CUIDADO COM AS CISTERNAS ROTAS
“Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e
cavaram cisternas, cisternas rotas que não retêm as águas”. (Jr 2.13)
O profeta Jeremias viveu nos anos entre 627 e 587 a.C. Foi profeta durante quarenta anos, profetizando a
Judá e as nações gentílicas. Jeremias nunca casou. Viveu no reinado de Josias, ocasião em que houve
um avivamento, ainda que de pouca duração; no reinado de Zedequias, que apesar de gostar de ouvir o
profeta, não colocava em prática o que ele falava; também do rei Jeoaquim que desprezava as suas
palavras e inclusive tentou matá-lo. O povo de Judá estava afastando-se de Deus, este então enviou
Jeremias para falar do perigo que estava incorrendo em não voltar para a fonte de águas, que é o próprio
Deus. Por quarenta anos Jeremias denunciou o pecado do povo e os chamou ao arrependimento,
sofrendo por isso severas privações. Foi lançado na prisão por duas vezes (Jr 37,38), foi levado
forçadamente para o Egito (Jr 43), foi rejeitado por seus vizinhos (Jr 11.19-21), sua família (Jr 12.6), e
pelos reis (Jr 36.23).
Cisterna, vem do hebraico “bor”: lugar cavado, poço. É um termo usado 67 vezes no Antigo Testamento, e
a cisterna era um lugar onde era guardada água potável. A maioria dessas cisternas eram reservatórios
cobertos, escavados na terra ou na rocha, para onde escorria o excesso das águas da chuva e guardadas
para serem usadas no período da seca na Palestina que abrangia entre maio e setembro. Uma cisterna
seca e abandonada podia ser usada como cárcere, conforme vemos com José e com Jeremias (Gn 37.22;
Jr 38.6). Por sua vez, cisternas rotas eram cisternas rachadas, que não guardavam a água e não a
mantinham limpa. Qualquer viajante que se aproxima de uma cisterna rota percebe que não há água
potável. Apesar de todo trabalho dos que a escavaram, foi inútil, pois não há esperança nessa cisterna
para os que a procuram.
O texto supracitado chama a nossa atenção para dois males que Judá estava cometendo: deixaram o
manancial de águas vivas e cavaram cisternas rotas.
1- O POVO ABANDONOU O SENHOR, A FONTE DE ÁGUAS VIVAS – Jr 17.13
Deus é a fonte de água viva, nossa vida depende dele. Sem Deus você não vive. Deus é a fonte de vida
abundante, Deus não é uma cisterna, mas uma fonte. Uma cisterna apenas armazena água, mas uma
fonte produz água. A água corre da fonte. A fonte é inesgotável. A fonte tem água viva, água limpa, água
cristalina, água que flui abundantemente. Isso é um símbolo da vida que Cristo nos oferece. Quem nele
crer tem uma fonte a jorrar para a vida eterna. Quem nele crer nunca mais terá sede.
Judá abandonou o Manancial de águas vivas. Foi uma rejeição lenta, por dias sem fim. Um esquecimento
despercebido, devagar, aos poucos: cedendo um pouco aqui, um pouco ali; não falando de Deus aos
filhos conforme ordenava a lei mosaica; levando um cordeiro desqualificado para o sacrifício, realizando
um ritual vazio, sem sentido espiritual, apenas na aparência; esqueceram das ofertas alçadas;
esqueceram dos pobres e necessitados; perderam-se na prostituição. O pecado do povo é tão grave que
até os céus ficam espantados e são tomados como testemunhas (Jr 2.12). É algo simplesmente
inacreditável! Israel saiu da direção de Deus e procurou o Egito e a Assíria. Fez isso pensando que seria
lucro, mas foi uma grande perda; pensaram que seria uma benção, mas receberam o castigo; pensaram
que sairiam saciados mas ficaram mais sedentos (Jr 2.17-19).
Se Deus é o manancial das águas vivas, por que o seu povo o abandona? Muitas vezes, o povo tem se
cansado de Deus. Tem sido atraído e seduzido pelo pecado, pelo mundo, pelas cisternas rotas.. Miquéias
pergunta: “Povo meu, que te tenho feito? Por que te enfadaste de mim?” (Mq 6.3). O filho pródigo estava
insatisfeito na casa do pai e foi para um país longínquo onde gastou tudo o que tinha vivendo
dissolutamente. Após perder tudo percebeu que na casa do pai havia uma fonte inesgotável onde até os
menos favorecidos tinham oportunidade para servir-se (Lc 15.11-32).