208 Conselhos sobre o Regime Alimentar
simples e saudável parece-lhes insípido. O estômago, abusado, não
efetua a obra que lhe é dada, a menos que a isso seja forçado pelos
alimentos mais estimulantes. Se esses lhos tivessem sido educados,
desde a infância, a só tomarem alimento saudável, preparado da ma-
neira mais simples, conservando o mais possível suas propriedades
naturais, e evitassem os alimentos cárneos, gordura e toda espécie
de condimentos, seu paladar e apetite não sofreriam prejuízo. Em
seu estado natural, poderia indicar, em grande proporção, o alimento
melhor adaptado às necessidades do organismo.
Enquanto pais e lhos comiam suas iguarias, meu marido e eu
participávamos de nosso repasto simples, em nosso horário usual, 1[240]
hora da tarde: pão integral sem manteiga, e generoso suprimento de
frutas. Tomamos nossa refeição com vivo prazer, e com o coração
agradecido por não sermos obrigados a trazer conosco uma mercea-
ria para satisfazer a um apetite caprichoso. Comemos satisfeitos, e só
voltamos a sentir vontade de comer na manhã seguinte. O rapaz que
vendia laranjas, nozes, pipoca e doces teve em nós maus fregueses.
A qualidade do alimento tomado por aqueles pais e lhos não
podia converter-se em sangue bom e em temperamentos brandos. As
crianças eram pálidas. Algumas tinham incômodas feridas no rosto
e nas mãos. Outras estavam quase cegas, com dor-d'olhos, o que
muito prejudicava a formosura de seu semblante. E outros, ainda,
não tinham erupção na pele, mas aigiam-se com a tosse, catarro ou
perturbações da garganta e dos pulmões. Notei um menino de três
anos, que sofria de diarréia. Tinha febre bastante alta, mas parecia
pensar que tudo de que carecia era alimento. Cada poucos minutos
reclamava bolo, frango, picles. A mãe lhe atendia a todos os recla-
mos, qual escrava obediente; e se o alimento requerido não vinha
tão depressa como era desejado, e os gritos e pedidos se tornavam
incômodos e urgentes, a mãe respondia: Sim, sim, queridinho, já
lhe vou dar! Posto o alimento em sua mão, ele o atirava obstina-
damente no chão do carro, porque não lhe viera tão depressa como
queria. Uma meninazinha estava comendo seu presunto cozido, com
picles condimentado, pão e manteiga, quando notou o meu prato.
Continha este alguma coisa que ela não possuía, e recusou-se então
a continuar comendo. Essa menina, de seis anos, disse que queria
um prato. Pensei que o que ela desejava era a bonita e vermelha
maçã que eu comia; e embora tivéssemos poucas, tive tanta pena