propósitos definidos. Ocultando essas funções sociais, apresentando a língua escrita como
um “objeto em si”, abstraído de seus usos sociais, se favorece a algumas crianças e se deixa
outras na penumbra inicial.
Segundo Ferreiro, reduzir a língua escrita a um código de transcrição de sons em formas
visuais reduz sua aprendizagem à aprendizagem de um código. Em termos educativos, o
problema das atividades preparatórias coloca-se de maneira radicalmente diferente se
aceitarmos que é função da escola introduzir a língua escrita como tal. Não se trata de um
jogo de palavras. Introduzir a língua escrita que dizer, ao menos, o seguinte:
1. permitir explorações ativas dos distintos tipos de objetos materiais que são
portadores de escrita (e que, além disso, têm recebido nomes específicos: jornais,
revista, dicionários, calendários, agendas, livros ilustrados, livros sem ilustrações, livros
de poesias, livros de canções, enciclopédias, cartas, receitas, recibos, telegramas etc);
2. ter acesso à leitura em voz alta de diferentes registros da língua escrita que
aparecem nesses distintos materiais;
3. poder escrever com diferentes propósitos e sem medo de cometer erros, em
contextos onde as escritas são aceitas, analisadas e comparadas sem serem sancionadas;
4. poder antecipar o conteúdo de um texto escrito, utilizando inteligentemente os dados
contextuais e - na medida em que vai sendo possível - os dados textuais;
5. participar em atos sociais de utilização funcional da escrita;
6. poder perguntar e ser entendido; poder perguntar e obter respostas;
7. poder interagir com a língua escrita para copiar formas, para saber o que diz, para
julgar, para descobrir, para inventar.
c) Síntese
Em síntese, a argumentação da autora é a seguinte:
1. - Colocada com problema teórico, a questão dos pré-requisitos (como antecessores
necessários de aquisições posteriores) e de suma importância; no entanto, a forma de
tratar o problema difere marcadamente segundo a posição teórica adotada.
2. - Do ponto de vista construtivista, o problema dos pré-requisitos coloca-se da
seguinte maneira: é essencial estabelecer os antecessores de qualquer conhecimento em
um momento qualquer de seu desenvolvimento.
3. - Não se deve confundir a necessidade teórica de encontrar os antecessores
psicogenéticos com a pseudo-necessidade institucional de encontrar maneiras de
classificar as crianças como “aptos/não”, “maduros/ não maduros”, “prontos/ não” etc.
Qualquer instrumento que se utilize terminara refletindo as diferenças sociais nas
ocasiões de acesso a língua escrita. Portanto, e inevitável que os testes de maturidade
(ou como se queira chamá-los) funcionem como instrumentos de descriminação social.
A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA NA CRIANÇA
Para Ferreiro, o termo construção, que uso para me referir a aquisição da língua escrita, não
e muito comum; geralmente se fala em “aprendizagem”. Não é que aprendizagem seja um
termo errôneo, porque efetivamente ha um processo de aprendizagem, porem a historia
social dos termos tem impregnado o termo aprendizagem com uma forte conotação
empirista que não e a que quero dar-lhe. O termo maturação esta excluído, uma vez que não
se trata de um processo puramente maturativo. O termo desenvolvimento tem sido pouco
usado na literatura espanhola, ainda que em inglês, hoje em dia, seja bastante corrente
ouvir falar de developmental literacy.
Para ela, quando falamos de construção da escrita na criança, não estamos falando da
emergência mais ou menos espontânea de idéias engenhosas, idéias curiosas, idéias as
vezes extraordinárias que as crianças tem - o que em inglês se costuma dizer wonderful
idéias. E algo mais que isso. Tampouco se trata de que algumas coisas que se constroem e
em seguida ha uma espécie de adição linear do já construído.
Para ela, em uma visão construtivista p que interessa e a lógica do erro: trata-se as vezes de
idéias que não são erradas em si mesmas, mas aparecem corno errôneas porque são