22 CULTURA EM MS - 2010 - N.322 CULTURA EM MS - 2010 - N.3
Atravessando a ponte do belo rio Paraguai já é possível enxergar,
quando não tem fumaça, a morraria do Urucum. Logo após aqueles
morros enfeitados com o horizonte chega-se a Corumbá e Ladário –
uma mais próxima da Bolívia, a outra menos. Aqui, vou me ater à
mais próxima.
Entre os morros, até circular o “portal de entrada” de Corumbá –
fato estranho: circula-se a porta para entrar na cidade – tem-se uma
perfeita visão do passado. Sim, do passado. Os segmentos da indús-
tria extrativa (extrativismo no morro, siderurgias inteiras ou em car-
caças e cimento), ainda que existam, são aspeis do contemporâneo,
assim como a navegação. Se o presente é uma mera ligação do pre-
térito com o futuro, o Casario do Porto é mais moderno e o Pantanal
mais grandíloquo.
Chegando à cidade e descendo
em direção à avenida Marechal
Rondon, a paisagem muda, é quan-
do o visitante observa novos e estra-
nhos veículos, que suscitam a pre-
sença de algo mais. Comumente per-
cebe-se que nem todas as placas são
made in Brazil; carros aparecem com
quatro tipos de rodas diferentes, alguns possuem volante de um lado
e painel de velocidade do outro, entre outras esquisitices – fatos que
impactam, mas não assustam. Sintomas de um mundo ligado a outro.
Ao deparar com a rua Dom Aquino, múltiplas matizes explodem
simultaneamente, fazendo do desatento transeunte um natural ob-
servador. Não é a beleza do Jardim Público que se faz presente na-
quela esquina, muito menos a paisagem do Pantanal que já esponta
mais à frente, e sim a agitação que extrapola os limites da demografia
local. Ali, tanto faz seguir em frente e chegar ao coração da cidade
ou virar à esquerda e chegar a outro core, onde se depara com um
frenesi tentador. Agora se pode concluir: um outro mundo está pre-
sente, a fronteira está logo à frente.
O movimento que se vê nesse ambiente causa frisson em qual-
quer viandante, até mesmo aos mais atentos: um formigueiro de
veículos. Vendedores e compradores marchetam um clima híbrido
de linguagens, tipos e aspectos, aludindo um efetivo vai e vem de
interesses conexos, convivência desconexas, compleição de dinhei-
ros múltiplos, diálogo mercantilizado de organização sensivelmente
apátrida que sustenta relações sutis, juguladas e sobrepostas a uma
atmosfera de difíceis definição e descrição, visto que desregula re-
gras gramaticais e desrespeita qualquer forma de pontuação prosai-
ca. Isso tudo se aprofunda quando o caminho é em direção à Bolívia.
Nota-se um comportamento invulgar, excitado e, concomitan-
temente, ambíguo ao se aproximar do país vizinho. Há um espaço de
alma densa e relações abruptas em suas acomodações. Em Corumbá,
assim como em Puerto Quijarro e Puerto Suarez, os costumes e tradi-
ções estão embaralhados no espectro do cotidiano citadino, ratifican-
do as trocas de experiências e legitimando um comportamento de
permissividade e aceitabilidade em relação ao outro com história desi-
gual. Isto não implica dizer que haja acomodação perfeita. Descon-
fianças, rusgas e preconceitos afloram a cada instante. As tradições
que identificam os nacionalismos reforçam seus significados com mais
intensidade na fronteira que alhures, levando a rivalidades corriquei-
ras entre brasileiros e bolivianos. Também não se identifica uma ani-
mosidade perene de parte a parte. Se longe está de uma simbiose
cultural definitiva, por outro lado perto está de uma convivência res-
peitosa, adequada à imposição do meio geográfico.
O conjunto de fatores que se interpõe entre os povos daquele
lugar possibilita predizer que o presente e o futuro de “um” está no
“outro”, há garantias de sucesso para ambos os lados. A lógica da
expansão econômica, social, cultural e ambiental deve dar cada vez
mais fluidez e interatividade àquele território. A coexistência de ações
compartilhadas entre os organismos políticos locais ampliará as re-
lações de aproximação entre os vizinhos. Como efeito, os sintomas
de intolerância cederão lugar a formas complacentes de sociabilida-
des indulgentes mais e mais.
La fundación de Puerto Suárez dada del 10 de noviembre de
1875, como iniciativa de Don Miguel Suárez Arana, hombre visionario
que identifica la Bahía de Cáceres como el punto estratégico para la
creación de un puerto comercial alternativo que vincule el territorio
de Santa Cruz al océano Atlántico a través del Rio Paraguay.
