Ele fala de pessoas fisicamente famintas que sonham em comer algo, mas que acordam e veem que
estão vazias, e de pessoas com sede que sonham que estão bebendo algo, mas que acordam e ainda
estão desfalecidas, e a sua alma com sede. Sede do que? Sede de Deus? Não, sede de beber algo, como
o contexto indica. Trata-se de pessoas fisicamente com sede, que sonham em estar bebendo algo, mas
acordam e percebem que não beberam nada, que ainda estão desfalecidas fisicamente, que a sua alma
continua com sede. Nisso fica muito claro que a alma é o próprio ser vivente como pessoa, e não algo
imaterial dentro dele.
Outro exemplo semelhante ocorre quando os israelitas murmuravam no deserto na insistência por carne:
“Agora, porém, seca-se a nossa alma [nephesh], e nenhuma cousa vemos senão este maná” (cf.
Nm.11:16). Eles estavam falando de um maná físico, e de uma sede real, não meramente de algo
simbólico ou em algum sentido espiritual. Portanto, a alma que está seca se refere ao próprio físico que
clama por outra comida além do maná. Ou seja, a alma é identificada novamente como sendo algo físico
e visível na forma do corpo, e não em uma substância imaterial residente dentro do corpo.
Existem muitas coisas que um elemento imaterial não pode fazer. Uma dessas é chorar, por exemplo.
Contudo, lemos na Bíblia que a alma de tristeza verte lágrimas: “Chora de tristeza a minha alma;
reconfortai-me segundo vossa promessa” (cf. Sl.119:28). Se a alma derrama lágrimas, então ela não é
imaterial. Nada há nas Escrituas nada que possa mostrar que a alma é um segmento imaterial na
natureza do homem, afinal, se assim fosse esperaríamos que ela não pudesse derramar lágrimas, uma
vez sendo isso um fenômeno natural, material, físico, visível.
Além disso, a Bíblia afirma categoricamente que a alma desce à cova após a morte (cf. Jó
33:18,22,28,30; Is.38:17; Sl.94:17). Se a alma fosse algo imaterial, então ela de maneira nenhuma
poderia descer à sepultura na morte (ela deveria era subir ao Céu ou ir para o inferno). Também sabemos
que a Bíblia afirma inúmeras e incansáveis vezes que a alma morre, e uma entidade imaterial não pode
falecer (ver a morte da alma em Nm.31:19; Nm.35:15,30; Js.20:3,9; Jo.20:3,28; Gn.37:21; Dt. 19:6,
11; Jr.40:14,15; Jz.16:30; Nm.23:10; Ez.18:4,20; Jz.16:30; Nm.23:10; Mt.10:28; Ez.22:25,27; Jó
11:20; At.3:23; Tg.5:20, etc).
Jó fala que “se comi os seus frutos sem dinheiro, e sufoquei a alma dos seus donos , por trigo me
produza cardos, e por cevada joio. Acabaram-se as palavras de Jó” (cf. Jó 31:39,40). “Sufocar a alma”
significa sufocar a própria pessoa, porque algo imaterial não pode ser sufocado. Por fim, a Bíblia declara
a alma como em Gênesis 2:7: uma pessoa, e não uma entidade imaterial. Assim podemos entender que
Abraão “tomou a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão, e todos os bens que haviam adquirido, e
as almas que lhe acresceram em Harã ; e saíram para irem à terra de Canaã; e chegaram à terra de
Canaã” (cf. Gn.12:5). Abraão não estava tomando para si substâncias i materiais, mas sim algo bem
material, pessoas, de carne e osso.
Concluímos, pois, que a alma não é um segmento imaterial, mas sim a própria vida humana como o
resultado da junção do pó da terra com o fôlego de vida (para dar animação ao corpo morto), resultando
em um ser vivo. Enquanto o dualismo platônico ensina que a alma-psiquê é algo imaterial, intangível,
invisível, eterno e imortal, as Sagradas Escrituras apresentam a alma como referência a criaturas
terrestres, incluindo os animais, referindo-se a algo bem material, tangível, visível e mortal.
Sumariando, corpo e alma não são duas pessoas dentro de um único ser (um mortal e outro imortal),
mas sim duas características da mesma pessoa. A alma é a sede dos pensamentos, que também perecem
com a morte (cf. Sl.146:4). O corpo é um homem como um ser concreto. Isso não significa dualismo
entre corpo e alma, mas sim duas características da mesma pessoa.
Como disse Dom Wulstan Mork: