presentearam, foram desconsiderados por Zilda.
Esta se aproveitava dos presentes para benefício
próprio e resmungava quando algum não lhe
servia.
Quando chegou a hora dos parabéns,
todos ficam envoltos à mesa, Zilda que havia
escrito 89 em um pedaço de papel que ninguém,
ao menos, perguntou ou disse nada a respeito
da ideia dela em por a idade daquela forma
sobre o bolo. Na hora dos parabéns, José
começou as palmas e devido ao seu olhar
autoritário, todos começaram a cantar. A vela foi
apagada por um bisneto e, logo após, a lâmpada
foi acesa e alguns gritaram: “Viva mamãe!”, “Viva
vovó!”. Surgiu inclusive, um “Viva d. Anita”, dito
pela primeira vez no conto e pela vizinha, uma
pessoa fora da rede de parentesco.
A senhora permaneceu passiva até vir a
cortar o bolo e neste momento, ela rompeu sua
imagem de mulher digna. A associação que a
mesma fazia entre o cortar e matar assemelhava
o aniversário a um funeral, bem como a
organização das cadeiras. A aniversariante,
através de um monólogo interior, ressaltou o seu
desprezo por ter gerado seres marcados pela
insensatez e pensou “como s e cuspisse”,
denotando uma maneira grosseira de se pensar
a família. Daqueles apenas Rodrigo, filho de
Cordélia, era digno e lhe trazia orgulho.
A senhora naquele momento relembrou
do seu casamento e do orgulho que poderia
sentir dos seus filhos, pois eles haviam nascido
de uma união rica em valores. Entretanto, via a
falsidade estampada no rosto de cada um deles.
De repente, D. Anita cospe no chão e este é o
momento em que chega ao seu limite, expondo
um reflexo da desestruturação familiar em seu
extremo. Após este ato, Zilda se exaltou e disse
que a mãe nunca tinha feito isso, percebendo
que todos consentiam, ela assumiu o fato da
velha estar agindo deste modo constantemente.
De súbito, a velha pediu um copo de vinho e isso
causou surpresa a todos. A neta negou-lhe
perguntando se não iria fazer mal, enfurecida
respondeu-lhe agressivamente, atingindo a todos
os presentes com palavras fortes e agressivas.
Depois que bebeu o vinho, a aniversariante
permaneceu com um olhar fixo e silencioso, esta
atitude foi considerada pelos familiares um ato
infantil da nonagenária, manifestado através das
risadas.
A festa estava acabada. Alguns se
encontravam sentados e reflexivos, as crianças
continuavam brincando ater o fim da tarde. A
aniversariante recebeu um beijo de cada um
como se fosse uma estranha perante aquele
grupo que ali se reunia.
José que era o encarregado de fazer o
discurso não sabia o que dizer, aguardava uma
frase “Que não vinha”. Todos esperavam o
discurso que se alongava silenciosamente. José,
então, disse “Até o ano que vem” e Manoel
complementou “No ano que vem nos veremos
diante do bolo aceso!”, houve certo receio em
tais palavras. Toda cena conceituada pela
aniversariante como uma encenação teatral, em
que há a falência da linguagem verbal através do
esforço de falar bonito diante dos parentes.
José repete “No ano que vem nos
veremos, mamãe!” e ela acarinhada grita que
não é surda, e intimamente, que não é idiota. Na
hora de despedida, alguns conseguiram olhar
nos olhos dos outros sem receio e faltava-lhes a
ultima palavra, que não sabiam dizer qual era.
Não sabiam, mas olhavam sorrindo uns para os
outros. “Até o ano que vem” era a única coisa
que sabiam dizer.
O triste e falso aniversário de D. Anita
lhe causou muita repugnância, pois a situação de
completar mais um ano de vida deveria ser de
alegria e satisfação para a família e naquela
situação ocorreu justamente o oposto porque as
relações entre os familiares aconteceram de
maneira forçada e tudo funcionou no plano do
“parecer ser”.
Repórteres:
Cássio Soriano, nº 10
Natachi Carvalho, nº 11
Luna Natacha, nº 23
Cruzeiro do Sul-Acre, 27 de setembro de 2012.
Jornal 3”B” News