Allá por los años 70‘s del siglo XX, descubrimos la modernidad a
través de la Red Globo de Televisión. Era un aparato de televisión que
convocó a casi todo el pueblo en el patio grande de la residencia de
Don Enrique Rau Barba (La Villa) para asistir la telenovela “Mulheres
de Areia”.
Las personas pasaron a tener un tema para establecer sus rela-
ciones interpersonales a cada capítulo que se asistía. Y de esa manera,
a conocer e identificar al ser brasilero, al vecino, que más adelante se
convertiría en el amigo brasilero.
Estando Puerto Suárez abandonado por el centralismo del Esta-
do nacional boliviano, era un pueblo más – en la geografía nacional
– sin proyecto de modernidad, sin dirección, sin la presencia de
organizaciones e instituciones necesarias para promover el cambio
cultural.
Ese contexto define el importante marco de relaciones culturales
entre Puerto Suárez y Corumbá: la fuerte presencia de la cultura y del
estilo brasilero de ser y vivir, determinado por el mayor grado de
desarrollo del Brasil.
Hasta los años 90‘s, la visión de mundo de los porteños estaba
determinada e influenciada por la fuerte presencia de la televisión
brasilera. Pasamos a copiar el estilo de vivir del Brasil, a introducir en
nuestro lenguaje los modismos, a mezclar en el lenguaje español
términos en portugués, sin perder nuestra propia identidad cultural.
De ahí el carácter asimétrico-dependiente pero en sentido dialéctico,
convergente de nuestras relaciones socioculturales. [...] Los
encuentros y desencuentros entre los dos pueblos se dieron de
manera voluntaria y casi natural, producto de la etapa histórica en
que cada una de las naciones se encontraba. […]
Con los medios de comunicación social bolivianos en Puerto
Suárez, y la llegada de instituciones del Estado Nacional y de la
sociedad civil, comenzamos a construir imágenes culturales de dos
mundos que a su vez vienen a ser
uno sólo, ya que el porteño se iden-
tifica con el corumbaense debido a
la convergencia de sus rasgos, gustos
y de la manera de ser.
Nos dimos cuenta que la
realidad estaba configurada por lo
diverso. Que la diferencia estaba
marcada y que no alteraba la esencia
de nuestras vidas. Al contrario, la complementaba. En esta dirección
se observa la formación de familias y negocios binacionales entre
porteños y corumbaenses.
La actitud del porteño nunca mostró temor o recelo negativo a la
cultura brasilera. Al contrario, la asimiló como amiga. Como mejor
en el sentido del desarrollo y bienestar y la aceptó.
Bajo esta caracterización el porteño es particularmente diferen-
te. Expresa su diferencia en su estilo de vivir la vida. De hablar, de
valorar al otro no como diferente sino como convergente. Y lo hace
de manera natural. Sin proyecto compartido. Su lucha por tanto es
de ser reconocido es ese particular estilo por su amigo vecino el
corumbaense.
Hoy vemos una importante presencia de hermanos bolivianos
del occidente del país en la frontera.
Este nuevo fenómeno socio-demográfico y multicultural, fortale-
ce el deseo y la voluntad de avanzar en la integración de nuestros
pueblos, en un marco de relaciones, donde la paz, el respeto y la
solidaridad se constituyan en los principios compartidos entre
hermanos porteños y corumbaenses.
Um (rápido) olhar sobre a
fronteira Brasil-Bolívia
LOS ENCUENTROS Y
DESENCUENTROS SE
DIERON DE MANERA
VOLUNTARIA Y CASI
NATURAL.
NOTA-SE UM
COMPORTAMENTO
INVULGAR, EXCITADO
E, CONCOMITANTE-
MENTE, AMBÍGUO...
La identidad convergente entre
el porteño
*
y el corumbaense
EDGAR RAU F.
Profesor universitario. F.C.E.A.F - U.A.G.R.M.
Santa Cruz - Bolivia.
[email protected]
(Quiero agradecer las opiniones y aportes del periodista Jaime Rojas
y del Director de la Casa de la Cultura de Puerto Suárez el Sr. Henio Suárez.)
* Porteño - gentilicio del nacido en Puerto Suárez, Santa Cruz, Bolívia.
(Veja íntegra deste artigo na versão eletrônica da
CULTURA EM MS - www.fundacaodecultura.ms.gov.br)
TITO CARLOS MACHADO DE OLIVEIRA
Geógrafo, doutor em Geografia Humana (FFLCH/USP), professor titular da UFMS,
coordenador do Centro de Análise e Difusão do Espaço Fronteiriço (Cadef/UFMS)