: a confiabilidade de seu corpo de
conhecimentos, sua organização e seu método. Não havendo dúvidas quan-
to às duas últimas características, pergunta-se até que ponto a primeira –
conhecimento confiável – é inerente à Sociologia, em particular, e às Ci-
ências Sociais ou Humanas, em geral.
Na realidade, essa discussão existe até hoje. Perdeu um pouco de in-
tensidade quando a separação, baseada na “ação do observador sobre a
coisa observada”, que era nítida entre as Ciências Físicas e Biológicas e
as Sociais, deixou de ser imperativa: o princípio de incerteza de Heisenberg
leva ao domínio da física subatômica ou quântica, essa mesma ingerên-
cia, até então característica das Ciências Sociais ou Humanas. Caplow
traz mais subsídios: “Mesmo que os resultados obtidos pelas Ciências
Físicas sejam, geralmente, mais precisos ou dignos de crédito do que os
das Ciências Sociais, as exceções são numerosas. (...) A Química é, mui-
tas vezes, menos precisa do que a Economia.”
1.2.4 Natureza da Ciência
A palavra ciência pode ser entendida em duas acepções: latu sensu
tem, simplesmente, o significado de “conhecimento”; stricto sensu não
se refere a um conhecimento qualquer, mas àquele que, além de apreen-
der ou registrar fatos, os demonstra por suas causas constitutivas ou
determinantes. Por outro lado, se fosse possível à mente humana atingir
o universo em sua abrangência infinita, apresentar-se-ia a ciência una e
também infinita, como seu próprio objeto; entretanto, as próprias limita-
ções de nossa mente exigem a fragmentação do real para que possa atin-
gir um de seus segmentos, resultando, desse fato, a pluralidade das ciên-
cias.
Por sua vez, em se tratando de analisar a natureza da ciência, podem
ser explicitadas duas dimensões, na realidade, inseparáveis, ou seja, a
compreensiva (contextual ou de conteúdo) e a metodológica (operacional),
abrangendo tanto aspectos lógicos quanto técnicos.
Pode-se conceituar o aspecto lógico da ciência como o método de raci-
ocínio e de inferência acerca dos fenômenos já conhecidos ou a serem
investigados; em outras palavras, pode-se considerar que o “aspecto ló-
gico constitui o método para a construção de proposições e enunciados”,
objetivando, dessa maneira, uma descrição, interpretação, explicação e
verificação mais precisas.
A logicidade da ciência manifesta-se por meio de procedimentos e ope-
rações intelectuais que:
“a) possibilitam a observação racional e controlam os fatos;
b) permitem a interpretação e a explicação adequadas dos fenôme-
nos;
c) contribuem para a verificação dos fenômenos, positivados pela
experimentação ou pela observação;
d) fundamentam os princípios da generalização ou o estabelecimento
dos princípios e das leis” (Trujillo, 1974:9).
A ciência, portanto, constitui-se em um conjunto de proposições e enun-
ciados, hierarquicamente correlacionados, de maneira ascendente ou des-
cendente, indo gradativamente de fatos particulares para os gerais, e vice-