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Russomano aponta que, "no ano remoto de 1720, os mestres-alfaiates
se dirigiram ao Parlamento Britânico, através de uma associação que reunia
mais de sete mil trabalhadores, pleiteando a obtenção de maior salário e a
redução de uma hora na jornada diária de trabalho” w . Considera o autor ser
este o "ponto de partida das ‘trade unions’ britânicas”, propagando-se seu
exemplo pelo país(33).
O ano e o país escolhidos pelo autor (1720) para demarcar o ponto inicial
do sindicalismo têm, certamente, algo de significativo e emblemático, uma
vez que esse movimento social e sua estrutura organizativa, os sindicatos,
encontram-se, de fato, organicamente atados à Revolução Industrial e suas
conseqüências econômicas, sociais e políticas. E esta revolução industrial
tem seu marco tecnológico na criação da máquina a vapor, poucos anos
antes, em 1712, por Thomas Newcomen, que seria, tempos depois, em fins
do século XVIII, aperfeiçoada por James Watt (estendendo-se por todo o
século XVIII aquilo que seria, posteriormente, conhecido como a primeira
revolução tecnológica do capitaiismo)m .
Porém é razoável argumentar-se não caber a busca de marco tão re
moto para a criação dos sindicatos (1720), porque ainda não reunidas, no
início do século XVIII, todas as condições econômicas, sociais, políticas e
ideológicas que propiciaram a descoberta da ação coletiva pelos novos tra
balhadores assalariados do novo sistema industrial emergente. Isso porque
tais condições foram deflagradas não apenas pelo surgimento do capitalismo
(que se fez, em seu alvorecer, em pequenas plantas industriais), porém, prin
cipalmente, em função do processo acelerado de desenvolvimento, propa
gação e concentração capitalistas que se seguiu logo à frente.
Mas ainda que se discorde quanto à data precisa do marco inicial de
existência do sindicato (situando-o, mais à frente, na evolução sócio-histó-
rica do capitalismo inglês), ele está, sem dúvida, fixado na Inglaterra, no con
texto de desenvolvimento da revolução industrial e da sociedade capitalista,
(32) RUSSOMANO, M. V., ob. cit., p. 17.
(33) RUSSOMANO, M. V., loc. cit.
(34) A respeito, GOMES e GOTTSCHALK, ob. cit., p. 02. A primeira revolução tecnológica,
ocorrida na fase de nascimento do capitalismo, no século XVIII, na Inglaterra, teve, entre
outros, os seguintes marcos inventivos, segundo Gomes e Gottschalk: máquina a vapor,
de Thomas Newcomen, em 1712; lançadeira volante (fly-shuttle), de John Ray, em 1733;
tear mecânico, de John Wyatt e Lewis Paul, em 1738; máquina de fiar, spinning-jenny, de
James Hargreaves, em 1770; outra fiadeira mecânica, water-frame, mais aperfeiçoada,
atribuída a Richard Arkwright, em torno desse período, sendo que Samuel Crompton agre-
gou-lhe novas melhorias, com a mu/e, em 1774 e 1779; Edmund Cartwright, no mesmo
campo da tecelagem mecânica, com a máquina power-Ioom, de 1785. Por fim, em 1769 e
1781, James Watt inventou (ou aperfeiçoou, significativamente) a máquina a vapor criada,
em 1712, por Thomas Newcomen. Este acontecimento é considerado por Gomes e Gotts
chalk como capital e conclusivo para a Revolução Industrial. GOMES, O. e GOTTSCHALK, E.,
ob. cit. p. 02 e 474.